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TORTURA LEI COMENTADA

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Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo. 
Vedada a distribuição, ainda que gratuita. 	
  
	
  	
  
AUTORIA: PROFESSOR GUARACY MOREIRA FILHO 
REVISÃO E ATUALIZAÇÃO: PROFESSORA JULIANA MOREIRA 
 
TORTURA- LEI Nº. 9.455, DE 7 DE ABRIL DE 1997. 
 
Art. 1º Constitui crime de tortura: 
 I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, 
causando-lhe sofrimento físico ou mental: 
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de 
terceira pessoa; 
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; 
c) em razão de discriminação racial ou religiosa; 
 
 Comentários 
 
 1- Classificação doutrinária: crime comum, material (para alguns 
doutrinadores o crime é formal), doloso, de dano, instantâneo (consuma-se 
no momento da pratica da violência ou grave ameaça) ou permanente (a 
conduta pode prolongar-se no tempo) comissivo (omissivo na alínea b), 
plurissubsistente, unissubjetivo e admite tentativa. 
2- Sujeito ativo: qualquer pessoa. 
3- Sujeito passivo: qualquer pessoa. 
4- Objeto material: a pessoa que sofre a violência. 
5- Objeto jurídico: a dignidade humana, ou seja, tutela-se a integridade física 
e mental das pessoas. Dispõe o art.5°, inciso III da Constituição Federal que 
ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou 
degradante. 
	
  
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Vedada a distribuição, ainda que gratuita. 	
  
 6- Tipo objetivo: a conduta típica, punida com pena de reclusão de dois a 
oito anos, consiste em constranger alguém com emprego de violência ou 
grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental com o fim de obter 
informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa; para 
provocar ação ou omissão de natureza criminosa; e, em razão de 
discriminação racial ou religiosa. Constranger é obrigar, forçar, coagir alguém 
mediante violência física (socos, pontapés, choques elétricos, queimaduras 
etc.) ou psíquica (ameaça de morte ou qualquer outro meio verossímil de 
martírio, sofrimento e angústia), com o objetivo de obter informação, 
declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa; de provocar ação 
ou omissão de natureza criminosa e por motivo de discriminação racial ou 
religiosa. Embora a lei em estudo não diga especificamente o que significa 
sofrimento físico ou mental, deixando um amplo espaço de interpretações 
doutrinárias, o saudoso médico legista Carlos Delmonte, aponta as práticas 
mais frequentes de tortura: "1) pancadas, socos e golpes com objetos e 
sacos de areia, na cabeça, no dorso e genitais; 2) ameaças e humilhação; 3) 
aplicação de eletricidade em boca, orelhas, dorso, dedos, genitais, ânus e 
períneo; 4) venda nos olhos; 5) execução simulada; 6) testemunhar torturas; 
7) asfixia por submersão ("submarino"); 8) isolamento por mais de 48 horas 
(confinamento); 9) restrição alimentar por mais de 48 horas; 10) restrição e 
impedimento de sono; 11) suspensão pelas mãos e pés em grandes 
dispositivos tipo roda ("bandeira") ou em paus-de-arara; 12) estupro e outras 
violências sexuais, incluindo mutilação genital; 13) suspensão 
("crucificação"); 14) queimaduras com cigarros, óleos e objetos quentes e 
ácidos e similares; 15) pancadas nas solas dos pés com varas ou similares 
("falanga"); 16) contenção com cordas ou similares; 17) golpes simultâneos 
nas orelhas ("telefone"); 18) posição ou atitude forçada por horas ou dias; 19) 
arremesso de fezes ou urina; 20) administração forçada de drogas ou 
fármacos; 21) tração nos cabelos; 22) aplicação subungueal de agulhas; 23) 
privação de água e oferecimento de água suja, com sal ou sabão; 24) 
extração forçada de dentes; 25) impedimentos ou embaraços à evacuação de 
fezes e de urina; 26) impedimentos de cuidados médicos; 27) 
espancamentos diversos"(A perícia na tortura, Revista Justiça Penal, 5/ 21). 
 
Em Cotia atendemos um caso que ilustra o tema. Um menino de nove anos 
foi sequestrado por dois indivíduos que exigiram da família trinta mil reais 
para libertá-lo. O pai, após inúmeros contatos com os seqüestradores, levou 
a quantia no local combinado e, ao entregá-la a um dos criminosos é movido 
por uma violenta emoção, e começa a espancar o sujeito, aproveitando-se do 
seu físico avantajado, até o momento em que, diante da tortura que lhe era 
	
  
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infligida, o bandido acaba confessando o local do cativeiro. A policia é 
avisada, a criança resgatada, um dos seqüestradores preso e o outro 
internado no hospital, com diversos hematomas no corpo e fratura exposta no 
braço. Indaga-se: deveria o pai responder pela tortura imposta ao criminoso? 
Afinal, não foi ela executada para obter uma confissão? Suponhamos agora 
que, ao invés do pai, um policial atuasse em seu lugar e aplicasse os 
mesmos métodos mencionados acima. Estaria o policial ao abrigo de alguma 
causa de justificação? Entendemos que no primeiro caso houve uma causa 
supralegal de justificação que exclui a culpabilidade. É o que a doutrina 
convencionou chamar de inexigibilidade de conduta diversa. O desespero em 
que se achava o pai diante do inusitado fato, o desgaste psíquico- emocional 
que a situação lhe acarretava, o medo justificado de não mais encontrar o 
filho, ou de não mais encontrá-lo com vida, fez com que sua ação se 
justificasse. Já na segunda hipótese, a violenta emoção não se aplica ao 
policial, pois não se pode esperar de um agente público, de um profissional 
de policia, uma conduta que não seja ética e competente em suas delicadas 
funções. 
 
