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Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
Processo não comentado por não ter sido concluído em virtude de pedido de vista: Ext 1362/DF. 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
MINISTÉRIO PÚBLICO 
 O ato de vitaliciamento tem natureza de ato administrativo, e, assim, se sujeita ao controle de legalidade do CNMP. 
 
VAQUEJADA 
 É inconstitucional a prática da vaquejada. 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
CONSELHOS PROFISSIONAIS 
 Constitucionalidade da Lei 12.514/2011. 
 
DIREITO AMBIENTAL 
VAQUEJADA 
 É inconstitucional a prática da vaquejada. 
 
DIREITO PENAL 
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
 Provedor clandestino de internet sem fio. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA 
 É possível o início da execução da pena condenatória após a prolação de acórdão condenatório em 2º grau. 
 
INDULTO NATALINO 
 Condenado que pratica falta grave nos 12 meses antes da publicação do decreto de indulto natalino não terá 
direito ao benefício mesmo que a homologação ocorra após o decreto. 
 
DIREITO PENAL PROCESSUAL PENAL MIILTAR 
COMPETÊNCIA 
 Ex-militar que continua recebendo e sacando indevidamente o soldo mesmo após ter sido desincorporado pratica 
crime militar. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
TAXAS 
 Princípio da legalidade tributária e lei que delega a fixação do valor da taxa para ato infralegal, desde que 
respeitados os parâmetros máximos. 
 
CONTRIBUIÇÕES 
 Constitucionalidade da Lei 12.514/2011. 
 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO 
O ato de vitaliciamento tem natureza de ato administrativo, 
e, assim, se sujeita ao controle de legalidade do CNMP 
 
Determinado Promotor de Justiça foi considerado aprovado no estágio probatório pelo Colégio 
de Procuradores do MP. O CNMP, de ofício, reformou esta decisão e negou o vitaliciamento do 
Promotor, determinando a sua exoneração. 
O STF considerou legítima a atuação do CNMP. 
O ato de vitaliciamento tem natureza de ato administrativo, e, assim, se sujeita ao controle de 
legalidade do CNMP, por força do art. 130-A, § 2º, II, da CF/88, cuja previsão se harmoniza 
perfeitamente com o art. 128, § 5º, I, "a", do texto constitucional. 
Vale ressaltar que, quando o CNMP tomou esta decisão, o referido Promotor já estava suspenso 
do exercício de suas funções e não chegou a completar 2 anos de efetivo exercício. Logo, como 
o Promotor ainda não havia acabado seu estágio probatório, poderia perder o cargo por 
decisão administrativa, não sendo necessária sentença judicial transitada em julgado (art. 
128, § 5º, I, "a", da CF/88). 
STF. 2ª Turma. MS 27542/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 04/10/2016 (Info 842). 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
"TFS" era Promotor de Justiça em São Paulo desde 13/09/2003. 
Em 29/12/2004, ou seja, ainda durante o estágio probatório, ele se envolveu em um incidente e acabou 
matando uma pessoa. 
Em decorrência desse fato, ele foi denunciado criminalmente pela prática de homicídio e, além disso, 
instaurou-se um procedimento administrativo no âmbito do Ministério Público. 
 
Decisão do MP/SP 
Em 2007, antes que a ação penal fosse julgada, o Colégio de Procuradores de Justiça do MP/SP decidiu que 
"TFS" deveria ser aprovado no estágio probatório e continuar no cargo de Promotor. 
 
Decisão do CNMP 
O CNMP não concordou com a decisão do Colégio de Procuradores e, em 2008, decidiu reformar a decisão 
do MP/SP e negar o vitaliciamento de "TFS", exonerando-o do cargo. 
 
Mandado de segurança 
"TFS" impetrou no STF mandado de segurança contra a decisão do CNMP (art. 102, I, "r", da CF/88). 
No writ, o autor alegou que entrou em exercício em 13/09/2003 e, portanto, tornou-se vitalício em 
13/09/2005. Desse modo, depois de se tornar vitalício, somente poderia perder o cargo em virtude de 
sentença judicial transitada em julgado (art. 128, § 5º, I, "a", da CF/88). Assim, quando o CNMP o julgou, 
ele já era vitalício e não poderia perder o cargo por decisão administrativa do Conselho. 
O Ministro Relator concedeu a liminar para que o autor permanecesse no cargo de Promotor enquanto 
aguardava o julgamento do MS. 
 
Resultado da ação criminal 
Em 2015, o TJ/SP absolveu "TFS" sob o argumento de legítima defesa. Foi interposto recurso contra esta 
decisão, ainda não julgado. 
 
 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
Em 2016, o MS foi julgado. O STF concedeu a segurança e manteve o Promotor no cargo? 
NÃO. 
 
Competência do CNMP 
O CNMP, enquanto órgão administrativo, tinha competência para reformar a decisão do Colégio de 
Procuradores de Justiça que havia se manifestado pelo vitaliciamento do Promotor. 
O ato de vitaliciamento (decisão pela permanência de membro em estágio probatório nos quadros da 
instituição) tem natureza de ato administrativo, e, assim, se sujeita ao controle de legalidade do CNMP, 
nos termos do art. 130-A, § 2º, II, da CF/88: 
Art. 130-A (...) 
§ 2º Compete ao Conselho Nacional do Ministério Público o controle da atuação administrativa e 
financeira do Ministério Público e do cumprimento dos deveres funcionais de seus membros, cabendo lhe: 
(...) 
II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos 
administrativos praticados por membros ou órgãos do Ministério Público da União e dos Estados, podendo 
desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato 
cumprimento da lei, sem prejuízo da competência dos Tribunais de Contas; 
 
Mas e o argumento do autor de que a decisão do CNMP foi tomada em 2008, ou seja, depois de ele já ter 
passado pelo prazo de 2 anos do estágio probatório e, portanto, já estar nesta época vitaliciado? Esta 
alegação procede? 
NÃO. Isso porque o caso concreto tinha uma peculiaridade: em 2005, ou seja, ainda durante o estágio 
probatório, o Corregedor-Geral do MP/SP apresentou um pedido de impugnação ao vitaliciamento de 
"TFS". Segundo a Lei Orgânica Nacional do MP (Lei nº 8.625/93), nestes casos, o exercício da função fica 
suspenso. Confira: 
Art. 60. Suspende-se, até definitivo julgamento, o exercício funcional de membro do Ministério Público 
quando, antes do decurso do prazo de dois anos, houver impugnação de seu vitaliciamento. 
 
Vejamos novamente a cronologia dos fatos: 
 13/09/2003: "TFS" entra em exercício no cargo. 
 29/12/2004: "TFS" envolve-se na morte de um jovem. 
 Fevereiro/2005: Corregedor do MP impugna o vitaliciamento (suspensão da função). 
 29/08/2007: Colégio de Procuradores decide pelo vitaliciamento. 
 03/09/2007: CNMP instaura, de ofício, PCA para apurar o caso. 
 02/06/2008: CNMP reforma a decisão do MP/SP e nega o vitaliciamento. 
 
No caso concreto, "TFS" não teve 2 anos de efetivo exercício do cargo, considerando que o exercício de 
sua função foi suspenso, durante o estágio probatório, quando houve a impugnação ao vitaliciamento 
formulada pelo Corregedor. 
 
E o julgado penal que absolveu "TFS"? 
Não interfere no julgamento do MS. 
As instâncias cível, penal e administrativa são independentes, não havendo que se falar em violação do 
princípio da presunção de inocência pela aplicação de sanção administrativa por descumprimento de 
dever funcional, fixada em processo disciplinar legitimamente instaurado antes de finalizado o processo 
penal em que apurados os mesmo fatos. Nesse sentido: 
(...) Independência entre as esferas penal e administrativa, salvo quando, na instância penal, se decida 
pela inexistência material do fato ou pela negativa de autoria, casos em que essas conclusões repercutem 
na seara administrativa. (...) 
STF. Plenário. MS 26988 AgR-terceiro,Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 18/12/2013. 
 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
 
VAQUEJADA 
É inconstitucional a prática da vaquejada 
 
Importante!!! 
É inconstitucional lei estadual que regulamenta a atividade da “vaquejada”. 
Segundo decidiu o STF, os animais envolvidos nesta prática sofrem tratamento cruel, razão 
pela qual esta atividade contraria o art. 225, § 1º, VII, da CF/88. 
A crueldade provocada pela “vaquejada” faz com que, mesmo sendo esta uma atividade 
cultural, não possa ser permitida. 
A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos culturais, incentivando a 
valorização e a difusão das manifestações, não prescinde da observância do disposto no inciso 
VII do § 1º do art. 225 da CF/88, que veda práticas que submetam os animais à crueldade. 
STF. Plenário. ADI 4983/CE, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 06/10/2016 (Info 842). 
 
Veja comentários em Direito Ambiental. 
 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
CONSELHOS PROFISSIONAIS 
Constitucionalidade da Lei 12.514/2011 
 
A Lei nº 12.514/2011, que trata sobre as contribuições (anuidades) devidas aos Conselhos 
Profissionais, é constitucional. 
Sob o ponto de vista formal, esta Lei, apesar de ser fruto de uma MP que originalmente 
dispunha sobre outro assunto, não pode ser declarada inconstitucional porque foi editada 
antes de o STF declarar ilegítima a prática do “contrabando legislativo” (ADI 5127/DF). 
Ainda quanto ao aspecto formal, esta Lei não trata sobre normas gerais de Direito Tributário, 
motivo pelo qual não precisava ser veiculada por lei complementar. 
Sob o ponto de vista material, a Lei respeitou os princípios da capacidade contributiva, da 
vedação ao confisco e da legalidade. 
STF. Plenário. ADI 4697/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 06/10/2016 (Info 842). 
 
