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1 Estudo de avaliação dos fatores de produtividade em estaca raiz no Município de Santarém Ricardo Vitor Pereira da Rocha – engcivil.ricardorocha@gmail.com MBA em Projeto, Execução e Controle de Estruturas e Fundações Instituto de Pós-Graduação - IPOG Manaus, AM, 23 de Setembro de 2015 RESUMO A Engenharia brasileira cresceu exponensialmente nos ultimos anos. Essa demanda gerou novos desafios e a eficiência na produção passou a ser um dos maiores indicadores de qualidade. Dessa forma, a procura incessante por êxito nos projetos aumenta gradativamente,apoiada na criação de novas tecnologias. Soluções inovadoras em fundações tem sido fundamentais para resolver problemas de estaqueamento que em outros momentos geravam grandes dificuldades. A solução na contrução de fundação tipificada como Estaca Raiz, tem resolvido grande parte dos desafios dessa engenharia sedenta por novos rumos. Seu processo é certamente um dos mais complexos no campo geótecnico, pois necessita de uma logistica grande e eficiente para garantir resultados satisfatórios. Tal processo executivo é tema deste trabalho, que busca encontrar os gargalos dessa técnica e indicar, assim, em que o processo pode ser melhorado ou otimizado, perante o apontamento de falhas de execução de uma obra em andamento. O trabalho foi realizado no Municipio de Santarém e utiliza a metodologia estudo de caso da construção de Estacas Raizes da fundação do edifício-sede da Subseção Judiciária de Santarém. O resultado do acompanhamento da execuação da obra de fundação Estaca Raiz de tal lugar, demonstrou que dificuldades tecnicas e falta deplanejamento na execuação da obra, ocasionaram em consideráveis atrasos no cronograma e um maior custo, perante o que havia sido previsto. Palavras-chave: Estaca Raiz. Engenharia. Fundação. Construção. 1 INTRODUÇÃO Atualmente a sociedade vive um momento de busca pela otimização e uso sustentável dos recursos naturais cada vez mais escassos, o que culmina em tentativas em melhorar a produtividade em suas criações, o que hoje é sinônimo de competência. Para a Engenharia, por exemplo, a produtividade está diretamente associada a eficiência na produção, por isso a procura incessante por êxito nos projetos aumenta constante e gradativamente, com a criação de novas tecnologias e maquinários que aliam os fatores tempo e qualidade. Fato esse exemplificado pelos Projetos BIM (Building Information Modeling ou Modelagem de Informação da Construção), que consiste no gerenciamento de 2 informações dentro de uma edificação, desde a fase inicial, o que conta com a criação de um modelo digital que abrange todo o ciclo de vida do edificio. A produtividade na construção civil está relacionada ao planejamento, a gestão, aos projetos e a mão de obra envolvida, logo é preciso, antes de tudo, fazer um estudo envolvendo todos estes fatores, para minimizar futuros problemas, que são comuns dentro de um canteiro de obra. Será que existe mão de obra especializada disponível? Como é o terreno em que será executado o projeto? O local no qual será instalada a obra suporta tudo o que é preciso para executá-la? Quais condições climáticas, a região oferece? Os projetos fornecem subsídios suficientes para execução? Perguntas como estas precisam ser discutidas a fim de se gerir e buscar aprimoramento antes, durante e depois de qualquer obra, seja ela, de pavimentação, superestrutura ou infraestrutura, sendo essa última o foco deste artigo. Nos países desenvolvidos, a Engenharia é vista sob uma rigida e longa rotina de planejamentos. É notória a dedicação que perdura por meses na concepção de projetos – que são elaborados com riqueza de detalhes – e no planejamento da obra, momento em que é dedicado um tempo maior na análise de cada etapa de projeção, o que difere da execução, que devido a tanto primor em planejamento, acaba sendo executada em menor tempo. Tal cenário difere do cenário brasileiro, que continua insistindo em projetos básicos – muitas vezes batizados indevidamente de “projetos executivos” –, o que configura uma economia desnecessária em sondagem e topografia, ocasionando incompatibilidade entre projeto de cálculo estrutural, arquitetônico, instalações, entre outros fatores. No Brasil, não há confiança no valor de um bom projeto e espera-se que o engenheiro de campo faça “milagres” no canteiro de obras. Visando atentar para cuidados importantes e com objetivo de contribuir literariamente com a produtividade na planta de fundação em Estaca Raiz, este artigo procura apresentar situações corriqueiras no campo da execução da construção, em que fatores diversos que poderiam ser evitados ou, ao menos minimizados, acabam comprometendo todo o cronograma e produtividade da obra. A metodologia adotada foi a de estudo de caso, escolha metodológica que encontra apoio nas palvras Yin (2003 apud SOUSA, 2013, p. 43), que diz que “...o estudo de caso [...] deve ser utilizado quando se deseja chegar a generalizações amplas, baseadas em evidências obtidas em estudos de caso”. 