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UNIDADE VIII – OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS 1. CONCEITO E CARACTERÍSTICAS Entende-se por obrigação solidária, como sendo aquela em que há multiplicidade de credores e/ou devedores, tendo cada credor o direito de exigir à totalidade da prestação, como se fosse o único credor, bem como cada devedor obrigado pela dívida toda, como se fosse o único devedor, art.264 do CC. Desse conceito extrai-se que a obrigação solidária pode ser ativa e passiva. Na obrigação solidária ativa, há multiplicidade de credores, com direito a uma quota da prestação, mas que por motivo da solidariedade cada qual pode exigi-la por inteiro ao devedor comum, art.267 do CC. Já na obrigação solidária passiva há multiplicidade de devedores, onde cada um destes é obrigado a cumprir a prestação por inteiro (Gonçalves, 2016, p.132). É nesse contexto que Gonçalves (2016, p.132) identifica quatro características das obrigações solidárias: a) Pluralidade de sujeitos ativos e/ou passivos; b) Multiplicidade de vínculos: há vínculos entre os cocredores (relação jurídica interna) e entre estes e o devedor (relação jurídica externa); há vínculos entre os codevedores (relação jurídica interna) e entre este e o credor (relação jurídica externa); c) Unidade de prestação: cada devedor responde pelo débito todo e cada credor pode exigi-lo por inteiro. d) Corresponsabilidade dos interessados: o pagamento da prestação por um dos devedores extingue a obrigação dos demais, embora o que tenha pago possa reaver dos outros as quotas de cada um. Vale ressaltar que a solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes, art.265 do CC. É, portanto, valendo-se da solidariedade passiva estipulada no art.932, III do CC, que a vítima pode exigir que o empregador pague o dano que o seu empregado lhe causou. Ainda no que se refere as disposições gerais das obrigações solidárias, o art.266 do CC dispõe que a solidariedade pode ser de modalidade diferente para um ou alguns dos codevedores ou cocredores, de modo que a obrigação pode ter características de cumprimento diferentes para cada um dos cocredores ou codevedores, podendo, inclusive, vir a ser considerada inválida apenas em relação a um deles. Logo o codevedor condicional não pode ser demandado senão depois do evento futuro e incerto e o devedor solidário puro e simples poderá reclamar o reembolso do codevedor condicional se ocorrer a condição (Gonçalves, 2016, p.138). Após esse intróito, será analisado separadamente a solidariedade ativa e a solidariedade passiva. 2. DA SOLIDARIEDADE ATIVA A solidariedade ativa é a relação jurídica estabelecida entre credores de uma só obrigação e o devedor comum, em virtude da qual cada credor tem o direito de exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro, art.267 do CC. Pagando o débito a qualquer um dos cocredores o devedor se exonera da obrigação. Ex: A, B e C são credores de D. Nos termos do contrato o devedor D deverá pagar a quantia de R$300.000,00, havendo sido estipulado a solidariedade ativa entre os credores da relação obrigacional. Somente o credor A exige o pagamento integral da dívida ao devedor D, este ao pagá-la fica exonerado da obrigação. Deverá então, o credor A, pagar aos cocredores B e C as suas respectivas quotas partes. Sendo a obrigação solidária ativa uma espécie de obrigação composta por multiplicidade de sujeitos, o que a diferencia das obrigações divisíveis com multiplicidade de credores e das obrigações indivisíveis com multiplicidade de credores? a) Obrigação solidária ativa X obrigação divisível com multiplicidade de credores: nesta cada um dos credores só terá direito de exigir do devedor a sua quota parte na prestação; enquanto que na solidariedade ativa qualquer dos credores pode exigir o cumprimento da prestação por inteiro ao devedor. b) Obrigação solidária ativa X obrigação indivisível com multiplicidade de credores: nesta qualquer credor pode exigir o pagamento por inteiro da