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1 Apresentação Oral Palavras-chave: História do aquecimento global, Efeito Estufa, Mudanças Climáticas. História do desenvolvimento da teoria do aquecimento global antropogênico Arthur Henrique de Oliveira swamiarthur@terra.com.br Mestre em História da Ciência Professor de Ciências e Biologia RESUMO As previsões desalentadoras a cerca das mudanças climáticas que poderão ocorrer em decorrência de um possível “aquecimento global” transformou a questão em uma emergência mundial. A crença unânime no aquecimento global supostamente causado pelo homem, apoiada por uma mídia acrítica, nos induz erroneamente a crer na idéia de que há um consenso científico fechado e inquestionável em torno do assunto. A história da ciência tem demonstrado que a existência de diferentes teorias para explicar um mesmo fenômeno é algo comum e um grande estímulo ao avanço científico. Ao passo que, quando uma concepção torna-se hegemônica os erros são mantidos na escuridão e os interesses políticos, ideológicos e econômicos preponderam. Em tempos de destaque para as questões ambientais, especificamente sobre as possíveis mudanças climáticas resultantes do aumento da temperatura do globo em decorrência da intensificação dos gases do efeito estufa, o resgate histórico sobre o desenvolvimento do tema nos permitirá compreender, entre outras coisas, como a hipótese do aquecimento global antropogênico tornou-se uma força hegemônica no cenário atual. Veremos que a hipótese de que o CO2 de origem humana poderia afetar o clima remonta ao final do século XIX e está ancorado nas premissas estabelecidas por vários pesquisadores como Jean Baptiste Joseph Fourier (1768-1830), John Tyndall (1820-1893), Svante August Arrhenius (1859-1927), entre outros. Para tanto, este trabalho segue a linha de pesquisa em História e Teoria Ciência utilizando como fonte primária os trabalhos de Jean Fourier denominado Memoire sur les temperaturas globo terrestre du et des espaces planetaires (1827), John Tyndall On the Absorption and Radiation of Heat by Gases and Vapours, and on the Physical Connexion of Radiation, Absorption, and Conduction (1861) e Svante Arrhenius, On the Influence of Carbonic Acid in the Air upon the Temperature of the Ground (1896) e Worlds in the Making. The Evolution of the Universe (1908), além disso, utilizaremos também fontes secundárias e obras mais gerais nas quais serão analisadas as preocupações relacionadas ao tema. James Fleming 1 recua um pouco mais na linha do tempo 1 James Rodger Fleming, historiador da ciência e tecnologia, professor de Ciência, Tecnologia e Sociedade no Colby College. Formou-se em Astronomia na Universidade da Pensilvânia, mestrado em Ciência Atmosférica pela Universidade do Colorado e doutorado em História pela Universidade de Princeton. 2 buscando evidencias históricas sobre as discussões a respeito das mudanças climáticas causadas por atividades humanas ou naturais. Como exemplo, o autor se reporta a teoria do determinismo climático defendida pelo abade francês Jean-Baptiste Dubos (1670-1742), no livro Réflexions critiques sur la poesie et sur la peinture (1719). Para Dubos, a causa das diferenças individuais, sociais e culturais entre os diversos povos poderia ser explicada pela influência dos fatores climáticos. Dubos, além de acreditar que o clima europeu e americano haviam se tornado mais ameno em decorrência das derrubadas das florestas para a expansão da agricultura, também pensava que o consumo constante de produtos tropicais poderia influenciar o desenvolvimento de características peculiares dos povos que viviam nessas regiões do globo. Outros pensadores como o Barão de Montesquieu (1689-1755) e David Hume (1771-1776) também acreditavam que as mudanças climáticas exerciam influência direta sobre o indivíduo e a sociedade 2 . David Hume, citando Dubos, no ensaio Of the populousness of ancient nations (1742), escreveu que no passado as temperaturas eram tão baixas no Mediterrâneo e na Europa que o Rio Tybre em Roma permanecia congelado durante o inverno. Ainda nesse ensaio, Hume faz referências aos escritos de Diodorus Siculus de que a região da Gália possuía temperaturas extremamente baixas no passado; que a Gália, segundo Aristóteles, era tão fria no passado que nem mesmo um asno conseguiria suportar o seu clima; que a região da Arcádia (atualmente Grécia), segundo Polybius, era muito fria e o ar