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Aula 6 Modelos clássicos da análise sociológica a contribuição de Émile Durkheim

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Aula 6: Modelos clássicos da análise sociológica: a contribuição de Émile Durkheim
	OBJETIVO DESTA AULA
	Ao final desta aula, você será capaz de:
1) Definir o que é fato social e suas características;
2) Listar a classificação dos fatos sociais como normais e patológicos;
3) Identificar o crime como fato social e, através do método proposto por Durkheim;
4) Reconhecer a noção de consciência coletiva enquanto fenômeno associado às formas de solidariedade social;
5) Avaliar a influência da sociedade sobre comportamentos;
6) Analisar a evolução das formas de organização social (simples e complexa) do ponto de vista dos laços existentes entre o indivíduo e a sociedade (solidariedade social);
7) Descrever os mecanismos pelos quais a consciência coletiva nas modernas sociedades constrói a gradação dos níveis de patologia social presentes nas sociedades.
	
OBS.: Como vimos na aula anterior, Augusto Comte formulou a primeira tentativa de criação de uma "ciência do social"; 
Contudo, foi com Émile Durkheim que a Sociologia se constitui como uma disciplina rigorosamente científica, ao definir seu objeto e estudo e consagrar-lhe um método de investigação.
Nesta aula vamos estudar a contribuição desse autor para a compreensão dos fenômenos sociais, especialmente no que tange aos fenômenos coletivos.
ÉMILE DURKHEIM
É o criador a da Escola sociológica Francesa.
Com ele, a sociologia se constitui como uma disciplina rigorosamente científica.
Émile Durkheim define o objeto da sociologia como fatos sociais e atribui-lhes um método de investigação: a análise objetiva dos fatos sociais, que deveriam ser estudados como “coisas”, ou seja, o investigador deveria manter uma relação de objetividade com o objeto estudando, desfazendo-se de qualquer pré-noção em relação a eles.
Fatos Sociais
Em seu livro As Regras do Método Sociológico, Durkheim define os fatos sociais como “maneiras de agir, pensar e sentir que apresentam a característica marcante de existir fora da consciência individual”.
Estes tipos de conduta ou de pensamentos não são apenas exteriores aos indivíduos, são também gerais na extensão de toda sociedade conhecida e dada, são dotados de um poder imperativo e coercitivo que constituí características intrínsecas de tais fatos.
Para Durkheim, a sociedade, como todo organismo apresenta estados normais e patológicos (saudáveis e doentios).
Fato social Normal
É normal o fato de que não extrapola os limites dos conhecimentos mais gerais de uma determinada sociedade e que refletem os valores e as condutas aceitas pela maior parte da população.
Por isso, em sua concepção, o crime é considerado um fato social normal, porque pode ser entendido como necessário (útil) para uma sociedade, pois, se a consciência coletiva (moral) fosse excessiva, se cristalizaria e a consciência individual inovadora não se manifestaria.
Desse modo, onde o crime existe os sentimentos coletivos estão no estado de maleabilidade necessária para tomar uma nova forma: ele representa um fato social que integra as pessoas em torno de uma conduta valorativa, que pune o comportado considerado nocivo, que fere a consciência coletiva.
REFLEXÃO: Quando os sentimentos coletivos são fortemente atingidos, algumas ofensas passam de faltas morais para delitos e crimes. É por essa lógica que ele irá avaliar o castigo imposto não como forma de acabar com o crime, mas sim para mantê-lo na taxa social “média”.
De Perto Ninguém é Normal...
“Mas eu também sei ser careta
De perto ninguém é normal
Às vezes segue em linha reta
A vida, que é meu bem, meu mal”.
 Caetano Veloso, em “Vaca Profana”
Profeta Gentileza: Louco? Visionário? Vejam a referência ao uso (irracional) da natureza pelos “normais”.
Fato social Patológico
É todo fato que extrapola os limites aceitos pela consciência coletiva vigente em uma sociedade, é o comportamento tido com desviante. São fatos que põe em risco a harmonia e o consenso representa um estado mórbido da sociedade. Eles são transitórios e excepcionais, assim como as doenças.
Normalidade-Patologia 
O que é normal? Quais os parâmetros para diferenciar o “normal” do “anormal”?
É importante que você tenha em mente o conceito de normalidade é discutível. O que chamamos de “normal” varia de sociedade para sociedade.
Segundo Richard Miskolci: Os “anormais nada mais são do que construções naturalizadas, as quais derivam de relações de poder que atribuem a eles uma posição de inferioridade e submissão na ordem social. Nossos corpos socializados trazem o passado ao presente e contribuem para a manutenção das categorias e da hierarquia imposta pelo padrão de normalidade burguês. Assim, a desigualdade de poder chega aos indivíduos nos seus próprios corpos e no uso destes, dos prazeres e capacidades reprodutivas”.