 PENAL. CRIME DE TORTURA (ART. 1º, INCISO I, ALÍNEA 'A', DA LEI Nº 
9.455/97). PROVAS. MATERIALIDADE. AUTORIA. DOLO. CONDENAÇÃO. 
NÃO OBSTANTE A NEGATIVA DE AUTORIA FIRMADA PELOS 
DENUNCIADOS, A MATERIALIDADE E A AUTORIA DO CRIME IMPUTADO 
AOS CORRÉUS RESTARAM COMPROVADAS PELOS DEPOIMENTOS E 
RECONHECIMENTOS REALIZADOS PELAS VÍTIMAS, CORROBORADOS 
PELAS DECLARAÇÕES DE TESTEMUNHAS PRESENCIAIS. ADEMAIS, O 
LAUDO PERICIAL CONSTATOU A PRESENÇA DE INÚMERAS LESÕES 
EM UMA DAS VÍTIMAS, AS QUAIS OS RÉUS NÃO SOUBERAM 
JUSTIFICAR. APESAR DE A PERÍCIA NÃO TER ENCONTRADO 
VESTÍGIOS DE AGRESSÕES FÍSICAS NA OUTRA VÍTIMA, AS PROVAS 
DOS AUTOS EVIDENCIARAM QUE A MESMA SOFREU, 
PREDOMINANTEMENTE, TORTURA PSICOLÓGICA OU MORAL, A 
CONFIGURAR O "SOFRIMENTO MENTAL" DESCRITO NO TIPO PENAL, 
SENDO QUE OS MAUS-TRATOS FÍSICOS, POR NÃO SEREM TÃO 
INTENSOS, NÃO DEIXARAM MARCAS. CARACTERIZADO O DOLO 
ESPECÍFICO DO CRIME QUANDO OS AGENTES POLICIAIS, APESAR DE 
DEMONSTRADA A MATERIALIDADE E A AUTORIA DO CRIME DE 
ROUBO, COM A CONFISSÃO DOS SUPOSTOS AUTORES, SEU 
RECONHECIMENTO PELA VÍTIMA E A APREENSÃO DA ARMA DE FOGO, 
PRATICAM ATOS DE TORTURA VISANDO OBTER INFORMAÇÕES QUE 
POSSIBILITASSEM A LOCALIZAÇÃO DA RES FURTIVA. APELAÇÃO 
	
  
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MINISTERIAL PROVIDA. TJDF - APR: APR 6029320038070008 DF 
0000602-93.2003.807.0008. Rel. Mario Machado- Julgamento- 25-06-2009. 
 
 7- Tipo subjetivo: o tipo requer não apenas o dolo genérico, consistente na 
vontade deliberada do agente em constranger alguém com emprego de 
violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental. Exige 
também o elemento subjetivo específico (dolo específico) constante nas 
alíneas a, b e c do dispositivo em estudo. Inexistente a finalidade, ou seja, o 
fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira 
pessoa, ou a de provocar ação ou omissão de natureza criminosa, ou ainda 
em razão de discriminação racial ou religiosa,desaparece a tortura, podendo, 
no entanto, ocorrer outra infração penal. As alíneas mencionadas acima são 
conhecidas como tortura- prova, tortura- crime e tortura- racial. 
 
Tortura-Prova significa constranger alguém com emprego de violência ou 
grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental com o fim de obter 
informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa. 
Policiais medievais ainda usam desse expediente para arrancar confissão de 
suspeitos da pratica de crimes ou ainda para obter informações sobre armas, 
comparsas, drogas etc. Também não são raros o cometimento desses crimes 
por particulares, como, por exemplo, funcionários de shopping centers que 
espancam e causam sofrimento físico ou mental em vítimas suspeitas de 
cometer furtos em lojas, para conseguir confissões, declarações etc. 
 
Tortura-Crime consiste no mesmo método para provocar ação ou omissão de 
natureza criminosa. É obrigar alguém, pela tortura, a matar, a estuprar, a 
traficar a seqüestrar, a impedir de socorrer um necessitado etc. O agente 
(coator) pratica o crime pelas mãos de outrem (coagido). O coator 
responderá em concurso material, isto é, pela tortura e pelo crime cometido 
por intermédio da vítima. Anote-se que o crime ocorrerá mesmo que o 
coagido não pratique a conduta visada pelo agente. 
 
Tortura-Racial ou Religiosa é a motivada por discriminação racial ou religiosa, 
ou seja, contra indivíduos da mesma origem étnica ou social ou contra 
pessoas que seguem a mesma religião. São crimes praticados por grupos 
fascistas e ultranacionalistas, como por exemplo, os "Skinheads”, os 
	
  
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“Carecas do ABC", os "Carecas do Subúrbio" etc., que promovem ações 
violentas contra judeus, prostitutas e outras minorias. Recentemente o tipo 
penal em estudo foi infringido por neonazistas que espancaram judeus no Rio 
Grande do Sul. Parte da doutrina critica o dispositivo por não tutelar outras 
formas de discriminação como a política, ideológica e de orientação sexual. 
Assim, gangues que agridem, com extrema violência, homossexuais não 
respondem por este tipo e sim por lesão corporal. No exterior é comum a 
prática de tortura contra grupos étnicos na África, no Iraque, contra católicos 
e protestantes na Irlanda do Norte, contra negros em alguns estados 
americanos etc. A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de 
graça ou anistia a pratica da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas 
afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por ele 
respondendo os mandantes, os executoras e os que, podendo evitá-los, se 
omitirem (art.5°, inciso XLIII da CF). 
8- Consumação: crime material que exige o resultado naturalístico, ou seja, a 
consumação ocorre no momento em que o agente produz sofrimento físico 
ou mental na vítima. 
9- Tentativa: a conduta típica pode ser fracionada por circunstâncias alheias 
à vontade do agente. 
 
 Art. 1º 
 
 II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com 
emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou 
mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter 
preventivo. 
Pena - reclusão, de dois a oito anos. 
 