extremamente úmido; a Itália, segundo Varro, tinha o clima mais temperado da Europa e que o norte da Espanha, de acordo com Strabo, era praticamente inabitável por causa do frio. Segundo Hume, a causa das alterações climáticas ocorridas no continente europeu nos últimos milênios estava diretamente relacionada com as atividades humanas 3 . Porém, devemos creditar ao físico e matemático francês Jean Baptiste Joseph Fourier, o mérito de ter identificado o fenômeno científico que mais tarde viria a ser chamado de efeito estufa. Fourier tendo observado o funcionamento de um aparato construído por Horace Bénédict de Saussure 4 (1740-1799), deduziu que o mesmo efeito poderia ocorrer na atmosfera do planeta. O aparelho desenvolvido por Saussure era utilizado para estudar a radiação solar e os efeitos do calor no alto das montanhas. Saussure objetiva demonstrar com seus experimentos que as diferenças de temperaturas entre altas e baixas altitudes não era apenas o efeito direto dos raios solares incidindo sobre a Terra, e para fazer isso, ele inventou um dos primeiros coletores de energia solar que ele chamou de “héliothermomètre”. O instrumento era constituído por termômetros envolvidos por várias caixas com painéis de vidros. Foi assim que, ao publicar em 1824, o trabalho Mémoire sur les températures du globe terrestre et des 2 Fleming, James. Historical Perspectives on Climate Change, 11-21. 3 Hume, David. Of the populousness of ancient nations, 210-211 4 Naturalista, geólogo e físico suíço, inventor do higrômetro, instrumento que media a umidade do ar. Diplomou- se pela Universidade de Genebra em 1759. Realizou diversas expedições e experimentos científicos nos Alpes, por isso, é atualmente considerado como um dos primeiros alpinistas do mundo, em um desses experimentos utilizou o heliotermômetro, uma invenção sua, para tentar descobrir porque faz mais frio nas montanhas do que em regiões de baixa altitude, escalou o Mont-Blanc em 1787, suas numerosas excursões pelos Alpes estão relatadas do seu célebre livro Voyages dans les Alpes (1796), também foi professor de Filosofia e membro da Royal Society. 3 espaces planétaires, ele expôs pela primeira vez a idéia de que a atmosfera se comportaria como os vidros de uma estufa, ou seja, ela seria capaz de interceptar grande parte do calor- escuro 5 emitido pela superfície do planeta evitando sua propagação para o espaço 6 . Fourier endossava também a idéia de que as atividades humanas poderiam provocar alterações no clima: Les mouvements de l’air et des eaux, l’étendue des mers, l’élévation et la forme du sol, les effets de l’industrie humaine et tous les changements accidentels de la surface terrestre modifient les températures dans chaque climat 7 . Embora esteja longe de considerar uma possível intensificação do efeito estufa em decorrência da "engenhosidade humana", o que surpreende em Fourier é que o mecanismo detalhado do efeito estufa natural do planeta, até aquele momento, ainda não era conhecido. Mas, se Fourier conseguiu chegar mais longe que Saussure na interpretação dosfatos, é que meio século havia transcorrido e o progresso no estudo do calor havia avançado muito. Porém, se o princípio do efeito estufa começara a ser compreendido e podendo Fourier ser reconhecido como um dos seus descobridores, alguns aspectos ainda se mantinham obscuros: os gases atmosféricos responsáveis pelo fenômeno. A elucidação viria posteriormente com as pesquisas realizadas Claude Pouillet (1790-1868), John Tyndall (1820-1893), Svante Arrhenius, e muitos outros. Nos anos 1820-1830, o físico francês Claude Pouillet (1790-1868) desenvolveu um aparelho chamado “pyrhéliomèter" (pirômetro) visando realizar pesquisas sobre a propagação da radiação solar, segundo Pouillet, a atmosfera terrestre teria a capacidade de reter o calor emitido pela superfície. Na busca por fenômenos físicos que influenciariam as características do clima, Claude Pouillet, em 1838, fez a primeira estimativa da constante solar, usando o pirômetro ele obteve um valor de 1228 W/m², valor muito próximo da estimativa atual 8 . John Tyndall nasceu na Irlanda, após ter exercido a profissão de engenheiro, dedicou-se ao estudo da filosofia natural, foi professor da Royal Institution (1853-1887), colaborador, sucessor e biógrafo de Michael Faraday (1791- 1867), realizou diversos experimentos sobre magnetismo, mas notabilizou-se principalmente por seus estudos sobre a