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CEFAC 
CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA 
MOTRICIDADE ORAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OCLUSÃO DENTÁRIA E MASTIGAÇÃO 
 A relação entre forma e função 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RITA DE CASSIA FERNANDES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Itajaí 
2001 
 
 
CEFAC 
CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA 
MOTRICIDADE ORAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OCLUSÃO DENTÁRIA E MASTIGAÇÃO 
 A relação entre forma e função 
 
 
 
 
 
 
Monografia de conclusão do curso de 
 especialização em Motricidade Oral 
 Orientadora: Mirian Goldenberg
 
 
 
 
 
 
 
Rita de Cassia Fernandes 
 
 
 
 
 
 
Itajaí 
2001 
 
 
RESUMO 
 
 A relação entre oclusão dentária e mastigação é o foco central desta 
pesquisa. Já que o desequilíbrio na forma desestrutura a função e vice-versa, 
ortodontistas e fonoaudiólogos precisam trabalhar em conjunto com o objetivo 
maior de assegurar a permanência do tratamento aplicado. 
 Com o intuito de se realizar um paralelo entre a atuação desses 
profissionais, fez-se necessário detalhar vários aspectos referentes à anatomia e 
fisiologia mastigatórias e sobre a etiologia da má oclusão e sua classificação. A 
monografia mostra como é imprescindível o conhecimento anatomofisiológico de 
todo o sistema estomatognático (também para a terapia miofuncional), pois não 
cabe ao fonoaudiólogo conhecer apenas as partes moles, tão pouco aos dentistas 
ter conhecimento somente sobre as partes duras. 
 O estudo é perseverante ao demonstrar o quanto é importante a correta 
utilização da terminologia odontológica durante a comunicação oral e escrita. Para 
isso, estão expostos em todos os capítulos, vários termos e definições desta 
natureza que certamente auxiliarão na troca de informações. 
 No capítulo: tipo de oclusão e padrão mastigatório, o leitor terá acesso a 
grande parte do que já foi escrito a esse respeito, sendo que não existe nenhuma 
publicação exclusiva sobre tal assunto, apenas alguns trechos contidos em textos. 
 A pesquisa é encerrada com uma minuciosa terapêutica mastigatória, em 
que são descritas também uma avaliação miofuncional completa, como e quando 
iniciar a terapia (e seus limites), exames complementares (videofluoroscopia e 
eletromiografia) e encaminhamentos. Neste ponto os achados do estudo estão 
relacionados, dando um sentido especial a todos os capítulos antecedentes.
 
 
ABSTRACT 
 
 
The relation between dental occlusion and chew is the main focus of this 
research. Since the lack of equilibrium in the form disarranges the function and 
vice-versa, orthodontists and speech therapy need to work together with the 
biggest objective to ensure permanence of the applied treatment. 
 In order to make a parallel between the performance of these professionals, 
became necessary to detail some referring aspects to the chewing anatomy and 
physiology, and on the etiology of the bad occlusion and its sorting. The 
monograph shows as the anatomophysiologic knowledge of all the stomachtologic 
system is essential, also for the miofunctional therapy, therefore it isn’t right the 
speech therapy to know only the soft parts (muscles), neither the dentists to know 
only about the hard parts (structure). 
 The study is firm when demonstrating how much it is important the correct 
use of the odontologic terminology during the verbal communication and writing. 
For this reason, some terms and definitions of this nature that certainly will assist 
in the exchange of information are displayed in all the chapters. 
 In the chapter: type of occlusion and chew standard, the reader will have 
access to great part of what has been already written to this respect, granting that 
there isn’t any exclusive publication about such subject, only some stretches 
contained in texts. 
 The research is finished with a detailed therapeutical chew, where they are 
described also a full miofunctional evaluation, how and when to initiate the therapy 
(and its limits), examinations backing (videofluoroscopy and electromiogram) and 
 
 
the following procedures. At this point the findings of the study are related to one 
another, giving a special sense to all the antecedent chapters. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais, João 
Edison e Maria Fernandes. 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
Ao meu marido Régis Signor, por tanto amor, carinho, cumplicidade, 
incentivo e dedicação, sem o qual não seria possível a realização de qualquer 
trabalho. 
À jornalista e amiga Thaise Rodrigues que, gentilmente reviu a monografia. 
 À fonoaudióloga Patrícia Junqueira que, mesmo sem saber, orientou meu 
interesse ao estudo mais aprofundado da função mastigatória. 
 Ao fonoaudiólogo Francisco Pletsch pela disponibilidade e incentivo a 
turma dispensados. 
 Às colegas da turma de Motricidade Oral, por compartilharem seus 
conhecimentos e também pela boa convivência. 
 À Mirian Goldenberg, por orientar a pesquisa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução ----------------------------------------------------------------------------------------- 1 
 
 
Discussão Teórica ------------------------------------------------------------------------------- 3 
 
 
Anatomia e Fisiologia da Mastigação ------------------------------------------------------- 3 
 
 
Noções de Oclusão Dentária---------------------------------------------------------------- 21 
 
 
Classificação para a Má Oclusão Dentária ---------------------------------------------- 41 
 
 
Etiologia das Más Oclusões Dentárias---------------------------------------------------- 56 
 
 
Tipo de Oclusão e Padrão Mastigatório -------------------------------------------------- 63 
 
 
Considerações Terapêuticas ---------------------------------------------------------------- 69 
 
 
Considerações Finais ------------------------------------------------------------------------- 84 
 
 
Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------- 90 
 
 
 
 
 
 
 
 1 
Introdução: 
 
 
 A atuação fonoaudiológica vem se aperfeiçoando ultimamente. A profissão, 
que surgiu para preencher lacunas de outras profissões, está se fixando como 
ciência na área da saúde. Inúmeras pesquisas têm sido realizadas em todos os 
campos da fonoaudiologia, e a motricidade oral é uma das áreas que vem 
crescendo e se diversificando em ritmo bastante acelerado. Cada vez mais, os 
fonoaudiólogos têm buscado conhecimento técnico-científico das alterações 
miofuncionais. O que antes se resumia a uma atuação pouco fundamentada, 
agora possui bases sólidas, e consequentemente, as intervenções têm obtido 
bons resultados. 
 Dentre os estudos realizados em motricidade oral, a mastigação, uma das 
funçõesestomatognáticas, tem sido objeto de pesquisa de vários especialistas 
(ortodontistas, fisiologistas, médicos, fonoaudiólogos) e parece exercer fascínio. 
Talvez por ser a função mais importante do sistema estomatognático ou mais que 
isso, por envolver um dos maiores prazeres do ser humano: a satisfação em 
alimentar-se e a sensação agradável que a mastigação proporciona. Assim, o 
distúrbio desta função pode prejudicar um aspecto extremamente relevante da 
vida do indivíduo. E as alterações dentárias e oclusais são alguns dos fatores 
causadores deste problema. 
 O principal objetivo desta pesquisa teórica é verificar a relação entre as 
alterações oclusais e a mastigação. O estudo detém-se inicialmente em aspectos 
da fonoaudiologia e da odontologia em separado, para depois estabelecer uma 
relação entre eles. 
 
 2 
 São abordadas noções básicas de oclusão dentária, bem como as 
classificações para a má oclusão e sua etiologia. A fisiologia mastigatória está 
minuciosamente detalhada, para que a visualização entre ambas possa ser 
facilitada posteriormente. 
 A pesquisa destina-se especialmente a estudantes e fonoaudiólogos 
recém-formados, pois, com o escasso tempo das faculdades em cumprir o 
conteúdo a ser abordado, a exposição de vários aspectos, algumas vezes, 
passam desapercebidos. Só o estudo é capaz de suprir tais falhas acadêmicas. 
Além disso, o bom profissional é aquele que estuda e pesquisa sempre. 
 O trabalho procura mostrar como um correto diagnóstico reflete um bom 
desenvolvimento terapêutico. Para isso, é necessário um profundo conhecimento 
da anatomia e fisiologia do sistema estomatognático, sem o qual a avaliação e a 
terapia poderão cair em um imenso vazio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 3 
Discussão Teórica: 
 
 
Anatomia e Fisiologia da Mastigação 
 
 Quando se pensa em anatomia e fisiologia da mastigação, a evolução pela 
qual passou essa função não pode ser esquecida. Em épocas mais primitivas, o 
uso do sistema mastigatório era diferente do atual, pois, com os avanços 
tecnológicos, os alimentos apresentam-se muito mais amolecidos e, além disso, o 
homem de hoje não precisa utilizar seu aparelho mastigatório como instrumento 
de defesa ou ataque. A tendência é que esse processo evolutivo nunca cesse, 
levando-se em consideração que, cada vez mais, tem-se feito menos uso da 
mastigação. Segundo Bianchini (1998), essa evolução acarreta uma constante 
transformação anatomofisiológica, aumentando as chances de que adaptações 
ocorram em todo o sistema estomatognático. 
 Este sistema é composto por uma série de estruturas, tais como músculos, 
ossos, dentes, articulações, glândulas, mucosas, vasos e nervos. Estas exercem 
funções em comum, tendo como característica básica a participação da 
mandíbula (Douglas, 1998). 
 As estruturas do sistema estomatognático são divididas em passivas e 
ativas. Para o autor, as passivas ou estáticas estão representadas pelos arcos 
ósteo-dentários, maxila e mandíbula, relacionados pela articulação têmporo-
mandibular (ATM), além do osso hióide e outros ossos do crânio. As estruturas 
ativas ou dinâmicas estão representadas pela unidade neuromuscular, que 
proporciona mobilidade às partes estáticas. Os músculos são estriados 
 
