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APLICAÇÃO DE MÉTODOS POTENCIAIS NA INTERPRETAÇÃO EXPLORATÓRIA Marco Polo Pereira Buonora Osni Bastos de Paula PETROBRAS/UN-EXP/ST/MSP Rio de Janeiro – RJ Junho/2002 Publicação Interna Proibida a reprodução total ou parcial sem a prévia autorização por escrito da PETROBRAS 2 ÍNDICE I – GRAVIMETRIA - PRINCÍPIOS TEÓRICOS.............................................. 03 1 - Princípios Básicos e Unidades.................................................. 03 2 - Gravidade da Terra................................................................................... 04 2.1 - Força Centrífuga da Terra................................................................ 04 2.2 - Atração e Força Centrífuga na Terra Esférica.................................. 05 2.3 - Variação da Gravidade com a Latitude............................................ 06 2.4 - O Geóide.......................................................................................... 06 2.5 - O Efeito Eötvös................................................................................ 07 3 - Instrumentos de Medida da Gravidade.................................................... 07 3.1 - Medidas Absolutas.......................................................................... 07 3.1.1 - Pêndulos Simples................................................................... 07 3.1.2 - Instrumentos de Queda Livre.................................................. 08 3.2 – Medidas Relativas.......................................................................... 08 4 - Aquisição e Redução dos Dados Gravimétricos...................................... 12 4.1 - Levantamentos Terrestres............................................................... 12 4.2 - Levantamentos Marítimos............................................................... 13 4.3 - Aerogravimetria............................................................................... 14 4.4 - Redução dos Dados Gravimétricos................................................. 14 5 - Interpretação dos Dados Gravimétricos.................................................. 16 5.1 - Método Direto.................................................................................. 16 5.1.1 - Corpos Tridimensionais.......................................................... 16 5.1.2 - Corpos Bidimensionais........................................................... 19 5.2 - Método Inverso............................................................................... 21 6 – Referências Bibliográficas...................................................................... 22 II – MAGNETOMETRIA – PRINCÍPIOS TEÓRICOS.................................... 23 1 – Princípios Básicos e Unidades................................................................. 23 1.1 - Indução Magnética........................................................................... 23 1.2 - Potencial e Momento Magnéticos de um Dipolo.............................. 24 1.3 -.Magnetização e intensidade do campo magnético........................... 26 1.4 - Suscetibilidade e Permeabilidade Magnéticas.................................. 28 1.5 - Tipos de Magnetização..................................................................... 28 1.6 - A Relação de Poisson....................................................................... 30 2 - O Campo Geomagnético........................................................................... 31 2.1 - Fontes Externas................................................................................ 31 2.2 - Fontes Internas................................................................................. 31 3 - Campo Magnético Principal da Terra (IGRF) ........................................... 31 4 – Instrumentos de Medida do Campo Magnético........................................ 33 4.1 - Magnetômetro de Precessão Protônica............................................ 33 4.2 - Magnetômetro de Absorção Ótica.................................................... 34 4.3 - Anomalia Magnética do Campo Total .............................................. 34 5 - Interpretação dos Dados Magnéticos. Método Direto............................... 35 5.1 - Modelos Tridimensionais.................................................................. 35 5.1.1 - Dipolos Magnéticos.................................................................. 35 5.1.2 - Conjunto de Prismas................................................................ 35 5.1.3 - Empilhamento de Lâminas....................................................... 35 5.1.4 - Aproximação por Poliedros...................................................... 35 5.2 - Modelos Bidimensionais................................................................... 36 5.3 - Efeitos dos Parâmetros Magnéticos e dos Corpos na Forma da Anomalia Magnética.................................................................. 36 1 5.3.1 - Efeito da Profundidade nas Anomalias Magnéticas................. 36 5.3.2 - Efeito da Espessura nas Anomalias Magnéticas...................... 37 5.3.3 - Efeitos da Atitude do Campo Magnético................................... 38 5.3.4 - Efeitos da Largura do Corpo com a Atitude Magnética............ 38 5.3.5 - Inclinação do Campo Magnético em Estruturas 2D................. 39 5.3.5.1 - Contato Geológico............................................................ 39 5.3.5.2 – Diques.............................................................................. 40 6 - Interpretação dos Dados Magnéticos. Método Inverso............................. 40 6.1 - O problema da Inversão Linear......................................................... 40 6.2 - O Problema da Inversão Não-linear.................................................. 41 6.3 - Profundidade da Fonte Magnética.................................................... 42 6.4 - O Método de Eüler............................................................................ 42 6.5 - A Deconvolução de Werner.............................................................. 44 6.6 - A Amplitude do Sinal Analítico.......................................................... 44 7 - Representação Espectral dos Campos Magnéticos e Gravimétricos....... 45 7.1 – Realce das Anomalias Magnéticas e Gravimétricas........................ 47 7.1.1 - Separação Regional/Residual................................................. 48 7.1.1.1 - Método Visual................................................................... 48 7.1.1.2 - Método dos Ajustes Polinomiais....................................... 49 7.1.1.3 - Método das Derivadas Espaciais e Continuação dos Campos Gravimétricos/Magnéticos................................................ 49 8 - O Espectro de Potência de Anomalias Magnéticas e Estimativas das Profundidades das Fontes. ...................................................................... 52 9 – Referências Bibliográficas........................................................................ 54 III – GRAVIMETRIA DE SATÉLITE............................................................... 56 IV – GLOSSÁRIO DE MÉTODOS POTENCIAIS........................................... 57 V – GRAVIMETRIA E MAGNETOMETRIA – PRÁTICA............................... 65 1 - Programas utilizados em métodos potenciais........................................ 65 2 - Módulos do Oásis Montaj....................................................................... 66 3 - Oásis |Montaj – criando um workspace.................................................. 67 4 - Criando um GDB (geosoft data bank).....................................................68 5 - Transformando coordenadas.................................................................. 69 6 - Filtrando as linhas do GDB – X utility...................................................... 70 7 - Filtrando as linhas do GDB – FFT-1D..................................................... 71 8 - Gerando um mapa base.......................................................................... 72 9 - Gerando um grid...................................................................................... 73 10 - Filtrando um grid – domínio do espaço................................................... 74 11 - Filtrando um grid – domínio da freqüência – MAGMAP.......................... 75 12 - Interpretando um mapa........................................................................... 76 13 - Programas LCT – ambiente de worstation.............................................. 77 14 - Carregando um grid................................................................................ 78 15 - Convertendo grides................................................................................. 79 16 - Filtrando os dados – GRDFFT................................................................. 80 17 - Filtrando os dados –tipos de filtros no GRDFFT..................................... 81 18 - Fazendo um link com projetos do seiswork – mapa base...................... 82 19 - Fazendo um link com projetos do seiswork – linha específica............... 