condução do calor em gases e vapor de água. Realizou diversos experimentos não só para medir a absorção de calor pelo dióxido de carbono, mas também pelo vapor de água presente na atmosfera. Tyndall estudou a capacidade do vapor, do dióxido de carbono e do metano em absorver o calor dos raios solares, e sugeriu que o resfriamento do planeta (eras do gelo) era causado por variações dos níveis atmosféricos desses gases. Para Tyndall a água presente em estado gasoso na atmosfera absorveria muito mais radiação infravermelha do que o gás carbônico e seria, portanto, o principal fator desencadeador das 5 Fourier referia-se a radiação infravermelha, cuja descoberta havia ocorrido 1800, por intermédio dos trabalhos do astrônomo inglês William Herschel (1738 - 1822), o mesmo que descobriu o planeta Urano. 6 Fourier, Jean Baptiste Joseph. Memoire sur les temperaturas globo terrestre du et des espaces planetaires, 585- 586. 7 Ibidem, 584. 8 Constante Solar é a quantidade de energia solar que chega a Terra. O cálculo é feito por unidade de tempo e por unidade de área em uma superfície perpendicular aos raios solares, de acordo com a distância média Terra-Sol. Atualmente esse valor da constante solar é medido por satélites logo acima da atmosfera terrestre e equivale a 1.367 W/m 2 . No entanto, o valor da constante solar varia de acordo com a atividade solar e, mais ainda, com a excentricidade da órbita terrestre, dessa forma, o fluxo solar incidente varia entre valores máximos e mínimos. 4 mudanças climáticas 9 . No prosseguimento das pesquisas sobre efeito estufa e aquecimento global, no final do século XIX, o químico sueco Svante Arrhenius (1859-1927), fez várias especulações: se houvesse uma redução ou um aumento na quantidade de dióxido de carbono na atmosfera tal fato poderia causar flutuações nas temperaturas do globo; os oceanos exerceriam papel de destaque como regulador da quantidade de CO2 na atmosfera: emite quando a temperatura aumenta, e absorve quando ela esfria; a redução na quantidade de CO2 presente na atmosfera poderia explicar o advento das glaciações; a duplicação do percentual de CO2 aumentaria a temperatura da superfície em 4º C; se a concentração fosse quadruplicada a temperatura subiria 8º C. Assim, se a quantidade de gás carbônico aumentasse em progressão geométrica, o aumento da temperatura aumentaria quase em progressão aritmética, se houvesse uma redução a tendência seria inversamente proporcional. Além disso, a diminuição da quantidade de CO2 acentuaria as diferenças das temperaturas, enquanto, um aumento nesse percentual tenderia a uniformizar as temperaturas do globo 10 . Arrhenius foi um dos primeiros a relacionar o aumento do consumo de combustíveis fósseis com o aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera, focando a causa no âmbito do ciclo biogeoquímico do carbono 11 . Mas, apesar de Arrhenius, ver com bons olhos a queima dos combustíveis fósseis, pois o aumento das concentrações de CO2 pelas atividades humanas poderia ser uma ótima solução técnica para se combater os efeitos de uma nova era glacial, naquela época, os riscos de um eventual aquecimento global de origem antropogênica soava como algo muito remoto ou mesmo impossível, e as especulações em torno do assunto permaneceram relegadas ao descrédito, o que levou o renomado meteorologista britânico George Clark Simpson (1878-1965), afirmar que, embora pudesse ocorrer variação nas concentrações de dióxido de carbono na atmosfera, essas variações seriam incapazes de causar efeitos notáveis sobre o clima, outros mecanismos como alterações na luminosidade solar, a transparência atmosférica, a temperatura dos oceanos e os elementos orbitais da Terra desempenhariam papel muito mais importante na regulação do clima 12 . Porém, não tardou muito até que em 1938, o pensamento de Arrehenius fosse resgatado por Guy Stewart Callendar (1878- 1964), engenheiro especialista em tecnologias do vapor e combustão da Associação Britânica das Indústrias Elétricas. A pesquisa de Callendar intitulada The Artificial Production of Carbon Dioxide and its Influence on Temperature (1938), apresentada na Royal Meteorological Society de Londres afirmava que o aumento das temperaturas médias no globo observado desde o início do século XX era resultante do aumento das emissões de CO2 provocadas pela queima de combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás natural, e que durante os últimos cinqüenta anos a combustão desses materiais teria lançado cerca de 150 bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, 9 Tyndall, John. On the Absorption and Radiation of Heat by Gases and Vapours, and on the Physical Connexion of Radiation, Absorption, and Conduction, 28. 