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111 CURSO DE LICENCIATURA EM LÍNGUA ESPANHOL À DISTÂNCIA LITERATURA BRASILEIRA CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO I - Conceito de Literatura Brasileira II - Conceito de Nação aplicado à Literatura III - Teorias sobre o início da Literatura Brasileira IV - A Literatura Brasileira na colônia e na república V - Literatura Brasileira, modernidade e contemporaneidade. 222 I - Conceito de Literatura Brasileira Apesar de a literatura ser uma prática estética universal, é costume estudá-la através de países e regiões. Embora a criação literária pertença a várias culturas, é mergulhando em contextos específicos que podemos muitas vezes melhor compreendê-la e, portanto, transmiti-la. No caso do Brasil, cultivou-se a ideia de dizer quanto ao nosso princípio literário, ser ágrafa a comunidade indígena dos primeiros habitantes da terra. No entanto, alguns estudos já questionam essa condição, por haverem sido encontrados registros em inscrições anteriores à colonização. O mais seguro, todavia, é considerar o surgimento da língua portuguesa como um parâmetro possível de avaliação dessa literatura que irá surgir, sem esquecer, é claro, as várias línguas indígenas que no Brasil existiam e que até hoje continuam em processo de extinção. EXERCÍCIOS A) A partir da universalidade do texto literário, procure conceituar a literatura brasileira. B) Explique a presença ou não das línguas indígenas na literatura do Brasil. C) Comente a língua portuguesa como paradigma da literatura brasileira. 333 II - Conceito de Nação aplicado à Literatura Iniciando sua presença política e geográfica como colônia, o Brasil vai crescer e tornar-se independente, com opção posterior pela república. Essa característica de ser colônia de Portugal é um traço presente na literatura brasileira do ponto de vista da forma linguística adotada. No entanto há aqueles que insistem em exigir um exercício de nacionalidade para a verdadeira compreensão de uma literatura. Ou seja, sem nação, não haveria o literário do ponto de vista cultural e geográfico. A possibilidade de conjugar o estudo estético da palavra com o aprofundamento cívico e cultural da evolução de um povo tem ocupado numerosos estudos concernentes à literatura brasileira. A presença da sociologia tem sido uma constante em críticos como o antigo Sílvio Romero e o mais recente Antônio Cândido, caminho a que não se dedicou, por exemplo, Afrânio Coutinho, menos voltado à questão social do que à componente artístico da obra literária. EXERCÍCIOS A) Verifique a importância do conceito de nacionalidade no exercício e compreensão de uma literatura. B) Explique o caráter universal presente nas várias literaturas. C) Relacione estética literária e nacionalidade. 444 III - Teorias sobre o início da Literatura Brasileira A partir do conceito de nação começa o trabalho de averiguar quando tem início realmente a literatura brasileira. Os adeptos do período colonial consideram que tudo que foi escrito no Brasil desde esse tempo, se trata de literatura brasileira. Esse caminho é seguido, por sinal, em vários países. Vamos encontrar outro grupo de teóricos que só compreende a literatura do Brasil a partir do movimento Barroco, que toma força quando a terra brasileira e a portuguesa estão sob o domínio da Espanha; por essa teoria, defendida por estudiosos como Afrânio Coutinho, seria brasileira a criação literária que surge com Gregório de Matos e demais escritores barrocos. Entretanto, com o apoio de teóricos como Antônio Cândido, há quem só acredite na existência de uma literatura brasileira a partir do Romantismo, época em que o país desenha com mais firmeza o seu perfil de nação. Muitos seguem esse caminho no qual, como se vê, é valorizada a característica do nacional, como requisito para dar vida à literatura de uma terra. Não será exatamente assim o pensamento dos que preferem conferir ao Modernismo a responsabilidade da autoria inicial da literatura brasileira, pelo fato de que nesse período os autores já estão libertos dos modelos do colonizador português; nesse momento também será proclamado aquele que Manuel Bandeira chamou de “o gostoso português do Brasil”, e com ele um mundo literário novo em que não apenas a nação pesa, mas também uma nova estética que recusa os rígidos padrões do velho mundo europeu. Qualquer que seja a teoria adotada, o importante é percorrer a evolução dos textos que vão surgindo com a vontade de complementar os vários períodos no estudo da obra literária a fim de que ela surja em nosso tempo com a precisão necessária aos estudos acadêmicos. EXERCÍCIOS A) Comente a literatura brasileira em sua fase colonial. B) Relacione as teorias sobre o início do texto literário no Brasil. C) Períodos coloniais, Barroco, Romântico e Modernista: avalie o momento em que surgiu a literatura no Brasil. 