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1 ESTUDO DIRIGIDO DA DISCIPLINA Arquitetura da Segurança REFERÊNCIA: KARPINSKI, Marcelo Trevisan. Arquitetura contra o crime: prevenção, segurança e sustentabilidade. Curitiba: InterSaberes, 2016. Neste roteiro destacamos a importância para seus estudos de alguns temas diretamente relacionados ao contexto estudado nesta disciplina. Os temas sugeridos abrangem o conteúdo programático da sua disciplina nesta fase, e lhe proporcionarão maior fixação de tais assuntos, consequentemente, melhor preparo para o sistema avaliativo adotado pelo Grupo Uninter. Esse é apenas um material complementar, que juntamente com os vídeos e os slides das aulas compõem o referencial teórico que irá embasar o seu aprendizado. Utilize-os da melhor maneira possível. Bons estudos! Capítulo 1: A cidade e o crime. Para que as pessoas estejam nas ruas, é necessário que se sintam seguras, sem medo. Quando o cidadão diz que uma cidade é segura, ele quer dizer que as ruas das cidades estão livres de violência e de medo. E quando o cidadão deixa de frequentar as ruas, qual o perigo? Há então a possibilidade de um ciclo vicioso se estabelecer. As pessoas inseguras não vão as ruas; as ruas ficam vazias; a cidade começa a adoecer como um organismo que não é irrigado por “sangue bom”. Ambientes abandonados, depredados e com irrigação de “sangue contaminado”. Com isso, as pessoas que necessitam dos ambientes públicos para seus afazeres cotidianos, como trabalho ou lazer, evitam ir às ruas, pois se sentem ameaçados. E o medo se espalha. 2 Temos que distinguir os espaços públicos do privado, de modo que possamos estabelecer as áreas que necessitam de vigilância, assegurando que haja olhos atentos voltados para esses espaços o maior tempo possível. Contudo, podemos no questionar: como fazer as pessoas vigiarem as ruas que eles não querem vigiar? Não podemos forçá-los, pois isso deve ser um “trabalho” espontâneo. A vigilância é mais bem desenvolvida quando as pessoas participam do processo de maneira espontânea, sem saber, conscientemente, que estão fazendo o policiamento das ruas. Essa meta de manter as pessoas nas ruas pode ser atingida mais facilmente quando estas contam com uma maior oferta de comércio e serviços. Quanto mais serviços puderem ser buscados pelas pessoas numa determinada rua, maior ser atingida mais facilmente quando estas contam com uma maior oferta de comércio e serviços. Quanto mais serviços puderem ser buscados pelas pessoas numa determinada rua, maior será o deslocamento pelas calçadas do bairro, propiciando que a vigilância seja aumentada, bem como haverá o interesse dos próprios comerciantes em manter a localidade segura, o que fará diferença nos resultados. A grande praga da monotonia é entendida quando pensamos na falta de atrativos para que os pedestres caminhem pelas ruas da cidade. Ruas com comércio, casas com jardins bem cuidados, prédios com arquiteturas diversas são atrativos para que as pessoas estejam nas ruas, desloquem-se de um ponto a outro com maior frequência e encontrem-se em bares e praças para conversar. Ao contrário disso, ruas que não proporcionam atrativos são ruas sem pessoas, ruas vazias, o que pode propiciar o aumento da criminalidade pela não ocupação do espaço. Jacobs utiliza a expressão “praga da monotonia” quando se refere às ruas abandonadas e à atmosfera vazia que se estabelece numa região pela falta de atividades nas suas ruas, o que inclusive pode contaminar toda a cidade. Para que isso não ocorra, a autora sugere novamente a presença maciça de pessoas nas ruas. Ruas bem iluminadas têm seu valor, pois oferecem conforto e trazem mais confiança às pessoas que necessitam ou que querem andar por elas. Contudo, a escuridão ou a falta de luz não é a maior responsável pela grande praga da monotonia. A definição de ruas corredores, que não é a expressão que autora usou, mas se refere a uma espécie típica de ruas: os corredores dos condomínios habitacionais. Ao contrário do que pode supor o nosso senso comum, foi comprovada, naquele condomínio, a correlação direta entre a vigilância informal e