10 Arrhenius, Svante. On the Influence of Carbonic Acid in the Air upon the Temperature of the Ground, 266- 268, e Worlds in the Making. The Evolution of the Universe, 51-53. 11 Arrhenius, Svante. Worlds in the Making. The Evolution of the Universe, 54-56. 12 Fleming, James. Historical Perspectives on Climate Change, 90-106 5 acarretando um aumento de 10% nas concentrações desse gás na atmosfera entre os anos 1900 e 1936. Apesar de questionado por outros autores, Callendar manteve-se convicto de que seus cálculos estavam corretos e que o efeito estufa intensificado pelo aumento das concentrações de CO2 era real. Suas conclusões baseavam-se na análise das temperaturas obtidas em 200 estações meteorológicas espalhadas pelo mundo 13 . As hipóteses de Callendar foram recebidas com certo grau de ceticismo pela comunidade científica, no entanto, após rever os resultados das medições de dióxido de carbono em 1941, houve uma ligeira mudança na opinião de vários pesquisadores, que passaram a partir daí, a considerar a absorção de calor pelo dióxido de carbono como um grande influenciador do aumento da temperatura global 14 . Realmente nas primeiras décadas do século XX, entre 1920 e 1930, observou-se um rápido e brusco aquecimento da ordem de 2º a 4º C nas temperaturas globais, a causa seria atribuída às atividades antropogênicas, principalmente a queima de combustíveis fósseis. Tal fenômeno ficou conhecido por Efeito Callendar 15. Um dos episódios famosos dessa tendência de aquecimento foi uma terrível seca que assolou diversos estados americanos durante a década de 1930. Nos anos seguintes Callendar continuou trabalhando com a hipótese da relação direta entre variação de CO2 e aumento da temperatura. Os artigos de Callendar no decorrer das décadas seguintes serviriam de subsídios para novas pesquisas. As súbitas alterações das temperaturas nas primeiras décadas do século XX também foram objeto de estudo da reportagem do New York Times, de 12 de dezembro de 1938. A reportagem apresentava estudos que tentavam diagnosticar a razão do aquecimento percebido na época, embora não se soubesse ainda sua causa real 16 . Na contramão da tendência de responsabilização do CO2 como vilão do aquecimento global, o matemático sérvio Milutin Milankovich (1879-1958) publicou o livro Mathematical science of climate and astronomical theory of the variations of the climate (1930), no qual sugeria que os ciclos glaciais eram determinados por variações da radiação solar recebida pela Terra, tais variações decorriam das seguintes combinações: a excentricidade da órbita terrestre; a obliqüidade do eixo do globo e a rotação do eixo terrestre, que varia entre 21,8º e 24,4º a cada 41.000 anos e rotação do eixo terrestre. No entanto, essa “conexão cósmica”, ou seja, a relação entre o aumento da intensidade solar e o aquecimento global só passaria a ganhar aceitação durante a década de 1970, depois que análises nos leitos dos oceanos, no gelo da Antártica e da Groelândia mostraram evidencias das alternâncias climáticas. Segundo essa correlação, o fato do Sol constituir-se como fonte primordial de energia para a Terra, haveria uma forte influência das variações das atividades solares na 13 Callendar, Guy Stewart. The Artificial Production of Carbon Dioxide and Its Influence on Temperature, 223- 225. 14 Fleming, James. Historical Perspectives on Climate Change, 115-117. 15 Apesar do início do século XX ter registrado um aumento significativo das temperaturas, a partir daí, um resfriamento de cerca de 1º C se manteve até a década de 1990, exatamente no período em que ocorreu o mais intenso lançamento de CO2 antropogênico na atmosfera. A partir da década de 1990, as temperaturas voltariam a subir. Segundo Geraldo Lino, o aumento das temperaturas a partir da década 1920, deve-se ao aquecimento causado por uma intensa atividade solar, ou seja, consistia em uma ligeira recuperação da fase anterior de resfriamento (A farsa do aquecimento global, 23-35). 16 Disponível em http://wattsupwiththat.com/2008/12/12/today-in-climate-history-dec-12th-1938-gettingwarmer. 