 4 
esqueléticos e dividem-se em mastigatórios, supra e infra-hióideos, faciais, 
linguais e cervicais. 
 Segundo Molina (1995), o sistema neuromuscular, que representa a parte 
ativa estomatognática, é composto pelos proprioceptores do periodonto, ATM, 
ligamentos, mucosa, região perioral, cerebelo, córtex, mesencéfalo, nervos V, VII, 
IX, XI, e os músculos da respiração, fonação, postura, deglutição e da 
mastigação. Esse sistema é retroalimentado por informação reflexa em relação 
ao grau de pressão, tipo de contatos oclusais, quantidade de dentes que estão 
em contato e dimensão vertical. O fenômeno ocorre através de terminações 
nervosas que partem dos proprioceptores, especialmente periodontais e 
articulares. Após recebida a informação, circuitos reflexos saem dos 
proprioceptores pelo V par craniano, atingem sua porção sensitiva do 
mesencéfalo e o núcleo espinhal, realizam sinapse e, em seguida, pode ser 
iniciada uma resposta motora a partir do núcleo motor do V par craniano no 
cérebro médio. 
 O autor refere ainda que alguns circuitos neuromusculares atingem o 
tálamo e depois o córtex, para que sejam estabelecidos reflexos mais elaborados 
e obtidas respostas mais discriminadas. Posteriormente à análise e à 
discriminação da informação que veio da periferia, um circuito nervoso 
descendente pode ser iniciado em áreas mais altas do sistema nervoso (córtex), 
ou mais baixas (mesencéfalo, tálamo), para ser finalizado em regiões do sistema 
estomatognático, como músculos da cabeça, pescoço e mímica. 
 As funções estomatognáticas podem ser classificadas em clássicas e de 
adaptação. As funções clássicas são a mastigação, fonação, sucção, respiração e 
deglutição, cujas finalidades estão especificamente relacionadas com a 
 
 5 
alimentação ou a respiração. As funções de adaptação são respostas do 
organismo frente a estímulos recebidos, podendo ser citadas: o beijo, bocejo, 
mordida, sorriso, fácies (Douglas, 1998). 
 A mandíbula participa de maneira fundamental nas funções 
estomatognáticas clássicas, e a saúde da ATM é primordial para que haja um 
bom funcionamento do sistema estomatognático. Segundo o autor, a mandíbula é 
o único osso móvel do crânio, unindo-se ao osso temporal pela ATM. Esta é uma 
articulação dupla bilateral, que possui movimentos sincronizados entre as duas 
articulações. Seus componentes são a cavidade condilar (osso temporal), 
eminência articular do osso temporal, côndilo mandibular, disco articular, cápsula 
articular e ligamentos. Molina (1995) relata que esta articulação é uma das mais 
especializadas e diferenciadas do corpo, devido à realização de movimentos 
complexos e a sua íntima relação com as funções estomatognáticas. 
 Segundo Bianchini (1998), o disco articular fica entre as superfícies 
articulares, e tem como funções auxiliar o contato destas nos movimentos da 
mandíbula, controlando-os. O disco prende-se à porção posterior da cápsula por 
meio do tecido retrodiscal, medialmente se prende ao côndilo e, lateralmente, 
através de ligamentos. Os ligamentos possuem importantes receptores 
mecânicos e nociceptivos (dor), sendo eles o ligamento estilomandibular, 
esfenomandibular, e têmporo-mandibular. Estes atuam como limitadores de 
movimento. 
 De acordo com Molina (1995), a região central do disco articular e as 
demais superfícies funcionais da ATM não possuem vasos e nervos, justificando a 
capacidade destas regiões de resistir a pressões menores. As diversas regiões da 
ATM possuem capacidades diferentes de resistência a pressões. 
 
 6 
 A cápsula envolve toda a articulação e é composta por tecido conjuntivo 
denso. A articulação é sinovial, pois produz o líquido sinovial, que é nutriente e 
lubrificante. É revestida por fibrocartilagem, que tem grande capacidade de 
reparação, já que, devido ao funcionamento da ATM, ocorrem modificações em 
suas superfícies articulares (Bianchini, 1998). 
 Os movimentos da mandíbula são decorrentes do deslizamento do côndilo 
dentro da cavidade condilar. A movimentação dos côndilos varia de acordo com a 
conformação anatômica da ATM. Existem variados tipos de formato da 
articulação, que dão lugar às características funcionais. Assim, os animais que se 
alimentam predominantemente de capim possuem uma cavidade condilar ampla e 
mais plana, possibilitando deslizamento lateral do côndilo (translação lateral) e 
facilitando, portanto, a ingestão desse tipo de alimento.Os carnívoros a possuem 
profunda e estreita, resultando em movimento de rotação do côndilo, o que facilita 
o corte e separação da carne mastigada. Os roedores possuem a cavidade 
alongada e estreitada no sentido ântero-posterior, favorecendo o movimento 
nesse sentido (translação ântero-posterior). Os humanos combinam 
características de todas as articulações comentadas, pois a cavidade condilar é 
ampla ântero-posterior e lateralmente, e relativamente profunda, conferindo 
propriedades funcionais maiores. As características morfológicas e funcionais da 
ATM humana são definidas por volta dos 7 aos 10 anos de idade (Douglas, 1998). 
 O autor considera que a ATM apresenta dois movimentos principais: 
translação (deslocamento do côndilo ao longo da cavidade condilar, 
acompanhada pelo disco articular) e rotação (ocorre giro do côndilo em torno do 
seu próprio eixo). 
 
 7 
 É importante salientar que, quando existe uma desordem na ATM, o 
padrão mastigatório pode ser afetado. O lado de trabalho muscular durante a 
mastigação torna-se, principalmente, o lado da articulação mais prejudicada, pois 
os movimentos de rotação e translação do côndilo serão menos traumáticos que 
no lado de balanceio (Felício, 1994); (Molina, 1995). Okeson (1992) observa um 
quadro repetitivo na mastigação de pessoas com alteração na ATM. As mordidas 
são bem mais reduzidas, ocorrem mais vagarosamente e possuem um trajeto 
irregular. Parece existir uma relação entre esse trajeto repetido e o movimento 
problemático do côndilo, onde o distúrbio se situa. 
 Para poder entender o funcionamento do sistema estomatognático, torna-
se fundamental a definição básica dos componentes musculares deste complexo 
sistema. 
De acordo com Fehrenbach & Herring (1998), um músculo tem a 
capacidade de se encurtar sob o comando do sistema nervoso, determinando o 
movimento de ossos e estruturas moles. Os músculos apresentam duas 
extremidades inseridas a essas estruturas, que são representadas pelo ponto fixo 
(origem) e ponto móvel (inserção). A origem do músculo está inserida à estrutura 
que não se desloca durante o movimento, enquanto a inserção é a sua 
extremidade fixa à estrutura que se desloca durante o movimento. Geralmente, a 
inserção vai de encontro à origem quando ele se contrai, sendo este movimento 
denominado de ação muscular. Os músculos possuem inervação específica. 
Macedo (1998) refere que essas definições de origem e inserção musculares são 
meramente didáticas, pois, ao realizar uma dissecção dessas áreas, verifica-se 
que as fibras musculares não têm suas origens e inserções de maneira tão 
definida. 
 
 8 
 Serão citados os principais músculos integrantes do sistema 
estomatognático, com ênfase nos da mastigação. Estes compreendem os 
músculos mastigatórios (temporal, masséter, pterigóideo lateral, pterigóideo 
medial e ventre anterior do digástrico), os supra-hióideos, os infra-hióideos, o 
bucinador, os músculos da língua e a musculatura da mímica (Bianchini, 1998). 
Cabe ressaltar que os mastigatórios estão relacionados exclusivamente à 
realização dos movimentos mandibulares. 
 Os músculos da mastigação agem de forma sincrônica durante a 
realização dos movimentos mandibulares, sendo que alguns contraem-se 
enquanto outros relaxam para que sejam efetuados os movimentos. Dentre estes, 
destacam-se os levantadores e abaixadores da mandíbula. 
 Os músculos levantadores são o masséter, o temporal e o pterigóideo 
medial. O masséter é potente, curto e largo. Sua principal função é a de 
levantador da mandíbula, mas também pode contribuir no movimento de 
protrusão e lateralidade mandibular. É palpável devido a sua superficialidade. 
Apresenta dois feixes musculares principais, sendo um superficial e outro 
profundo, que comportam-se diferentemente. Quando no fechamento da 
mandíbula, por exemplo, o feixe superficial trabalha mais no início deste 
movimento, enquanto o outro fica encarregado do agarramento terminal. A 
inervação motora provém do nervo masseterino, ramo do V par craniano 
(trigêmio) (Macedo, 1998); (Douglas 1998, 1999). Segundo Fehrenbach & Herring 
(1998), o masséter pode hipertrofiar-se em pessoas que possuem hábitos de 
ranger ou cerrar os dentes. 
 O músculo temporal apresenta uma ampla área de origem na linha 
temporal dos ossos frontal e parietal, tendo uma única inserção na mandíbula. 
 
