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CURSO: DIREITO - 2016 DISCIPLINA: CIÊNCIA POLÍTICA - 1ª. Série Profa. Valéria C. Scudeler MATERIAL DE APOIO 1 1. Introdução à Ciência Política 2. Métodos e História da Ciência Política Referências AZAMBUJA, Darcy. Introdução à Ciência Política. 2. ed. São Paulo: Globo, 2008. BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. Vol. 1. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 11 ed, 1998. DICIONÁRIO ETIMOLÓGICO. Político. Disponível em: http://www.dicionarioetimologico.com.br/politico/. Acesso em 20 jul. 2015. FARIAS NETO, Pedro Sabino de. Ciência Política: enfoque integral avançado. São Paulo: Atlas, 2011. PRIBERAM. Dicionário Online. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/pol%C3%ADtico. Acesso em 20 jul. 2015. RAMOS, Flamarion Caldeira; MELO, Rúrion; FRATESCHI, Yara. Manual de filosofia política: para os cursos de teoria do Estado, ciência política, filosofia e ciências sociais. São Paulo: Saraiva, 2012. 1 – Significado de Política e de Político Política (do grego Politiké): derivado de pólis, que significa tudo o que se refere à cidade e, consequentemente, o que é urbano, civil, público, e até mesmo sociável e social. O termo Política se expandiu graças à influência da grande obra de Aristóteles, intitulada Política, que é o primeiro tratado sobre a natureza, funções e divisão do Estado, e sobre as várias formas de Governo, com a significação mais comum de arte ou ciência do Governo, isto é, de reflexão sobre as coisas da cidade. (BOBBIO et al, 1998) Na época moderna, o termo política passou a ser comumente usado para indicar a atividade ou conjunto de atividades que, de alguma maneira, têm como termo de referência a pólis, ou seja, o Estado. (BOBBIO et al, 1998) Pólis (origem grega): cidade autônoma e soberana, cujo quadro institucional é caracterizado por uma ou várias magistraturas, por um conselho e por uma assembleia de cidadãos (politai). (BOBBIO et al, 1998) ASSOCIAÇÃO DE ENSINO JULIAN CARVALHO – AEJC MANTENEDORA DA: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR SANTA BÁRBARA – FAESB Autorizado pela Portaria MEC nº 1.589, de 15 de setembro de 2006 - DOU Nº 179, SEÇÃO 1, 18/09/2006, P.19 Valéria C. Scudeler 2 Político (do grego Politikós): relativo aos cidadãos; relativo à política ou aos negócios públicos; estadista (PRIBERAM, 2015); aquele que se dedicava ao governo da Pólis (a cidade, o Estado). (DICIONÁRIO ETIMOLÓGICO, 2015) 2 – Ética e Política na Antiguidade Tanto a ética quanto a política nasceram nas cidades gregas, entre os séculos VI e IV a.C. Ética vem do grego ethos (“costumes”) e política de polis (“cidade”). As cidades gregas eram escravistas. A escravidão era comum e muito antiga, mas, em geral, se diluía em formas muito variadas de servidão, que comportavam a composição dos mais diversos graus de servidão e liberdade: mesmo os mais poderosos eram servos em relação ao rei. Nas cidades gregas, houve uma contraposição polar entre livres e escravos. Os homens livres eram considerados iguais como absolutamente livres em contraposição aos escravos, também iguais em sua absoluta privação de liberdade. Igualdade, isonomia. A concepção de igualdade se exprime de maneira mais clara na reforma política das leis da cidade de Atenas feita por Sólon em fins do século VI a.C. Entre muitas outras mudanças, como a extinção da pena de escravidão por dívida, Sólon misturou todos os clãs, famílias e posições sociais (comerciantes e marinheiros, donos de terra e arrendatários etc.) e os dividiu e reagrupou por sorteio. Por sorteio porque se todos são iguais não há nenhum critério para distinção. Os novos agrupamentos assim criados formavam algo como “distritos eleitorais” – muito heterogêneos do ponto de vista social – que elegiam ou sorteavam, dependendo da situação, aqueles que deveriam ocupar, por turnos, as funções de direção da cidade, além de participarem todos da assembleia, a verdadeira governante da Atenas democrática. Essa ideia de igualdade está muito longe de sua concepção moderna, segundo a qual “todos os homens nascem livres e iguais”. O cidadão pensado pelos gregos é igual porque e enquanto é livre. E são homens, no sentido estrito do termo: mulheres e crianças estão excluídas, assim como os estrangeiros (não atenienses). As cidades gregas reivindicavam sua autonomia, seu poder de se autogovernar. As formas de governo escolhidas variavam quase de caso a caso, embora pudessem ser agrupadas em Valéria C. Scudeler 3 regimes de tipo monárquico (com um ou dois governantes), de tipo aristocrático (com um grupo de governantes), e de tipo democrático (com todos governando por meio da assembleia). Regime democrático de Atenas. Começando pelo exercício da justiça e indo até mesmo à determinação das táticas de batalha na guerra, tudo era debatido e resolvido pela assembleia dos cidadãos. Os homens que governaram Atenas foram, antes de tudo, grandes oradores. A eliminação da referência à autoridade exterior entre homens iguais e a necessidade de argumentar com todos os demais deu nascimento a novas formas de pensamento, dentre as quais a mais influente historicamente foi a Filosofia, e, nela, a Ética e a Política. 