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1 A sabedoria é a arma invencível de um povo UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE DEPARTAMENTO DE CONTABILIDADE DISCIPLINA: LEGISLAÇÃO SOCIETÁRIA E COMERCIAL PROFESSOR: ALBERTO SOARES PROCESSOS DE REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA: AGRUPAMENTO E DESAGRUPAMENTO SOCIETÁRIO Com o advento da nova ordem econômica mundial traduzida na globalização da economia, as sociedades empresárias necessitam rapidamente adaptarem-se a essa realidade, a fim de melhor competirem em um mercado cada vez mais dinâmico e turbulento, carecendo, muitas vezes, da reorganização da sua natureza societária. De outra forma, diz-se que em se tratando da crescente evolução do mercado, marcada pela globalização, securitização, reengenharia financeira, tecnologia de informação, clientes exigentes, mudanças rápidas e tantas outras variáveis macroambientais, as empresas são levadas a procurarem a melhor forma de garantir sua sobrevivência, buscando sempre manter vantagem competitiva, tornando-se muito comum nos dias de hoje a concentração de empresas, como é o caso recente das grandes empresas HP e Compaq, das cervejarias Brhama e Antártica, dos temperos Cica e Knorr. O capitalismo econômico em sua moderna aplicação prática fez nascer uma desenfreada concorrência entre as empresas, que buscam ampliar cada vez mais os horizontes de sua participação no mercado. As pequenas e médias empresas, para sua própria segurança, precisavam de um meio pelo qual pudessem enfrentar e sobreviver a essa concorrência. A reorganização societária são procedimentos esporádicos através dos quais, por diversas razões as sociedades são transformadas, fundidas, incorporadas ou cindidas ou simplesmente vendem ou encerram as atividades de uma unidade fabril, por exemplo. Em síntese, o processo de reorganização societária envolve a transformação, o agrupamento ou concentração e o desagrupamento ou desconcentração de sociedades. A concentração econômica, da qual o grupo societário é uma forma, foi a solução melhor e mais viável encontrada pelos empresários. Por meio da concentração, além de proteção e aumento da capacidade de sobrevivência no mercado concorrencial, as empresas vêm conseguindo aumentar seu lucro, rentabilidade e até mesmo seu espaço econômico, chegando a alcançar projeção no mercado internacional. Com o surgimento de novas potências empresariais no cenário econômico, tanto no âmbito nacional como no global, o Estado passou a intervir mais diretamente na economia, ora para prevenir, controlar e punir os excessos das concentrações, ora para permitir e apoiar tais operações. Era o fim do liberalismo clássico tão aclamado através da máxima do laissez faire laissez passer. Esse novo cenário socioeconômico fez com que o conceito de concorrência fosse revisto e adaptado à nova ordem neoliberal; modelos jurídicos inéditos tiveram que ser criados para aceitar e atender às formas de concentração e centralização de capitais, desde que tais formas produzissem efeitos benéficos e úteis à sociedade inteira. A moderna concepção de concorrência pressupõe a existência de agentes econômicos fortes e organizados o suficiente para suportar e intensificar a concorrência, viabilizando, assim, a coexistência do sistema competitivo com a política de concentração empresarial, quando ela for indispensável para realizar as metas almejadas. No entanto, não se pode ter em conta apenas fatores econômicos para delimitar a concorrência; há a necessidade, sobretudo, de uma análise jurídica de outros elementos ligados à política econômica, tudo isso de acordo com os princípios e as normas da Constituição. O fenômeno da concentração de empresas tem-se verificado em escala mundial em todos os setores da economia, sendo objeto de permanente preocupação das agências reguladoras e dos órgãos responsáveis pela prevenção do abuso do poder econômico e da 2 A sabedoria é a arma invencível de um povo defesa da livre concorrência. Em síntese, afirma-se que entre as principais razões que levam as sociedades a se reorganizarem, destacam-se: a busca de competitividade no mercado em face da conjuntura socioeconômica; o planejamento fácil, objetivando minimizar a carga tributária; o afastamento de divergências entre os sócios; a melhora da imagem da empresa aperante a sociedade. Modalidades de concentração Entre as modalidades de concentração de sociedades, destacam-se as que revelam considerável estreitamento em relação: às posições na cadeia produtiva; à autonomia; às formas de grupos empresariais. Quanto à posição na cadeia produtiva, a classificação desse fenômeno evidencia os seguintes tipos de concentrações: verticais; horizontais; e conglomeradas. As concentrações verticais se dão entre agentes econômicos que atuam em diferentes níveis da cadeia produtiva, ou seja, é vertical se os partícipes desenvolvem suas atividades em mercados relevantes, a „montante‟ ou a „jusante‟, ou seja, concentrados no processo produtivo ou de distribuição do produto. A concentração horizontal envolve agentes econômicos que atuam no mesmo mercado relevante, estando, portanto, em direta relação de concorrência. Já as concentrações conglomeradas são aquelas uniões entre empresas cujos produtos não possuem qualquer relação de concorrência ou complementaridade. No que diz respeito à perda de autonomia, as modalidades mais freqüentes de concentrações empresariais são as que dizem respeito às incorporações e às fusões. Observa-se que nesses processos, pelo menos um dos agentes perde sua autonomia. Alternativamente, na busca de objetivos comuns, os agentes econômicos podem ainda associar-se na forma de parcerias empresariais (joint ventures), preservando sua autonomia. Adicionalmente, o fenômeno da concentração de empresas, pode-se dar ainda na forma de grupos de empresas. Na sistemática da Lei das S.A. (Lei nº 6.404/76), os grupos empresariais são divididos em dois conjuntos. O primeiro é constituído pelos grupos de subordinação, inclui os grupos de fato, regulados por meio dos artigos 243 a 264, e os grupos de direito, cuja disciplina é estabelecida nos artigos 265 a 277. A Figura 1 resume esquematicamente as classificações acima. Mais precisamente, a Lei nº 6.404/76, trata, na área da concentração de empresas, conforme abaixo: dos grupos de sociedades (artigo 265); das sociedades coligadas (artigo 243); das participações recíprocas (artigo 244); dos consórcios (artigo 278); da subsidiária integral (artigo 251). De acordo com o art. 223 da lei das SA, a incorporação, fusão ou cisão podem ser operadas entre sociedades de tipos iguais ou diferentes e deverão ser deliberadas na forma prevista para a alteração dos respectivos estatutos ou contratos sociais. O parágrafo primeiro desse artigo diz que nas operações em que houver criação de sociedades, serão observadas as normas reguladoras da constituição da sociedade do seu tipo. 3 A sabedoria é a arma invencível de um povo O parágrafo terceiro do artigo acima, expressa que se a incorporação, fusão ou cisão envolverem companhia aberta, as sociedades que a sucederem serão também abertas, devendo obter o respectivo registro e, se for o caso, promover a admissão de negociação das novas ações no mercado secundário, no prazo máximo de 120 dias, contados da data da assembleia geral que aprovou a operação. Figura 1 – Classificação de grupos e de concentrações societárias Fonte: elaboração do autor GRUPOS DE SOCIEDADES As operações de concentração classificam-se em dois grandes grupos: primeiro, as operações que levam em contaa perda da autonomia individual das sociedades, por exemplo, os processos de fusão e incorporação, chegando a uma integração absoluta; segundo, operações de associação de empresas autônomas, pretendendo-se uma integração relativa, podendo ser mais flexível, como a mera participação de uma sociedade em outra, ou então mais radical com a criação de grandes grupos societários, ou ainda temporária, como no caso do consórcio. A economia capitalista caracterizada pela constante e acirrada concorrência é decisiva para o crescimento ou a extinção das sociedades, razão pela qual, as empresas têm priorizado a busca de meios capazes de assegurar sua influência no mercado, o aumento de sua produção e também o desenvolvimento de suas atividades em termos nacionais internacionais. Nesse contexto, nenhuma técnica empresarial presta-se tão eficientemente a essa função como os grupos de sociedade e o consórcio. O mundo empresarial é, hoje, dominado, quer nacional, quer internacionalmente, por complexos grupos de sociedades. Conceito de grupo No direito germânico, os grupos econômicos ou grupos de sociedades são conhecidos por Korzern, palavra de origem inglesa (concern) que significa relações, mas também negócio e organização comercial. O Konzern constitui um agrupamento de empresas, juridicamente independentes e, economicamente, sujeitas à direção única. De certa forma, corresponde à holding do direito norte-americano, que constitui também sociedade que administra os negócios ou controla as sociedades a ela sujeitas. Em termos de legislação brasileira Coelho (2004, p.16), conceitua grupo de sociedade como "A associação de esforços empresariais entre sociedades, para a realização de atividades comuns." Numa acepção ampla, grupo de sociedades pode ser definido como um termo de referência para aquele setor da realidade societária moderna que encontra no fenômeno do CONCENTRAÇÃO DE SOCIEDADES NA FORMA DE GRUPOS