 9 
Possui três feixes: anterior, médio e posterior, que podem ser classificados, de 
acordo com a sua orientação, em vertical, oblíquo e horizontal (Macedo, 1998). 
Douglas (1999) refere que este músculo, além de exercer sua função de 
levantador, age também na abertura máxima da mandíbula, devido à contração 
de seus feixes anteriores, e na retração, pela contração dos posteriores, além de 
participar no deslocamento contralateral. O temporal é primordial na determinação 
do tônus muscular na posição postural da mandíbula. Sua inervação provém de 
ramos do trigêmio. Bianchini (1998) coloca a importância do temporal como 
auxiliar na estabilidade no movimento de fechamento da mandíbula. 
 O pterigóideo medial é um auxiliar do masséter, agindo em conjunto na 
protrusão e lateralidade da mandíbula com a boca fechada. Sua inervação 
provém do trigêmio (V par) (Douglas, 1999). 
 A musculatura depressora da mandíbula está representada pelo músculo 
pterigóideo lateral e pelos supra-hióideos (principalmente o ventre anterior do 
digástrico, gênio-hióideo e milo-hióideo) (Douglas, 1999). 
 O pterigóideo lateral é, para Macedo (1998), um músculo 
predominantemente abaixador da mandíbula, atuando também nos movimentos 
de propulsão e lateralidade. Possui dois feixes, superior e inferior, antagônicos 
funcionalmente. Bianchini (1998) relata que o feixe superior age 
predominantemente na estabilização do movimento de fechamento bucal. O 
inferior age na abertura mandibular ao tracionar o côndilo para frente, para baixo 
e para dentro. 
 Segundo a autora, a lateralização da mandíbula é conseguida através da 
contração do pterigóideo lateral do lado oposto ao movimento mandibular, 
auxiliado pelo pterigóideo medial e feixe anterior do temporal desse mesmo lado. 
 
 10 
Desse modo, ao lateralizar a mandíbula para o lado esquerdo, haverá contração 
dos músculos citados apenas do lado direito. A propulsão mandibular é 
conseguida através da ação dos pterigóideos laterais, mediais e feixes anteriores 
do temporal. 
 Os supra-hióideos estão situados acima do osso hióide. Estes músculos 
são classificados conforme sua situação, posterior ou anterior ao osso. Assim, o 
grupo anterior dos supra-hióideos inclui o ventre anterior do digástrico, o milo-
hióideo e o gênio-hióideo. Fazem parte do grupo posterior, o ventre posterior do 
digástrico e o músculo estilo-hióideo (Fehrenbach & Herring, 1998). 
 Para Douglas (1999), o ventre anterior do digástrico é basicamente 
abaixador, mas também está relacionado ao movimento de retropulsão da 
mandíbula. É importante salientar que, na abertura da boca, quem inicia o 
movimento é o pterigóideo lateral, seguido pelo digástrico. 
 O gênio-hióideo, além de retropropulsor da mandíbula, puxa o hióide para 
cima, reduzindo o assoalho da boca e facilitando a deglutição. O músculo milo-
hóideo também tem certa importância na deglutição (Douglas, 1999). 
 Os músculos supra e infra-hióideos, como ressalta Macedo (1998), têm 
importância na manutenção da postura cervical, na manutenção da 
permeabilidade das vias aéreas superiores e na fixação do osso hióide. 
Participam dos movimentos de abertura e fechamento mandibulares, na 
deglutição e fono-articulação. 
 Os infra-hióideos (situados abaixo do osso hióide) estão representados 
pelos músculos: omo-hióideo, esterno-hióideo, esterno-tireóideo etireo-hióideo. 
Esta musculatura, unida ao grupo posterior dos supra-hióideos, fixa o osso hióide 
para que os supra-hióideos (grupo anterior) possam desempenhar seu papel 
 
 11 
(elevação do hióide e da laringe na deglutição, depressão da mandíbula quando o 
hióide está fixo) (Fehrenbach & Herring, 1998). 
 No processo mastigatório, é de grande importância, como refere Bianchini 
(1998), a participação da língua, dos bucinadores e de alguns músculos da 
mímica facial no direcionamento da comida para a face oclusal dos dentes 
posteriores, determinando a eficácia do golpe mastigatório. 
 Os músculos linguais são divididos em extrínsecos e intrínsecos. A língua 
consiste em duas metades iguais, separadas por um septo, profundamente 
situado. Na superfície, este septo corresponde ao sulco mediano. A língua 
apresenta movimentos complexos, resultado da ação combinada de seus 
músculos (Fehrenbach & Herring, 1998). 
 Macedo (1998) relata a importância da língua como fundamental para todo 
o sistema estomatognático. Ela apoia-se no osso hióide, na mandíbula, no palato 
e na apófise estilóide através de sua musculatura extrínseca (estiloglosso, 
hioglosso, palatoglosso, condroglosso), podendo, desse modo, assumir variadas 
formas e realizar diversos movimentos. Os músculos extrínsecos têm a função de 
apoio na base para que a musculatura intrínseca (longitudinal superior, 
transverso, vertical, longitudinal inferior) possa deslocar-se. 
 Segundo Okeson (1992), a língua tem função preponderante para o 
paladar, além de distribuir o alimento na cavidade bucal e auxiliar na divisão deste 
em pequenas partículas. Após a deglutição, ajuda na limpeza oral retirando 
resíduos alimentares que ficam aderidos nessa região. 
 O bucinador forma a parede lateral da cavidade bucal. Para Fehrenbach & 
Herring (1998), o bucinador puxa lateral e posteriormente a comissura labial, 
permitindo que a bochecha seja comprimida contra os dentes, como ocorre 
 
 12 
durante a mastigação. Bianchini (1998) relata que este músculo é preponderante 
para o processo mastigatório, pois ele é responsável pela retirada de alimento da 
região de vestíbulo bucal, posteriorizando-o na face oclusal dos dentes. A 
incompetência do bucinador permite a sobra de alimento na região do vestíbulo 
durante a mastigação. 
 Dentre a musculatura da mímica, destacam-se, como músculos 
proeminentes da função mastigatória, o já citado bucinador e o orbicular do lábios. 
Macedo (1998) descreve que as fibras do músculo orbicular da boca envolvem 
toda a superfície dos lábios, oferecendo-lhes forma. Essas fibras, tanto do lábio 
superior quanto do inferior, se encontram nas comissuras labiais, entrelaçando-se 
com as dos bucinadores. De acordo com Fehrenbach & Herring (1998), o 
orbicular fecha a boca e, ao se contrair fortemente, comprime os lábios. 
 O bebê, ao nascer, apresenta certas funções estomatognáticas natas, 
como a sucção, deglutição primária e respiração. A mastigação aparece mais 
tarde, de forma adquirida, e precisa ser aprendida. Para isso, são necessários 
treinamento, formação de novas associações sinápticas, participação do córtex 
cerebral, núcleos da base e cerebelo. Inicialmente, a mastigação é caracterizada 
como uma atividade instavél, mas, como a associação de estímulos é bastante 
frequente, esta função logo se estabiliza, de tal modo que se realiza de forma 
automática subconsciente, sem um envolvimento maior do córtex cerebral 
(Douglas, 1999). À medida que a influência cortical vai sendo reduzida, a 
mastigação passa de um fase aprendida para uma fase reflexa, onde os músculos 
e ATMs são bastante adaptativos. Nesta fase, é provável que os movimentos e 
posições mandibulares dependam mais dos proprioceptores articulares e 
periodontais do que dos dentes (Molina, 1995). 
 
 13 
 Felício (1994) considera a possibilidade da mastigação desenvolver-se a 
partir da sucção. É importante que a criança receba manipulações na cavidade 
oral, como a introdução de objetos e alimentos de diversas texturas na boca, para 
que haja uma “preparação mastigatória”. Segundo a autora, a mastigação infantil 
é caracterizada por movimentos mandibulares em charneira, passando a 
apresentar movimentos de rotação por volta dos 3 anos de idade. 
 Os primeiros movimentos mastigatórios são descoordenados, como ocorre 
com a aprendizagem de qualquer fenômeno motor. Primeiro se fixam os mais 
simples, para depois serem realizados os mais complexos. Com o 
amadurecimento do sistema estomatognático e o desenvolvimento da dentição 
total, são estabelecidos padrões de reflexos aprendidos guiados. Ocorre também 
a informação dos proprioceptores (periodontais, articulares, linguais, periorais e 
os receptores de tato e pressão da mucosa oral) ao sistema nervoso central sobre 
o que está na boca, direcionando a força, a velocidade e o aprendizado da 
mastigação. Em seguida, surgem modificações menores, que aperfeiçoam este 
processo. (Douglas, 1999); (Molina, 1995). 
 Conforme Douglas (1998, 1999), a mastigação é a função de maior 
relevância do sistema estomatognático, sendo considerada a fase inicial do 
processo digestivo que começa na boca. Para Felício (1994), esta função está 
relacionada ao próprio desenvolvimento do sistema, sendo um estímulo para sua 
continuidade e para a preservação da saúde dos músculos, articulações e 
periodonto na idade adulta. Junqueira (1999) relata que, se o bebê precisa sugar 
para desenvolver suas estruturas orais, posteriormente ele necessitará mastigar 
para que haja prosseguimento neste desenvolvimento e amadurecimento. 
 