prestação ao devedor, desde que apresente autorização dos demais credores ou dê uma caução de ratificação; já na obrigação solidária ativa qualquer dos credores pode exigir o cumprimento da prestação por inteiro ao devedor. Outra grande diferença entre estas duas obrigações ocorre quando, tanto uma, como a outra, são resolvidas em perdas e danos. Quando a obrigação solidária ativa é resolvida por perdas e danos, a solidariedade permanece, de modo que o devedor continuará obrigado a pagar a qualquer um dos cocredores. Já no tocante a obrigação indivisível, quando se resolve em perdas e danos, perde a sua qualidade de indivisível e passa a ser divisível, de modo que o devedor será obrigado a dar a cada credor o equivalente de suas quotas equivalentes da prestação mais perdas e danos. Ressaltam Gagliano e Pamplona Filho (2014, p.109) e Gonçalves (2016, p.140-141), que é raro encontrar na prática casos de solidariedade ativa pactuada entre as partes 1 . Tal fato pode está relacionado, com a possibilidade do credor que recebeu o pagamento de toda a prestação, não repassar aos demais cocredores as suas respectivas quotas partes e estes não poderem mais reclamar do primitivo devedor. Assim, estabelecida a solidariedade ativa, o devedor poderá pagar toda a prestação a um dos credores e se exonerar da obrigação. Porém, esse direito de escolha do devedor cessará, quando um ou alguns dos credores ajuizarem ação de cobrança, art.268 do CC. Em tal hipótese o devedor só se libera pagando em juízo o próprio credor que tomou a iniciativa, de modo que se pagar a qualquer outro credor estará pagando mal e poderá pagar outra vez (Gonçalves, 2016, p.144-145). Havendo a morte de um dos credores, a obrigação se transmite a seus herdeiros, no entanto cessa a solidariedade em relação aos sucessores, uma vez que cada qual somente poderá exigir a quota do crédito relacionado com o seu quinhão de herança (refração de crédito), art.270 do CC. Ex: caso a cota do credor que faleceu seja de R$12.000,00, cada um dos três herdeiros somente poderá exigir do devedor a quantia de R$4.000,00. Entretanto, não ocorrerá a refração de crédito se a prestação tiver objeto naturalmente indivisível, o que permitirá que qualquer um dos sucessores cobre a prestação por inteiro (Tartuce, 2014, p.78). 1 A jurisprudência reconheceu a existência de solidariedade ativa entre os titulares de conta bancária conjunta, que possam movimentá-la livremente. (STJ, REsp 13.680, Rel. Min.Athos Gusmão Carneiro, DJ, 16-11-1992). O Supremo Tribunal Federal já decidiu, contudo, que, falecendo um dos titulares de conta bancária conjunta, pode o outro ou um dos outros “levantar o depósito a título de credor exclusivo e direito e não a título de sucessor e comproprietário. Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade, ou seja, permanece o devedor obrigado a pagar a qualquer um dos cocredores, art.271 do CC. É nesta regra em que reside a principal diferença entre obrigação solidária ativa e obrigação indivisível, pois resolvendo-se esta em perdas em danos ocorrerá a supressão da indivisibilidade, tornando-a divisível, de modo que o devedor só será obrigado a dar as quotas partes equivalentes de cada credor na prestação. Proclama o art.273 do CC que “a um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais aos outros”. Tal dispositivo deixa expresso que as exceções (defesas) que o devedor possa alegar contraum só dos credores solidários não podem prejudicar aos demais. Dentre as exceções pessoais mais comuns são: vícios de consentimento, incapacidade jurídica, inadimplemento de condição, dentre outras. Ex: se o devedor foi coagido por um credor solidário a celebrar determinado negócio jurídico, a anulabilidade do negócio somente poderá ser oposta em relação a esse credor, não em relação aos demais credores, que nada têm haver com a coação exercida (Tartuce, 2014, p.78-79). Em complemento ao art.273 do CC o legislador dispôs o art.274: Art.274. O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge aos demais; o julgamento favorável aproveita-lhes, a menos que se funde em exceção pessoal do credor que o obteve (Nova redação, dada pela Lei n.13.105/2015). É de uma clareza solar a primeira parte do artigo supracitado, ao afirmar que o julgamento contrário a um dos credores não atinge os demais, que permanecem com os seus direitos resguardados. O problema encontra-se na segunda parte do artigo. Segundo Tartuce (2014, p.79), se um dos credores vencer a ação, essa decisão atinge a todos os demais credores, salvo se o devedor tiver em seu favor alguma exceção pessoal passível de ser invocada a outro credor que não participou do processo. Não obstante a interpretação do doutrinador Tartuce ser lógica e coerente, não reflete a literalidade do artigo, uma vez que este se refere que a exceção pessoal é a favor do credor, gerando dessa forma um questionamento a nível processual. Didier Jr. citado por Tartuce (2014, p.80), afirma que o julgamento favorável ao credor não pode estar fundado em exceção pessoal, haja vista esta ser alegação de defesa do devedor. Dessa forma, quando se defere a exceção pessoal alegada pelo devedor, estar-se-ia julgando desfavoravelmente o pedido do credor. Ainda com relação a solidariedade ativa, cumpre apresentar duas observações com relação ao instituto da prescrição: a) Se a prescrição for suspensa em favor de um dos credores solidários, só aproveitará aos demais se o objeto da prestação for indivisível, art.201 do CC; b) a interrupção da prescrição por um dos credores da obrigação solidária ativa aproveita aos demais, art.204 do CC. Ex: um credor protesta título em cartório, a interrupção da prescrição aproveitará aos demais credores solidários. 2.1. Extinção da obrigação solidária ativa A solidariedade ativa implica em conceder a qualquer dos cocredores, o direito de exigir o pagamento integral da prestação ao devedor. Dessa forma, pagando a um dos credores, estará o devedor exonerado da obrigação. No entanto, adverte o art.269 do CC, que para o pagamento produzir a extinção total da dívida, a de ser total, pois, o pagamento parcial extingue até o montante do que foi pago. É importante frisar que o pagamento efetuado de forma indireta (novação, dação, remissão, compensação e confusão) produz o mesmo efeito quanto o realizado de forma direta. Para compreender melhor será explicado cada uma dessas formas indiretas de pagamento da obrigação. a) Novação, art.360 do CC: é a criação de obrigação nova, para extinguir uma anterior. É a substituição de uma dívida por outra, extinguindo-se a primeira. Ex: D é devedor comum dos credores A, B e C. Ocorre que D propõe a A a extinção da obrigação de pagar R$6.000,00 pela obrigação de construir a sua casa. A aceitação do credor A gerará duas consequências: (1) o credor A terá que pagar aos demais credores as suas quotas partes, ou seja, terá que pagar a B R$2.000,00 e a C R$2.000,00; (2) o devedor D agora estará obrigado a tão somente ao credor A. b) Dação, art.356 do CC: é o ato pelo qual o credor consente em receber coisa diversa da prestação que era devida. Ex: o devedor D deve a quantia de R$60.000,00 aos credores solidários A, B e C. Ocorre que o devedor D, propõe ao credor A, a receber a sua Ferrari ano 2015, em substituição do pagamento de R$60.000,00. O credor A aceita, liberando o devedor D da obrigação para com os demais credores. Porém, o credor A deverá pagar as devidas quotas partes dos demais credores B e C. c) Compensação, art. 368 do CC: é um meio de extinção de obrigações, porém entre pessoas que são, ao mesmo tempo, credor e devedor uma da outra. Ex: João deve a Paulo, Maria e Fernando a quantia de 300.000,00 que deverá ser paga daqui a um ano. Ocorre que após seis meses, Paulo pede um empréstimo a João de R$300.000,00. João ao emprestar compensa a sua dívida e fica exonerado da obrigação. Porém, Paulo deve pagar a Maria e a Fernando, respectivamente, a quantia de R$100.000,00. d) Confusão, art.381 do CC: ocorre quando as qualidades de credor e devedor se encontram em uma só pessoa. Assim, o que cabe ao devedor fazer é descontar o próprio crédito que herdou de um dos credores e manter a solidariedade do restante. Ex: João deve ao seu tio Paulo e aos seus amigos Ricardo e Fernando a quantia de R$300.000,00. Foi acordado a solidariedade entre os credores. Ocorre que Paulo falece e João é o seu único herdeiro. Dessa forma se Ricardo exigir o pagamento da dívida a João, deve descontar R$100.000,00 deste haja vista ser essa a quota-parte equivalente do seu tio, a qual herdou. 