555 IV - A Literatura Brasileira na colônia e na república Algumas mudanças substanciais poderão ser verificadas entre esses períodos. Ao mesmo tempo importa perceber quais as trocas estabelecidas no período colonial e as que se desenvolveram na república. Curiosamente, se na primeira fase a tendência natural era, por parte do escritor brasileiro, a submissão até inconsciente ao padrão estético europeu, com a autonomia obtida pela liberdade política, o próprio país colonizador passou a voltar os olhos para as coisas todas que ocorriam em sua colônia gigante, também do ponto de vista literário. Por outro lado, muitas eram as trocas que se realizavam entre os próprios autores, de modo que alguns nascidos em Portugal eram convocados a integrar o painel da criação literária brasileira, o que se observa, por exemplo, desde Bento Teixeira a Tomaz Antônio Gonzaga. O primeiro, pertencente aos estudos de literatura portuguesa, não mais se separou do panorama literário brasileiro, por haver tornado este país cenário de sua paráfrase camoniana Prosopopéia; o segundo, nascido no Porto e havido morrido em Moçambique, também não mais se desvinculou dos estudos de literatura brasileira, principalmente por conta de seu romance com a chamada Marília de Dirceu. Um outro caso há de ser também o Padre Antônio Vieira, que frequentou os dois contextos culturais, que até hoje reivindicam para si a participação do grande sermonista barroco. Torna-se curioso verificar que o percurso historiográfico que vai culminar na independência e república brasileiras, não irão eliminar a influência estética européia, cujas vanguardas irão influenciar o movimento modernista que se afirma no Brasil no início do século XX, integrando esse país às várias técnicas experimentais em voga, ao mesmo tempo desenvolvendo um maior aprofundamento dos elementos distintivos da nossa cultura. EXERCÍCIO A) Explique as trocas que se estabelecem no período colonial da literatura brasileira. B) Comente a presença de autores portugueses nos estudos de literatura brasileira. C) Com a república, conseguiu o Brasil liberta-se do padrão estético europeu? 666 V - Literatura Brasileira, modernidade e contemporaneidade. Algumas vezes confunde-se o conceito de modernidade com o de contemporaneidade, isso prejudica a avaliação dos textos literários. Moderno é tudo aquilo que corresponde à ruptura ocorrida com a Revolução Industrial que terá o seu auge no desenvolvimento das vanguardas.Contemporâneo é tudo aquilo que chega até o nosso tempo com legitimidade, independente da época em que foi produzido. Essa compreensão leva a que possamos considerar, por exemplo, Shakespeare e Cervantes como contemporâneos porque se comunicam integralmente com a carga de humanidade que vivenciamos em nosso tempo, enquanto que o moderno poderá ser considerado um dia algo que envelheceu, daí as chamadas teorias do pós- modernismo que vão estudar aquilo que veio depois da quebra ideológica e estrutural modernista. No Brasil o modernismo surge verdadeiramente com a ficção de Lima Barreto e a poesia de Augusto dos Anjos, do ponto de vista da obra que incorpora de modo genuíno a cultura e o povo da terra. Observando-se a questão de movimentos ligados a manifestos, a certidão de nascimento do modernismo no Brasil tem sido considerada a Semana de 22 em São Paulo que vai marcar essa fase ao modo das vanguardas européias com as quais convivia o grande agitador cultural Oswald de Andrade. No entanto, sem estardalhaço, a modernidade brasileira já evoluía sem conflito com o que se fazia em Portugal, haja vista o primeiro número da Revista Orpheu, dirigida por brasileiros e portugueses. EXERCÍCIOS A) Comente a distinção entre modernidade e contemporaneidade na literatura brasileira. B) Exemplifique o moderno ou o contemporâneo, presentes em Shakespeare e Cervantes. C) Comente o modernismo de Lima Barreto, Augusto dos Anjos, Oswald de Andrade e do primeiro número da revista luso-brasileira Orpheu. 777 Bibliografia BOSI, Alfredo. Historia concisa da literatura brasileira. São Paulo: 1997, Cultrix. CÂNDIDO, Antônio. Formação da literatura brasileira, Vol. I. Belo Horizonte: 1918, Itatiaia. COUTINHO, Afrânio. Introdução à Literatura no Brasil. Rio de Janeiro: 1970 Ed. Distribuidora de Livros Escolares. ROMERO, Sílvio. História da Literatura Brasileira; Vol. I. Rio de Janeiro: 2001, Imago. 