Democracia - Representação versus Delegação

U N I VE R S I D AD E DO O ES T E DE S A N T A C A T AR IN A \u2013 U N O E S C ANA C LA R A C H I N A T O WE I S SHE I ME R C ARO L I N A R O M A N MEN E G H INI H EL EN DE O L I VE I R A R ODR IG U ES KA LY A N E SA V A R I S D A S I LVA R EP R E S ENT AÇ Ã O VE R S U S DE LE GAÇ Ã O : o pr ob l e ma da dem oc raci a n o Brasi l (e n a Amér i ca La t i n a) JO A Ç AB A / S C 2016 R EP R E S ENT AÇ Ã O V E R S US DE LE G A Ç Ã O : o probl e ma da dem oc raci a n o Brasi l (e n a Amér i ca La t i n a) C l au d e Lefo r t d e f i n e a d e mocr aci a co m o u m si st ema de co n sta nt e i n v e n çã o\u201d . C on ce i t u á - la é qu a se i mposs í v el , m as em se n t i do am plo, é u m si st ema pol ít i co on de o pode r é ex erci do pelo po v o por inter médi o do suf rági o un i v e r sa l (apro v a ção o u adesã o). Str eck e Mor ai s ( 20 14, p. 115 - 116) afirm am qu e o processo d emocr ático nun ca m ostr o u - se a pa r tir de u m dese nv ol v i me n t o l i n e ar . M u i tas pr omessas f ei t as pel os f orm ul ado r es do i deá r i o democr át i co, n a p erspect i v a p r oce di ment al , n ão for am cu mpr i das ao l o n go do s an os, o qu e N orber t o B obb i o ch amo u de prom essas nã o cum pr i das . Se gu i n do essa l i nh a de pe n same n to, percebe - se e n tão q u e a de m ocraci a apresen ta di v ersas co n tr adi çõ es: \uf0b7 O s p r otago n i stas do j og o de m ocrát i co d e v eria m se r o s i n di ví d u os, mas o q u e observ a-se é a c r i aç ão de gr u pos de i n t eresse ; \uf0b7 A organ i z açã o da soci eda d e tin h a co m o prin c í p i o teór i co ser cen t ra l i z ado (m odel o ce ntr í pe ta) , e n t re t anto o q u e o corr e u f o i a di spersão ( model o cen t r í f u g a ); \uf0b7 N a qu e st ão re l aci on ad a ao pod er pol ít ico , est i pu l a v a - se o fim das \u201c oliga r qu i as\u201d , porém el as aum e n t aram co n si derav e l me n t e ; \uf0b7 N o pri n c í pi o , a represe n tação da po l í t i ca de v eria ser li v re ( po der asce n d ente) \u2013 on de o rep r esen t a n t e po deria deci di r os i n t e resses da popu l ação se m r estr i ções. O q u e se caract e riz o u f oi o po der desce n den t e, n o q u al h á m u ita bu rocr aci a e l i mites a cerca d as escol h a s e ações do c h e f e pol ít ico ; entr e ou t r as. O qu e co n di ci on o u t ai s co nt rast es foi o qu e po demos ch ama r de obstáculos à democr aci a , como por ex e mpl o o próprio p r oce sso de democr ati z ação d a soci ed ade qu e , n a medi da q u e au me n ta v a a p art ici p ação so ci al , acei tav a qu e n ov as q u e st ões f ossem pr op ost as ao Estado , e est as n e m se mpr e eram respo n di das ade qu ad a e r ap i damen t e (da ma n ei ra e sperada), ca u sa n do fr agi l i dad es n o si stem a d emocr á tico di an t e d as fr u s tr ações con s t a n t es. Assi m, foi n e cessário ad ot ar a f ór m ul a d a con stit u i çã o de u m apa r ato b u roc r ático, o r gan i z ado v e r ticalm e n te \u2013 do al to pa r a bai x o, cont esta n do , assi m, o m odelo de de m ocraci a qu e se el ev a da ba se para o t opo \u2013 d a maio r i a para a mi n or i a (BOBB I O , 1 986 ap u d STREC K ; MO R A I S , 2 014, p . 118 - 119 ) . E ssas ad v ersidad es v e r i f i cad as n a de m ocraci a se inten si ficam qu a n do o pa ís emer ge de u m a di tadu ra m i l i t ar , o q u e oco r re u em q u a n tida des co n si d eráv e i s n a América Latin a , a t é m es mo n o Brasil \u2013 ap r esen t a n d o se qu e las ai n d a v i s ív e i s at u a l m e n te . N o de cor rer d a m u da n ça de um r egi mes po l í t i co pa r a o ut ro s u r ge u m a gran de i n st abi lida de, n a qu a l se qu estion a se h a v erá ê x i t o n o n o v o model o ou n ão. É u m processo de d úv i da e receio . Embasad o n essas p r e mi ssas, o ci e n t i st a po l ít i co arge n tin o G u i l l erm o O\u2019 D on n e l l dese nv o l v e u u m a rt i go em 1991 . Nesse t e x t o , e n f a tiz o u o s u r gi me n to da democr aci a adv i n do da qu e da d e si st emas di tat oriai s, caract eriza n do o qu e el e ch amo u de u m n o v o m od e l o democrát i co, a \u201cdemocr aci a de l egati v a ( ?)