83 20 - Carregando uma linha e horizontes........................................................ 84 21 - Construindo o modelo inicial.................................................................. 85 22 - Iniciando a modelagem........................................................................... 86 23 - Modelagem 3D – 3DMOD....................................................................... 87 24 - Estimativas de fontes – MAGPROBE.... ................................................ 88 2 I – GRAVIMETRIA 1 – Princípios Básicos e Unidades A lei da atração universal da gravidade, concebida por Newton para explicar os movimentos dos planetas, os quais foram estudados por Kepler, declara que se m1 e m2 são duas massas separadas por uma distância r, então a magnitude F, da força F entre elas é: F = G m1. m2/ r2 (1.1) G=6.672 X 10-8 cm3g-1s-2, é a constante universal de gravidade. Se m2 é a massa da terra, então, pela segunda lei de Newton, a magnitude da força agindo em m1 é: F = gm1 Comparando (1.1) e (1.2), temos: g = G m2/ r2 A aceleração da Terra pode massa, de forma que se usa norma vez de força de gravidade. A unidade de aceleração homenagem a Galileo, onde 1 Ga gravidade na superfície da Terra aproximadamente 1/106 da gravida unidade gravimétrica (gravity unity, g A componente vertical gz de Figura 1.1, é: o r α α s dm Figura 1.1 – Representação da atração grav gz = G (dm/r2)c A aceleração da massa total M, env (gz)S= G s ∫ (dm/r2)cos (1.2) (1.3) ser considerada como a força por unidade de lmente o termo aceleração de gravidade em usada em gravimetria é o miliGal, em l = 1cm/s2. Como a aceleração normal da é cerca de 980 Gal, então 1 mGal é de normal, i.e., uma parte em um milhão! A u) = 0.1 mGal. vida à massa elementar dm no ponto 0 da z itacional da massa elementar dm no ponto o. os(α) (1.4) olta pela superfície s é: (α) (1.5) 3 A análise dos campos de força, tais como o gravitacional, magnético e elétrico, p.ex., é simplificada se usarmos os seus respectivos potenciais (escalar), evitando assim a manipulação vetorial. Considerando a Figura 1.1, os potenciais gravitacionais, dU e U, das massas dm e M são, respectivamente: dU = G dm/r (1.6) U = G M/r (1.7) Observe que a aceleração da gravidade (força por unidade de massa) é a derivada do potencial em relação a z, isto é; gz = - d dz U. Qualquer superfície onde o potencial é constante é denominada de superfície equipotencial. A superfície do mar, p.ex., é uma superfície equipotencial e, apesar do valor da gravidade da Terra aumentar de cerca de 0.5% entre o equador e o pólo, ao longo da superfície do mar, esta continua sendo uma superfície equipotencial. É fácil compreender que, dado o potencial gravitacional de uma distribuição de massa qualquer, em um ponto qualquer fora de sua massa, a sua atração gravitacional em qualquer direção poderá ser obtida, bastando para isto, derivar o potencial na direção desejada. 2 – Gravidade da Terra Todas as medidas de gravidade são efetuadas no campo gravitacional da Terra, portanto, o seu conhecimento é vital a fim de que tais medidas possam ser utilizadas para fins da aplicação geológica. 2.1 – Força Centrífuga da Terra A rotação da Terra em torno de seu eixo impõe uma aceleração não zero no equador e zero nos pólos; assim, considerando-se sua velocidade angular de aproximadamente 7.3 X 10-5 rad s-1 e, se a Terra fosse perfeitamente esférica, a força centrífuga em um ponto de sua superfície, de latitude φ será: Figura 2.1 – Força centrífuga devida à rotação da Terra (segundo Tsuboi, 1983) f=ω2Rcos φ (1.8) onde: f=ω2Rcos φ ≅ 3.4 dinas ( força /grama = 3.4 Gal). 4 De acordo com as medições de gravidade nos pólos e equador: gz nos Pólos = 983.218 Gal gz no Equador = 978.032 Gal; cuja diferença de 5.2 Gal, maior 3.4, já demonstrava que a Terra não é esférica. Os raios equatorial e polar são, respectivamente, Re ≈ 6378 km e Rp ≈ 6357 km. 2.2 – Atração e Força Centrífuga na Terra Esférica Vejamos a relação entre as forças centrífugas e gravitacionais da Terra em um ponto no equador, situado a uma altitude h. Assim, as respectivas forças por unidade de massa, são: fc = ω2 (R+h) (1.9) fa = G M/(R+h)2 (1.10) e estão representadas figura 2.2 abaixo. Igualando as duas expressões acima e substituindo os valores numéricos de R, G e M, encontramos H = 36000 km (Altura de todos satélites artificiais, Tsuboi, 1983). Figura 2.2 – Dependência da atração e força centrífuga com a altitude Supondo-se uma Terra esférica em rotação em torno do seu eixo vertical, podemos assumir que a força de gravidade em uma massa pontual na sua superfície é a soma vetorial da atração da massa da Terra e sua força centrífuga (Figura 2.3), onde a aceleração da gravidade, g, e as magnitudes das forças de atração F e centrífuga f estão assim relacionadas: 5 Figura 2.3 – Atração, Força Centrífuga e Gravidade Resultantes sobre uma Terra Esférica g2 = F2 + f2 – 2F.f.cos φ (1.11) 2.3 – Variação da Gravidade com a Latitude Substituindo os valores de F, f para uma Terra homogênea de massa M e raio R, teremos: g2=(GM/R2)2+(ω2R2cosφ)2–(2GM/R2)ω2R2cos2φ g2=(GM/R2 - ω2R2cosφ)2 ; g2= GM/R2 (1- ω2R2cos2φ/ GM/R2) (1.12) fazendo :GM/R2 =980 e ω2R2/ GM/R2 = 1/300, obtemos, g ≈ 980(1-0.0033cos2φ) = 977(1+0.0033) (1.13) A mudança de g com a latitude é mostrada na figura 2.4. As quantidades obtidas não correspondem à realidade devido à simplicidade do modelo, mas servem para fornecer um quadro da variação do g com a latitude. Figura 2.4 – Variação da gravidade com a latitude em uma Terra simplificada (segundo Tsuboi, 1983) 2.4 – O Geóide Fica claro que, se a Terra fosse uma esfera perfeita, então a sua atração g não estaria ortogonal à sua superfície, então, ela deverá ter uma forma, tal que, em qualquer ponto, o g seja normal a sua superfície. Tal forma, se constituindo 6 numa superfície equipotencial, é denominada de Geóide, i.e., aquela superfície que coincide com a superfície média dos mares. A Figura 2.5 ilustra o conceito do geóide e do elipsóide de revolução. 2.5 – O Efeito Eötvös O físico húngaro, R.v. Eötvös (1847-1919, em Tsuboi, 1983) foi o primeiro a estudar a relação entre o movimento de um corpo na superfície da Terra com a aceleração da gravidade. Um corpo, movendo-se na superfície da Terra, no sentido de oeste para leste, experimenta um aumento em sua velocidade angular em relação ao eixo de rotação da Terra, de forma a promover um aumento na aceleração centrífuga total, Figura 2.5 – A) Ilustração entre as relações das superfícies geoidal, elipsoidal , oceânica e terrestre. B) Deformação provocada na superfície geoidal devida à presença de massa. com a conseqüente diminuição no valor de g. O movimento do corpo no sentido oposto, resulta em efeito contrário, i.e. o valor de g aumenta. 3 – Instrumentos de Medida da Gravidade As medidas da gravidade podem ser subdivididas em absolutas e relativas. Nas medidas absolutas, o valor de g é obtido no local sem referência à outra estação de medida. Em contrapartida, as medidas relativas requerem à ligação de uma medida a outra previamente conhecida. A literatura descreve inúmeros instrumentos de medidas absolutas; entretanto, para o interesse de aplicação geológica, usamos rotineiramente os instrumentos de medidas relativas, denominados de gravímetros, por serem mais rápidos e econômicos. Na prospecção petrolífera, a balança de torção foi usada para medir a variação espacial da gravidade e teve um sucesso relativo na descoberta de um domo de sal no Golfo do México. 3. 1 – Medidas Absolutas 3.1.1 – Pêndulo Simples A Figura 3.1 esquematiza o princípio de um pêndulo simplificado para a medida absoluta da atração gravitacional, g, em um determinado local. Se m for uma pequena massa suspensa num fio indeformável, de massa desprezível e 7 comprimento h, o valor de g é obtido por (3.1), onde I é o momento de inércia do sistema g=4π2I/T2mh (3.1) Figura 3.1 – Esquema do pêndulo simples 3.1.2 – Instrumento de Queda Livre O valor de g pode ser medido através da medição dos tempos de passagens de uma pequena massa, em queda livre, em três pontos separados à distâncias precisamente conhecidas, conforme esquema na Figura 3.2. A expressão 3.2 fornece o valor de g. z1 z1 = zo + v0t1 + g(t1)2/2 z2 z2 = zo + v0t2 + g(t2)2/2 z3 z3 = zo + v0t3 + g(t3)2/2 h z mg g =2{(z1 - z2 )(t1-t3)-( z1 – z3 )( t1-t2)} / {( t1-t2)( t1-t3)( t2-t3)} (3.2) Em vez de deixar a massa cair livremente, um outro dispositivo consiste em jogá-la para cima e observar os quatro tempos de passagens em dois níveis conhecidos. A exatidão da medida relatada neste experimento é de 0.006 mGal. Devemos considerar, contudo, a variação de g com a altitude, pois, em 1 m, g varia de ≈ 0.3 mGal. 3.2 – Medidas Relativas As medidas com pêndulos necessitam do conhecimento de seus períodos de oscilação, além do que, se uma exatidão de medida de 1 mGal é almejada na determinação de g, então o comprimento h do pêndulo tem que ser conhecido com uma exatidão de 1 mícron (10-3 mm), no caso em que h=1m. Para evitar tal problema, pode-se utilizar um pêndulo rígido tomando