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LITERATURA BRASILEIRA - Lucila Nogueira

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CURSO DE LICENCIATURA EM LÍNGUA ESPANHOL À DISTÂNCIA 
 
 
 
 
 
LITERATURA BRASILEIRA 
CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO 
 
 
 
 
 
I - Conceito de Literatura Brasileira 
II - Conceito de Nação aplicado à Literatura 
III - Teorias sobre o início da Literatura Brasileira 
IV - A Literatura Brasileira na colônia e na república 
V - Literatura Brasileira, modernidade e contemporaneidade. 
 
 
 
 
 
 
 
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I - Conceito de Literatura Brasileira 
 
 
 
Apesar de a literatura ser uma prática estética universal, é costume estudá-la através de países 
e regiões. Embora a criação literária pertença a várias culturas, é mergulhando em contextos 
específicos que podemos muitas vezes melhor compreendê-la e, portanto, transmiti-la. No 
caso do Brasil, cultivou-se a ideia de dizer quanto ao nosso princípio literário, ser ágrafa a 
comunidade indígena dos primeiros habitantes da terra. No entanto, alguns estudos já 
questionam essa condição, por haverem sido encontrados registros em inscrições anteriores à 
colonização. O mais seguro, todavia, é considerar o surgimento da língua portuguesa como 
um parâmetro possível de avaliação dessa literatura que irá surgir, sem esquecer, é claro, as 
várias línguas indígenas que no Brasil existiam e que até hoje continuam em processo de 
extinção. 
 
 
EXERCÍCIOS 
 
A) A partir da universalidade do texto literário, procure conceituar a literatura brasileira. 
B) Explique a presença ou não das línguas indígenas na literatura do Brasil. 
C) Comente a língua portuguesa como paradigma da literatura brasileira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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II - Conceito de Nação aplicado à Literatura 
 
 
 
Iniciando sua presença política e geográfica como colônia, o Brasil vai crescer e tornar-se 
independente, com opção posterior pela república. Essa característica de ser colônia de 
Portugal é um traço presente na literatura brasileira do ponto de vista da forma linguística 
adotada. No entanto há aqueles que insistem em exigir um exercício de nacionalidade para a 
verdadeira compreensão de uma literatura. Ou seja, sem nação, não haveria o literário do 
ponto de vista cultural e geográfico. A possibilidade de conjugar o estudo estético da palavra 
com o aprofundamento cívico e cultural da evolução de um povo tem ocupado numerosos 
estudos concernentes à literatura brasileira. A presença da sociologia tem sido uma constante 
em críticos como o antigo Sílvio Romero e o mais recente Antônio Cândido, caminho a que 
não se dedicou, por exemplo, Afrânio Coutinho, menos voltado à questão social do que à 
componente artístico da obra literária. 
 
 
EXERCÍCIOS 
 
A) Verifique a importância do conceito de nacionalidade no exercício e compreensão de 
uma literatura. 
B) Explique o caráter universal presente nas várias literaturas. 
C) Relacione estética literária e nacionalidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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III - Teorias sobre o início da Literatura Brasileira 
 
 
 
A partir do conceito de nação começa o trabalho de averiguar quando tem início realmente a 
literatura brasileira. Os adeptos do período colonial consideram que tudo que foi escrito no 
Brasil desde esse tempo, se trata de literatura brasileira. Esse caminho é seguido, por sinal, em 
vários países. Vamos encontrar outro grupo de teóricos que só compreende a literatura do 
Brasil a partir do movimento Barroco, que toma força quando a terra brasileira e a portuguesa 
estão sob o domínio da Espanha; por essa teoria, defendida por estudiosos como Afrânio 
Coutinho, seria brasileira a criação literária que surge com Gregório de Matos e demais 
escritores barrocos. Entretanto, com o apoio de teóricos como Antônio Cândido, há quem só 
acredite na existência de uma literatura brasileira a partir do Romantismo, época em que o 
país desenha com mais firmeza o seu perfil de nação. Muitos seguem esse caminho no qual, 
como se vê, é valorizada a característica do nacional, como requisito para dar vida à literatura 
de uma terra. Não será exatamente assim o pensamento dos que preferem conferir ao 
Modernismo a responsabilidade da autoria inicial da literatura brasileira, pelo fato de que 
nesse período os autores já estão libertos dos modelos do colonizador português; nesse 
momento também será proclamado aquele que Manuel Bandeira chamou de “o gostoso 
português do Brasil”, e com ele um mundo literário novo em que não apenas a nação pesa, 
mas também uma nova estética que recusa os rígidos padrões do velho mundo europeu. 
Qualquer que seja a teoria adotada, o importante é percorrer a evolução dos textos que vão 
surgindo com a vontade de complementar os vários períodos no estudo da obra literária a fim 
de que ela surja em nosso tempo com a precisão necessária aos estudos acadêmicos. 
 
 
EXERCÍCIOS 
 
A) Comente a literatura brasileira em sua fase colonial. 
B) Relacione as teorias sobre o início do texto literário no Brasil. 
C) Períodos coloniais, Barroco, Romântico e Modernista: avalie o momento em que 
surgiu a literatura no Brasil. 
 
