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Capítulo 2 do Livro Introdução ao sensoriamento remoto, p. 41-55, 2009 (ROSA, R.) Comportamento espectral de alvos O comportamento espectral de um alvo pode ser definido como sendo a medida da reflectância deste alvo ao longo do espectro eletromagnético. Por exemplo, a FIG. 13 mostra três alvos: água, solo e vegetação, que em uma faixa do espectro eletromagnético compreendida entre 0,5 a 2,5 µm, apresentam diferentes formas e intensidade de reflectância. Graças a isso, podemos discriminar e identificar os diferentes alvos existentes na natureza. FIGURA 13 – Reflectância da água, vegetação e solo Fonte: SWAIN & DAVIS, 1978. 2.1 – Processos responsáveis pelas bandas de absorção Para que se possa compreender melhor a absorção e a emissão de energia eletromagnética deve-se partir da estrutura atômica. Em um átomo, os elétrons assumem características vibratórias específicas, cada qual correspondendo a um estado de energia muito bem definido. O mais baixo deles constitui o estado fundamental; os demais são ditos excitados. Quanto maior for o grau de excitação de um elétron, mais afastada do núcleo estará a sua esfera vibratória e maior sua energia. A passagem de um elétron excitado de um nível de energia para o imediatamente inferior só acontece se houver emissão de uma pequena quantidade de radiação, chamada quantum. A quantidade de energia emitida é diretamente proporcional à freqüência da radiação produzida durante essa mudança de nível. De modo inteiramente análogo, a passagem do elétron de um estado de excitação para outro imediatamente superior implica a absorção da mesma quantidade de radiação consumida no processo inverso. A absorção e a emissão de radiação não estão apenas associadas à transição de estados de energia dos elétrons, mas são também definidos outros níveis energéticos relacionados com a vibração e a rotação dos átomos que integram as moléculas. De acordo com a teoria quântica, cada substância é capaz de absorver e de emitir radiação em apenas determinados comprimentos de onda, dependendo do estado de agregação molecular em que se encontra. Os elétrons de um material podem ser caracterizados pela sua menor energia possível (estado fundamental), ou por uma série de níveis de energia mais elevados (estado excitado), que são alcançados, por exemplo, quando da incidência da radiação eletromagnética. Esta passagem do estado fundamental para o estado excitado só é possível porque ocorre uma absorção pelos elétrons da energia incidente. No espectro eletromagnético, esta absorção de energia é caracterizada por uma diminuição relativa na porcentagem de reflectância em certas faixas de comprimentos de onda, denominadas bandas de absorção. A intensidade, forma e localização destas bandas de absorção dependem de cada material e são resultados de três processos diferentes: rotacional, vibracional e eletrônico. O processo rotacional ocorre em nível molecular e é responsável pelas bandas de absorção localizadas na faixa infravermelho distante e microondas. O processo vibracional também ocorre em nível molecular, porém é responsável pelas bandas de absorção entre 1,0 e 2,5 µm. Já o processo eletrônico ocorre em nível atômico e está subdividido em processo eletrônico do tipo Transferência de Carga, responsável pelas bandas de absorção que ocorrem em comprimentos de onda inferiores a 0,4 µm, principalmente próximo a região ultravioleta e azul. O processo eletrônico, devido ao Efeito do Campo Cristalino, é responsável pelas bandas de absorção situadas na porção do espectro visível e infravermelho próximo. As feições vibracionais são muito mais incisivas, marcantes e estreitas, enquanto que as eletrônicas são mais amplas e suaves. 