medidas em dois pontos 8 quaisquer, sendo um deles com g conhecido. Desta forma, diferenças de gravidade podem ser conhecidas. Além dos pêndulos rígidos, gravímetros de vários tipos foram desenvolvidos para a medida da diferença de gravidade entre pontos quaisquer. Dentre tais gravímetros, destacam-se os Worden e LaCoste & Romberg, sendo este último o atualmente mais amplamente utilizado. O princípio de funcionamento desses gravímetros é bastante simples, consistindo no balanceamento de uma massa suspensa em uma mola quando esta se alonga sob a ação da força de gravidade. A medição da variação do alongamento da mola em vários locais permite, então, a obtenção da variação de g naqueles pontos. Em termos dos meios utilizados para se medir os pequenos alongamentos nas molas dos gravímetros, estes podem ser subdivididos em dois tipos: 1) o tipo estável usa um sistema que fornece um alto grau de amplificação mecânica ou ótica, de forma que a mudança na posição de uma massa ou propriedade associada, resultante da mudança da gravidade, pode ser medida diretamente; 2) o tipo instável usa um sistema móvel no limiar do equilíbrio instável, de forma que pequenas variações na gravidade produzem deslocamentos relativamente altos no sistema. Normalmente, os gravímetros do tipo estável fornecem leituras que variam linearmente sob grande leque de variação. Por outro lado, os do tipo instável possuem um leque mais estreito de variação e têm resposta não-linear; portanto, neles, sua leitura é feita medindo-se a variação de uma força de anulação ou de balanceamento necessária para trazer o braço móvel do sistema para uma posição fixa de referência. Os instrumentos do tipo instável adquirem a sua sensibilidade à medida do g através do ajuste do sistema medidor à oscilações de períodos longos, conforme podemos esboçar no desenvolvimento abaixo. A mola, cuja constante elástica é k, é distendida de ∆d a partir da posição original d, sob a ação do peso Mg. Figura 3.3 – Oscilação de uma massa M sob a ação da gravidade, g (segundo Nettleton, 1976). O alongamento total, d, da mola, de sua posição em repouso, sem a massa M é: d = Mg/k (3.3) 9 cujo período de oscilação do sistema é: T = 2π kM / , onde M/k = T2/4π2, e substituindo T em (3.3) temos, d= (T2/4π2)g (3.4) Para pequenas variações, ∆g, da gravidade, a variação resultante na distensão da mola é: ∆d= (T2/4π2)∆g (3.5) ou, ∆d/∆g = T2/4π2 (3.6) Dividindo (3.5) por (3.4) temos a relação: ∆g/g=∆d/d (3.7) Notamos, portanto, que a sensibilidade do sistema, eq.(3.6), é proporcional ao quadrado do período de um sismômetro equivalente e está relacionada ao quanto pequeno podemos medir a distensão da mola. O desenvolvimento acima nos permite obter uma noção do que é necessário para se construir um gravímetro sensível, i.e.; suponhamos que ∆d pudesse ser medido em 0.001 mm e que precisássemos medir ∆g em 0.1 mGal, então, a razão ∆d/g = 0.1/106 = 10-7, da qual ∆d/d = 10-7, ou, d = 10 m! Tal consideração levou um antigo consultor em problemas de gravímetro a dizer que seria possível construir umgravímetro, mas ele teria que ter um comprimento acima de 10 m (Nettleton, 1976). O período de um sistema semelhante, com uma distensão de 10 m, pode assim ser calculado: T2 = 4π2d/g ≈ (40 x 1000)/980 ≈ 40 e T ≈ 6.3 s (3.8) Dispositivos óticos, mecânicos ou elétricos são empregados para as devidas amplificações dos deslocamentos, porém, gravímetros desses tipos foram superados pelos gravímetros instáveis, que fornecem alta sensibilidade sem a necessidade de fazer a mola muito longa. Exemplificando, mostraremos o caso de um gravímetro que aplica o princípio da mola de comprimento zero (zero length spring), pois, conforme descrição de LaCoste (1934,1935, em Nettleton, 1976), ele se comporta como um sismógrafo de período longo. Mostraremos, a seguir, o princípio de funcionamento do gravímetro do tipo LaCoste & Romberg. Esquematicamente, conforme indicado na figura 3.4, o sistema consiste de uma massa M na extremidade do braço rígido de comprimento d, aproximadamente horizontal, suspenso pela mola s construída condicionando-se as espiras a uma tensão prévia, de forma que seu comprimento equivalente seja zero quando livre de carga. 10 Figura 3.4 – Diagrama mostrando a relação da mola de comprimento zero com os demais elementos no gravímetro LaCoste & Romberg. A intensidade da tensão que atua numa mola espiral é F = K(s - so), onde K é a constante da mola, s seu comprimento sob a ação da carga e so o comprimento sem carga. Neste caso F = Ks. O torque gravitacional do peso Mg é: Tg = Mgsenθ = Mgdcosα (3.9) A reação da mola produz o torque : Ts = Ksr, mas: s=(bcosα)/senβ; r=asenβ; (3.10) então: Ts = K asenβ(bcosα)/senβ; (3.11) em equilíbrio: Tg - Ts = 0 ∴ Mgd =Kba, e a=(Md/Kb)g (3.11) Quando g varia, o equilíbrio já não se verifica, acarretando o deslocamento do braço b. Variando-se então a distância a, que pode ser feita através de um parafuso micrométrico situado na sua parte superior, o equilíbrio é restabelecido e o incremento ∆a será proporcional à ∆g. O controle termostático destes gravímetros é efetuado através de uma bateria de 12 V e o peso do equipamento, envolvendo o gravímetro, a caixa de transporte e a bateria, pesa 8,6 kg, enquanto que o carregador de bateria e o prato de nivelamento pesam 3,6 kg adicionais. O gravímetro La Coste & Romberg modelo geodésico (modelo G) tem um alcance de 7000 mGal com um único parafuso micrométrico, podendo portanto, medir diferenças de gravidade entre quaisquer pontos da superfície da terrestre, sem necessidade de reposicionamento do sistema de medida, e uma tabela de calibração cuidadosamente elaborada para cada gravímetro é fornecida pelo fabricante. Tal calibração é mais uma propriedade do parafuso micrométrico do 11 que da mola ou dos ligamentos, sendo portanto, altamente estável. O sistema móvel é compensado para variação de pressão, sendo também selado para evitar variações externas de pressão. Suas leituras são feitas rotineiramente a 0.01 mGal. O sensor é completamente desmagnetizado e acondicionado no interior de uma blindagem magnética. As leituras obtidas de um gravímetro, ao longo do dia e em uma estação fixa, variam continuamente. Tais variações são causadas pelo relaxamento contínuo das molas dos gravímetros, pelo sistema de compensação dos efeitos de temperatura que não são perfeitos e são denominadas de DRIFT ou DERIVA do gravímetro. Outra causa são as oscilações cíclicas diárias do valor da gravidade devidas às atrações do Sol e da Lua, denominadas marés terrestres. Tais efeitos, entretanto, podem ser corrigidos usando-se programas de computador disponíveis em várias publicações e instituições, como por exemplo, no Observatório Nacional do Rio de Janeiro. A figura abaixo mostra as curvas de gravidade das marés terrestres e aquela medida em um gravímetro. Figura 3.3– Curvas da variação da maré terrestre (Tidal) e da deriva (Drift) do gravímetro. O monitoramento para a correção da deriva é feito por repetição sistemática de leituras em estações reocupadas em intervalos de tempo que dependem da natureza do gravímetro. Os gravímetros tipo LaCoste & Romberg apresentam baixíssimo drift, permitindo que ele seja usado sem reocupação de estações não fossem os saltos de leitura passíveis de ocorrerem devido a choques mecânicos acidentais durante o transporte do instrumento no campo. 4 - Aquisição e Redução dos Dados Gravimétricos Os levantamentos gravimétricos podem ser efetuados diretamente na superfície terrestre, no fundo ou na superfície dos mares e, também, no ar (aéreos). 4.1 - Levantamentos Terrestres A escolha das estações em um levantamento gravimétrico depende de fatores tais como: a) facilidade de acesso b) padrão da malha de estações necessário para detalhar as feições geológicas de interesse 12 c)disponibilidade de elevações exatas nas estações a serem reocupadas O padrão de distribuição das estações, considerando-se as dificuldades de acesso, deve aproximar-se, o melhor possível, ao padrão de malha retangular. O espaçamento da malha condicionará a resolução da profundidade e da extensão lateral das feições geológicas a serem investigadas. O levantamento topográfico constitui o item mais oneroso no orçamento de uma equipe gravimétrica. As coordenadas plani-altimétricas devem ser conhecidas com grande exatidão (accuracy), pois, por exemplo, um erro de 30 cm na elevação de uma estação, implica em variações da gravidade da ordem de 0,09 mGal. Em latitudes intermediárias, um erro de 30 metros na latitude resulta em erro no valor de g da ordem de 0,03 mGal. Apesar de uma exatidão de 0,5 mGal ser adequada para a maior parte dos propósitos exploratórios, uma exatidão tão boa quanto 0,1 mGal pode ser alcançada nos levantamentos terrestres. 