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[Fichamento] CHARTIER, Roger. O Mundo como Representação

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CHARTIER, Roger. O Mundo como Representação. In. A Beira da Falésia: a História 
entre as incertezas e inquietudes. Porto Alegre: UFRGS, 2002. 
- Annales – década de 1980 - Crise dos grandes modelos/ideologias da História – 
estruturalismo/marxismo; 
- “O desafio fora então lançado pelas disciplinas mais recentemente institucionalizadas 
e mais dominadoras intelectualmente: a linguística, a sociologia ou a etnologia. O 
assalto conta a história pode assumir formas diversas, algumas estruturalistas e outras 
não, mas todas elas questionam a disciplina em seus objetos – ou seja, o primado dado 
ao estudo das conjunturas, econômicas ou demográficas, e das estruturas sociais – e 
em suas certezas metodológicas, considerados como mal assegurados em relação às 
novas exigências teóricas.” (p. 62) 
- Mediante isso, os historiadores encontraram duas saídas, “eles puseram em ação u 
estratégia de captação lançando-se nas frentes abertas por outros. De onde o 
aparecimento de novos objetivos em seu questionamento: as atitudes diante da vida e 
da morte, rituais e as crenças (...) – o que significa construir os novos territórios dos 
outros (etnólogos, sociólogos, demógrafos). Razão, corolariamente, do retorno maciço 
a uma das inspirações fundadoras dos primeiros Annales, aqueles dos ano 1930: o 
estudo das aparelhagens mentais que a dominação da história das sociedades havia 
relegado um pouco ao segundo plano. (...) História das Mentalidades (...) era delimitado 
um campo de pesquisa, distinto tanto da velha história das ideias quanto daquela das 
conjunturas e estruturas. Sobre esses objetos novos (ou reencontrados) podiam ser 
postos à prova modos inéditos de tratamento, extraído das disciplinas vizinhas (...). A 
História das Mentalidades construiu-se, pois, aplicando a novos objetos os 
princípios de inteligibilidade previamente testados na história das economias e 
das sociedades. De onde suas características específicas: a preferência dada à 
maioria, portanto à investigação da cultura considerada popular, a confiança na cifra e 
na série (...), longa duração, a primazia concedida ao recorte socioprofissional. (...) 
história cultural [era] definida [articulando] a constituição de novos campos de 
pesquisa com a fidelidade aos postulados da história social, são a tradução da 
estratégia da disciplina que estabelecia para si uma legitimidade científica 
renovada (...). ” (p. 63) 
- “O desafio lançado à história nesses últimos anos é como que o inverso (...). Ele não 
se ancora mais em uma crítica dos hábitos da disciplina em nome das inovações 
das ciências sociais, mas em uma crítica dos postulados das próprias ciências 
sociais. Os fundamentos intelectuais da ofensiva são claros: de um lado o retorno a 
uma filosofia do sujeito que recusa a forças das determinações coletivas e dos 
condicionamentos sociais e que pretende reabilitar ‘a parte explícita e refletida da ação’; 
de outro a primazia concedida ao político, que supostamente constitui o ‘nível mais 
globalizante’ da organização das sociedades, e para isso, fornece uma ‘nova chave para 
a arquitetura da totalidade’. A história é então chamada a reformular seus objetos 
(...), suas referências (sendo privilegiado o diálogo travado com a ciência política 
e a teoria do direito) e, (...) seus princípios de inteligibilidade, destacado do 
‘paradigma crítico’ e redefinido por uma filosofia da consciência. Em tal 
perspectiva, o mais urgente é então separar tão nitidamente quanto possível a 
disciplina histórica (salvável ao preço de ‘lancinantes revisões’) das ciências sociais 
outrora dominantes (sociologia e etnologia), condenadas por seu apego 
majoritário a um paradigma obsoleto. (p. 64) 
- As mutações do trabalho histórico não foi gerado por uma crise das ciências 
sociais ou por mudanças de paradigmas, “mas elas estão ligadas à distância 
tomada, nas próprias práticas de pesquisa, em relação aos princípios de 
inteligibilidade que haviam governado o método histórico nos últimos vinte ou trinta 
anos. Três eram essenciais: o projeto de uma história global, capaz de articular em uma 
mesma apreensão os diferentes níveis da totalidade social; a definição territorial dos 
objetos de pesquisa, geralmente identificados à descrição de uma sociedade instalada 
em um espaço particular (...) – o que era a condição para que fossem possíveis a coleta 
e o tratamento dos dados exigidos pela história total; a primazia dada ao recorte social 
considerado apto a organizar a compreensão das diferenciações e divisões culturais. 
