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Por quem vibram os tambores do alem - Paulina Chiziane

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Universidade Pedagógica Sagrada Família
Faculdade de Ciências de Linguagem, Comunicação e Arte
Licenciatura em Ensino de Inglês com Habilitações em Ensino de Português
Cadeira de Literaturas Africanas em Língua Portuguesa 4º ano
Estudante: Daniel Magaia 					Docente: dr. Salomão Massingue
Autores: CHIZIANE, Paulina & PITA, R. Samuel 	Titulo: Por quem vibram os tambores do além? Editora: Índico Editores 			Local: Maputo 		Ano: 2013
Por quem vibram os tambores do além?
O canto é uma fonte de energia, chama bons espíritos, por isso deves aprender a cantar. Todo o curandeiro conhece as canções preferidas pelos espíritos “ndu ndu ndu”, cada palavra destas cantigas toca-me o coração e ilumina-me os caminhos de cura. Quando as pessoas ficam doentes, buscam soluções nos lugares mais inacessíveis. Mas a verdade é uma: Deus criou a cura para todas as doenças, o remédio está na grande árvore e na pequena erva.
O som do tambor tem uma língua única, uma forca única, convida os mortos a juntarem-se aos vivos, desperta os espíritos e chama-os ao convívio. No trovejar dos tambores, os espíritos se sentam nos corpos dos seus eleitos; acredito em Deus, mas nunca vi a cara dele, para mim, Deus só pode ter um nome: Grande Espírito, Ele deu ao Moisés o poder da magia, esse é o mesmo tipo de poder que os curandeiros e todos os espíritas possuem hoje. Eu digo com toda a segurança que, o que cura as doenças é o remédio que a natureza nos dá, todos os animais curam as suas doenças na natureza, com erva, por isso Deus só pode ter um nome: Curandeiro Maior. É importante recordar que o curandeiro foi criado por Deus para lutar contra o diabo, que é o feiticeiro e o espírito mau. A maior parte das pessoas teme os espíritos e pensa que lhes podem ofuscar a vista e os levar por caminhos desconhecidos. A comunicação espiritual é importante para despertar a sociedade para uma nova consciência, cujo objectivo final é a pacificação do mundo. 
Somos gémeos, eu e o meu irmão Dismas, não tivemos a sorte de conviver com o nosso pai porque ele morreu pouco tempo depois do nosso nascimento. O meu pai e o meu tio já morreram e em Mavago só ficou o tio Smauel Simango, a quem chamo de pai, o aspecto que me magoa ate hoje é o facto da minha mãe ter morrido sem nunca ter conseguido rever a campa do seu marido. Rasta é o meu verdadeiro nome, com que fui registado, as pessoas chamavam-me Rasta por ser meu nome e por causa do meu cabelo rasta. Sou rasta de nome, crença e continuo a praticar ideias rasta, mesmo sem o meu cabelo. O rasta não começa hoje, é de natureza, começou com a humanidade. No princípio do mundo. Rasta é de raiz. Até a terra tem cabelo, que é o capim.
Éramos ainda crianças, quando o Dismas, a descansar e despertou, chamou-me aos gritos, não conseguia levantar e tentei ergue-lo, mas foi em vão. Tal como eu, a mamã também tinha apanhado um grande choque, ela era muito ingénua e não acreditava nas maldades deste mundo. Não acreditava em espíritos maus, nem na existência de feitiços. Comecei a ter visões e a conviver com as vozes do além na infância, e não sabia de onde me vinha tal poder. Eu e a mamã carregamos o meu irmão para igreja e para hospital durante 5 anos, mas o meu irmão nunca se levantava, continuava a gatinhar. Um dia dormi e sonhei com uma voz falava-me de pessoas, mostrava-me os lugares onde devíamos procurar a cura do meu irmão e a voz me falava de um curandeiro chamado Sindano que fomos visitar e o velho contou-nos tudo o que sabia sobre a doença do meu irmão e após a conversa disse de ali ficarmos e certo dia Sindano levou-nos da canoa de crocodilo para o meio do rio donde tirou medicamentos e o meu irmão melhorou. Na hora de voltar a escola eu tinha que regredir a classe para poder ir com ele a escola e no dia de teste não via nada e não conseguia entender a razão da minha cegueira, mais tarde Dismas foi levado para colégio dos padres. 