4.2 - Levantamentos Marítimos Historicamente, dois tipos de gravímetros têm sido utilizados em áreas cobertas por mar, lagos e rios: os gravímetros de fundo, a partir de 1941 e os gravímetros de bordo introduzidos no final de 1950 e amplamente utilizados até os dias atuais na maior parte dos levantamentos marítimos. Os gravímetros de fundo têm características semelhantes àquelas dos gravímetros terrestres e conduzem a levantamentos com um comparável grau de exatidão, isto é, melhor que 0,5 mGal. Eles são assentados no fundo do mar através de cabos e sua operação (nivelamento, leitura e medida batimétrica), via controle remoto, é efetuada com o navio estacionário. As principais diferenças entre os levantamentos com gravímetros de fundo e aqueles com gravímetros de bordo é que nestes últimos, leituras contínuas de gravidade são obtidas com o navio em movimento e, em decorrência da mobilidade da plataforma de medida, a velocidade e rumo do navio devem ser conhecidos com muita exatidão a fim de se efetuar a correção para o Efeito Eötvös, pois, conforme vimos anteriormente, medidas de gravidade efetuadas numa Terra em rotação em torno de seu eixo vertical são afetadas pela aceleração centrífuga deste movimento. O efeito Eötvös, ∆gE depende da velocidade V, do navio, de sua latitude φ e do seu rumo α em relação à direção norte-sul, ou seja: ∆gE = 7,508Vcosφsenα + 0,004154V2 (4.1) para ∆gE em mGal e V em nó (1nó=1,85325km/h). O segundo termo é usualmente desprezado, mas se torna apreciável para altas velocidades do navio, pois, para ele atingir 1 mGal basta que; V2 = 1/0.00416 = 240; V = 15,5 nós. Para efetuarmos correções com uma exatidão de 1 mGal, é necessário que a velocidade do navio seja conhecida em torno de 0,1 nó. Ademais, é evidente que a correção Eötvös se torna bastanteelevada mesmo para velocidades moderadas no navio, por exemplo, a uma velocidade de 10 nós, no curso acima, a correção é de 75,08 mGal; positiva se o sentido do navio for para leste e 75,08 mGal negativa se o sentido for para oeste. Nos últimos anos, com o advento do sistema de posicionamento GPS (Global Positioning System) a 13 literatura tem reportado levantamentos gravimétricos marítimos com exatidão próxima à obtida em levantamentos terrestres regionais, isto é, 0,5 a 1,0 mGal. Tal exatidão, em levantamentos marítimos, requer condições especiais de navegação - velocidade baixa do navio e mar relativamente calmo. O principal obstáculo na obtenção da informação gravimétrica útil com o gravímetro de bordo são os movimentos horizontais e verticais do navio, os quais podem ocasionar acelerações espúrias que podem ser da ordem de 100.000 mGal ou superior. Os efeitos horizontais são controlados por acelerômetros instalados numa plataforma estabilizada por giroscópios, enquanto que as verticais são removidas através de um sistema de amortecimento que atua como um filtro passa-baixa, suprimindo freqüências associadas ao movimento do navio e deixando passar aquelas freqüências associadas às fontes em subsuperfície. 4.3 – Aerogravimetria Medidas aerogravimétricas têm sido efetuadas com sucesso para a indústria petrolífera desde 1981 e, a partir de então, muitas melhoras e modificações foram efetuadas no sistema de medidas, nos procedimentos operacionais e nas técnicas de processamento. Conforme vimos, medidas gravimétricas em plataformas móveis estão sujeitas ao efeito Eötvös e as manobras do avião (helicóptero) que impõem acelerações horizontais e verticais que precisam ser conhecidas com alto grau de exatidão. Com técnicas apropriadas de correções e medidas das variáveis necessárias a tais correções, associadas com a utilização do GPS, podemos obter mapas gravimétricos com exatidão em torno de 2 mGal, mas, sob condições muito especiais, valores mais exatos foram obtidos, conforme o levantamento efetuado de aerogravimetria de toda a Suíça, onde a diferença entre os dados gravimétricos terrestres continuados ao nível do levantamento aéreo, 5100 m acima do nível do mar, forneceu um valor médio de 0,6 mGal e com desvio padrão de 11,9 mGal. 4.4 - Redução dos Dados Gravimétricos Em geral, uma anomalia gravimétrica é a diferença entre a gravidade medida no geóide e o elipsóide de referência, sendo produzida pela distribuição de massas que causam o desvio da superfície geóidal em relação ao elipsóide. A anomalia inclui o efeito da diferença de altura No entre o geóide e o esferóide . A forma da Terra é modelada em função das dimensões do esferóide ideal de referência, as quais são dadas pelos respectivos raios equatorial e polar, a e b, ou o raio equatorial juntamente com o seu achatamento (flattening)- ε; isto é: ε = (a-b)/a Quando o esferóide é determinado a partir de medidas gravimétricas, obtém-se também a fórmula de gravidade que fornece a variação da gravidade com a latitude. Tal fórmula denomina-se fórmula da gravidade normal. A expressão matemática, conforme idealizada e demonstrada por Clairaut (Tsuboi, 1983), admite que a forma do geóide é aquela produzida pela revolução da Terra com pequeno achatamento e é apresentada na equação 4.3. gN = gE(1+ βsen2ϕ - β’ sen22ϕ) (4.2) 14 onde gE é o valor da gravidade no equador e, β = (5/2) (ω2a/ gE ) – ε – (17/14) )(ω2a/ gE ) ε, β’=(ε/8) [(5ω2a/ gE )- ε] (4.3) As constantes em (4.2) podem ser determinadas através do conhecimento dos valores de gravidade em milhares de pontos da superfície terrestre, pelos seus ajustamentos à fórmula pelo método dos mínimos quadrados. A fórmula, baseada no The International Gravity Standardization Net- 1971 (IGSN-71), em função da latitude ϕ e em Gal, é: gN=978,03185(1+0,0053024sen2ϕ-0,0000059sen22ϕ) (4.4) O achatamento da Terra derivada desta fórmula é: ε = 1/298,257. As anomalias gravimétricas de interesse nos levantamentos geofísicos são as denominadas anomalias Bouguer que, para obtê-las há, pelo menos, três correções a serem efetuadas: 1 – O efeito da latitude gN dado pela fórmula (4.4) 2 – A correção de ar-livre ou free-air ∆g(Cfa), que corresponde à variação esperada no valor de gravidade com a variação de altitude (h), em relação à superfície do mar. ∆g(Cfa) = 0,3086h mGal ( h em metros) (4.5) 3 – A correção Bouguer ∆g(CB) que corresponde ao acréscimo no valor de gravidade devido à massa de rocha entre o nível do mar e o ponto de observação: ∆g(CB) = 2πGρh = 0,04185ρh (4.6) Esta fórmula considera o efeito da atração de uma camada de rocha horizontalmente infinita (Bouguer slab), com uma espessura h (metros) e densidade ρ (g/cm3). A fórmula anterior é também denominada correção Bouguer simples, pois considera uma topografia plana nas vizinhanças da estação de medição. Em regiões de relevo acidentado, para uma exatidão melhor que 0,5 mGal, é necessária a aplicação da CORREÇÃO DE TERRENO ∆g(t). Fórmulas e tabelas para a referida correção encontram-se, por exemplo, nos livros Applied Geophysics [Telford et al., 1987] e Introduction to Geophysical Prospecting [Dobrin e Savit, 1988]. A anomalia Bouguer Completa ∆g(Bouguer), isto é, aquela em que se inclui a correção de terreno, pode ser expressa na forma: ∆g(Bouguer) = g (observada) – g(previsto) g(previsto) = gN + ∆g(Cfa) + ∆g(CB) + ∆g(T) (4.7) 15 O g(previsto), além de incluir os termos da eq.(4.7), deve também ser corrigido para os efeitos de maré, drift instrumental, Eötvös-(para gravímetros montados em plataforma móvel), e amarração dos valores relativos de gravidade a uma rede internacional de bases gravimétricas (IGSN-71, por exemplo). Além disso, no g observado pode estar contido também o efeito das massas que suportam as cargas topográficas (isostáticas) que devem ser corrigidos. 5 – Interpretação dos Dados Gravimétricos Estando o levantamento gravimétrico devidamente processado com todas as correções acima aplicadas, vem agora o interessante desafio de sua interpretação. O problema consiste em se estimar os parâmetros de uma ou mais fontes gravimétricas, a partir dos dados reduzidos, vinculados a outras observações geológicas e geofísicas. As diversas técnicas de interpretação podem ser divididas em três classes (Blakely, 1995): 1) Método direto: Constrói-se um modelo inicial que melhor se aproxima das informações geológicas e geofísicas disponíveis. O efeito gravimétrico deste modelo é calculado e então comparado com a anomalia gravimétrica observada. Se há um ajuste aceitável, o modelo é retido, caso contrário os parâmetros são modificados até que a condição de ajuste seja atingida. 2) Método inverso: Neste caso, também um modelo inicial é assumido, porém os seus parâmetros são calculados automaticamente. 3) Realce dos dados e imageamento: Nenhum dos parâmetros do modelo é calculado, mas a anomalia passa por um processamento especial de modo a enfatizar algumas características da fonte, tais como, profundidades relativas, alinhamentos, distribuição e resolução espaciais. Os captítulos seguintes abordarão os métodos diretos e inversos, enquanto que o tópico sobre o realce dos dados e imageamento será apresentado no capítulo sobre a representação espectral dos campos magnéticos e gravimétricos, na apostila da magnetometria. Conforme declarado anteriormente, o método direto consiste em se assumir um modelo para aproximar o dado gravimétrico observado, o qual, por sua vez, pode sugerir a presença de um corpo ou estrutura geológica tridimensionalou bidimensional. A primeira é aquela limitada nas três direções ortogonais (x,y e z-vertical), e a última representa uma situação em que o corpo possui uma extensão em x ou y muitíssimo maior que a outra (ex.: x >> y). A seguir, apresentaremos as formulações para modelos tridimensionais e bidimensionais na modelagem direta de seus efeitos gravimétricos. 