EMPRESARIAIS COM RELAÇÃO ÀS POSIÇÕES NA CADEIA PRODUTIVA COM RELAÇÃO À AUTONOMIA 1. GRUPOS DE SUBORDINAÇÃO Grupos de Fato Grupos de Direito 2. GRUPOS DE COORDENAÇÃO Consórcios 1. HORIZONTAIS 2. VERTICIAS 3. CONGLOMERADOS 1. COM PERDA DE AUTONOMIA Fusão Incorporação 2. SEM PERDA DE AUTONOMIA Joint Ventures (parcerias empresariais) 4 A sabedoria é a arma invencível de um povo controle inter-societário e das relações de coligação entre sociedades o seu centro de gravidade. Por outro lado, o mesmo autor, em sentido estrito, conceitua essa forma de concentração de empresas como "todo conjunto mais ou menos vasto de sociedades comerciais que, conservando embora as respectivas personalidades jurídicas próprias e distintas, se encontram subordinadas a uma direção econômica unitária e comum." Em uma definição clara e concisa, o grupo de sociedades é uma forma de concentração de empresas, sejam elas do mesmo tipo jurídico ou não, vale dizer: o grupo empresarial pode ser formado por companhias ou sociedades por ações ou por quotas. As empresas que integram um grupo societário mantêm suas próprias personalidades jurídicas, sendo essa, a característica fundamental do grupo. No entanto, elas se subordinam a uma política econômica centralizada na sociedade de comando, também conhecida por empresa-mãe. O artigo 265 da Lei nº 6.404/76 dispõe que a sociedade controladora e suas controladas podem constituir grupo de sociedade, mediante convenção. Exige, desse modo, a lei brasileira, além das notas caracterizadoras do fenômeno econômico, a convenção grupal, para conectar as consequências jurídicas ao assim chamado grupo de direito. Não descuida a lei, entretanto, dos grupos de fato, vale dizer, da existência fática de um conjunto de sociedades articuladas sob uma direção unitária. Os grupos de sociedade e consórcios são táticas extremamente estratégicas e revolucionárias na organização das empresas modernas. Caracterizados pela reunião de sociedades através de um processo de concentração e sob uma direção comum mas sem fusão de patrimônios e sem a perda da personalidade jurídica de cada sociedade integrante, os grupos de sociedade visam à concretização de empreendimentos comuns. Já o consórcio é formado através de um processo de cooperação e se caracteriza por sua efemeridade, ou seja, a reunião de empresas tem um período de duração preestabelecido. Características Existe grupo, quando duas ou mais sociedades decidem combinar recursos ou esforços para a realização dos respectivos objetivos, ou a participar de atividades ou empreendimentos comuns. Embora as sociedades conservem suas personalidades e seus patrimônios distintos e publiquem demonstrações financeiras individuais, o grupo de sociedades deverá publicar demonstrações consolidadas de todas as sociedades do grupo. Complementa-se ainda, que, de acordo com a lei das sociedades por ações, as demonstrações consolidadas do grupo serão publicadas juntamente com as da sociedade de comando. Geralmente, um grupo é formado por sociedades que se revestem das seguintes características: sociedade de comando ou sociedade controladora; sociedade comandada ou sociedade controlada ou sociedade filiada. Pode-se dizer que a caracterização desses agrupamentos passaria pelo seguinte trinômio: manutenção das personalidades jurídicas das sociedades agrupadas, manutenção de seus patrimônios e direção unitária de interesses. Denota-se que a simples constatação da existência de um grupo de sociedades articuladas sob uma direção unitária já basta para a aplicação das consequências jurídicas, independentemente de convenção ou contrato, para coibir abuso do poder econômico. Os grupos de sociedades e os consórcios não constituem novas sociedades; elas apenas se agregam num plano horizontal, mantendo cada uma sua peculiar estrutura jurídica, mantendo-se suas personalidades jurídicas intangíveis. Também mantém esses agrupamentos, patrimônios distintos. Evolução dos grupos de sociedades A formação e a evolução econômica da empresa, sob a forma societária, tomaram incremento após surgimento do sistema capitalista de produção, provocado pela Revolução 5 A sabedoria é a arma invencível de um povo Industrial no século XVIII, de sorte que no século seguinte, surgiram as primeiras concentrações capitalistas, sob o estilo individualista. Entretanto, a evolução do capitalismo foi surpreendente somente após a Primeira Grande Guerra. As empresas superaram a formação individualista, para adotar sistemas de coligações de empresas. Passaram a se unir, sob a direção de órgãos coletivos e colegiados, os quais nem sempre são constituídos pelos detentores da propriedade dos capitais. Com efeito, numa economia capitalista, caracterizada pela livre, acirrada e, por vezes, desleal concorrência, não apenas a empresa precisa constantemente desenvolver-se (expansão interna) como, por igual, concentrar-se (expansão externa), com o escopo de aumentar a produção e conquistar consumidores, sobretudo em diferentes países e, até mesmo, em diversos continentes. Para tanto, os grupos societários (trustes, cartéis, Konzerns etc.), cada vez mais dimensionados, passaram a constituir a inexorável técnica do capitalismo ascendente e vitorioso nos países de economia desenvolvida, transcendendo aos lindes territoriais das nações. Esse fenômeno mais se acentuou e tornou-se universalmente conhecido, após a Segunda Grande Guerra, de 1939. Diz-se que o mundo moderno, após a Segunda Grande Guerra (1939 – 1945), sofreu profundas transformações socioeconômicas. No campo do Direito Comercial, ocorreu uma verdadeira revolução, com o desenvolvimento das ideias e técnicas dos grandes grupos societários, consequência da concentraçãoeconômica das empresas. Houve, em face da economia de escala, a necessidade de as empresas se aglutinarem, a fim de atenderem às necessidades do desenvolvimento tecnológico dos processos de produção e de pesquisa, bem como do domínio ou da supremacia dos mercados de produção e de consumo. Já se observou que as chamadas "empresas multinacionais", impressionantes pelo seu poder e estrutura, nada são além de grupos de sociedades, sob forma de holdings ou Konzern ou zaibatsu. Os grupos econômicos são criados, exatamente, para racionalizar a exploração empresarial, harmonizando e unificando as atividades das várias sociedades que os compõem. E, graças a essa racionalização administrativa o lucro marginal é elevado, com a baixa do custo unitário da produção. Esses grupos proporcionam a criação de economias internas de escala, já assinaladas pelos economistas desde o início do século XX. A empresa isolada é, atualmente, uma realidade condenada, em todos os setores, máxime naqueles em que o processo está intimamente ligado à pesquisa tecnológica. Natureza jurídica dos grupos de sociedades Em face do grande número de grupos de sociedades e de sua relevância no mercado mundial, tornam-se necessárias regras que os organizem e estabeleçam limites para as várias situações que podem surgir na realização de negócios que envolvam tais grupos. A título de exemplo, mencionam-se as seguintes indagações: teria o grupo de sociedades personalidade própria?; devem os credores demandarem contra o grupo, contra a sociedade de comando ou contra as sociedades grupadas? Respostas a questionamentos dessa natureza são evidenciadas no Direito, que jamais poderia calar-se diante de fatos tão intimamente ligados à economia e à vida social dos povos, pois estaria abandonando um de seus principais objetivos: regular condutas promovendo o bem-comum. Diante disso, o que vai ser visto na presente unidade, será uma compreensão jurídica do grupo de sociedades, explicitando seu conceito, natureza, características, classificação, constituição, personalidade e participação dos acionistas, dando especial atenção aos consórcios, como uma das formas de agrupamento de sociedades. Tal como enfatizado anteriormente, as exigências impostas pelo desenvolvimento econômico, sobretudo após a última grande guerra, fez com que as empresas sentissem a necessidade de se reunirem. Com efeito, poucas são, de fato, as empresas capazes de se apresentarem com seus próprios recursos técnicos ou financeiros para executarem determinados fins. Daí a 6 A sabedoria é a arma invencível de um povo faculdade reconhecida às empresas de se reunirem. Esses agrupamentos podem assumir diferentes formas, destacando-se os grupos de sociedades e consórcios. Pode-se dizer que os grupos de sociedade e consórcio encontram-se no centro de inúmeros debates envolvendo as sociedades comerciais. Boa parte desses debates deve-se à natureza jurídica desses agrupamentos, que será objeto de estudo a seguir. Ao analisarem-se os artigos 265 a 279 da Lei nº 6404/76, opta-se pelo efeito de natureza jurídica, visto que os grupos de sociedades e os consórcios apresentam inúmeras semelhanças no que diz respeito à natureza jurídica. Se duas ou mais sociedades se associassem procurando constituir uma nova sociedade, ocorreria a hipótese de fusão de sociedades. Aí reside um dos elementos distintivos dos grupos de sociedade e consórcio. Houvesse fusão de sociedades, o agrupamento desaparecia no mesmo instante para dar formação a uma sociedade única. Problemática concernente à natureza jurídica dos grupos de sociedades O objetivo fundamental e de extrema urgência de toda e qualquer legislação sobre a matéria é a proteção de credores, sócios e terceiros que se relacionem com tais agrupamentos. O centro de toda essa problemática está no fato