2.2 – Comportamento espectral de minerais e rochas Nos minerais e rochas os elementos e substâncias mais importantes que determinam as feições diagnósticas na faixa do espectro refletivo (0,4 a 2,5 µm) são íons ferroso e férrico, água e hidroxila. Os elementos químicos mais freqüentes como o silício, alumínio e magnésio possuem interesse secundário. Na faixa do espectro refletivo mais utilizada em sensoriamento remoto (0,4 a 2,5 µm) os processos responsáveis pelas bandas de absorção são os eletrônicos e os vibracionais. Podemos destacar as bandas de absorção relacionadas ao íon Fe++ em 1,0 µm, às devidas ao íon férrico em torno de 0,7 a 0,8 µm, e aos íons Fe+++, em torno de 0,44 µm. Todas estas bandas de absorção são associadas ao Efeito do Campo Cristalino. As absorções que ocorrem na região ultravioleta e azul são associadas aos processos do tipo Transferência de Carga. As absorções correspondentes aos processos vibracionais produzem feições em torno de 1,4 µm (presença de H2O e OH), 1,9 µm e 2,4 µm (presença de H2O). As rochas ácidas (<66% de sílica) apresentam elevada porcentagem de minerais félsicos (quartzo e feldspato), o que provoca uma elevada reflectância e uma baixa absorção da energia incidente (pequena percentagem de minerais opacos). As rochas intermediárias (66 – 52% de sílica) apresentam reflectância um pouco inferior às rochas ácidas, o que é explicado pela maior porcentagem de minerais máficos (piroxênios, anfibólio, olivina e biotita), principalmente a magnetita. Também a porcentagem de magnetita explica a menor reflectância das rochas básicas (52 – 45% de sílica) e ultrabásicas (<45% de sílica) em relação às demais rochas. Quanto às rochas sedimentares e metamórficas, as mesmas considerações são válidas. Entretanto, deve-se considerar também um outro fator, o da presença de carbonatos, com bandas de absorção em torno de 1,9; 2,0; 2,16; 2,35 e 2,55 µm. Além disto, a presença de materiais carbonosos reduzem o contraste das bandas de absorção neste tipo de rocha. De uma maneira geral, pode-se notar que os valores de reflectância em rochas aumentam com o comprimento de onda (FIG. 14 e 15). FIGURA 14 – Medidas espectrais de laboratório Fonte: HUNT & ASHLEY, 1979. FIGURA 15 – Medidas espectrais de laboratório Fonte: HUNT ET AL., 1979. 2.3 – Comportamento espectral dos solos O comportamento espectral dos solos é função principalmente da porcentagem de matéria orgânica, granulometria, composição mineralógica, umidade e capacidade de troca catiônica (CTC). O aumento do conteúdo de matéria orgânica provoca uma diminuição da resposta espectral. No que se refere à granulometria, com o aumento da concentração de minerais félsicos, a diminuição do tamanho das partículas provoca um aumento nos valores de reflectância e a atenuação das bandas de absorção. Ocorre o contrário à medida que se aumenta a concentração de minerais máficos (FIG. 16). FIGURA 16 – Reflectância espectral de 3 tipos de solos Com relação à umidade e a capacidade de troca catiônica, os solos úmidos possuem reflectância mais baixa que os solos secos na faixa do espectro refletivo o mesmo ocorrendo com o aumento da capacidade de troca catiônica (FIG. 17). FIGURA 17 – Reflectância espectral de solo arenoso com diferentes teores de umidade Fonte: HOFFER & JOHANNSEN, 1969. 2.4 – Comportamento espectral da vegetação O comportamento espectral típico de uma folha verde no intervalo espectral de 0,4 a 2,5 µm é mostrado nas FIG. 18, 19 e 20. Na região do visível a reflectância é relativamente baixa, decorrente da forte absorção da radiação dos pigmentos do grupo da clorofila. Existem duas bandas de absorção preeminentes, centradas aproximadamente em 0,48 µm, devido à presença de carotenos, e 0,68 µm, relacionada ao processo de fotossíntese. Destaca-se ainda um pico de reflectância em torno de 0,5 µm, correspondente à região verde do espectro visível, o que explica a coloração verde das plantas. FIGURA 18 – Reflectância deuma folha verde Fonte: BOWKER ET AL., 1985. Na faixa compreendida entre 0,7 a 1,3 µm a reflectância passa para valores próximos a 40%. Este aumento da reflectância está relacionado à estrutura interna celular da folha. Esta alta reflectância é importante para que a folha mantenha o equilíbrio no balanço de energia e não se superaqueça, evitando assim a destruição da clorofila. O decréscimo gradual dos valores de reflectância para comprimentos de onda superiores a 1,3 µm é devido à