888 LITERATURA BRASILEIRA CAPÍTULO II – MOMENTOS DECISIVOS DA LITERATURA BRASILEIRA I – O Barroco II – O Romantismo III – O Realismo IV – Simbolismo/Modernismo V – Vanguardas/Contemporânea 999 I – O Barroco A antiga teoria da transplantação tem tido dificuldade em sobreviver nos estudos de Literatura Brasileira tendo em vista as teorias relativas à hibridização cultural, tão em voga em nosso tempo, no que concerne à análise literária. Até porque o autor invocado para esse período é o espanhol Padre Anchieta, nascido nas Ilhas Canárias. Embora tenha escrito poemas em latim, castelhano, português e tupi, sua obra ao invés de buscar uma excelência artística preocupava-se com a evangelização do nativo, sendo tarefa mais religiosa do que literária. De modo que dentro de uma visão colonialista em que o colonizado teria que repetir um modelo europeu esteticamente imposto aos subordinados, não mostra ser relevante o registro embrionário da literatura de um povo em formação que não exercitou a possível liberdade em direção à autonomia intelectual. Um conjunto de paráfrases não constitui uma literatura. É preciso que as manifestações literárias tenham características próprias, o que não vai ser possível na produção de autores brasileiros anteriores ao movimento Barroco, ainda sem fôlego para expressar sua cultura em formação diante do impacto que foi a chegada dos portugueses ao Brasil. Em 1580, um certo Rei espanhol toma posse do poder em Portugal, que ficará submetido à Espanha até 1640, e é então que se começa a notar mudanças especiais a comunicar o estremecimento desse povo que irá desenhando o seu perfil. Esse movimento a que chamamos Barroco tem origem desde que Franccesco Mazolla, contemplando-se em um espelho côncavo ou convexo retratou a imagem que ali lhe aparecia. Deu-se então uma arte que tomou gosto em respeitar as tensões e os conflitos presentes na imaginação e no estremecimento da alma, quebrando assim a serenidade linear do classicismo. Ao sabor dessa bipolaridade discursiva vão surgindo autores, como por exemplo, Gregório de Matos Guerra que nascido no Brasil vai estudar em Portugal e lá permanece ligado às leis após estudar na Universidade de Coimbra e então com mais de quarenta anos, volta ao Brasil, até ser deportado para Angola, de onde vem por fim ao Recife, onde consta haver sido enterrado na Igreja da Penha do Bairro de São José, próxima ao mercado de mesmo nome. Discute-se a formação cultural do chamado Boca do Inferno, poeta que vai destacar uma linha satírica, em que atua como repórter da sociedade, elevando ao mesmo tempo seus preconceitos étnicos e um tom malicioso ligado aos costumes. Nada escapava da sua crítica mordaz: nem os fidalgos, nem as autoridades, nem os próprios brasileiros mestiços, nem os políticos corruptos, nem os juízes desonestos. A dicção barroca desse autor, que se confessava sempre encantado pela poesia de Gôngora, não hesitou em assimilar a linguagem tupi e a africana em seus versos, fazendo de sua lírica uma denúncia do cenário brasileiro de então. O outro aspecto marcante de sua obra é que ela não foi assinada, se constituindo em um dos casos mais interessantes da literatura do Brasil que seu primeiro poeta tenha desdenhado a propriedade intelectual desde o berço: quando Gregório 111000 morreu, pediu-se a todos aqueles que tivessem algum poema dele fossem copiá-lo em um livro que se abriu durante certo tempo na prefeitura da cidade de Salvador. Observa-se que esse mesmo Brasil já tinha processado a peculiaridade de um caráter que iria se repetir em outros movimentos literários, manifestando-se o texto como uma profissão de fé a que a língua não iria reagir, ao contrário, passaria a se enriquecer até o presente. Se de uma forma o clássico europeu não morre de todo com o Barroco, esse labirinto em que o homem vai circular há de traçar um estilo nas figuras espelhadas pelas quais a lírica desse tempo mostrará especial predileção. Com o retorno de Portugal à sua autonomia política, naturalmente vão estar mais presentes novamente as características de pré-dominação espanhola, daí o surgimento de academias que na Europa faziam o movimento neoclássico, estilo que no Brasil até hoje leva o nome de Arcadismo, tão mencionado nas escolas de segundo grau. Esse período estará aliado ao movimento da inconfidência mineira cujas consequências irão executar Joaquim Silvério dos Reis, o conhecido Tiradentes, um dos poucos brasileiros envolvidos na revolta. Cláudio Manuel da Costa, Alvarenga Peixoto, Silva Alvarenga e Tomás Antônio Gonzaga serão outros participantes desse núcleo que apenas repete no Brasil a poesia praticada em Portugal. Porque o chamado lirismo árcade causa a impressão de estarem em Portugal os seus autores. Alguns estudiosos mencionam ainda a existência de poemas épicos como O Uraguai de Basílio da Gama, Caramuru de Santa Rita Durão e Vila Rica, de Cláudio Manuel da Costa, todos na esteira de Os Lusíadas de Camões. No Barroco também atuou o Padre Antônio Vieira, autor dos Sermões, que na verdade vai escrever quando retorna a Portugal, sua terra natal. Vieira há de provocar a ira da inquisição e será amigo dos índios, embora haja quem afirme não haver-se notabilizado o Padre na defesa dos escravos. Sua contribuição, ligada evidentemente à sermonística, tem conteúdo conservador diante das conquistas do conhecimento exteriores na época à Península Ibérica. EXERCÍCIOSA) Explique a teoria da transplantação diante dos conflitos do Barroco. B) Comente a forma e a ideologia da poesia de Gregório de Matos. C) Justifique a impropriedade do movimento neoclássico Português na literatura brasileira. 