 
 
 
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IV - A Literatura Brasileira na colônia e na república 
 
 
 
Algumas mudanças substanciais poderão ser verificadas entre esses períodos. Ao mesmo 
tempo importa perceber quais as trocas estabelecidas no período colonial e as que se 
desenvolveram na república. Curiosamente, se na primeira fase a tendência natural era, por 
parte do escritor brasileiro, a submissão até inconsciente ao padrão estético europeu, com a 
autonomia obtida pela liberdade política, o próprio país colonizador passou a voltar os olhos 
para as coisas todas que ocorriam em sua colônia gigante, também do ponto de vista literário. 
Por outro lado, muitas eram as trocas que se realizavam entre os próprios autores, de modo 
que alguns nascidos em Portugal eram convocados a integrar o painel da criação literária 
brasileira, o que se observa, por exemplo, desde Bento Teixeira a Tomaz Antônio Gonzaga. O 
primeiro, pertencente aos estudos de literatura portuguesa, não mais se separou do panorama 
literário brasileiro, por haver tornado este país cenário de sua paráfrase camoniana 
Prosopopéia; o segundo, nascido no Porto e havido morrido em Moçambique, também não 
mais se desvinculou dos estudos de literatura brasileira, principalmente por conta de seu 
romance com a chamada Marília de Dirceu. Um outro caso há de ser também o Padre Antônio 
Vieira, que frequentou os dois contextos culturais, que até hoje reivindicam para si a 
participação do grande sermonista barroco. Torna-se curioso verificar que o percurso 
historiográfico que vai culminar na independência e república brasileiras, não irão eliminar a 
influência estética européia, cujas vanguardas irão influenciar o movimento modernista que se 
afirma no Brasil no início do século XX, integrando esse país às várias técnicas experimentais 
em voga, ao mesmo tempo desenvolvendo um maior aprofundamento dos elementos 
distintivos da nossa cultura. 
 
 
EXERCÍCIO 
 
A) Explique as trocas que se estabelecem no período colonial da literatura brasileira. 
B) Comente a presença de autores portugueses nos estudos de literatura brasileira. 
C) Com a república, conseguiu o Brasil liberta-se do padrão estético europeu? 
 
 
 
 
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V - Literatura Brasileira, modernidade e contemporaneidade. 
 
 
 
Algumas vezes confunde-se o conceito de modernidade com o de contemporaneidade, isso 
prejudica a avaliação dos textos literários. Moderno é tudo aquilo que corresponde à ruptura 
ocorrida com a Revolução Industrial que terá o seu auge no desenvolvimento das vanguardas.Contemporâneo é tudo aquilo que chega até o nosso tempo com legitimidade, independente 
da época em que foi produzido. Essa compreensão leva a que possamos considerar, por 
exemplo, Shakespeare e Cervantes como contemporâneos porque se comunicam 
integralmente com a carga de humanidade que vivenciamos em nosso tempo, enquanto que o 
moderno poderá ser considerado um dia algo que envelheceu, daí as chamadas teorias do pós-
modernismo que vão estudar aquilo que veio depois da quebra ideológica e estrutural 
modernista. No Brasil o modernismo surge verdadeiramente com a ficção de Lima Barreto e a 
poesia de Augusto dos Anjos, do ponto de vista da obra que incorpora de modo genuíno a 
cultura e o povo da terra. Observando-se a questão de movimentos ligados a manifestos, a 
certidão de nascimento do modernismo no Brasil tem sido considerada a Semana de 22 em 
São Paulo que vai marcar essa fase ao modo das vanguardas européias com as quais convivia 
o grande agitador cultural Oswald de Andrade. No entanto, sem estardalhaço, a modernidade 
brasileira já evoluía sem conflito com o que se fazia em Portugal, haja vista o primeiro 
número da Revista Orpheu, dirigida por brasileiros e portugueses. 
 
 
EXERCÍCIOS 
 
A) Comente a distinção entre modernidade e contemporaneidade na literatura brasileira. 
B) Exemplifique o moderno ou o contemporâneo, presentes em Shakespeare e Cervantes. 
C) Comente o modernismo de Lima Barreto, Augusto dos Anjos, Oswald de Andrade e 
do primeiro número da revista luso-brasileira Orpheu. 
 
 
 
 
 
 777 
Bibliografia 
BOSI, Alfredo. Historia concisa da literatura brasileira. São Paulo: 1997, Cultrix. 
CÂNDIDO, Antônio. Formação da literatura brasileira, Vol. I. Belo Horizonte: 1918, 
Itatiaia. 
COUTINHO, Afrânio. Introdução à Literatura no Brasil. Rio de Janeiro: 1970 Ed. 
Distribuidora de Livros Escolares. 
 