3 2 ESTACAS RAIZ 2.1 Conceito Estaca Raiz é uma técnica de construção de alicerce profundo. Segundo os critérios da Norma Brasileira (NBR) de número 6.122 do ano de 2010, a qual trata desse tipo de fundação e regulamenta a forma de sua execução, Estaca Raiz é aquela em que a transmissão de carga é feita pela resistência de ponta e/ou pela resistência de fuste (superfície lateral) e também por sua profundidade de assentamento, que é maior que o dobro de sua menor dimensão. É moldada in loco, executada por equipamentos específicos e não exige a presença de operários no solo na hora da execução. Vale salvar que este tipo de estaca também é conhecida como Estaca Escavada Injetada, uma vez que no método de execução é feita a injeção de material aglutinante, geralmente argamassa (cimento, areia e água). Dispondo sobre as características gerais da Estaca Raiz, a NBR nº 6.122/10 (ABNT 2010, p. 74 apud Sousa, p. 35), aponta que: A estaca raiz é uma estaca moldada in loco, em que a perfuração é revestida integralmente, em solo, por meio de segmentos de tubos metálicos (revestimento) que vão sendo rosqueados à medida que a perfuração é executada. O revestimento é recuperado. A estaca raiz é armada em todo o seu comprimento e a perfuração é preenchida com argamassa de cimento e areia. 2.2 Histórico O inicio da utilização e o desenvolvimento deste tipo de tecnica de construção de fundação ocorreram na Itália, a partir da década de 1950 momento, inclusive, em que o professor Fernando Lizzi 1 requereu as primeiras patentes com a denominação de “Pali Radice”. Essa técnica, inicialmente utilizada para reforço de fundações e melhoramento de solo, foi apresentada no 10º Congresso de Geotecnia, em 1970, na Itália. Desde então, várias empresas começaram a comercializar estacas similares, denominadas de Micro Estacas, por utilizarem diâmetros de até 20 centímetros. Com o avanço da Engenharia e suas tecnologias, houve a necessidade de utilizar estacas de diâmetros cada vez maiores, atualmente chegando a 50 centímetros. Devido a esse aumento nas medidas das estacas e, com isso, a necessidade de maior capacidade de carga usual à compressão, a atual NBR 6.122/2010 abandonou a 1 Fernando Lizzi (02 de Janeiro de 1914 – 28 de Agosto de 2003) foi um grande Engenheiro Civil italiano, que desenvolveu a técnica da “Pali Radice”, ou Estaca Raiz. 4 nomenclatura de “Micro Estacas”, substituindo por “Estacas Escavadas com Injeção” ou “Estacas Escavadas Injetadas”. Diferente doque ocorria no principio da utilização dessa tecnica, hoje, esse tipo de fundação não é usada apenas para reforço, mas, também como opção de fundação para qualquer tipo de terreno, especialmente em solos rochosos, em canteiros nos quais exista a dificuldade de acesso a equipamentos de maior porte, como bate-estacas e perfuratrizes para hélice contínua e também em locais onde exista obra vizinhas, pois não produzem muita vibração. Com a modernização dos equipamentos de execução, é possível projetar estacas com capacidade de carga à compressão de até 200 tf, dependendo do diâmetro final da mesma. Esse sistema pode ser executado na vertical ou em posição inclinada e permite alcançar profundidades de ate 60 metros. Para calcular o diâmetro, a profundidade e a quantidade de armação utilizada em cada estaca, é necessário fazer o teste de Standard Penetration Test ou Sondagem à Percussão (SPT) no terreno orientado segundo a NBR 6.484/2001 além de seguir as orientações da NBR 6.122/2010 – Projeto e Execução de Fundações. 