de que, as relações jurídicas desses agrupamentos societários para com terceiros, não podem ser examinadas e resolvidas sob o prisma simplista do interesse isolado de cada uma dessas sociedades. Eles agem economicamente “como um todo”, como um grupo, e assim devem ser consideradas. A atuação desses grupos consiste num dos problemas mais agudos da atualidade jurídica mundial. A tônica do novo Direito que surge, disciplinando os grupos econômicos, procura impedir que esses grupos se tornem instrumento de opressão e tirania. Em suma, a manutenção da personalidade jurídica e patrimonial aliada à unidade de gestão sobre uma pluralidade de sociedades formalmente independentes pode trazer ofensas aos direitos de sócios minoritários, terceiros, à economia popular e à coletividade. Os grupos de sociedade e consórcio, mesmo não tendo personalidades jurídicas próprias, constituem verdadeiramente uma sociedade, visto que apresentam os três elementos fundamentais de toda a relação societária, a saber: contribuição individual com esforços e recursos, a atividade para lograr fins comuns e a participação em lucros ou prejuízos. A criação de um grupo significa criar uma sociedade de sociedades. Mas essa sociedade criada não gera, apesar disso, uma pessoa jurídica de segundo grau. Tendências atuais Caso o agrupamento possua efetivamente personalidade jurídica e, em consequência, capacidade de adquirir direitos e contrair obrigações, devem os credores do grupo promover ação judicial contra o grupo, ou devem demandar contra a sociedade de comando e contra as sociedades grupadas, como devedores solidários? A esse respeito, entende-se que, em caso de inadimplemento da obrigação, poderiam ser penhorados bens de qualquer sociedade componente do grupo, como forma de garantia para os credores em atendimento ao princípio de que essa autonomia e confusão patrimonial existem para o benefício de todo o grupo. Entendendo o posicionamento das relações empresariais da realidade, em face das evasivas artificiosas no cumprimento das obrigações, a tendência atual é a desconsideração da personalidade jurídica das sociedades que compõe o grupo, bem como a negação de suas autonomias jurídica e patrimonial. Passam elas a ser consideradas não como empresas isoladas e independentes, mas como parte de um grupo, como realmente o são. A autonomia patrimonial desses agrupamentos pode dar margem para a exclusão de responsabilidades ou para a consagração de sutis fraudes. Entretanto, é louvável o disposto no artigo segundo, parágrafo segundo da Consolidação das Leis do Trabalho, que enfrentou essa questão da autonomia declarando simplesmente solidárias entre si as sociedades agrupadas pelas obrigações sociais a que cada uma delas unitariamente se obrigara. „Sempre que uma ou mais sociedades, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, constituindo 7 A sabedoria é a arma invencível de um povo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos de relação de emprego, solidariamente responsáveis, a sociedade principal e cada uma das subordinadas. CLASSIFICAÇÃO DOS GRUPOS DE SOCIEDADES Observando-se a Figura 1, dessa unidade, deduz-se que uma das classificações da concentração de sociedades está explícita nos grupos empresariais ou econômicos, os quais podem resultar em: a) grupos de subordinação: grupos de fato e de direito; b) grupos de coordenação: os consórcios. Grupos de subordinação Nos grupos de direito, a controladora e suas controladas, sem perda de autonomia jurídica, atuam sob uma única direção, disciplinada por uma convenção arquivada no registro de comércio da sede da sociedade de comando. Nesse caso, a combinação de recursos e esforços, bem como a subordinação de interesses de uma sociedade aos de outra, ou do grupo, será lícito, e não configuraráabuso de poder. Em contrapartida, nos grupos de fato, caracterizados pela atuação em conjunto da sociedade controladora, suas controladas e suas coligadas, as operações entre as sociedades devem obedecer ao princípio da equivalência das condições, realizando-se apenas negócios comutativos ou com pagamento compensatório. A decisão das organizações estruturarem-se como grupo de direito, grupo de fato ou como empresa integrada, em regra, é fundamentada no planejamento tributário de cada instituição. Nessa linha, os grupos econômicos dividem-se ainda entre os estruturados a partir de uma holding pura, assim entendida a empresa que tem por escopo o exercício das atividades de participação e controle de outras empresas, e a holding mista, que ao lado das atividades de participação financeira e de controle exerce diretamente atividades industriais ou comerciais. Grupos de fato Os grupos de fato estabelecem-se entre sociedades coligadas ou entre controladora e controlada. Coligadas são sociedades em que uma participa do capital social da outra, exercendo alguma influência significativa, sem controlá-la. Já a controladora é aquela que detém o poder de controle de outra sociedade. Na prática, uma sociedade é controladora quando detiver o poder mando nas controladas. Para proteger os acionistas minoritários e os credores, a LSA não permite que os administradores, em prejuízo da companhia, favoreçam sociedade coligada, controladora ou controlada, determinando, também, que eles zelem para que as operações entre as sociedades, se houver, observem condições estritamente cumulativas, ou com pagamento compensatório adequado. Os administradores da companhia devem tratar as coligadas, controladora e controladas como se fossem sociedades estranhas. Em relação aos grupos de fato, preocupou-se o legislador, basicamente, em garantir maior transparência nas relações entre as coligadas e entre as controladoras e a sua controladora, através de regras próprias sobre as demonstrações financeiras (LSA, art. 247 a 250). Sociedades coligadas, controladas e controladora As sociedades coligadas, controladoras e controladas integram os chamados grupos de fato, isto é, sociedades que mantêm entre si laços empresariais mediante participação acionária, sem ser preciso que se organizem juridicamente; elas se relacionam de acordo com o regime legal de sociedades isoladas e não têm necessidade de uma maior estrutura organizacional. Conforme o objetivo pretendido, há várias modalidades de operações de reestruturação societária de participação simples, entre as quais se situa a participação de uma empresa no capital social de outra. O Código Civil de 2002 estabeleceu como gênero as sociedades 8 A sabedoria é a arma invencível de um povo coligadas, cujas espécies são as controladas, as filiadas ou as de simples participação, conforme dispõe o art. 1.097. Esses grupos de fato também têm regulamentação na LSA, nos arts. 243 a 264. Sumariamente, pode-se resumir os investimentos de participações de uma empresa em outra da seguinte forma: coligação, controle, simples participação. Sociedades coligadas São sociedades nas quais, uma participa no capital social da outra e exerce influência significativa, sem controlá-la. Essa menção da Lei nº 6.404/76 é genérica em termos de participação, abrangendo as sociedades em sua totalidade, podendo, portanto, ser sociedades por ações ou sociedades por quotas. Também não fez a lei menção sobre participações indiretas. Assim, na coligação só se verificam participações diretas. Sociedade de simples participação A última espécie do gênero “sociedades coligadas” encontra sua definição no art. 1.100 do Código Civil de 2002. “É de simples participação a sociedade de cujo capital outra sociedade participe sem exercer influência significativa. A LSA não tratou dessa modalidade de reestruturação societária. Sociedades controladas São controladas as sociedades nas quais a controladora, diretamente ou através de outras controladoras, é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, preponderância nas deliberações sociais, bem com o poder de eleger a maioria dos administradores. É controlada a sociedade de cujo capital outra sociedade possua a maioria dos vostos nas deliberações dos sócios ou da assembleia geral e o poder de eleger a maioria dos administradores. A permanente preponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores ficam assegurados quando a sociedade investidora possuir uma participação maior que 50% do capital votante da investida. Exemplo: Sejam as sociedades A e B, sendo que A participa do capital de B com um percentual de 30%. Suponha-se que a empresa B tenha o seu capital constituído da seguinte forma: Ações preferenciais se direito a voto $2.000.000 Ações ordinárias - - - - - - - - - - - - - - $2.000.000 Total - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - $4.000.000 ( x ) percentual de participação - - - - 30% ( = ) Valor da participação - - - - - - - $1.200.000 Hipóteses a) Se os R$ 1.200.000 se compõem de ações preferenciais - então a empresa B será coligada de A, que participa com 30% do capital total de B que representa 60% das ações preferenciais. b) Se os R$ 1.200.000 se compõem de ações ordinárias - então a empresa B é controlada por A, que participa com 30% do capital total de B que corresponde a 60% do capital votante. Sociedade controladora ou holding Geralmente, o controle de um grupo de sociedades é exercido por uma sociedade controladora ou sociedade de comando também conhecida por “holding”, que tem como objetivo possuir ações de várias sociedades para controlá-las. É uma sociedade possuidora de ações de outras sociedades e que exerce na maior parte das vezes o controle