a segurança urbana. Naquele edifício, especificamente, o projeto previu que os corredores não seriam apenas para a simples circulação, e sim ganhariam outros significados, passando a funcionar como pequenos pátios. Dessa forma, saguões tornaram-se locais de encontro e inclusive piqueniques foram organizados nas áreas comuns do prédio. A circulação por todos os espaços e a permanência de pessoas atraídas pela possibilidade de convivência agradável propiciariam a interação entre os 3 moradores, inibindo a presença de delinquentes e ajudando na conservação do ambiente. Para que uma cidade se mantenha viva, é necessário que suas ruas e calçadas estejam repletas de pessoas (...) para que isso aconteça, as ruas têm de ser atraentes, convidativas e oferecer benefícios claros às pessoas. Mas como gerar esse ambiente positivo? Construindo um ambiente plural em relação aos atrativos que as ruas, que compõem o bairro ou “distrito”, oferecem às pessoas. Quanto mais serviços puderem ser buscados pelas pessoas numa determinada rua, maior ser atingida mais facilmente quando estas contam com uma maior oferta de comércio e serviços. Quanto mais serviços puderem ser buscados pelas pessoas numa determinada rua, maior será o deslocamento pelas calçadas do bairro, propiciando que a vigilância seja aumentada, bem como haverá o interesse dos próprios comerciantes em manter a localidade segura, o que fará diferença nos resultados. O cenário que pode se instalar posteriormente, quando ocorre o processo de decadência de um bairro, é ameaçador. As palavras de Bondaruk (2015 p. 41) são as que melhor desenham esse possível cenário: As pessoas de bem se retraem cada vez mais dentro de suas casas. Crescem os muros e grades, o valor dos imóveis cai. Reduzem-se os investimentos da iniciativa privada naquela área. As pessoas começam a limitar a utilização do bairro apenas à condição de dormitórios. Os grupos de garotos, outrora apenas travessos, se transformam em gangues de vândalos e pichadores. Aumenta o número de roubos e furtos nas residências. Finalmente vêm os traficantes, estabelecem sua rede de “controle social” pelo crime e o medo do crime. As praças outrora cheias de vida, passam a ser um ponto de tráfico de drogas e reunião de gangues. Reduz-se drasticamente o investimento em pinturas de fachadas, ajardinamento e reformas: a imagem é de total decadência. As pessoas começam a se mudar. Há um mito nostálgico de que bastaria termos dinheiro suficiente (...) para erradicar todos os nossos cortiços em dez anos, reverter a decadência dos grandes bolsões apagados e monótonos(...). Skolnick e Bayley (2006) buscavam ideias e estratégias que, dentro dos departamentos de polícia norte-americanos, tiveram tido algum êxito na luta contra o crime urbano. De interessante para o nosso estudo, as pesquisas dos autores revelaram que o aumento do investimento financeiro não reduz necessariamente o índice de criminalidade. Os estudos indicam claramente que a proteção dever ser fornecida pelos próprios cidadãos, e que a ajuda destes é fundamental. Muitas vezes, a mídia exagera e a notícia acaba deturpando a realidade dos fatos, tais matérias sensacionalistas destroem o sentimento de segurança, pois alteram o comportamento diário das pessoas, principalmente de idosos. Com tais notícias, a 4 mídia acaba potencializando o estresse, levando o comércio a perder clientes. Isso acarreta a deterioração dos bairros e a sujeição das pessoas ao medo dos criminosos. A divulgação equivocada de notícias pela mídia e o atual conhecimento dos fatoresque influenciam a ocorrência de crimes em todos os locais do mundo pode causar no psique de muitas pessoas um temor excessivo. Mesmo que distantes do fato ocorrido, tais pessoas sentem receio de serem vítimas de algo semelhante. A expressão síndrome da violência urbana é utilizada para descrever o medo do crime, que surge como uma reação emocional relativa à exploração inadequada, principalmente pela televisão, dos atentados contra as pessoas, sejam eles de menor ou de maior repercussão e estejam perto ou não das pessoas. O medo difuso é o que mais determina o nível