ROMERO, Sílvio. História da Literatura Brasileira; Vol. I. Rio de Janeiro: 2001, Imago. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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LITERATURA BRASILEIRA 
CAPÍTULO II – MOMENTOS DECISIVOS DA LITERATURA BRASILEIRA 
 
 
 
 
 
 
I – O Barroco 
II – O Romantismo 
III – O Realismo 
IV – Simbolismo/Modernismo 
V – Vanguardas/Contemporânea 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 999 
I – O Barroco 
 
 
 
A antiga teoria da transplantação tem tido dificuldade em sobreviver nos estudos de 
Literatura Brasileira tendo em vista as teorias relativas à hibridização cultural, tão em voga 
em nosso tempo, no que concerne à análise literária. Até porque o autor invocado para esse 
período é o espanhol Padre Anchieta, nascido nas Ilhas Canárias. Embora tenha escrito 
poemas em latim, castelhano, português e tupi, sua obra ao invés de buscar uma excelência 
artística preocupava-se com a evangelização do nativo, sendo tarefa mais religiosa do que 
literária. 
De modo que dentro de uma visão colonialista em que o colonizado teria que repetir 
um modelo europeu esteticamente imposto aos subordinados, não mostra ser relevante o 
registro embrionário da literatura de um povo em formação que não exercitou a possível 
liberdade em direção à autonomia intelectual. Um conjunto de paráfrases não constitui uma 
literatura. É preciso que as manifestações literárias tenham características próprias, o que não 
vai ser possível na produção de autores brasileiros anteriores ao movimento Barroco, ainda 
sem fôlego para expressar sua cultura em formação diante do impacto que foi a chegada dos 
portugueses ao Brasil. 
Em 1580, um certo Rei espanhol toma posse do poder em Portugal, que ficará 
submetido à Espanha até 1640, e é então que se começa a notar mudanças especiais a 
comunicar o estremecimento desse povo que irá desenhando o seu perfil. Esse movimento a 
que chamamos Barroco tem origem desde que Franccesco Mazolla, contemplando-se em um 
espelho côncavo ou convexo retratou a imagem que ali lhe aparecia. Deu-se então uma arte 
que tomou gosto em respeitar as tensões e os conflitos presentes na imaginação e no 
estremecimento da alma, quebrando assim a serenidade linear do classicismo. 
Ao sabor dessa bipolaridade discursiva vão surgindo autores, como por exemplo, 
Gregório de Matos Guerra que nascido no Brasil vai estudar em Portugal e lá permanece 
ligado às leis após estudar na Universidade de Coimbra e então com mais de quarenta anos, 
volta ao Brasil, até ser deportado para Angola, de onde vem por fim ao Recife, onde consta 
haver sido enterrado na Igreja da Penha do Bairro de São José, próxima ao mercado de 
mesmo nome. Discute-se a formação cultural do chamado Boca do Inferno, poeta que vai 
destacar uma linha satírica, em que atua como repórter da sociedade, elevando ao mesmo 
tempo seus preconceitos étnicos e um tom malicioso ligado aos costumes. 
Nada escapava da sua crítica mordaz: nem os fidalgos, nem as autoridades, nem os 
próprios brasileiros mestiços, nem os políticos corruptos, nem os juízes desonestos. A dicção 
barroca desse autor, que se confessava sempre encantado pela poesia de Gôngora, não hesitou 
em assimilar a linguagem tupi e a africana em seus versos, fazendo de sua lírica uma denúncia 
do cenário brasileiro de então. O outro aspecto marcante de sua obra é que ela não foi 
assinada, se constituindo em um dos casos mais interessantes da literatura do Brasil que seu 
primeiro poeta tenha desdenhado a propriedade intelectual desde o berço: quando Gregório 
 111000 
morreu, pediu-se a todos aqueles que tivessem algum poema dele fossem copiá-lo em um 
livro que se abriu durante certo tempo na prefeitura da cidade de Salvador. 
Observa-se que esse mesmo Brasil já tinha processado a peculiaridade de um caráter 
que iria se repetir em outros movimentos literários, manifestando-se o texto como uma 
profissão de fé a que a língua não iria reagir, ao contrário, passaria a se enriquecer até o 
presente. Se de uma forma o clássico europeu não morre de todo com o Barroco, esse 
labirinto em que o homem vai circular há de traçar um estilo nas figuras espelhadas pelas 
quais a lírica desse tempo mostrará especial predileção. 
Com o retorno de Portugal à sua autonomia política, naturalmente vão estar mais 
presentes novamente as características de pré-dominação espanhola, daí o surgimento de 
academias que na Europa faziam o movimento neoclássico, estilo que no Brasil até hoje leva 
o nome de Arcadismo, tão mencionado nas escolas de segundo grau. Esse período estará 
aliado ao movimento da inconfidência mineira cujas consequências irão executar Joaquim 
Silvério dos Reis, o conhecido Tiradentes, um dos poucos brasileiros envolvidos na revolta. 
Cláudio Manuel da Costa, Alvarenga Peixoto, Silva Alvarenga e Tomás Antônio Gonzaga 
serão outros participantes desse núcleo que apenas repete no Brasil a poesia praticada em 
Portugal. Porque o chamado lirismo árcade causa a impressão de estarem em Portugal os seus 
autores. Alguns estudiosos mencionam ainda a existência de poemas épicos como O Uraguai 
de Basílio da Gama, Caramuru de Santa Rita Durão e Vila Rica, de Cláudio Manuel da Costa, 
todos na esteira de Os Lusíadas de Camões. 
No Barroco também atuou o Padre Antônio Vieira, autor dos Sermões, que na verdade 
vai escrever quando retorna a Portugal, sua terra natal. Vieira há de provocar a ira da 
inquisição e será amigo dos índios, embora haja quem afirme não haver-se notabilizado o 
Padre na defesa dos escravos. Sua contribuição, ligada evidentemente à sermonística, tem 
conteúdo conservador diante das conquistas do conhecimento exteriores na época à Península 
Ibérica. 
 