sobre essas sociedades. Em um grupo de sociedades, não há integração de sociedades, isto é, cada empresa mantém sua personalidade jurídica própria, entendendo-se, dessa forma, que cada 9 A sabedoria é a arma invencível de um povo sociedade assume seus riscos, não afetando a sociedade holding. Destaca-se ainda como característica de uma holding o fato de ela deter o controle de suas filiadas mediante pequena participação no capital social dessas sociedades, desde que as ações estejam diluídas com o público. Outro aspecto importante é que se tem uma administração descentralizada com controle centralizado. Enfim, existe uma holding – quando uma sociedade assume o controle de várias sociedades em razão de ter adquirido maior parte do capital votante. Deve-se diferenciar sociedade holding de sociedade de participação ou sociedade financeira (investment trust). Sabe-se, pois, que esta apresenta grande parte dos ativos investidos no capital de outras sociedades, cujo objetivo principal é o investimento e seu conseqüente retorno enquanto aquela só visa ao controle societário. A Holding representa forma de oligopólio, no qual é criada uma empresa para administrar um grupo delas que se uniu com o intuito de promover determinada oferta de produtos e serviços. Com origem remontada ao idioma inglês, holding vem do verbo to hold, que quer dizer segurar, guardar, controlar, manter. A sociedade holding, logo se percebe, é aquela que participa do capital de outras sociedades em nível tal que lhe garanta o controle delas. Ela não consiste em um tipo societário especificamente considerado na legislação, mas somente indica aquela que tem por objeto a participação em outras sociedades. Ao exercer o controle acionário de outras sociedades, a holding possibilita que sua receita bruta seja formada basicamente pelo recebimento de lucros e dividendos isentos do IR. Além disso,enquanto controladora, ela concentra a gestão empresarial, podendo determinar a forma de administração das suas controladas; padronizando os inúmeros procedimentos administrativos e contábeis, a holding reduz os custos e também a burocracia, que muitas vezes é um entrave ao desenvolvimento e crescimento de uma empresa. Um dos inúmeros objetivos da holding também pode ser o de facilitar a sucessão hereditária. Aqui, o seu fundador integraliza o capital da holding de diversos modos, seja com imóveis, ações e quotas societárias ou títulos e valores mobiliários, sendo todos de sua propriedade, procurando preservar seu patrimônio para evitar futuras e possíveis disputas judiciais na ocasião de seu falecimento e de sua sucessão. Com isso, a holding pode receber outras receitas que não se restrinjam apenas aos lucros e dividendos, como por exemplo, as receitas provenientes do aluguel de imóveis e dos rendimentos de títulos e valores mobiliários. Espécies de holding Costuma-se classificar as empresas holding, de um modo geral, como pura ou mista. A holding será pura quando o seu objeto social consistir apenas na participação no capital social de outras sociedades, sobre as quais exercerá o controle acionário. Por sua vez, haverá holding mista quando, além de participar, ela explorar alguma atividade empresarial. Existem ainda outras classificações doutrinárias, como a holding administrativa, a holding de controle e a holding familiar, a qual tem sua grande utilidade na concentração patrimonial, além de facilitar a sucessão hereditária e a administração dos bens, propiciando a continuidade sucessória. Subsidiária integral Subsidiária é empresa controlada por outra que detém o controle total dos negócios, ou seja, de todas as ações. É uma empresa sob o controle acionário exclusivo de uma companhia brasileira. Subsidiária integral é um tipo de união de empresas. Embora a constituição da empresa dependa de subscrição de pelo menos duas pessoas, a legislação das SAs dispõe que a 10 A sabedoria é a arma invencível de um povo empresa pode ser constituída por subscrição pública, tendo como único acionista sociedade brasileira. A sociedade assim constituída é chamada de subsidiária integral embora com personalidade jurídica absolutamente distinta da sociedade acionista. A constituição da subsidiária integral pode acontecer também pela incorporação de todas as ações de uma empresa por outra, exigindo que haja plena aprovação da assembleia geral de ambas as sociedades. Para melhor entender o que é uma subsidiária integral, deve-se partir da seguinte premissa: “empresas de um único dono”: empresa individual: único dono: uma pessoa física (empresário individual); empresa governamental: único dono: o governo (empresa pública); subsidiária integral: único dono: uma pessoa jurídica. São exemplos de subsidiárias integrais: a Petrobrás Transporte SA - Transpetro é uma subsidiária integral da Petrobrás; a Gerdau Ameristeel Corporation é uma subsidiária da Gerdau SA na América do Norte; adquiriu também a totalidade das ações da Sheffield Steel Corporation; a Petroquisa (Petrobrás Química SA) é uma subsidiária da Petrobrás; a Mellon Serviços Financeiros é uma subsidiária integral no Brasil da Mellon Overseas; a Finame – Agência Especial de Financiamento Industrial – é uma subsidiária do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e social, a qual tem por finalidade a comercialização e o financiamento para aquisição de máquinas e equipamentos industriais; o Bndespar – BNDES Participações SA é uma subsidiária do BNDES, criada com o objetivo de possibilitar a subscrição de valores mobiliários no mercado de capitais brasileiro; é uma holding de propriedade do BNDES, criada para administrar as participações do banco em diversas empresas. Para melhor compreensão do que vem a ser sociedades coligadas, controladas e controladora ou holding, será feito o estudo analítico da Figura 2. A B C D E Figura-2 – Organograma de grupo societária de fato Fonte: elaboração do autor. Para analisar a figura acima, imagina-se que os percentuais nela evidenciados, refiram-se à participação no capital votante. Diante dessas condições, conclui-se que: 1) B é controlada diretamente por A, pois essa sociedade detém mais de 50% do capital votante de B. 2) D é controlada indiretamente por A. Observa-se que A tem participação direta de 30%. Esse percentual, isoladamente não assegura o controle de A sobre D, mas A controla B que, por sua vez, possui 25% do capital votante de D. Então, a participação de B em D somada à participação direta de A em D ultrapassa a metade do capital votante de D ( 30% + 25% = 55% ). O conceito em questão é o de controle e não o de propriedade. Na realidade, A não detém a maioria do capital votante de D, pois detém apenas 30% + (25% de 61%) = 45,25%. 30% 61% 40% 25% 40% 51% 9% 11 A sabedoria é a arma invencível de um povo 3) C é coligada de A, pois essa detém 40% do capital votante daquela. 4) E não é controlada por A. Será coligada? Observa-se que a participação de A em E demanda a análise de três possibilidades: diretamente: 9% através de B, podem-se considerar os 40% através de C, não podem ser considerados os 51%. Sendo assim, para efeito de controle, tem-se: 9% + 40% = 49%. E, para efeito de propriedade, ou seja, economicamente, quanto a sociedade A possui do capital de E? 9% + ( 61% de 40% ) + ( 40% de 51% ) 9% + 24,40% + 20,40% = 53,80% do capital votante de E. Ora, a participação a partir de 20% presume-se influência significativa. A sociedade A não é controladora de E, mas pelo fato de possuir 53,8% de seu capital votante, deve exercer influência significativa e por isso, a sociedade E é coligada de A. 5) E é controlada diretamente por C, mas não controlada indireta por A uma vez que A não controla C. 6) E é coligada de B que por sua vez é controlada de A, mas A não controla E uma vez que a participação de B em E somada à participação direta de A em E não ultrapassa a metade do capital votante: (40% + 9% = 49%). E se se somasse com a de C? Não é possível porque C não é controlada por A. Participações recíprocas Conforme o nome expressa, diz-se que uma participação é recíproca quando, por exemplo, a empresa A participa do capital da empresa B e, concomitantemente B participa do capital da empresa A. A B Conforme o artigo 244 da Lei nº 6404/76, é proibida a participação recíproca, pois o que existe, nesse caso, seria o inchamento de capital ou capital cruzado. Esse processo poderá ser possível temporariamente (até um ano) no caso de fusão ou incorporação de sociedades. Em regra, tanto o art. 1.101 do CC, como o art. 244 da LSA proíbem a participação recíproca entre a companhia e suas coligadas ou controladas. Exceção é feita quando pelo menos uma das sociedades participa de outra, observando as condições em que a lei libera a aquisição das próprias ações (art. 244, § 1º, LSA). Segundo o exposto no art. 30, § 1º, item b da mesma lei, a companhia só poderá negociar com as próprias ações em caso de permanência em tesouraria ou cancelamento, desde que até o valor de lucros ou reservas, exceto a legal, e sem diminuição do capital social ou por doação. Se a participação recíproca decorrer de fusão, cisão ou incorporação, ou aquisição pela companhia do controle de sociedade, isso deve ser mencionado nos relatórios e demonstrações contábeis das sociedades em questão; a eliminação de tal situação deve ocorrer, no máximo,dentro de um ano. Em se tratando de coligada, deverão ser alienadas as ações ou quotas de aquisição mais recente, ou, se forem da mesma data, as que representem menor porcentagem do capital