5.1 – Método Direto 5.1.1 - Corpos Tridimensionais Seja um corpo tridimensional de forma arbitrária e densidade variável ρ(x’,y’,z’) conforme mostrado na figura 5.1. 16 Podemos demonstrar que o efeito gravimétrico deste corpo, conforme medido pelo gravímetro (componente vertical), é dado pela eq. 5.1: Figura 5.1 – Corpo tridimensional de forma arbitrária, com densidade ρ(x’,y’,z’), cujo efeito gravimétrico será calculado no ponto P(x,y,z). O vetor r aponto do volume elementar dV para o ponto P. (Modificado de Blakely, 1995) gz(x,y,z)= ρ(x x ' y ' z ' ∫ ∫ ∫ ’,y’,z’)ψ(x-x’,y-y’,z-z’)dx’dy’dz’ (5.1) onde, ψ(x,y,z) = -G 2 2 2 3/( ) z x y z+ + 2 (5.2) A função ψ(x,y,z), denominada de função de Green, é o efeito gravitacional no ponto P(x,y,z) causado por uma massa pontual situada em (x’,y’,z’). Se a massa da figura 5.1 for substituída por uma esfera de raio R, densidade uniforme ρ e cujo centro se situe a uma profundidade h, ao longo do eixo z, o efeito da componente vertical gravitacional (efeito gravimétrico) será: gz= 3 2 2 3/3( ) G R h h x+ 2 4π ρ (5.3) A inspeção da eq.(5.3) revela que o efeito gravimétrico da esfera se distribui radialmente em torno da origem. Tal simetria permite que estimemos a profundidade de seu centro de massa através da relação: h = 1.305 x1/2, onde x1/2 é a abscissa correspondente à metade do valor máximo da anomalia. A eq.(5.1) é de difícil aplicação prática, pois corpos geológicos não podem ser modelados exatamente por tais formas porque a integral volumétrica seria dificilmente implementada para cálculo por computadores. Portanto, tal corpo é usualmente dividido em N partes simples, de forma que a eq.(5.1) é discretizada na forma 17 gm = 1= N mn n ∑ nρ ω (5.4) onde gm é a atração vertical, gz, no mésimo ponto de observação,ρn é a densidade na parte n, e ωmn é a atração no ponto m devida à parte n, com densidade unitária. Na prática, as formas geológicas podem ser aproximadas por um conjunto de prismas retangulares, conforme apresentado na Figura 5.2, cujas densidades são mantidas constantes. O efeito de cada prisma é calculado para cada ponto de observação e depois todos eles somados para representarem a contribuição total no ponto desejado. Figura 5.2 – Aproximação de uma massa tridimensional por um conjunto de prismas retangulares (segundo Blakely, 1995) O efeito gravimétrico de um prisma isolado pode ser calculado a partir da eq.(5.1) nela substituindo-se os limites do prisma e alguns artigos da literatura apresentam fórmulas e programas Fortran para cálculo de tais efeitos (Blakely,1995; Plouff, 1975). Outra forma de se aproximar um corpo tridimensional é através de sua subdivisão em lâminas horizontais cujos perímetros são aproximados por polígonos, Figura 5.3, de forma que eles possam seguir os contornos dos mapas topográficos, permitindo, por conseguinte, o cálculo do efeito topográfico. 18 Figura 5.3 – Aproximação de um corpo tridimensional por um conjunto de lâminas as quais são aproximadas por polígonos (segundo Blakely, 1995) Tal método, concebido por Talwani e Ewing (1960), foi posteriormente aprimorado por Plouff (1976) para o cálculo do gravimétrico de uma camada de espessura finita, lados verticais cujos topos e bases são aproximados por polígonos. Tais camadas poligonais podem então ser empilhadas de forma a representar corpos tridimensionais de forma arbitrária (Obs: os programas Fortran do Plouff podem ser obtidos como open files no serviço geológico americano USGS e uma codificação simples é apresentada no livro do Blakely, 1995). Recentemente, um artigo de Singh e Guptasarma (2001) apresenta as derivações e respectivos scripts, em Matlab, para o cálculo do efeito gravimétrico (e magnético) de corpos tridimensionais de formas poliédricas arbitrárias. Neste artigo, o leitor encontrará uma discussão sobre os muitos métodos disponíveis na literatura acerca do assunto. 5.1.2 – Corpos Bidimensionais Corpos ou estruturas bidimensionais são aquelas formas que possuem uma dimensão espacial (em mapa) em uma direção muitíssimo maior do que na outra direção. Tais feições lineares, na prática exibem, em geral contornos grosseiramente elípticos e são assim consideradas lineares por Peters (1949, em Blakely, 1995) se suas dimensões mais alongadas são pelo menos três vezes maiores que as dimensões menores. À exemplo do que foi feito para a esfera, a profundidade do centro do cilindro pode ser calculada através da relação : h = x1/2, onde x1/2 é a abscissa correspondente à metade do valor máximo da anomalia. Uma das formas normalmente usada para situações geológicas simples, como por exemplo, à aproximação de um canal soterrado, é aquela do cilindro horizontal, cujo efeito gravimétrico na direção vertical, gz, é dado por (5.5), onde R é o raio do cilindro, com densidade ρ e cujo centro situa-se à uma profundidade z, abaixo do nível de referência. 19 gz = 2πGρR2z/(z2 + x2) (5.5) As expressões analíticas para o efeito gravimétrico de outras formas simples, tais como a do contato de uma falha vertical, dentre outras, podem ser encontradas, p.ex., em Nettleton (1976). A forma dos corpos geológicos idealizada pelo intérprete de um mapa de anomalia Bouguer raramente pode ser aproximada por corpos de formas simples, com contornos contínuos e suaves. Por isso, utilizamos freqüentemente aproximar a seção transversal vertical de tais formas bidimensionais por seções poligonais de N lados, conforme mostradas na Figura 5.4. Tal método, originalmente idealizado por Hubbert (1948, em Blakely, 1995) foi subseqüentemente apresentado em uma forma apropriada para a confecção de um algoritmo computacional, por Talwani, Worzel e Landismann (1959, em Blakely, 1995). Figura 5.4 – Aproximação de um corpo bidimensional por um polígono de N lados (segundo Blakely, 1995) Podemos demonstrar que o efeito gravimétrico gz de um polígono de N dados, com densidade ρ, e coordenadas de seus vértices xn, zn, no ponto x =0, z=0 no sistema de coordenadas acima é dado pela fórmula 5.6 gz = Gρ ( )1 12 1 log 1 + + = − − + ∑ N n n n n n n n n r r β α θ θα (5.6) onde 1 1 + + −= − n n n n n x x z z α ; e = −n n nx znβ α , com e nr nθ definidos conforme a Figura 5.4. O cálculo do gz para os demais pontos ao longo do eixo x é feito simplesmente deslocando-se a origem ao longo deste eixo, ou deslocando-se os vértices xn e xn+1 20 Para corpos que não podem ser razoavelmente aproximados por esse modelo bidimensional, correções existem para corrigir aos limites não infinitos. Tais cálculos são denominados de modelos 2 ½ D (dois e meio D), cujos algoritmos, em conjunto com o do modelo bidimensional, infinito, constituem o núcleo de muitos programas de modelagens encontrado em pacotes de programas oferecidos pela indústria (os pacotes da Geosoft, Fugro/LCT, por exemplo, utilizam-se dessa formulação). 5.2 – Método Inverso Na inversão dos dados gravimétricos podemos partir dos modelos tridimensionais ou bidimensionais. Tais modelos, por sua vez, podem ter as formascontínuas, suaves, ou estas podem ser representadas por prismas verticais de seções horizontais retangulares ou poligonais ou por conjuntos de lâminas horizontais com seções poligonais. Os métodos de inversão de anomalias gravimétricas podem ser subdivididos em lineares ou não-lineares. Para ilustrar de forma simplificada a diferença entre esses dois métodos, tomemos como exemplo o cálculo de gz conforme estabelecido em (5.4), isto é: gm =∑ 1= N n mn n ρ ω para m=1,2...M pontos de observação. A inversão linear, neste caso, consiste em: dada a distribuição ωmn (função de Green) nos pontos discretizados de uma seção transversal (anomalia bidimensional) ou em um mapa (anomalia tridimensional), estimar a distribuição ρn. Se, ao contrário, quiséssemos estimar algum parâmetro de ωmn, tal como, por exemplo, a sua posição espacial, então estaríamos lidando com a inversão não-linear. A linearidade na expressão gm acima é fácil de perceber, pois, se duplicarmos, por exemplo, a densidade ρm os valores gm também ficarão duplicados. As dificuldades fundamentais na inversão dos dados residem na não- unicidade das soluções e na sua instabilidade. Por isso, são necessárias informações a priori sobre os parâmetros que queremos inverter para focalizar as soluções no modelo geológico esperado. Em artigos recentes, Silva et alii. (2001 e 2002) e Barbosa et alii (2002) discorreram sobre o problema da escolha da técnica apropriada de inversão dos dados dos campos potenciais a fim de resolver um determinado modelo geológico, tornando a solução única e estável. A seguir, apresentaremos o resultado de uma dessas técnicas, conforme descrita em Last and Kubik (1983). O problema consiste em se determinar a distribuição de densidade, ρn, em uma seção bidimensional consistindo de M blocos retangulares, sujeita ao vínculo de máxima compactação da densidade. Assim, dados as observações gravimétricas em M pontos, o efeito gravimétrico no mésimo ponto, associado a um nível de ruído em é: gm = 1= N mn n ∑ nρ ω + em, para m=1,2...M pontos (5.7) ωmn é o elemento da matriz representando a influência do nésimo bloco no mésimo ponto de observação. A expressão exata para os elementos da matriz ωmn é fornecida pela equação (1) dos autores ora mencionados. O algoritmo sugerido por esses autores foi implementado, em Matlab, e um de seus resultados é apresentado na Figura 5.5. 