 14 
O conceito de mastigação refere-se à degradação dos alimentos, 
transformando-os em partículas cada vez menores, devido à moagem e à 
trituração. O bolo alimentar é formado pela união das micropartículas alimentares 
através da ação da saliva (Douglas, 1999). No entender de Okeson (1992), é o 
ato de mastigar alimentos, onde a quebra deste em pequenos pedaços tem por 
finalidade facilitar a deglutição. O autor discorre sobre a sensação de prazer que 
esta função proporciona, a qual envolve sentidos como paladar, tato e olfato. 
Quando o estômago está saciado, há um estímulo que bloqueia a sensação 
agradável de alimentar-se. 
 A mastigação representa um processo complexo e dinâmico, onde 
participam aferências nervosas que exercem controle sincrônico sobre a 
musculatura mastigatória, facial e lingual, nas fases de abertura da boca, 
fechamento da boca e oclusão. A mandíbula descreve um ciclo regulado por um 
hipotético centro mastigatório de atividade rítmica, controlado por estímulos de 
origem periférica, a saber: periodonto, mucosa bucal, proprioceptores musculares 
e articulares, e sob a influência reguladora dos centros superiores, sistemas 
piramidal e extrapiramidal (Douglas, 1999). 
 Okeson (1992) explica que o movimento completo da mastigação pode ser 
dividido em uma fase de abertura e uma fase de fechamento da mandíbula. Na 
fase de abertura, a mandíbula cai em torno de 16 a 18 mm, em seguida desloca-
se lateralmente de 5 a 6 mm da linha média, quando o movimento de fechamento 
é iniciado. No início da fase de fechamento, o alimento é amassado e o 
movimento lateral da mandíbula é reduzido para 3 a 4 mm. Conforme continua o 
fechamento, a comida é retida entre os dentes e passa por um processo de 
trituração. Neste ponto, a mandíbula volta para a posição de intercuspidação. Nas 
 
 15 
etapas finais, a trituração do bolo alimentar fica restrito aos dentes de trás e 
pouco movimento anterior ocorre. 
 Deve-se frisar que o movimento de lateralidade da mandíbula varia de 
acordo com o estágio da mastigação e com a consistência alimentar. Inicialmente, 
quando a comida é introduzida nacavidade oral, o deslocamento lateral é maior e 
vai diminuindo à medida que o alimento vai sendo mastigado. Com relação à 
consistência, quanto mais duro for o alimento, maior terá de ser o deslocamento 
lateral. 
 No ciclo mastigatório (sequência de ações mecânicas que resultam na 
desintegração do alimento) são descritas três etapas, a saber: incisão, trituração e 
pulverização (Douglas, 1999). 
 O autor descreve que a incisão ocorre quando a mandíbula se eleva em 
protrusão e segura o alimento entre as bordas incisais, ficando os incisivos em 
posição de topo. Intensifica-se a contração da musculatura elevadora, 
ocasionando o corte do alimento. A mandíbula retroposiciona-se. Os bucinadores 
e a língua posteriorizam o alimento para a face oclusal dos dentes pré-molares e 
molares. Ocorre bastante secreção salivar. Esta etapa equivale de 5 a 10% do 
tempo total do ciclo mastigatório. 
 A etapa seguinte é a da trituração, onde o alimento é quebrado em 
pequenas partículas por degradação mecânica. Ocorre principalmente nos pré-
molares, pois estes dentes possuem uma maior pressão intercuspideana, 
necessária para triturar partículas maiores, que oferecem mais resistência. Esta 
fase é a mais duradoura do ciclo, levando de 65 a 70% do tempo total (Douglas, 
1999). 
 
 16 
 Finalizando, o autor refere que o alimento passa por um processo de 
moagem, onde as pequenas partículas são transformadas em elementos bastante 
reduzidos, perdendo totalmente a resistência inicial. Esta etapa é chamada de 
pulverização e toma 25-30% do tempo do ciclo. Ocorre predominantemente nos 
molares. As duas etapas finais não podem ser separadas, já que a utilização dos 
dentes pré-molares e molares se alternam. 
Durante o ciclo, especialmente nas duas primeiras etapas, ocorre grande 
secreção salivar, que ajuda na mastigação e, consequentemente, na formação do 
bolo alimentar, além de conferir ação bactericida aos alimentos que são 
colocados na boca. Nestas fases, ocorre um forte trabalho muscular, relacionado 
principalmente com os movimentos de abertura e fechamento bucal. Vale 
ressaltar que, quando a boca abre, ocorre a contração isotônica dos músculos 
abaixadores da mandíbula e o relaxamento dos levantadores. Quando a boca 
fecha, ocorre o contrário: há contração isotônica dos levantadores e relaxamento 
da musculatura abaixadora da mandíbula (Douglas, 1999). 
 Bianchini (1998) refere que, de acordo com o tipo de alimento que está 
sendo mastigado, vão ocorrendo deglutições reflexas à medida que parte do 
alimento já pulverizado vai sendo posteriorizado e toca os pilares anteriores da 
faringe, desencadeando o reflexo da deglutição, enquanto o restante do alimento 
ainda está sendo preparado . Todas as etapas do ciclo mastigatório dependem da 
saúde dos dentes e da ATM, da atuação neuromuscular e do comando neural. Os 
movimentos realizados durante a mastigação são possíveis graças à ATM. Estes 
estão relacionados a abertura, fechamento, lateralidade, protrusão, retrusão e 
movimentos rotatórios. 
 
 17 
 O ato mastigatório representa, conforme Douglas (1999), estágios 
sequentes integrantes do ciclo da mastigação. Possui três fases: fase de abertura 
da boca, fase de fechamento da boca (estas duas já comentadas) e fase oclusal. 
Nesta última, há contato e intercuspidação dos dentes em oclusão cêntrica, 
criando forças interoclusais pela contração isométrica da musculatura elevadora 
da mandíbula. É fundamental para a mastigação, pois origina a pressão 
interoclusal, quebrando o alimento entre os dentes. Esta fase é denominada 
também golpe mastigatório. 
 O início do ato mastigatório é, de acordo com Felício (1994), dependente 
da vontade do indivíduo. O impulso parte dos centros nervosos superiores, por 
meio do tracto córtico bulbar, formando um ciclo automático que possibilita a 
atuação consciente, ou seja, poderá ser interrompido ou modificado a qualquer 
momento. Okeson (1992) salienta que a mastigação é uma atividade automática e 
praticamente involuntária, mas, se for preciso, ela pode ter controle volitivo. 
 A função mastigatória é importante para o crescimento dento-facial, pois 
age como estímulo para o nascimento dos dentes e aumento das arcadas 
dentárias. Uma mastigação adequada estimula alternadamente as várias 
estruturas do sistema estomatognático (Bianchini, 1998). 
 Para a mastigação ser considerada equilibrada, a distribuição do alimento 
na cavidade bucal deve ser ora do lado direito, ora do esquerdo. Na bilateral 
alternada, deve existir também uniformidade das forças nos tecidos de suporte 
dentais, estabilizando o periodonto, harmonizando a oclusão e tornando a 
atividade muscular sincrônica. Esse padrão mastigatório é o ideal e, geralmente, 
ocorre quando existe integridade anátomo-funcional dos componentes do sistema 
estomatognático (Douglas, 1999). 
 
 18 
Felício (1994) explica que a mastigação deve ser bilateral alternada 
porque, no lado de balanceio, a ATM, juntamente com movimentos de 
lateralidade, estimula o crescimento da hemi-mandíbula desse lado e, no lado 
oposto (lado de trabalho muscular), será estimulado o crescimento da hemi-
maxila, devido à ação da força mastigatória neste lado. Assim sendo, em caso de 
mastigação unilateral esquerda, por exemplo, haverá um desenvolvimento 
póstero-anterior da mandíbula do lado direito e um desenvolvimento para fora e 
para frente da maxila do lado esquerdo. Jabur (1998) relata que pessoas com 
mastigação unilateral de longa duração podem ter um crescimento assimétrico da 
face. 
 Um estudo citado por Douglas (1999) relata que, em situação de 
normalidade, apenas 10% das pessoas possuem, como padrão mastigatório, o 
bilateral simultâneo (mastigam dos dois lados ao mesmo tempo), 15% possuem 
uma mastigação exclusivamente unilateral (direita ou esquerda), e o restante, 
representados por 75%, possuem a mastigação bilateral alternada (adequada). 
 Segundo Okeson (1992), apesar de a maioria da população, em condições 
normais, possuir o padrão considerado correto (bilateral alternado), 78% dessas 
pessoas tem um lado de preferência, onde a mastigação ocorre mais vezes. O 
lado preferencial é, em grande parte dos casos, o que tem maior número de 
dentes se tocando no deslize lateral. Entretanto, há controvérsias em relação aos 
autores, no que diz respeito ao contato de dentes durante a mastigação. Alguns 
estudos sugerem que os dentes, na verdade, não se contatam durante o ato 
mastigatório e que o simples toque dental seria um dos mecanismos 
desencadeadores do reflexo de deglutição. O autor acredita no contato dental, 
 
 19 
salientando que, à medida que o alimento vai sendo triturado, os dentes passam a 
encostar-se e, um pouco antes da deglutição, o toque ocorre a cada mordida. 
 Segundo Douglas (1999), a mastigação unilateral pode trazer vários 
malefícios, pois são estimuladas apenas as estruturas no lado de trabalho (onde o 
alimento está sendo mastigado). Isso faz com que, no lado inativo, não haja o 
desgaste fisiológico das cúspides dentárias, possibilitando o aparecimento de 
interferências oclusais prejudiciais e da placa bacteriana. As causas mais comuns 
desta alteração são: problemas na ATM, ausência de dentes, doenças 
periodontais, cáries, interferências oclusais, mordida cruzada posterior e contatos 
prematuros. Felício (1994) considera que o consumo de alimentos secos e mais 
consistentes ajudam no desgaste natural da dentição, evitando que alteração 
oclusal por falta de uso seja a causa de mastigação unilateral. 
 De acordo com Planas (1994), em sua Lei sobre a mínima dimensão 
vertical, partindo de uma posição mandibular em oclusão para o movimento de 
deslizamento durante a mastigação, se o aumento da dimensão verticalfor o 
mesmo para lado direito e o esquerdo, pode-se assegurar que o indivíduo possui 
uma mastigação bilateral alternada. Se há aumento da dimensão vertical em um 
dos lados apenas, a mastigação ocorrerá no lado onde o aumento for menor 
(mastigação unilateral). 
 Jabur (1998) tem observado que indivíduos que possuem mordida cruzada 
posterior unilateral têm preferência mastigatória no lado do cruzamento, devido à 
dimensão vertical diminuída neste lado. As forças geradas durante a mastigação 
unilateral são muito mais fortes no lado de trabalho. É comum encontrar, nestes 
casos, o masséter mais forte e encurtado, enquanto que, no lado de balanceio, 
 
