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1 AULA 6: INCERTEZA I - Loterias e Atitudes diante do Risco 1. Motivação 2. Preferências sobre Loterias; 3. Utilidade Von Neumann-Morgenstern; 4. Atitudes face ao Risco; 5. Medidas de Aversão ao Risco; 6. Exercícios sugeridos e Bibliografia 1. Motivaçao Em inúmeras situações reais, o resultado das decisões de um agente é incerto: na compra de um ativo real ou financeiro, na decisão de mudar ou não de emprego, na escolha da futura esposa (ou esposo)...etc. Nas situações concretas em que o resultado da escolha não depende substancialmente da interação de outros agentes, o problema pode ser representado, de forma estilizada, como um problema de escolha entre diferentes loterias. O caso em que o resultado da escolha individual depende da ação de outros agentes identificados será estudado mais à frente na teoria dos jogos. Uma loteria é um jogo que paga um premio em cada resultado possível do experimento. Por exemplo, se o jogo consiste no lance de uma moeda equilibrada pagando 1 real se o resultado for “cara” e -1 real se o resultado for “coroa”, podemos formalizar o jogo da seguinte maneira: 2 { coroacara ,=Ω } :conjunto dos resultados possíveis; coroacaraP ,;2/1)( == ωω : probabilidade dos eventos aleatórios; ⎩⎨ ⎧ =− =+= coroa cara X ω ωω ;1 ;1 )( : prêmios associados aos resultados. É natural que o decisor considere o premio esperado da loteria. Asssim, se g designa a loteria acima, o premio esperado desta loteria é: )().()().()()( coroaXcoroaPcaraXcaraPEXgE +== ω 0)1( 2 1)1( 2 1 =−++= Dize-se que uma loteria é justa se ela tem valor esperado igual à 0. Se uma loteria não é justa, sempre é possível torná-a justa cobrando-se uma taxa de entrada igual ao seu premio esperado. Assim, se no exemplo acima o premio de “cara” fosse igual à 10 reais, teríamos 5.42/15)( =−=gE . Neste caso, cobrando 4.5 reais como entrada no jogo, os prêmios seriam: ⎩⎨ ⎧ =−=−− ==−+= coroa cara X ω ωω ;5.55.41 ;5.55.410 )( de modo que teremos assim uma loteria justa. Em princípio, o agente estaria disposto a pagar até o valor do premio esperado para ter acesso à loteria. Se o custo do acesso for menor que o premio esperado, o premio líquido é positivo de modo que o agente estaria disposto a comprar a loteria. Entretanto, o uso do premio esperado para se definir o custo de acesso à loteria nem sempre faz sentido. 3 Com efeito, a maioria dos agentes é avessa ao risco e reluta em comprar uma loteria cujo preço é muito alto, ainda que esta tenha um premio liquido positivo. Tal fato é ilustrado pelo famoso paradoxo de São Petersburgo, do século XVIII (D.Bernoulli). Suponha que uma moeda equilibrada seja lançada indefinidamente até que a primeira “cara” apareça. Sendo N o número de lances até a obtenção de uma cara, sabemos do Curso de Probabilidade que N é uma v.a. geométrica com parâmetro 2/1 e funçao de probabilidade ,....2,1;)2/1()( === nnNP n Se g designa a loteria que paga se o resultado “cara” é obtido no NNX 2)( = moN lance, o premio esperado da loteria será: . ∞+===== ∑ ∑∑ ∞= ∞=∞= 1 11 1)2/1(2)()()( n nnnn nNPnXgE Estaria alguém disposto a pagar uma soma infinita para participar desta loteria ? A resposta obviamente é negativa, donde a necessidade de se buscar um critério distinto do premio esperado para se definir o custo de acesso à esta loteria. A solução do paradoxo de São Petersburgo passa pelo uso de uma função de utilidade que, à cada premio possível da loteria, associa a utilidade extraída pelo agente daquela renda monetária. Com efeito, não é razoável supor que o agente seja neutro ao risco, isto é, que atribua ao 10 Real o mesmo peso que a 1000 Real, se estes valores são incertos, isto é, ocorrem com uma certa probabilidade. 