111111 II – O Romantismo Importuna razão não me persigas, dizia Bocage em terras lusitanas. Havia um cansaço do classicismo com a sua falsa serenidade que não permitiu sequer a Camões uma lírica harmoniosa, fazendo-o um precursor do Barroco devido ao uso atormentado de oxímoros. Como se todos tivessem se cansado tanto de uma hipotética harmonia como de uma tensão insuportável, procura-se unir homem e vida, acreditar na ação como companheira do sonho, no arremesso a sensações contra as quais já não se quer resistir. São os tempos do romantismo, que até hoje permanece no espírito dos homens contemporâneos. Desprezados o classicismo e o barroco, esses novos seres vão se voltar para a idade média, com seus mitos e sua muitas vezes assombrosa atmosfera. Movimento que se desenvolve na Inglaterra, na Alemanha e na França, no Brasil estará mais ligado a este último país, embora haja exemplo de autor voltado ao romantismo inglês, como o conhecido Álvares de Azevedo. Esse novo grupo irá privilegiar quer o cenário natural da terra, quer a mitificação do índio, quer a ênfase nos arrebatamentos emocionais e da imaginação. Costuma-se atribuir ao livro Suspiros Poéticos e Saudades de Gonçalves de Magalhães o início do romantismo no Brasil. É verdade que esse autor, ligado ao nacionalismo excluiu do seu projeto a mitologia greco-romana de cunho pagão; no entanto esse livro é publicado em Paris, daí a dificuldade de continuar-se incluindo a obra no panorama da literatura brasileira. Irá se destacar na poesia romântica o maranhense Gonçalves Dias, também formado em direito em Portugal, mas que esteve na Amazônia e terminou por escrever um dicionário da língua tupi, além de versos indianistas, fase de que será sempre grande representante. Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo e lá mesmo também estudava direito; mergulhou no espírito satânico e na atmosfera de Byron, havendo integrado a boemia de seu tempo. Sua morte aos 20 anos resulta para um espírito agudo um tanto incompreensível. A descrença na vida estava presente na São Paulo da época, não se sabendo até que ponto envolveu, além do aspecto estético, o jovem romântico Álvares de Azevedo. Casimiro de Abreu era carioca havendo também frequentado Lisboa e morrido de tuberculose com 21 anos, em meio à melancolia desse tempo. Apesar de escrever uma poesia banal, notabilizou-se por falar em temas de exílio, evocando palmeiras e sabiás. Fagundes Varela, também do Rio de Janeiro, traz uma poesia patriótica e chegou estudar direito em São Paulo e no Recife, sendo considerado como uma espécie de transição entre a geração de Byron e a Condoreira. Mas será com o baiano Antônio de Castro Alves que o romantismo brasileiro elevará sua voz. Morto aos 24 anos, esse poeta torna-se estudante de direito no Recife onde entra em polêmica com Tobias Barreto, mas defende também o abolicionismo. O acidente que o leva à morte tão jovem está envolvido em certa dose de mistério; esse autor baiano será lido com frequência pelo chileno Pablo Neruda e lembrado também por seu estilo condoreiro e libertário, além dos poemas amorosos escritos para sua musa Eugênia Câmara e outras 111222 amadas possíveis. Castro Alves conjuga poesia com retórica, na verdade oratória e outros poetas o seguirão nesse clima que tanto deve ao francês Vitor Hugo, como Pedro Luiz, Pedro Calasãns, Tarcisa Amália. Compreenda-se que esse chamado estilo do condor se constitui em uma voz lírica que se eleva às alturas do épico e o ritmo e o tom dos versos de Castro Alves reagem diante da melancolia e projetam-se para um poema de registro humanitário, o que o faz ser lido e dito de cor por muitos brasileiros. Sousândrade, maranhense, realizou viagens pelas Américas e pela Europa; sua erudição lhe permite um destaque especial na literatura brasileira que seria estimulado por Luiz Costa Lima e os irmãos Campos; escreveu o Guesa a partir da mitologia Quéchua e defendeu, diante do capitalismo, a inocência do povo latino-americano, tendo também se preocupado com novas experiências sintáticas e linguísticas. Por isso mesmo, seu texto híbrido não deve ser considerado apenas romântico, mais precursor de uma modernidade que estava ainda por vir. A ficção romântica