\u201d \u2013 t í t u l o de seu tr aba l h o. P ara f u n d a ment ar e v a l i d ar su a t ese , O\u2019 D on n e l l dese n v ol v e u u ma série de argume n t os: a) A ins talaç ão de u m g o v e rno d emoc r at ic ame nt e eleito a bre c am i nh o p ar a uma " s eg und a t ra nsi ç ão " , pr o va v elme nte m ais d emo ra da e a t é m esm o mais c omple x a q ue a t ra ns iç ão d o re gime a utor it á rio . b) Es p er a -se que ess a s e g un da tra ns iç ão seja d e u m g o v e rn o de moc r at ic ame n t e eleit o pa ra u m re gime d emo c r átic o ou , o qu e é eq ui v al en t e, pa ra u ma d emocr a c ia ins ti t uciona li z a da c onsoli dad a. c ) N ada g a ra nte qu e es s a s egu nd a t r an s iç ão s er á f eit a: no va s de m oc ra c ias po d e m re gr ed ir p ar a o r egime auto r it ár i o , ou p o d em at o lar -s e e m um a s it ua ç ão f rá gil e i nc er t a [ . . . ] d) O el eme nt o de c i s i v o p a r a d e t er mi n a r o r esult ad o d a s e gu nd a t ra ns iç ão é o s u c es s o ou fracas s o n a c o n s t ru ç ão de um c o njun t o de inst it uiç ões de moc r át ic as qu e s e tor nem im p orta n t es po nt os decis ório s n o f l uxo d o po d e r p olí t i c o. e) T al re s ult a d o é f u nd ament alme nte c ond ic i o na d o p ela s p o lí t ic as pú blic as e pe las es t r até gias pol í ti c as de v ár i os age ntes , qu e inc o rp or em o re c on hecim e nt o de um int er ess e s up er i or comum n a tar e f a d e c o ns truçã o ins ti t uciona l dem o c rátic a. f ) [ . . . ] as de moc r ac ias d e le ga t i va s se f un d a m e nt am e m uma p re mi s s a bá s ic a: q u em gan ha a eleiç ão p resi de nci al é a utoriza do a g o v er na r o pa í s c omo lhe par ecer c o n ve ni e nt e, e, n a med i da em qu e as r el ações d e po de r exi s t en t es pe rmit am, até o f i n al d o s eu man da t o. O p re s id en t e é, as s im , a en c ar n açã o da na ç ã o, o pr inc ip a l f ia do r do \u201c In t e ress e maio r da naçã o\u201d , qu e c ab e a e le d e f i ni r. ( O\u2019 D ON NEL L , 1 9 91 , p . 2 - 3 a pu d S TRE CK; MO RAI S , 20 1 4 , p. 120 ). Assi m, para G u i l l erm o as i n stit u i çõ es como o Co n gresso e o Ju di ci ári o se t or n am empeci l h o s n a at u açã o do presi den t e el ei to a t ra v é s de v otação, poi s ele precisa prest ar co n tas , o q u e po r si só co ntr adi z a pl e n a a u t o rida de q u e recebe u ao se tor n ar repr ese n t a n t e do po v o . R essal ta ain da q u e c r i ses soci ai s e eco n ômica s f aci l i t a m e m u i to as pr open sões del egati v as \u2013 h á u m cen á rio i de al . O s presi den tes se el egem prom ete n do qu e i rão sal v ar o paí s , mas acaba m fr acassan do ou i n do p el o camin h o oposto, aca r re t a n d o u m cert o ci n i smo e desespero. I sso fica ai n da m ai s apare n t e u t i l i z an d o u m e x e mpl o real n o B r asi l: Saí d o d e u m a dita du r a, o p ri meir o p re s id en t e el eito \u2013 Fe rn an d o C oll or \u2013 ass umiu, c om p om pa e c i r c u nst ância, a mi s s ão d e s er o s al va d o r da p átria, aci ma dos pa rtidos p o lí t ic os . Seu ar gu m ento pa r a a t omad a d e r e mé dios amar go s \u2013 c om o o c on g ela m ento d e at i v os fin an c ei ros \u2013 e ra o de q ue f or a ele it o p o r t rin t a e ci nco milhõe s d e v o t os. S ua r el ação c om o C ong re s s o foi atra v és d e ac or do s ad ho c , ci rcu nst ân c i as q u e s e r ep eti r a m n os g o v er no s Fer n a n d o H en riq ue [ r ec o rdis ta em ediç ão de me did as pro v is óri a s ] e Lu la \u2013 o pr imei ro c a r ac t er iz ad o p el a c omp r a de vo t os pa ra a em en d a c on s t it uc ion al da r ee l eiç ão, e o s e g u n do, pel o esc ân dal o d o me n s alã o [. . . ] ( S TR E C K ; MOR A I S, 201 4, p. 123 ). Pa r a S tr eck e M orai s ( 20 14, p. 1 23), a de l egaçã o ( carát er