2.3 Equipamentos Utilizados Para a execução, é necessária a utilização de perfuratriz rotativa hidráulica, mecânica ou movida a ar comprimido, com capacidade para revestir integralmente todo o trecho em solo, utilizando o tubo de revestimento, conjunto misturador de argamassa, compressor de ar – capacidade de vazão mínima de 5 pcm e pressão máxima de 0,5 MPa –, bomba de água, conjunto extrator dotado de macaco, conjunto de acionamento hidráulico, além de reservatórios para a acumulação de água para perfuração contínua de, pelo menos, uma estaca. 2.4 Processo Executivo O processo executivo é o modo como ocorre a construção das estacas raiz, o qual se dá, sequencialmente, em quatro etapas, sendo-as: perfuração rotativa ou roto-percussiva, colocação da armadura, injeção de argamassa com preenchimento integral do furo e remoção do revestimento. Porém, antes de começar a perfuração, é necessário posicionar corretamente a perfuratriz, conferindo a verticalidade e o ângulo de inclinação do tubo metálico em relação a estaca locada. Sobre a etapa de perfuração, destaca-se que: 5 [...] A perfuração é executada na vertical ou inclinada, de acordo com o projeto de fundação por equipamento perfuratriz. É normalmente utilizado o método rotativo com a circulação de água, onde as peças são acrescentadas à medida que a perfuração é avançada. É introduzido um tubo de revestimento provisório até a extremidade inferior da estaca. No caso de encontrado material resistente, a perfuração é prosseguida através de uma coroa diamantada ou um martelo de fundo, por processo percussivo, onde o segundo caso é o mais habitualmente empregado (VELLOSO E LOPES, 2010; TEC GEO, 2013), apud SOUSA, 2013, p 36) Ainda sobre perfuração, os mesmos autores também expõem que as dimensões externas do martelo de fundo são limitadas pelo diâmetro interno do revestimento, já que a perfuração se faz a partir interior do tubo de revestimento. Na tabela 01, apresentam-se as características principais dos tubos de revestimento e os diâmetros máximos dos martelos de fundo em relação ao diâmetro final das estacas. Tabela 1 – Características dos tubos de revestimento e diâmetros máximos dos martelos de fundo quanto ao diâmetro final das estacas. Diâmetro nominal da estaca mm 150 160 200 250 310 400 Diâmetro mínimo externo do tubo de revestimento mm 127 141 168 220 273 324 Carga máxima de trabalho tf 30 40 55 80 110 140 Fonte: Site da Empresa NOVAGEO DO BRASIL LTDA. Disponível em: http://www.novageo.com.br/28- conteudo-engenharia-fundacao-tipo-estaca-raiz. Acessado em Ago de 2015. Na NBR 6.122/10 – Projetos de Fundação – tem-se a regulamentação de que a perfuração para estaca raiz deve ser revestida integralmente ao longo do seu fuste. Porém, há situações nas quais a perfuração alcança camadas de densas de rochas, que implicam em uma instalação parcial do revestimento ao longo do comprimento da perfuração para a estaca, pois, na rocha, não existe a possibilidade de desbarrancamento, dado que o material rochoso, nesse caso, atua como um revestimento natural. Dessa forma, diz-se que há o revestimento parcial (no solo com revestimento e parte em rocha, sem revestimento). Mesmo que a perfuração atinja a cota de projeto, é preciso que a injeção de água continue, ainda que a perfuração não avance, para que seja promovida a limpeza do furo. Após a perfuração, é colocada a armadura dentro do furo, de forma constante ou variávelmente, ao longo do fuste de acordo com o projeto de fundações. Geralmente, essa estrutura metálica é composta por um vergalhão ou barra de aço – ou de vários vergalhões 6 ou barras de ferro – com bitola que varia de acordo com as necessidades e especificações do projeto, estribados corretamente, em forma de “gaiola”. Em situações em que a colocação manual é dificultada, a estrutura pode ser inserida no fuste com amparo do guincho auxiliar da perfuratriz. Nas estruturas para estacas trabalhadas a compressão, as emendas das barras podem ser feitas por simples transpasse (devidamente fretado). Já nas armações para estacas que sejam trabalhadas sob tração, recomenda-se que as emendas sejam feitas com solda e luvas rosqueadas ou luvas prensadas. Uma vez instalada a armadura, é introduzido o tubo de injeção (geralmente de PVC com diâmetro de 1 ½ “ ou 1 ¼”) até o final da perfuração para proceder a injeção, de baixo para cima, até que a argamassa extravase pela parte superior do tubo de revestimento, garantindo assim que a água ou a lama de perfuração seja substituída pela argamassa, a qual é confeccionada em um misturador de alta turbulência, geralmente acionado por motorbomba, pra garantir a homogeneidade da