 
EXERCÍCIOSA) Explique a teoria da transplantação diante dos conflitos do Barroco. 
B) Comente a forma e a ideologia da poesia de Gregório de Matos. 
C) Justifique a impropriedade do movimento neoclássico Português na literatura 
brasileira. 
 
 
 
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II – O Romantismo 
 
 
 
 Importuna razão não me persigas, dizia Bocage em terras lusitanas. Havia um cansaço 
do classicismo com a sua falsa serenidade que não permitiu sequer a Camões uma lírica 
harmoniosa, fazendo-o um precursor do Barroco devido ao uso atormentado de oxímoros. 
Como se todos tivessem se cansado tanto de uma hipotética harmonia como de uma tensão 
insuportável, procura-se unir homem e vida, acreditar na ação como companheira do sonho, 
no arremesso a sensações contra as quais já não se quer resistir. São os tempos do 
romantismo, que até hoje permanece no espírito dos homens contemporâneos. Desprezados o 
classicismo e o barroco, esses novos seres vão se voltar para a idade média, com seus mitos e 
sua muitas vezes assombrosa atmosfera. 
 Movimento que se desenvolve na Inglaterra, na Alemanha e na França, no Brasil 
estará mais ligado a este último país, embora haja exemplo de autor voltado ao romantismo 
inglês, como o conhecido Álvares de Azevedo. Esse novo grupo irá privilegiar quer o cenário 
natural da terra, quer a mitificação do índio, quer a ênfase nos arrebatamentos emocionais e da 
imaginação. Costuma-se atribuir ao livro Suspiros Poéticos e Saudades de Gonçalves de 
Magalhães o início do romantismo no Brasil. É verdade que esse autor, ligado ao 
nacionalismo excluiu do seu projeto a mitologia greco-romana de cunho pagão; no entanto 
esse livro é publicado em Paris, daí a dificuldade de continuar-se incluindo a obra no 
panorama da literatura brasileira. 
Irá se destacar na poesia romântica o maranhense Gonçalves Dias, também formado 
em direito em Portugal, mas que esteve na Amazônia e terminou por escrever um dicionário 
da língua tupi, além de versos indianistas, fase de que será sempre grande representante. 
Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo e lá mesmo também estudava direito; mergulhou 
no espírito satânico e na atmosfera de Byron, havendo integrado a boemia de seu tempo. Sua 
morte aos 20 anos resulta para um espírito agudo um tanto incompreensível. A descrença na 
vida estava presente na São Paulo da época, não se sabendo até que ponto envolveu, além do 
aspecto estético, o jovem romântico Álvares de Azevedo. 
Casimiro de Abreu era carioca havendo também frequentado Lisboa e morrido de 
tuberculose com 21 anos, em meio à melancolia desse tempo. Apesar de escrever uma poesia 
banal, notabilizou-se por falar em temas de exílio, evocando palmeiras e sabiás. Fagundes 
Varela, também do Rio de Janeiro, traz uma poesia patriótica e chegou estudar direito em São 
Paulo e no Recife, sendo considerado como uma espécie de transição entre a geração de 
Byron e a Condoreira. 
Mas será com o baiano Antônio de Castro Alves que o romantismo brasileiro elevará 
sua voz. Morto aos 24 anos, esse poeta torna-se estudante de direito no Recife onde entra em 
polêmica com Tobias Barreto, mas defende também o abolicionismo. O acidente que o leva à 
morte tão jovem está envolvido em certa dose de mistério; esse autor baiano será lido com 
frequência pelo chileno Pablo Neruda e lembrado também por seu estilo condoreiro e 
libertário, além dos poemas amorosos escritos para sua musa Eugênia Câmara e outras 
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amadas possíveis. Castro Alves conjuga poesia com retórica, na verdade oratória e outros 
poetas o seguirão nesse clima que tanto deve ao francês Vitor Hugo, como Pedro Luiz, Pedro 
Calasãns, Tarcisa Amália. Compreenda-se que esse chamado estilo do condor se constitui em 
uma voz lírica que se eleva às alturas do épico e o ritmo e o tom dos versos de Castro Alves 
reagem diante da melancolia e projetam-se para um poema de registro humanitário, o que o 
faz ser lido e dito de cor por muitos brasileiros. 
Sousândrade, maranhense, realizou viagens pelas Américas e pela Europa; sua 
erudição lhe permite um destaque especial na literatura brasileira que seria estimulado por 
Luiz Costa Lima e os irmãos Campos; escreveu o Guesa a partir da mitologia Quéchua e 
defendeu, diante do capitalismo, a inocência do povo latino-americano, tendo também se 
preocupado com novas experiências sintáticas e linguísticas. Por isso mesmo, seu texto 
híbrido não deve ser considerado apenas romântico, mais precursor de uma modernidade que 
estava ainda por vir. 
 A ficção romântica brasileira encontrará seu apogeu no cearense José de Alencar, 
autor de obras que até hoje atuam como ícones no conhecimento da sociedade brasileira a 
partir da sua literatura. Leitor de Chateaubriand, Alencar desenhou o perfil do índio, do 
homem do sertão e de outras regiões, além de perfis femininos que também permaneceram na 
memória literária do Brasil. Em sua ficção ressaltam romances indianistas, históricos, 
regionalistas e urbanos, além de peças teatrais. Com Alencar é ultrapassada qualquer 
improvisação, e definitivamente incorporada a língua oral do povo brasileiro, além do cultivo 
da sensibilidade e imaginação. Alencar, com a sua ênfase psicológica em personagens 
urbanos pode ser também considerado um autor de transição para o realismo. Seu 
regionalismo foi seguido por autores como Bernardo Guimarães e Franklin Távora. O 
primeiro será considerado por alguns, fundador do regionalismo brasileiro, pelos seus 
romances sertanejos. O segundo vai tratar de personagens nordestinos, é considerado também 
precursor do romance realista, além de defensor da valorização da chamada Literatura do 
Norte, movimento desenvolvido por Tobias Barreto e Sílvio Romero, ambos de Sergipe. 
 O teatro dessa época no Brasil passa pela produção de Martins Pena, alguma coisa de 
Gonçalves Dias e José de Alencar e finalmente pela obra de Agrário de Menezes e Paulo Eiró, 
que trabalharam temas como a escravidão. 
 