h obb esi an o da democr aci a ) n ão de v e p rev a l ecer sobre a r eprese n tação ( carát e r l ockea n o da democr aci a ) , n ort e a n do -se em ex pe r i ên cia s j á co nh eci da s. É um po u co compl i cado, v i st o q u e a \u201cr eprese n tat i v i d ade\u201d en co n t ra d i f i cul da des pa r a se estabel ecer n o n osso paí s . A soci e dade em su a m ai ori a é de cl asse média ou i n f erio r , en t re t anto o s can d i dat os el ei t os, ge n e r a liz a n do, p r i ori z am a min o ri a (el i t i smo o u a r i stocr aci a) . N ão somen t e i sso , a di st rib u i ção do nú m e ro de car gos federai s é feita por E st ado , o q u e é u m ab su rdo con si d e r a n do q u e u m e l ei t or acrean o tem a mesm a represe n tat i v i d ade de 16 pau l i st a n o s v ota nt es. C ampilon go ( 19 87, p . 14 6 ap u d S T R E C K; M OR A I S , 2 014, p. 124 ) compl em e n t a o racioc ín i o dos de m ai s ci en t i st as po l í t i cos ci tados e f i n a l iz a en fa t i z a n d o qu e a repr ese n t ação pol ít i ca é u ma i n s tit u i ção em cr i se, pr i n ci p al me n t e em p a í ses o n de h á h i st óri cos de soci ed ade p at rimo n i alista e com i deai s bu rg u eses. D est art e, de v emos n os esfor çar para q u e possamos su p e rar esse s paradi gmas t radi ci on ai s, s u peran do assi m a crise de l e gi t i m i dad e po l í t i ca e soci al do di rei t o e da r ep r ese nt açã o po l í t i ca. M ed i an te os f at os arr ol ad os, co n co r da -se com as i dei as do s au t ores ex ceto ao fat o d e co n si derar em q u e o processo de t ran si ção de u m r egi me di tat orial p ara a democr aci a é o pr i n cip al m otiv o dos probl emas at u a i s. C on st a ta- se qu e r ea lm e n te h á u ma crise democr ática em paí ses d a A m éri ca Latin a e o Brasil é o n o sso maior ex emp l o, e n tr e t a n t o o qu e mais corr ompe o sistem a d emocr ático é a co r r u pção . S ão f ra u des em v otações, p ar lam e n tos el ei t os com r epre se n t ati v i d ade desp r op orcion al , escan dal osas v i olações da C on stit u i çã o, p r opi n a s para se m a n ter n o pod er , ent re ou t r os casos. É como se obser v a n a essê n ci a d e R o u ssea u , \u201c o h om em at é n asce bom, mas a soci e dade o corr ompe\u201d. N o j og o de m ocrát i co, o pod er so be a men t e d os soberan os, e est es i mp ul si on am o pa í s n o se n t i do r u i m, ocasi o n an do o decl ín i o da n açã o. Assi m, surge a descre n ça da pop u l ação , q u e acaba el ege n d o represe nt antes qu e se t i t ulam como sa l v adores da pá t ria, os p r og en i tor es d a mu dan ça . Essa t ra n sf or mação n e m se m pre oco r re. M u i t os p or fa l t a de m ed i das p ol í t i cas adequ adas e ou t ros por te rem se u po der de ação l i mitado. Esse ú lt i mo é um do s prin ci pai s a spect os da de m ocraci a represen tat iv a . N ele , h á o s doi s l ad os. D e u m , a real i dad e de o c h efe pol í tico n ã o po der agi r e a r ticular l i v re m ente e de ou t ro, apesa r da \u201c bu r ocraci a demasi ada \u201d , su r ge a \u201c ga r an t i a\u201d de qu e m od el o go v er n ame n t a l n ão v o l ta r á a se t o r n a r u m a di t ad u r a . D est a for ma, co n for me ad uz C a m pi lon go , a m u da n ça de v e i n i ci ar co m cad a u m . É m u i t o fáci l j u l gar o s pol ít i cos afirm a n do q u e a m ai oria deles, se n ã o todos, são corr u p tos \u2013 m u i tas v ez e s com a i n f l u ên cia da m í di a sen saci o n al i st a \u2013 , mas esqu ecemos de o l h ar o n osso m ei o mai s pr ó x i mo: n a fil a de u m ba n co t e n t a n d o f urá- la , pa gan d o al guma con ta e n ã o dev o l v e n do o tr oco qu e r eceb eu err ado , et c. Pe qu en as atit u des pa r a a l g un s, m as q u e co m cert e z a ref l et e m n a si t u ação e m qu e v i v emos. É o se n t i me n t o de i mp un i dade .

Democracia - Representação versus Delegação

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Ciência Política I

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