2.2. Direito de regresso A principal característica das relações internas entre os cocredores solidários, consiste no fato, de o crédito se dividir em partes iguais ou quotas que se presumem iguais, até prova em contrário, tanto que o credor que tiver remitido (perdoado) a dívida ou recebido o pagamento responderá aos outros pela parte que lhes cabia, como proclama o art.272 do CC (Gonçalves, 2016, p.152). Logo o recebimento integral da prestação por um dos credores, converte este em devedor dos demais cocredores, que terão o direito de requerer as suas devidas quotas partes na obrigação. Vale ressaltar que, se um dos credores remitir o devedor, assumirá o lugar deste, de modo que ficará obrigado a pagar as quotas dos outros credores. 3. OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA PASSIVA 3.1. Conceito A obrigação solidária passiva pode ser conceituada como sendo uma relação obrigacional, oriunda de lei ou de vontade das partes, com multiplicidade de devedores, sendo cada um destes obrigados ao pagamento integral da dívida, como se fosse o único devedor. Porém, aquele que paga toda a dívida, terá direito de cobrar dos demais codevedores a quota- parte de cada um. Dessa forma o principal efeito da solidariedade passiva consiste no direito que confere ao credor de exigir de qualquer dos devedores o cumprimento integral da prestação. Tal direito é uma faculdade do credor. Este poderá exigir toda dívida de um dos devedores, ou de dois, ou mesmo parte da dívida. Se o pagamento foi integral, operar-se-á a extinção da relação obrigacional, exonerando-se todos os codevedores. Se o pagamento foi parcial e efetuado por um dos devedores, os outros ficarão liberados até a concorrência da importância paga, permanecendo solidariamente devedores do remanescente, art.275 do CC (Gonçalves, 2016, p.157). O parágrafo único do art.275 adverte que a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores não importa na renúncia à solidariedade. Ou seja, o devedor demandado poderá na contestação chamar os demais codevedores a compor com ele o lado passivo do processo (chamamento ao processo, art.130, III do NCPC). Assim, sendo, se formará um litisconsórcio passivo, onde qualquer dos réus estará obrigado ao pagamento integral. Aquele que pagar, pode valer-se da própria sentença, como título executivo judicial,para obter as quotas dos demais litisconsortes (art.132 do NCPC). Ementa: Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. SAÚDE. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO. LEGITIMIDADE PASSIVA DO MUNICÍPIO. OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA DOS ENTES DA FEDERAÇÃO. AGRAVO IMPROVIDO. I - A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que é solidária a obrigação dos entes da Federação em promover os atos indispensáveis à concretização do direito à saúde, tais como, na hipótese em análise, o fornecimento de medicamento ao recorrido, paciente destituído de recursos materiais para arcar com o próprio tratamento. Desse modo, o usuário dos serviços de saúde, no caso, possui direito de exigir de um, de alguns ou de todos os entes estatais o cumprimento da referida obrigação. Precedentes. II – Agravo regimental improvido. (AgR, STF, RE 734288 MG, Min. RICARDO LEWANDOWSKI, julgado, 13/08/2013). 