Em seu livro Da Divisão do Trabalho Social, Durkheim definiu consciência coletiva ou consciência comum como “o conjunto de crenças e de sentimentos comuns entre os membros de uma mesma sociedade”.
Ele afirma que ela forma um sistema determinado que tem sua vida própria.
“Sem dúvida, ela não tem como substrato um órgão único; é, por definição, difusa, ocupando toda a extensão da sociedade; mas nem por isso deixa de ter características específicas, que a tornam uma realidade distinta. Com efeito, ela é independente das condições particulares em que se situam os indivíduos. Estes passam, ela fica. É a mesma n Norte e no sul, nas grandes e nas pequenas cidades, na s diferentes profissões. Por outro lado, não muda em cada geração, mas, ao contrário, ligam as gerações que se sucedem. Portanto, não se confunde com aas consciências particulares, embora se realize apenas nos indivíduos. É o tipo psíquico da sociedade, tipo que tem suas propriedades, condições de existência, seu modo de desenvolvimento, exatamente como os tipos individuais, embora de outra maneira”.
Pode ser verificada em fenômenos coletivos típicos, expresso através de uma forma de consciência que contrapõe indivíduo/sociedade. As torcidas organizadas e os grandes festivais de música, por exemplo, representam fenômenos coletivos típicos, expressos através de uma forma de consciência que contrapõe indivíduo/sociedade.
Anomia
É a ausência, desintegração ou inversão das normas vigentes em e uma sociedade, neste caso, a consciência “perde” os parâmetros de julgamento da realidade. Ela vai acontecer em momentos extremos, tais como guerras, desastres ecológicos, econômicos, etc.
Divisão do Trabalho Social
É a organização da sociedade em diferentes funções, exercidas pelos indivíduos ou grupos de indivíduos. Nas sociedades mais simples predomina a divisão social do trabalho, baseada principalmente em critérios biológicos de sexo e idade. Essa divisão parece decorrer de uma extensão analógica das diferenças naturais de funções entre membros de um grupo. Durkheim classifica a forma de sociedade social deste tipo de sociedade mecânica.
Nas sociedades mais complexas, em especial quando tem início o desenvolvimento da agricultura, a sedentarização e o sistema de propriedade privada, surge uma divisão social mais complexa, com a criação de novas funções sociais. A indústria foi o sistema produtivo que mais desenvolveu a divisão social do trabalho, criando uma imensa gama de funções e atribuições diferenciadas. Durkheim classifica a forma de solidariedade social deste tipo de sociedade de solidariedade orgânica.
ATENÇÃO: A divisão social do trabalho envolve sempre uma divisão não só de funções, mas também de privilégios, regalias e poder.
ATIVIDADE PROPOSTA
Leia a citação abaixo e responda a questão:
“Crime contra índio Pataxó comove o país (...). Em amais um triste ‘Dia do Índio’, Galdino saiu à noite com outros indígenas para uma confraternização na FUNAI. Ao voltar, perdeu-se nas ruas de Brasília (...). Cansado sentou-se num banco de parada de ônibus e adormeceu. Às 5 horas da manhã Galdino acordou ardendo numa grande labareda de fogo. Um grupo “insuspeito” de cinco jovens de classe média alta,entre eles um menor de idade, (...) parou o veículo na avenida W/2 Sul e, enquanto um manteve-se ao volante, os outros quatro dirigiram-se até a avenida W/3 Sul, local onde se encontrava a vítima. Logo após jogar combustível, atearam fogo no corpo. Foram flagrados por outros jovens corajosos, ocupante s do veículo que passava no local e prestaram socorro a vitima. Os criminosos foram presos e conduzidos à 1ª Delegacia de Polícia do PF onde confessaram ao ato monstruoso. Aí, a estupefação: ‘os jovens queriam apenas se divertir’ e pensavam tratar-se de um mendigo, não de um índio’ o HRAN, Galdino, homem a quem incendiaram. Levado ainda consciente para o Hospitala Regional da Asa Norte – 95% do corpo com queimaduras de 3° grau ... faleceu às 2 horas da madrugada de hoje”. Conselho Indigenista Missionário – Cimi, Brasília-DF, 21 abr. 1997. (Questão adaptada da parte geral do ENADE 2004).
A partir da perspectiva sociológica de Durkheim, como você analisaria o crime cometido por estes jovens? Deve-se interpretar, nessa perspectiva, a transgressão da juventude como um dado natural?
RESPOSTA: Para Durkheim, o crime, enquanto acontecimento que se repete, é um fato social normal. Contudo, crimes dessa natureza excedem o limite do tolerável pela sociedade e são vistos como patológicos pela coletividade. A transgressão da juventude é um dado socialmente construído.
SÍNTESE DA AULA
Nesta aula, você:
Aprendeu os principais conceitos da sociologia de Émile Durkheim;
Deu-se conta de que as noções de normalidade e patologia variam de sociedade para sociedade, pois cada uma delas possui suas próprias representações coletivas;
Atentou para a importância da análise dos fenômenos coletivos para a compreensão da vida em sociedade.

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