4 Assim, adotando a hipótese que sua utilidade marginal da renda seja decrescente, a funçao de utilidade do indivíduo será côncava. Com utilidades côncavas, em muitos casos o paradoxo de São Petersburgo pode ser resolvido, se o agente está disposto a pagar a utilidade esperada da loteria. Tal é o caso, no exemplo acima, se a utilidade da renda for, por exemplo: XXu ln)( = Neste caso, a utilidade cresce menos rapidamente que o valor monetário dos prêmios ( 0;ln >< XXX ), de modo que a utilidade esperada da loteria é finita: ∑ ∑∑ ∞= ∞=∞= ===≡ 1 11 )2/1(2ln)2/1(2ln)())(()( n n nnnn nnNPnXugu Ora, 2/12/111 2/11 2/1 1 1 |)1 ( 2 1|)( 2 1| 2 1| 2 1)2/1( ==== == = −∞ = −∂ ∂=∂ ∂=∂ ∂== ∑∑∑∑ xxni nni x n n i x n n n x x x x xx xnxn Ou: 2| )1( 1 2 1)2/1( 2/121 =−= = ∞ =∑ xn n xn . (Obs.: na terceira desigualdade, escrevemos a soma das derivadas como a derivada da soma infinita porque esta é convergente na vizinhança de 2/1=x . Voce pode obter esta soma diretamente se lembrar que ela não é outra que o valor esperado da v.a. geométrica: 2)2/1/(1)/1/(1 === pEN ). Logo, 39.12ln2)( ==gu . Este é o valor moral da loteria, representando o que ela vale para o agente com esta funçao de utilidade. Este também é o valor máximo que ele estaria disposto a pagar para participar da loteria. 5 O exemplo do paradoxo de São Petersburgo mostra que uma teoria adequada para a escolha dos agentes decisores entre loterias precisa levar em consideração suas atitudes em face do risco. Como veremos nas seções seguintes, assim como no caso da teoria do consumidor, as atitudes dos agentes diante da incerteza também admitem uma caracterização fundamentada nas suas preferencias entre loterias e na funçao de utilidade que representa estas preferencias. 2. Preferências entre loterias Na teoria do consumidor, assumia-se que o consumidor tinha preferências sobre diferentes cestas de bens, disponíveis certamente à apreciação e, eventualmente, escolha dele. Para esta escolha, ele dispunha de uma funçao de utilidade que lhe permitia ordenar as diferentes cestas, de acordo com a utilidade associada a cada uma delas. O consumidor escolhia então a cesta ótima, que lhe proporcionava o maior valor de utilidade, dentro do seu conjunto de consumo factível. Para tratarmos da escolha sob incerteza, vamos supor nesta aula que o consumidor tem preferências entre diferentes loterias, cada uma delas apresentando uma seqüencia finita de resultados possíveis , o resultado ocorrendo com probabilidade . naa ,...,1 ia ip Um resultado (outcome, em inglês) ou prêmio (prize em inglês), pode ser uma cesta de bens, um montante em dinheiro positivo ou negativo, ou qualquer outra coisa. ia 6 A diferença é que este deve ser visto como o resultado de um jogo, de um experimento aleatório: o resultado ocorre com probabilidade . ia ip Loterias Seja o conjunto finito de resultados de uma experimento aleatório qualquer. },...,{ 1 naaA = Definição: Uma loteria simples g sobre A , é definida por uma funçao de probabilidade npp ,...,1 associada a cada ev ento de A . Esta será notada pela n-upla: ),...,( 11 nn apapg oo≡ . Uma outra loteria sobre h A difere de g por atribuir uma outra funçao de probabilidade aos resultados de A , por exemplo: . ),...,11 naaqh oo(≡ nq O conjunto de todas as loterias simples sobre A é definido por: ∑ = =≥≡ ni iinn ppapapG 111 }1,0:),...,{( oo onde seimpõe que as probabilidades sejam não negativas e somem 1. Quando um ou mais premios forem improváveis, isto é, tem probabilidade 0 de ocorrer, estes serão excluídos da notação. ia Por exemplo, a loteria ))1(,0,...,0,( 121 nn aaaa oooo αα −− ))1(,1 naa oo será notada simplesmente: ( αα − . Note que o conjunto G também contém A , pois se o resultado ocorrer certamente, podemos caracterizá- lo pela loteria: . ia )1( iao 7 Loterias Compostas Uma loteria composta é uma loteria seqüencial na qual um dos prêmios é um ticket de acesso à uma outra loteria. Por exemplo, a loteria ))1(,( 1 hag oo αα −= onde ))1(,( 21 aah oo ββ −= { }21 ,aaA = , é uma loteria composta sobre , porque a loteria simples é um dos prêmios de h g . Note agora que as probabilidades efetivas dos prêmios e são, respectivamente, 1a 2a )1( αβα −+ e )1)(1( βα −− , de modo que o agente estará indiferente entre a loteria composta g e a loteria simples )))1)(1(()) o ,1a1(((*g hoβααβα −−−+= , isto é: *gg ≈ . Na verdade, dizemos que *g é a loteria simples induzida pela loteria composta g . O agente leva em conta únicamente as probabilidades efetivas dos prêmios. Assim, para escolher entre duas loterias quaisquer, ele fará a comparação entre as loterias simples que são induzidas por elas. Da mesma maneira como na teoria do consumidor os objetos de escolha são as cestas de bens, na teoria da escolha sob incerteza os objetos de escolha são as loterias. Na sequencia definiremos a relação de preferências sobre o conjunto das loterias e os axiomas associados à ela, muitos dos quais já nos são familiares. G 8 Axiomas da Escolha sob Incerteza (A1) Completude Para quaisquer loterias Ghg ∈, , temos ou hg ≥ ou gh ≥ onde o sinal ≥ designa aqui a preferência fraca; (A2) Transitividade Para quaisquer loterias Gmhg ∈,, , se hg ≥ e então teremos também mh ≥ mg ≥ . Acima mencionamos que cada premio pode ser visto como um jogo degenerado pertecendo à . ia G Assim sendo, os axiomas (A1) e (A2) permitem hierarquizar os prêmios . ia Suporemos entao, sem perda de generalidade, que os prêmios são indexados do melhor para o pior, isto é: . naaa ≥≥≥ ...21 Deste modo, não há loteria melhor que ))1(,( 1 naa αα −o se 1=α ou pior que ))1(,( 1 naa αα −o se 0=α . Isto sugere que, haverá um valor intermediário α que torna, para o agente decisor, a loteria acima indiferente a qualquer loteria Gg ∈ : )1(,( 1 nag )aαα −≈ o . Temos entao o seguinte axioma: (A3) Continuidade Para qualquer loteria Gg ∈ , existe uma probabilidade [ 1,0∈ ]α tal que ))1( nag ,( 1a αα −≈ o . 9 O próximo axioma exprime a idéia de que, entre duas loterias envolvendo o melhor e o pior prëmio, o agente decisor preferirá aquela que atribui ao melhor premio a probabilidade mais elevada. (A4) Monotonicidade Para quaisquer probabilidades [ 1,0, ]∈βα , temos tal que ))1(,())1(,( 11 nn aaaa oooo ββαα −≥− se e sòmente se βα ≥ . Obs.: Na primeira expressão, designa a preferência fraca; na segunda, ≥ designa a desigualdade fraca. ≥ O axioma seguinte estabelece a equivalencia entre loterias cujos prêmios o agente considera como equivalentes. (A5) Substituição Se e ),...,( 11 n n gpgpg oo≡ ),...,( 11 nn hphph oo≡ são duas loterias de G , e se ihig ≈ para todo i , entao hg ≈ . Observe que este axioma, junto com (A1), implica que quando o agente é indiferente entre duas loterias, ele também o é entre qualquer combinação convexa destas loterias. O último axioma estabelece que, ao considerar uma loteria em particular, só as probabilidades efetivas dos diferentes prêmios importam para o agente decisor. (A6) Redução à loteria simples Se é a loteria simples induzida por ),...,(* 11 nn apapg oo≡ Gg ∈ , entao gg ≈* . 