NOÇÕES GERAIS SOBRE AS ANUIDADES COBRADAS PELOS CONSELHOS PROFISSIONAIS 
Qual é a natureza jurídica dos Conselhos Profissionais (exs.: CREA, CRM, COREN, CRO etc.)? 
Os Conselhos Profissionais possuem natureza jurídica de autarquias federais. 
Exceção: a OAB que, segundo a concepção majoritária, é um serviço público independente, categoria 
ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro. 
 
Anuidades 
Os Conselhos podem cobrar um valor todos os anos dos profissionais que integram a sua categoria. A isso 
se dá o nome de anuidade (art. 4º, II, da Lei nº 12.514/2011). Veja o que diz também a Lei nº 11.000/2004: 
Art. 2º Os Conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas são autorizados a fixar, cobrar e 
executar as contribuições anuais, devidas por pessoas físicas ou jurídicas, bem como as multas e os preços 
de serviços, relacionados com suas atribuições legais, que constituirão receitas próprias de cada Conselho. 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
 
Qual é a natureza jurídica dessas anuidades? 
Tais contribuições são consideradas tributo, sendo classificadas como “contribuições profissionais ou 
corporativas”. 
 
Fato gerador 
O fato gerador das anuidades é a existência de inscrição no conselho, ainda que por tempo limitado, ao 
longo do exercício (art. 5º da Lei nº 12.514/2011). 
 
Limites legais para os valores da anuidade 
A Lei nº 12.514/2011 fixa valores máximos para as anuidades que serão instituídas pelos Conselhos. Veja: 
Art. 6º As anuidades cobradas pelo conselho serão no valor de: 
I - para profissionais de nível superior: até R$ 500,00 (quinhentos reais); 
II - para profissionais de nível técnico: até R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais); e 
III - para pessoas jurídicas, conforme o capital social, os seguintes valores máximos: 
a) até R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais): R$ 500,00 (quinhentos reais); 
b) acima de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) e até R$ 200.000,00 (duzentos mil reais): R$ 1.000,00 (mil 
reais); 
c) acima de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) e até R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais): R$ 1.500,00 (mil 
e quinhentos reais); 
d) acima de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) e até R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais): R$ 2.000,00 
(dois mil reais); 
e) acima de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) e até R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais): R$ 
2.500,00 (dois mil e quinhentos reais); 
f) acima de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais) e até R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais): R$ 
3.000,00 (três mil reais); 
g) acima de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais): R$ 4.000,00 (quatro mil reais). 
§ 1º Os valores das anuidades serão reajustados de acordo com a variação integral do Índice Nacional de 
Preços ao Consumidor - INPC, calculado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 
ou pelo índice oficial que venha a substituí-lo. 
§ 2º O valor exato da anuidade, o desconto para profissionais recém-inscritos, os critérios de isenção para 
profissionais, as regras de recuperação de créditos, as regras de parcelamento, garantido o mínimo de 5 
(cinco) vezes, e a concessão de descontos para pagamento antecipado ou à vista, serão estabelecidos 
pelos respectivos conselhos federais. 
 
Art. 7º Os Conselhos poderão deixar de promover a cobrança judicial de valores inferiores a 10 (dez) vezes 
o valor de que trata o inciso I do art. 6º. 
 
Obs: em razão de não possuir natureza jurídica de autarquia, a OAB não está vinculada a esses valores, 
podendo fixar anuidade em patamares superiores. 
 
Execução fiscal 
Como a anuidade é um tributo e os Conselhos profissionais são autarquias, em caso de inadimplemento, o 
valor devido é cobrado por meio de uma execução fiscal. 
 
Competência 
A execução fiscal, nesse caso, é de competência da Justiça Federal, tendo em vista que os Conselhos são 
autarquias federais (Súmula 66 do STJ). 
 
 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
Lei nº 12.514/2011 fixou número mínimo de anuidades em atraso para ajuizamento da execução 
O volume de inadimplência nesses Conselhos profissionais é muito alto, o que fazia com que fossem 
ajuizadas, anualmente, milhares de execuções fiscais, a maioria referente a pequenos valores, 
abarrotando a Justiça Federal. Além disso, o custo do processo judicial muitas vezes era superior ao 
crédito perseguido por meio da execução. 
Pensando nisso, o legislador editou a Lei nº 12.514/2011, trazendo uma restrição de valor para que o 
Conselho possa ajuizar a execução fiscal cobrando as anuidades em atraso. Veja: 
Art. 8º Os Conselhos não executarão judicialmente dívidas referentes a anuidades inferiores a 4 (quatro) 
vezes o valor cobrado anualmente da pessoa física ou jurídica inadimplente. 
 
Desse modo, o art. 8º da Lei acima referida traz uma nova condição para que os Conselhos profissionais 
ajuízem execuções fiscais: o total da quantia executada deverá ser, no mínimo, quatro vezes o valor da 
anuidade. Na prática, o Conselho precisa aguardar que o profissional fique inadimplente 4 anos para 
propor a execução fiscal. 
 
Vale ressaltar que, mesmo não podendo ajuizar a execução, os Conselhos poderão tomar outras medidas 
contra o inadimplente, como, por exemplo, suspender seu exercício profissional. Veja: 
Art. 8º (...) Parágrafo único. O disposto no caput não limitará a realização de medidas administrativas de 
cobrança, a aplicação de sanções por violação da ética ou a suspensão do exercício profissional. 
 
Profissional pode pedir o cancelamento da inscrição mesmo que esteja em atraso 
A existência de valores em atraso não obsta o cancelamento ou a suspensão do registro a pedido (art. 9º 
da Lei nº 12.514/2011). 
 
ADI PROPOSTA CONTRA A LEI 12.514/2011 
Como visto acima, a Lei nº 12.514/2011 impôs algumas restrições à cobrança das anuidades pelos 
Conselhos Profissionais. Isso não agradou os Conselhosque, por meio de duas Confederações Nacionais de 
Profissionais, ingressaram com ações diretas de inconstitucionalidade contra a Lei (ADIs 4697 e 4762). 
Nas ações, as autoras alegaram três argumentos, os dois primeiros de inconstitucionalidade formal e o 
último de vício material. 
 
1º) Foram inseridos na MP assuntos diferentes daqueles sobre os quais ela originalmente tratava 
A Lei nº 12.514/2011 é resultado da conversão em lei da Medida Provisória 536/2011. 
Ocorre que a MP 536/2011 tratava, originalmente, apenas das atividades dos médicos residentes e, 
durante sua tramitação, foram acrescentados oito artigos tratando sobre as anuidades dos Conselhos 
Profissionais. 
O Congresso Nacional, ao usar o texto de uma medida provisória para inserir disciplina normativa 
completamente nova, usurpou a competência exclusiva do Presidente da República para a edição de 
disposições normativas urgentes e relevantes. 
As medidas provisórias podem ser objeto de emendas parlamentares, mas desde que tenham a mesma 
pertinência temática tratada originalmente na MP, ou seja, as emendas devem ser do mesmo assunto. 
Desse modo, as autoras pediram que o STF declarasse inconstitucionais os artigos acrescentados pelo 
Congresso Nacional e que tratam sobre as anuidades considerando que eles teriam sido inseridos 
indevidamente durante a tramitação da MP. 
 
2º) O assunto “anuidade dos Conselhos Profissionais” somente poderia ser tratado por lei complementar 
O segundo argumento exposto nas ADIs foi o de que a Lei nº 12.514/2011 versou sobre anuidade de 
Conselhos Profissionais e que isso consiste em tributo. Assim, de acordo com a tese das autoras, a Lei nº 
12.514/2011 tratou sobre normas gerais de Direito Tributário (constituição de obrigação, lançamento e 
crédito tributário), o que não poderia ter sido feito porque esses assuntos exigem lei complementar, nos 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
termos do art. 146, III, da CF/88: 
Art. 146. Cabe à lei complementar: 
III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: 
 
3º) Violação à capacidade contributiva e ao confisco 
O terceiro argumento foi o de que a Lei nº 12.514/2011 violou o princípio da capacidade contributiva e do 
confisco. “A norma aqui rechaçada não considera a condição pessoal de cada contribuinte, especialmente 
no que tange à heterogeneidade brasileira e da multiplicidade de remunerações praticadas em todo o 
vasto território brasileiro”. 
A lei prevê cobrança de anuidade de R$ 500,00 para profissionais de nível superior e de R$ 250, para os de 
nível médio sem atentar para as peculiaridades de cada profissional. 
Desse modo, para aqueles que ganham muito bem, o valor da anuidade será insignificante, enquanto que 
para os que recebem baixas remunerações, a quantia a ser paga representará quase que um confisco. 
 
As teses invocadas pelas autoras foram acolhidas pelo STF? A Lei nº 12.514/2011 é inconstitucional? 
NÃO. 
 
Pertinência temática e contrabando legislativo 
Realmente, o STF, ao julgar a ADI 5127/DF, fixou o entendimento de que, durante a tramitação de uma 
MP, os parlamentares só podem apresentar emendas caso estas possuam pertinência temática com a 
proposta original. Vamos relembrar o que foi decidido: 
Durante a tramitação de uma medida provisória no Congresso Nacional, os parlamentares poderão 
apresentar emendas? 
SIM, no entanto, tais emendas deverão ter relação de pertinência temática com a medida provisória que 
está sendo apreciada. Assim, a emenda apresentada deverá ter relação com o assunto tratado na medida 
provisória. 
Desse modo, é incompatível com a Constituição a apresentação de emendas sem relação de pertinência 
temática com medida provisória submetida à sua apreciação. 
A inserção, por meio de emenda parlamentar, de assunto diferente do que é tratado na medida provisória 
que tramita no Congresso Nacional é chamada de "contrabando legislativo", sendo uma prática vedada. 
STF. Plenário. ADI 5127/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 
15/10/2015 (Info 803). 
 