3.2. Efeitos da morte de um dos devedores solidários Gagliano e Pamplona Filho (2014, p.115), de forma didática, sistematizam as possíveis soluções no caso da morte de um dos devedores solidários. Assim, segundo estes doutrinadores, a hermenêutica do art.276 do CC pode ser compreendida da seguinte forma: a) Dívida indivisível: qualquer herdeiro, individualmente, pode ser compelido a pagar tudo, bem como qualquer devedor; b) Dívida divisível: nesse caso, a situação varia se o herdeiro for acionado individualmente ou reunido com os demais herdeiros: b.1) Acionado individualmente: sendo a dívida divisível e o herdeiro acionado individualmente, pagará apenas sua quota-parte na herança, não podendo ser compelido a pagamento que supere sua parte na herança. Mesmo que tenha patrimônio pessoal superior, sua obrigação na dívida restringe-se aos limites da força da herança, em sua quota-parte; b.2) Acionamento coletivo dos herdeiros: se a dívida for divisível e os herdeiros forem acionados em conjunto, podem ser compelidos a pagar toda a dívida, pois ocupam a posição do devedor falecido. Formam um litisconsórcio passivo necessário, pois serão vistos como se fosse um único codevedor em relação aos demais devedores. 3.3. Relações entre os codevedores solidários e o credor. 3.3.1. Consequencias do pagamento parcial e da remissão. Pelo art.277 do CC, se o credor aceitar o pagamento parcial de um dos devedores, os demais só estarão obrigados a pagar o saldo remanescente. Ex: X, Y e Z devem solidariamente a B a quantia de R$300.000,00. Ocorre que B aceita o pagamento parcial da dívida por X (R$100.000,00), de modo que os demais codevedores estarão obrigados ao saldo remanescente (R$200.000,00). Tal posicionamento é igual no caso de remissão da dívida de um dos devedores. Assim, se o credor perdoar a dívida em relação a um dos devedores solidários, os demais permanecerão vinculados ao pagamento da dívida, abatida da quantia perdoada. Ex: X, Y e Z devem solidariamente a B a quantia de R$300.000,00. Ocorre que B perdoa a dívida de Y, o que nessa ocasião permanecerão solidários X e Z ao pagamento de R$200.000,00 ao credor B. Vide julgado: Ementa: EXECUÇÃO. DEVEDORES SOLIDÁRIOS. PAGAMENTO PARCIAL POR UM DELES. SUBSISTÊNCIA DA OBRIGAÇÃO QUANTO AOS DEMAIS. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1 - Embora o recorrente defenda a inexigibilidade do título ao argumento de que um dos devedores solidários teria realizado transação para pagamento da dívida em questão, sabe-se que, em se tratando de obrigação solidária, havendo pagamento parcial por um dos devedores, todos os demais permanecem solidariamente obrigados quanto ao valor remanescente. 2 - Pelo que consta dos autos, a despeito da transação realizada, os depósitos efetuados não alcançam a totalidade da dívida (mesmo porque o pagamento se estende até o mês de dezembro de 2017), donde se conclui haver valor remanescente, o que torna exigível o título exequendo. 3 - Diante disso, deve-se considerar a satisfação parcial do crédito, até o limite do valor efetivamente pago pelo devedor transator, não estando os demais devedores desobrigados, portanto, permanecendo solidariamente obrigados quanto ao montante restante. 4 - Recurso a que se nega provimento. (AgI/PE, TJPE, 2ª Câmara Cível, Min. Rel. Alberto Nogueira Virginío, DOJ, 24/10/2014). Diferente do pagamento parcial realizado por um dos devedores que beneficia aos demais codevedores, há a estipulação de cláusula, condição ou obrigação adicional realizada por um dos devedores com o credor, que agrava ou piore a posição dos demais codevedores sem a participação destes. Neste caso como os demais codevedores estavam alheios a estipulação agravada, esta vinculará tão somente ao devedor que acordou diretamente com o credor, art.278 do CC. Conseguintemente, se um dos devedores estipula com o credor, à revelia dos demais, cláusula penal e/ou taxa de juros mais elevada, será restrita exclusivamente ao próprio estipulante, não podendo afetar os demais codevedores que não anuíram a nova determinação. 