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O Ponto de Mutação

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O Ponto de Mutação – Resenha
Michele da Silva RodriguesBacharel em Ciências da Computação - UFSCmicheledasilva.rodrigues@hotmail.comO austríaco Fritjof Capra, um físico e teórico de sistemas, é um dos nomes mais importantesda ciência moderna, principalmente por introduzir a ecologia, tão importante nos dias atuais, emsuas teorias. No capitulo 9 do livro O Ponto de Mutação, Capra analisa os organismos sob a perspectivasistêmica. A biologia desde que começou a ser estudada compara os organismos à maquinas, assimcomo Descartes e Newton comparavam o corpo de animais e o mundo a um relógio. Porém, essaanalogia nem sempre é eficiente, já que, apesar de seus comportamentos serem semelhantes, asdiferenças estruturais e de interação entre suas partes é significativa. Embora seja imprescindívelque se conheça as “peças” é preciso observar os processos e não as estruturas.A primeira diferença básica é que as máquinas são construídas e os organismos crescem.Sendo assim, estes não são necessariamente idênticos, uma vez que suas peças não são produzidasem uma linha de montagem. Esta estrutura orgânica é desenvolvida visando os processos que irádesempenhar, enquanto a estrutura mecanicista tem suas atividades baseadas na funcionalidade desua estrutura. A descrição reducionista é importante, porém não pode ser tomada como aexplicação final e completa. Além disso, os sistemas naturais são essencialmente dinâmicos. Por isso, não podem ser estudados isoladamente, mas sim suas interações e a interdependência entreorganismos e o meio. O melhor modelo de máquina que segue esses parâmetros, e mais se aproximade um organismo, são as máquinas cibernéticas.Após o surgimento da física quântica, o mecanicismo revelou-se uma maneira imprecisa eobsoleta de se observar o universo. Esta teoria abandona a idéia de causa e efeito e adota aaleatoriedade e o caráter probabilístico como argumentos. Assim como na teoria holística, a físicaquântica opõe-se a idéia de que para entender o todo é preciso fragmenta-lo. E é nesse contexto quea visão sistêmica ganha força. Esta teoria tem como fundamentos o processo, a mudança, aflutuação, os ciclos e a auto-organização.Segundo Capra, “ Um organismo vivo é um sistema auto-organizador, o que significa quesua ordem em estrutura e função não é imposta pelo meio ambiente, mas estabelecida pelo própriosistema”. Os principais fenômenos dinâmicos deste sistema são a auto renovação, capacidade derenovar e reciclar seus componentes sem perder a integridade, e a auto transcendência, habilidadede aprendizagem, desenvolvimento e evolução. Na biologia, surge a idéia de “Biologia Sistêmica”, que encara os organismos como seres
 
vivos que não vivem isolados, mas sim interagindo constantemente com o ambiente em que estáinserido. Até mesmo dentro de cada organismo existem sistemas interagindo. O principal exemplo éo metabolismo, o qual permite que o organismo permaneça em um estado de “não equilíbrio”, pois para atingir a homeostase o organismo fica em constante atividade. Neste caso a homeostase não éum estado de equilíbrio, mas sim o fato de manter a mesma estrutura apesar de condições adversas.Outro mecanismo regulador é o
 feedback 
. Este, através da realimentação, faz a coordenação e ocontrole dos processos metabólicos. É assim que é controlada a temperatura corporal, a pressãosangüínea e outros fatores biológicos. Juntamente com o processo de auto renovação, o objetivo doorganismo é manter-se operante, ao contrário de uma máquina que se tiver uma de suas peças comdefeito não irá trabalhar.Uma das características dos organismos é o de adaptação. Três fenômenos são usuais: oestresse, onde as variáveis são deslocadas a valores extremos; a mudança somática, formação degostos e hábitos; e a mudança genotípica, que ocorre na constituição genética do organismo e leva auma mutação. Nesta ordem, estes modos de adaptação caracterizam-se pela crescente flexibilidade edecrescente reversibilidade.O ecossistema em que estamos inseridos é a biosfera Sistema esse com vários níveis deorganização em constante sinergia. A maioria dos organismos inseridos em ecossistemas, já sãosistemas de alta complexidade. Alguns exemplos são os vírus e bactérias, as colônias de insetos, ascorais e o próprio ser humano.Os vírus são o maior exemplo de interação organismo/meio, pois fora de células vivas estãoem estado de latência e não são considerados seres vivos neste estado, apenas um conjunto desubstâncias químicas. As relações simbióticas são mutualmente vantajosas para os associados. Umexemplo são os corais, que por muito tempo pensou-se ser um organismo apenas, mas que naverdade surgiram de colônias de bactérias, plantas e animais. As abelhas, vespas e formigas sãoanimais sociais. São tão dependentes uns dos outros que não conseguem sobreviver isoladamente.Apesar de não terem muito poder sozinhos, quando estão em comunidade adquirem uma complexainteligência coletiva e capacidade de adaptação. Existem, também, bactérias que acoplam-se àsraízes das plantas e ficam quase indistinguíveis. Há outras que habitam a flora intestinal e auxiliamna digestão dos animais.A tendência natural dos seres vivos é viver em comunidade e em níveis de organização. Ossubsistemas são formados por organismos relativamente independentes e menos complexos que osistema maior. Os sistemas estratificados são os mais difundidos na natureza, por terem maior capacidade de sobrevivência no caso de situações adversas, do que os não estratificados, pois podem decompor-se em vários subsistemas sem ser completamente destruídos.O modelo de organização proposto por Capra é o de uma árvore, pois a energia se distribui
 