6 regulação do clima planetário 17 . Durante a Guerra Fria muito se especulou a respeito da influência dos testes nucleares no clima do planeta 18 . No início da década de 1950, Gilbert Norman Plass (1920-2004), físico canadense fez uma série de previsões sobre o aumento do dióxido de carbono na atmosfera e seu efeito sobre a temperatura média do planeta. Plass endossando os trabalhos de Callendar, afirmava que o acúmulo de dióxido de carbono na atmosfera poderia se tornar um sério problema num futuro próximo. Em 1953, Plass publicou na revista Time Magazine um artigo no qual discorreu sobre a relação entre o aumento das emissões antropogênicas de CO2 e o aumento da temperatura. Segundo ele, o aumento de CO2 na atmosfera elevaria a temperatura média do planeta em 1,5°C a cada 100 anos. Em 1958 começaram as medições de CO2 no vulcão Mauna Loa no Havaí pelo químico Charles David Keeling (1928-2005). Além de utilizar um instrumento especialmente projetado por ele (cromatógrafo de gás) para analisar as emissões do vulcão, Keeling também analisou as microbolhas de ar aprisionadas nas amostras de gelo das sondagens profundas na Antártica e na Groelândia. A relação direta entre o aumento de gás carbônico e a elevação da temperatura passou a ser conhecida a partir daí conhecida como Curva de Keeling. Tal gráfico indica a concentração atmosférica progressiva de CO2 ao longo do tempo. As medições que tiveram início no ano de 1958 até os dias atuais seria uma evidência, para aqueles que defendem a tese do aquecimento global antropogênico, que o planeta está aquecendo. Em 1963, a Fundação Conservação patrocinou uma conferência sobre as Implicações do crescente conteúdo de dióxido de carbono da atmosfera, a qual foi presidida por Charles Keeling. O relatório final da conferência afirmava que o aumento das concentrações de CO2 acabaria provocando uma elevação de até 4º C nas temperaturas, o que acarretaria inundações, derretimento de geleiras e elevação do nível dos oceanos. Naquele mesmo ano, contrastando com o aquecimento global, a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, convocou uma conferência em Roma para discutir os efeitos do resfriamento global sobre a produção de alimentos. O principal especialista ouvido foi o climatologista e especialista no estudo dos climas do passado, o inglês Hubert H. Lamb, diretor do Centro de Pesquisas Climáticas da Universidade de East Anglia. Lamb era um opositor a tese de que o CO2 teria uma influencia determinante sobre o clima. Mas, não tardou muito para que a tese do aquecimento se “esfriasse”. Entre as décadas de 1960 e 1970, a discussão sobre aquecimento global cedeu lugar à possibilidade de resfriamento, com base na redução das temperaturas que vinha ocorrendo desde a década de 1940. Nessa nova tendência o frio passou a ser manchete nos jornais e revistas dos Estados Unidos: Os climatologistas estão pessimistas se os líderes políticos tomarão alguma ação positiva para compensar a mudança climática, ou mesmo para mitigar seus efeitos. Alguma semelhança com as previsões atuais? Sim, mas com uma pequena diferença: o texto faz referência ao resfriamento e não ao aquecimento global 19 . No dia 08 de agosto de 1974, o jornal The New York Times noticiava que a comunidade científica estava preocupada com a possibilidade de redução na produção mundial de alimentos em 17 Lino, Geraldo Luís. A fraude do aquecimento global, 34-35. 18 Fleming, James. Historical Perspectives on Climate Change,115-117 19 Newsweek, 28 de abril de 1975. http://denisdutton.com/newsweek_coolingworld.pdf. 7 decorrência do resfriamento global, já que, uma nova era glacial estava em curso 20 . Em outro artigo, agora publicado no dia 21 de maio de 1975, novamente o jornal The New York Times dizia que havia consenso entre os cientistas sobre o possível resfriamento do planeta 21 .O resfriamento global também foi capa da revista Time em vários momentos naquele período: The Big Freeze (31 de janeiro de 1977) e How To Survive the Coming Ice Age (8 de abril de 1977). Mas, se a quantidade de CO2 estava aumentando, como explicar a queda nas temperaturas? Intencionando responder a essa questão a revista Science, uma publicação da American Association for the Advancement of Science, publicou um estudo afirmando que as temperaturas estavam em decaimento em decorrência do aumento das concentrações de aerossóis na atmosfera causada pela poluição 22 . Em junho de 1972, ocorreu em Estocolmo na Suécia, a primeira Conferência