3.3.2. Renúncia da solidariedade Como a solidariedade constitui benefício instituído em favor do credor, pode dele abrir mão, ainda que se trate de vínculo resultante de lei (Gonçalves, 2016, p.163). O credor pode renunciar a solidariedade em prol de todos os coobrigados (renúncia absoluta), o que nesse caso cada devedor passará a responder pela sua quota-parte. Destarte, se o credor renunciar em proveito de um ou alguns devedores (renúncia relativa), conservar- se-á, no entanto, a solidariedade para os demais, art.282 do CC. Dessa forma se o credor renunciar a solidariedade para um ou alguns dos devedores dividirá a obrigação em duas partes: uma pela qual responde o devedor favorecido com somente a sua quota-parte; e a outra, a que se acham solidariamente sujeitos os outros devedores. Nesta última o credor só poderá exigir o pagamento da dívida abatido do débito da parte correspondente ao devedor cuja obrigação deixou de ser solidária (Gonçalves, 2016, p.164). A renúncia pode ainda ser expressa e tácita. A primeira resulta de declaração verbal ou escrita, onde o credor abdica-se do benefício; a segunda decorre do comportamento do credor que demonstra de forma inequívoca a sua intenção de renunciar a solidariedade, por exemplo, quando permite que o devedor pague apenas a sua quota-parte, dando-lhe quitação, sem ressalva de exigir-lhe o restante. Vale ressaltar que a renúncia da solidariedade diverge da remissão. O credor que renuncia continua sendo credor, embora sem a vantagem de exigir o pagamento na íntegra a qualquer devedor, mas tão somente a sua quota-parte; ao passo que aquele que remite o débito abre mão do seu crédito, liberando o devedor da obrigação (Gonçalves, 2016, p.165). 3.4. Impossibilidade da prestação Quando a prestação se torna impossível, faz-se mister averiguar se a impossibilidade decorreu ou não da culpa do devedor. No caso da solidariedade passiva, não estando em mora os devedores e não sendo culpados pela impossibilidade da prestação, não responderão pelo prejuízo, art.393 do CC. No entanto, estando em mora todos os devedores e a prestação torna-se impossível mesmo por fato fortuito ou força maior, responderão os codevedores pelo equivalente mais as perdas e danos. Porém, o art.279 do CC versa da impossibilidade da prestação por culpa – que também deve ser aplicado no caso de mora – de apenas um dos devedores solidários. Nesse caso todos os devedores responderão pelo equivalente,mas, as perdas e danos só o culpado responderá. Ex: X, Y e Z devem solidariamente um touro reprodutor, avaliado no valor de R$30.000,00, ao credor B. Ocorre que antes da tradição o devedor Y colocou o touro juntamente com outros animais doentes, o que permitiu que contraísse a doença e viesse a falecer posteriormente. Nesse caso os devedores X, Y e Z serão solidariamente responsáveis pelo pagamento de R$30.000,00, porém, as perdas e danos somente o devedor Y irá arcar. Em complemento, o art.280 do CC enuncia que todos os devedores respondem pelos juros moratórios 2 , perante o credor, mesmo que o retardamento culposo seja imputável a um só devedor. Porém, no tocante à obrigação acrescida, como é o caso dos juros decorrentes das perdas e danos, responde apenas aquele que agiu com culpa (Tartuce, 2014, p.84) 2 Juros moratórios são aqueles devidos em razão do inadimplemento e correm a partir da constituição em mora. Os juros moratórios são calculados com base na taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional (taxa Selic, que hoje está no valor de 14,25%) (Gonçalves, 2016, p.168). 3.5. Meios de defesa dos devedores As exceções, no sentido legal, são os meios de defesa alegados pelo devedor demandado, contra a pretensão do credor. As exceções que podem ser arguidas por qualquer devedor, são chamadas de comuns, reais ou gerais. Ex: nulidade absoluta do negócio jurídico, anulabilidade do negócio jurídico, resultante da incapacidade relativa de todos os codevedores, um vício de consentimento experimentado por todos os codevedores. Dessa forma, as exceções comuns, podem ser utilizadas por qualquer dos codevedores contra a pretensão do credor. Porém, há também as exceções pessoais, as quais