 20 
esse músculo torna-se mais fraco e estirado pela falta de uso. Tal situação pode 
ocasionar assimetria facial e desordens na ATM. 
 A mastigação unilateral pode funcionar como um mecanismo de adaptação 
para que haja um mínimo de trauma para o periodonto, dentes e articulações 
(Molina, 1995). 
 Douglas (1999) acredita que, quando se mastiga de um lado só, a 
mandíbula desce seguindo o sentido do lado passivo. Após isso, a mandíbula 
cruza a linha média para o lado de trabalho, elevando-se novamente na fase do 
fechamento, até atingir a intercuspidação máxima. 
 A eficiência mastigatória é analisada de acordo com o autor, 
considerando-se o grau de trituração e moagem ao qual são submetidos os 
alimentos, após um determinado número de golpes mastigatórios. É a razão entre 
o trabalho mecânico útil e a energia gasta para realizá-lo (verificada através do 
consumo de oxigênio). Esta medição é um tanto complexa, mas costuma ser 
realizada pedindo-se ao indivíduo que mastigue determinada quantidade de 
alimento durante, por exemplo, vinte vezes (20 golpes mastigatórios), sem engolir 
nada. A seguir, o conteúdo da boca deve ser cuspido para ser analisado através 
de sua passagem por uma peneira especial, que retém as partículas maiores. 
Assim, o rendimento mastigatório é verificado por meio de porcentagem, sendo 
considerado como eficiente um rendimento igual ou superior a 78%. 
 Os indivíduos com boa eficiência mastigatória reduzem os alimentos a 
partículas finas e pequenas, antes que seja desencadeado o reflexo da 
deglutição. O limiar de deglutição é referente ao grau de moagem das partículas 
alimentares até que atinjam o ponto certo para que o bolo alimentar possa ser 
 
 21 
engolido. Os indivíduos com mastigação ineficiente podem deglutir partículas 
maiores prematuramente (Douglas, 1999). 
 Para Barbosa (1997), as pessoas com má oclusão comum não possuem 
alteração na eficiência mastigatória da forma que se supõe. Esta é a principal 
razão pelo qual os ortodontistas não realizam testes de mastigação na rotina 
clínica. Proffit e Ackerman (1996) salientam que os ortodontistas dão pouca 
atenção à mastigação, acreditando que, como a consistência da alimentação 
atual é muito amolecida, o efeito mastigatório torna-se praticamente irrelevante. 
Segundo os autores, aproximadamente 25% das pessoas com alteração dento-
facial relatam dificuldades para comer. E, como não existem testes eficientes para 
avaliar o aspecto mastigatório, fica difícil verificar o grau de dificuldade que o 
paciente possui. Mas, se a função está diminuída, é razoável acreditar que a 
terapêutica ortodôntica possa melhorá-la. 
 
 
 
Noções de Oclusão Dentária 
 
 Para iniciar a discussão sobre a oclusão dental, faz-se necessário uma 
breve definição em relação ao órgão dentário. Segundo Kohler (1992), os dentes 
correspondem a uma massa dura de coloração esbranquiçada e tecido 
calcificado, situados na cavidade bucal e dispostos em fileiras sobre os maxilares. 
 A erupção dentária é um fenômeno resultante de diversas causas, fazendo 
com que haja a migração do dente do interior dos maxilares para a cavidade 
bucal. É o movimento em direção ao plano oclusal, quando ele ainda não está 
 
 22 
completamente formado (a coroa e parte da raiz já se encontram formadas antes 
de seu aparecimento na cavidade bucal). Paralelamente ao surgimento do dente 
até seu posicionamento definitivo na arcada, edifica-se a raiz, configura-se a loja 
alveolar para recebê-la, bem como se organiza o ligamento alveolodental 
(Ferreira,1998). 
 As modificações ocorridas nos dentes, desde a sua formação até a 
erupção e oclusão nas arcadas, estão relacionadas, de acordo com o autor, à 
edificação e ao crescimento da face. O órgão do esmalte tem como função o 
modelamento da coroa e da raiz, e a produção de esmalte (função 
amelogenética), restrita à coroa. 
 Os dentes possuem funções de relevância na mastigação, uma vez que 
preparam os alimentos para serem deglutidos, e na fonação, pois a pronúncia dos 
fonemas dentais, requerem o apoio da língua ou do lábio na superfície da arcada 
dentária (Kohler,1992). 
 Segundo o autor, os dentes ficam fixados nos alvéolos pelo ligamento 
periodontal e recebem nomes específicos de acordo com a função que exercem, 
a situação, a forma da coroa e o número de raízes. Sendo assim encontram-se os 
incisivos, caninos, pré-molares e molares. Os incisivos têm a coroa com forma 
cuneiforme e sua função é de cortar os alimentos. Os caninos rasgam o alimento, 
ou seja, fazem a dilaceração graças a sua forma de lança (lanceolada). Os pré-
molares participam da perfuração e iniciam a função dos molares que é a de 
trituração. 
 Os dentes são compostos pelos seguintes tecidos: esmalte (é o tecido mais 
duro do corpo, porém é frágil, pois possui uma taxa muito alta de sais minerais), 
dentina (forma o corpo do dente, a coroa e a raiz, possui um teor de dureza e 
 
 23 
elasticidade semelhante ao osso), cemento (recobre a raiz dentária; pode ser 
reabsorvido quando ocorrem alterações no ligamento periodontal) e polpa (ocupa 
toda a cavidade central e é constituída por tecido conjuntivo, no qual passam 
vasos sanguíneos, linfáticos e inervação dos dentes) (Kohler,1992). 
 De acordo com Douglas (1999), são ainda funções do cemento: 
providenciar o ponto de ancoragem das fibras do periodonto e manter controle 
sobre a largura e espaço do ligamento periodontal. Quanto à polpa, suas funções 
são a de nutrir-se e nutrir a dentina, formação da dentina secundária, transmissão 
ao córtex de impulsos sensoriais de pressão e dor (sensitiva), e função defensiva, 
através da qual pode proteger e reparar sua integridade tissular. Para Molina 
(1995), o periodonto é uma unidade biológica e funcionalmente bem definida, 
possuindo adaptação para aguentar e se acomodar às pressões mastigatórias. O 
termo ligamento periodontal não é histologicamente adequado, sendo mais 
sensato ser referido como membrana periodontal, já que os constituintes desta 
não são tão densos e longos para constituírem um ligamento. 
 Na coroa existem diversas faces (lados dos dentes), que são a face oclusal 
(quando os dentes estão em oclusão cêntrica, as faces oclusais estão em 
contato), face mesial (é a face lateral do dente que está mais próxima da linha 
mediana), face distal (está mais afastada da linha mediana), face vestibular (está 
voltada para o vestíbulo bucal), face lingual (oposta à face vestibular, voltada para 
o interior da cavidade bucal) e face cervical (oposta à face oclusal, podendo ser 
representada por um plano de secção que passa rente ao colo do dente) Kohler 
(1992). 
 Durante a fase de crescimento, as medidas dos diâmetros dos dentes, as 
dimensões dos arcos dentários e da mandíbula e maxila são modificadas de 
 
 24 
diferentes modos. Desta forma, o diâmetro dos dentes permanece o mesmo, mas 
a circunferência dos arcos diminui, enquanto o comprimento do osso da 
mandíbula e maxila aumenta. Dentre as medidas relacionadas às dimensões do 
arco, são consideradas a largura, a profundidadee a circunferência (perímetro do 
arco). A última é a mais importante, e sua medida é realizada a partir da 
superfície distal do segundo molar decíduo ao redor do contorno do arco sobre os 
pontos de contato e bordas incisais, em uma curva suave à superfície distal do 
segundo molar decíduo do outro arco (Burdi & Moyers, 1991). 
 Durante a vida, existem três fases de dentição, que são a decídua, a mista 
e a última fase permanente. No entender de Feres (1992), os dentes decíduos 
começam a erupcionar por volta dos seis meses de idade e a dentição estará 
completa quando existirem vinte dentes na boca, sendo dez na arcada superior e 
dez na inferior. Nesta fase, não existem os pré molares. São, portanto, quatro 
incisivos, sendo dois centrais e dois laterais, dois caninos e quatro molares em 
cada arco dentário. Já a definitiva é composta por trinta e dois dentes, dezesseis 
superiores e dezesseis inferiores (quatro incisivos, dois caninos, quatro pré-
molares e seis molares em cada arcada dentária). A fase mista corresponde, de 
acordo com Burdi & Moyers (1991), ao período em que existem dentes decíduos 
e permanentes ao mesmo tempo na cavidade bucal. 
 Os autores salientam que, ao nascimento, os processos alveolares estão 
cobertos pelos abaulamentos gengivais, que logo se segmentam para revelar os 
locais onde os dentes deverão desenvolver-se. Quando esses abaulamentos 
estão em contato, o arco inferior é posterior ao superior, mas essa diferença vai 
sendo reduzida até os 21 meses . 
 