10 Observe que por este último axioma e pela transitividade (A2), as preferencias do agente decisor sobre quaisquer loterias compostas serão completamente determinadas pelas suas preferências sobre as loterias simples induzidas por elas. Vamos agora considerar a representação das preferências sobre loterias através de uma funçao de utilidade. 3. Utilidade Von Neumann-Morgenstern Na teoria do consumidor das aulas anteriores, na qual a escolha entre as cestas é feita sem incerteza, vimos que os axiomas da completude e da transitividade, acrescido de uma condiçao de continuidade das preferências, garantia a existência de uma funçao de utilidade contínua. No caso presente, além dos axiomas (A1), (A2) e (A3), foram acrescentados três outros axiomas. Assim, espera-se que a utilidade que representa as preferências do agente decisor entre as loterias, venha a ter outras propriedades adicionais, além da continuidade. Tal é efetivamente o caso. Veremos que se as preferências entre loterias atendem aos axiomas (A1)-(A6), então ela poderá ser representada por uma funçao de utilidade que exibirá, além da continuidade, uma importante propriedade: a da linearidade com relação às probabilidades efetivas de cada prêmio. Tal função de utilidade é dita ter a propriedade da utilidade esperada. 11 Propriedade da Utilidade Esperada A utilidade sobre loterias: )(:: gugRGu →→ tem a propriedade da utilidade esperada se: ∑ == ni ii aupgu 1 )()( onde é a utilidade do prêmio na loteria degenerada e é a probabilidade efetiva do prêmio na loteria simples , induzida por )( iau ia ia ao )1( iao ip ),...,( 11 nnpap o g . As funçoes de utilidade que possuem a propriedade da utilidade esperada são chamadas de funçoes de utilidade von Neumann-Morgenstern (VNM), em razão do teorema seguinte, fundamental na teoria da escolha sob incerteza: Teorema 1: Existência de uma Utilidade VNM sobre G Seja uma relação de preferências sobre o )(≥ conjunto das loterias com prêmios em G A, a qual satisfaz os axiomas (A1) à (A6). Entao, existe uma funçao de utilidade )(:: gugRGu →→ representando , tal que u tem a )(≥ propriedade da utilidade esperada. Este teorema foi demonstrado por J. Von Neumann e O.Morgenstern (1944) no livro The Theory of Games and Economic Behavior. A prova do teorema é construtiva: Para cada loteria Gg ∈ , o número )(gu é definido como a probabilidade do melhor premio de A que deixa indiferente o 12 agente decisor entre a loteria g e o jogo melhor- pior, isto é: )n))(1(,)(( 1 aguagug oo −≈ . Observe que pelo axioma (A3) este número )(gu existe e, por (A4), é único. Isto define uma funçao de utilidade . [ ]1,0: →Gu É fácil de ver que u assim definida representa a preferência ( )≥ : Com efeito, por (A3) temos a equivalência: )))(1(,()))(1(,)(( 11 nn ahuauaguaguhg oooo )(h −≥−⇔≥ e, por (A4), a equivalência desta última relação com a desigualdade fraca: )()( hugu ≥ . Logo, )()( huguhg ≥⇔≥ ≥ , de modo que a utilidade assim definida representa a preferência. (Obs.: à esquerda, indica a preferência fraca; à direita, a desigualdade fraca). Finalmente, usando os axiomas (A5) e (A6) é possível mostrar que a utilidade definida acima tem a propriedade da utilidade esperada: Se é a loteria simples induzida por ),...,(* 11 nn apapg oo= g , teremos: ∑ == ni ii aupgu 1 )(*)( A prova desta última parte será omitida (Veja Jehele e Reny, pp.98-99.) Exemplo 1: Suponha uma loteria quepaga 3 premios possíveis: { }000.10$,000.20$,000.50$ −=A . 