Ocorre que o STF, ao julgar a ADI 5127/DF acima relembrada, decidiu modular os efeitos da decisão. 
Assim, a Corte afirmou que esse entendimento só deverá valer para as medidas provisórias que forem 
convertidas em lei depois da decisão da ADI 5127/DF. 
As medidas provisórias que foram aprovadas antes da ADI 5127/DF, mesmo que nelas tenha havido 
contrabando legislativo, não serão julgadas inconstitucionais. 
É como se o STF tivesse dado uma chance ao Congresso Nacional e, ao mesmo tempo, um alerta: o que já 
foi aprovado não será declarado inconstitucional, porém não faça mais isso. 
Dessa forma, a decisão do STF contrária ao “contrabando legislativo” (ADI 5127/DF) teve eficácia 
prospectiva. A MP 536/2011, que resultou na Lei nº 12.514/2011, foi aprovada antes do mencionado 
precedente, motivo pelo qual não padece de vício de inconstitucionalidade formal. 
 
Criação de anuidade não precisa de lei complementar 
De fato, as anuidades possuem natureza jurídica de contribuições corporativas com caráter tributário. 
No entanto, não houve inconstitucionalidade formal porque não se exige lei complementar para a criação 
de contribuições de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais. 
A Lei nº 12.514/2011 não tratou sobre normas gerais de direito tributário (art. 146, III, da CF/88), mas 
apenas instituiu regras para a cobrança das anuidades. 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
 
Capacidade contributiva, confisco e legalidade 
A progressividade deve incidir sobre todas as espécies tributárias. 
Além disso, para atender ao princípio da igualdade, o pagamento dos tributos deverá atender a 
capacidade contributiva do contribuinte. 
Dessa forma, a progressividade e a capacidade contributiva são os fundamentos normativos do Sistema 
Tributário Nacional. 
Por conta disso, a progressividade e a capacidade contributiva devem estar presentes também na 
cobrança das anuidades que, como vimos, possuem natureza de “contribuições sociais de interesse 
profissional”. 
Na visão do STF, a Lei nº 12.514/2011 respeitou o princípio da capacidade contributiva. Isso porque, 
conforme se observa pelo art. 6º, acima transcrito, foi prevista uma tabela de tributação escalonada. 
Em relação às pessoas físicas, foi fixada uma correlação entre o nível educacional (técnico e superior) e a 
provável disparidade de renda (presume-se que quem é profissional de nível superior, ganhe mais). 
No que tange às pessoas jurídicas, há diferenciação dos valores das anuidades baseada no capital social do 
contribuinte. Essa medida legislativa garante observância à equidade vertical eventualmente aferida entre 
os contribuintes. 
Ainda no que se refere à constitucionalidade material da lei, o STF afirmou que a Lei nº 12.514/2011 
respeitou o princípio da legalidade tributária, considerando que já atribuiu valor exato das anuidades aos 
Conselhos Profissionais, desde que respeitadas as balizas quantitativas da norma. 
Quanto à atualização monetária do tributo, esta pode ser delegada para ser tratada por meio de ato 
infralegal, como foi feito na Lei. 
 
 
 
DIREITO AMBIENTAL 
 
VAQUEJADA 
É inconstitucional a prática da vaquejada 
 
Importante!!! 
É inconstitucional lei estadual que regulamenta a atividade da “vaquejada”. 
Segundo decidiu o STF, os animais envolvidos nesta prática sofrem tratamento cruel, razão 
pela qual esta atividade contraria o art. 225, § 1º, VII, da CF/88. 
A crueldade provocada pela “vaquejada” faz com que, mesmo sendo esta uma atividade 
cultural, não possa ser permitida. 
A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos culturais, incentivando a 
valorização e a difusãodas manifestações, não prescinde da observância do disposto no inciso 
VII do § 1º do art. 225 da CF/88, que veda práticas que submetam os animais à crueldade. 
STF. Plenário. ADI 4983/CE, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 06/10/2016 (Info 842). 
 
Vaquejada 
A vaquejada é uma prática cultural comum nos Estados do nordeste do Brasil, em especial no Ceará, no 
Rio Grande do Norte, na Paraíba, em Alagoas e na Bahia. 
Na vaquejada, dois vaqueiros, cada um montado em seu cavalo, perseguem o boi na arena e, após 
emparelhá-lo com os cavalos, tentam conduzi-lo até uma região delimitada, onde deverão derrubar o boi 
puxando-o pelo rabo. 
Se o boi, quando foi derrubado, ficou, ainda que por alguns instantes, com as quatro patas para cima antes 
de se levantar, o juiz declara ao público “Valeu boi!” e a dupla recebe os pontos. 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
Se o boi caiu, mas não ficou com as patas para cima, o juiz anuncia “Zero!”, e a dupla não pontua. 
Algumas regras mudam de acordo com a organização do evento, mas, em regra, cada dupla enfrenta cinco 
bois. O primeiro vale 8 pontos, o segundo 9 pontos, o terceiro 10 pontos, o quarto 11 e o quinto 12, 
totalizando 50 pontos. 
 
Críticas e defensores 
As associações protetoras dos animais criticam bastante as vaquejadas, alegando que os bois e cavalos 
envolvidos sofrem maus tratos e que, com frequência, ficam com sequelas decorrentes das agressões e do 
estresse que passam. 
Os defensores da atividade, por sua vez, alegam que os animais não sofrem maus tratos e que esta prática 
é centenária, fazendo parte do patrimônio cultural do povo nordestino. Além disso, argumentam que se 
trata de um esporte e que os eventos geram inúmeros empregos e renda para aquela região do país. 
 
Lei 15.299/2013 
O Ceará editou a Lei nº 15.299/2013, regulamentando a atividade de “vaquejada” no Estado. A norma 
fixou os critérios para a competição e obrigou os organizadores a adotarem medidas de segurança para os 
vaqueiros, público e animais. 
O Procurador-Geral da República, no entanto, ajuizou ação direta de inconstitucionalidade contra a lei. 
Segundo a ação, com a profissionalização da vaquejada, algumas práticas passaram a ser adotadas, como 
o enclausuramento dos animais antes de serem lançados à pista, momento em que são açoitados e 
instigados para que entrem agitados na arena quando da abertura do portão. Tais práticas acarretam 
danos e constituem crueldade contra os animais, o que é vedado pelo art. 225, § 1º, VII, da CF/88: 
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e 
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e 
preservá- lo para as presentes e futuras gerações. 
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: 
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função 
ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. 
 
O pedido do PGR foi acolhido pelo STF? A vaquejada foi considerada uma prática contrária à CF? 
SIM. 
 
Conflito de normas constitucionais sobre direitos fundamentais 
O caso em tela revela um conflito de normas constitucionais sobre direitos fundamentais: 
 De um lado, a CF/88 proíbe as práticas que submetam os animais a crueldade (art. 225, § 1º, VII); 
 De outro, o texto constitucional garante o pleno exercício dos direitos culturais, das manifestações culturais 
e determina que o Estado proteja as manifestações das culturas populares (art. 215, caput e § 1º). 
 
Direito fundamental de terceira geração 
O art. 225 da CF/88 consagra a proteção da fauna e da flora como modo de assegurar o direito ao meio 
ambiente sadio e equilibrado. É, portanto, direito fundamental de terceira geração, fundado na 
solidariedade, de caráter coletivo ou difuso, dotado de "altíssimo teor de humanismo e universalidade" 
(BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 523). 
A manutenção do ecossistema é um dever de todos em benefício das gerações do presente e do futuro. 
Nas questões ambientais, o indivíduo é considerado titular do direito e, ao mesmo tempo, destinatário dos 
deveres de proteção. Daí porque a doutrina fala que existe um verdadeiro “direito-dever” fundamental. 
 
Laudos técnicos comprovaram consequências nocivas aos animais 
O PGR juntou aos autos laudos técnicos que comprovam que as vaquejadas provocam consequências 
nocivas à saúde dos bovinos, tais como fraturas nas patas, ruptura dos ligamentos e dos vasos sanguíneos, 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
traumatismos e deslocamento da articulação do rabo e até seu arrancamento, das quais resultam 
comprometimento da medula espinhal e dos nervos espinhais, dores físicas e sofrimento mental. 
Diante desses dados, o STF concluiu que é indiscutível que os animais envolvidos sofrem tratamento cruel, 
o que contraria o art. 225, § 1º, VII, da CF/88. 
 
Proibição da crueldade prevalece sobre a proteção cultural 
O STF entendeu que a crueldade provocada pela “vaquejada” faz com que, mesmo sendo esta uma 
atividade cultural, não possa ser permitida. 
A expressão “crueldade”, constante da parte final do inciso VII do § 1º do art. 225 da CF/88, engloba a 
tortura e os maus-tratos sofridos pelos bovinos durante a prática da vaquejada, de modo a tornar 
intolerável esta conduta que havia sido autorizada pela norma estadual impugnada. 
Assim, mesmo reconhecendo a importância da vaquejada como manifestação cultural regional, esse fator 
não torna a atividade imune aos outros valores constitucionais, em especial à proteção ao meio ambiente. 
 