 25 
 A erupção da dentadura decídua ocorre em sequência, seguindo a ordem 
relatada por Kohler (1992): incisivos centrais inferiores, incisivos centrais 
superiores, incisivos laterais superiores, incisivos laterais inferiores, primeiros 
molares superiores e inferiores, caninos superiores e inferiores, segundos 
molares superiores e inferiores. Conforme aparecem os dentes, a musculatura 
aprende a realizar os movimentos oclusais funcionais necessários. 
Segundo o autor, podem existir diastemas generalizados entre os dentes 
decíduos anteriores, sendo que os espaços mais amplos denominados primatas, 
geralmente, ocorrem entre o canino e o incisivo lateral na arcada superior e entre 
o canino e o primeiro molar, na inferior. Apesar de grande parte dos autores 
considerar estes diastemas como consequências de crescimento dos maxilares 
para a obtenção de mais espaço para acomodação dos dentes permanentes, 
estudos recentes como o de Moyers (1991), não aceitam tal afirmativa. Através de 
uma série de medidas do perímetro do arco decíduo, percebeu-se que há pouca 
mudança na dimensão deste perímetro até a época de aparição dos incisivos. 
O plano terminal (porção posterior final) na dentição decídua é, segundo 
Ferreira (1998), Kohler (1992) e Moyers (1991), do tipo reto, tendo em vista que 
os molares inferiores são maiores (distância entre a face mesial e a distal) que os 
superiores. Quando a face distal dos segundos molares não termina em um 
mesmo plano vertical, existirá um degrau que pode ser, fora dos padrões de 
normalidade, do tipo mesial ou distal. Isto deve-se a alguns fatores como hábitos 
inadequados de sucção, processos cariosos entre dois dentes (interproximais) e 
desequilíbrios no padrão esqueletal. A importância do plano terminal deve-se, no 
entender dos autores, ao posicionamento do primeiro molar permanente, 
 
 26 
determinando que este dente, ao erupcionar, tome contato com uma relação topo- 
a-topo. 
O correto contato entre os primeiros molares superiores (chave de oclusão) 
só acontecerá, em razão do deslizamento dos planos cuspídeos, depois da 
esfoliação dos segundos molares decíduos. Como a dimensão mesiodistal dos 
molares decíduos é maior que a dos correspondentes permanentes (pré – 
molares), na queda daqueles permanece um espaço, denominado espaço livre de 
Nance. Este faz com que os molares tenham uma boa acomodação no arco 
dentário. Isso ocorre, pois a migração mesial do primeiro molar inferior 
permanente (1,7mm) é maior que a do primeiro molar superior (0,9mm) ( Ferreira, 
1998). 
O autor explica que, na dentição decídua, também existe uma chave de 
oclusão que é estabelecida entre os segundos molares. Estes dentes são 
morfologicamente bastante parecidos com os primeiros molares permanentes. 
Portanto, na oclusão central dos decíduos, a cúspide mésio-vestibular do 
segundo molar superior oclui com o sulco vestibular do segundo molar decíduo 
inferior, e a cúspide mesiolingual do segundo molar superior oclui na fóssula do 
seu homólogo inferior. O estudo das relações oclusais de cada dente decíduo 
permite referir que, de um modo geral, estes dentes possuem uma inclinação 
axial bem reduzida, quase vertical, tanto no sentido mesiodistal como no 
vestibulolingual . 
Na época compreendida entre a erupção dos incisivos inferiores e a dos 
molares decíduos, os proprioceptores, o núcleo mesencefálico do V par craniano, 
a formação reticular e o córtex estão frequentemente criando novos circuitos de 
informação para que a posição da mandíbula, dos dentes e da ATM esteja 
 
 27 
adequadamente adaptada. A relação cêntrica é instável, mas pode ser 
reproduzida, bem como as posições assumidas pela mandíbula. Estas posições 
mudam constantemente devido ao crescimento ântero-posterior e lateral, sendo 
que posições adaptativas podem ser estabelecidas em seguida à erupção dos 
caninos. Em consequência, pode ser encontrada interferência oclusal 
ocasionando mordidas cruzadas uni ou bilaterais, unida a uma alteração da 
função muscular (Molina, 1995). 
Os dentes que mais apresentam interferências oclusais na dentição 
decídua são os caninos. O autor refere que estes dentes comumente conduzem a 
um deslizamento mandibular lateral e anterior. Se, unido a esse fator, existir 
pouco “overjet” (sobressaliência) e pouco “overbite” (sobremordida) poderá ser 
estimulado um padrão classe III desfavorável. 
Quanto à ausência congênita de dentes decíduos, verifica-se, de acordo 
com Burdi & Moyers (1991), que menos de 1% de crianças apresentam este tipo 
de problema. As ausências mais comuns são de incisivos laterais superiores, 
incisivos centrais superiores e primeiro molar, nesta ordem. 
 O término da dentição decídua é referida por Kohler (1992) quando os 
segundos molares entram em oclusão, aproximadamente vinte e quatro a trinta 
meses após o nascimento da criança. Nesta época, os proprioceptores 
periodontais estão em constante mudança de circuitos neuromusculares, para 
que sejam estabelecidos movimentos e posições mandibulares com mais 
estabilidade. Isso ocorre, segundo Molina (1995), seguindo-se o princípio 
neuromuscular de realizar a função da maneira mais estável possível com o 
menor gasto energético. Os molares possuem uma ampla área de contato em 
vista de sua função de trituração dos alimentos. As arcadas dentárias 
 
 28 
apresentam-se, nesta fase, em formato ovóide ou semi-circular, podendo ou não 
haver diastemas entre os dentes (Kohler, 1992). 
 A dentição decídua normal permite ao profissional de odontologia maior 
segurança em relação a um adequado desenvolvimento da permanente. Para 
Burdi & Moyers (1991), devem ser observados alguns sinais na dentição decídua, 
para que seja considerado um padrão de normalidade: espaços primatas, dentes 
anteriores separados, sobremordida e sobressaliência pouco profundas, plano 
terminal reto, relação canina e molar em classe I, inclinação quase vertical dos 
dentes anteriores e arco de formato ovóide. 
O início da fase da dentição mista ocorre, como referem os autores, com a 
erupção dos primeiros molares permanentes, sendo estes dentes considerados 
fundamentais para o estabelecimento de uma oclusão definitiva dentro da 
normalidade.Os dentes permanentes, então, são classificados em duas 
categorias: sucessores (substituem os decíduos que existiam na arcada, sendo 
eles os incisivos, caninos e pré-molares) e os adicionais (erupcionam além dos 
segundos molares decíduos; são o primeiro, segundo e terceiro molares). Existem 
dois aspectos fundamentais neste período do ponto de vista clínico, que são a 
utilização do perímetro do arco e as modificações na adaptação de uma fase para 
outra. Este período de transição da dentição torna-se ideal para grande parte das 
intervênções ortodônticas, já que o processo alveolar é uma das áreas de 
adaptação mais ativas do crescimento ósseo nesta época. 
Existem três aplicações para o perímetro do arco: alinhamento dos 
incisivos permanentes, pois eles nascem com certo apinhamento; espaço para os 
caninos e pré-molares; e ajuste de oclusão molar (os primeiros molares 
permanentes que a princípio nascem topo-a-topo têm que se transformar numa 
 
 29 
relação classe I, para que possa ser estabelecida uma oclusão normal). O 
primeiro molar permanente normalmente atinge uma relação classe I por alguns 
fatores: um deslocamento mesial tardio, após a queda do segundo molar decíduo; 
crescimento maior da mandíbula para frente do que da maxila; ou a união dos 
dois aspectos. A importância desse fato pode ser explicada através de um 
exemplo: se uma criança apresenta um plano terminal reto na dentição decídua, 
uma leve classe II esquelética facial e um espaço do perímetro do arco 
insuficiente para que haja o deslocamento mesial tardio dos primeiros molares 
permanentes, existirá alta possibilidade de a oclusão tornar-se do tipo classe II, 
ao final da dentição mista. Por isso existe grande vantagem na obtenção de uma 
relação molar classe I antes da queda dos segundos molares decíduos, pois 
poderá ser utilizado todo o perímetro do arco para alinhamento dos dentes e 
nenhum dependerá dos ajustes molares (Burdi & Moyers, 1991). 
Bianchini (1998) ressalta que, na fase mista, geralmente ocorre certa 
instabilidade das funções estomatognáticas, pois, em decorrência das perdas 
dentárias, que deixam espaços livres, pode acontecer um desequilíbrio na 
mastigação bilateral. Além disso, é bastante comum a língua ser colocada nos 
espaços desdentados gerando certa pressão lingual. 
Durante esta fase de transição de uma dentição para outra, ocorrem várias 
modificações nos maxilares, já que, de 20 dentes da primeira dentição, 
aparecerão 32 definitivos. Segundo Ferreira (1998), o aumento da arcada se faz, 
principalmente, pelo crescimento ósseo da região distal dos segundos molares 
decíduos. Kohler (1992) verifica que, nesta fase, existem grandes chances de se 
instalar situações anômalas no complexo dento-ósseo-músculo-esqueletal, como 
consequência de discrepâncias de posicionamento. Estas podem ocorrer em 
 
 30 
relação aos dentes e parte óssea, às bases ósseas entre si, à ação muscular 
como matriz funcional determinante do crescimento ósseo, à ação de hábitos 
nocivos e ao desequilíbrio de funções de respiração, deglutição e fonação. 
Verificam-se, na fase mista, grandes modificações na arquitetura do dente 
e seu alvéolo, com a reabsorção das paredes do osso, do ligamento alvéolo 
dental e da raiz do decíduo. A formação da raiz recebe o nome de rizogênese e a 
reabsorção radícula de rizólize (Ferreira, 1998). 
A sobremordida (trespasse vertical dos incisivos) e a sobressaliência 
(trespasse horizontal dos incisivos) sofrem importantes mudanças no decorrer das 
dentições decídua e mista. Para Burdi & Moyers (1991), a sobremordida diminui 
um pouco e a sobressaliência fica quase nula na dentição decídua, enquanto que, 
no início da fase mista até o término da dentição definitiva, existe uma variação, 
onde a média de trespasse vertical aumenta ligeiramente e depois diminui. A 
sobremordida tem relação com alguns números de dimensões faciais verticais, 
como a altura do ramo mandibular, levando-se em conta que a sobressaliência 
geralmente é um reflexo da relação esquelética ântero-posterior, e portanto é 
sensível à disfunção da musculatura labial e lingual. 
Com a queda do último dente decíduo, encerra-se o período da dentição 
mista e inicia-se a fase da dentição permanente, que, como supõe Kohler (1992), 
acontece por volta dos doze/treze anos de idade. Nesta época, ainda não existem 
os terceiros molares, que estão em processo de formação. 
De acordo com o autor, a sequência de erupção dos dentes permanentes 
segue a seguinte cronologia na arcada superior : primeiro molar (seis anos), 
incisivo central superior (7 anos), incisivo lateral superior (8 anos), primeiro pré-
molar (dez anos), segundo pré-molar (onze anos), canino (onze anos e cinco 
 