de insegurança da população. O medo difuso trata-se de ‘“achismos’” baseados em informações difusas, as quais não estão necessariamente ligadas aquela localidade ou comunidade. Medo concreto é o medo que é desenvolvido pelos cidadãos com base em dados factíveis. Há dois exemplos de medo concreto: 1. Uma pessoa sabe que em determinada rua ocorre o tráfico de drogas e, por isso, há a frequência de delinquentes naquela redondeza e é grande a probabilidade de um cidadão ser vítima de ação criminosa ao passar por ali. 2. Quando uma pessoa recebe ameaça real e iminente de um ladrão com a arma apontada para ela, o medo concreto fica confirmado. Capítulo 2: Criminalidade no território e no tempo. O meio urbano foi criado para atender às expectativas humanas de ajuda mútua e de negócios. Também não pode ser descartada a intenção de que servisse para a criação de certa civilidade. Com o avanço das civilizações, ocorreu a prevalência dos interesses econômicos aos interesses sociais, pois em alguns pontos das cidades, surgiram espaços de intolerância e incivilidade – também devido ao acelerado processo de urbanização, que, quando não planejado, vem acompanhado pelas carências sociais. Somam- se a esses problemas a criminalidade e a violência, que, no espaço urbano, tomaram relevância. Os fatores descritos acima estabelecem importantes mudanças de hábitos e costumes na rotina das cidades e cidadãos. Para compreendermos o crime, antes de qualquer coisa, é necessário que conheçamos algumas das suas causas, inclusive para podermos desarticula-las, pois, a prevenção é o melhor combate. (...) Sampaio (2007, p. 24) leciona que é possível “dividir as abordagens causais do crime em biológicas, psicológicas, sociológicas e situacionais”. Segundo Sampaio (2007), tivemos, na década de 1930, o surgimento das primeiras referências da explicação psicológica do crime, com os estudos voltados para quem o pratica, ou seja, o criminoso. Após as explicações psicológicas baseadas na figura do criminoso, Sampaio (2007, p. 24) relata que “as teorias sociológicas do crime surgem para romper com 5 a ideia de que o crime ‘nasce’ com a pessoa, marcando claramente a passagem do individualismo às causas sociais do crime”. Questões até então não esclarecidas pelas teorias biopsicológicas tornaram-se a sustentação da abordagem sociológica do crime, entre as quais estavam, conforme esclarece Gonçalves (2000, citado por Sampaio, 2007, p.24): como explicar as intensas variações nas taxas de crime, quer ao longo do tempo, quer entre os vários países, como explicar a sobre representação dos grupos desfavorecidos entre os criminosos detidos, como explicar o crime corporativo e dos poderosos, que políticas criminais podem ser prosseguidas se considerarmos que o crime é determinado biologicamente ou por uma estrutura de personalidade imutável. Ao falarmos em ecologia do crime, estamos nos referindo ao estudo de áreas nas quais ocorrem mais crimes. Essas áreas acentuam-se em meio urbano. (...) Entre as teorias que tentam explicar o fenômeno da ecologia do crime, uma das mais importantes é a teoria da desorganização social: A desorganização social refere-se à incapacidade das comunidades locais de fazer com que os seus moradores assumam valores comuns ou equacionem problemas comuns. A organização social de uma determinada comunidade depende do envolvimento da maior parte dos membros que a compõem em relação aos problemas públicos ali identificados. Na década de 1960, surgiram críticas à Escola de Chicago e à teoria da desorganização social. A única conclusão, segundo pesquisadores, que pode ser apontada, ainda com certa ressalva, é a de que a delinquência tende a aglomerar- se em áreas comuns, com características semelhantes, em que geralmente habitam as populações mais desprotegidas. Além da questão estética, conforto e adequação às necessidades das pessoas, o desenho dos espaços, ruas, praças, prédios e tudo o que compõe os espaços públicos e privados das cidades deve atender a um critério tão ou mais importante quanto aqueles: a segurança. A teoria da prevenção do crime através da arquitetura ambiental (PCAAA) e originalmente em inglês crime prevention through environmental design (Cpted), foi criada por Ray Jeffery em 1971, em seu livro Crime Prevention Through Environmental Design. O pesquisador deixou dois elementos importantes para a prevenção criminal: o lugar onde ocorre o delito e a pessoa que o pratica. Os elevados índices de criminalidade nos Estados Unidos levaram Newman a desenvolver estudos para buscar uma solução para esse problema (...), criando o “Defensible space”, espaço defensável. Para esclarecer o conceito de espaço defensável, Newman (1972, citado por Sampaio, 2007, p.30), expõe que se trata de um termo alternativo para a utilização de mecanismos – barreiras simbólicas e reais, definição de áreas de influência e melhoramento das oportunidades para a vigilância – que associados resultam num espaço controlado pelos residentes. 6 Um meio para reconstruir o espaço habitacional das nossas cidades, para que este espaço volta a ser seguro, e controlado não apenas pela polícia, mas também pela própria comunidade que partilha um espaço comum. Essa alternativa implica que o desenho urbano seja um importante fator causal em termos de criminalidade. São quatro os elementos do espaço defensável que atuam na criação de um espaço seguro: 1. Espaço físico: que pode determinar zonas de influência territorial, que transmitem uma noção de posse e, por isso, uma preocupação de propriedade entre os residentes. 2. Desenho urbano: que pode ser utilizado para desenvolver oportunidades de vigilância para os residentes e os seus agentes. 3. Design: que pode influenciar a percepção de um projeto, melhorando a imagem global em termos de isolamento e estigma. 4. Espaço envolvente: que pode ser severamente influente e afetar a segurança das iniciativas locais. Na teoria do espaço defensável, Newman deixa clara a intenção do controle do espaço, inclusive dividindo-o de maneira a escalonar sua utilização. Newman abordou a graduação tipológica do espaço: espaço público, semipúblico e privado. Rejeita a ideia de “fortaleza urbana”, pois obriga os residentes a refugiarem-se dentro das suas casas, impedindo o uso e o controle do espaço e, consequentemente, afastando por completo o sentimento de responsabilidade sobre a área que habitam. Para que as pessoas estejam nas ruas, é necessário que se sintam seguras, sem medo. Até mesmo quando se trata de pessoas estranhas à cidade, ao bairro ou à rua, temos que ter em mente que três características devem ser consideradas como principais: 1. Que haja a separação entre o público e o privado. 2. Que os olhos dos proprietários naturais do espaço estejam atentos. 3. Que as calçadas tenham número suficiente de pessoas transitando por elas. O livro Environmental Criminology, de Brantingham e Brantingham (1981), contribuiu para o surgimento do que hoje conhecemos como criminologia ambiental. Os autores deram início a uma nova abordagem para a criminologia ambiental, procurando novos padrões, afirmavam que o crime não dependeapenas da motivação dos delinquentes, pois estes são influenciados pelo meio urbano em que estão inseridos e também pelas oportunidades, como mobilidade, mapas mentais do local e, claro, pela distribuição das vítimas em potencial. Brantingham e Brantingham esclarecem que “para a criminologia ambiental, o evento criminal é definido como tendo cinco dimensões: espaço, tempo, lei, ofensor, alvo ou vítima. Sendo estes cinco componentes uma condição necessária e suficiente, a existência de apenas quatro componentes não constitui um incidente criminoso. A segunda geração Cpted acrescenta à abordagem inicial a coesão social, mobilidade e acessibilidade, características culturais, bem como o potencial social. Essa segunda geração torna a abordagem mais sustentável, alargando a sua intervenção ao contexto social específico de uma comunidade e às potencialidades 7 de um determinado território, Esse território deve ser concebido, não simplesmente para reduzir oportunidades para comportamentos indesejados, mas compreendendo as limitações e potencialidades de um território, aproveitando-as e promovendo os comportamentos