Resultado 
O placar foi bastante apertado (6x5): 
 Inconstitucionalidade da lei: Ministros Marco Aurélio, Roberto Barroso, Rosa Weber, Ricardo 
Lewandowski, Celso de Mello e Cármen Lúcia. 
 Constitucionalidade da lei (vencidos): Ministros Edson Fachin, Teori Zavascki, Luiz Fux, Dias Toffoli e 
Gilmar Mendes. 
 
Outros casos na jurisprudência do STF em que houve a tensão meio ambiente x manifestação cultural 
Caso "Farra do Boi": 
Pretendia-se a proibição, no Estado de Santa Catarina, da denominada “Festa da Farra do Boi”. 
Aqueles que defenderam a manutenção afirmaram ser uma manifestação popular, de caráter cultural, 
entranhada na sociedade daquela região. 
Os que a impugnaram anotaram a crueldade intrínseca exercida contra os animais bovinos, que eram 
tratados “sob vara” durante o “espetáculo”. 
O STF declarou a prática inconstitucional: 
A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos culturais, incentivando a valorização 
e a difusão das manifestações, não prescinde da observância da norma do inciso VII do artigo 225 da 
Constituição Federal, no que veda prática que acabe por submeter os animais à crueldade. Procedimento 
discrepante da norma constitucional denominado "farra do boi". 
STF. 2ª Turma. RE 153531, Relator(a) p/ Acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 03/06/1997. 
 
"Briga de galo": 
O STF já declarou inconstitucionais algumas leis estaduais que buscavam regulamentar o costume popular 
denominado “briga de galos”. 
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N. 11.366/00 DO ESTADO DE SANTA CATARINA. 
ATO NORMATIVO QUE AUTORIZA E REGULAMENTA A CRIAÇÃO E A EXPOSIÇÃO DE AVES DE RAÇA E A 
REALIZAÇÃO DE "BRIGAS DE GALO". 
A sujeição da vida animal a experiências de crueldade não é compatível com a Constituição do Brasil. 
Precedentes da Corte. Pedido de declaração de inconstitucionalidade julgado procedente. 
STF. Plenário. ADI 2514, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 29/06/2005. 
 
A promoção de briga de galos, além de caracterizar prática criminosa tipificada na legislação ambiental,configura conduta atentatória à Constituição da República, que veda a submissão de animais a atos de 
crueldade, cuja natureza perversa, à semelhança da “farra do boi” (RE 153.531/SC), não permite sejam 
eles qualificados como inocente manifestação cultural, de caráter meramente folclórico. Precedentes. 
- A proteção jurídico-constitucional dispensada à fauna abrange tanto os animais silvestres quanto os 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
domésticos ou domesticados, nesta classe incluídos os galos utilizados em rinhas, pois o texto da Lei 
Fundamental vedou, em cláusula genérica, qualquer forma de submissão de animais a atos de crueldade. (...) 
STF. ADI 1856, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 26/05/2011. 
 
Projeto de lei federal 
Vale ressaltar que tramita no Congresso Nacional um projeto de lei federal (Projeto de Lei 377/2016) com 
o objetivo de regulamentar, em nível nacional, a atividade da vaquejada. 
Depois da decisão do STF, a tramitação desta proposta ganhou novamente força porque se entende que 
seria uma forma de liberar a prática em todo o Brasil. 
Parece, contudo, que a tentativa será inócua. Isso porque o STF declarou a lei do Estado do Ceará 
inconstitucional não pelo fato de ela ser uma lei estadual, mas sim porque o Tribunal entendeu que a 
prática da vaquejada viola o art. 225, § 1º, VII, da CF/88. Assim, salvo se algum Ministro mudar de opinião, 
tenho a impressão de que uma lei federal regulamentando esta prática também será declarada 
inconstitucional. 
Vamos acompanhar e qualquer novidade você será avisado. 
 
 
 
DIREITO PENAL 
 
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
Provedor clandestino de internet sem fio 
 
O réu que disponibiliza provedor de internet sem fio pratica atividade clandestina de 
telecomunicação (art. 183 da Lei nº 9.472/97), de modo que a tipicidade da conduta está 
presente, devendo ser afastada a aplicação do princípio da insignificância mesmo que, no caso 
concreto, a potência fosse inferior a 25 watts, o que é considerado baixa potência, nos termos 
do art. 1º, § 1º, da Lei nº 9.612/98. 
STF. 1ª Turma. HC 118400/RO, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 04/10/2016 (Info 842). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Os fiscais da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) constataram que João mantinha um 
provedor de internet, via rádio, no qual os clientes pagavam a ele mensalmente e recebiam em suas casas 
o sinal da internet. 
Ocorre que João não tinha autorização da ANATEL para exploração desse serviço. 
Foi, então, lavrado auto de infração e encaminhada notícia do fato ao MPF. 
 
A conduta de transmitir sinal de internet, via rádio, como se fosse um provedor de internet, sem 
autorização da ANATEL, configura algum crime? 
SIM. A conduta de transmitir sinal de internet, via rádio, de forma clandestina, caracteriza, em princípio, o 
delito descrito no art. 183 da Lei nº 9.472/97 (STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1483107/RN, Rel. Min. 
Sebastião Reis Júnior, julgado em 01/12/2015). 
 
Veja o que diz este dispositivo legal: 
Art. 183. Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicação: 
Pena - detenção de dois a quatro anos, aumentada da metade se houver dano a terceiro, e multa de R$ 
10.000,00 (dez mil reais). 
 
 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
Mas o art. 183 fala em “atividades de telecomunicação”. O provedor de acesso à internet desenvolve 
atividade de telecomunicação? 
O provedor de acesso à Internet via radiofrequência (internet via rádio) desenvolve dois serviços: 
 um serviço de telecomunicações (Serviço de Comunicação Multimídia); e 
 um Serviço de Valor Adicionado (Serviço de Conexão à Internet). 
 
Dessa forma, a chamada “internet via rádio” pode ser considerada também um serviço de telecomunicação. 
 
Os provedores de internet via rádio precisam de autorização da Anatel para funcionar? 
Prevalece que sim. As atividades de telecomunicação precisam de autorização prévia da ANATEL, salvo se 
forem praticadas dentro de uma mesma edificação ou propriedade (art. 75 da Lei nº 9.472/97). 
 
Em sua defesa o réu alegou o princípio da insignificância, considerando que seu provedor operava com a 
potência de 0,5 Watts, que é muito baixa. Tal alegação é aceita pela jurisprudência majoritária? 
NÃO. 
 
STJ: é pacífico não ser possível a incidência do princípio da insignificância no crime do art. 183 da Lei nº 
9.472/97. Isso porque a instalação de estação clandestina de radiofrequência, sem autorização, já é, por si, 
suficiente para comprometer a segurança, a regularidade e a operabilidade do sistema de 
telecomunicações do país, não podendo, portanto, ser vista como uma lesão inexpressiva. 
Nesse sentido: STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1560335/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado 
em 21/06/2016. 
 
STF: a maioria dos julgados nega aplicação ao princípio da insignificância para o art. 183 (caso envolvendo 
“rádios clandestinas"). No entanto, é possível encontrar alguns acórdãos aplicando o postulado com base 
nas peculiaridades do caso concreto. Nesse sentido: “Embora haja precedentes deste Supremo Tribunal no 
sentido da aplicação do princípio da insignificância aos crimes de rádio clandestina, naqueles julgados 
foram debatidas situações nas quais a inexistência de lesividade estava comprovada pelas autoridades 
competentes, diferente do que se tem na espécie em exame.” (STF. 2ª Turma. HC 135248, Rel. Min. 
Cármen Lúcia, julgado em 23/08/2016). 
 
Na situação noticiada no Informativo 842, o STF decidiu que o réu praticou atividade clandestina de 
telecomunicação por disponibilizar provedor de internet sem fio, de modo que a tipicidade da conduta 
está presente, devendo ser afastada a aplicação do princípio da insignificância mesmo que, no caso 
concreto, a potência fosse inferior a 25 watts, o que é considerado baixa potência, nos termos do art. 1º, 
§ 1º, da Lei nº 9.612/98. 
STF. 1ª Turma. HC 118400/RO, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 04/10/2016 (Info 842). 
 
O acusado argumentou também que não deveria ser condenado, considerando que não ficou provado 
que ele causou prejuízo, seja para os clientes, seja para os serviços de telecomunicações. Essa alegação é 
acolhida pelos Tribunais? 
NÃO. O delito do art. 183 da Lei nº 9.427/97 é crime de perigo abstrato. Isso significa que, para a sua 
consumação, basta que alguém desenvolva de forma clandestina as atividades de telecomunicações, sem 
necessidade de demonstrar prejuízo concreto para o sistema de telecomunicações (STJ. 5ª Turma. AgRg no 
REsp 1560335/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 21/06/2016). 
 