correspondem as defesas particulares, próprias, pertencentes a só um devedor, que quando alegada por este não podem beneficiar aos demais codevedores. Ex: não podem os outros codevedores que se obrigaram sem qualquer vício, alegarem em suas defesas a anulabilidade da obrigação, porque o outro coobriagado entrou na solidariedade sob coação, art.281 do CC. Assim, o devedor demandado poderá opor contra o credor as defesas que lhes são pessoais e aquelas comuns a todos. Entretanto, esse devedor demandado não poderá opor as exceções pessoais a que outro codevedor tem direito, eis que estas são personalíssimas, art.281 do CC (Tartuce, 2014, p.85). 3.6. Relações entre os codevedores Conforme já se afirmou, nas relações solidárias passivas há uma relação jurídica externa solidária entre os codevedores e o credor e uma relação jurídica interna fracionária entre os codevedores. Dessa forma, havendo a extinção da obrigação pelo cumprimento integral da prestação por um dos devedores, surgirá um complexo de relações entre os codevedores. Nessa nova fase a obrigação é divisível, de modo que, o devedor que pagou integralmente a dívida, terá o direito por meio da ação de regresso de obter dos demais devedores as suas quotas por ele antecipadas, sendo que será rateada entre todos a quota do devedor insolvente art.283 do CC. Percebe-se, portanto, que haverá sub-rogação nos termos do art.346, III do CC, uma vez que o devedor que cumpriu integralmente a prestação, terá o direito de exigir a quota dos demais devedores. Ex: X, Y e Z são devedores solidários de uma quantia de R$300.000,00 ao credor B. Ocorre que o devedor Y é demandado a pagar a dívida inteira. Este a paga e sub-roga-se no direito de pedir a quota de cada um dos devedores, ou seja, cada um dos devedores, X e Z, terá o dever de pagá-lo R$100.000,00 Ocorre que o devedor X encontra-se insolvente. Dessa forma o devedor Y, que ficou desfalcado de R$150.000,00 (R$100.000,00 referente a sua quota e R$50.000,00 da quota do devedor X insolvente) terá o direito de receber do devedor Z a quantia de R$150.000,00 (RS100.000,00 do devedor Z +50.000,00 do devedor insolvente X). Vale ressaltar que é dever dos coobrigados repartir, entre todos, inclusive o devedor exonerado pelo credor, a parte do insolvente, art.284 do CC. Ex: X, Y, Z e T devem R$360.000,00 ao credor B. Ocorre que B renunciou à solidariedade ao devedor Y, que lhe pagou a sua parte de R$90.000,00. Posteriormente, o devedor X cai em estado de insolvência ficando impossibilitado de contribuir para o pagamento da dívida, tendo o devedor Z efetuado sozinho o pagamento dos R$270.000,00 restantes. Nesse caso, o devedor Z, como o titular do direito de regresso, poderá exigir do devedor T a soma de R$120.000,00 (R$90.000,00 da sua quota +R$30.000,00 na participação na quota do insolvente), de Y – exonerado da solidariedade – a quantia de R$30.000,00 (participação na quota do insolvente), ficando ele próprio desfalcado de R$120.000,00 (R$90.000,00 da sua quota + R$30.000,00 da quota do devedor insolvente). Por fim determina o art.285 do CC, que se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar. Gonçalves (2016, p.176) explica esse artigo por meio do seguinte exemplo: “A” tem necessidade de obter um empréstimo para efetuar a colheita em sua propriedade rural. O banco exige a garantia de dois avalistas. O referido mutuário (o devedor que pede o empréstimo) obtém o aval, por meio dos amigos “B” e “C”, que se tornam assim devedores solidários. Vencido e não pago a dívida, pode o credor cobrá-la integralmente de qualquer devedor solidário, dentre estes os avalistas. Se um destes saldá-la sozinho, terá ação regressiva contra o referido mutuário, podendo dele cobrar todo o valor pago. Mas dos coavalistas só poderá cobrar a cota de cada um. Porém, se o devedor principal “A” pagar a dívida inteira, nenhuma ação terá contra os codevedores não interessados, pois nada mais fez do que solver a sua obrigação.
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