brasileira encontrará seu apogeu no cearense José de Alencar, autor de obras que até hoje atuam como ícones no conhecimento da sociedade brasileira a partir da sua literatura. Leitor de Chateaubriand, Alencar desenhou o perfil do índio, do homem do sertão e de outras regiões, além de perfis femininos que também permaneceram na memória literária do Brasil. Em sua ficção ressaltam romances indianistas, históricos, regionalistas e urbanos, além de peças teatrais. Com Alencar é ultrapassada qualquer improvisação, e definitivamente incorporada a língua oral do povo brasileiro, além do cultivo da sensibilidade e imaginação. Alencar, com a sua ênfase psicológica em personagens urbanos pode ser também considerado um autor de transição para o realismo. Seu regionalismo foi seguido por autores como Bernardo Guimarães e Franklin Távora. O primeiro será considerado por alguns, fundador do regionalismo brasileiro, pelos seus romances sertanejos. O segundo vai tratar de personagens nordestinos, é considerado também precursor do romance realista, além de defensor da valorização da chamada Literatura do Norte, movimento desenvolvido por Tobias Barreto e Sílvio Romero, ambos de Sergipe. O teatro dessa época no Brasil passa pela produção de Martins Pena, alguma coisa de Gonçalves Dias e José de Alencar e finalmente pela obra de Agrário de Menezes e Paulo Eiró, que trabalharam temas como a escravidão. EXERCÍCIOS A) Justifique o surgimento do romantismo na literatura brasileira. B) Discorra sobre cinco autores brasileiros românticos. C) Situe a obra de José de Alencar na literatura brasileira. 111333 III – O Realismo No pós-romantismo surge um poliedro que vai abranger várias tendências literárias, entre elas o realismo. Esse movimento permitirá obras oriundas de autores mulatos, como Machado de Assis e Cruz e Souza e, ao mesmo tempo de outros escritores de classe social menos abastada que os antigos românticos, ligados à classe média e à burocracia do Estado. O mundo literário torna-se estremecido por uma busca de objetividade voltada para a crítica social, bem como a narração de costumes e a procura de uma verdade para os personagens, já não idealizados como antes e mais aproximados do factual. No romance, desenvolvem os autores o espírito analítico, lição que viria desde os franceses Flaubert, Maupassant e Anatole France. De Portugal viriam os textos de Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão e Antero de Quental, que com a polêmica da questão coimbrã, abalaram o espírito romântico lusitano onde pontificava, entre outros, Camilo Castelo Branco. Obsecado pela realidade o autor dessa época não se permite ausentar dos fatos e busca refletir mimeticamente o meio social, desprezando divagações e com estilo deliberadamente sóbrio, preciso, sem rebuscamento, avesso ao provincianismo de então. Opor-se ao romantismo significou para a literatura brasileira afastar-se da poesia indianista e dos condoreiros abolicionistas. Significou uma ênfase em ambientes urbanos e na preocupação formal do estilo. Essa visão do autor como espectador do comportamento humano se dá de modo a permitir a figuraçãointelectual de Machado de Assis. Embora romântico em sua primeira fase, onde inclusive segue a narrativa de modelos femininos ao modo de José de Alencar, Machado desenvolverá a seguir um distanciamento desse padrão com livros que ficarão em nossa literatura como modelos do realismo. Sua obra manterá diálogo mais com os ingleses Sterne, Swift e Charles Dickens, desenvolvendo também um traço de humor que de certo modo anuncia a modernidade. No Brasil o realismo irá comportar também uma linha mais determinista, em que o homem é produto do meio e da sua classe social, sem desprezar o patológico na busca de uma humanidade concreta em diálogo com a fatalidade das leis naturais. Esse momento será considerado por alguns teóricos como naturalismo, em que a razão é esclarecida pela experiência e passa a ser considerado o elemento fisiológico na observação do homem, valorizando-se no escritor a capacidade de retratar o sentido do real, muitas vezes mais atento ao coletivo do que ao individual. Nessa linha, encontraremos na historiografia literária tradicional, Aluízio de Azevedo, Inglês de Souza, Adolfo Caminha, Domingos Olímpio, Rodolfo Teófilo e Raul Pompéia. Caberá ao primeiro um maior impacto com a polêmica despertada pelos seus primeiros livros, que de uma certa forma até hoje permanecem atuais. Quanto aos demais autores, eles fotografam um Brasil de algum modo ainda ausente da ficção romântica, apesar de manter alguns traços desse antigo receituário estético, merecendo, contudo uma releitura pelas veredas abertas no Cânone. Em seus momentos finais iremos encontrar autores para 111444 alguns estudiosos de importância