 
EXERCÍCIOS 
 
A) Justifique o surgimento do romantismo na literatura brasileira. 
B) Discorra sobre cinco autores brasileiros românticos. 
C) Situe a obra de José de Alencar na literatura brasileira. 
 
 
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III – O Realismo 
 
 
 
 No pós-romantismo surge um poliedro que vai abranger várias tendências 
literárias, entre elas o realismo. Esse movimento permitirá obras oriundas de autores mulatos, 
como Machado de Assis e Cruz e Souza e, ao mesmo tempo de outros escritores de classe 
social menos abastada que os antigos românticos, ligados à classe média e à burocracia do 
Estado. O mundo literário torna-se estremecido por uma busca de objetividade voltada para a 
crítica social, bem como a narração de costumes e a procura de uma verdade para os 
personagens, já não idealizados como antes e mais aproximados do factual. 
 No romance, desenvolvem os autores o espírito analítico, lição que viria desde os 
franceses Flaubert, Maupassant e Anatole France. De Portugal viriam os textos de Eça de 
Queiroz, Ramalho Ortigão e Antero de Quental, que com a polêmica da questão coimbrã, 
abalaram o espírito romântico lusitano onde pontificava, entre outros, Camilo Castelo Branco. 
Obsecado pela realidade o autor dessa época não se permite ausentar dos fatos e busca refletir 
mimeticamente o meio social, desprezando divagações e com estilo deliberadamente sóbrio, 
preciso, sem rebuscamento, avesso ao provincianismo de então. Opor-se ao romantismo 
significou para a literatura brasileira afastar-se da poesia indianista e dos condoreiros 
abolicionistas. Significou uma ênfase em ambientes urbanos e na preocupação formal do 
estilo. 
 Essa visão do autor como espectador do comportamento humano se dá de modo 
a permitir a figuraçãointelectual de Machado de Assis. Embora romântico em sua primeira 
fase, onde inclusive segue a narrativa de modelos femininos ao modo de José de Alencar, 
Machado desenvolverá a seguir um distanciamento desse padrão com livros que ficarão em 
nossa literatura como modelos do realismo. Sua obra manterá diálogo mais com os ingleses 
Sterne, Swift e Charles Dickens, desenvolvendo também um traço de humor que de certo 
modo anuncia a modernidade. 
 No Brasil o realismo irá comportar também uma linha mais determinista, em que 
o homem é produto do meio e da sua classe social, sem desprezar o patológico na busca de 
uma humanidade concreta em diálogo com a fatalidade das leis naturais. Esse momento será 
considerado por alguns teóricos como naturalismo, em que a razão é esclarecida pela 
experiência e passa a ser considerado o elemento fisiológico na observação do homem, 
valorizando-se no escritor a capacidade de retratar o sentido do real, muitas vezes mais atento 
ao coletivo do que ao individual. 
 Nessa linha, encontraremos na historiografia literária tradicional, Aluízio de 
Azevedo, Inglês de Souza, Adolfo Caminha, Domingos Olímpio, Rodolfo Teófilo e Raul 
Pompéia. Caberá ao primeiro um maior impacto com a polêmica despertada pelos seus 
primeiros livros, que de uma certa forma até hoje permanecem atuais. Quanto aos demais 
autores, eles fotografam um Brasil de algum modo ainda ausente da ficção romântica, apesar 
de manter alguns traços desse antigo receituário estético, merecendo, contudo uma releitura 
pelas veredas abertas no Cânone. Em seus momentos finais iremos encontrar autores para 
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alguns estudiosos de importância discutível como Coelho Neto, Afrânio Peixoto, Afonso 
Arinos, Valdomiro Silveira e Monteiro Lobato, que desenvolvem projetos mais ligados ao 
regionalismo. 
 Costuma-se afirmar haver existido na poesia do Brasil uma escola parnasiana, de 
índole objetiva e com isenção de ânimo individual, à qual pertenceria Alberto de Oliveira, 
Raimundo Correia e Olavo Bilac. Este último chegou a fazer um tratado de versificação com 
Guimarães Passos e escreveu poemas voltados a questões edificantes. Esses autores 
dedicavam-se ao culto da forma, como o ourives a esculpir uma jóia; entendia-se que estariam 
filiados à coletânea Parnaso Contemporâneo, que incluía a poesia francesa da época, inclusive 
Charles Baudelaire e Theophile Gautier. 
 A crítica se dedicou a considerar que no parnasianismo haveria o culto a uma 
espécie de lógica que na busca de clareza expulsaria racionalmente da poesia o seu mistério. 
Assim o belo e o real seriam equivalentes, ficando a imaginação escrava de uma excêntrica 
objetividade expressa em obsessivas rimas presentes em sonetos de chave de ouro que eram 
mais fruto do esforço humano do que do ímpeto romântico. São ainda dessa época Francisca 
Júlia e o já mencionado Guimarães Passos, além de Vicente de Carvalho. No entanto, a 
verdade é que Olavo Bilac representou uma visão conservadora da poesia e da nação, 
prestando-se ao didatismo e ao espírito cívico de seletas pedagógicas. No momento final do 
chamado parnasianismo encontramos poetas como José Albano, Gilka Machado, Martins 
Fontes, Raul de Leone e Olegário Mariano. A esses autores, alguns críticos preferem chamar 
de pré-modernistas, embora mantenham traços de um romantismo a que não puderam 
completamente renunciar. 
 
