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001-Física quântica

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Física quântica - Dezenas de interpretações propostas na literatura científica: "Já contei 
50, e creio que poderia chegar a uma centena" 
A mecânica quântica é uma teoria científica que descreve muito bem experimentos com 
objetos microscópicos, como átomos, moléculas, e suas interações com a radiação (por 
exemplo, a luz). Nos últimos anos, ela tem sido incorporada em visões de mundo 
místicas, espiritualistas etc., para sustentar ideias como a de que nossa consciência 
pode se conectar à consciência cósmica. 
"No contexto da física 
quântica, uma interpretação 
idealista é uma que afirma 
que a consciência humana 
tem um papel essencial no 
desdobramento dos 
fenômenos quânticos" 
A extensão da teoria quântica a essas visões de mundo 
é possível porque a teoria quântica, conforme utilizada 
na física, apenas faz previsões sobre aquilo que se 
observa ou se mede no laboratório científico. Todos os 
físicos concordam com o “formalismo mínimo” da 
mecânica quântica, ou seja, com as regras e leis que 
fornecem as previsões da teoria sobre as probabilidades 
de se obterem diferentes resultados de medições. 
Mas a física quântica não diz nada sobre o que acontece por trás das observações 
(sobre as causas ocultas dos fenômenos) ou sobre como uma observação é efetuada 
(ou seja, sobre detalhes do processo de medição, ligando o objeto quântico ao sujeito 
observador). 
 
Esquisitice X hegemonia 
Isso faz com que os cientistas e filósofos busquem “interpretar” a mecânica quântica, de 
maneira a construir uma visão de mundo coerente a respeito da realidade que se 
encontra por trás das aparências e a respeito do papel do observador. Há dezenas de 
interpretações propostas na literatura científica (já contei 50, e creio que poderia chegar 
a uma centena), mas todas têm uma ou outra “esquisitice” (isto é, algum aspecto contra-
intuitivo), como veremos à medida que formos caminhando. O fato de sempre haver 
alguma esquisitice faz com que nenhuma interpretação seja hegemônica. 
 
Dentre essas dezenas de interpretações, algumas podem ser classificadas como 
idealistas. O termo “idealista” pode se referir a alguém que tenha um ideal, mas não é 
este o significado empregado aqui. Usamos o termo “idealismo” para designar qualquer 
corrente filosófica em que a mente (a “ideia”) tenha papel essencial na constituição do 
mundo, da realidade. 
 
Em geral, são as interpretações idealistas da teoria quântica que são incorporadas pelas 
visões de mundo mais místicas e espiritualistas. No contexto da física quântica, uma 
interpretação idealista é uma que afirma que a consciência humana tem um papel 
essencial no desdobramento dos fenômenos quânticos. Na década de 1930, alguns 
autores, especialmente dois físicos chamados London e Bauer, propuseram que a 
consciência humana seria responsável pelo colapso da onda quântica. 
 
Proponho-me a explicar o que é isso, nos textos que se seguirão a este. Terei de fazer 
isso com calma, e apresentando figuras. Mas é importante deixar claro que estaremos 
iniciando nossa exploração com apenas uma das interpretações possíveis da teoria 
quântica: a própria noção de “colapso” não é aceita por todas as interpretações. 
Quem Somos Nós? 
 
Um exemplo de uma interpretação idealista é aquela apresentada no filme Quem Somos 
Nós? Quem tem uma visão de mundo mística ou espiritualista pode olhar para a física 
quântica em busca de novas ideias ou modelos. Mas o filme parece sugerir que a visão 
idealista é a única maneira de interpretar a teoria quântica. Isso é falso: a mecânica 
quântica não implica necessariamente o idealismo. A maioria dos cientistas ortodoxos 
interpreta a mecânica quântica sem tirar as consequências idealistas apresentadas no 
filme. (Discutiremos algumas cenas do filme mais para frente). 
Porém, mesmo os cientistas ortodoxos terão que admitir que uma interpretação 
idealista, que se mantenha consistente com o formalismo mínimo da teoria quântica, é 
irrefutável, e portanto tem de ser admitida como uma possível explicação do mundo. 
Este é o campo da filosofia que iremos explorar aqui. 
 
No entanto, o físico Amit Goswami tem dado um passo além, e defendido a correção de 
experimentos recentes, que indicariam (entre outras coisas) que a consciência humana 
pode influenciar as probabilidades de ocorrência de resultados de medição. Mas isso vai 
contra o que diz o formalismo mínimo da teoria quântica. Com essa cartada, Goswami 
sai do terreno puramente filosófico das interpretações e adentra o terreno científico das 
afirmações testáveis. A maioria dos cientistas ortodoxos considera que os experimentos 
mencionados são “pseudociência” (falsa ciência). Dentro de alguns anos, haverá um 
amplo consenso sobre se tais experimentos são corretos ou não.

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