discutível como Coelho Neto, Afrânio Peixoto, Afonso Arinos, Valdomiro Silveira e Monteiro Lobato, que desenvolvem projetos mais ligados ao regionalismo. Costuma-se afirmar haver existido na poesia do Brasil uma escola parnasiana, de índole objetiva e com isenção de ânimo individual, à qual pertenceria Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac. Este último chegou a fazer um tratado de versificação com Guimarães Passos e escreveu poemas voltados a questões edificantes. Esses autores dedicavam-se ao culto da forma, como o ourives a esculpir uma jóia; entendia-se que estariam filiados à coletânea Parnaso Contemporâneo, que incluía a poesia francesa da época, inclusive Charles Baudelaire e Theophile Gautier. A crítica se dedicou a considerar que no parnasianismo haveria o culto a uma espécie de lógica que na busca de clareza expulsaria racionalmente da poesia o seu mistério. Assim o belo e o real seriam equivalentes, ficando a imaginação escrava de uma excêntrica objetividade expressa em obsessivas rimas presentes em sonetos de chave de ouro que eram mais fruto do esforço humano do que do ímpeto romântico. São ainda dessa época Francisca Júlia e o já mencionado Guimarães Passos, além de Vicente de Carvalho. No entanto, a verdade é que Olavo Bilac representou uma visão conservadora da poesia e da nação, prestando-se ao didatismo e ao espírito cívico de seletas pedagógicas. No momento final do chamado parnasianismo encontramos poetas como José Albano, Gilka Machado, Martins Fontes, Raul de Leone e Olegário Mariano. A esses autores, alguns críticos preferem chamar de pré-modernistas, embora mantenham traços de um romantismo a que não puderam completamente renunciar. EXERCÍCIOS A) Comente as características principais do realismo como escola literária. B) Explique possíveis diferenças entre realismo e naturalismo, citando um autor brasileiro para cada experiência literária. C) Esclareça a existência do parnasianismo no Brasil. 111555 IV – Simbolismo/Modernismo Costuma-se considerar autores como Euclides da Cunha, Lima Barreto, Sousândrade e Augusto dos Anjos como pré-modernistas. Isso se deve às ortodoxas teorizações que concluem por apontar o movimento modernista apenas a partir da Semana Paulista de 1922, feita ao modo das vanguardas européias, com happening e manifestos. Embora essa polêmica tenha se cristalizado como certidão de batismo do texto moderno no Brasil, a verdade é que antes desse evento já existiam autores comprometidos com as noções de modernidade estética em literatura. Apenas Lima Barreto e Euclides da Cunha eram nascidos no sudeste; Sousândrade era do Maranhão e Augusto dos Anjos, da Paraíba. Na verdade, no Brasil dessa época latifundiária e escravocrata, estavam surgindo reformas progressistas como a abolição e a república que iriam ser narradas nas obras literárias. Euclides da Cunha nasceu no Rio de Janeiro e deixou em Os Sertões o relato dessa zona geográfica e de seus homens, na luta contra o sofrimento do clima e os hábitos patriarcais. Mesmo assim não ficou imune à ideologia do colonialismo, acreditando no determinismo de raça e de clima, construindo uma obra que incorporou de sua época o espírito científico. Essa consideração etnocêntrica de que a mistura de raças seria prejudicial à sociedade brasileira denota uma certa fragilidade na visão euclidiana, embora sem dúvida Euclides seja um marco da busca do homem brasileiro sem medo da solene sonoridade regional, mostrando às elites o que poderia haver de mais genuíno no país, a partir do universo sertanejo. A Revolta de Canudos é descrita como rebelião da classe oprimida, uma luta camponesa, e coube a Euclides da Cunha conferir grandeza ao trágico massacre do sertão baiano. No entanto esse trabalho já revela uma conduta e sintonia com a modernidade, pelo uso agudo de moralidade que não copia os padrões léxicos coloniais. Ali está o Brasil, em um espelho barroco que incorpora a ciência e denuncia o conflito gerado pelas difíceis condições sociais. Os que leram o escritor também carioca Lima Barreto sabem o quanto ele se identifica com sua obra e com seu país. Não com uma ideia, mas com a sua vivência, não com a aristocracia nem certa classe média e seus artifícios, mas com o Brasil simples e verdadeiro do subúrbio, com seus grandes dramas expostos a nu sem ambiguidade, em um humor muito próximo do cotidiano. Essa dicção de Lima Barreto, sua temática e seus personagens autorizam aos estudos literários considerá-los moderno. É com muita familiaridade que lemos até hoje os seus textos ficcionais, tão próximos de nós parece o seu estilo e a descrição de nossos tipos e enredos. Lima Barreto está a merecer cada vez mais uma releitura contemporânea de sua obra que inaugura um universo que nada deve aos padrões