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39 5 – UMIDADE DO AR Umidade do ar significa água no estado de vapor. Esse vapor d’água se origina dos lagos, rios, oceanos e outras fontes naturais que, pelo processo de evaporação, passam do estado líquido para o de vapor e esse vapor d’água passa a compor os gases da atmosfera. Como foi visto no Capítulo 3, uma parte do saldo de radiação é responsável pelo processo de evapotranspiração (soma da transpiração dos vegetais e da evaporação de água dos solos e das suas fontes naturais). Os movimentos das massas de ar devido à circulação atmosférica se encarrega de distribuir esse vapor d’água no ambiente. Assim, o vapor d’água que se forma na superfície pode ser transportado verticalmente pela convecção livre ou forçada e horizontalmente pela advecção. A concentração atmosférica de vapor d’água é muito variável, porque sob as condições atmosféricas a água muda facilmente de fase (absorvendo ou liberando calor latente), podendo alcançar valores máximos da ordem de 4% (em volume). Essa variabilidade do conteúdo de vapor d’água na atmosfera depende dos fatores formadores do mesmo, ou seja, de água na fase líquida e de energia suficiente para o processo de mudança de fase (evaporação e transpiração), bem como da circulação da atmosfera. Dos componentes atmosféricos, o vapor d’água assume importante papel devido ao fato de ser um dos principais gases do efeito estufa natural e, por essa razão, afeta o balanço energético da superfície da terra evitando o seu resfriamento excessivo e, com isso, possibilita a existência de vida na terra. De igual importância é o seu efeito direto sobre a qualidade do ar que se respira. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece um nível crítico para as atividades normais dos seres humanos a umidade relativa do ar de 30%. Abaixo desse valor crítico, medidas como evitar esforços físicos, usar umidificadores de ar, entre outras, se fazem necessárias para garantir o bem estar das pessoas e os ambientes saudáveis. A ocorrência de pragas (insetos, fungos e bactérias) nas lavouras está condicionada à umidade relativa do ar, entre outros fatores. A severidade e o ciclo das doenças são determinados pelas condições de umidade atmosférica. 5.1 – Lei dos Gases Sempre que se trabalha com gases, há necessidade de se recorrer à Lei Geral dos Gases Perfeitos. Em resumo, a Lei dos Gases estabelece que quando uma quantidade de gás muda de um estado “a” para um estado “b”, isso se faz obedecendo a relação entre as variações possíveis de temperatura, pressão e volume. Denomina-se gás perfeito aquele que obedece rigorosamente as Leis de Boyle-Mariotte e de Gay-Lussac, daí o fato de que sejam hipotéticos. A Lei de Boyle-Mariotte se refere à transformação isotérmcia, em que um gás passa do volume inicial V1 sob pressão p1 para o volume final V2 sob pressão p2 conservando constante a temperatura t (Equação 5.1.1). 2211 VpVp ×=× (Equação 5.1.1) Em que: p1 = pressão inicial (kPa), V1 = volume inicial (m3), P2 = pressão final (kPa), V2 = volume final (m3). 40 A Lei de Gay-Lussac se refere à transformação isobárica, em que um gás passa do volume inicial V1 sob temperatura t1 para o volume final V2 sob temperatura t2 conservando constante a pressão p (Equação 5.1.2). 