 Comentários 
 
1- Classificação doutrinária: crime próprio (exige uma qualidade pessoal do 
sujeito ativo, ou seja, só pode ser cometido pelo pai, professor, funcionário de 
hospital, tutor, babá, agente penitenciário, carcereiro, monitor de instituições 
que abrigam crianças e adolescentes etc.), material (exige o resultado 
	
  
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consubstanciado no intenso sofrimento físico ou mental do ofendido), 
instantâneo (consuma-se no instante em que a vítima é submetida a intenso 
sofrimento físico ou mental) ou permanente (se a conduta do agente se 
prolongar no tempo, como manter a vítima amarrada e durante todo o tempo 
infligir-lhe violência), comissivo (praticado mediante ação), doloso (vontade 
de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo), de dano (ofensa 
a um bem jurídico penalmente tutelado, ou seja, a integridade física ou 
mental da pessoa que está sob a autoridade, guarda ou poder do sujeito 
ativo, diferentemente do crime de maus-tratos em que o dolo é de perigo), 
unissubjetivo (pode ser cometido por apenas uma pessoa), plurissubsistente 
(pode ser praticado em várias fases) e admite a tentativa. 
2- Sujeito ativo: o delito só pode ser praticado por quem tenha a vítima sob 
sua autoridade, poder ou guarda. Com efeito, podem ser considerados 
sujeitos ativos do delito, os pais, tutores, curadores, carcereiros, monitores, 
professores, diretores de estabelecimento de ensino, enfermeiros etc., Os 
pais sempre detiveram poder disciplinar absoluto em relação aos filhos, mas 
com a natural evolução da civilização tal poder desproporcional perdeu sua 
força, passando a ser moderado devido não apenas á uma maior 
conscientização, mas também a uma vigilância mais ativa do Estado e, em 
casos de excesso, restaria uma sanção de natureza penal. Com o Código 
Penal de 42, os castigos abusivos e arbitrários não mais deveriam seguir as 
regras da impunidade. Assim, os pais que utilizavam métodos brutais de 
correção dos filhos, ferindo-os, muita vez gravemente, seriam 
responsabilizados penalmente. Dispõe o art. 227 da CF que é dever da 
família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com 
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao 
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à 
convivência familiar e comunitária. Essas normas foram direcionadas para 
um desenvolvimento saudável de nossas crianças, garantindo-lhes o direito à 
vida, à saúde e o respeito à dignidade da pessoa humana. 
 
3- Sujeito passivo: somente aquele que estiver sob a guarda, poder ou 
autoridade do agente. São os filhos, pupilos, internados em casas de 
custódia, instituições hospitalares ou asilos para idosos, presos, aprendizes 
etc. O que distingue os maus tratos da tortura é principalmente o propósito do 
agente. Nos maus tratos o objetivo é a simples correção ou a disciplina. Na 
tortura é o castigo pessoal ou a medida de caráter preventivo. O intenso 
sofrimento da vítima, físico ou mental, caracteriza tortura quando imposto 
como castigo pessoal. 
	
  
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4- Objeto material: a conduta recai sobre a pessoa castigada. 
APELAÇÃO CRIMINAL. TORTURA (ART. 1°, INC. II, DA LEI N. 9.455/97). 
SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DA DEFESA. PLEITO 
ABSOLUTÓRIO. DESCABIMENTO. AGRESSÕES PRATICADAS PELO 
AVÔ E SUA COMPANHEIRA EM CRIANÇA COM 6 (SEIS) ANOS DE IDADE 
À ÉPOCA DO FATO CRIMINOSO. AUTORIA E MATERIALIDADE 
COMPROVADAS PELO CONJUNTO PROBATÓRIO COLACIONADO AOS 
AUTOS. DESCLASSIFICAÇÃO PARA CRIME DE MAUS TRATOS. 
IMPOSSIBILIDADE. VIOLÊNCIA FÍSICA E PSÍQUICA PRATICADA COM O 
FIM DE CAUSAR INTENSO SOFRIMENTO À VÍTIMA. RECURSO 
CONHECIDO, MAS IMPROVIDO PELA UNANIMIDADE DE VOTOS. TJPA - 
Apelação: APL 200930097553 PA 2009300-97553- Relator (a): ALBANIRA 
LOBATO BEMERGUY- Julgamento-2-12-2010. 
 
5- Objeto jurídico: tutela-se a dignidade da pessoa humana. 
6- Tipo objetivo: denominada de tortura-castigo, a conduta típica, punida com 
pena de reclusão de dois a oito anos, consiste em submeter (sujeitar, 
dominar) alguém, sob sua guarda (proteção, amparo, vigilância, como a 
babá, a dama de companhia etc.), poder (influência, força física ou moral) ou 
autoridade(relação de mando como o pai, professor, curador etc.), com 
emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico (dor 
veemente, excessiva) ou mental (sofrimento moral, aflição), como forma de 
aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. 
 
A ação criminosa muitas vezes se confunde com o crime de maus-tratos 
previsto no artigo 136 do Código Penal Brasileiro. Ambos são crimes próprios 
e tutelam a dignidade da pessoa humana O crime de maus-tratos e o crime 
de tortura-castigo são cometidos frequentemente em nosso cotidiano, mas a 
condenação pela prática da tortura é mais complexa exigindo um conjunto 
probatório mais robusto e eficiente. A diferença reside no elemento subjetivo, 
isto é, na finalidade especial do sujeito ativo. Se a intenção do agente é 
aplicar um corretivo (animus corrigendi) e acaba se excedendo, o crime a ser 
reconhecido é o de maus-tratos. Dar cintadas ou chineladas excessivas no 
herdeiro rebelde caracteriza maus-tratos. Não é proibido corrigir o filho, 
proibido é o excesso. Não, porém, se o sujeito atua com sadismo, com pura 
maldade, com absoluto prazer em causar sofrimento físico ou mental na 
vítima. Assim, existindo exagero nos meios de correção o crime é de maus-
	