europeus que marcavam a ficção de sua época. Fiel à sua origem de neto de avós de escravos, preto e pobre, discriminado, humilhado, deixou sua queixa heróica em uma obra moderna que até hoje nos comove. Rompeu o cânone com sua voz tão brasileira e suburbana, inovando com a crítica social o diletantismo vazio que existia em nossa literatura. Militância e lucidez são os seus sinônimos, a despeito da marginalidade que alguma crítica oficial procurou instalar em seu perfil sobre os estereótipos de alcoolismo e loucura. Jornalista, denunciou o jogo de poder 111666 presente na corrupção política e retratou em todos os livros o Rio de Janeiro que ao modo de um flaneur baudelaireano tanto amou. Sousândrade é também um autor que tem uma atuação moderna na literatura brasileira. Alguns críticos, não sabendo contextualizar a sua obra, procuram enquadrá-lo num passado que não lhe pertence. Cosmopolita, esse escritor maranhense visitou a América Latina, morando dois anos na Europa e quinze em Nova York. Essa relação Brasil, Europa, e as Américas Latina e do Norte vão permitir uma visão pós-colonial do Brasil ainda em pleno século XIX, em um interculturalismoque caminha desde os índios dos Andes e da Amazônia até a sociedade capitalista em desenvolvimento nos Estados Unidos. Estudos de Augusto e Haroldo de Campos, além de Luiza Lobo tem procurado resgatar a importância e celebrar fontes épicas e antecipações modernas do autor maranhense, que incorporou influências do americano Walter Whitman e alguns recursos de Ezra Pound. Cinquenta e cinco anos antes do manifesto antropófago de Oswald de Andrade, Sousândrade já era uma antecipação dessa antropofagia presente em seus poemas, os quais são anteriores aos versos do simbolista brasileiro Cruz e Souza. O paraibano Augusto dos Anjos registrou com sua obra a modernidade no Brasil, a partir de elementos dos quais tomava conhecimento em suplementos literários franceses que lia em sua terra com frequência. Leitor de Baudelaire, incorporou a seus versos o vocabulário científico da Escola do Recife, ao tempo em que estudou Direito nessa cidade, que está fotografada em vários de seus poemas. A voz de Augusto é o grito do Nordeste, recortado em estremecimento, angústia e perplexidade diante do painel desolador de alguns aspectos do mundo. Sua entonação, se não despreza a rima e a métrica, introduz o leitor em uma atmosfera que, se tem o imaginário da transição simbolista, emprega com audácia expressões avessas a um falso distanciamento, admitindo o feio e o horror na sequência de metáforas contundentes que até hoje provocam rejeição em certos espíritos superficiais. O seu único livro foi publicado em 1912, dez anos antes da Semana de Arte Moderna de São Paulo e apresenta conquistas estéticas que inauguram a poesia moderna de um modo tão brasileiro, pela fidelidade ao espírito e à dicção de nosso povo, que até hoje as pessoas no Brasil, independentemente de regiões, dizem seus poemas de cor nas ruas, nas escolas, nas residências, nos bares, onde se possa imaginar. Sua temática vai desde questões filosóficas e religiosas a aspectos existenciais e amorosos, além do cientifico já mencionado. Desejar estudá-lo como pré-modernista, como fazem alguns críticos, é relegar o exercício da modernidade a aspectos meramente burocráticos e complementares – os manifestos - que embora tenham seu valor, nem sempre podem servir de marco nem certidão de batismo aos movimentos literários de uma cultura. A dinâmica da vida e da morte, a sombra do sofrimento, a dor, a alucinação, a angústia, tudo isso, tão próximo do simbolismo, recebem de Augusto o tratamento de choque de uma realidade dominadora, que triunfa obscurecendo qualquer idealismo metafísico e abrindo espaço para uma exposição ritualística da realidade. 111777 EXERCÍCIOS A) Enuncie as principais características estéticas da obra de Lima Barreto e Augusto dos Anjos. B) Mencione que antecipações trazem os livros de Euclides da Cunha e Sousândrade. C) Explique a importância do simbolismo para a modernidade no Brasil. V – Vanguardas/Contemporânea No estudo da literatura brasileira destaca-se a presença da vanguarda e seu percurso a partir das várias linhas que a desenvolveram. Se o simbolismo deixa uma herança na poesia que vai impregnar uma certa frequentação especial de versos, logo a seguir movimentos mais radicais irão direcionar a percepção e o modo de sentir dos que formam o povo e a cultura brasileira. Assim é o futurismo, defendido em 1909 por Marinetti, assim é o cubismo de Apollinaire, o dadaísmo de Tristan Tzara, o surrealismo de André Breton. Acompanhados habitualmente por manifestos, esses momentos da poesia do início do século XX vão abrir perspectivas de espaço, imagem e palavra. Enquanto em Portugal a geração