 
EXERCÍCIOS 
 
A) Comente as características principais do realismo como escola literária. 
B) Explique possíveis diferenças entre realismo e naturalismo, citando um autor 
brasileiro para cada experiência literária. 
C) Esclareça a existência do parnasianismo no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
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IV – Simbolismo/Modernismo 
 
 
 
 Costuma-se considerar autores como Euclides da Cunha, Lima Barreto, 
Sousândrade e Augusto dos Anjos como pré-modernistas. Isso se deve às ortodoxas 
teorizações que concluem por apontar o movimento modernista apenas a partir da Semana 
Paulista de 1922, feita ao modo das vanguardas européias, com happening e manifestos. 
Embora essa polêmica tenha se cristalizado como certidão de batismo do texto moderno no 
Brasil, a verdade é que antes desse evento já existiam autores comprometidos com as noções 
de modernidade estética em literatura. Apenas Lima Barreto e Euclides da Cunha eram 
nascidos no sudeste; Sousândrade era do Maranhão e Augusto dos Anjos, da Paraíba. Na 
verdade, no Brasil dessa época latifundiária e escravocrata, estavam surgindo reformas 
progressistas como a abolição e a república que iriam ser narradas nas obras literárias. 
 Euclides da Cunha nasceu no Rio de Janeiro e deixou em Os Sertões o relato 
dessa zona geográfica e de seus homens, na luta contra o sofrimento do clima e os hábitos 
patriarcais. Mesmo assim não ficou imune à ideologia do colonialismo, acreditando no 
determinismo de raça e de clima, construindo uma obra que incorporou de sua época o 
espírito científico. Essa consideração etnocêntrica de que a mistura de raças seria prejudicial à 
sociedade brasileira denota uma certa fragilidade na visão euclidiana, embora sem dúvida 
Euclides seja um marco da busca do homem brasileiro sem medo da solene sonoridade 
regional, mostrando às elites o que poderia haver de mais genuíno no país, a partir do 
universo sertanejo. A Revolta de Canudos é descrita como rebelião da classe oprimida, uma 
luta camponesa, e coube a Euclides da Cunha conferir grandeza ao trágico massacre do sertão 
baiano. No entanto esse trabalho já revela uma conduta e sintonia com a modernidade, pelo 
uso agudo de moralidade que não copia os padrões léxicos coloniais. Ali está o Brasil, em um 
espelho barroco que incorpora a ciência e denuncia o conflito gerado pelas difíceis condições 
sociais. 
 Os que leram o escritor também carioca Lima Barreto sabem o quanto ele se 
identifica com sua obra e com seu país. Não com uma ideia, mas com a sua vivência, não com 
a aristocracia nem certa classe média e seus artifícios, mas com o Brasil simples e verdadeiro 
do subúrbio, com seus grandes dramas expostos a nu sem ambiguidade, em um humor muito 
próximo do cotidiano. Essa dicção de Lima Barreto, sua temática e seus personagens 
autorizam aos estudos literários considerá-los moderno. É com muita familiaridade que lemos 
até hoje os seus textos ficcionais, tão próximos de nós parece o seu estilo e a descrição de 
nossos tipos e enredos. Lima Barreto está a merecer cada vez mais uma releitura 
contemporânea de sua obra que inaugura um universo que nada deve aos padrões europeus 
que marcavam a ficção de sua época. Fiel à sua origem de neto de avós de escravos, preto e 
pobre, discriminado, humilhado, deixou sua queixa heróica em uma obra moderna que até 
hoje nos comove. Rompeu o cânone com sua voz tão brasileira e suburbana, inovando com a 
crítica social o diletantismo vazio que existia em nossa literatura. Militância e lucidez são os 
seus sinônimos, a despeito da marginalidade que alguma crítica oficial procurou instalar em 