  
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tratos; ocorrendo sadismo, perversão, isto é, vontade de fazer a vítima sofrer 
intensamente, o crime é de tortura. O uso de câmeras tem ajudado as 
famílias a desmascarar falsas babás e a puni-las exemplarmente. Um 
exemplo disso ocorreu com o ex-prefeito de uma cidade do interior de São 
Paulo, de 93 anos, que era espancado diariamente por duas damas de 
companhia. Queimar com pontas de cigarro, reiteradamente e em várias 
partes do corpo o filho de cinco anos de idade também caracteriza tortura. 
Assim, babá que espanca diariamente uma criança com tapas, batidas 
ininterruptas na cabeça e sacudidas na hora de dar-lhe alimento comete o 
crime em estudo. Destaca-se que em qualquer dessas hipóteses 
apresentadas a violência produz graves, profundas e inestancáveis marcas 
naquele que as recebe, notadamente os que estão numa fase de pleno 
desenvolvimento físico e mental. Decorridos alguns anos de sua 
promulgação a Tortura chamada de Castigo tem sido aplicada, 
principalmente, nos casos em que as vitimas são crianças, sem descartar, 
contudo, o espancamento de idosos no âmbito familiar. A observação da 
criança quando os pais trabalham fora, é fundamental para se averiguar o 
que está se passando. Chorar muito, ter conduta agressiva, estranhar as 
pessoas, maior dificuldade no aprendizado, deixar de fazer coisas que já 
tinha aprendido e que fazia bem numa nítida mudança de comportamento 
são motivos suficientes para acionar a Policia. 
 
 Distingue-se o crime de maus-tratos do delito de tortura a partir do conteúdo 
do elemento subjetivo da infração penal. No ilícito descrito no art. 136 do 
Código Penal o ato é praticado com o objetivo de censurar, reprimir ou 
corrigir o ofendido, excedendo-se o agente na execução da conduta. 
Inocorrendo essa motivação, atuando o agente apenas para determinar 
sofrimento à vítima, está-se diante do crime especial de tortura, descrito no 
art. 1º, inciso II, da Lei n.º 9.455/97. APELOS DESACOLHIDOS. (Apelação 
Crime Nº 70019652189, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do 
RS, Relator: Vladimir Giacomuzzi, Julgado em 23/08/2007). 
 
 AGRESSÕES PRATICADAS PELO PAI CONTRA FILHAS DE 5 (CINCO) E 
11 (ONZE) ANOS DE IDADE, SENDO A PRIMEIRA PORTADORA DE 
SÍNDROME DE DOWN. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS 
PELO CONJUNTO PROBATÓRIO COLACIONADO AOS AUTOS. 
PRETENDIDA DESCLASSIFICAÇÃO PARA CRIME DE MAUS TRATOS. 
IMPOSSIBILIDADE. VIOLÊNCIA FÍSICA E PSÍQUICA PRATICADA COM O 
	
  
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FIM DE CAUSAR INTENSO SOFRIMENTO ÀS VÍTIMAS. TJSC - Apelação 
Criminal: APR 153597 SC 2009.015359-7. Relator (a): Marli Mosimann 
Vargas- Órgão Julgador: Primeira Câmara Criminal Julgamento: 12/01/2010. 
7- Tipo subjetivo: o tipo requer não apenas o dolo genérico, consubstanciado 
na vontade deliberada de submeter alguém, sob sua guarda, poder ou 
autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento 
físico ou mental. Exige a norma penal o dolo específico, vale dizer, a 
finalidade de aplicar veemente castigo pessoal ou medida de caráter 
preventivo. É a vontade de ver a vítima sofrer desnecessariamente. O 
sofrimento físico está intimamente ligado ao conceito de dor e o sofrimento 
mental relaciona-se com o temor e com a violação moral e psicológica da 
pessoa humana. 
 
 APELAÇÃO CRIME. CRIME DE TORTURA CONTRA CRIANÇA DE TRÊS 
ANOS DE IDADE. MATERIALIDADE E AUTORIA PROVADAS. 
DESCLASSIFICAÇÃO PARA OS DELITOS DE MAUS TRATOS. 
IMPOSSIBILIDADE. Impossível a desclassificação para qualquer outro delito, 
quando a prova carreada aos autos comprova, modo categórico, ter sido a 
vítima, criança de três anos de idade, diariamente submetida a agressões 
cruéis, sem motivo nenhum que as justificasse, gerando intenso sofrimento 
físico e mental. Caracterizado, portanto, o crime de tortura. APELO 
IMPROVIDO. DECISÃO UNÂNIME. (Apelação Crime Nº 70019268952, 
Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Antônio 
Hirt Preiss, Julgado em 21/06/2007). 
 
8- Consumação: crime material que se consuma no instante em que o 
ofendido, sob o poder, guarda ou autoridade do agente, é submetido a 
intenso sofrimento físico ou mental. 
9- Tentativa: possível a tentativa, que se verifica, por exemplo, quando a 
vítima, amarrada, consegue fugir, ou quando o agente é preso no instante em 
que inicia a conduta descrita no tipo. 
 
 § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a 
medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da 
prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal. 
	
  
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 Comentários 
 
 1-Classificação doutrinária: crime próprio (somente pode ser praticado por 
algumas pessoas que exercem cargos públicos, tais como, o delegado, o 
carcereiro, o agente penitenciário, funcionários de manicômios etc.), material 
(exige o sofrimento físico ou mental de vítima), comissivo (praticado mediante 
ação, como, por exemplo, obrigar o preso a beber água quente ou a andar de 
joelhos) ou omissivo (deixar de alimentar o custodiado), doloso (vontade livre 
e consciente de submeter pessoa presa ou sujeita a medida de segurança 
por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de 
medida legal), plurissubsistente (cometido através de vários atos), 
unissubjetivo (pode ser cometido por apenas uma pessoa), instantâneo 
(consuma-se no instante em que a vítima é submetida a sofrimento físico ou 
mental) ou permanente (a consumação pode prolongar-se no tempo) e 
admite tentativa. 
 