A cura da minha doença foi feita nos sonhos, por isso para mim os sonos é uma visita dos espíritos, pois quando o corpo dorme, os espíritos se manifestam. Dormir é habitar o mundo dos espíritos. Certo dia sai de bicicleta e conheci sinagoga, onde fui preparado e regressei a casa. Visitei a aldeia de Nchoteka, ambiente era de calmaria, nem uma brisa e de repente, surgiu um vendaval que nunca tinha visto, os espíritos do rio abandonaram aquela população e as chuvas provocaram diarreia mortal que ceifou a vida de pessoas. Tinha que ir no alto do monte invoca-los, dia seguinte queria ir a Moçambique os meus espíritos diziam não, mas cheguei a terra prometida onde conheci o meu tio Simango que passei a chama-lo de pai que levou-me ao régulo e fez-se grandes festas e apliquei o curandeirismo que aprendera no sinagoga. Apliquei naquela comunidade após ter curado um senhor que estava doente e ganhei muitas galinhas e dinheiro.
A paralisia do meu irmão foi o primeiro choque verdadeiro que fez a minha mãe esquecer as crenças e entrar nos caminhos ditos obscuros, à busca da saúde do seu filho. O curandeiro é sempre um conselheiro. O espírito não se vê, não se toca, mas ultrapassa as nossas capacidades e está muito acima da nossa imaginação. Ciência é produto do pensamento. O espírito é que entra na cabeça da pessoa e lhe orienta a descobrir, a experimentar tudo o que se transforma em ciência, para mi a ciência é filha do espírito e o espírito é pai da ciência. Cada povo tem suas crenças e tem a sua árvore sagrada dependendo de cada região, e na vida sempre há bons e maus espíritos os bons sempre nos protegem como anjo de guardas, assim como aqueles que nos ajudam. Quando o mundo virar, e outro começar, os animais terão mais poderes do que as pessoas, a humanidade alimentar-se-á de verdura e fruta, porque os seus estômagos já não serão cemitérios de animais e o sol e a lua serão gémeos da noite e iluminarão as montanhas de todo os solo de Moçambique onde repousam os restos mortais de vários heróis de libertação nacional.
Análise
Por quem vibram os tambores do além? É uma narrativa ficcional que trata de forma crítica a questão da desvalorização cultural, por parte dos moçambicanos em particular e de um modo geral os africanos, que apresentam tendências de abraçar os traços culturais dos europeus. Sabe-se ao certo que a maior parte dos países africanos tiveram a colonização europeia, o que faz com que alguns traços continuem a resistir nas formas de convivências dos mesmos.
Paula Chiziane, autora principal da obra, faz um apelo para uma profunda reflexão que provoca ao leitor, inveterado na tradição do pensamento e visão sociocultural de base ocidental que dizia anteriormente, convidando-o a revisitar e questionar conceitos, crenças e caminhos de vida julgados firmes e consolidados na sua cultura. Esta autora trás a luz de todos os leitores os diferentes pontos de vistas de tradições. 
Faz uma crítica a ciência, à comunicação social, à medicina moderna, assim como a comunidade em geral, de forma que acabem com preconceitos, e faz um chamamento para verifica-se os aspectos concernentes a valorização da identidade cultural. Diz que existem várias formas dos espíritos manifestarem-se na vida das pessoas, mas nunca podemos ver esses tais espíritos, o que acontece com as pessoas tendem a abandonar esta identidade, devido as civilizações religiosas europeias, o que é muito crítico. 
Em suma podemos dizer que trata-se de uma narrativa muito construtiva, com temática de tradição e revolta por parte da autora e tem como protagonista o Rasta, apresenta espaço físico Tete, Tanzânia, Mavago, espaço evocativo a África. Temos um narrador participante, e quanto a ciência um narrador omnisciente, dado tem o conhecimento da história e conheço o interior dos personagens. Quanto ao tempo da narração tempo histórico o período apôs independência e o desenlace da história dá-se a com a possibilidade de se pensar em valorizar as tradições quando mundo virar.

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