seu perfil sobre os estereótipos de alcoolismo e loucura. Jornalista, denunciou o jogo de poder 
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presente na corrupção política e retratou em todos os livros o Rio de Janeiro que ao modo de 
um flaneur baudelaireano tanto amou. 
 Sousândrade é também um autor que tem uma atuação moderna na literatura 
brasileira. Alguns críticos, não sabendo contextualizar a sua obra, procuram enquadrá-lo num 
passado que não lhe pertence. Cosmopolita, esse escritor maranhense visitou a América 
Latina, morando dois anos na Europa e quinze em Nova York. Essa relação Brasil, Europa, e 
as Américas Latina e do Norte vão permitir uma visão pós-colonial do Brasil ainda em pleno 
século XIX, em um interculturalismoque caminha desde os índios dos Andes e da Amazônia 
até a sociedade capitalista em desenvolvimento nos Estados Unidos. Estudos de Augusto e 
Haroldo de Campos, além de Luiza Lobo tem procurado resgatar a importância e celebrar 
fontes épicas e antecipações modernas do autor maranhense, que incorporou influências do 
americano Walter Whitman e alguns recursos de Ezra Pound. Cinquenta e cinco anos antes do 
manifesto antropófago de Oswald de Andrade, Sousândrade já era uma antecipação dessa 
antropofagia presente em seus poemas, os quais são anteriores aos versos do simbolista 
brasileiro Cruz e Souza. 
 O paraibano Augusto dos Anjos registrou com sua obra a modernidade no Brasil, 
a partir de elementos dos quais tomava conhecimento em suplementos literários franceses que 
lia em sua terra com frequência. Leitor de Baudelaire, incorporou a seus versos o vocabulário 
científico da Escola do Recife, ao tempo em que estudou Direito nessa cidade, que está 
fotografada em vários de seus poemas. A voz de Augusto é o grito do Nordeste, recortado em 
estremecimento, angústia e perplexidade diante do painel desolador de alguns aspectos do 
mundo. Sua entonação, se não despreza a rima e a métrica, introduz o leitor em uma 
atmosfera que, se tem o imaginário da transição simbolista, emprega com audácia expressões 
avessas a um falso distanciamento, admitindo o feio e o horror na sequência de metáforas 
contundentes que até hoje provocam rejeição em certos espíritos superficiais. 
 O seu único livro foi publicado em 1912, dez anos antes da Semana de Arte 
Moderna de São Paulo e apresenta conquistas estéticas que inauguram a poesia moderna de 
um modo tão brasileiro, pela fidelidade ao espírito e à dicção de nosso povo, que até hoje as 
pessoas no Brasil, independentemente de regiões, dizem seus poemas de cor nas ruas, nas 
escolas, nas residências, nos bares, onde se possa imaginar. Sua temática vai desde questões 
filosóficas e religiosas a aspectos existenciais e amorosos, além do cientifico já mencionado. 
Desejar estudá-lo como pré-modernista, como fazem alguns críticos, é relegar o exercício da 
modernidade a aspectos meramente burocráticos e complementares – os manifestos - que 
embora tenham seu valor, nem sempre podem servir de marco nem certidão de batismo aos 
movimentos literários de uma cultura. A dinâmica da vida e da morte, a sombra do 
sofrimento, a dor, a alucinação, a angústia, tudo isso, tão próximo do simbolismo, recebem de 
Augusto o tratamento de choque de uma realidade dominadora, que triunfa obscurecendo 
qualquer idealismo metafísico e abrindo espaço para uma exposição ritualística da realidade. 
 
 
 
 
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EXERCÍCIOS 
A) Enuncie as principais características estéticas da obra de Lima Barreto e Augusto 
dos Anjos. 
B) Mencione que antecipações trazem os livros de Euclides da Cunha e Sousândrade. 
C) Explique a importância do simbolismo para a modernidade no Brasil. 
 
 
 
 
V – Vanguardas/Contemporânea 
 
 
 