1 1 2 2 t V t V = (Equação 5.1.2) Em que: V2 = volume final (m3), t2 = temperatura final (°K), V1 = volume inicial (m3), t1 = temperatura inicial (°K). Para estabelecer a Lei Geral dos Gases, há que se fazer variar todas as grandezas que definem o estado de um gás (temperatura, volume e pressão). Nenhuma das Leis anteriores (Boyle-Mariotte e Gay-Lussac) se aplica à transformação geral. Para estabelecer essa equação é preciso que um gás atinja o resultado final por meio de duas transformações sucessivas, primeira uma isotérmica e depois uma isobárica. Primeiro o gás passa do volume inicial V1 sob pressão p1 para o volume V sob condições de pressão p2. Matematicamente: VpVp ×=× 211 Em seguida, o gás se aquece à pressão constante e assim, o volume V à temperatura t1 passa a ser V2 à temperatura t2. Matematicamente: 2 1 2 12 2 t tVV t V t V ×=⇒= Substituindo o valor de V da segunda equação na primeira, tem-se: constante 2 22 1 11 2 1 2211 = × = × = × = × ⇒××=× o oo t Vp t Vp t Vp t Vp t tVpVp As condições po, Vo e to foram estabelecidas como sendo 1 atm (ou 101,3 kPa), 22,4 L (ou 0,0224 m3) e 0,0°C (ou 273°K). O valor o oo t Vp × recebeu a denominação de “constante dos gases perfeitos” com símbolo “R” e o seu valor é de 8,314 x 10-3 m3 kPa °K-1 mol-1. Em 1881, o físico italiano Amedeo Avogadro apresentou uma hipótese que foi confirmada posteriormente por suas conseqüências. Ele afirmou que “em condições iguais de temperatura e pressão, iguais volumes de quaisquer gases encerram o mesmo número de moléculas”. Dividindo-se um mol (massa molecular expressa em gramas) de qualquer substância pela massa de uma única molécula dessa substância obtém-se o número de moléculas nela existente. Esse é o denominado número de Avogadro, ou de Loschmidt e o seu valor é igual a 6,02 x 1023 moléculas mol-1. 41 Como os gases perfeitos, quando em condições normais de temperatura e pressão, possuem sempre o mesmo volume molecular, um mol desse gás ocupará 22,4 L, ou 0,0224 m3; dois moles, 2 x 22,4 L ou 2 x 0,0224 m3; três moles, 3 x 22,4 L, ou 3 x 0,0224 m3 e assim sucessivamente. Disso resulta a denominada “Equação de Clapeyron” (Equação 5.1.3), que em última instância corresponde à equação geral dos gases perfeitos. tRnVp t Vp n t Vp o oo ××=×⇒ × ×= × (Equação 5.1.3) Em que: p = pressão (kPa), V = volume (m3), t = temperatura (°K), n = número de moles, po = pressão de referência (101,3 kPa), Vo = volume de referência (0,0224m3 mol-1), to = temperatura de referência (273°K), R = constante dos gases perfeitos (8,314 x 10-3 m3 kPa °K-1 mol-1). 5.2 – Conteúdo de Vapor D’Água no Ar Sob uma determinada condição de temperatura e pressão, o ar consegue reter uma quantidade específica de vapor d’água. Mantendo-se constante a pressão, essa quantidade aumenta com o aumento da temperatura. Há diferentes formas de se expressar a quantidade do vapor d’água presente no ar, cada qual se prestando a um propósito específico. Assim sendo, é preciso reconhecer os diferentes conceitos de razão de mistura, umidade específica, umidade absoluta e umidade relativa. 5.2.1 – Razão de Mistura Dá-se o nome de razão de mistura à relação entre a massa do vapor d’água e a massa do ar seco, de acordo com a Equação 5.2.1.1. as va m m w = (Equação 5.2.1.1) Em que: w = razão de mistura (adimensional), mva = massa de vapor d’água (g), mas = massa do ar seco (g). A partir da Equação de Clapeyron (Equação 5.1.3), pode-se estimar a razão de mistura em função da pressão parcial de vapor d’água (tensão de vapor atual) e da pressão atmosférica local e levando em consideração que a massa molecular do vapor d’água é igual a 18 g mol-1 e a massa molecular do ar seco é igual a 28,96 g mol-1 (Equação 5.2.1.2). 42 ep e w − ×= 622,0 (Equação 5.2.1.2) Em que: w = razãode mistura, e = pressão parcial de vapor d’água (tensão de vapor atual) (kPa), p = pressão atmosférica local (kPa). 5.2.2 – Umidade Específica Dá-se o nome de umidade específica à relação entre a massa do vapor d’água e a massa de ar úmido (massa do ar seco acrescida da massa de vapor d’água), de acordo com a Equação 5.2.2.1. vaas va mm m q + = (Equação 5.2.2.1) Em que: q = umidade específica (adimensional), mva = massa de vapor d’água (g), mas = massa do ar seco (g). Dividindo-se ambos, numerador e denominador, pela massa de ar seco (mas), pode-se estimar a umidade específica em função da razão de mistura e, alternativamente, em função da pressão parcial de vapor d’água (tensão de vapor atual) e da pressão atmosférica local e levando em consideração que a massa molecular do vapor d’água é igual a 18 g mol-1 e a massa molecular do ar seco é igual a 29 g mol-1 (Equação 5.2.2.2). ep e w wq ×− × = + = 378,0 622,0 1 (Equação 5.2.2.2) Em que: q = umidade específica (adimensional), w = razão de mistura, e = pressão parcial de vapor d’água (tensão de vapor atual) (kPa), p = pressão atmosférica local (kPa). 