social, a não ser que haja acordo em contrário. O descumprimento dessa norma acarreta a 12 A sabedoria é a arma invencível de um povo responsabilidade civil solidária dos administradores. Para efeitos penais, esse inadimplemento equivale à compra ilegal das próprias ações ou quotas de capital. O art. 1.101 do CC ordena que a sociedade não pode participar de sua sócia por montante superior ao das próprias reservas, excluída a reserva legal, a não ser que haja disposição especial em lei. O montante é avaliado de acordo com o balanço. Quando o balanço for aprovado e ficar constatado que o limite imposto foi ultrapassado, a sociedade não tem o poder de exercício do direito de voto no que estiver relacionado às ações ou quotas em excesso, as quais devem ser alienadas nos 180 dias seguintes à aprovação do balanço (Código Civil, art. 1.101, parágrafo único). Além de regular a participação recíproca das coligadas, a LSA ainda cuida da responsabilidade dos administradores e das sociedades controladoras (arts. 245 e 246), das demonstrações financeiras (arts. 247 a 250), da subsidiária integral (arts. 251 a 253), da alienação do controle (arts. 254 a 256), da aquisição de controle mediante oferta pública (arts. 257 a 263) e, por fim, da incorporação de companhia controlada, no art. 264, que encerra o capítulo XX dessa lei. Grupos de direito Grupo de direito é o conjunto de sociedades cujo controle é titularizado por uma sociedade brasileira (a comandante) e que, mediante convenção acerca de combinação de esforços ou participação em atividades ou empreendimentos comuns, formalizam essa relação interempresarial. Nessa convenção, são declinados os fins almejados, os recursos que serão combinados, as atividades a serem empreendidas em comum, as relações entre as sociedades, a estrutura administrativa do grupo e as condições de coordenação ou de subordinação dos administradores das filiadas à administração geral. Os grupos devem possuir designação, da qual constará palavra identificadora da sua existência ("grupo" ou "grupo de sociedades": art. 267 da LSA), e devem estar devidamente registradas na junta comercial. Registra-se que o grupo não tem personalidade jurídica própria, sendo apenas uma relação interempresarial formalizada. Cada uma das sociedades agrupadas sob o comando de companhia brasileira, conserva a sua personalidade, sendo distintos, ademais, os seus patrimônios. Por outro lado, entre as sociedades integrantes do mesmo grupo, não há, em regra, solidariedade, exceto perante as autoridades antitrustes, conforme determina o art. 17 da Lei de Infrações à Ordem Econômica (LIOE), nas dívidas trabalhistas (CLT, art. 2º, § 2º) e pelas dívidas previdenciárias (Lei nº 8.212/91, art.30, IX). Não há, também, em regra, subsidiariedade entre as sociedades de um mesmo grupo, salvo quanto às obrigações relacionadas em contrato de consumo (Código de Defesa do Consumidor, art.28, § 2). Os grupos podem contar com estrutura administrativa própria, consistente em órgãos colegiados e cargos de direção-geral. Implantado o grupo de direito, configura-se apenas um sistema ordenado de comando e integração de proveitos, viabilizando-se a subordinação dos interesses de uma ou algumas sociedades aos de outras - (art.276), prática que, sem a existência do grupo, estaria vedada pelo art.245. A participação em grupo de sociedades dependerá de aprovação de assembleia geral (quorum qualificados) e assegura aos dissidentes o direito de regresso. Grupos de coordenação Nesse segmento, as sociedades operam conjuntamente, buscando um fim comum, mas sem que haja supremacia de uma sobre as outras. Sendo assim, verifica-se apenas a natureza de cooperação mútua entre as sociedades envolvidas. Fazem parte desse segmento os consórcios de empresa, os quais são regidos pelas disposições contidas nos artigos 278 e 279 da Lei das Sociedades por Ações. E, mais recentemente, as joint ventures, não contempladas, portanto, pela legislação acima. Consórcio Em face do desenvolvimento do país, os negócios se avolumam. Para muitos deles, especialmente no que diz respeito às obras e serviços públicos, as empresas nem sempre 13 A sabedoria é a arma invencível de um povo possuem o poderio necessário para assumir certos encargos. Daí a faculdade que se lhes vai reconhecendo de se agruparem, formando entre elas consórcios para determinados fins. Poucas são, de fato, no Brasil, as grandes empresas capazes de se apresentarem com seus próprios e exclusivos recursos técnicos ou financeiros para suportar encargos que se lhes pretenda cometer. Impõe-se, assim, a permissibilidade para que se unam, formando tais agrupamentos ou consórcios. O consórcio não constitui nova sociedade, as sociedades apenas se agregam umas às outras, num plano horizontal, mantendo cada uma a sua peculiar estrutura jurídica. As empresas se unem sem prejuízo da intangibilidade da personalidade jurídica de cada uma. O consórcio acontece quando duas ou mais sociedades se ligam para atender as necessidades ou interesses dos figurantes, sendo que cada uma mantém sua autonomia e unidade econômica, principalmente, no que diz respeito a terceiros que com elas negociem. Conforme o art.15, § 2º da Lei nº 4.728/65, trata-se de contrato celebrado entre empresas. Em face dos elementos colhidos na legislação e na doutrina, pode-se conceituar o consórcio ou agrupamento, como expressões sinônimas. Refere-se ao contrato pelo qual se agrupam diversas empresas, pertencentes a pessoas físicas ou jurídicas distintas, com o objetivo de exercitarem em comum a sua atividade na produção ou troca de bens ou serviços, num mesmo plano de igualdade, mantendo plena autonomia individual, sob a administração de um órgão por elas constituído, que também as representa juridicamente. O consórcio tem por finalidade o reforço econômico e melhora técnica da produção, e há a direção comum, mas sem o propósito de cercear ou eliminar a competição por partes das outras empresas. Isso não significa que a amplitude do consórcio não possa determinar cartel. Há então, o truste ou algo que com ele pareça. No tocante a figuras jurídicas semelhantes, o elemento distintivo do consórcio é a autonomia das empresas que são figurantes do negócio jurídico. Não há fusão, nem união, nem subordinação trustística, posto que o consórcio possa chegar aos mesmos resultados que os outros institutos têm por fim. Ele também difere do grupo de sociedade, pois enquanto o grupo tem um sentido amplo e abrangente, o consórcio se restringe a conjugação de empresas para a execução de empreendimento determinado. A legislação esparsa, no direito brasileiro, não oferece ainda uma definida disciplina sobre a matéria, merecendo por isso melhor e oportuna atenção do legislador nacional que se refere a esse instituto em poucas leis com destaque para a Lei das SA. O art.278 dessa Lei dispõe que as companhias e quaisquer outras sociedades, sob o mesmo controle ou não podem constituir consórcio para executar determinado empreendimento. O consórcio não tem personalidade jurídica, e as sociedades consorciadas somente se obrigam nas condições previstas no respectivo contrato, respondendo cada uma por suas obrigações, sem presunção de solidariedade. Características dos consórcios São características dos consórcios: objetivo comum para o exercício de determinado projeto, empreendimento ou prestação de serviço; a administração é de competência, regra geral, da empresa líder; manutenção das personalidades jurídicas das sociedades agrupadas; ausênciade personalidade jurídica manutenção de seus patrimônios; direção unitária de interesses; não se confunde com grupos societários. Proibição à formação de consórcios O artigo 278 da Lei nº 6.404/76 estabelece que as companhias e quaisquer outras sociedades, sob o mesmo controle ou não, podem constituir consórcio para executar determinado empreendimento. 14 A sabedoria é a arma invencível de um povo De acordo com a Lei nº 8.884/94, ficou proibida a formação de consórcios de empresas no caso de restringir a liberdade de comércio, tendo por objetivo a dominação do mercado, a eliminação da concorrência, ou o monopólio na obtenção de elevação de preço, perante a ilegalidade de tais finalidades. Formalidades do contrato O consórcio consiste na união de sociedades em proveito de um empreendimento, sem perder sua personalidade jurídica, sem abdicar de sua autonomia administrativa e, muitas vezes, sem a participação societária. São sociedades sob o mesmo controle ou não que se unem para executar determinado empreendimento. O consórcio será constituído mediante contrato, aprovado pelo órgão da sociedade, inclusive suas alterações, devendo ser arquivados no Registro do Comércio do lugar da sua sede e a certidão de arquivamento ser publicada. Esse contrato deve conter obrigatoriamente: a designação do consórcio, se houver; o empreendimento que constitui o objeto do consórcio; a duração, endereço e foro; a definição das obrigações e responsabilidades de cada sociedade consorciada e das prestações específicas; normas sobre recebimento de receitas e partilha de resultados; normas sobre administração do consórcio, contabilização, representação das sociedades consorciadas e taxa de administração, se houver; forma de deliberação sobre assuntos de interesse comum, com o número de votos que cabe a cada consorciado; contribuição de cada consorciado para as despesas comuns, se houver. O consórcio, normalmente, é constituído para execução de obras como metrô, usinas hidrelétricas, estações