 31 
meses), segundo molar (doze anos). Já para a arcada inferior a ordem é um 
pouco diferente: primeiro molar (seis anos), incisivo central (seis anos e cinco 
meses), incisivo lateral (sete anos e cinco meses), canino (nove anos e cinco 
meses), primeiro pré-molar (dez anos), segundo pré-molar (dez anos e oito 
meses) e segundo molar (doze anos). 
Para Burdi & Moyers (1991), os dentes permanentes não começam a 
erupcionar até que a coroa esteja completa. São necessários de 2 a 5 anos para 
que os dentes posteriores cheguem até a crista alveolar, e de 12 a 20 meses para 
que alcancem a oclusão. A partir disso, em geral, as raízes são completamente 
formadas em poucos meses. O aparecimento do dente na cavidade oral é 
denominado época de erupção. A erupção em poucos meses chega à metade da 
coroa, mas o irrompimento a partir de então segue em um ritmo mais lento. 
Os autores referem que a sobremordida e sobressaliência diminuem 
durante a segunda década de vida, bem como o perímetro do arco dentário. As 
variações nas relações sagitais das dentições podem ter mais relação com o 
crescimento dos maxilares do que com problemas dentários, como por exemplo , 
o desenvolvimento dos terceiros molares. Estas alterações oclusais posteriores 
ocorrem devido à tendência de inclinação mesial, ao pequeno desgaste 
interproximal e ao contínuo crescimento mandibular. 
Agora, parte-se mais especificamente para a definição de oclusão dentária 
que é, no entender de Douglas (1999), a oposição das arcadas dentárias e as 
forças determinadas pelos dentes pela elevação da mandíbula. Qualquer 
movimento mandibular, em que os dentes fiquem em contato, corresponde a uma 
relação oclusal, motivo pelo qual deve ser analisada dinamicamente, 
considerando a existência da infinidade destas relações. (Manns & Rocabado, 
 
 32 
1998; Molina, 1995). Molina (1995) relata que, durante muito tempo, este 
dinamismo não foi considerado. O termo oclusão implicava em um 
relacionamento estático dos maxilares nas posições de fechamento e abertura 
bucal. O verdadeiro conceito de oclusão deve levar em conta as relações 
estáticas e dinâmicas com à maxila, a harmonia de todos os movimentos e 
posições mandibulares, e o funcionamento do sistema neuromuscular. 
Com a erupção dos primeiros molares decíduos, estabelece-se a primeira 
relação oclusal tridimensional. Segundo Burdi & Moyers (1991), a oclusão dos 
decíduos posteriores ocorre de tal forma que um canino inferior posiciona-se à 
frente do seu homólogo superior. 
 Barbosa (1997) considera que uma porcentagem significativa de pessoas 
sofre de alterações que estão relacionadas com a oclusão dentária e/ou com 
problemas funcionais do sistema mastigatório. 
A oclusão ideal é descrita por Douglas (1999) como uma perfeita 
adaptação estável entre as arcadas. Os contatos devem ocorrer simultaneamente 
entre todos os dentes quando estão apostos. Não deve existir interferências 
mandibulares, mas uma distribuição equivalente das forças oclusaisnas zonas de 
trabalho, e que a resultante destas siga de preferência uma direção axial. Deve 
haver uma situação harmônica e integridade morfo-funcional com a ATM e com 
todo o restante do sistema estomatognático, bem como com o sistema 
neuromuscular da mandíbula. 
Ferreira (1998) considera que a oclusão ideal não existe e nunca existirá, 
pois seria necessário que o indivíduo tivesse uma herança pura, vivesse em um 
ambiente perfeito, livre de qualquer risco de sofrer acidentes, doenças ou 
interferência que, por ventura, viessem modificar o padrão auxológico inerente da 
 
 33 
oclusão. O autor salienta ainda que oclusão normal não significa ideal, que o 
termo “normal” refere-se a “mais usual”. Burdi & Moyers (1991) concordam com 
tal afirmativa, ressaltando que consideram normal uma boca com a presença de 
todos os dentes ocluindo de forma estável, saudável e agradavelmente, com 
variações na posição dental dentro de limites mensuráveis. É mister esperar ao 
final da terapêutica ortodôntica, uma oclusão que não seja nem normal tão pouco 
ideal, mas que possa ser estável na face de um determinado indivíduo. 
Uma oclusão estável depende da resultante das forças que agem sobre os 
dentes e o equilíbrio destas serve para manter esta estabilidade. Além disso, o 
equilíbrio de todo o sistema estomatognático pode ser considerado em termos de 
estabilidade oclusal (Molina, 1995; Moyers & Carlson, 1993). Storey (1991) 
considera significativo para a terapia ortodôntica a magnitude e a direção das 
forças oclusais na mastigação, e a contribuição destas para a movimentação ou a 
estabilidade dentária. Entretanto, questiona se estas podem realmente mover os 
dentes, salientando que os poucos estudos realizados a esse respeito falharam, 
já que as forças ou são continuamente interrompidas, ou têm um componente 
contínuo significativo. Em um estudo experimental, não publicado, o autor deduziu 
que, quando os dentes apresentam estabilidade, as forças mastigatórias não são 
capazes de movê-los, mas, em certas disfunções como o bruxismo, elas podem 
ser responsáveis por mobilidade dental. 
A força aplicada aos dentes pode ser determinada através de 
dinamômetros eletrônicos. Para Douglas (1999), os valores podem variar, sendo 
que nos molares chegam atingir 90kg, por causa dos músculos levantadores que 
têm maior funcionamento perto do ângulo da mandíbula. Portanto as forças 
exercidas nas regiões anteriores da mandíbula são menores. 
 
 34 
 As forças musculares exercidas são maiores nos molares e menores nos 
incisivos, mas também variam de pessoa para pessoa ou em determinadas raças. 
Os esquimós possuem a maior força mastigatória registrada entre o homem 
moderno. Isso comprova a relação desta com a alimentação. A força aplicada 
sobre os dentes de pessoas que se alimentam de pastosos é bem menor do que 
aquela utilizada por quem tem por hábito comer alimentos consistentes e fibrosos, 
devido às modificações físicas introduzidas na fibra periodontal (Douglas, 1999; 
Okeson, 1992). É importante comentar que a maioria das forças produzidas nos 
dentes durante a mastigação são, de acordo com Oyen (1993), reabsorvidas 
primeiramente pelo próprio alimento e, posteriormente, pelos tecidos moles e 
duros que constituem o complexo: dentes – membrana periodontal – alvéolo. 
A relação entre oclusão e padrão alimentar é discutida por vários autores. 
Existem alguns relatos que consideram que, no passado, havia um menor 
predomínio de alterações oclusais devido aos alimentos consumidos serem 
predominantemente mais duros que atualmente. Com o passar dos tempos, a 
correria do dia-a-dia e a procura por maior praticidade, fizeram com que a 
população buscasse formas alternativas de consumo, tudo em busca de 
economia de tempo. A alimentação logo se modernizou também, as papinhas 
prontas, a batata frita e a comidinha congelada tornaram-se rotina para a maioria 
das pessoas. É possível acreditar que quem tem pouca força mastigatória por 
ingerir alimentos mais moles, tem maiores probabilidades de possuir uma 
alteração oclusal, ou seja, ter algum problema por fazer menos uso da 
musculatura mastigatória. Para Marchesan(1998), isto não é tão evidente, já que 
existem muitas referências de que os problemas oclusais são antiquíssimos e 
parecidos com os de hoje. Então, se a alimentação era mais consistente, não 
 
 35 
deveria haver tantas alterações oclusais. A autora questiona se na realidade o 
fator alimentar tem relação com a oclusão e a tipologia facial. 
Burdi & Moyers (1991) salientam que os povos que introduzem em suas 
dietas alimentos ásperos e duros como, por exemplo, os montanheses gregos, 
têm uma grande extensão de desgaste nas superfícies dos dentes. Isto faz com 
que a mandíbula, na fase da dentição decídua, assuma uma posição anterior em 
relação à maxila, pois o crescimento mandibular é maior que o maxilar nesta fase. 
Em consequência, as crianças montanhesas, por volta dos 5/6 anos de idade, 
possuem uma relação incisiva topo-a-topo com um definido degrau mesioterminal. 
Sob tais condições, os incisivos permanentes erupcionam com menor 
sobremordida e os primeiros molares permanentes erupcionam imediatamente, 
numa firme neutroclusão. As crianças que não possuem o desgaste oclusal 
natural se acomodam a uma retração temporária funcional mandibular durante o 
fechamento, levando em conta que o crescimento maior da mandíbula produz 
interferências oclusais naturais, geralmente na região dos caninos. 
Em geral, os homens têm mais força na mordida do que as mulheres. Em 
uma pesquisa, foi descoberto que nas mulheres esta varia de 35,8 a 44,9 kg 
enquanto que nos homens vai de 53,6 a 64,4 kg. A força máxima que já pôde ser 
registrada foi de 443 kg (975 libras) (Okeson,1992). 
Os indivíduos que utilizam prótese dentária ou possuem doenças bucais 
apresentam, como relata Douglas (1998), uma menor força mastigatória, já que 
consomem predominantemente alimentos mais amolecidos. Os desdentados, 
total ou parcialmente, além de possuírem limitação de força, chegam até ficar 
desnutridos, pois a falta dos dentes dificulta a mastigação, levando-os à 
diminuição da própria ingestão alimentar. 
 