5.2.3 – Umidade Absoluta Dá-se o nome de umidade absoluta à relação entre a massa de vapor d’água e o volume de ar que nesse instante encerra essa massa, de acordo com a Equação 5.2.3. V mUA va= (Equação 5.2.3.1) Em que: UA = umidade absoluta (g m-3), mva = massa de vapor d’água contida no volume de ar V (g), V = volume de ar (m3). 43 Considerando a Equação de Clapeyron (Equação 5.1.3), pode-se estimar a umidade absoluta a partir da pressão parcial de vapor d’água (tensão de vapor atual) e da temperatura do ar (Equação 5.2.3.2). 273 02,2165 .. + × = t eAU (Equação 5.2.3.2) Em que: U.A. = umidade absoluta (g m-3), mva = massa de vapor d’água contida no volume de ar V (g), V = volume de ar (m3), e = pressão parcial de vapor d’água (tensão de vapor atual) (kPa), t = temperatura do ar (°C). 5.2.4 – Umidade Relativa do Ar A umidade relativa do ar é a relação entre a pressão parcial de vapor d’água atual e a pressão de saturação do vapor d’água à temperatura ambiente, de acordo com a Equação 5.1.4.1. 100×= se eUR (Equação 5.1.4.1) Em que: UR = umidade relativa do ar (%), e = pressão parcial de vapor d’água atual (kPa), es = pressão de saturação do vapor d’água (kPa). Como já foi mencionado, a uma determinada pressão, a quantidade de vapor d’água que uma massa de ar é capaz de reter aumenta com o aumento da temperatura. Portanto, o valor de es que representa a quantidade máxima de vapor d’água que pode ser retido pela atmosfera é uma função específica da temperatura, como mostra a Equação 5.1.4.2 para a temperatura do ar maior ou igual a 0,0°C e a Equação 5.1.4.3 para a temperatura do ar menor que 0,0°C. + × ×= t t se 3,237 5,7 1061078,0 (Equação 5.1.4.2) + × ×= t t se 5,265 5,9 1061078,0 (Equação 5.1.4.3) Em que: es = pressão de saturação do vapor d’água (kPa), t = temperatura do ar (°C). O valor da pressão parcial de vapor d’água atual (e) é calculado por meio da equação psicrométrica (Equação 5.1.4.4) que leva em consideração a pressão de saturação do vapor d’água à temperatura do bulbo úmido, a pressão atmosférica e a depressão psicrométrica. A temperatura do bulbo úmido é obtida de um termômetro cujo bulbo é envolvido por um pano permanentemente embebido em água. Esse 44 termômetro, em associação ao de bulbo seco, forma o psicrômetro (Figura 5.4.1 A). A depressão psicrométrica é a diferença entre a temperatura obtida do termômetro de bulbo seco e do de bulbo úmido. ( )usu ttpAee −××−= (Equação 5.1.4.4) Em que: e = pressão parcial de vapor d’água (kPa), esu = pressão de saturação do vapor d’água à temperatura do bulbo úmido (kPa), A = constante psicrométrica (6,7 x 10-4 °C-1, para psicrômetro aspirado ou 8,0 x 10-4 °C-1 para não aspirado), p = pressão atmosférica local (kPa), t = temperatura do ar (°C), tu = temperatura do bulbo úmido (°C). 