13 Sabemos que o agente é indiferente entre ganhar com certeza e participar de uma loteria que paga com probabilidade e 000.20$ 000.50$ 6.0 000.10$− com probabilidade . 4.0 (a) Construir a utilidade VNM; (b) Entre as loterias: )000.50$8.0,000.20$2.0( oo=g )000.50$9.0, o e qual delas o agente preferirá ? 000.20$03.0,000.10$07.0( oo −=h Solução: (a) Visto que )000.10$0,000.50$1(000.50$ −≈ oo )000.10 e $1,000.50$0(000.10$ −≈− oo .0)000.10( =−u , colocamos: e 1=)000.50(u Visto que )000.10$4.0,000.50$6.0(000.20$ −≈ oo colocamos , de modo que a utilidade VNM está completamente definida sobre 6.0)000.20( =u A . (b) Como a utilidade acima tem a propriedade da utilidade esperada, temos entao: 92.0)1(8.0)6.0(2.0)000.50(8.0)000.20(2.0)( =+=+= uugu e ++=++−= )6.0(03.0)0(07.0)000.50(9.0000.20(03.0)000.10(07.0)( uuuhu . 918.0)1(9.0 = Assim, como )()( hugu > o agente preferirá a loteria g . Multiplicidade da representaçao VNM Na teoria do consumidor, onde a escolha entre cestas de bens é feita sem incerteza, vimos que a funçao de utilidade é única a menos de uma transformação crescente desta utilidade. 14 Isto é, qualquer transformaçao crescente de uma dada funçao de utilidade representa as mesmas preferências que esta funçao. No caso da utilidade VNM, que representa as preferências entre loterias, os valores de utilidade também tem funçao ordinal, mas o significado destes valores vai um pouco além. Veremos que, de um modo geral, só uma classe menor de transformações crescentes da utilidade não alteram a representaçao das preferências: a classe das transformações crescentes afim. Com efeito, suponha uma loteria sobre onde e suponha que a relação de preferências atenda os axiomas (A1)-(A6). { }cbaA ,,= cba ff )( ≥ Por (A3) e (A4) existe um número )1,0(∈α tal que ))1(,( cab oo αα −≈ . Este número α está diretamente relacionado com as preferencias do agente decisor: qualquer alteração no seu valor significa alteração na sua preferência. Pelo teorema 1 existe uma funçao de utilidade VNM tal que u )()1()()( cuaubu αα −+= de modo que: )()( )()(1 cubu buau − −=−α α Vemos que qualquer transformação da utilidade u que preserva a razão das diferenças à direita da igualdade acima, não altera o valor da razão αα /)1( − do lado esquerdo e, consequentemente, não altera a representaçao das preferências. Por exemplo, uma transformação crescente afim de u , do tipo 0>: ;+= δδγ uv serve, pois: 15 α α δγδγ δγδγ −=− −=−−+ −−+=− − 1)()( )()( )()( )()( )()( )()( cubu buau cubu buau cvbv bvav O teorema seguinte estabelece não apenas a suficiência deste resultado, mas também a sua necessidade. Teorema 2: A utilidade VNM é única a menos de uma trasformaçao positiva afim. Suponha que a funçao de utilidade u represente as preferências . Entao, a funçao de utilidade )( ≥ v representa as mesmas preferências se e sòmente se, para alguma constante γ e algum escalar 0>δ , )()( gugv δγ += Para qualquer loteria Gg ∈ . A demonstração da necessidade deste resultado, isto é, de que nenhuma outra transformação além da afim é capaz de preservar a mesma representaçao, se encontra no livro de Jehle e Reny, pp.102-104. 