de tratamento de água e esgoto etc. Algumas vezes, a forma de constituição é de consórcio, mas opera como sociedade em conta de participação ou vice- versa. Pode-se definir consórcio como uma sociedade não personificada, cujo objeto é a execução de determinado e específico empreendimento. Assim, diz-se que o consórcio decorre ou se origina de um contrato temporário ou por prazo determinado, pois se for constatado o prazo indeterminado, o acordo firmado entre as sociedades não pode ser reconhecido como de natureza consorcial. Suponha que duas empresas imobiliárias firmam um contrato por prazo indeterminado para, juntas, construírem e comercializarem unidades imobiliárias, de modo genérico e sem a indicação dos prédios a serem construídos. Então, nessa situação, não há que se falar em consórcio. Aprovação do contrato de consórcio De acordo com o parágrafo único do art. 2º da IN-DNRC nº 74/98, são competentes para aprovação do contrato de consórcio: I. nas sociedades anônimas: o conselho de administração, quando houver, salvo disposição estatutária em contrário; a assembleia geral, quando inexistir o conselho de administração; II. nas sociedades contratuais: os sócios, por deliberação majoritária; III. nas sociedades em comandita por ações: a assembleia geral. Para que se proceda ao arquivamento do contrato de consórcio, inclusive suas alterações e extinção, deve ser apresentada a seguinte documentação: capa de processo/requerimento; contrato, alteração ou distrato do consórcio, no mínimo, em três vias, sendo pelo menos 15 A sabedoria é a arma invencível de um povo uma original; decreto do presidente da República, no caso de consórcio de mineração; comprovante de pagamento do preço do serviço – recolhimento estadual. Dispositivos legais determinam que os consórcios, mesmo não possuindo personalidade jurídica, obrigam-se a ter sua inscrição no CNPJ. Se não têm personalidade jurídica, então não estão obrigados a apresentar declaração de rendimentos. Para efeito tributário, os rendimentos decorrentes das atividades executadas pelos consórcios devem ser computados nos resultados das empresas consorciadas, proporcionalmente à participação de cada empresa no empreendimento. Assim, observa-se também que o imposto de renda retido na fonte sobre rendimentos auferidos pelos consórcios será compensado na declaração de rendimentos das pessoas jurídicas consorciadas, no exercício financeiro competente, proporcionalmente à participação contratada. Os principais tipos de consórcios são: execução de grandes obras de engenharia; atuação no mercado de capitais; acordos exploratórios de serviços de transportes; exploração de atividades minerais e correlatas; atividades de pesquisas ou uso comum de tecnolologia; licitações públicas. Aspectos contábeis Empresa líder Entidade consorciada, nomeada líder no contrato de consórcio. É responsável pela escrituração contábil e guarda dos livros e documentos comprobatórios das operações do consórcio, conforme prazos legais. Como o consórcio não tem personalidade jurídica, é muito comum que o faturamento total seja feito através da empresa líder ou cada empresa consorciada fatura a parcela da receita que lhe cabe. O certo é que cada empresa consorciada assume sua parcela de responsabilidade proporcional ao seu faturamento. Assim, as contribuições para PIS/Pasep e Cofins devem ser recolhidas por todas as empresas consorciadas na proporção de sua receita consorcial. O consórcio de empresas deve registrar os fatos e atos administrativos, mantendo contabilidade distinta das empresas consorciadas. A conta capital é substituída por “conta corrente de consorciados” ou denominação semelhante, não existindo a figura do patrimônio líquido. O saldo apurado na DRE – Demonstração do Resultado do Exercício do consórcio de empresas deve ser transferido às empresas consorciadas na proporção prevista no contrato de consórcio, podendo as empresas consorcidas efetuarem os registros por operação ou saldo das contas. Caso as sociedades consorciadas forneçam ou adquiram materiais ou serviços em transações operacionais com o consórcio, essas sociedades devem ser tratadas, contabilmente, como fornecedores ou clientes. Quando da liquidação do consórcio, os ativos e os passivos remanescentes devem ser transferidos, baixados ou liquidados de acordo com o contrato firmado entre as empresas consorciadas. Personalidade jurídica e responsabilidade tributária De acordo com o art. 278 da Lei nº 6.404/76, o consórcio não tem personalidade jurídica e as consorciadas somente se obrigam nas condições previstas no respectivo contrato, respondendo cada uma por suas obrigações, sem presunção de solidariedade. 16 A sabedoria é a arma invencível de um povo Como não tem personalidade jurídica, o consórcio não recolhe tributos como ICMS, IPI, ISS, PIS, Cofins, IR etc. Quem faz o devido recolhimento são as empresas consorciadas na razão de suas atividades e arrecadações, quando atuam pelo consórcio. Os impostos recolhidos na fonte serão objetos de contabilidade posterior de cada organização que o compuser, na forma que estiver descrito no contrato, compensando-se posteriormente por rateio entre as consorciadas. Por não ter personalidade jurídica, o consórcio não fatura, não apura lucro, não contrata e, portanto, nem pode ser contribuinte de tributos. A falência de uma consorciada não se estende às demais, subsistindo o consórcio com os outros contratantes; os créditos que por ventura tiver a falida serão apurados e pagos na forma prevista no contrato de consórcio.Joint venture Joint venture ou empreendimento conjunto é uma associação de empresas, que pode ser definitiva ou não, com fins lucrativos, para explorar determinado(s) negócio(s), sem que nenhuma delas perca sua personalidade jurídica. Essa associação é dissolvida automaticamente após o término do projeto realizado em comum. Um modelo típico de joint venture seria a transação entre o proprietário de um terreno de excelente localização e uma empresa de construção civil, interessada em levantar um prédio sobre o local. É uma sociedade controlada em conjunto que de acordo com o parágrafo segundo do artigo 32 da Instrução CVM nº 247/96, considera-se sociedade controlada em conjunto aquela em que nenhum acionista exerce, individualmente, o controle direto ou indireto sobre a sociedade investida. Essas disposições alcançam, principalmente, as denominadas joint ventures em que, mediante a existência de acordo contratual e de parcelas proporcionais de participação, duas ou mais entidades empreendem uma atividade econômica, podendo ser sociedade por ações ou por quotas. O que caracteriza uma empresa joint venture é existência de um acordo contratual entre os sócios que estabelecem o controle conjunto sobre a atividade econômica dessa empresa. Isso ocorre quando duas ou mais sociedades combinam suas atividades em uma linha específica de negócio, transferindo os ativos e obrigações relevantes para uma entidade controlada em conjunto. Uma entidade controlada em conjunto mantém seus próprios registros contábeis e prepara suas próprias demonstrações contábeis de forma semelhante às demais empresas. Em termos de consórcio, a forma “joint venture” já bastante utilizada nos Estados Unidos, está ganhando a cada instante maior aceitação no Brasil, servindo de elo a crescentes investimentos americanos e de outros países. A joint venture consiste na união de sociedades para explorar empreendimentos. É um tipo de parceria no qual os investidores são coproprietários da empresa. Uma característica da joint venture é o seu aspecto efêmero, desfazendo-se no término de obra ou do empreendimento. Se tiver carácter duradouro, certamente será transformada em outro tipo de sociedade, a fim de oferecer maior segurança ao empreendimento e aos associados. No Brasil, um bom exemplo de joint venture foi a Autolatina; uma união das empresas automobilísticas Volkswagen e Ford, que perdurou de 1987 até meados de 1996. Integrando as fábricas e operações das duas empresas, a ideia era compartilhar os custos e potencializar os pontos fortes de cada uma, em uma experiência tentada também em Portugal com a AutoEuropa. A Autolatina envolveu os mercados brasileiro e argentino. Durante o período de atividade da Autolatina, a VW ofereceu à Ford os motores AP-1600, AP-1800 e AP-2000 além da plataforma do sedã Santana, que originou os modelos Versalles e o Royale. A Ford, em contrapartida, ofereceu à VW os motores AE-1000 (CHT) e AE 1600 (CHT), além da plataforma do Escort, que originou os modelos Apollo, Logus e Pointer. Estes últimos modelos não obtiveram grande sucesso no mercado, sendo descontinuados após alguns anos. 17 A sabedoria é a arma invencível de um povo Ainda no ramo automobilístico brasileiro, as montadoras Fiat e General Motors iniciaram em 2001, uma Joint-Venture denominada FGP (Fiat-GM Powertrain). Em 2005 ocorreu a dissolução da Joint-Venture FGP (Fiat-GM Powertrain). Um exemplo atual é a venda da marca Becel e Becel ProActiv da Unilever Brasil à Perdigão. O que também aconteceu com as marcas Doriana, Claybom e Delicata. A Unilever entrou com essas marcas e também todo o equipamento, mão-de-obra e a fábrica localizada em Valinhos (SP), em regime de comodato; e a Perdigão disponibilizará sua estrutura de venda e distribuição. As empresas estarão unidas ainda para contribuir com a área de marketing, pesquisa, inovação e no desenvolvimento de novos itens desse setor de margarinas. Outro exemplo é a Benq Siemens e