presença da água, com pico de absorção próximo a 1,4 e 1,9 µm. Todas estas considerações referem-se a uma única folha verde isolada e sadia. Embora estes dados de uma única folha sejam fundamentais, o seu comportamento espectral não pode ser aplicado diretamente para uma planta inteira ou para uma cobertura vegetal. Percentualmente, a reflectância de uma cobertura vegetal é consideravelmente menor do que a de uma folha verde isolada, devido a diversos fatores como a influência de superfícies desfolhadas, mudanças no ângulo de iluminação e orientação das folhas. Basicamente, a medida da reflectância espectral da vegetação depende de uma série de fatores como as condições atmosféricas, espécie, solo (granulometria, água, nutrientes), índice de área foliar (cobertura da vegetação por unidade de área), estado fenológico (variação sazonal), biomassa (densidade total de vegetação), folha (forma, posição, água, pigmentação, estrutura interna etc.), geometria de medida, tipo de sistema sensor e cobertura da copa. FIGURA 19 – Reflectância da soja e do milho com o mesmo conteúdo de umidade Fonte: HOFFER & JOHANNSEN, 1969. FIGURA 20 – Efeito do conteúdo de umidade na reflectância de folhas de milho Fonte: HOFFER & JOHANNSEN, 1969. Problemas de vegetação como, por exemplo, chuva ácida, geadas e estresse-hídrico devem ser monitorados com imagens tomadas respectivamente no visível, infravermelho próximo e infravermelho médio. A discriminação e/ou separação de diferentes espécies e variedades de vegetação está condicionada ao seu comportamento espectral. 2.5 – Comportamento espectral da água De um modo geral, a reflectância da água limpa diminui com o aumento dos comprimentos de onda, ou seja, na faixa mais utilizada em sensoriamento remoto verificam-se as maiores reflectâncias na região do visível, mais especificamente nos comprimentos de onda do azul e verde, decrescendo gradualmente na direção do infravermelho. À medida que acrescentamos sedimentos na água o pico de reflectância se desloca na direção dos maiores comprimentos de onda. Além do mais, a reflectância é maior do que a da água limpa. 2.6 – Inércia termal A inércia termal ( I ) é definida como a capacidade que um material possui em resistir a mudanças de temperatura (FIG. 21). É um parâmetro que depende da condutividade térmica (k), densidade (d) e do calor específico (c), podendo ser definida pela seguinte equação: )( cdkI = Condutividade térmica é a medida da velocidade com que o calor passa através de um material. Pode ser expressa, por exemplo, em cal/cm s oC. As rochas e os solos são maus condutores de calor. Além do tipo de material, a condutividade térmica depende também do tamanho das partículas e da temperatura. A densidade é uma relação entre a massa e o volume, e pode ser medida em g/cm3. O calor específico de uma substância é a razão entre a quantidade de calor necessária para aumentar em um grau (ºC) a temperatura de uma determinada massa de uma substância e a quantidade de calor necessária para aumentar, também em um grau (ºC), a mesma massa de água a 15ºC. O calor específico é dado em Cal/g ºC. Das três propriedades que determinam a inércia termal a densidade é a mais importante. Normalmente a inércia termal é inversamente proporcional à densidade. A inércia termal, calculada pela equação anterior, pode também ser obtida ou estimada pela diferença de temperatura de radiação, obtida através de duas imagens infravermelha termal (diurna e noturna). Esta técnica apresenta vantagem de não utilizar sofisticados equipamentos de laboratório, além dos resultados corresponderem à área representativa de cada material na imagem. TABELA 2 – Propriedades termais de alguns materiais e da água a 20 ºC Material K d c I Basalto 0,0050 2,8 0,20 0,053 Granito 0,0065 2,6 0,16 0,052 Quartzito 0,0120 2,7 0,17 0,074 Quartzo 0,0120 2,5 0,19 0,054 Solo arenoso 0,0014 1,8 0,24 0,024 Solo argiloso 0,0030 1,7 0,35 0,042 Água 0,0013 1,0 1,01 0,037 Grama 0,0021 2,6 0,16 0,029 FIGURA 21 – Curvas de radiação emitidas por diferentes materiais
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