21 Algoritmos para inversão em duas e três dimensões de anomalias gravimétricas, além de poderem ser encontrados na literatura geofísica, em particular nos artigos da revista Geophysics, uma pequena revisão desses métodos pode também ser encontrada no livro do Blakely (1995), na qual o autor descreve também a linearização dos métodos não-lineares. Figura 5.5 – Inversão linear para a distribuição de densidade ρ = 1000 kg/m3, blocos vermelhos. 6 - Referências Bibliográficas Barbosa, V. C. F., Silva, J. B. C. and Medeiros, W. E., Practical Applications of Uniqueness Theorems in Gravimetry: Part II – Pragmatic Incorporation of Concrete Geological Information. Geophysics, 67(2002), 795-800 Blakely, R. J., Potential Theory in Gravity & Magnetic Applications. Cambridge University Press (1995) – USA Dobrin, M. B. and Savit, C. H., Introduction to Geophysical Prospecting. McGraw Hill International Editions (1988) –USA Last, B. J. and Kubik, K., Compact Gravity Inversion. Geophysics, 48(1983),713-721 Nettleton, L. L., Gravity and Magnetics in Oil Prospecting. McGraw Hill Book Company(1976)-USA Plouff, D., Gravity and Magnetic Fields of Polygonal Prism and Application to Magnetic Terrain Corrections. Geophysics, 41(1976), 724-741 Silva, J. B. C., Medeiros, W. E. and Barbosa, V. C. F., Potential –field Inversion: Choosing the Appropriate Technique to Solve a Geologic Problem. Geophysics, 66(2001), 511-520 Silva, J. B. C., Medeiros, W. E. and Barbosa, V. C. F., Practical Applications of Uniqueness Theorems in Gravimetry: Part I – Constructing Sound Interpretation Methods. Geophysics, 67(2002), 788-794 Talwani, M., and Ewing, M., Rapid Computation of Gravitational Attraction of Three- dimensional Bodies of Arbitrary Shape. Geophysics, 25(1960), 203-252 Telford, W. M., Geldart, L. P., Sheriff, R. E. and Keys, D. A., Applied Geophysics. Cambridge University Press (1976) –USA Tsuboi, C., Gravity. George Allen & Unwin(1983)-London,UK 22 II - MAGNETOMETRIA – PRINCÍPIOS TEÓRICOS 1 – Princípios básicos e unidades As anomalias magnéticas de interesse na prospecção geofísica, tanto mineral quanto de hidrocarbonetos são causadas pela indução magnética do campo magnético principal da terra, em rochas suscetíveis de serem magnetizadas por esse campo. O presente capítulo esboça alguns conceitos básicos do magnetismo e sua relação com o potencial magnético escalar e apresenta as unidades relacionando-as às respectivas grandezas físicas, estas representadas em negritos para a notação vetorial. 1.1– Indução Magnética Sabemos das aulas de Física que a força F agindo em uma carga Q, se movendo a uma velocidade constante v, em um campo magnético, é dada pelo produto vetorial na equação 1.1. Tal força pode ser considerada como aquela originada por um circuito de corrente elétrica agindo em um outro circuito elétrico considerado como circuito teste. Tal conceito encontra analogia com a força de atração gravitacional entre duas massas, na qual uma delas, a massa teste, é considerada unitária. F=Q(vxB) (1.1) O vetor B é denominado de indução magnética, densidade de fluxo magnético ou campo magnético de um circuito elétrico, cujas unidades no sistema eletromagnético (emu = electromagnetic units) ou sistema cgs é o Gauss (G), e no sistema internacional, SI (Système Internationale) é o tesla (T). Em alguns mapas magnéticos, a unidade gama (emu) ou o nanotesla é comumente usada para expressar a magnitude de B, onde: 1 tesla = 104 Gauss, 1nanoTesla=10-9Tesla=1gama = 10-5 Gauss. Nos pontos de observação fora de fontes magnéticas, e em regiões onde inexistem correntes magnéticas, a indução magnética é o gradiente de um escalar magnético, de forma que a equação 1.2 é satisfeita: B = -∇V (1.2) Em coordenadas cartesianas, o operador gradiente, nas três direções ortogonais x, y e z, cujos vetores unitários são respectivamente i, j e k é: ∇ = i + j + k x y z ∂ ∂ ∂ ∂ ∂ ∂ (1.3) 23 Tanto na gravimetria quanto na magnetometria, o cálculo dos efeitos das anomalias produzidas por corpos de formas especiais se torna mais simples se primeiramente calcularmos o potencial V e depois aplicarmos a equação 1.2. 1.2–Potencial e Momento Magnéticos de um Dipolo Sejam duas massas pontuais (monopolos) de sinais opostos e bem próximas uma da outra conforme indicado na figura 1.1. Podemos demonstrar que o potencial V(P), no ponto P, produzido por q+ e q- é dado pela equação 1.4, onde Cm é uma constante que depende do sistema de unidades, m é o momento magnético do dipolo, definido por m =qds, sendo ds o vetor de distância elementar entre q+ e q-, apontando do pólo positivo para o negativo. V(P) = - Cmm.∇P 1r (1.4) Figura 1.1 – Configuração especial de de um monopolo positivo na origem e outro A magnética d Tod retornam pa pequena ba momento do observação. A fi uma superfíc verticais de componente em b e c. A pelas setas alargamento profundidade profundidade negativo abaixo da origem na distância ∆z, observadosno ponto P (segundo Blakely, 1995) substituição da equação 1.4 em 1.2 conduz à formulação da indução e um dipolo, em pontos fora dele: B = Cm m 3 m r [3(m.r)r –m], r ≠ 0 (1.5) as as linhas de fluxo de B emanam da extremidade positiva de m e ra a negativa. A equação 1.5 descreve o campo vetorial de uma rra imantada e mostra que a magnitude de B é proporcional ao dipolo e decai com o inverso da distância ao cubo do ponto de gura 1.2 exibe quatro exemplos da indução magnética, medida em ie horizontal acima de um simples dipolo; são eles: as componentes B dos dipolos vertical e horizontal, respectivamente em a e d, e as s horizontais de B dos dipolos horizontal e vertical, respectivamente figura 1.3 exibe os perfis tomados ao longo dos trechos indicados na figura 1.2. Observe como o afastamento dos contornos e o dos perfis nessas duas figuras estão relacionados com a z do dipolo. Tal propriedade serve de indicador para estimativa da de fontes magnéticas (e gravimétricas). 24 Figura 1.2 – Componentes horizontais e verticais da indução magnética em um plano horizontal a uma distância z acima de dipolos verticais e horizontais a intervalo de contorno arbitrário. Tons cinzas indicam valores positivos . (a) Componente vertical /dipolo vertical; (b) Componente horizontal/dipolo horizontal; (c) Componente horizontal/dipolo vertical; e (d) Componente vertical/dipolo horizontal Em coordenadas cilíndricas, a equação 1.5 pode ser reescrita, B = Cm m 3 m r [3cosθ r – m] (1.6) Onde θ é o ângulo entre a direção do momento magnético m e o vetor r, conforme indicado na figura 1.4. A utilização de modelos dipolares pode ser encontrada em situações onde uma concentração de fontes magnéticas localiza-se a uma grande distância dos pontos de medidas. O campo magnético principal da Terra, por exemplo, se comporta aproximadamente como um dipolo, sob a perspectiva de outros planetas. 25 Figura 1.3 – Perfis ao longo dos trechos indicados pelas setas nos mapas das respectivas componentes da indução magnética da figura 1.2. Perfil (d) é semelhante ao (c). . Figura 1.4 – Momento magnético m produzido em um circuito elétrico de corrente I, cuja indução magnética B é observada no ponto P. O eixo z das coordenadas cilíndricas segue ao longo da direção de m 1.3 – Magnetização e Intensidade de Campo Magnético Um corpo magnético pode ser decomposto em pequenos elementos de modo que cada um deles seja aproximado por um dipolo mi . Se V é o volume total do corpo, a sua magnetização é definida como: 26 M = 1 V ii ∑m (1.7) A unidade da magnetização é o ampere/meter (A/m) no sistema internacional (SI), e o Gauss, no emu, onde 1 Gauss = 103 A/m. A intensidade do Campo Magnético é o campo magnético H, em torno de uma substância magnética, com magnetização total e indução magnética respectivamente M e B, definidos pelas equações 1.8 e 1.9, respectivamente nos sistemas SI e emu, H = µo B - M (no SI) (1.8) H = B - 4π M (no emu) (1.9) A intensidade de campo magnético tem a unidade de A/m no SI e de Oersted no emu, onde 1 Oe = (103/4π) A/m. Em pontos do espaço fora de fontes magnéticas ( como é o caso dos nossos levantamentos magnéticos) H e B são idênticos no sistema emu . No sistema SI, entretanto, fora de fontes magnéticas, H e B possuem a mesma direção, porém magnitudes diferentes. oµ é a permeabilidade magnética do ar. É conveniente lembrarmos que o potencial gravitacional de uma distribuição de massas pode ser representado por um conjunto de massa pontuais, dm, com densidade ρ tal que dm = ρdv, assim o potencial gravitacional total em um ponto fora do corpo limitado, por uma superfície volumétrica, R, é dado por, U(P) = G R dv r ρ∫ (1.10) De forma semelhante, podemos demonstrar que o potencial magnético de um volume constituído de um conjunto de dipolos magnéticos, dm, é dado por, V(P) = Cm 1 Q V M(Q). dv r ∇∫ (1.11) onde M(Q) = dm/dv e Q é um ponto no interior do volume V. Voltaremos a essas expressões mais adiante para estabelecer a relação de Poisson. 