Fujitsu-Siemens, ambas, empresas que atuam no mercado de telecomunicações e tecnologia (informática). Mais um exemplo está na joint venture que a Hewlett-Packard (HP) fez em 1963 com Sony e Yokogawa Electric com o intuito de operar no mercado asiatico. A Nintendo nos anos 90 fez uma parceria com a Gradiente e a Estrela no Brasil sob o nome "Playtronic", lançando vários consoles (de mesa e portáteis) da empresa, dentre eles os videogames Super NES, Nintendo64 e, até o início dos anos 2000, o Nintendo GameCube, quando a parceria foi desfeita por conta da pirataria, o que resultou em uma grande desvantagem para o consumidor brasileiro: agora os produtos da corporação japonesa só chegariam ao Brasil a altos preços de importação, devido aos impostos. Além disso os produtos importados chegam ao Brasil sem suporte, manuais de instrução em português, que antes eram produzidos no Brasil junto com extras (livretos com dicas, entre outros itens adicionais gratuitos totalmente em português, que eram disponibilizados a quem comprasse jogos originais). Outros exemplos: a Sony Ericsson, Globosat, programadora de canais do Brasil, através de Joint Ventures, trouxe para o Brasil canais como o Universal Channel, Rede Tele Cine, canais adultos e outros. Resumidamente, afirma-se que a joint venture consiste na associação de duas ou mais sociedades para explorar determinado ramo de negócio em que cada empresa participante mantém a própria personalidade jurídica. CONSTITUIÇÃO E REGISTRO DE GRUPOS DE SOCIEDADES O grupo de sociedade será constituído por convenção escrita, sob a liderança de sociedade brasileira. É proibida a sociedade estrangeira comandar o grupo, muito embora possa fazer parte dele, desde que se subordine ao comando da sociedade controladora nacional. A convenção de grupo deve ser aprovada pelas sociedades que dele fizerem parte. Se houver companhia, essa aprovação caberá à assembleia geral; se houver sociedade de pessoas, pela maioria dos sócios, a sua aprovação se dará com a observância das normas para a alteração do contrato ou estatuto. Conforme disposição legal, a sociedade controladora e suas controladas ou filiadas podem constituir-se na forma de grupo de sociedades, mediante convenção aprovada por todas as sociedades que o componham. Entretanto, se houver alguma sociedade que, em decorrência de seu objeto, dependa de autorização governamental para funcionar, somente poderá participar do grupo de sociedades após a aprovação da convenção do grupo pela autoridade competente. A convenção do grupo de sociedades deverá conter, conforme art. 269: a designação do grupo: “grupo”, “grupo de sociedades”; a indicação da sociedade de comando e das filiadas; as condições de participação das diversas sociedades; o prazo de duração, se houver, e as condições de extinção; as condições para admissão de outras sociedades e para a retirada das que o componham; os órgãos e cargos da administração do grupo, suas atribuições e as relações entre a estrutura administrativa do grupo e as sociedades que o componham; 18 A sabedoria é a arma invencível de um povo a declaração da nacionalidade do controle do grupo; as condições para alteração da convenção. A convenção do grupo de sociedades deve ser aprovada com observação das normas para alteração do contrato social ou do estatuto que, de acordo com o art. 136 da Lei nº 6.404/76, é necessária a aprovação de acionistas que representem metade, no mínimo, das ações com direito a voto, se maior quorum não for exigido pelo estatuto da companhia, cujas ações não estejam admitidas à negociação em bolsa ou no mercado de balcão. Segundo o art. 137, cabe aos sócios dissidentes da deliberação de se associar ao grupo de sociedades, ou seja, aqueles quenão concordarem com a convenção terão o direito ao reembolso de suas ações ou quotas. A sociedade de comando ou controladora deve ser brasileira e exercer direta ou indiretamente, e de modo permanente, o controle das sociedades filiadas, como titular de direitos de sócio, ou mediante acordo com outros sócios. O grupo de sociedades considera-se sob controle brasileiro se a sociedade de comando está sob o controle de: pessoas naturais residentes ou domiciliadas no Brasil; pessoas jurídicas de direito público interno; sociedade ou sociedades brasileiras que, direta ou indiretamente, estejam sob o controle das pessoas referidas anteriormente. Somente será considerado constituído o grupo, de acordo com o artigo 271, a partir da data do arquivamento, no Registro Público de Empresas Mercantis da sede da sociedade de comando, dos seguintes documentos: 1. convenções de constituição do grupo; 2. atas das assembleias gerais, ou instrumento de alteração contratual, de todas as sociedades que tiverem aprovado a constituição do grupo; 3. declaração autenticada do número das ações ou cotas de que a sociedade de comando e as demais sociedades integrantes do grupo são titulares em cada sociedade filiada, ou exemplar de acordo de acionistas que assegurem o controle de sociedade filiada. Designação, registro e publicidade O grupo de sociedades terá designação da qual constarão as palavras “grupo de sociedades” ou somente o termo “grupo”, considerando-se constituído a partir da data do arquivamento, no registro do comércio da sede da sociedade de comando, de documentos como: capa de processo/requerimento; convenção de constituição do grupo; atas das assembleias gerais, ou instrumentos de alteração contratual, de todas as sociedades que tiverem aprovado a constituição do grupo; declaração autenticada do número de ações ou quotas de que a sociedade de comando e as demais sociedades integrantes do grupo são titulares em cada sociedade filiada, ou exemplar de acordo de acionistas que assegura o controle da sociedade filiada; comprovante de pagamento do preço dos serviços – (recebimento estadual). Quando as sociedades filiadas tiverem sede em locais diferentes, devem ser arquivadas no Registro do Comércio das respectivas sedes, as atas de assembleias ou alterações contratuais que tiverem aprovado a convenção, sem prejuízo do arquivamento da constituição do grupo na sede da sociedade de comando. A partir da data do arquivamento, a sociedade de comando e as filiadas passarão a usar as respectivas denominações acrescidas da designação do grupo. Suponha a seguinte situação: as empresas Anta Gorda Ltda., Cia Saturno e Cia Girafa Nanica decidiram constituir um grupo com a seguinte designação: Grupo Incremento da Terra. Então, a partir do arquivamento da convenção, as sociedades passarão a usar as seguintes denominações: 19 A sabedoria é a arma invencível de um povo Anta Gorda Ltda. – Grupo Incremento da Terra Cia Saturno – Grupo Incremento da Terra Cia Girafa Nanica – Grupo Incremento da Terra É importante frisar que as certidões de arquivamento no Registro do Comércio devem ser publicadas inclusive as alterações da convenção do grupo, nos termos do artigo 135 da Lei nº 6.404/76. Administração do grupo A lei também estabelece as normas de administração do grupo, podendo criar órgãos de deliberação colegiada e cargos de direção geral, bem como as normas de administração das sociedades e a remuneração. A convenção deve definir a estrutura administrativa do grupo de sociedades, podendo criar órgãos de deliberação e cargos de direção geral. A representação das sociedades perante terceiros, caberá exclusivamente aos administradores de cada sociedade, de acordo com os respectivos estatutos ou contratos sociais, salvo disposição expressa na convenção do grupo. Aos administradores das sociedades filiadas, compete, sem prejuízo de suas atribuições, poderes e responsabilidades, de acordo com os respectivos contratos ou estatutos sociais, observar a orientação geral estabelecida e as instruções expedidas pelos administradores do grupo que não importem violação da lei ou da convenção do grupo. Remuneração dos administradores Os administradores do grupo de sociedades e os investidos em cargos de mais de uma sociedade poderão ter sua remuneração rateada entre as diversas sociedades, e a gratificação dos administradores, se houver, poderá ser fixada dentro dos limites do parágrafo primeiro do art. 152 da Lei nº 6.404/76, que determina as condições de remuneração e de dividendos. Resumidamente, afirma-se que a assembleia geral deve fixar o montante global ou individual da remuneração dos administradores, inclusive benefícios de qualquer natureza e verbas de representação, tendo em conta sua responsabilidade, o tempo dedicado as suas funções, sua competência e reputação profissional e o valor de seus serviços no mercado. Por outro lado, o estatuto que fixar o dividendo obrigatório em 25% (vinte e cinco pontos percentuais) ou mais do lucro líquido, pode atribuir aos administradores, participação no lucro da companhia, desde que o seu total não ultrapasse a remuneração anual dos administradores, nem um décimo dos lucros, prevalecendo o limite que for menor. Os administradores somente farão jus à participação nos lucros do exercício social em relação ao qual for atribuído aos sócios o dividendo obrigatório previsto no art. 202 da Lei nº 6.404/76. Demonstrações contábeis O grupo de sociedades deve publicar, além das demonstrações contábeis, referentes a cada uma das sociedades integrantes, demonstrações consolidadas, compreendendo todas as sociedades do grupo, elaboradas de acordo com os preceitos do art. 250 de Lei nº 6.404/76, que diz que das demonstrações contábeis consolidadas serão excluídas: as participações de uma sociedade em outra; os saldos de quaisquer contas entre as sociedades; as parcelas dos resultados do exercício, dos lucros ou prejuízos acumulados e do custo de estoques ou do ativo permanente que corresponderem a resultados, ainda não realizados, de negócios entre sociedades. As demonstrações consolidadas do grupo serão publicadas juntamente com as da sociedade de comando, que deverá publicar tais demonstrações na forma da lei, ainda que não tenha a forma de companhia. 