Confira julgado que sintetiza esses entendimentos: 
(...) 1. Este Superior Tribunal de Justiça pacificou sua jurisprudência no sentido de que a transmissão de 
sinal de internet via radio sem autorização da ANATEL caracteriza o fato típico previsto no artigo 183 da 
Lei nº 9.472/97, ainda que se trate de serviço de valor adicionado de que cuida o artigo 61, § 1°, da 
mesma lei. 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
2. É também pacífica a jurisprudência desta Corte no sentido de que a instalação de estação de 
radiodifusão clandestina é delito de natureza formal de perigo abstrato que, por si só, é suficiente para 
comprometer a segurança, a regularidade e a operabilidade do sistema de telecomunicações do país, 
não tendo aplicação o princípio da insignificância mesmo que se trate de serviço de baixa potência. (...) 
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1566462/SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 15/03/2016. 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA 
É possível o início da execução da pena condenatória 
após a prolação de acórdão condenatório em 2º grauImportante!!! 
A execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda 
que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não ofende o princípio constitucional da 
presunção de inocência (art. 5º, LVII, da CF/88) e não viola o texto do art. 283 do CPP. 
STF. Plenário. ADC 43 e 44 MC/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, 
julgados em 05/10/2016 (Info 842). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João foi condenado a uma pena de 8 anos de reclusão, tendo sido a ele assegurado na sentença o direito 
de recorrer em liberdade. 
O réu interpôs apelação e depois de algum tempo o Tribunal de Justiça manteve a condenação. 
Contra esse acórdão, João interpôs, simultaneamente, recurso especial e extraordinário. 
 
João, que passou todo o processo em liberdade, deverá aguardar o julgamento dos recursos especial e 
extraordinário preso ou solto? É possível executar provisoriamente a condenação enquanto se aguarda 
o julgamento dos recursos especial e extraordinário? É possível que o réu condenado em 2ª instância 
seja obrigado a iniciar o cumprimento da pena mesmo sem ter havido ainda o trânsito em julgado? 
 
1ª) Posição ANTERIOR do STF: NÃO 
STF. Plenário. HC 84078, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 05/02/2009. 
A CF/88 prevê que ninguém poderá ser considerado culpado até que haja o trânsito em julgado da 
sentença penal condenatória (art. 5º, LVII, da CF/88). É o chamado princípio da presunção de inocência (ou 
presunção de não culpabilidade), que é consagrado não apenas na Constituição Federal, como também 
em documentos internacionais, a exemplo da Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 e da 
Convenção Americana Sobre os Direitos Humanos. 
Logo, enquanto pendente qualquer recurso da defesa, existe uma presunção de que o réu é inocente. 
Dessa forma, enquanto não houver trânsito em julgado para a acusação e para a defesa, o réu não pode 
ser obrigado a iniciar o cumprimento da pena porque ainda é presumivelmente inocente. 
Com base nisso, entendia-se que não existia no Brasil a execução provisória (antecipada) da pena. 
Em virtude da presunção de inocência, o recurso interposto pela defesa contra a decisão condenatória era 
recebido no duplo efeito (devolutivo e suspensivo) e o acórdão de 2º grau que condenava o réu ficava sem 
produzir efeitos. 
 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
Este era o entendimento adotado pelo STF desde o leading case HC 84078, Rel. Min. Eros Grau, Tribunal 
Pleno, julgado em 05/02/2009. 
Obs: o condenado poderia até aguardar o julgamento do REsp ou do RE preso, desde que estivessem 
previstos os pressupostos necessários para a prisão preventiva (art. 312 do CPP). Dessa forma, ele poderia 
ficar preso, mas cautelarmente (preventivamente) e não como execução provisória da pena. 
 
2ª) Posição ATUAL do STF: SIM 
STF. Plenário. HC 126292/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/02/2016. 
É possível o início da execução da pena condenatória após a prolação de acórdão condenatório em 2º grau 
e isso não ofende o princípio constitucional da presunção da inocência. 
O recurso especial e o recurso extraordinário não possuem efeito suspensivo (art. 637 do CPP). Isso 
significa que, mesmo a parte tendo interposto algum desses recursos, a decisão recorrida continua 
produzindo efeitos. Logo, é possível a execução provisória da decisão recorrida enquanto se aguarda o 
julgamento do recurso. 
O Min. Teori Zavascki defendeu que, até que seja prolatada a sentença penal, confirmada em 2º grau, 
deve-se presumir a inocência do réu. Mas, após esse momento, exaure-se o princípio da não culpabilidade, 
até porque os recursos cabíveis da decisão de segundo grau ao STJ ou STF não se prestam a discutir fatos e 
provas, mas apenas matéria de direito. 
É possível o estabelecimento de determinados limites ao princípio da presunção de não culpabilidade. 
Assim, a presunção da inocência não impede que, mesmo antes do trânsito em julgado, o acórdão 
condenatório produza efeitos contra o acusado. 
A execução da pena na pendência de recursos de natureza extraordinária não compromete o núcleo 
essencial do pressuposto da não culpabilidade, desde que o acusado tenha sido tratado como inocente no 
curso de todo o processo ordinário criminal, observados os direitos e as garantias a ele inerentes, bem 
como respeitadas as regras probatórias e o modelo acusatório atual. 
Há o exemplo recente da LC 135/2010 - Lei da Ficha Limpa, que, em seu art. 1º, I, expressamente consagra 
como causa de inelegibilidade a existência de sentença condenatória por crimes nela relacionados, quando 
proferidas por órgão colegiado. A presunção de inocência não impede que, mesmo antes do trânsito em 
julgado, o acórdão condenatório produza efeitos contra o acusado. 
É necessário equilibrar o princípio da presunção de inocência com a efetividade da função jurisdicional 
penal. Neste equilíbrio, deve-se atender não apenas os interesses dos acusados, como também da 
sociedade, diante da realidade do intrincado e complexo sistema de justiça criminal brasileiro. 
O Ministro Teori, citando a ex-Ministra Ellen Gracie (HC 85.886), afirmou que “em país nenhum do mundo, 
depois de observado o duplo grau de jurisdição, a execução de uma condenação fica suspensa aguardando 
referendo da Suprema Corte”. 
A jurisprudência anterior que assegurava, em grau absoluto, o princípio da presunção da inocência a ponto 
de negar executividade a qualquer condenação enquanto não esgotado definitivamente o julgamento de 
todos os recursos (ordinários e extraordinários) permitiu e incentivou a indevida e sucessiva interposição 
de recursos das mais variadas espécies, unicamente com propósitos protelatórios. O objetivo era o de 
conseguir a prescrição da pretensão punitiva ou executória. Dessa forma, cumpre ao Poder Judiciário e, 
sobretudo, ao STF, garantir que o processo — único meio de efetivação do “jus puniendi” estatal — 
resgate sua inafastável função institucional. 
 
 
Comparando: 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
ANTES ATUALMENTE 
 
Não se admitia a execução provisória da pena 
antes do trânsito em julgado. 
 
 
É possível a execução provisória da pena, mesmo 
antes do trânsito em julgado, desde que exista 
acórdão penal condenatório. 
 
 
A execução provisória da pena ofende o princípio 
da presunção de não culpabilidade (ou princípio 
da presunção de inocência). 
 
A execução provisória da pena NÃO ofende o 
núcleo essencial do princípio da presunção de não 
culpabilidade (ou princípio da presunção de 
inocência). 
 
 
O réu, mesmo condenado pelo Tribunal em 2º 
grau, só pode ser obrigado a iniciar o 
cumprimento da pena após terem sido julgados os 
recursos especial e extraordinário interpostos pela 
defesa. 
 
O réu pode ser obrigado a iniciar o cumprimento 
da pena se o acórdão do Tribunal de 2º grau for 
condenatório, mesmo que, desta decisão, ele 
tenha interposto recurso especial e 
extraordinário. 
 
 
Os recursos especial e extraordinário interpostos 
pela defesa contra o acórdão condenatório de 2º 
grau possuíam efeito suspensivo por força do 
princípio da presunção de inocência. 
 
 
Os recursos especial e extraordinário interpostos 
pela defesa contra o acórdão condenatório de 2º 
grau NÃO possuem efeito suspensivo. A Lei 
determinou isso e não há inconstitucionalidade 
nesta previsão. 
 
 
Em resumo, esta foi a conclusão fixada pelo STF: 
A execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda que sujeito 
a recurso especial ou extraordinário, não compromete o princípio constitucional da presunção de 
inocência. 
STF. Plenário. HC 126292/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/02/2016 (Info 814).ART. 283 DO CPP E TENTATIVA DE FAZER O STF VOLTAR ATRÁS E PROIBIR A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA 
A decisão do STF autorizando a execução provisória da pena foi muito criticada pelas entidades ligadas à 
classe dos advogados. 
Diante disso, a OAB tentou fazer com que o Plenário do STF rediscutisse o tema, na esperança de que 
algum Ministro mudasse de opinião e alterasse o entendimento manifestado no HC 126292/SP. 
Para tentar conseguir isso, a OAB propôs uma ação declaratória de constitucionalidade (ADC) tendo como 
objeto o art. 283 do CPP, cuja redação é a seguinte: 
Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da 
autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no 
curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva. (Redação 
dada pela Lei nº 12.403/2011). 
 
Na ação, a OAB alegou que o STF, quando julgou o HC 126292/SP, não se manifestou sobre este art. 283 do 
CPP. Assim, o tema poderia ser rediscutido pelo Plenário da Corte, agora analisando-se este dispositivo legal. 
 
Para a OAB, o art. 283 do CPP somente permite que a pessoa seja presa nas seguintes hipóteses: 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
 prisão em flagrante; 
 prisão temporária; 
 prisão preventiva; 
 prisão decorrente de sentença condenatória transitada em julgado. 
 
Segundo defendeu a entidade, a prisão por força de acórdão condenatório de 2º grau não se enquadra em 
nenhuma das hipóteses elencadas pelo art. 283 do CPP. Logo, esta forma de prisão seria ilegal. 
 
Em suma, a OAB pediu que o STF reconhecesse que o art. 283 do CPP é constitucional e que ele só 
permite a prisão do réu após o trânsito em julgado. O pedido foi acolhido? 
NÃO. 
 
A execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda que sujeito 
a recurso especial ou extraordinário, não ofende o princípio constitucional da presunção de inocência 
(art. 5º, LVII, da CF/88) e não viola o texto do art. 283 do CPP. 
STF. Plenário. ADC 43 e 44 MC/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgados 
em 05/10/2016 (Info 842). 
 
Os arts. 995 e 1.029, § 5º, do CPC/2015 preveem que, em regra, os recursos especial e extraordinário 
possuem efeito meramente devolutivo. Em casos excepcionais, será possível atribuir efeito suspensivo a 
esses recursos, especialmente se ficar constatada a existência de teratologia ou abuso de poder. Apesar de 
estar prevista no CPC, esta regra vale também para processos criminais. 
 
As decisões judiciais que forem impugnadas por recursos que não têm efeito suspensivo possuem eficácia 
imediata. Assim, após esgotadas as instâncias ordinárias, a condenação criminal poderá provisoriamente 
surtir efeito imediato do encarceramento, uma vez que o acesso às instâncias extraordinárias se dá por 
meio de recursos que são ordinariamente dotados de efeito meramente devolutivo. 
 
O STF não concordou com a tese de que o art. 283 do CPP, com a redação dada pela Lei nº 12.403/2011, 
tenha revogado todas as espécies de prisão, com exceção daquelas que foram expressamente nele 
mencionadas, ou seja, prisão em flagrante, temporária, preventiva e decorrente de sentença condenatória 
transitada em julgado. Isso porque, apesar de a redação do art. 283 ser posterior ao restante do CPP, não 
se pode levar em consideração apenas o critério temporal para solução de antinomias. 
 
Além disso, ainda que se leve em conta o critério temporal, é preciso lembrar que o CPC/2015 é posterior 
ao art. 283 do CPP e os arts. 995 e 1.029, § 5º, do CPC determinam que os recursos especial e 
extraordinário não possuem efeito suspensivo. 
 
Portanto, não há antinomia entre o que dispõe o art. 283 do CPP e a regra que confere eficácia imediata 
aos acórdãos proferidos por tribunais de apelação ("tribunais de 2º grau julgando apelação"). 
 
Como votaram os Ministros: 
• Votaram a favor da execução provisória da pena 6 Ministros: Teori Zavascki, Edson Fachin, Roberto 
Barroso, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes. 
• Ficaram vencidos 4 Ministros: Rosa Weber, Marco Aurélio, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski. 
• O Min. Dias Toffoli, no julgamento do HC 126292/SP havia votado pela possibilidade de execução 
provisória da pena. No julgamento das ADCs 43 e 44 MC/DF, ele mudou parcialmente de posição. Para ele, 
não deveria haver execução provisória da pena caso o réu tivesse interposto recurso especial contra o 
acórdão do TJ/TRF questionando a culpa. Em outras palavras, não deveria haver execução provisória da 
pena enquanto estivesse pendente recurso especial no STJ questionando a "culpa" (aqui empregada em 
sentido amplo, ou seja, no sentido de ter ou não cometido o crime). 
Resumo dos votos dos Ministros 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
Edson 
Fachin 
A finalidade que a Constituição persegue não é outorgar uma terceira ou quarta chance 
para a revisão de um pronunciamento jurisdicional com o qual o sucumbente não se 
conforma e considera injusto. 
O acesso individual às instâncias extraordinárias visa a propiciar ao STF e ao STJ o 
exercício de seus papéis de estabilizadores, uniformizadores e pacificadores da 
interpretação das normas constitucionais e do direito infraconstitucional. Por isso, o art. 
102, § 3º, da CF/88 exige demonstração de repercussão geral das questões 
constitucionais debatidas no recurso extraordinário. Portanto, ao recorrente cabe 
demonstrar que, no julgamento de seu caso concreto, violou-se um preceito 
constitucional e que há, necessariamente, a transcendência e relevância da tese jurídica 
a ser afirmada pela Suprema Corte. 
Roberto 
Barroso 
A execução provisória após decisão de segundo grau e antes do trânsito em julgado é 
necessária para garantir a efetividade do direito penal e dos bens jurídicos por ele 
tutelados. 
A presunção de inocência é princípio, e não regra, e pode, nessa condição, ser 
ponderada com outros princípios e valores constitucionais que têm a mesma estatura, 
como a pretensão punitiva do Estado (que protege a vida, a integridade, o patrimônio 
das pessoas, entre outros bens jurídicos). 
Teori 
Zavascki 
A dignidade defensiva dos acusados deve ser calibrada, em termos de processo, a partir 
das expectativas mínimas de justiça depositadas no sistema criminal do país. 
Se, de um lado, a presunção da inocência e as demais garantias devem proporcionar 
meios para que o acusado possa exercer seu direito de defesa, de outro, elas não 
podem esvaziar o sentido público de justiça. 
O processo penal deve ser minimamente capaz de garantir a sua finalidade última de 
pacificação social. 
Além disso, é no julgamento da apelação que se concretiza o duplo grau de jurisdição, 
considerando que aí se encerra o exame de fatos e provas. 
Luiz 
Fux 
O constituinte não teve intenção de impedir a prisão após a condenação em segundo 
grau na redação do inciso LVII do artigo 5º da Constituição. Se o quisesse, o teria feito 
no inciso LXI, que trata das hipóteses de prisão. 
Além do direito fundamental do acusado, é necessário também se preocupar com o direito 
fundamental da sociedade, que tem a prerrogativa de ver aplicada sua ordem penal. 
Tanto o STJ como o STF admitem a possibilidade de suspensão de ofício, em habeas 
corpus, de condenações em situações excepcionais, havendo, assim, forma de controle 
sobre as condenações em segunda instância que contrariem a lei ou a Constituição. 
Gilmar 
Mendes 
Caso se constate abuso na decisão condenatória, os tribunais disporão de meios para 
sustar a execução antecipada, e a defesa possui instrumentos como o habeas corpus e o 
recurso extraordinário com pedido de efeito suspensivo. 
O sistema estabeleceum progressivo enfraquecimento da ideia da presunção de 
inocência com o prosseguimento do processo criminal. Há diferença entre investigado, 
denunciado, condenado e condenado em segundo grau. 
Países extremamente rígidos e respeitosos com os direitos fundamentais aceitam a ideia 
da prisão com decisão de segundo grau. 
Cármen 
Lúcia 
Quando a Constituição estabelece que ninguém pode ser considerado culpado até o 
trânsito em julgado, não exclui a possibilidade de ter início a execução da pena. 
Tendo havido apreciação de provas e duas condenações, a prisão do condenado não 
tem aparência de arbítrio. Se, de um lado, há a presunção de inocência, do outro, há a 
necessidade de preservação do sistema e de sua confiabilidade, que é a base das 
instituições democráticas. 
Marco A prisão antes do trânsito em julgado é uma exceção que ocorre apenas nos casos 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
Aurélio previstos no artigo 312 do CPP. 
Ao se admitir a prisão após decisão de segunda instância, ocorre uma inversão da 
ordem natural do processo criminal, no qual é necessário, primeiro, que haja a 
formação da culpa para, só depois, prender. 
O art. 283 do CPP, alterado pela Lei 12.453/2011, apenas concretiza, no campo do 
processo, a garantia constitucional explícita da não culpabilidade, adequando-se à 
compreensão então assentada pelo próprio STF. 
O alto grau de reversão das sentenças penais condenatórias no âmbito do STJ demonstra 
a necessidade de se esperar o trânsito em julgado para iniciar a execução da pena. 
Rosa 
Weber 
O art. 283 do CPP espelha o disposto nos incisos LVII e LXI do art. 5º da CF/88, que 
tratam justamente dos direitos e garantias individuais. 
A CF/88 vincula claramente o princípio da não culpabilidade ou da presunção de 
inocência a uma condenação transitada em julgado. Para ela, não há como se chegar a 
uma interpretação diversa. 
Ricardo 
Lewandowski 
O art. 5º, LVII da CF/88 é muito claro quando estabelece que a presunção de inocência 
permanece até trânsito em julgado. 
A presunção de inocência e a necessidade de motivação da decisão para enviar um 
cidadão à prisão são motivos suficientes para impedir a execução provisória da pena. 
Celso de 
Mello 
A presunção de inocência é conquista histórica dos cidadãos na luta contra a opressão 
do Estado e tem prevalecido ao longo da história nas sociedades civilizadas como valor 
fundamental e exigência básica de respeito à dignidade da pessoa humana. 
Há um retrocesso na proteção dos direitos e garantias individuais, retardando o avanço 
de uma agenda judiciária concretizadora das liberdades fundamentais. 
Dias 
Toffoli 
Acompanhou parcialmente o voto do Relator originário (Min. Marco Aurélio), acolhendo 
sua posição subsidiária, no sentido de que a execução da pena fica suspensa com a 
pendência de recurso especial ao STJ, mas não de recurso extraordinário ao STF. 
Para o recurso extraordinário, a Constituição exige repercussão geral, ao contrário do 
recurso especial, que abrange situações mais comuns de conflito de entendimento 
entre tribunais. 
 