Ora, esse conjunto de certezas esboroou-se progressivamente, deixando o campo livre 
a uma pluralidade de abordagens e de compreensões. ” (p. 65-66) 
- “Renunciando (...) à descrição da totalidade social e ao modelo braudeliano, que 
se tornou intimidante, os historiadores tentaram pensar os funcionamentos 
sociais fora de uma divisão rigidamente hierarquizada das práticas e das 
temporalidades (econômicas, sociais, culturais, políticas) e sem que primado fosse 
dado a um conjunto particular de determinações. (...). Renunciando a considerar as 
diferenciações territoriais como os âmbitos obrigatórios de sua pesquisa, os 
historiadores franceses tiraram de sua disciplina o procedimento de inventário 
que ela havia recebido da escola de geografia humana. A cartografia das 
particularidades, cuja razão devia ser encontrada na diversidade das condições 
geográficas, foi substituída pela busca de regularidades – o que significa reatar com a 
tradição dos Annales dos anos 1930, da sociologia durkheimiana e preferir o 
estabelecimento de leis gerais (...) à descrição das singularidades regionais. (...)” (p. 66) 
- Renunciar à primazia do “recorte social para dar conta das variações culturais, 
a história em seus últimos avanços mostrou, conjuntamente, que é impossível 
qualificar os motivos, os objetos ou as práticas culturais e termos imediatamente 
sociológicos e que sua distribuição e seus usos numa sociedade dada não se 
organizam necessariamente de acordo com divisões sociais previas, identificadas a 
partir das diferenças de estado e de fortuna. As novas perspectivas abertas para 
pensar outros modos de articulação entre as obras ou as práticas e o mundo 
social são, pois, sensíveis ao mesmo tempo à pluralidade das clivagens que 
atravessam uma sociedade e à diversidade dos empregos de materiais ou de 
códigos partilhados. ” (p. 67) 
- O autor passa a fazer “algumas proposições organizadas em torno de uma história das 
apropriações. Essa noção parece central para a história cultural com a condição, 
todavia, de ser reformulada. Essa reformulação, que enfatiza a pluralidade dos 
empregos e das compreensões e a liberdade criadora – mesmo que seja regrada – dos 
agentes que nem os textos nem as normas impõe-se, distancia-se (...) do sentido que 
Foucault dá ao conceito, considerando a ‘apropriação social dos discursos’ como um 
dos procedimentos maiores pelos quais os discursos são assujeitados e confiscados 
pelos indivíduos ou pelas instituições que se arrogam controle exclusivo. Ela também 
distancia do sentido que a hermenêutica dá (...) pensada como o momento em que a 
‘aplicação de uma configuração narrativa particular à situação do leitor refigura sua 
compreensão de si e do mundo, portanto sua experiência fenomenológica. A 
apropriação tal como a entendemos visa uma história social dos usos e das 
interpretações, relacionados às suas determinações fundamentais e inscritos nas 
práticas específicas que os produzem. (...) é reconhecer, contra a antiga história 
intelectual que nem as inteligências nem as ideias são desencarnadas e, 
invariantes, quer seja filosóficas ou fenomenológicas, devem ser construídas na 
descontinuidade das trajetóriashistóricas. (...) as divisões culturais não se 
ordenam obrigatoriamente segundo uma grade única do recorte social (...). A 
perspectiva dever ser invertida e delinear, primeiramente a área social onde circulam 
um corpus de textos, uma classe de impressos, uma produção ou uma norma cultural. 
Para assim dos objetos, das formas, dos códigos, e não dos grupos, leva a considerar 
que a história sociocultural viveu por tempo demais sobre um concepção mutilada do 
social. (p. 68-69) 
- (...) a caracterizar as configurações culturais a partir de materiais que supostamente 
lhes são específicos (...) parece hoje em dia duplamente redutora. De um lado, ela 
assimila o reconhecimento das diferenças apenas às desigualdades de distribuição; de 
outro, ignora o processo pelo qual um texto, uma fórmula, uma norma, fazem sentido 
para aqueles que deles se apropriaram ou os recebem.” (p. 69) 
- “(...) O essencial é (...) compreender como os mesmos textos – em formas impressas 
possivelmente diferentes – podem ser diversamente apreendidos, manipulados, 
compreendidos. (...). A leitura não é somente uma operação abstrata de intelecção: 
ela é uso do corpo, inscrição em um espaço, relação consigo ou com o outro. É 
por essa razão que devem ser reconstruídas as maneiras de ler próprias a cada 
comunidade de leitores. ” (p. 70) 
- “Contra a representação, elaborada pela própria literatura, segundo a qual o texto 
existe em sim mesmo, independente de qualquer materialidade, deve-se lembrar que 
não há texto fora do suporte que o dá a ler (ou a ouvir) e que não há compreensão 
de um escrito, seja qual for, que não dependa das formas nas quais ele chega ao 
eu leitor. Por isso, a distinção indispensável entre dois conjuntos de dispositivos: 
aqueles que dizem respeito às estratégias de escritura e às intenções do autor, aqueles 
que resultam de uma decisão de editorou de uma imposição de oficina. ” (p. 71) 
- “Trabalhando sobre as lutas de representações, cujo objetivo é a ordenação da 
própria estrutura social, a história cultural afasta-se sem dúvida de uma 
dependência demasiado estrita em relação a uma história social fadada apenas 
ao estudo das lutas econômicas, mas também faz retorno útil sobre o social, já 
que dedica atenção às estratégias simbólicas que determinam posições e 
relações e que constroem, para casa classe, grupo ou meio, um “ser-percebido” 
construtivo de sua identidade.” (p. 73) 
- “ Foi sem dúvida a atenção atribuída às ‘formalidades das práticas’ (certeau), quer se 
referissem à produção ou à recepção, que mais alterou uma maneira clássica de 
escrever a história das mentalidades. Primeiramente, obrigando-a a considerar os 
discursos em seus próprios dispositivos, suas articulações retóricas ou narrativas, suas 
estratégias persuasivas ou demonstrativas. (...) elas têm sua lógica própria – e uma 
lógica que pode muito bem ser contraditória em seus efeitos com a letra da mensagem. 
Segunda exigência: tratar os discursos em sua descontinuidade e sua discordância. ” 
(p. 75)

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