3 – Visão Filosófica de Política A política surge na Grécia Antiga, respeitando os seguintes princípios: Isegoria: direito de todo cidadão falar e ser ouvido nas assembleias públicas; Isonomia: igualdade perante a lei e, principalmente, reconhecimento da capacidade de cada cidadão exercer cargos públicos. Para Platão (427 a.C. - 347 a.C.) e Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.): a política implica a participação nos assuntos de interesse da sociedade, na discussão do ordenamento da convivência social e na busca do bem comum, que deve estar acima dos objetivos e paixões individuais. os políticos eram cidadãos que se dedicavam à vida pública, assumindo cargos no governo das cidades-Estado, com o dever de respeitar as instituições político-democráticas consideradas fundamentais. ser político exige sabedoria e prudência, para que o homem transcenda seus interesses particulares, visando ao bem comum como um fim em si mesmo. 4 – Aristóteles Para Aristóteles, a existência humana é essencialmente política porque o homem é dotado de linguagem e lógos (razão, discernimento). Lógos consiste na capacidade de distinguir racionalmente o útil do inútil, o bem do mal, o verdadeiro do falso, a justiça da injustiça e de chegar a um consenso quanto a essas noções, levando a um acordo (com os outros cidadãos) mediatizado pela visão do verdadeiro bem. Valéria C. Scudeler 4 A política se dá como uma prática racionalmente orientada para a construção e manutenção do bem comum. No plano individual, a sabedoria para a busca do Bem se chama ética; no plano social, essa sabedoria se chama política. 5 – Definições de Política Na conceituação erudita, a política é a arte de conquistar, manter e exercer o poder, o governo. (MAQUIAVEL , 2007 apud AZAMBUJA, 2008) A política abrange o conjunto de decisões e ações desenvolvidas por indivíduos e organizações em busca de participação ou de influência no poder constituído. (FARIAS NETO, 2011) Política denomina-sea orientação ou atitude de um governo em relação a certos assuntos e problemas de interesse público: política financeira, política educacional, política social, etc. (AZAMBUJA, 2008) No uso trivial, às vezes pejorativo e vago, política compreende as ações, comportamentos, intuitos, manobras, entendimentos e desentendimentos dos homens (os políticos) para conquistar o poder, ou um lugar em seu exercício: eleições, campanhas eleitorais, lutas de partidos, comícios, etc. (AZAMBUJA, 2008) Atualmente, a maioria dos tratadistas e escritores se divide em duas correntes: Política é a Ciência do Estado. Política é a Ciência do Poder. 6 – Ciência Política como Ciência do Estado Nesta visão, a Ciência Política é: “o conhecimento de tudo que se relaciona à arte de governar um Estado” (DICIONÁRIO DA ACADEMIA FRANCESA apud AZAMBUJA, 2008, p. 27); “a ciência do governo dos Estados” (LITTRÉ apud AZAMBUJA, 2008, p. 27); é tudo o que “concerne ao Estado e seu governo” (LALANDE, 1999 apud AZAMBUJA, 2008, p. 28). Na visão sociológica, “O Estado é uma associação que, atuando através da lei promulgada por um governo, para esse fim investido de poder coercitivo, mantém dentro de uma comunidade delimitada territorialmente as condições externas de ordem social”. (MACLVER, 1960 apud AZAMBUJA, 2008, p. 30) Valéria C. Scudeler 5 Na visão jurídica, “O Estado é a reunião, sobre um território determinado, de um grupo humano obediente a uma autoridade independente incumbida de assegurar o bem comum do grupo”. (LE FUR, 1896 apud AZAMBUJA, 2008, p. 30) Em resumo, a imensa maioria dos autores define Estado como uma sociedade política (povo ou nação) organizada, com um poder que lhe é próprio e com um território certo e delimitado. (AZAMBUJA, 2008) O Estado, como objeto da Ciência Política, não é tomado de forma abstrata, e sim por ser o fato político supremo que, de certo modo, é protótipo das demais sociedades. Em conclusão, o Estado é o fato político supremo porque dele emanam as normas de convivência das sociedades humanas, com poder coercitivo. 