2- Sujeito ativo: somente pode ser cometido por agente público (crime 
próprio). Admite-se a coautoria e a participação. 
3- Sujeito passivo: o delito atinge pessoa presa ou sujeita a medida de 
segurança. 
4- Objeto material: a ação criminosa visa submeter pessoa presa ou sujeita a 
medida de segurança à tortura. 
5- Objeto jurídico: tutela-se a dignidade da pessoa humana. Em seu art. 5°, 
inciso XLIX, a Constituição Federal estabelece que é assegurado aos presos 
o respeito à integridade física e moral. 
6- Tipo objetivo: conhecida como tortura-carcerária, a conduta típica consiste 
em submeter pessoapresa (a prisão pode decorrer de condenação penal, ser 
oriunda de flagrante delito, advinda de prisão temporária, preventiva, ou 
proveniente de prisão civil, como deixar de pagar pensão alimentícia, ou 
ainda prisão em virtude de pronúncia), ou sujeita a medida de segurança 
(resultante da internação de inimputável ou semi-imputável em hospital de 
	
  
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custódia e tratamento psiquiátrico ou de tratamento ambulatorial), a 
sofrimento físico ou mental (violência ou grave ameaça), por intermédio da 
prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal. Os atos 
não previstos em lei, que constituem o elemento normativo do tipo, são 
aqueles que não se encontram definidos na lei de execução penal (Lei nº 
7.210/84). Obrigar o preso a andar de joelhos, a beber urina, a passar pelo 
denominado "corredor polonês”, impedi-lo de se alimentar etc., configuram o 
delito em estudo. Com efeito, atos previstos em lei, se aplicados, não 
constituem crime, como, por exemplo, o regime disciplinar diferenciado 
(RDD), art.52; isolamento na própria cela, art. 53 IV; suspensão de visitas, 
art. 41 X c/c art.41 parágrafo único; suspensão de contato com o mundo 
exterior através de correspondência, art. 41 XV c/c art. 41 parágrafo único; 
restrição à recreação, art. 41 V c/c art. 41 parágrafo único, ambos da lei de 
execução penal. 
 
Ensina Eduardo Luiz Santos Cabette que algumas condutas induvidosamente 
configuradoras da prática de tortura enquadram-se perfeitamente nas 
tipificações da lei, mas há certos atos que podem ser perpetrados e caberem 
muito bem nas definições legais, sem que justifiquem a qualificação de um 
crime de tortura. Exemplificando: submeter uma pessoa a uma sessão de 
"pau de arara" com choques elétricos para obter uma confissão, certamente 
teria abrigo na moldura do art. 1º, I, "a", da Lei 9455/97. Quem negaria que 
isso é uma forma de tortura? Há constrangimento, emprego de violência e 
sofrimento físico, bem como a satisfação do elemento subjetivo consistente 
no desejo do agente de obter uma confissão da vítima. Por outro lado, 
quando um Policial Militar desfere um tapa no rosto da vítima a fim de obter 
informação sobre seus dados qualificativos, aos quais se negou a fornecer 
durante o registro de uma ocorrência. A conduta também apresenta 
adequação ao tipo penal, tanto quanto a primeira. Apresenta todos os 
elementos necessários: há o constrangimento, o emprego de violência, 
sofrimento físico (afinal de contas é somente nos versos da canção popular 
que "um tapinha não dói" (sic)) e até o elemento subjetivo de obter uma 
informação da vítima. Há adequação típica à figura do art. 1º, I, "a", da Lei 
9455/97. Mas há mesmo o crime de tortura? Ou seria mais adequado o 
reconhecimento de um mero Abuso de Autoridade, previsto pela Lei 4898/65 
em seus artigos 3º, "i" e 4º, "b"? Distinguir entre uma suposta adequação 
formal e outra material à lei não elide o fato de que a norma simplesmente 
não é capaz de individualizar ou determinar com segurança as condutas por 
ela abarcadas. Como já se disse alhures, a dicção da norma é correta, mas 
	
  
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não possibilita ao intérprete um conhecimento seguro daquilo que pretende 
retratar. 
(A definição do crime de tortura no ordenamento jurídico penal brasileiro. Jus 
Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1789, 25 maio 2008. Disponível em: 
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp? id=11304). 
 
7- Tipo subjetivo: o tipo requer o dolo comum, genérico, consistente na 
vontade deliberada do agente de submeter pessoa presa ou sujeita a medida 
de segurança a sofrimento físico ou mental. Não se exige o elemento 
subjetivo específico. 
8- Consumação: a consumação do delito, por ser material, ocorre no 
momento em que a pessoa presa ou sujeita a medida de segurança é 
submetida a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não 
previsto em lei ou não resultante de medida legal. 
9- Tentativa: a conduta delitiva pode teoricamente ser fracionada. Assim, se o 
agente ao iniciar a execução da tortura, for interceptado pela polícia, o crime 
não se completará por circunstâncias alheias á sua vontade. 
 
 § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o 
dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a 
quatro anos. 
 
 Comentários 
 
1-Classificação doutrinária: crime omissivo (se consuma com a simples 
omissão de quem tem o dever de apurar ou evitar a tortura), próprio (somente 
pode ser cometido por quem tem o dever de apurar ou evitar o crime, como o 
delegado, o diretor de presídio, o juiz corregedor, o médico que omite a 
tortura em seu laudo etc.), instantâneo (a consumação se dá no momento da 
omissão do agente) ou permanente (a consumação pode se prolongar no 
tempo enquanto perdurar a omissão que resulte sofrimento à vítima), formal 
(consuma-se independentemente do resultado naturalístico), de dano ou de 
perigo (conforme a ofensa ao bem jurídico tutelado), unissubsistente (pode 
	
  
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ser cometido através de um ato), unissubjetivo (pode ser cometido por 
apenas uma pessoa) e não admite tentativa. 
 