mistura. Nessa etapa é importante garantir que, durante a concretagem, os estribos permaneçam na posição correta. Para isso utilizam-se espaçadores plásticos ou em argamassa, espaçados conforme projeto, para manter a estrutura centralizada e o cobrimento determinado no mesmo. Quando a argamassa começa a sair pela parte superior do tubo de revestimento, é rosqueado na parte superior desse tubo, um tampão metálico ligado a um compressor para permitir aplicar golpes de ar comprimido durante a extração do revestimento. Esta extração é auxiliada por macaco hidráulico. É importante ressaltar que a argamassa que emergi na superfície do terreno deve ser de forma limpa, sem lama ou detritos. Com a retirada dos tubos de revestimento, percebe-se que o nível de argamassa no interior do revestimento vai baixando, com isso existe a necessidade de se completar o nível antes que um novo golpe de ar comprimido seja aplicado. Esta operação é repetida várias vezes até a conclusão da retirada do revestimento. Após a retirada total do revestimento e complementação do nível de argamassa, temos a estaca efetivamente concluída. Esse procedimento de retirada dos tubos de revestimento com o auxílio do guincho, deve ser cuidadosamente observado, pois quando as peças são suspensas, há o risco de o operário ser atingido por peças, devido ao seu transporte ou até mesmo desprendimento durante o movimento. 7 O processo executivo da estaca raiz pode ser ilustrado conforme figura 01. Figura 1 – Processo executivo da Estaca Raiz Fonte: Site da Empresa GEOFIX. Disponível em: http://www.geofix.com.br/servico-estaca-raiz.php. Acessado em Ago de 2015. Como em toda obra, além da qualidade dos serviços executados, a segurança dos operários também deve ser garantida. Para isso, alguns cuidados quanto a execução desse tipo de fundação devem ser tomados. Fazendo partedo maquinário necessário para execução e funcionamento dos equipamentos de estaca raiz, utiliza-se um quadro de distribuição de energia que alimenta todo o aparato mecânico, porém, é de extrema importância que o mesmo seja aterrado adequadamente, evitando acidentes provenientes de descargas elétricas. Da mesma forma, o fio que transmite a energia elétrica deve ser mantido suspenso em cavaletes, evitando o contato direto com o chão, uma vez que, durante a execução, existe a necessidade da utilização de água e essa é um excelente condutor elétrico. Se houver uma pequena fissura na capa do fio e o mesmo estiver posto sobre o chão com água, ocorrerá um curto circuito, transmitindo a descarga elétrica para a água, atingindo todo e qualquer trabalhador que estiver em contato com essa. Benite (2004, p. 19 apud SOUSA) “define segurança e saúde no trabalho como: ‘O estado de estar livre de riscos inaceitáveis de danos nos ambientes de trabalho, garantindo o bem estar físico, mental e social dos trabalhadores”. 8 2.5 Materiais Utilizados Os materiais necessários para a execução dos serviços de estaca raiz são basicamete cimento e areia, utilizados para o preparo da argamassa que é injetada. Além, aço CA-50 e aço CA-25, também são empregados nas gaiolas, que são devidamente travadas e soldadas conforme projeto de fundação. Para atender o consumo mínimo estipulado pela NBR 6.122/10, é necessário o consumo mínimo de cimento de 600kg/m 3 , o traço normalmente utilizado contém 80 litros de areia para 50 kg de cimento e 20 a 25 litros de água, para obter uma argamassa com uma resistência característica acima de 20 Mpa. Quadro 1 – Consumo de materiais CARGA (tf) DIÂMETRO (mm) CIMENTO (sc/m) AREIA (l/m) AÇO (kg/m) 10 100 - - - 20 120 0,17 13 5,00 25 150 0,30 23 5,00 35 160 0,30 23 5,50 50 200 0,47 35 7,50 70 250 0,75 55 11,50 100 310 1,13 85 17,50 130 400 1,89 141 21,00 200 500 - - - Fonte: Site da Empresa NOVAGEO DO BRASIL LTDA. Disponível em: http://www.novageo.com.br/28- conteudo-engenharia-fundacao-tipo-estaca-raiz. Acessado em Ago de 2015. 