 No estudo da literatura brasileira destaca-se a presença da vanguarda e seu 
percurso a partir das várias linhas que a desenvolveram. Se o simbolismo deixa uma herança 
na poesia que vai impregnar uma certa frequentação especial de versos, logo a seguir 
movimentos mais radicais irão direcionar a percepção e o modo de sentir dos que formam o 
povo e a cultura brasileira. 
 Assim é o futurismo, defendido em 1909 por Marinetti, assim é o cubismo de 
Apollinaire, o dadaísmo de Tristan Tzara, o surrealismo de André Breton. Acompanhados 
habitualmente por manifestos, esses momentos da poesia do início do século XX vão abrir 
perspectivas de espaço, imagem e palavra. 
 Enquanto em Portugal a geração Orpheu desatava o nó da tradição estética, no 
Brasil autores como Oswald de Andrade passam a provocar a poesia oficial e bem 
comportada, organizando em São Paulo no ano de 1922 a Semana de Arte Moderna, que 
ridicularizou o verso dos poetas parnasianos através inclusive do poema Os Sapos de Manuel 
Bandeira. Da lavra de Oswald também o manifesto da poesia pau-brasil, em 1924, seguido 
pelo manifesto antropófago de 1928. Esse espírito moderno de que falaram Graça Aranha e 
Joaquim Inojosa dará um novo impulso à literatura brasileira, inclusive com a edição das 
revistas Klaxon e Festa. 
 Com o surgimento da poesia do mineiro Carlos Drummond de Andrade, o verso 
brasileiro se destaca com personalidade no contexto ocidental, no que seria sequenciado pelo 
trabalho do pernambucano João Cabral de Melo Neto, que conseguirá fazer vanguarda sem se 
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perder completamente do encantamento e magia da tradição estética ibero americana. Se em 
Drummond a lírica incorpora falares íntimos do cotidiano ao modo brasileiro já defendido 
desde a Semana de 1922, João Cabral se volta para o cenário nordestino, elevando uma voz 
aguda e áspera, uma faca só lâmina a denunciar o sofrimento e a miséria do povo do nordeste, 
utilizando-se, contudo, de recursos de vanguarda que vão do surrealismo à deconstrução 
experimental do romanceiro ibérico. 
 A poesia de Cabral irá despertar o chamado concretismo, assinado pelo saudoso 
Haroldo de Campos, Décio Pignatari e Augusto de Campos. É a proposta de uma poesia que 
passa a considerar o espaço gráfico como agente estrutural, desenvolvendo a composição de 
uma sintaxe que procura dispensar a discursividade e sai perseguindo ideogramas através de 
montagens, acreditando ser possível o poema como objeto em si mesmo. 
A seguir, temerosos do excesso de racionalismo, haverá o manifesto neo concreto de 
Ferreira Gullar, Reynaldo Jardim e outros, defendendo a transcendência do poema diante do 
espaço mecânico, incorporando a página com seu silêncio e o tempo. Influenciado pela 
terminologia da área econômica e industrial, surgirá o poema-praxis referido como manifesto 
no posfácio do livro Lavra-lavra de Mário Chamie. Neste caso, imagina-se uma anti-poesia, 
comprometida com a produção, onde a palavra é compreendida em sua função semiótica. De 
qualquer forma, não deixa esta de pertencer também ao domínio teórico da poesia concreta. 
Já no final dos anos 60, Vlademir Dias Pino e Álvaro de Sá propõem um manifesto do 
chamado poema/processo, explorando possibilidades de signos não verbais e na verdade, 
transformando o poema de objeto cultural em objeto material, bem próximo da fronteira com 
a publicidade e congêneres. 
 Apesar de já existirem no Brasil texto ficcionais que inauguraram a modernidade, quer 
do ponto de vista da linguagem, quer do ponto de vista da cultura brasileira, a Semana 
Paulista de 1922 vai criar condições para o surgimento de um livro como Macunaíma de 
Mário de Andrade, em que se procura encontrar a raiz de formação da nossa cultura com a 
fusão das etnias desse tempo. O chamado herói sem nenhum caráter, embora destrate qualquer 
perspectiva de altivez do povo brasileiro leva a desculpa do humor para desenhar um perfil 
caricatural do homem do Brasil e, no entanto essa visão passa a ser um referencial da entrada 
da ficção brasileira no território da modernidade. 
 No nordeste, a partir da década de 30, começa a surgir um grupo de escritores que 
defendem o regionalismo diante dos experimentalismos do sudeste. E é a partir desse grupo 
que podemos falar em literatura brasileira contemporânea. 
São eles José Américo de Almeida, da Paraíba, Raquel de Queiroz, do Ceará, Jorge 
Amado, da Bahia, Graciliano Ramos, das Alagoas, José Lins do Rego, também da Paraíba, 
entre outros. Esses autores são sinônimos da contribuição ficcional brasileira à estética 
contemporânea, assim como o mineiro Guimarães Rosa e a ucraniana naturalizada brasileira 
Clarice Lispector. Esses dois últimos atravessaram sem medoos desafios da linguagem da 
ficção contemporânea, levando o Brasil a estantes universais. Na sequência, outras gerações 
foram tendo visibilidade, autores como Campos de Carvalho, Sérgio Santana, Inácio de 
Loyola Brandão, Antônio Torres, Raimundo Carrero, Fernando Monteiro, Caio Fernando 
Abreu, Cláudio Aguiar, Lígia Fagundes Teles, Nélida Piñon, Edla Van Steen, Luzilá 
Gonçalves Ferreira e outros – são alguns dos que compõe o atuante cenário da ficção 
brasileira contemporânea. 
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EXERCÍCIOS 
 
A) Comente sobre o experimentalismo na poesia brasileira. 
B) Destaque a importância de Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto 
na lírica contemporânea. 
C) Explique o desenvolvimento da ficção brasileira desde os anos 30 do século XX até a 
atualidade.

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