27 1.4 – Suscetibilidade e Permeabilidade Magnéticas Na presença de um campo magnético externo, as substâncias magnéticas adquirem uma magnetização induzida, de forma que, para campos externos baixos, ela é aproximadamente proporcional e na mesma direção do campo aplicado. Tal magnetização é expressa por, M = χ H (1.12) Onde χ é a suscetibilidade magnética, grandeza adimensional, mas cuja magnitude depende do sistema de unidades, i.e., χ(emu) = 4πχ(SI). A permeabilidade µ também depende do sistema de unidades: µ(emu)=1+4πχ e µ(SI) = µo(1+χ), onde µo é a permeabilidade do ar. Convém salientar que a relação entre M e H não é necessariamente linear, pois χ pode variar com a intensidade do campo, podendo inclusive ser negativa. A figura 1.5 exibe as suscetibilidades magnéticas de algumas rochas. Figura 1.5 – Suscetibilidade magnética de algumas rochas (seg. Blakely, 1995) 1.5 – Tipos de Magnetização As teorias eletromagnéticas são baseadas na observação fundamental de que um campo magnético é produzido por cargas elétricas em movimento. Desta forma, um elétron, girando em torno do seu próprio eixo, possui um campo magnético dipolar, semelhante ao de uma barra magnética. Portanto, um átomo possui uma magnetização devido ao rodopio dos seus elétrons e, além disso, possui também uma magnetização devida ao movimento orbital dos seus elétrons em torno de seu núcleo. Normalmente, a magnetização dos elétrons numa substância se cancelam, porém, algumas vezes, existem elétrons desequilibrados. Neste caso, quando um campo magnético é aplicado, um movimento orbital se produz, de modo a gerar um campo em sentido oposto ao aplicado. Tal campo induzido é perdido tão logo cesse a atuação do aplicado. 28 Este comportamento, independente da temperatura é denominado de diamagnetismo. Assim, uma substância diamagnética é aquela que possui susceptibilidade magnética (χ), negativa. Como exemplos de algumas substâncias desta natureza, citamos o grafite, mármore, quartzo e sal. Por definição, todas as substâncias com χ>0 são denominadas de paramagnéticas. Mesmo num campo magnético externo nulo, tais substâncias possuem momento magnético não zero. O efeito do paramagnetismo diminui com o aumento da temperatura. O ferro, cobalto e níquel são elementos paramagnéticos nos quais a interação magnética entre átomos ou grupos de átomos é tão forte que existe um alinhamento de momentos magnéticos em grandes regiões ou domínios das substâncias. Enquanto que a χ das substâncias diamagnéticas e paramagnéticas é da ordem de 10-3 emu, a χ das três substâncias acima, denominadas de ferromagnéticas, são 106 vezes daquela. O ferromagnetismo também decresce com a temperatura e desaparece completamente na temperatura Curie. A temperatura Curie da magnetita é 580oC, e ligas de ferro podem ter temperatura Curie significativamente altas. Minerais ferromagnéticos, aparentemente, não existem na natureza. Quando os domínios magnéticos numa substância se orientam de forma que alguns deles possam estar alinhados em sentidos opostos, mas com momento magnético resultante não-zero, o fenômeno é chamado de ferrimagnetismo. Como exemplo de minerais ferrimagnéticos, podemoscitar a magnetita, titanomagnetita, ilmenita. Praticamente todos os minerais magnéticos são ferrimagnéticos. Quando os momentos magnéticos resultantes dos domínios paralelos e anti-paralelos se cancelam mutuamente num material, que, em caso contrário, seria considerado ferromagnético, com susceptibilidade magnética muito pequena, da ordem das substâncias paramagnéticas, o fenômeno é denominado de antiferromagnetismo. A hematita é o exemplo mais comum. O conjunto dos tipos de magnetização englobando o ferromagnetismo, o ferrimagnetismo e o antiferromagnetismo é também denominado de magnetização espontânea. Em síntese, podemos dizer que as substâncias são subdivididas em diamagnéticas, paramagnéticas e ferromagnéticas, esta última subdividida em ferromagnética propriamente dita, conforme descrita acima, ferrimagnética e antiferromagnética. Na escala dos grãos de uma rocha, a magnetização espontânea pode ser muito grande, porém em afloramento, os momentos magnéticos dos grãos individuais podem se orientar de uma forma tão aleatória que o seu momento resultante é pequeno. Além disso, na presença do campo magnético da terra, eles tendem a se orientar na direção desse campo externo. A magnetização assim resultante é denominada de magnetização induzida e decresce a zero, assim que o campo externo é eliminado, e é escrita como, Mi = χ H (1.13) Se, por outro lado a magnetização permanece, mesmo com H = 0, então temos o caso da magnetização remanescente, Mr, que é função da história geológica e térmica da rocha. Portanto, em estudos de anomalias magnéticas, temos que considerar a magnetização constituído-se das componentes de indução e de remanescência; M = Mr + Mi = Mr + χ H (1.14) 29 A magnetização remanescente pode ser originada por uma das seguintes causas: a) Magnetização Química Remanescente – Ocorre quando um grão magnético muda de volume ou é transformado de uma forma para outra como resultado da ação química à temperaturas moderadas, isto é, abaixo do ponto Curie. Este processo é particularmente significante em rochas sedimentares e metamórficas. b) Magnetização Detrítica Remanescente – Ocorre durante a lenta sedimentação de partículas magnéticas, de pequeno tamanho, sílticas, na presença de uma campo externo. Argilas varvíticas exibem esse tipo de remanescência. c) Magnetização Remanescente Isotérmica – É o resíduo deixado após a remoção do campo externo, causado por descargas elétricas nas rochas. d) Magnetização Termo-remanescente – É o mecanismo mais importante para explicar a magnetização permanente das rochas ígneas. Resulta quando o material é resfriado a partir da temperatura Curie, na presença de um campo magnético externo. e) Magnetização Viscosa Remanescente Produzida pela exposição prolongada das rochas a um campo externo. Mais característico em rochas de grãos finos do que grossos. A magnetização induzida se torna gradualmente irreversível. A importância relativa da magnetização remanescente em função da induzida é denominada de razão de Koenisgsberger , e definida como, Q = r i M M (1.15) 1.6 – A relação de Poisson Se considerarmos um corpo com densidade e magnetização uniformes contido em um volume V numa região R do espaço, então, considerando-se as equações 1.10 e 1.11, podemos demonstrar que o potencial magnético V(P) em um ponto P, fora da massa do corpo, pode ser obtido pelo conhecimento do potencial gravitacional U(P) no mesmo ponto pela relação seguinte, denominada de relação de Poisson, V(P)= - m C U G ∇ρ PM. = - ρ m mC Mg G (1.16) onde gm é a componente da gravidade na direção da magnetização. Portanto, se quiséssemos, por exemplo calcular a anomalia magnética de uma distribuição uniforme de material magnético a partir de uma distribuição também uniforme de densidade, então bastaria derivarmos a equação 1.16 na direção que se quer a componente magnética. A relação de Poisson é bastante útil em casos como: 1) Transformação de um levantamento magnético em pseudogravimétrico 2) Derivação de expressões para a indução magnética de corpos de geometria simples, quando a sua atração gravitacional é conhecida 30 2 – O Campo Geomagnético A redução dos dados magnéticos de forma a permitir o estudo das anomalias magnéticas que possam contribuir à interpretação geológica/geofísica envolve a eliminação de todas as contribuições a anomalia medida outras que não as causadas pelas fontes geológicas de interesse. Assim, as contribuições para o campo magnético total observado envolvem fontes externas e internas e, ao contrário do campo gravitacional terrestre, o campo magnético da terra varia numa escala de tempo desde milisegundos a milhões de anos. 2.1 – Fontes externas – Pequenas frações do campo magnético variam rapidamente; parte ciclicamente e parte aleatoriamente. O campo delas decorrentes é causado pela interação entre o campo magnético interno, o vento solar e a rotação da terra. Ele origina-se na ionosfera e se constitui de dois elementos importantes: a componente diurna, que varia ao longo do dia, causada pela rotação da terra envolta pelo vento solar, a qual é previsível e tempestades magnéticas que são pulsos súbitos de atividades magnéticas causadas pelo aumento das atividades solares, e são menos previsíveis que a variação diurna. 