4. Atitudes face ao Risco Vamos agora supor que os prêmios da loteria são números reais não negativos, na forma de renda monetária. Assim é um conjunto contínuo. Todavia, continuaremos a considerar loterias com um número finito de prêmios : . += RA n nxxx ,...,, 21 Uma loteria simples g é notada: ),...,( 11 nn xpxpg oo= . Vamos agora caracterizar as atitudes do agente face ao risco através da utilidade VNM. 16 O premio esperado da loteria g é: . ∑ == ni ii xpgE 1)( Suponhamos que o agente tenha de escolher entre uma loteria g e uma renda certa igual à )(gE . Qual delas ele preferirá ? Se suas preferências entre loterias atendem os axiomas (A1)-(A6) da seção 2 sabemos que ele poderá usar sua utilidade VNM u , para comparar estas duas alternativas: Loteria :g ∑ == ni ii xupgu 1 )()( Renda certa )(gE : ∑ == ni ii xpugEu 1 )())(( Se o agente prefere a renda certa )(gE à renda aleatória da loteria g , dizemos que ele é avesso ao risco em g. Se ele é indiferente entre a renda certa e a renda aleatória de g , dizemos que ele é neutro ao risco em g . Se ele prefere a loteria g à renda certa )(gE , dizemos que ele é propenso ao risco de g. Como a preferência do agente é representada pela utilidade VNM u , temos então as seguintes definições: Definições: Seja a utilidade VNM do agente, definida para u loterias cujos prêmios monetários são não negativos. Seja uma loteria simples ),...,( 11 nn xpxpg oo= não degenerada. O agente é dito: (i) Avesso ao risco se: GggugEu ∈∀> ,)())(( 17 (ii) Neutro ao risco se: GggugEu ∈∀= ,)())(( (iii) Propenso ao risco se: GggugEu ∈∀< ,)())(( A cada uma destas atitudes em face do risco corresponde uma propriedade específica da utlidade VNM u . Se o agente é avesso ao risco, sua utilidade VNM é estritamente côncava; Se o agente é neutro ao risco, sua utilidade VNM é linear; Se o agente é propenso ao risco, sua utilidade VNM é estritamente convexa; Para vermos a relaçao entre a concavidade da utilidade VN e a aversão ao risco do agente, considere que u é estritamente côncava se e sòmente se a reta secante passando por dois pontos quaisquer e ( é estritamente menor que os valores da funçao entre estes dois pontos. ))(,( nn xux ))( 11 xx , u Isto é, supondo sem perda de generalidade, que , no caso de concavidade estrita devemos ter: nxx >1 )()( xSxu > para todo ),( 1xxx n∈ onde )()()()()( 1 1 n n n n xxxx xuxuxuxS −− −+= é a reta secante passando pelos pontos acima. Considere agora que seja oferecido ao agente a escolha entre a loteria ))1(,( 1xpxpg n oo −= e a renda certa . 1)1()( xppxgE n −+= 18 Avaliando a desigualdade acima no ponto )(gEx = teremos: ))1(()()()())(())(( 1 1 1 nn n n n xxppxxx xuxuxugESgEu −−+− −+=> )()1()())()()(1()( 11 xupxpuxuxupxu nnn −+=−−+= )(gu= (aversão ao risco). Vemos entao que a concavidade estrita de u implicará que o agente seja avesso ao risco. Fig.1: Utilidade VNM côncava e Aversão ao Risco x1xn u(x1) u(xn) u(x) S(x) E(g) u(E(g)) u(g) EC P Aversao ao Risco renda0 19 Na Figura acima, o indivíduo prefere a renda certa )(gE à renda incerta da loteria g . Equivalente Certeza Mas existe um montante de renda positivo )(EC que, se lhe fosse oferecido, o agente avesso ao risco estaria indiferente entre aceitar este valor ou aceitar a loteria g . Este montante é a renda EC ilustrada no gráfico, chamada equivalente certeza. Vemos que: gEC ≈ , pois ).