2- Sujeito ativo: somente o agente público. 
3- Sujeito passivo: a pessoa presa ou sujeita a medida de segurança. 
4- Objeto material: a conduta criminosa recai sobre a pessoa torturada. 
5- Objeto jurídico: tutela-se a dignidade da pessoa humana. 
6- Tipo objetivo: a conduta típica consiste em se omitir (deixar de tomar 
providências) em face dessas condutas (a prática da tortura), quando tinha o 
dever de evitá-las (impedi-las) ou apurá-las (averiguá-las). A pena é de 
detenção de um a quatro anos. O tipo penal foge da regra prevista no Código 
Penal, art.29, segundo a qual, "quem concorre para o crime, incide nas penas 
a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”. Teoria unitária ou 
monista. Assim, aquele que assiste a uma sessão de tortura, podendo evitá-
la, nada faz, se omite, não responde pelo crime principal, como estabelece a 
lei penal, e sim pelo crime omissivo previsto neste art.1°§ 2°. Aplica-se, aqui, 
a teoria pluralística, respondendo cada autor por um crime diferente. O 
torturador pela tortura, o omitente pela omissão. A doutrina, com razão, critica 
o dispositivo taxando-o de inconstitucional, pois a Constituição ao determinar 
a punição dos autores de tortura refere-se aos executores, mandantes e aos 
que podendo evitá-lo se omitem. O legislador ordinário, por sua vez, 
contrariando a lei maior, criou um tipo penal privilegiando o omitente. 
 
7-Tipo subjetivo: o tipo requer o dolo comum, genérico, consistente na 
vontade deliberada do agente em se omitir diante da tortura de que teve 
conhecimento, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las. Não se exige 
o dolo específico ou elemento subjetivo específico do tipo penal. 
8- Consumação: crime formal que se consuma independentemente do 
resultado. A consumação ocorre no instante em que o superior hierárquico se 
omite, deixa de apurar a conduta típica realizada pelo subordinado. 
9- Tentativa: não há tentativa em crime omissivo. Ou o agente se omite 
quando deveria apurar ou evitar a tortura e o crime se perfaz, ou toma as 
providências legais e o fato é atípico. 
 
	
  
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 § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ougravíssima, a pena é 
de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito 
a dezesseis anos. 
 
 Comentários 
 
Sempre entendemos que em caso de morte ou lesão grave decorrente de 
tortura haveria dolo eventual, devendo, a nosso sentir, responder o agente 
por homicídio qualificado ou tentativa de homicídio qualificado pela tortura. 
Ora, se a tortura é crime contra a humanidade, se causa angústia, aflição e 
amargura, gerando, assim, intenso sofrimento á vítima, pode-se afirmar que o 
resultado é indiferente, tanto faz ao sujeito matar ou proporcionar, com 
sadismo, dores em seu semelhante. Na verdade, torturando, o agente sabe 
que pode ocorrer a morte, mas mesmo assim prossegue, não se detém, 
pouco se importa com o evento, o que não ocorre com o crime preterdoloso, 
em que não há intenção de um resultado mais grave; ele surge por 
circunstâncias alheias à vontade do autor. Em debate conosco no 
Mackenzie, na semana jurídica de 2004, o ilustre Promotor Paulo Jurissic 
afirmou que em caso de tortura, onde o agente tem o único objetivo de obter 
informações, por exemplo, e ocorre a morte da vitima, o que se tem a 
reconhecer é a tortura preterdolosa. Ele quis o menos e ocorreu o mais. Em 
que pese às lúcidas explanações, continuamos com o nosso entendimento 
inicial, pois para nós, quem tortura alguém para determinado fim, assume o 
risco de produzir o resultado, a morte da vitima, portanto, dolo eventual, 
homicídio qualificado. A diferença se verifica na pena: homicídio qualificado 
pela tortura, art.121§2°III, pena de até 30 anos de reclusão; tortura 
qualificada art. 1° § 3° da lei 9455/97, pena de até 16 anos de reclusão. 
Prevalece, todavia, na doutrina e na jurisprudência o entendimento de que o 
parágrafo 3° da lei em estudo refere-se a crime preterdoloso. Com efeito, o 
indivíduo age inicialmente com dolo, mas, sem querer, dá causa a um 
resultado mais gravoso. É aquele exemplo clássico do sujeito que dá um 
soco no outro que cai, bate a cabeça e morre, ou daquela mãe que abandona 
o filho incapaz e este vem a falecer por inanição. A conduta é dolosa, mas o 
resultado culposo. 
 
 § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: 
	
  
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I - se o crime é cometido por agente público; 
II - se o crime é cometido contra criança, gestante, deficiente e adolescente; 
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, 
adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; 
III - se o crime é cometido mediante sequestro. 
Em todos esses casos verifica-se a impossibilidade de defesa da vítima, 
tornando-a mais vulnerável, justificando-se, assim, a majorante. 
 
APELAÇÃO - TORTURA - CONFIGURAÇÃO - ELEMENTO SUBJETIVO 
COMPROVADO -CONDENAÇÃO. 1. Quem sem qualquer motivo agride com 
chutes, socos o pequeno enteado de 04 anos de idade ameaçando-o de 
morte e o amarrando em uma árvore batendo com uma vara impiedosamente 
e por fim morde a vítima no rosto pratica o crime de tortura. Presente o 
intenso sofrimento físico e psicológico causado na criança com o ânimo de 
torturá-la e não de corrigi-la. 2. Os maus tratos, conforme definição do artigo 
136 do Código Penal, é quando o agente se excede nos meios de correção, o 
que não se verifica do contexto, evidenciado que as agressões são gratuitas, 
comprazendo-se com o pânico demonstrado pelo pequeno que 
reiteradamente era torturado ao voltar da visita ao pai biológico. Conduta 
tipificada no artigo 1º, inciso II, combinado com o §4º, da Lei 9.455/97. 
(Apelação Crime Nº 70028974657, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de 
Justiça do RS, Relator: Elba Aparecida Nicolli Bastos, Julgado em 
18/06/2009). 
 