7 – Ciência Política como Ciência do Poder Nesta visão, a Ciência Política é: “o estudo da natureza, dos fundamentos, do exercício, dos objetivos e dos efeitos do poder na sociedade”. (ROBSON apud AZAMBUJA, 2008, p. 31) Quanto à origem e à finalidade do poder, tem-se que “é uma força, nascida da vontade social, destinada a conduzir o grupo na obtenção do bem comum e capaz, sendo necessário, de impor aos membros (do grupo) a atitude determinada”. (BURDEAU, 1976 apud AZAMBUJA, 2008, p. 31) No entanto, o objeto de estudo da Ciência Política não é todo tipo de poder (militar, econômico, religioso, etc.), mas sim o poder político, que depende do fato ou fenômeno político. Fato político é todo fato, ato ou situação concernente à formação, estrutura e atividade do poder do Estado. O poder político se distingue de todos os outros porque só ele dispõe de força material, de coação física para impor suas decisões. Normalmente, nas sociedades civilizadas, a coação física é exceção, e o poder é habitualmente obedecido por meio de diversas formas de persuasão. Na fase atual da civilização, só existe um poder que dispõe da capacidade de se impor, se necessário, pelo emprego da força, só existe um poder político: o poder do Estado. Para muitos pensadores, o Estado é o poder político. Portanto: 8 – Métodos e História da Ciência Política Os métodos e técnicas de estudo da Ciência Política são os mesmos de outras ciências sociais: Ciência Política = Ciência do Poder Político = Ciência do Estado Valéria C. Scudeler 6 o método da observação documental, que utiliza como material livros, jornais, arquivos, filmes, fotografias, etc. o método da observação direta extensiva: pesquisa de natureza quantitativa que, a partir de uma amostra selecionada da população (universo da pesquisa), obtém resultados representativos de toda a população. Geralmente as questões formuladas são fechadas, isto é, as opções de resposta são padronizadas, e os resultados são apresentados na forma de estatísticas, porcentagens, tabelas e gráficos. Exemplos: pesquisas de satisfação com o governo, pesquisas de intenção de voto, pesquisas de boca de urna, etc. o método da observação direta intensiva: pesquisa de natureza qualitativa, que se dirige a pequenos grupos ou até indivíduos, geralmente por meio de entrevistas e formulários com questões abertas, em que os indivíduos expressam sua opinião. Os resultados não podem ser transformados em números e porcentagens e não são representativos de toda a população. Exemplo: entrevista com um ou alguns pesquisadores da área de Ciência Política para discutir o problema da corrupção nos governos. A história do pensamento político poderia ser dividida em duas fases no mundo ocidental. A primeira compreende o século IV a. C. até fins do século XIX, e nesta fase destacam-se as ideias e os pensadores fundadores da Ciência Política: Platão e Aristóteles são considerados “os pais” da Ciência Política. Platão, nos livros A república, Político e As leis procura construir o Estado ideal, onde os governantes seriam filósofos e os filósofos seriam governantes. Aristóteles, na Política, também procura descrever o bom governo, mas parte da observação da realidade política. Platão é idealista e Aristóteles é realista. Na Idade Média, houve a contribuição do pensamento cristão, como de Santo Agostinho (354- 430) e São Tomás de Aquino (1225-1274), além de outros teólogos católicos que enunciaram teorias e observações sobre Ciência Política. Nicolau Maquiavel (1469-1527), no livro O príncipe, expõe “a arte de conquistar, manter e exercer o poder”, separando a esfera da política da esfera da moral, analisando a realidade do exercício do poder. Montesquieu (1689-1755), com O espírito das leis, usou a visão sistemática, histórica e comparativa, e divulgou o princípio da divisão do poder inspirado em John Locke (1632-1704). Alexis de Tocqueville (1805-1859), com A democracia na América, e Auguste Comte (1798- 1857), com o Sistema de política positiva, são os dois maiores nomes do século XIX. A segunda fase desenvolve-se do século XX até os dias atuais. Depois de 1945 a Ciência Política inicia a fase positiva (científica) e se oficializa nas universidades, com o surgimento de várias “escolas” e correntes de pensamento. Valéria C. Scudeler 7 ROTEIRO DE QUESTÕES PARA ESTUDO 1) Qual o significado dos termos Política, Pólis e Político? 2) Qual o conceito de igualdade (isonomia) para a sociedade grega? 3) Quem era considerado cidadão na Grécia antiga e como se manifestou o regime democrático em Atenas? 4) Comente os aspectos fundamentais da visão filosófica da política para Platão e Aristóteles. 5) Quais as definições de política no âmbito da Ciência Política atual? 6) Quais as duas correntes da Ciência Política quanto à definição de Política? 7) Apresente a visão de Ciência Política como Ciência do Estado e defina o que se entende por Estado. 8) Apresente a visão de Ciência Política como Ciência do Poder e defina o que se entende por poder. 9) Conceitue fato político.10) O que é o poder político e como ele difere dos demais tipos de poder? 11) Quais os métodos e técnicas de estudo na área da Ciência Política? 12) Descreva as duas fases da história do pensamento político até o surgimento da Ciência Política como área do conhecimento, citando seus principais autores.
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