2.6 Vantagens e Desvantagens A Estaca Raiz possui algumas particularidades que as tornam vantajosas em relação aos demais tipos de estacas. Tais benefícios se dão principalmente por serem fundações que não produzem vibrações nem choques. Em lugares que existem monumentos tombados historicamente, esta vem a ser uma vantagem primordial. Além disso, são fundações que permitem sua execução através de obstáculos como peças de concreto, blocos de rocha, pois permitem a escavação com a ajuda de coroa diamantada ou martelo de fundo. Além disso, por utilizar geralmente equipamentos de pequeno porte, torna possível o trabalho em ambientes restritos, com pé direito baixo. Devido sua flexibilidade na execução, outra vantagem deste tipo de estaca, é a possibilidade de execução não somente na vertical, mas, em qualquer inclinação. Por fim, de acordo com Brasecol (2013 apud SOUSA, 2013) “a estaca raiz pode suportar solicitações de esforços de compressão bem como de tração”. 9 Devido a considerável quantidade de cimento na argamassa, a Estaca Raiz possui elevado custo. Ademais, a técnica da Estaca Raiz, possui equipamentos de controle de execução, ficando a critério do operador regular a pressão e injeção da argamassa, tornando-se dependente do mesmo. Em termos de produção diária, o avanço da Estaca Raiz é lento, chegando ao máximo de 30 metros de estaca por dia. No entanto, cabe ressaltar que esse forma de construção de fundação, mesmo com essas desvantagens, representa uma forma vantajosa, inquestionavelmente, quando se pretende um trabalho que não prejudique estruturas “delicadas” próximas e a lugares em que equipamentos grandes não podem ser instalados, independentemente do tipo de solo. 2.7 Indicações Devido a flexibilidade de execução, a Estaca Raiz é indicada para todos os tipos e fundações. Seu uso tem sido comum em fundações de equipamentos industriais, torres de linhas de transmissão, também para reforço de fundações, para locais com restrição de pé direito e com dificuldades de acesso de equipamentos de maior porte. Devido ao custo elevado de produção, esse tipo de estaca é utilizado especificamente onde as demais técnicas não conseguem atravessar camadas mais resistentes, como matacões, blocos ou rochas (arenitos, siltitos etc.). 3 ESTUDO DE CASO Inicialmente, para o desenvolvimento deste trabalho, foi realizada, uma revisão bibliográfica para ter-se uma visão geral desse tipo de fundação profunda, bem como seus conceitos, aplicações, execução e benefícios. Após essa revisão, foi feito um levantamento da obra de construção da Subseção da Justiça Federal, que usou a Estaca Raiz, na cidade de Santarém, no estado do Pará. 3.1 Localização do Objeto de Estudo A obra está localizada na Avenida Barão do Rio Branco, 1893, bairro do Aeroporto Velho, Santarém/ Pará. O município de Santarém tem sua localização privilegiada e estratégicamente, no momento da confluência dos rios Amazonas (direção Oeste – Leste) e Tapajós (direção Sul – Norte). Possui um perímetro urbano com área de paisagem fluminense e é, hoje, um entroncamento modal: onde rodovias federais e estaduais, hidrovias e aerovias, convergem. 10 Fonte: Google Earth. Disponível em: www.google.com.br. Acessado em Ago de 2015. 3.2 Caracterização da Obra A 1ª etapa do edifício-sede da Subseção Judiciária de Santarém possui, de área construída, aproximadamente 2.000m², dividos em tres blocos, sendo-os: 01 jurídico, 01 administrativo e outro de atendimento ao público. A empresa contratada para a execução d aobra é oriunda da cidade de Macapá, estado do Amapá e a empresa responsável pela fiscalização, de Belém/Pará, ambas ganhadoras do processo licitatório que regeu a instituição de tal empreendimento. A obra foi executada em concreto convencional. A primeira etapa, que contempla apenas a parte térrea do projeto inicial, já se encontra completamente preparada para receber posteriormente a 2ª etapa da obra, que será a construção de mais uma andar, além da construção de um auditório. O tipo de fundação utilizado na obra é a tipificada como Estaca Raiz. No total foram construídas 207 estacas, distribuídas em 160 blocos de coroamento com dimensões variadas. 3.3 Descrições dos Serviços Em todos os seus nove pontos de sondagem SPT (Standard Penetration Test) – executada pela empresa WS Geotecnia Ltda – os resultados descrevem o solo como arenoso, do tipo areia média siltosa de cor amarela. Após esse levantamento, os laudos foram encaminhados para o engenheiro de fundação que, em posse dos dados obtidos e do projeto estrutural, definiu para essa obra, a fundação do tipo profunda em Estaca Raiz. 11 Ao total foram projetados 734 metros de Estaca Raiz, com diâmetro de 250 mm para suportar cargas de aproximadamente 35 tf, com uma resistência característica da argamassa de 20 Mpa. Além desses, foram ainda projetados mais 675 metros de Estaca Raiz, com diâmetro de 300 mm, para