 
OUTRAS OBSERVAÇÕES SOBRE O TEMA 
Para que seja iniciado o cumprimento da pena, é necessário que o réu tenha sido condenado em 1ª 
instância (pelo juiz) e esta sentença tenha sido confirmada pelo Tribunal (2ª instância) ou ele poderá ser 
obrigado a cumprir a pena mesmo que o juiz o tenha absolvido e o Tribunal reformado a sentença para 
condená-lo? 
Para início do cumprimento provisório da pena o que interessa é que exista um acórdão de 2º grau 
condenando o réu, ainda que ele tenha sido absolvido pelo juiz em 1ª instância. 
Dessa forma, imagine que João foi absolvido em 1ª instância. O MP interpôs apelação e o Tribunal 
reformou a sentença para o fim de condená-lo. Isso significa que o réu terá que iniciar o cumprimento da 
pena imediatamente, ainda que interponha recursos especial e extraordinário. 
A execução provisória pode ser iniciada após o acórdão penal condenatório proferido em grau de 
apelação, não importando se a sentença foi absolutória ou condenatória. 
Para o início da execução provisória não se exige dupla condenação (1ª e 2ª instâncias), mas apenas que 
exista condenação em apelação e a interposição de recursos sem efeito suspensivo. 
 
 
 
 
Imagine que o réu, após ser condenado pelo Tribunal em apelação, iniciou o cumprimento provisório da 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
pena (foi para a prisão). O STF, ao julgar o recurso extraordinário, concorda com os argumentos da defesa 
e absolve o réu. Ele terá direito de ser indenizado pelo período em que ficou preso indevidamente? 
Segundo a jurisprudência atual, a resposta é a de que, em regra, não há direito à indenização. 
Se formos aplicar, por analogia, a jurisprudência atual sobre prisão preventiva, o que os Tribunais afirmam 
é que se a pessoa foi presa preventivamente e depois, ao final, restou absolvida, ela não terá direito, em 
regra, à indenização por danos morais, salvo situações excepcionais. Confira: 
(...) O dano moral resultante de prisão preventiva e da subsequente sujeição à ação penal não é 
indenizável, ainda que posteriormente o réu seja absolvido por falta de provas. Em casos dessa natureza, 
ao contrário do que alegam as razões do agravo regimental, a responsabilidade do Estado não é objetiva, 
dependendo da prova de que seus agentes (policiais, membro do Ministério Público e juiz) agiram com 
abuso de autoridade. (...) 
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 182.241/MS, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 20/02/2014. 
 
Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Responsabilidade civil do Estado. Prisões 
cautelares determinadas no curso de regular processo criminal. Posterior absolvição do réu pelo júri 
popular. Dever de indenizar. Reexame de fatos e provas. Impossibilidade. Ato judicial regular. Indenização. 
Descabimento. Precedentes. 
1. O Tribunal de Justiça concluiu, com base nos fatos e nas provas dos autos, que não restaram 
demonstrados, na origem, os pressupostos necessários à configuração da responsabilidade extracontratual 
do Estado, haja vista que o processo criminal e as prisões temporária e preventiva a que foi submetido o ora 
agravante foram regulares e se justificaram pelas circunstâncias fáticas do caso concreto, não caracterizando 
erro judiciário a posterior absolvição do réu pelo júri popular. Incidência da Súmula nº 279/STF. 
2. A jurisprudência da Corte firmou-se no sentido de que, salvo nas hipóteses de erro judiciário e de prisão 
além do tempo fixado na sentença - previstas no art. 5º, inciso LXXV, da Constituição Federal -, bem como 
nos casos previstos em lei, a regra é a de que o art. 37, § 6º, da Constituição não se aplica aos atos 
jurisdicionais quando emanados de forma regular e para o fiel cumprimento do ordenamento jurídico. 3. 
Agravo regimental não provido. 
STF. 1ª Turma. ARE 770931 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/08/2014. 
 
O entendimento acima é aplicado aos processos que já estão em andamento, inclusive com condenações 
proferidas? 
SIM. Apesar de ter havido uma brutal alteração da jurisprudência do STF, não houve modulação dos 
efeitos (pelo menos até agora). 
Dessa forma, o entendimento proferido tem plena aplicabilidade, considerando que, para o STF, não existe 
proibição de se aplicar nova jurisprudência a casos em andamento, mesmo que mais prejudiciais ao réu, 
salvo se houver modulação dos efeitos. O Min. Fachin, por exemplo, afirmou isso expressamente 
entendendo que a regra da irretroatividade só se aplica às leis penais, mas não à jurisprudência. 
 
Medida cautelar no recurso especial ou recurso extraordinário ou HC 
Vale ressaltar que o réu condenado que interpuser recurso especial ou recurso extraordinário poderá 
tentar evitar a execuçãoprovisória da pena. Para isso, deverá propor uma medida cautelar pedindo que 
seja conferido efeito suspensivo ao recurso, nos termos do art. 1.029, § 5º do CPC 2015. 
Outra opção é a defesa, após interpor o RE ou REsp, impetrar habeas corpus pedindo que o STJ ou STF 
suspenda o cumprimento da pena enquanto se aguarda o julgamento do recurso. 
Importante esclarecer que a concessão desta medida cautelar ou de liminar no HC só ocorrerá em casos 
excepcionais, em que ficar evidentemente constatada alguma ilegalidade flagrante ou injustiça praticada 
no acórdão condenatório. 
 
 
INDULTO NATALINO 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
Condenado que pratica falta grave nos 12 meses antes da publicação do decreto de indulto 
natalino não terá direito ao benefício mesmo que a homologação ocorra após o decreto 
 
O art. 5º do Decreto 8.380/2014 prevê que a pessoa não pode ser beneficiada com o indulto 
natalino se tiver recebido sanção disciplinar grave no período de 24/12/2013 até 24/12/2014: 
“Art. 5º A declaração do indulto e da comutação de penas previstos neste Decreto fica 
condicionada à inexistência de aplicação de sanção, reconhecida pelo juízo competente, em 
audiência de justificação, garantido o direito ao contraditório e à ampla defesa, por falta 
disciplinar de natureza grave, prevista na Lei de Execução Penal, cometida nos doze meses de 
cumprimento da pena, contados retroativamente à data de publicação deste Decreto.” 
Se o condenado praticou falta grave no período de 12 meses antes da publicação do decreto de 
indulto natalino, ele não poderá receber o benefício mesmo que a homologação judicial desta 
sanção disciplinar tenha ocorrido em data posterior à publicação do decreto. 
Dessa forma, a falta disciplinar é que tem que ter ocorrido antes da publicação do Decreto, não 
importando que a homologação judicial seja posterior. 
STF. 2ª Turma. HC 132236/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/8/2016 (Info 837). 
STF. 2ª Turma. RHC 133443/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 04/10/2016 (Info 842). 
 
Indulto 
O indulto é um benefício concedido pelo Presidente da República por meio do qual as pessoas condenadas 
por determinados crimes ficarão livres dos efeitos executórios da condenação, desde que se enquadrem 
nas condições previstas no decreto presidencial. 
 
Indulto natalino 
É bastante comum o Presidente da República editar um decreto, no final de todos os anos, concedendo 
indulto. Esse decreto é conhecido como “indulto natalino”. 
No decreto de indulto já constam todas as condições para a concessão do benefício. Caso o apenado 
atenda a esses requisitos, o juiz das execuções deve reconhecer o direito, extinguindo a pena. 
 
Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação adaptada: 
Em 24/12/2014, foi publicado o Decreto 8.380/2014 concedendo indulto pleno a todos os indivíduos que 
se enquadravam nas hipóteses ali descritas. 
No momento em que o Decreto foi publicado, João estava cumprindo pena por ter sido condenado com 
trânsito em julgado pela prática do crime X. 
O advogado de João formulou pedido ao juiz das execuções penais para que reconhecesse ter ele direito 
ao indulto e, com isso, sua pena fosse extinta. 
O juiz, contudo, negou o pedido sob o argumento de que João praticou, em 05/11/2014, falta grave, 
circunstância que impede a concessão do benefício, conforme previsto no art. 5º do Decreto 8.380/2014: 
Art. 5º A declaração do indulto e da comutação de penas previstos neste Decreto fica condicionada à 
inexistência de aplicação de sanção, reconhecida pelo juízo competente, em audiência de justificação, 
garantido o direito ao contraditório e à ampla defesa, por falta disciplinar de natureza grave, prevista na 
Lei de Execução Penal, cometida nos doze meses de cumprimento da pena, contados retroativamente à 
data de publicação deste Decreto. 
 
Desse modo, o art. 5º do Decreto 8.380/2014 (publicado em 24/12/2014) prevê que a pessoa não pode ser 
beneficiada com o indulto se tiver recebido sanção disciplinar grave no período de 24/12/2013 até 
24/12/2012. 
 
Argumento da defesa 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
A defesa não concordou com a decisão e argumentou o seguinte: 
João realmente praticou a falta grave em 05/11/2014. No entanto, esta somente foi homologada em 
05/03/2015, ou seja, em data posterior à publicação do Decreto (24/12/2014). Para a defesa, o art. 5º só 
impede a concessão do indulto se a homologação judicial da falta grave ocorreu antes da publicação do 
Decreto 8.380/2014. 
 
A tese da defesa foi acolhida pelo STF? 
NÃO. 
 
Se o condenado praticou falta grave no período de 12 meses antes da publicação do decreto de indulto 
natalino, ele não poderá receber o benefício mesmo que a homologação judicial desta sanção disciplinar 
tenha ocorrido em data posterior à publicação do decreto. 
O art. 5º do Decreto 8.380/2014 impõe a homologação judicial da sanção por falta grave, mas não exige 
que isso tenha ocorrido nos 12 meses anteriores à sua publicação. 
STF. 2ª Turma. HC 132236/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/8/2016 (Info 837). 
 
Se fosse exigido que a homologação judicial ocorresse antes da publicação do decreto, as faltas graves 
praticadas próximas ao final do ano acabariam não tendo reflexo sobre o indulto natalino, considerando 
que não haveria tempo suficiente para apurar o cometimento desta falta grave, conferindo ampla defesa e 
contraditório. 
Uma vez que se exige a realização de audiência de justificação, assegurados o contraditório e a ampla 
defesa, não faz sentido que a homologação judicial deva ocorrer dentro do prazo de 12 meses, sob pena 
de nem sequer haver tempo hábil para a apuração de eventual falta grave praticada em data próxima à 
publicação do Decreto. 
 