desejados. A segunda geração da Cpted trouxe não só a determinação em diminuir as oportunidades para que os delinquentes cometam crimes, mas também a adequação do espaço para servir à comunidade de maneira que as pessoas possam frequentar os ambientes públicos. Para tanto, a Cpted é utilizada para melhorar as ruas, os parques, os edifícios, enfim, as cidades para o uso dos cidadãos. Capítulo 3 – Prevenção situacional do crime Fernandes e Fernandes (2002) orientam que a prevenção é sempre melhor do que a cura de uma doença: isso é um dogma para a medicina. Essa ideia pode ser aplicada ao crime. A palavra prevenção é usualmente utilizada para se referir ao ato de se antecipar as consequências de uma ação com o objetivo de evitar seu resultado. Estudos sobre hot spots devem receber especial atenção, pois, segundo Sherman (1995), devemos dar importância a questões como “Onde aconteceu o crime? ” da mesma maneira com que nos preocupamos com “Quem cometeu o crime? Sendo o conceito de hot spots, tendo em vista que os lugares em que ocorrem os crimes são determinantes para a prevenção destes, traçar estratégias adequadas é de especial relevância. “Nas estratégias de prevenção (...), deve-se dar uma especial atenção aos lugares onde o crime se concentra – o que os ingleses chamam de `pontos quentes´ (hot spots). Todo crime ocorre em determinado ambiente físico. Sabendo disso, estudiosos perceberam a necessidade de projetos de gestão dos ambientes onde há propensão de ocorrerem crimes. De maneira diversa aos teóricos da criminologia tradicional, a criminologia ambiental aborda outro foco: foca na prevenção ao crime, e não mais no criminoso. Podemos depreender que a teoria da escolha racional é composta por pressupostos que indicam os fatores que conduzem o delinquente a tomar uma decisão de cometer ou não o ato ilícito, são quatro os pressupostos apresentados na Teoria da Escolha Racional: O criminoso procura o seu benefício através do crime; Para o fazer, tem que tomar decisões e fazer opções, por mais rudimentares que estas sejam; Este processo de tomada de decisão é limitado pelo tempo disponível, pela acessibilidade da informação relevante e pelas capacidades cognitivas do indivíduo. Portanto, a racionalidade da decisão será quase sempre limitada, e não total. 8 Há grandes variações no processo de tomada de decisão (e.g., tempo, fatores considerados, etc.) entre diferentes momentos, diferentes crimes e diferentes infratores. A teoria da oportunidade é também conhecida como teoria das atividades cotidianas e rotineiras. Supostamente, o desenvolvimento econômico e o fato de as mulheres estarem a cada dia mais envolvidas com o trabalho fora de casa são fatores que contribuíram para o aumento da criminalidade, tendo em vista que as pessoas passam mais tempo com estranhos do que em suas próprias casas. Nesse panorama, há dez princípios básicos acerca da relação do crime com as oportunidades que são criadas e o facilitam, de forma a compreender a ligação entre o crime e a oportunidade, são eles: 1. As oportunidades desempenham um papel importante nas causas de todo o crime. A teoria da oportunidade aplica-se geralmente a crimes contra a propriedade, mas crimes mais violentos também podem ter origem em uma oportunidade favorável. 2. As oportunidades do crime são altamente específicas. Cada tipo de crime ocorre de maneira distinta: um assalto a uma loja de automóveis tem características distintas das demais de um assalto a uma banca de revistas. 3. As oportunidades do crime são concentradas no tempo e no espaço. As incidências do crime divergem pela hora do dia e pelo dia da semana. Determinados locais e horas do dia são mais perigosos do que outros. 4. As oportunidades do crime dependem dos movimentos e das atividades diárias. Nos deslocamentos para o trabalho ou para a escola, as pessoas podem fornecer oportunidades para os criminosos; inclusive a ausência das pessoas nas residências ou propriedades pode facilitar um delito. 