5.2.5 – Temperatura do Ponto de Orvalho O orvalho é a deposição de água no estado líquido sobre uma superfície sólida qualquer. Geralmente ocorre no período em que a temperatura dessa superfície sólida alcança seus menores valores no ciclo do dia. Assim, por exemplo, pode-se observar a deposição do orvalho na relva pela manhã, ou no vidro dos automóveis. Uma outra situação, é aquela na que tirando-se uma garrafa fria da geladeira e deixando-a à temperatura ambiente verifica-se que esta apresenta um umedecimento de sua superfície, o que indica a deposição do orvalho sobre a mesma. Esse fenômeno ocorre porque a temperatura da superfície sólida é suficientemente baixa para que o ar adjacente à mesma seja afetado reduzindo a sua capacidade de reter a água em forma de vapor, alcançando assim a saturação (umidade relativa de 100%) e fazendo com que gotas d’água se depositem na superfície. O tempo de molhamento, que se refere ao tempo de permanência da água no estado líquido sobre as superfícies sólidas, é matéria de estudos da Bometeorologia, dado a que o desenvolvimento de doenças fúngicas e bacterianas nos cultivos é promovida pelo orvalho. A temperatura do ponto de orvalho é definida como sendo aquela na qual a saturação ocorreria se o ar fosse resfriado à pressão constante, sem adição ou remoção de vapor d’água. Ela pode ser calculada pela Equação 5.1.4.2 fazendo-se a pressão parcial de vapor d’água ser igual à de saturação e resolvendo-a para a temperatura, ficando o resultado como mostra a Equação 5.2.5.1. + × = 61078,0 log5,7 61078,0 log3,237 e e t po (Equação 5.2.5.1) Em que: tpo = temperatura do ponto de orvalho (°C), e = pressão parcial de vapor d’água (kPa). 45 5.3 – Variação da Umidade do Ar A umidade relativa do ar varia diariamente e sazonalmente. Durante o dia, devido às mudanças no saldo de radiação e conseqüente alteração na temperatura do ar, a umidade relativa decresce com o aumento da temperatura do ar, para uma mesma concentração de vapor d’água na atmosfera. Entretanto, alterações devidas à movimentação da atmosfera (movimentos advectivos) podem alterar a condição atual da atmosfera e a umidade relativa do ar. Durante o ano, a umidade relativa do ar acompanha a cobertura do céu e a precipitação pluviométrica. As nuvens são as fontes de água que pela precipitação formam as fontes naturais de vapor d’água. 5.4 – Medição da Umidade Relativa do Ar A umidade relativa do ar é medida instrumentalmente por meio do uso de psicrômetros, higrômetros e registrada por higrógrafos (Figura 5.4.1). O psicrômetro consiste de dois termômetros de mercúrio, sendo que um deles está providode um pedaço de tecido permanentemente umedecido aderido ao seu bulbo (daí o nome de termômetro de bulbo úmido e temperatura do bulbo úmido). O higrômetro consiste de um aparelho cujo elemento sensor é o fio de cabelo humano que varia de tamanho de acordo com a umidade e essa variação é registrada de como a umidade relativa do ar. O higrógrafo tem o mesmo princípio de funcionamento do higrômetro, porém tem um tambor sobre o qual se coloca um papel em escala onde ficam registrados os valores da umidade relativa. Pelo fato da umidade relativa ser dependente da temperatura do ar, tanto o higrômetro quanto o higrógrafo tem associado a eles um termômetro que mede, ou registra a temperatura do ar, respectivamente. Nesses casos, esses aparelhos recebem a denominação de termohigrômetro e termohigrógrafo. A umidade relativa do ar, assim como a temperatura máxima e mínima, é medida sob condições de proteção da radiação solar e da precipitação diretas. Ficam, portanto, dentro do abrigo termométrico (Figura 4.4.2.3). 46 Figura 5.4.1 – Detalhe de um psicrômetro com os termômetros de bulbo seco e de bulbo úmido posicionados na vertical (A), ancorados no mesmo suporte em que os termômetros de máxima e de mínima se encontram posicionados na horizontal, de um termohigrômetro (B) e de um termohigrógrafo (C). A B C 47 5.5 – Referências Bibliográficas Tubelis, A. e Nascimento, F.J.L. do. 1980. Meteorologia Descritiva. Fundamentos e Aplicações Brasileiras. Nobel, São Paulo. 374 p. Ometto, J.C. 1981. Bioclimatologia Vegetal. Agronômica Ceres, São Paulo. 425 p. Vianello, R.L. e Alves, A.R. 1991. Meteorologia Básica e Aplicações. Universidade Federal de Viçosa, Imprensa Universitária, Viçosa. 449 p.
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