2.2 – Fontes internas – Constituem-se no campos com origens no núcleo e na crosta terrestre. O campo magnético do núcleo da terra é a maior contribuição do campo magnético total observado, consistindo de duas partes: cerca de 80% a 90% dele pode ser modelado por um dipolo inclinado localizado no centro da terra. Esta parte se denomina do campo dipolar e a parte restante, confinada principalmente a parte externa do núcleo, é denominada de campo não-dipolar. A variação lenta do campo não-dipolar é denominada de variação secular. Ele se desloca para oeste de cerca de 0.2o por ano e possui uma componente estacionária, na qual o máximo e mínimo do campo não-dipolar aumenta e diminui no local. Ocasionalmente, o campo dipolar inverte sua polaridade a intervalos que podem variar de aproximadamente 100.000 anos a milhões de anos. A teoria relativamente aceita é de que o campo magnético terrestre é originado pelo movimento de correntes elétricas circulando no núcleo externo da terra – líquido - segundo evidências sísmicas. O Fe e Ni são bons condutores elétricos. O fluido move-se segundo uma forma complexa e as correntes elétricas, possivelmente causadas por variação térmica e química, fluem através do fluido. Em decorrência de aproximadamente 400 anos de estudos contínuos, verificamos que o campo magnético terrestre não é permanente e varia regionalmente. Sua causa não está completamente entendida, mas acredita-se que está relacionada às mudanças nas correntes de convecção no núcleo, no acoplamento núcleo-manto e na velocidade de rotação da Terra. As anomalias magnéticas de interesse na geologia/geofísica originam-se na crosta terrestre e se constituem numa pequena fração do campo magnético total da terra. Tal contribuição provém daquela parte da terra à profundidades menores que a isoterma de Curie. 3 – O Campo Magnético Principal da Terra (IGRF) O campo magnético originário na crosta terrestre pode ser separado do campo magnético originado no núcleo através da expansão do potencial magnético da terra em harmônicas esféricas. Assim, tal potencial pode ser expresso como, 31 1n n m ma +∞ m on Le po m im es Rn es lin es pa po su de V = a ( ) 1 0 n n n m g cos(m ) h sen(m ) P ( r= = n )φ + φ ∑ ∑ θ (3.1) de φ é a longitude, θ a colatitude, Pmn ( )θ é um polinômio normalizado de gendre, a é o raio da terra e g e h são os coeficientes de Gauss, os quais dem ser calculados diretamente através de medidas efetuadas no campo agnético terrestre. As amplitudes dos coeficientes de Gauss indicam a portância relativa dos vários termos; eles podem ser usados para calcular o pectro de potência, m n m n Rn=(n+1) 1 22 0 n m m n n m 2(g ) (h ) = +∑ , (3.2) é a potência do campo magnético em função do cala logarítmica, mostra uma quebra importante na eares no modelo acerca de n=14, conforme exibido pectro para n < 14 origina-se abaixo da interface núc ra n > 14 as fontes situam-se nos primeiros 100 deríamos usar g e para m=n=14 para calcul btraí-lo da medida total para se ter então somente sde que as demais variações tenham sido corrigidas ( m n m nh Maior declividade indica fontes na Menor declivid Figura 3.1 – Logaritmo do espectro de potência do campo total da terra atrav Blakely, 1995) grau n que, plotada em declividade dos ajustes na figura 3.1. A parte do leo/manto, enquanto que km da terra, portanto, ar o campo do núcleo e a contribuição da crosta, variação diurna, p.ex.). parte externa do núcleo ade indica fontes a profundidades < 100 km és dos coeficientes de Gauss( segundo 32 O campo principal da terra, conhecido como International Geomagnetic Reference Field (IGRF) é um modelo do campo geomagnético, aceito por acordo internacional, que inclui coeficientes de Gauss até m=n=10. Ele compreende também termos que tentam corrigir a variação secular. O IGRF é atualizado a cada cinco anos e, atualmente, junho de 2002, estamos sob o efeito do IGRF 2000. A figura 3.2 mostra a decomposição do campo geomagnético em suas componentes e os termos envolvidos na expansão na equação 3.1. 4 – Instrumentos de Medida do Campo Magnético A exceção dos observatórios magnéticos, a maioria dos magnetômetros usados atualmente na prospecção geofísica medem a amplitude do campo total da terra, independente de sua direção. Dentre eles, os mais usados são o de Figura 3.2 – (a) O sistema de coordenadas esféricas e respectivos elementos para a expansão do campo em harmônicas esféricas. O ponto P é definido pelas coordenadas r, θ e φ e os vetores nesse ponto pelos vetores unitários indicados pelos símbolos ^ acima deles. (b) O sistema cartesiano no ponto P e as três componentes ortogonais do vetor B, I e D são as respectivas inclinação e declinação do campo geomagnético (segundo Blakely, 1995) precessão protônica e o chamado magnetômetro de bombeamento ótico. 4.1 – Magnetômetro de Precessão Protônica Este tipo de magnetômetro depende de certas propriedades fundamentais do núcleo atômico e da precessão de Larmor. Os prótons (núcleos de hidrogênio) têm um rodopio (spin), que transforma cada núcleo equivalente a pequenos imãs, os quais, sob condições normais, possuem momentos magnéticos aleatoriamente orientados, de forma que seus campos individuais se cancelam mutuamente de modo a não haver campo externo. Entretanto, se um campo magnético polarizante é aplicado segundo uma direção não paralela ao campo da Terra, os eixos dos spins se alinham com o campo polarizante; quando este é removido, os núcleos rodopiantes comportam-se como pequenos piões e precessam na 33 direção do campo magnético terrestre, em uma freqüência que é determinada pela magnitude daquele campo. A freqüência de precessão é f = λT/2π, e T = 2πf/λ, onde T é a magnitude do campo total ambiente e λ é a razão giromagnética do próton, que é uma propriedade invariante do núcleo, cujo valor é: λ=2,67513X 104 (Oersted-segundo)-1= 0,267513 (nT-segundo)-1 A intensidade do campo total é: T =(2π/0,267513)f, ou seja, T = 23,487 f nT. Para medir variações na intensidade do campo de 1 nT, a freqüência de precessão deve ser medida em torno de 0,04Hz. 4.2 – Magnetômetro de Absorção Ótica Denominados também de magnetômetros de bombeamento ótico de vapor, dependem também da precessão de Larmor, mas aplicada aos elétrons e não aos prótons. 4.3 – Anomalia Magnética do Campo Total Uma vez medida a magnitude T, do campo magnético total T, desejamos obter o campo anômalo que é aproximado pela subtração da magnitude F, do campo principal da terra F, de forma que o valor anômalo ∆T é igual a ∆T = T – F. Na realidade, o que precisamos é ∆F, a perturbação causada por alguma magnetização anômala na crosta terrestre, ou seja; ∆F = T – F. No entanto, ∆T não é igual a ∆F, porém, conforme ilustrado na figura 4.1, se ∆F << T, então ∆T ≅ F .∆F, sob as cond aeromagnét ^ ^ F é o vetor Figura 4.1 – Repre campo anômalo ∆ aproxiação aceitáv que é a projeção de ∆F na direção do campo regional T. Felizmente, ições usualmente encontradas nos levantamentos de prospecção ica, a anomalia do campo total, ∆T, é uma boa aproximação de ∆F. unitário na direção de F. sentação vetorial de uma anomalia do campo total, onde T é a soma vetorial do campo regional F e o F. O comprimento T-F=T-F representa a anomalia do campo total, mas o comprimento .∆F é uma el se F<<.∆F ^ F 34 5 – Interpretação dos Dados Magnéticos. Método Direto Os corpos geológicos de interesse na prospecção geofísica, a exemplo da gravimetria, podem também ser modelados por estruturas tri e bidimensionais, seja pelo método direto ou pelo o inverso, conforme conceituado no capítulo da gravimetria. 5.1 – Modelos Tridimensionais 5.1.1 – Dipolos Magnéticos. O corpo é dividido num conjunto de pequenos elementos com a suposição de que cada um deles se comporte como um dipolo magnético a uma grande distância do corpo. Este tipo de aproximação não é muito prática em situações complexas, mas tem sido usada para modelar a crosta terrestre com magnetometria de satélite. 5.1.2 – Conjunto de Prismas. Neste modelo, o corpo é aproximado por uma coleção de prismas retangulares. O campo magnético de um prisma retangular foi calculado por Bhattacharyya (1964) e apresentado na equação 9.19 de Blakely (1995). 5.1.3 – Empilhamento de Lâminas. O corpo é seccionado em finas fatias, limitadas por seções poligonais, representando o contorno batimétrico ou estrutural do corpo a ser modelado. O efeito magnético de cada lâmina é calculado e depois integrado na vertical para a obtenção do efeito total do corpo. 5.1.4 – Aproximação por Poliedros. Neste caso, o corpo é aproximado por superfícies poligonais de modo que um poliedro é formado representando o seu volume. A figura 5.1 mostra um corpo magnético de forma arbitrária aproximado por um poliedro. Figura 5.1 - Representação de um corpo magnético, a esquerda, por uma superfície poliédrica, á direita (segundo Blakely, 1995). 35 5.2 – Modelos Bidimensionais Conforme visto no capítulo da gravimetria aqui também o corpo geológico, se magnetizado uniformemente, é representado por polígonos de seções transversais verticais, com N lados, e a magnetização do corpo é substituída por cargas magéticas na sua superfíce (figura 5.2). Assim, o problema consiste em calcular o efeito magnético dos N contatos de carga estendendo-se na direção de +y para –y, ortogonal a folha. Figura 5.2 – Aproximação de um corpo bidimensional por contatos de cargas magnéticas com extensão infinita ortogonal ao papel (segundo Blakely, 1995) 5.3 - Efeitos dos Parâmetros Magnéticos e dos Corpos na
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