 36 
 Molina (1995) refere que a doença periodontal, as forças disfuncionais da 
musculatura, hábitos como bruxismo, alterações na posição dos dentes e 
anatomia dental e mobilidade aumentada, podem levar a um padrão 
desequilibrado de forças que agem sobre os dentes. Este desequilíbrio pode 
resultar em oclusão traumática, pois as forças podem estar além do limite 
adaptativo dos componentes do aparelho oclusal. 
A pressão exercida sobre os dentes corresponde, segundo o estudo de 
Douglas (1999), à força aplicada de acordo com a área oclusal funcional. Assim, a 
pressão tem relação direta com a primeira e relação contrária com a área oclusal 
(P=F/A). Quando é exercida a mesma força em dentes de diferentes áreas, a 
pressão será muito maior no dente menor, mas não se pode esquecer que a força 
aplicada em dentes com áreas reduzidas tem que ser menor para compensar o 
seu tamanho inferior. 
Com relação às estruturas de suporte dentais, é possível verificar que 
tecidos ósseos não toleram forças de pressão, quer dizer, se for exercida força no 
osso, este será reabsorvido. Os dentes estão sempre recebendo forças oclusais, 
então o ligamento periodontal é que vai ajudar a controlá-las. Esse ligamento é 
formado por tecido conjuntivo colagenoso que prende o dente no alvéolo ósseo, 
ficando entre a raiz e o osso alveolar. Os tecidos ósseos não suportam pressão, 
mas a tensão é um estímulo para formação de osso. Portanto, o ligamento 
periodontal pode converter uma força nociva (pressão) em uma força aceitável 
(tensão),sendo considerado como um regulador natural de pressão, que absorve 
as forças de oclusão no osso (Okeson, 1992). 
Graf, citado por Douglas (1998), descobriu que, em um adulto normal, o 
tempo de contato dentário em um período de 24 horas é de 17,5 minutos, com 
 
 37 
uma média de 0,3 segundo por contato dentário. Esta descrição tem importância 
para as funções periodontais, pois se as forças aplicadas durante a mastigação 
tiverem direção axial e distribuirem-se uniformemente nas fibras do periodonto, 
estarão contribuindo para a estabilidade da inserção do dente. 
O estudo de Pameijer, também citado pelo autor, demostrou que em 71% 
de golpes mastigatórios, em um total de 959, realizados por adultos normais, 
houve contatos dentários, e destes, em 61%, houve intercuspidação máxima. 
Quando existe um desgaste seletivo das cúspides, ocorre uma diminuição 
importante da duração dos contatos dentários durante a mastigação e, 
consequentemente, do tempo de atuação das forças interoclusais. Disto deve-se 
a relevância dos receptores periodontais no controle das forças mastigatórias. 
Douglas (1999) descreve que em condições de normalidade, ou seja, com 
a presença de todos os dentes na boca, a área oclusal funcional que equivale a 
48,4 mm2, corresponde a aproximadamente 10% da área oclusal anatômica (489 
mm2). A área funcional oclusal seria, por exemplo, a área triturante utilizada na 
mastigação. Quando esta área está reduzida, há uma diminuição da área 
mastigatória útil, levando à insuficiência mastigatória por causa oclusiva. 
A trajetória habitual de fechamento da mandíbula corresponde ao 
movimento de fechar e abrir a boca lenta e automaticamente, sendo realizado 
pelo indivíduo com sua cabeça e pescoço erguidos. Tal trajetória finaliza 
oclusalmente, como discorre Manns & Rocabado (1998), na posição muscular de 
contato, que coincide com a posição mandibular quando os dentes estão em 
intercuspidação máxima ou posição intercuspideana (MIC). MIC corresponde à 
relação fisiológica dos dentes, quando estão realizando funções 
estomatognáticas, como a mastigação e deglutição. É importante ressaltar, que 
 
 38 
na posição intercuspidiana (em cêntrica), os dentes molares e pré-molares 
(posteriores) têm por função realizar um freio vertical dos movimentos 
mandibulares de fechamento, impedindo, deste modo, que esta função seja 
realizada pelos dentes anteriores (oclusão mutuamente protegida). Para isso, os 
dentes de trás devem requerer um padrão de oclusão com contatos múltiplos, 
bilaterais, simétricos e simultâneos. 
Para os autores, a oclusão mutuamente protegida ocorre também em 
excêntrica, onde os dentes anteriores protegem os posteriores. Nos movimentos 
mandibulares contactantes excêntricos a partir da posição intercuspideana, os 
dentes anteriores têm por função direcionar a mandíbula para estas posições, 
desocluindo os posteriores. Essa guia dentária anterior ocasiona uma diminuição 
da atividade eletromiográfica da musculatura elevadora da mandíbula, 
minimizando o efeito patológico que as forças produzidas por esses músculos, 
nestas posições excêntricas, podem causar ao sistema estomatognático. 
 Okeson (1992) explica o mecanismo de oclusão mutuamente protegida de 
forma um pouco mais simplista: os dentes posteriores possuem um bom 
funcionamento para suportarem forças exercidas durante o fechamento da boca, 
sendo que esta boa aceitação deve-se ao posicionamento destes na arcada. Os 
dentes anteriores, ao contrário, possuem um posicionamento que favorece o 
suporte das forças dos movimentos mandibulares excêntricos. Esta condição 
oclusal, em que os dentes posteriores contatam ligeiramente com mais força que 
os anteriores em relação cêntrica, é denominada proteção mútua. 
O espaço de inoclusão fisiológica é, de acordo com Douglas (1999), a 
distância entre as arcadas dentárias quando a mandíbula está em sua posição 
postural habitual, sendo que este espaço pode variar de 1 a 3 mm. Okeson (1992) 
 
 39 
considera que o espaço de inoclusão vai de 2 a 4 mm abaixo da posição 
intercuspidal, podendo variar de acordo com a posição da cabeça. Ferreira 
(1998) salienta que a inoclusão fisiológica estática corresponde a uma posição 
fisiológica da mandíbula em que ela se separa do maxilar por uma distância 
mínima, dependente da contração muscular necessária para resistir a força da 
gravidade. Este espaço relaciona-se ao tipo de face e oclusão dentária e quanto 
menor o espaço, será mais frequente a contração dos masséteres durante a 
deglutição. A ausência da inoclusão e consequente contração muscular pode 
gerar hábitos parafuncionais como bruxismo e alteração na ATM (Bianchini, 
1998). Quando os dentes entram em oclusão cêntrica este espaço desaparece, e 
segundo Douglas (1999), é possível verificar as tensões da mandíbula nesta 
posição com o gnatotensiômetro de Posselt. Existem também as posições 
oclusais excêntricas, que estão relacionadas ao deslizamento em oclusão 
(lateralidade ou protrusão), regidas por interferências cuspídicas. 
O autor acredita que a posição oclusal da mandíbula é determinada pela 
erupção dos dentes, pelo começo da intercuspidação e pela existência da 
maturação neuromuscular. A posição ideal possibilita um máximo contato oclusal 
e um mínimo de tensão nas raízes e ATM. 
 A situação de homeostase oclusal é atingida quando existe uma situação 
de equilíbrio entre osso, músculo e dente. Douglas (1999) refere que equivale à 
soma das forças dinâmicas que atuam sobre o dente, sendo estas controladas 
pelo sistema proprioceptivo da boca. Esta afirmação vai de encontro ao estudo de 
Moyers & Carlson (1993), pois consideram que a homeostase depende de 
elaborados mecanismos sensoriais de feedback da ATM, da membrana 
periodontal e o restante do sistema mastigatório. 
 
 40 
Outros aspectos relevantes para a homeostase oclusal correspondem às 
tendências naturais de deslocamento mesial dos dentes, à participação da 
musculatura, ao componente anterior da força, ao crescimento craniofacial e ao 
crescimento e remodelamento do osso alveolar (Moyers & Carlson, 1993). Os 
autores acreditam na fundamental importância dos mecanismos neuromusculares 
e fatores de crescimento ósseo para as relações oclusais. Estas relações são 
atualmente consideradas instáveis, já que as adaptações oclusais devem ocorrer 
constantemente para acomodar possíveis alterações do esqueleto craniofacial e 
da neuromusculatura. 
É correto supor que talvez a melhor oclusão seja a que mais facilmente se 
adapta às funções em transformação. Pensando assim são considerados os 
mecanismos adaptativos como necessários e acredita-se que há um tipo de 
regeneração do sistema oclusal que auxilia na manutenção da homeostase 
oclusal. Qualquer terapêutica sem homeostase funcional está destinada ao 
fracasso clínico (Burdi & Moyers, 1991).
 
 
 
Classificação para a Má Oclusão Dentária 
 
 Classificar uma má oclusão é ordená-la em classes de anomalias similares, 
levando em consideração o tipo e forma do desvio, grau e natureza, tendo em 
mente a oclusão normal (Petrelli,1992). 
 No estudo da oclusão dentária, o conceito de normalidade é associado ao 
termo “mais frequente” e admite variações, pois verifica-se que um desvio em 
torno da média caracteriza a maior parte das oclusões existentes (Ferreira, 1998). 
 
 41 
 Segundo Molina (1989), uma dentição equilibrada é mantida por 
mecanismos de adaptação articulares, musculares, periodontais e dentais, que 
são ajustes fisiológicos praticamente não percebidos pelo indivíduo e que ocorrem 
durante toda sua vida. 
 Já que para o entendimento do patológico faz-se necessário ter a 
concepção de normalidade, serão explicitadas antes das classificações

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