()( guECu = É possível facilmente provar que, se o agente é avesso ao risco e sempre prefere mais renda a menos renda, o equivalente certeza é um montante menor que a renda esperada da loteria: )(gEEC < . Premio de Risco O premio de risco P associado à uma loteria g é o montante de renda adicional máximo que o agente estádisposto a renunciar, ou “pagar”, para evitar o risco inerente de g . Formalmente, P é um valor tal que )())(( guPgEu =− . Sendo u estritamente monotonica, temos entao: ECgEP −= )( 20 como indicado na Figura 1. Exemplo 2: O agente tem utilidade sobre a renda 0>R igual à . Esta funçao é estritamente côncava, de modo que o agente é avesso ao risco. 10/)( ReRu −−= O agente tem uma renda inicial igual à 100 il reais e faz face à uma loteria m g que lhe permite ganhar ou perder mil reais com idêntica probabilidade: 10 )90 2 1,110 2 1( oo=g . Vamos calcular o equivalente certeza e o premio de risco desta loteria, para este agente. 1002/902/110)( =+=gE e temos: 10/)( CEeCEu −−= e )1( 2 1)( 2 1)( 2 1)( 21110/9010/110 eeeegu +−=−+−= −−− . Igualando estes duas últimas expressões e tomando o logaritmo Neperiano dos dois lados vem, após multiplicação da equaçao por 1− : )433.1(10110)2/)1ln((10110)1ln(11)2ln( 10 1 22 −=+−=⇒+−+= eCEeCE Ou, ainda: 67.9533.4100 =−=CE O premio de risco é, portanto: 33.467.95100)( =−=−= CEgEP mil reais, o que corresponde à 4.33% do capital inicial. Este é o valor máximo que o agente estaria disposto a pagar, para evitar o risco inerente da loteria. A identificação das atitudes dos agentes em face do risco com a curvatura da funçao de utilidade é a aplicação à utilidade VNM de um resultado geral, 21 encontrado no curso de Estatística, a desigualdade de Jensen. Desigualdade de Jensen Considere uma variável aleatória , com suporte X RX ⊆Ω e valor esperado EX finito e a funçao , Rg X →Ω: que suporemos seja diferenciável em uma vizinhança de EX . Entao, g é côncava (convexa) em uma vizinhança de EX se e somente se )()( XEgEXg ≥ ))()(( XEgEXg ≤ . A prova da desigualdade de Jensen é simples: Temos g côncava em uma vizinhança de EX se e sòmente a reta tangente à g em EXX = , )(XT não ficar abaixo da funçao, nesta vizinhança, isto é: )())(()()( XgEXXEXgEXgXT ≥−′+= Tomando então o valor esperado de ambos os lados da desigualdade e usando o fato que E é um operador monotonico, obtemos )()( XEgEXg ≥ . ⊕ 5. Medidas de Aversão ao Risco Em muitas situações reais, não basta saber se o agente é ou não avesso ao risco; é necessário saber também o quanto avesso ele é. Além disso, ao analista de risco, é importante ter em mãos alguma medida de risco sumária que permita efetuar comparações interpessoais ou avaliar como esta medida varia de acordo com diferentes níveis de riqueza do agente. 22 Pratt (1964) e Arrow (1970) propuseram o seguinte indicador, chamado Aversao Absoluta ao Risco: )( )()( Ru RuRA ′ ′′−= Nesta fórmula, o numerador identifica a atitude face ao risco: se a derivada segunda )(Ru ′′ for negativa (nula, positiva), o indicador )(RA é positivo (nulo, negativo), a utilidade VNM é côncava (linear, convexa), o que permite caracterizar a aversão (neutralidade, propensão) ao risco, como vimos anteriormente. Por outro lado, a divisão pela utilidade marginal da renda , na fórmula de )(Ru′ )(RA , permite padronizar as variações da curvatura da utilidade causadas por mudanças no nível da riqueza, o que torna a medida invariante a transformações afins da utilidade. Isto é muito importante, pois a representaçao das preferências só é invariante a transformações crescentes afins da utilidade VNM. Já a magnitude