Orpheu desatava o nó da tradição estética, no Brasil autores como Oswald de Andrade passam a provocar a poesia oficial e bem comportada, organizando em São Paulo no ano de 1922 a Semana de Arte Moderna, que ridicularizou o verso dos poetas parnasianos através inclusive do poema Os Sapos de Manuel Bandeira. Da lavra de Oswald também o manifesto da poesia pau-brasil, em 1924, seguido pelo manifesto antropófago de 1928. Esse espírito moderno de que falaram Graça Aranha e Joaquim Inojosa dará um novo impulso à literatura brasileira, inclusive com a edição das revistas Klaxon e Festa. Com o surgimento da poesia do mineiro Carlos Drummond de Andrade, o verso brasileiro se destaca com personalidade no contexto ocidental, no que seria sequenciado pelo trabalho do pernambucano João Cabral de Melo Neto, que conseguirá fazer vanguarda sem se 111888 perder completamente do encantamento e magia da tradição estética ibero americana. Se em Drummond a lírica incorpora falares íntimos do cotidiano ao modo brasileiro já defendido desde a Semana de 1922, João Cabral se volta para o cenário nordestino, elevando uma voz aguda e áspera, uma faca só lâmina a denunciar o sofrimento e a miséria do povo do nordeste, utilizando-se, contudo, de recursos de vanguarda que vão do surrealismo à deconstrução experimental do romanceiro ibérico. A poesia de Cabral irá despertar o chamado concretismo, assinado pelo saudoso Haroldo de Campos, Décio Pignatari e Augusto de Campos. É a proposta de uma poesia que passa a considerar o espaço gráfico como agente estrutural, desenvolvendo a composição de uma sintaxe que procura dispensar a discursividade e sai perseguindo ideogramas através de montagens, acreditando ser possível o poema como objeto em si mesmo. A seguir, temerosos do excesso de racionalismo, haverá o manifesto neo concreto de Ferreira Gullar, Reynaldo Jardim e outros, defendendo a transcendência do poema diante do espaço mecânico, incorporando a página com seu silêncio e o tempo. Influenciado pela terminologia da área econômica e industrial, surgirá o poema-praxis referido como manifesto no posfácio do livro Lavra-lavra de Mário Chamie. Neste caso, imagina-se uma anti-poesia, comprometida com a produção, onde a palavra é compreendida em sua função semiótica. De qualquer forma, não deixa esta de pertencer também ao domínio teórico da poesia concreta. Já no final dos anos 60, Vlademir Dias Pino e Álvaro de Sá propõem um manifesto do chamado poema/processo, explorando possibilidades de signos não verbais e na verdade, transformando o poema de objeto cultural em objeto material, bem próximo da fronteira com a publicidade e congêneres. Apesar de já existirem no Brasil texto ficcionais que inauguraram a modernidade, quer do ponto de vista da linguagem, quer do ponto de vista da cultura brasileira, a Semana Paulista de 1922 vai criar condições para o surgimento de um livro como Macunaíma de Mário de Andrade, em que se procura encontrar a raiz de formação da nossa cultura com a fusão das etnias desse tempo. O chamado herói sem nenhum caráter, embora destrate qualquer perspectiva de altivez do povo brasileiro leva a desculpa do humor para desenhar um perfil caricatural do homem do Brasil e, no entanto essa visão passa a ser um referencial da entrada da ficção brasileira no território da modernidade. No nordeste, a partir da década de 30, começa a surgir um grupo de escritores que defendem o regionalismo diante dos experimentalismos do sudeste. E é a partir desse grupo que podemos falar em literatura brasileira contemporânea. São eles José Américo de Almeida, da Paraíba, Raquel de Queiroz, do Ceará, Jorge Amado, da Bahia, Graciliano Ramos, das Alagoas, José Lins do Rego, também da Paraíba, entre outros. Esses autores são sinônimos da contribuição ficcional brasileira à estética contemporânea, assim como o mineiro Guimarães Rosa e a ucraniana naturalizada brasileira Clarice Lispector. Esses dois últimos atravessaram sem medoos desafios da linguagem da ficção contemporânea, levando o Brasil a estantes universais. Na sequência, outras gerações foram tendo visibilidade, autores como Campos de Carvalho, Sérgio Santana, Inácio de Loyola Brandão, Antônio Torres, Raimundo Carrero, Fernando Monteiro, Caio Fernando Abreu, Cláudio Aguiar, Lígia Fagundes Teles, Nélida Piñon, Edla Van Steen, Luzilá Gonçalves Ferreira e outros – são alguns dos que compõe o atuante cenário da ficção brasileira contemporânea. 111999 EXERCÍCIOS A) Comente sobre o experimentalismo na poesia brasileira. B) Destaque a importância de Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto na lírica contemporânea. C) Explique o desenvolvimento da ficção brasileira desde os anos 30 do século XX até a atualidade.
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