tanto na forma ascendente quanto descendente “a maioria dos sistemas vivos exibem modelos deorganização em múltiplos níveis, caracterizados por muitos e intricados percursos não-lineares, aolongo dos quais se propagam sinais de informação e transação entre todos os níveis, tantoascendentes quanto descendentes. Foi por isso que inverti a pirâmide e a transformei numa árvore,símbolo mais apropriado para a natureza ecológica dá estratificação nos sistemas vivos. Assimcomo uma árvore real extrai seu alimento tanto através das raízes como das folhas, também aenergia numa árvore sistêmica flui em ambas as direções, sem que uma extremidade domine aoutra, sendo que todos os níveis interagem em harmonia, interdependentes, para sustentar ofuncionamento do todo.”A hipótese mais ambiciosa do escritor é a repeito da teoria de Gaia, a qual propõe que a vidada Terra é quem cria condições para a sua própria sobrevivência, ou seja, a Terra seria umorganismo vivo com todas as sua devidas características e Deus seria a sua mente, quem promove aauto organização dos organismos. Ela é um sistema complexo que apresenta as características deauto organização, como a auto regulação da temperatura, a composição química da atmosfera, asalinidade dos oceanos. Obedece também a teoria holística, suas propriedades e atividades não podem ser previstas com base na soma de suas partes. Um aspecto que confirma a veracidade destateoria é que um organismo não pode pensar unicamente na sua sobrevivência e esquecer do meio eé por negligenciar este aspecto estamos sofrendo as conseqüências de não dar a devida importânciaà natureza.A adaptação evolucionista segue a linha da auto transcendência, que além dos aspectosdarwinianos - mutação, estrutura do DNA, reprodução e hereditariedade -, considera a criatividadecom um importante aspecto para explicar a sobrevivência e evolução dos organismos. Segundo aTeoria Clássica , a evolução caminha ao encontro do equilíbrio e a adaptação ao meio. A visãosistêmica considera o próprio meio um ser vivo capaz se sofrer modificações. Não existe umafinalidade neste processo, pois ambos os sistemas são autônomos e imprevisíveis. Essa co-evoluçãodo meio foi negligenciada pela visão clássica, que se focou apenas nos processos lineares.O cérebro humano é outro exemplo de sistema complexo que possui subsistemas. Cada umdos seus hemisférios é um subsistema quecomanda o lado oposto do corpo e estão intimamenteligados aos neurônios, músculos e ossos. O cérebro, ao contrário dos neurônios, está em constanteauto renovação. Nunca se desgasta ou esgota; ao contrário, quanto mais o usamos, mais informaçãoe conseqüentemente mais poder obtemos.A espécie humana, juntamente com a evolução, desenvolveu um pensamento coletivo e umacultura muito forte. Assim, as características biológicas e culturais não podem ser separadas. A fimde se adaptar as mudanças, o homem usou a consciência, o pensamento e os símbolos paradesenvolver sua evolução cultural.
 
Para Capra, a cultura oriental já conhece a séculos estas teorias, que ainda são vista com umcerto preconceito no ocidente, assim como tudo que é novo. É esse o ponto de mutação proposto pelo autor, o momento de transição entre os paradigmas dos “dois mundos”. Não só na partecientífica, mas também na pedagógica a visão sistêmica deveria ser integrada. Passamos anos naescola aprendendo fragmentos das matérias, mas não temos capacidade de reunir, analisar e chegar a conclusões a respeito desses conceitos.
Para Capra, a cultura oriental já conhece a séculos estas teorias, que ainda são vista com umcerto preconceito no ocidente, assim como tudo que é novo. É esse o ponto de mutação proposto pelo autor, o momento de transição entre os paradigmas dos “dois mundos”. Não só na partecientífica, mas também na pedagógica a visão sistêmica deveria ser integrada. Passamos anos naescola aprendendo fragmentos das matérias, mas não temos capacidade de reunir, analisar e chegar a conclusões a respeito desses conceitos.

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