suportar cargas de aproximadamente 40 tf, com resistência característica da argamassa de 20 Mpa. Na armação das estacas de 250 mm foram utilizadas seis barras de ferro de 3/8 (10.0 mm) CA-50 em forma de “gaiola”, estribada com ferro comercial 5.0 mm espaçados a cada 20 cm. Já nas estacas de 300 mm, foram utilizados seis barras de 3/8” (10.0 mm) CA-50, em forma de gaiola estribada com ferro 6.0 mm espaçados a cada 15 cm. Inicialmente, o projeto previa estacas com comprimento de 06 metros em todos os pontos.Porém, após revisão, observou-se que haveria pontos em que a estaca não suportaria a carga aplicada sobre ela. Também houve pontos que apresentaram “folga” de resistência, pois o comprimento inicial era maior que o necessário. Após esta revisão, os comprimentos foram recalculados e, ao final, obtiveram-se estacas com comprimento variável de 04 metros, 06 metros, 07 metros e, nos pontos mais solicitados, 8 metros. Com todas as alterações definidas, deu-se início ao processo de locação das estacas. Momento este de grande importância, pois qualquer erro durante e a partir desse processo, pode resultar diretamente numa falha na execução da obra. Geralmente, o posicionamento das estacas é feito conforme a planta de locação, fornecida pelo cálculo estrutural. Com a chegada do maquinário no canteiro de obras, foi autorizado pela fiscalização o início do serviço de escavação, porém, o primeiro grande problema surgiu com o fornecimento insuficiente de água pela concessionária. Como se sabe, à Estaca Raiz é escavada com a ajuda de água, o que exige um consumo elevado desse recurso e a companhia de abastecimento de água local não garantiria tal condição. Para solucionar esse problema, foi necessário fazer uma ligação provisória de uma cisterna, que é abastecida por poço artesiano, de um órgão municipal que fica ao lado do local da obra. O bombeamento de água foi feito com a ajuda de bombas “sapo”, abastecendo os reservatórios provisórios existentes no canteiro da obra. O serviço foi executado dentro dessas limitações e, durante sua execução, houve interrupções por problemas nas bombas de abastecimento com até corte de fornecimento por períodos consideráveis. Isso, com toda certeza, acarretou um atraso significativo no cronograma da obra. Durante a execução das primeiras estacas foi observado que, como a máquina, encontrava-se um pouco defasada, era exigido um consumo de água elevado, fazendo com 12 que a água armazenada no canteiro se disseminasse rapidamente afetando a produção diária. A escavação das estacas iniciou no dia 10 de Fevereiro. Segundo previsão do cronograma, para esse período, já deveriam estar assentadas todas as estacas do prédio principal. No entanto, apenas 18 estacas já haviam sido executadas. O clima na região Oeste do Pará, onde esta localizada a cidade de Santarém, é caracterizado por períodos de chuva e estiagem, sazonais. Durante aproximadamente 06 meses, há estiagem, caracterizada pela ausência, ou diminuição significativa no volume e frequência de chuvas (de Julho a Dezembro). Nos outros 06 meses (de Janeiro a Junho), predominam altas frequências e volumes pluviais. Como mencionado anteriormente, a escavação das estacas no canteiro iniciaram no mês de Fevereiro, período em que as chuvas são mais intensas. Logo, o trabalho foi interrompido inúmeras vezes devido a situação meteorológica local nesse período. Com a escassez de empresas especializadas no ramo de cravação de Estaca Raiz em Santarém e região, é comum o aproveitamento de empresas que estejam executando outra obra na cidade ou nos municípios circunvizinhos. Além, muitas vezes, não há um maquinário reserva, ocorrendo interrupções no serviço caso problemas mecânicos aconteçam com o maquinário. A empresa contratada para a execução das estacas nessa construção descrita, anteriormente estava executando outro serviço nas proximidades, com atrasos e problemas no trabalho, logo, o início dos trabalhos na obra da Justiça Federal, aqui descrita, também foram comprometidos, o que contribuiu ainda mais para o atraso do cronograma da obra. O maquinário utilizado na obra não era novo, com isso, alguns problemas mecânicos aconteceram, algumas peças tiveram que ser trocadas e/ou recuperadas, acarretando em outras e novas interrupções que perduraram até mais de 24 horas. Observou-se também, que durante a execução, houve certa folga nos tubos metálicos do revestimento