 
 
DIREITO PENAL E 
PROCESSUAL PENAL MILITAR 
 
COMPETÊNCIA 
Ex-militar que continua recebendo e sacando indevidamente o soldo 
mesmo após ter sido desincorporado pratica crime militar 
 
Compete à Justiça Militar julgar a conduta de ex-militar acusado do crime de “apropriação de 
coisa havida acidentalmente” (art. 249 do CPM) pelo fato de ele, mesmo depois de 
desincorporado das fileiras, ter continuado sacando o soldo que era depositado por engano 
em sua conta. 
STF. 2ª Turma. HC 136539/AM, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 04/10/2016 (Info 842). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João era Soldado do Exército e foi desincorporado das fileiras em 2010. 
Por um erro no sistema, continuou ativo na folha de pagamento, mesmo após o seu desligamento. 
Assim, todos os meses, o Exército depositava em sua conta o soldo e ele sacava os valores, mesmo 
sabendo que era indevido. 
Depois de um ano foi descoberto o fato. 
João foi notificado a devolver voluntariamente os valores recebidos, mas se recusou a fazer. 
Diante disso, o Ministério Público o denunciou pela prática do crime previsto no art. 249 do CPM: 
Apropriação de coisa havida acidentalmente 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
Art. 249. Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por êrro, caso fortuito ou fôrça da 
natureza: 
Pena - detenção, até um ano. 
 
O réu suscitou, contudo, incompetência da Justiça Militar, alegando que, como ele é ex-Soldado, não 
poderia mais ser julgado pela Justiça Castrense. 
 
A alegação do réu foi acolhida pelo STF? 
NÃO. 
 
Compete à Justiça Militar julgar a conduta de ex-militar acusado do crime de “apropriação de coisa 
havida acidentalmente” (art. 249 do CPM) pelo fato de ele, mesmo depois de desincorporado das 
fileiras, ter continuado sacando o soldo que era depositado por engano em sua conta. 
STF. 2ª Turma. HC 136539/AM, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 04/10/2016(Info 842). 
 
Em regra, o civil não é julgado pela Justiça Militar. No entanto, existem algumas situações excepcionais em 
que isso ocorre. O caso em análise é uma delas, considerando que a conduta praticada amolda-se à 
previsão do art. 9º, III, letra “a” do CPM: 
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: 
(...) 
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, 
considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: 
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar; 
 
O fato de o ex-militar apropriar-se de numerário que não lhe pertencia, a despeito de já se encontrar na 
condição civil, é crime militar que atenta contra as instituições militares, pois praticado contra o 
patrimônio sob a administração militar. 
 
Mutatis mutandis, pode-se aplicar ao caso os seguintes precedentes do STF: 
(...) O Código Penal Militar considera crime militar aquele praticado por civil contra “o patrimônio sob a 
administração militar” – art. 9º, III, “a”. No caso, o fato corresponde ao saque de benefício previdenciário 
militar após falecimento do beneficiário. Alegação de que não teria ocorrido prejuízo à Administração 
Militar. A jurisprudência de ambas as turmas do Supremo Tribunal Federal afirma a competência da Justiça 
Militar da União em casos semelhantes. Precedentes. (...) 
STF. 2ª Turma. HC 125777, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/06/2016. 
 
 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
 
TAXAS 
Princípio da legalidade tributária e lei que delega a fixação do valor da 
taxa para ato infralegal, desde que respeitados os parâmetros máximos 
 
Não viola a legalidade tributária a lei que, prescrevendo o teto, possibilita o ato normativo 
infralegal fixar o valor de taxa em proporção razoável com os custos da atuação estatal, valor 
esse que não pode ser atualizado por ato do próprio conselho de fiscalização em percentual 
superior aos índices de correção monetária legalmente previstos. 
STF. Plenário. RE 838284/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 06/10/2016 (repercussão geral) (Info 842). 
 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) 
Todo contrato, escrito ou verbal, para a execução de obras ou prestação de serviços de Engenharia ou 
Agronomia precisa ter a "Anotação de Responsabilidade Técnica" (ART). 
Isso está previsto na Lei nº 6.496/77. 
Em palavras mais simples, esse ART é um formulário que deverá ser preenchido pelo engenheiro ou 
agrônomo e no qual ele irá registrar as atividades técnicas que lhe foram solicitadas, ou seja, o serviço 
para o qual foi contratado. 
Atualmente, este formulário é preenchido pela internet, no site do Conselho de Engenharia e Agronomia. 
 
Taxa para emissão da ART 
O preenchimento da ART é um dever do profissional, sendo ele o responsável pelas informações fornecidas. 
Para que se possa emitir a ART cobra-se um valor do profissional, sendo essa quantia classificada como 
tributo, na modalidade "taxa". Trata-se de taxa pelo exercício do poder de polícia (fiscalização da atividade 
profissional). 
Quando o profissional emite a ART, como autônomo, cabe a ele o pagamento da respectiva taxa. 
Quando o profissional executa a obra/serviço por meio de uma empresa executora (existe vínculo 
empregatício entre o profissional e a empresa), cabe à pessoa jurídica empregadora a responsabilidade 
pelo pagamento da taxa de ART. 
 
Limites máximos de ART estabelecidos na Lei nº 6.994/82 
A Lei nº 6.994/82 estabelece uma tabela com limites máximos para a cobrança da ART e diz que o valor 
exato da taxa será fixado pelo Conselho Profissional. 
Algumas construtoras questionaram judicialmente essa previsão, afirmando que ela violaria o princípio da 
legalidade, já que delegava para um ato infralegal do Conselho a fixação do valor da taxa. 
 
O STF concordou com a tese? Essa previsão viola o princípio da legalidade tributária? 
NÃO. 
 
Não viola a legalidade tributária a lei que, prescrevendo o teto, possibilita o ato normativo infralegal 
fixar o valor de taxa em proporção razoável com os custos da atuação estatal, valor esse que não pode 
ser atualizado por ato do próprio conselho de fiscalização em percentual superior aos índices de 
correção monetária legalmente previstos. 
STF. Plenário. RE 838284/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 06/10/2016 (repercussão geral) (Info 842). 
 
A Lei nº 6.994/82 delegou ao Conselho Profissional a fixação dos valores das taxas correspondentes aos 
serviços relativos a atos indispensáveis ao exercício da profissão, observados os respectivos limites máximos. 
 
Para o STF, o fato de a lei ter fixado valor máximo da taxa já é suficiente para que seja respeitado o 
princípio da legalidade tributária prevista no art. 150, I, da CF/88: 
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao 
Distrito Federal e aos Municípios: 
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; 
 
Dessa forma, o legislador tributário pode se valer de cláusulas gerais, e as taxas cobradas em razão do 
exercício do poder de polícia podem ter algum grau de indeterminação, por força da ausência de 
minuciosa definição legal dos serviços compreendidos. E, diante de taxa ou contribuição parafiscal, é 
possível haver maior abertura dos tipos tributários. Afinal, nessas situações, sempre há atividade estatal 
subjacente, o que acaba deixando ao regulamento uma carga maior de cognição da realidade, sobretudo 
em matéria técnica. 
Deve-se permitir essa flexibilização em homenagem à praticidade e à eficiência da Administração Pública. 
 
 
Informativo 842-STF (18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
Especificamente no que se refere a taxas, é permitido que a lei estabeleça os parâmetros gerais e transfira 
para o ato infralegal complementar o valor devido. Isso se justifica porque a Administração Pública (que irá 
regulamentar a lei) está mais próxima da atividade estatal que será prestada ao contribuinte, conhecendo 
melhor a realidade, o que fará com que tenha maiores elementos para complementar o aspecto 
quantitativo da taxa (ou seja, o valor a ser cobrado). 
 
A taxa devida pela ART insere-se nesse contexto. O Conselho de Engenharia e Agronomia, por estar mais 
perto da atividade-fim do que o legislador, pode complementar, com muito mais conhecimento e 
razoabilidade, o aspecto quantitativo da taxa ART, garantindo que haja uma equivalência razoável entre o 
valor da taxa e os custos que ela pretende ressarcir. O legislador não teria condições de estabelecer e fixar 
uma relação de custos de todas as atividades exercidas na área. 
 
Vale ressaltar que a Lei nº 6.994/82 não delegou o poder de tributar, no sentido técnico da expressão. Em 
outras palavras, esta lei não repassou ao ato infralegal a competência de regulamentar, em toda 
profundidade e extensão, os elementos da taxa devida em razão da ART. 
 
Os elementos essenciais dessa taxa foram disciplinados em lei (fato gerador, sujeito passivo, sujeito ativo). 
Além disso, a lei estabeleceu o teto do valor. O que a lei fez foi permitir que o ato infralegal possa fixar o 
valor até os limites por ela impostos. 
 
Em suma, a norma em comento estabelece diálogo com o regulamento em termos de: 
a) subordinação, ao prescrever o teto legal da taxa referente à ART; 
b) desenvolvimento da justiça comutativa; e 
c) complementaridade, ao deixar valoroso espaço para o regulamento complementar o aspecto 
quantitativo da regra matriz da taxa cobrada em razão do exercício do poder de polícia. 
 
O Legislativo não abdicou de sua competência acerca de matéria tributária, portanto. A qualquer 
momento, poderá deliberar de maneira

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