 APELAÇÃO CRIME. CRIME DE TORTURA CONTRA CRIANÇA DE TRÊS 
ANOS DE IDADE. MATERIALIDADE E AUTORIA PROVADAS. 
DESCLASSIFICAÇÃO PARA OS DELITOS DE MAUS TRATOS. 
IMPOSSIBILIDADE. Impossível a desclassificação para qualquer outro delito, 
quando a prova carreada aos autos comprova, modo categórico, ter sido a 
vítima, criança de três anos de idade, diariamente submetida a agressões 
cruéis, sem motivo nenhum que as justificasse, gerando intenso sofrimento 
físico e mental. Caracterizado, portanto, o crime de tortura. APELO 
IMPROVIDO. DECISÃO UNÂNIME. (Apelação Crime Nº 70019268952, 
Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Antônio 
Hirt Preiss, Julgado em 21/06/2007). 
	
  
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 § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego 
público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena 
aplicada. 
 
 Comentários 
 
A doutrina diverge se a perda do cargo, emprego ou função é automática ou 
se necessita ser declarada e fundamentada na sentença condenatória. Na 
jurisprudência, porém, prevalece que a perda é automática, qualquer que 
seja a pena privativa de liberdade, não necessitando ser declarada expressa 
e motivadamente na sentença. 
 
 PENAL. RECURSO ESPECIAL. TORTURA. LEI Nº 9.455/97. PERDA DO 
CARGO PÚBLICO. EFEITO AUTOMÁTICO E OBRIGATÓRIO DA 
CONDENAÇÃO. DESNECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO ESPECÍFICA. 
A Lei nº 9.455/97, em seu art. 1º, § 5º, evidencia que a perda do cargo 
público é efeito automático e obrigatório da condenação pela prática do crime 
de tortura, sendo desnecessária fundamentação específica para tal. STJ - 
RECURSO ESPECIAL: REsp 1028936 PR 2008/0024954-9.Relator(a): 
Ministro FELIX FISCHER- Julgamento-2-12-2008- 5ª Turma. 
 
§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. 
 Comentários 
 
Desde que não estejam presentes os requisitos para decretação da prisão 
preventiva (art.310, parágrafo único do CPP) poderá ser concedida ao 
acusado a liberdade provisória sem fiança. 
 
 § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, 
iniciará o cumprimento da pena em regime fechado. 
	
  
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 Comentários 
 
A lei 11.464/07 admite a progressão da pena para os crimes hediondos e aos 
equiparados, sendo que o condenado nesses crimes deverá cumprir 
2/5(40%) da pena para mudança de regime e 3/5 (60%), se reincidente. 
 
 Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha 
sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou 
encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira. 
 
 Comentários 
 
Quando a vítima de tortura for brasileira ou quando o torturador encontrar-se 
sob jurisdição brasileira, como nos crimes cometidos nas embaixadas ou 
aeronaves brasileiras, por exemplo, aplica-se a lei brasileira. No primeiro 
caso trata-se de extraterritorialidade incondicionada, não havendo nenhuma 
condição para a aplicação da nossa lei. Basta a vítima de tortura ser 
brasileira. No segundo caso a extraterritorialidade será condicionada, ou seja, 
a lei nacional só será aplicada se o torturador adentrar em nosso território ou 
estiver em local sob nossa jurisdição. 
 
 
 
TESTES SOBRE CRIMES DE TORTURA 
1-A condenação por crime de tortura acarreta a perda de cargo, função 
ou emprego público: 
 a) ou a interdição temporária de dois anos, sem receber salários. 
 b) e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada. 
 c) e a interdição para seu exercício por igual prazo da pena aplicada. 
	
  
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 d) e a interdição para o gozo de direitos políticos pelo dobro do prazo da 
pena aplicada. 
 e) e a interdição para seu exercício da função policial pelo dobro do prazo da 
pena aplicada. 
 
2-Em relação ao crime de tortura é possível afirmar: 
 a) Passou a ser previsto como crime autônomo a partir da entrada em vigor 
da Constituição Federal de 1988 que, no art. 5°, inciso III afirma que ninguém 
será submetido a tortura, nem a tratamento desumano e degradante e que a 
prática de tortura será considerada crime inafiançável e insuscetível de graça 
ou anistia. 
 b) É praticado por qualquer pessoa que causa constrangimento físico ou 
mental à pessoa presa ou em medida de segurança, pelo uso de 
instrumentos cortantes, perfurantes, queimantes ou que produzam stress, 
angústia, como prisão em cela escura, solitária, submissão a regime de fome 
etc. 
 c) É cometido por quem constrange outrem, por meio de violência física, com 
o fim de obter informação ou confissão da vítima ou de terceira pessoa, 
desde que do emprego da violência resulte lesão corporal. 
 d) Os bens jurídicos protegidos pela ‘tortura discriminatória’ são a dignidade 
da pessoa humana, a igualdade, a liberdade política e de crença. 
 e) É praticado por quem se omite diante do dever de evitar a ocorrência ou 
continuidade da ação ou de apurar a responsabilidade do torturador pelas 
condutas de constrangimento ou submissão levadas a efeito mediante 
violência ou grave ameaça. 
3-Autores de crime de tortura: 
 a) não podem receber liberdade provisória sem fiança. 
 b) não podem receber liberdade provisória com ou sem fiança. 
 c) podem receber liberdade provisória sem fiança, desde que apresentem 
bens para assegurar o Juízo. 
 d) podem receber liberdade provisória sem fiança. 
	