20 A sabedoria é a arma invencível de um povo A distribuição de custos, receitas e resultados e as compensações entre sociedades, previstas na convenção do grupo de sociedades, deverão ser determinadas e registradas no balanço social das sociedades interessadas. A lei regula as demonstrações financeiras do grupo, e as normas sobre os prejuízos resultantes de atos contrários à convenção e do conselho fiscal das filiadas. O funcionamento do conselho fiscal da companhia filiada a grupo, quando não for permanente, poderá ser pedido por acionistas não controladores que representem, no mínimo, 5% das ações ordinárias, ou das ações preferenciais sem direito a voto. TIPOS DE GRUPOS Considerando-se o nível de legalidade e papel dos grupos de sociedades, pode-se classificá-los em grupos formais e informais. Grupos formais As sociedades podem-se organizar mediante processos de incorporações, fusões ou cisões, ou de outras maneiras. Esses processos podem ser simples ou complexos e envolver valores e operações de pequena, média ou grande monta, e para tal fim devem ser considerados: a) os aspectos operacionais e financeiros da sociedade resultante, inclusive a necessidade de injeção de novos recursos por parte dos proprietários; b) os reflexos tributários das operações do ponto de vista da sociedade e dos proprietários; c) outros interesses por parteda sociedade e dosseus proprietários. Na opção pelos processos de reorganização devem ainda, ser levados em conta os seguintes fatores: a) a negociação entre as diversas partes envolvidas nos processos; b) a identificação das diversas dificuldades e alternativas envolvidas; c) as operações e desenvolvimento da nova organização, ou seja, posteriores operações de fusão, cisão ou incorporação; d) a definição quanto à melhor ou mais adequada solução. Grupos formais são aqueles legalmente reconhecidos pela autoridade, ou seja, tem amparo legal, por exemplo, os grupos de fato, os grupos de direito, os consórcios etc. Esses grupos se distribuem nas seguintes categorias: a) agrupamento societário sem a perda da autonomia individual de cada sociedade: grupos de sociedade de fato; grupos de sociedade de direito; consórcios; b) agrupamento societário com a perda da autonomia individual de cada sociedade: fusão; incorporação; c) desagrupamento societário: cisão; d) processos de reorganização societária: transformação. Agrupamento societário com a perda da autonomia individual de cada sociedade O processo de reorganização societária que envolve as operações de incorporação, fusão ou cisão é regido pelos arts. 223 a 234 da Lei nº 6.404/76. Ressalta-se que, embora a lei regente das operações que envolvem a reorganização societária seja a das sociedades por ações, tais procedimentos não são vedados a outros tipos de empresas, podendo-se beneficiar do processo de reorganização qualquer empreendimento empresarial, independentemente do tipo societário adotado. As operações de concentração e desconcentração de pessoas jurídicas são igualmente importantes, tanto para as sociedades por ações quanto para as sociedades constituídas por outra forma jurídica. 21 A sabedoria é a arma invencível de um povo Competência e processo - (art. 223 e parágrafos) A competência e processo dizem respeito aos aspectos legais e societários. A incorporação, fusão ou cisão podem ser operadas entre sociedades de tipos iguais ou diferentes e deverão ser deliberadas na forma prevista para a alteração dos respectivos estatutos ou contratos sociais. § 1º - Nas operações em que houver criação de sociedades, serão observadas as normas reguladoras da constituição das sociedades do seu tipo. § 2º - Os sócios das sociedades incorporadas, fundidas ou cindidas receberão, diretamente da companhia emissora, as ações que lhes couberem. § 3º - Se a incorporação, fusão ou cisão envolverem companhia aberta, as sociedades que a sucederem serão também abertas, devendo obter o respectivo registro e, se for o caso, promover a admissão de negociação das novas ações no mercado secundário, no prazo máximo de 120 dias, contados da data da assembleia geral que aprovou a operação, observando as normas pertinentes baixadas pela CVM. Protocolo - (art. 224 e parágrafo único) O protocolo é basicamente uma proposta ou contrato firmado pelos órgãos da administração ou pelos sócios das empresas que integrarão o processo de incorporação, fusão ou cisão, devendo ser, posteriormente, objeto de deliberação, em assembleia, pelos sócios dessas mesmas sociedades. As condições da incorporação, fusão ou cisão com incorporação em sociedade existente constarão de protocolo firmado pelos órgãos de administração ou sócios das sociedades interessadas, que incluirá: I) o número, espécie e classe das ações que serão atribuídas em substituição dos direitos de sócios que se extinguirão e os critérios utilizados para determinar as relações de substituição; II) os elementos ativos e passivos que formarão cada parcela do patrimônio, no caso de cisão; III) os critérios de avaliação do patrimônio líquido, a data a que será referida a avaliação e o tratamento das variações patrimoniais posteriores; IV) a solução a ser adotada quanto às ações ou quotas do capital de uma das sociedades possuídas por outra; V) o valor do capital das sociedades a serem criadas ou do aumento ou redução do capital das sociedades que forem parte na operação; VI) o projeto ou projetos de estatuto, ou de alterações estatutárias, que deverão ser aprovados para efetivar a operação; VII) todas as demais condições a que estiver sujeito a operação. A Lei nº 6.404/76, no seu artigo 226, exige laudo pericial, para avaliação dos ativos das sociedades envolvidas no processo de reorganização. A sociedade que tiver patrimônio absorvido por outra deverá levantar balanço específico para esse fim, no qual os bens e direitos serão avaliados pelo valor contábil ou de mercado, nos termos do art. 8º dessa lei, na mesma data e com os mesmos critérios de avaliação para todas as empresas envolvidas no processo. Justificação - (art. 225) A justificação ou justificativa vem a ser a exposição de motivos e finalidades da incorporação, fusão ou cisão, que devem ser submetidas à deliberação da assembleia geral. Também se evidencia o interesse das sociedades no processo. Art. 225 - As operações de incorporação, fusão e cisão serão submetidas à deliberação da assembleia geral das companhias interessadas mediante justificação, na qual serão expostos: I) os motivos ou fins da operação e o interesse da companhia na sua realização; 22 A sabedoria é a arma invencível de um povo II) as ações que os acionistas preferenciais receberão e as razões para a modificação dos seus direitos, se prevista; III) a composição, após a operação, segundo espécies e classes das ações, do capital das companhias que deverão emitir ações em substituição, às que se deverão extinguir; IV) o valor de reembolso das ações a que terão direito os acionistas dissidentes. Formação do capital - (art. 226 e parágrafos) Pelo que está disposto no art. 226, denota-se que a participação em processo de reorganização de sociedades, quando há passivo a descoberto, é vedada. As operações de incorporação, fusão e cisão somente poderão ser efetivadas nas condições aprovadas se os peritos nomeados determinarem que o valor do patrimônio ou patrimônios líquidos a serem vertidos para a formação de capital social, é ao menos, igual ao montante do capital a realizar. As ações ou quotas do capital da sociedade a ser incorporada que forem de propriedade da companhia incorporadora poderão conforme dispuser o protocolo de incorporação, ser extintas, ou substituídas por ações em tesouraria da incorporadora, até o limite dos lucros acumulados e reservas, exceto a legal. Direito de retirada no processo de reorganização O direito de retirada de sócio de companhia está previsto no art. 137 da Lei nº 6.404/76. Entre os motivos arrolados naquele dispositivo constam a incorporação e a fusão de sociedades. Para o sócio dissidente, o direito de retirada começa a fluir a partir da publicação da ata da assembleia geral que aprovar o protocolo. Entretanto, o pagamento só será efetivado caso a operação seja de fato concretizada. A deliberação sobe a fusão da companhia ou sua incorporação em outra está sujeita à aprovação de sócios que representem metade, no mínimo, das ações com direito a voto. Pode o estatuto estabelecer quorum maior quando não tiver ações negociadas em bolsa ou no mercado de balcão. O sócio dissidente tem direito de retirar-se da companhia, mediante reembolso do valor das ações. Esse reembolso deve ser reclamado à companhia no prazo de trinta dias contados da publicação da ata da assembleia geral. Art. 230 – Nos casos de incorporação ou fusão, o prazo para o exercício do direito de retirada, previsto no art. 137, inciso II, será contado a partir da publicação da ata que aprovar o protocolo ou justificação, mas o pagamento do preço de reembolso somente será devido se a operação
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