do indicador )(RA é uma medida da intensidade da aversao ou propensão ao risco. Quanto maior seu valor (em módulo) maior é a curvatura da utilidade e, em conseqüência, maior a aversao ou propensão ao risco. Pode-se provar, com efeito, que elevados valores de )(RA estão associados à baixos valores do equivalente certeza )(EC e elevados prêmios de risco )(P . Exemplo 3: No caso das seguintes funções de utilidade: (a) RRu ln)( = ; (b) 0,1;)( ≠<= ρρρ ρRRv , (c) , (d) ReRw α−−=)( 0;0;2 <>)( ++= cbcRbRaRω obtemos os seguintes coeficientes de aversao absoluta: 23 (a) R RA 1)( = ; (b) R RA ρ−= 1)( ; (c) α=)(RA ; (d) cRb cRA 2 2)( + −= Nos casos (a) e (b) a intensidade da aversao ao risco decresce com o aumento da renda (riqueza) do agente. Para caracterizar esta atitude, a literatura usa a sigla DARA (Decreasing Absolute Risk Aversion) No caso (c) ela é constante. Esta atitude recebe o a sigla CARA (Constant Absolute Risk Aversion). No caso (d) ela aumenta com o aumento da riqueza, nos níveis compatíveis com utilidade crescente. Aversao Absoluta e Riqueza A intuição econômica e a evidencia empírica sugerem que, na maioria das vezes, a aversao absoluta ao risco é decrescente com relação ao nível da riqueza. Isto é, pessoas mais ricas seriam mais tomadoras de risco, suas medidas de aversao ao risco )(RA decresceriam com aumentos de R , como nos casos (a) e (b) sugeridos acima. Isto ocorreria porque a propensão a pagar para evitar o risco de uma loteria justa deveria diminuir com o aumento da riqueza, pois o decrescimento da utilidade marginal da renda tornaria as perdas potencias da loteria menos graves para pessoas mais abastadas. Entretanto, deve-se considerar, em contrário, que o decrescimento da utilidade, na margem, também tornaria os ganhos potenciais da loteria menos atrativos, de modo que pessoas mais abastadas poderiam demandar menos loterias, isto é, apresentar maior aversao ao risco, justamente por causa da menor atratividade da renda lotérica. 24 A ação destes dois efeitos opostos torna de fato, indeterminada a relação entre a aversao ao risco e o nível da riqueza. Apesar da intuição econômica e a evidencia empírica, ambas apontarem para a dominância do primeiro efeito, tudo depende na verdade das preferências de cada agente, isto é, da forma da sua funçao de utilidade, como sugerem os quatro casos apresentados acima. Aversao Relativa ao Risco Entretanto, é pouco provável que a propensão a pagar para evitar o risco associado à uma dada loteria seja independente da renda da pessoa. Como mencionado acima, uma hipótese plausível é que a aversao absoluta ao risco decresça com a renda e o faça de modo inversamente proporcional à ela, como nos casos (a) e (b) de Exemplo 3 acima. Seguindo esta ordem de raciocínio, Pratt (1964) argumentou que a expressão )(RRA deveria ser aproximadamente constante. Isto o levou a definir a Aversao Relativa ao Risco: )( )()( Ru RuRRa ′ ′′−= Observe que a aversao relativa ao risco não é outra coisa que o negativo da elasticidade da utilidade marginal da renda: R RuRa ln )(ln)( ∂ ′∂−= . Assim, no Exemplo 3, teremos, no caso (a) : 1)( =Ra e, e no caso (b): ρ−= 1)(Ra ambos constantes. 25 6. Bibliografia e Exercícios sugeridos Bibliografia: [SN] Cap.7 [N] Cap.18 [JR] Sec.2.4 Exercícios Sugeridos. Anpec: 2012/ Q05 2011/ Q05 2010/ Q04, Q05 2009/ Q08 2008/ Q03, Q04 [SN]: 7.1 - 7.5, 7.7 e 7.9-7.10 (Analytical) [JR] : 2.23 - 2.28
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