das Nações Unidas para o Ambiente Humano, cujo mérito foi introduzir a temática ambiental nas relações internacionais, abrindo caminho para a implementação de uma série de tratados internacionais, bem como, instaurar o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, sendo que o primeiro diretor executivo nomeado para o órgão foi Maurice Strong.Antes de ser nomeado para a conferência, Strong foi executivo do alto escalão da empresa de energia Power Corporation e cargos no governo do Canadá. Também mantinha numerosos vínculos de negócios com a família Rockefeller, tais condições o credenciou para assumir o papel de executivo-chefe do embrionário movimento ambientalista globalizado, inclusive com a sua incorporação ao aparelho das Nações Unidas. Strong durante a conferência advertiu urgentemente as nações sobre o advento do aquecimento global, a devastação das florestas, a perda da biodiversidade e finalmente sobre tendência mundial do aumento descontrolado da população. Ele propôs também um imposto a ser cobrado sobre cada barril de petróleo produzido e o uso desses recursos em programas de esclarecimentos sobre as conseqüências da poluição em qualquer parte do mundo. Durante os anos que esteve no cargo (1972-1975), Strong promoveu ativamente a popularização das principais ameaças para atmosfera, representada pelo uso dos combustíveis fósseis e produtos químicos, que supostamente seriam agressivos para a camada de ozônio; articulou a aproximação entre O PNUMA e a OMM (Organização Meteorológica Mundial), criando o arcabouço institucional para a politização dos temas climáticos, alguns anos mais tarde Strong seria um dos principais organizadores da Cúpula da Terra (Conferência Rio-92), da Convenção sobre Mudanças Climáticas e estaria envolvido também nas negociações sobre o Protocolo de Kyoto 23 . Em 1977, nos Estados Unidos, a National Academy of Sciences publicou um estudo sobre as tendências climáticas dominantes. O relatório final considerava improvável um resfriamento global e apontava para um possível aquecimento global para os próximos séculos. Durante os anos de 1980 os termômetros registrariam novamente uma tendência para o aumento das temperaturas, e o sucesso do 20 http://www.wmconnolley.org.uk/sci/iceage/ny-times-1974-08-08.pdf 21 http://www.wmconnolley.org.uk/sci/iceage/ny-times-1974-08-08.pdf 22 Rasool, S. Ichtiaque; Schneider, H. Atmospheric carbon dioxide and aerosols: effects of large increases on global climate, 138-141. 23 Lino, Geraldo Luis. A fraude do aquecimento global, 56-57. 8 Protocolo de Montreal 24 para a questão da camada de ozônio, foi seguido por outro encontro a Conferência Global sobre Mudanças Atmosféricas (1988) - ou Conferência de Toronto como ficou conhecida. Seguindo o modelo do Protocolo de Montreal, a Conferência de Toronto foi a primeira a estabelecer metas específicas de redução de emissões de gases do efeito estufa. No final da década de 1980 a Organização Meteorológica Mundial e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, sob os auspícios da ONU, reconheceriam formalmente a ameaça do aquecimento global e estabeleceriam em 1988 a criação do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). Dois anos após o seu estabelecimento, IPCC publicou seu primeiro relatório. O Primeiro Relatório de Avaliação afirmava que as mudanças climáticas representariam de fato uma ameaça à humanidade e conclamava pela adoção de um tratado internacional para tratar o problema. Na seqüência vieram mais três relatórios, que geraram muito debate e discussão na comunidade científica. O último relatório de 2007 previa o desaparecimento das geleiras do Himalaia até 2035. Também foram superestimados os números referentes às potenciais perdas nas safras de grãos no norte da África. Segundo o relatório, o prejuízo poderia corresponder a 50% até 2020. No relatório de 2001 o IPCC produziu um gráfico equivocado, posteriormente conhecido como Taco de Hóquei, que após as denúncias de fraudes chegou ao Congresso dos Estados Unidos. O deputado Joe Barton, então presidente do Comitê de Energia e Comércio da Câmara dos Deputados, solicitou que Michel Mann, autor do estudo e membro do IPCC, liberasse as informações do estudo para que as informações fossem avaliadas por duas equipes de especialistas. O chamado Relatório Wegman, como ficou conhecido, não apenas constatou os problemas do trabalho de Mann, como fez também várias críticas