empregado, causando aumento na seção da estaca. Ou seja, estaca com diâmetro de 250 mm acabaram com diâmetros variando entre 280 mm e 300 mm. Esse aumento reflete na quantidade de material utilizado, pois também aumenta o consumo de argamassa e, por consequência, aumenta o custo final de cada estaca. Nota-se que ocorreram vários problemas nesta construção, comprometendo instalação, execução e o próprio maquinário utilizado. O reflexo disso está no prazo de conclusão da obra e, principalmente no custo final da obra. Todos os fatores citados neste 13 estudo de caso foram motivos suficientes para justificar o atraso em que a obra se encontra hoje. 3.4 Fatores Diminutivos da Produtividade Os resultados dados a produtividade em uma obra, estão intimamente ligados a melhor – ou pior – utilização dos recursos disponíveis em uma obra, dentre eles, espaço físico, ferramentas, mão-de-obra, insumos, técnicas de gerenciamento, meio de transporte e horário de trabalho, entre outros itens, os quais afetam diretamente as condições financeiras de qualquer construção. No estudo de caso da obra que ilustrou este trabalho, foi notado que vários elementos contribuíram para que emergissem problemas quanto a um desenvolvimento de impecável e produtivo, ligados ao departamento técnico, a logística empregada e a fatores climáticos, os quais deveriam – e devem = ter sido (re)pensados e questionados antes mesmo da aprovação da fase inicial, que é o projeto. Como se sabe, na perfuração de Estaca Raiz, a água é um fator imprescindível, deve-se atentar antes e, não durante, se para a execução existe no local fornecimento suficiente para atender o desempenho de confecção da obra de fundação, caso contrário, deve-se prever a necessidade de uma instalação provisória que forneça água, seja por meio de armazenamento em caixas d’águas ou da própria instalação de um poço artesiano, o que seria o mais correto a ser adotado. Como na obra alvo deste trabalho, o fornecimento era insuficiente, fez-se necessário uma instalação provisória – o que, dentro das oportunidades, foi a opção menos onerosa – , o que causou, porém, paralisações que comprometeram a produtividade e refletiram em um atraso no cronograma, já que a possibilidade de falta d’água não havia sido cogitada durante o planejamento, o qual não obedeceu a um diagnóstico real das condições de fornecimento de água, tão vital para um ótimo condicionamento da produtividade e desenvolvimento da obra. Pois, o local onde toda e qualquer obra é instalada, deve ser estudado e analisado, para que seu progresso não se some a dificuldades técnicas que atrapalhem o percurso ótimo das atividades a serem desenvolvidas. Devido a falta de empresas especializadas nesse tipo de fundação em Santarém e nas mediações regionais, fez-se necessário a contratação de uma empresa de outro município, mais distante. Essa é uma prática muito adotada localmente, porém alguns pontos precisam ser observados para que haja otimização a produtividade, dentro dessa 14 realidade. Sempre que possível é necessário um maquinário ou peças reservas, pois caso haja paralisações por problemas mecânicos, existirão máquinas reservas para a continuação dos serviços. Na obra ilustrada neste artigo, destaca-se o problema operacional de que, devido a empresa ser detentora de um maquinário defasado, foram necessárias várias interrupções para troca e concerto de peças e, como essas não existiam em estoque, em muitos momentos houveram paralisações no andamento da obra de fundação de Estaca Raiz, que perduraram por até mesmo uma semana, o que ocasionou perda de tempo e atraso no cronograma previsto. Além disso, outro fator não-ótimo bastante significativo e que contribuiu paraum andamento não eficiente da obra, foi o aumento no custo de cada estaca, oriundo do aumento de material utilizado na execução por conta de uma folga no revestimento utilizado para a convecção das mesmas. Isso inferiu em um diâmetro real e prático que ficou maior do que no projeto. Questões como essas precisam ser analisadas no momento do planejamento, pois caso tivesse ocorrido a troca do maquinário por um mais moderno, por exemplo, o número de paralisações seriam menores ganhando tempo na execução e, talvez, consumindo menos material, não comprometendo assim o orçamento final da obra. Outro fator bastante relevante é a previsão meteorológica. O clima na região Oeste do Pará é propicio