  
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 e) podem receber liberdade provisória sem fiança, por se tratar de crime 
hediondo. 
4-No que tange à Lei nº 9.455/97, que disciplina os crimes de tortura, 
assinale a alternativa correta. 
 a) Incorre nas penas do crime de tortura aquele que submete pessoa presa 
ou sujeita à medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por 
intermédio da prática de ato não previsto em lei ou resultante de medida 
legal. 
 b) O crime de tortura admite a concessão de anistia. 
 c) O crime de tortura praticado contra criança, gestante, idoso ou deficiente 
físico é considerado qualificado. 
 d) Somente o agente público, ocupante de cargo de provimento efetivo, pode 
ser sujeito ativo do crime de tortura. 
 e) A lesão corporal de natureza grave ou morte, no crime de tortura, constitui 
causa de aumento de pena de 1/6 (um sexto) até 1/3 (um terço). 
5-Num presídio, o agente penitenciário João agrediu fisicamente o interno 
Tício. Para realizar essa agressão, João pendurou Tício pelas pernas em um 
pau, fixado em cavaletes, amarrando suas mãos ao calcanhar. Em seguida, 
desferiu diversos golpes em seus pés e costas, por aproximadamente duas 
horas. O diretor do estabelecimento, José, soube do que estava acontecendo 
e não tomou nenhuma medida para impedir que se perpetrassem as 
agressões físicas. Soube-se, posteriormente, que o motivo da agressão era o 
fato de Tício professar religião da qual o agente João discordava e que a 
referida prática serviria para retirar maus espíritos que atormentavam Tício. 
Tendo em vista essa situação hipotética, assinale a alternativa correta. 
 a) João cometeu crime, mas não o de tortura, já que não visava obter 
confissão de crime, e o diretor do presídio não pode ser processado por não 
ter participado de nenhuma ação. 
 b) João cometeu crime de tortura, pois causou sofrimento físico em Tício, por 
discriminação religiosa, e o diretor do presídio responderá pela omissão em 
impedir que tal tortura ocorresse. 
 c) João cometeu crime de tortura, pois causou sofrimento físico em Tício, 
entretanto, para impedir que Tício praticasse crime, com base em religião 
proibida no Brasil. O diretor responderá também por tortura, já que, pelo 
	
  
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princípio da unidade, não é permitido responder por crime diverso ao 
praticado pelo agente. 
 d) João cometeu crime de tortura, pois causou sofrimento físico em Tício, 
mas não deverá cumprir pena, já que não sabia que a atitude era crime. O 
diretor não responde por nenhum crime, vez que não praticou ato criminoso. 
 e) João cometeu crime de tortura, mas de ordem psicológica, pois não 
causou sofrimento físico em Tício, uma vez que, da agressão, não resultou 
lesão corporal ou morte. O diretor responde pelo mesmo crime. 
 
6-Com referência às normas previstas na Lei de Tortura, marque a 
alternativa INCORRETA: 
 a) O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. 
 b) A lei de tortura aplica-se somente quando o crime tenha sido cometido em 
território nacional. 
 c) O condenado por crime de tortura, salvo os casos de crime de omissão, 
iniciará o cumprimento da pena em regime fechado. 
 d) A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e 
a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada. 
7- A respeito do crime de tortura, assinale a alternativa correta. 
 a) Somente funcionários públicos ou particulares no exercício de atividades 
ligadas aos fins do Estado são sujeitos ativos do crime de tortura. 
 b) Somente funcionários públicos no exercício de suas atividades podem ser 
sujeitos ativos do crime de tortura. 
 c) O tipo do crime de tortura, em regra, é elaborado como crime comum, 
razão pela qual pode ser praticado por qualquer pessoa. 
 d) No crime de tortura, o sujeito ativo pode ser a pessoa jurídica de direito 
público. 
 e) Somente o policial civil ou militar poderá ser sujeito ativo do crime de 
tortura. 
8-Com relação ao crime de tortura, definido na Lei n.º 9.455/97, 
considere as seguintes assertivas: 
	
  
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I. a pena é aumentada se o crime é cometido por agente público; 
II. se a vítima for adolescente, não se verifica causa de aumento de pena; 
III. se o crime é cometido mediante sequestro, a pena é aumentada de um 
sexto a um terço. 
É correto o que se afirma em: 
 a) todas as assertivas 
 b) I, apenas. 
 c) II, apenas. 
 d) III, apenas. 
 e) I e III, apenas. 
9-Policial descobre que um criminoso participou deum roubo a banco 
ocasião em que foram subtraídos 2 milhões de reais. De posse dessa 
informação, o agente da lei sequestra o bandido e passa a aplicar-lhe 
afogamento e choques, defere-lhe tapas e pontapés, com a finalidade de 
obter informações sobre onde escondera o dinheiro. Após conseguir 
tais informações, liberta o criminoso. Pelos crimes cometidos, a pena a 
ser aplicada a esse policial: 
 a) corresponde à somatória da pena do crime de tortura mais a majorante do 
sequestro, acrescida da pena do sequestro do Código Penal. 
 b) é a da tortura, com a majorante do sequestro. 
 c) é a do sequestro, com a majorante da tortura. 
 d) é a da tortura, com a majorante do sequestro, acrescida da metade. 
 e) é a da tortura, com a majorante do sequestro qualificado, acrescida, em 
todo caso, de dois terços. 
10-Sobre o crime de tortura, é INCORRETO afirmar que: 
 a) a pena é aumentada de um sexto até um terço se o crime é cometido por 
agente público, contra criança, gestante, deficiente,adolescente, maior de 60 
anos ou se o crime é cometido mediante sequestro. 
 b) uma importante distinção entre os delitos de tortura e de maus-tratos (art. 
136 do CP) é que este é crime de perigo enquanto aquele é crime de dano. 
	
  
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 c) o crime de tortura em todas as suas modalidades limita-se a coibir a 
imposição de sofrimento físico, sendo a tortura psicológica atípica em nosso 
ordenamento jurídico. 
 d) o crime de tortura com resultado de morte, previsto no art. 1º, §3º, da Lei 
9.455/97 é preterdoloso e distingue-se do homicídio qualificado pelo emprego 
de tortura (art. 121, §2º, III, do CP), pois neste a tortura é meio para se 
chegar à morte da vítima, enquanto que naquele ela é o fim visado pelo 
agente que causa a morte da vítima culposamente. 
RESPOSTAS 
1-B-2-E 3-D-4-A-5-B-6-B-7-C-8-E-9-B-10-C

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