aos métodos utilizados pelo IPCC 25 . A credibilidade dos dados contidos no último relatório continuou a ser abalada quando no final de 2009 a mídia noticiou o vazamento de informações sigilosas contidas nas mensagens eletrônicas (e-mails) trocadas entre os cientistas. O caso ficou conhecido como Climategate, uma referência aos escândalos que levou o então presidente americano Richard Nixon a renunciar ao cargo em 1974. Entre as mensagens divulgadas pela mídia encontra-se uma mensagem no qual o cientista menciona a utilização de um trick (palavra inglesa que pode ser usada com o significado de truque) no tratamento de dados que seriam utilizados no relatório do IPCC 26 . As incertezas a respeito das mudanças climáticas causadas por atividades antrópicas, fez com que a Royal Society, organização científica proeminente do Reino Unido, publicasse um relatório intitulado Mudanças climáticas: um sumário sobre a ciência. O estudo aponta as incertezas que ainda pairam sobre as possíveis mudanças climáticas 24 Protocolo de Montreal foi um tratado internacional em que os países signatários se comprometeram a substituir substâncias que supostamente causavam danos à camada de ozônio (O3). O Brasil assinou o acordo em decorrências das pressões exercidas pelo Banco Mundial, BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e FMI (Fundo Monetário Internacional), caso o governo não assinasse estaria impossibilitado de conseguir novos créditos no mercado internacional 25 Lino, Geraldo Luis. A fraude do aquecimento global, 95-97 26 Climategate é o nome dado ao escândalo revelado após hackers invadirem os servidores da Climate Research Unit da University of East Anglia, um dos principais centros de pesquisa sobre aquecimento global. Michael E.Mann foi um dos principais pesquisadores que foi exposto pelos e-mails. Os dados divulgados demonstram que houve manipulação de dados visando esconder o decaimento das temperaturas nos últimos anos. 9 induzidas pelas atividades humanas 27 . Nessas circunstâncias de incertezas sobre o aquecimento global a hegemonia dos defensores do aquecimento global antropogênico está sendo colocada em xeque-mate, a ciência não é local de consenso e quando as teorias opostas se rivalizam em torno de um fenômeno único, na expectativa da sua elucidação, a atividade científica torna-se transparente. Nossos estudantes e o grande público, de forma geral, estão sendo privados de conhecer o outro lado da questão, não há como fazer juízo de valores, sem que se tenha opções de escolha. Sabemos hoje que é impossível determinar exatamente o quanto a Terra vai aquecer ou resfriar, mas estimativas cuidadosas das potenciais mudanças e das incertezas associadas a elas têm sido feitas. As mudanças climáticas são fenômenos naturais que ocorrem há centenas de milhões de anos, e no estado atual do conhecimento científico, o homem pouco pode fazer a não ser entender melhor a sua dinâmica e adaptar-se a ela, contudo, não devemos permitir que o debate científico converta-se em uma nova religião, obsessão mundial ou indústria de fazer dinheiro, pois os cientistas continuam trabalhando para diminuir as incertezas e a única coisa de que se tem certeza é que o dióxido de carbono é um gás benéfico para a agricultura e um dos componentes do efeito de estufa. Vimos também que a polarização entre teorias divergentes e as preocupações com as interferências antrópicas sobre o clima, ocorrido nos últimos cemanos, ao contrário do tão propalado consenso científico, ainda está muito longe de terminar. 27 http://www.probeinternational.org/RS_ClimateChange_SummaryofScience.pdf 10 Referências Bibliográficas Callendar, Guy Stewart. The Artificial Production of Carbon Dioxide and Its Influence on Temperature, 223-225. Quarterly Journal Royal Meteorological Society vol. 64, pgs. 223– 240. Fleming, James Rodger. Historical perspectives on climate change. Oxford, Oxford University Press, 1998. Lino, Geraldo Luis. A fraude do aquecimento global. Rio de Janeiro: Capax Dei, 2010. Rasool, S. Ichtiaque; Schneider, Stephen H. Atmospheric carbon dioxide and aerosols: effects of large increases on global climate. In: Science 173, 9/7/1971, 138-141. The Royal Society. Climate change: a summary to the science. Setembro de 2010. Disponível em http://royalsociety.org/Royal-Society-launches-new-climate-change-guide/ Acesso em 20 de março de 2011 .
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