sazonalidade no regime de chuvas, sendo que, no período chuvoso (Verão, de dezembro a junho) os volumes pluviométrico são consideravelmente intensos. Apesar de já existir no mercado equipamentos que permitem o trabalho em tempos chuvosos – o que não era o caso da obra, pois tais utensílios não foram empregados – a paralisação era inevitável, até mesmo por questões de segurança, devido toda a alimentação elétrica da máquina está diretamente em contato com a água. Mas, tal problema poderia ter sido evitado, dada a notável condição climática regional, se o planejamento previsse o preparo ideal para que as obras continuassem mesmo sob chuva. Percebe-se que o investimento técnico e monetário em logística e planejamento empregados, mão ocasionaram boas condições de prazo e custos. É de extrema importância a revisão do projeto antes da execução para que durante o processo não aconteçam situações parecidas com as que já foram citadas e comentadas. 4 CONCLUSÃO Neste artigo discutiu-se a necessidade e a importância de um bom planejamento para a produção ótima de Estacas Raiz, com base nas experiência oportunizadas com as 15 dificuldades enfrentadas na construção da subseção da Justiça Federal no município de Santarém. O aumento da produtividade na execução de Estaca Raiz é consequência da utilização otimizada e integrada de diversos fatores. Podemos destacar inicialmente o projeto executivo adotado no canteiro de obras: esse deve estar de acordo com o projeto arquitetônico e estrutural e preferencialmente ter sido revisado antes de adentrar ao canteiro de obras. Outro fator decisivo que pôde ser observado e que, caso bem empregado garantiria uma otimização na produção, está para q utilização de mão-de-obra especializada e maquinário eficiente e suficiente. Esses são fatores que estão ligados diretamente com o tempo de execução e, como na construção civil, costuma-se dizer que “tempo é dinheiro”, o ideal da engenharia está em produzir mais rápido, de forma eficiente e cumprir o tempo estimado de obra. O canteiro de obra deve oferecer ao executor todo o subsidio necessário para uma um processo eficiente, porém, cabe também ao executor um estudo do local em que irá trabalhar, bem como considerar suas variâncias, sejam elas de cunho logístico, locacional ou meteorológico. É preciso que o planejamento esteja a par de tudo que possa condicionar em empecilho para um bom andamento da obra, estando atendo para o passado, o presente e os possíveis futuros, pois “Previsão é o ato ou efeito da ação de se prever, com certo grau de precisão, o comportamento de uma determinada variável potencial do problema” (BEZERRA, 2014, p. 07). A cidade de Santarém está localizada na região Norte do Brasil, à margem do Rio Tapajós, lugar no qual a logística para chegada de bens e produtos se dá via terrestre, porém em condições ainda precárias e também através de via aquática, condicionantes que tornam a chegada de insumos que precisam ser trazidos de outras regiões, mais lenta, contexto que deve ser considerado em qualquer planejamento de obra local. 16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEZERRA, John Eloi. APLICAÇÃO DE TÉCNICAS GEOESTATÍSTICAS NO PROCESSO DE OTIMIZAÇÃO DE PROJETOS DE FUNDAÇÕES ESTAQUEADAS. In. XXI, 246 p., 210 mm x 297 mm (ENC/FT/UnB, Doutor, Geotecnia, 2014), Tese de Doutorado - Universidade de Brasília [DF]. Faculdade de Tecnologia. Departamento de Engenharia Civil e Ambiental. Disponível em: http://www.geotecnia.unb.br/downloads/teses/092-2014.pdf. Acessado em Ago de 2015. CABRAL, David Antunes. O USO DE ESTACAS RAÍS COMO FUNDAÇÃO DE OBRAS NORMAIS. In. VIII Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações, porto Alegre, RS, 12 a 16 de Outubro de 1986. Disponível em: http://www.cobramseg2014.com.br/anais/1951-1998/arquivos/1951-1998.885.pdf. Acessado em Ago de 2015. IBGE/CIDADES. [Informações de Santarém, PA]. Disponível em: http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=150680&search=para|san tarem. Acessado em Ago de 2015. SOUSA, Marina Peruzzo de. DIAGNÓSTICO QUANTO À SEGURANÇA DO TRABALHO NA EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES. Florianópolis, SC, 2013, 145 p. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/115463/TCC%20Vers%C3%A3o% 20final%20%28CD%29.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acessado em Ago de 2015.
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