5. Um crime produz oportunidades para outros crimes: a prática de um crime pode conduzir a outros, como, por exemplo, em um furto a residência em que os proprietários chegam ao domicílio durante o crime. Assim, o furto pode se converter em roubo, homicídio e outros tipos de violência. 6. Alguns produtos oferecem mais oportunidades para o crime. O acrônimo Viva: valor, inércia, visibilidade e acesso resume esse princípio: por meio da análise dessas variáveis, o criminoso sente-se mais ou menos tentado à ação criminosa. 7. As mudanças sociais e tecnológicas produzem novas oportunidades para o crime: Os criminosos se adéquam às novas tecnologias e estas passam a ser alvos de delitos, como, por exemplo, os celulares e notebooks. 8. O crime pode ser impedido reduzindo-se as oportunidades: Os métodos de prevenção reduzem as oportunidades para a ocorrência dos crimes. Inclusive, prevenir o crime é mais barato. 9. Reduzir oportunidades nem sempre desloca o crime: O crime nem sempre se desloca para outra localidade. Ele simplesmente deixa de ocorrer quando é reduzida a oportunidade para que ocorra. 10. O foco na redução das oportunidades pode produzir maiores declínios nos crimes. Focar na prevenção para que não existam oportunidades para a ocorrência de crimes produz um declínio considerável nos índices de criminalidade. A prevenção situacional deixa de lado o olhar que tradicionalmente se lançava sobre o infrator e a sua possível ressocialização e não se preocupa com as 9 motivações que levam o sujeito a delinquir. Segundo Karpinski, existem cinco técnicas principais de medidas situacionais para reduzir os crimes: As que aumentam o esforço da ofensa. As que aumentam o risco da ofensa; As que reduzem a recompensa da ofensa. As que reduzem as provocações para o crime. As que removem as desculpas para o crime. Torrente comenta que: Para que possamos prevenir que um delito aconteça, temos de manter o equilíbrio entre os seguintes elementos: o ofensor motivado, o alvo apropriado e a ausência de um guardião capaz. Sobre o mesmo assunto, Torrente (citado por Carvalho 2005, p.9) traz outros três princípios: 1. Incrementar o esforço necessário para cometer um delito, 2. Minimizar as recompensas do delito 3. Aumentar as probabilidades. Capítulo 4 – Construção e manutenção de espaços seguros. Para Bondaruk: Países como a Inglaterra têm estudos avançados em relação ao design contra o crime e somaram à arquitetura conceitos de produtos com design adequados para evitar delitos. Quanto à arquitetura contra o crime,Bondaruk faz uma definição sobre a prevenção do crime por meio da arquitetura ambiental, ou seja, a prevenção do crime através da arquitetura ambiental, pode ser definida como todas as providências a serem tomadas, visando reduzir a probabilidade de acontecimentos de delitos, através de modificações no desenho urbano, aumentando assim a sensação de segurança. Empregar recursos adequados para a eliminação de barreiras visuais torna-se fator importante para melhorar o campo de observação a partir de edifícios. Materiais transparentes, grades, janelas e uma boa iluminação potencializam a vigilância natural. A vigilância natural é tradicionalmente classificada como: a) Organizada (exemplo: policiais em patrulhamento, guardas, porteiros, vigilantes). b) Mecânica (exemplo: iluminação, câmera, trancas, correntes, fechaduras). c) Natural (exemplo: janelas, portas de vidro, definição de espaço). No controle de acesso onde há transição de espaço privado para o semiprivado, há a necessidade de maiores cuidados na colocação adequada de cada barreira, sejam entradas ou saídas, sejam cercas ou muros, sejam espaços ajardinados e iluminação. O motivo, pelo qual, o controle de acesso torna-se mais complicado de empregar em espaços públicos, ocorre, porque esses espaços acabam carecendo de técnicas adicionais para cada caso concreto, como, por exemplo, barreiras psicológicas. As barreiras psicológicas podem ser utilizadas na forma de sinalização, placas de advertência, pavimento de diferentes texturas e cores, 10 vegetação, ou estruturas físicas. Todas essas medidas devem ser calculadas com zelo, tendo em vista que, ao limitarem as manobras do delinquente, podem também prejudicar a vítima, dificultando a sua fuga ou mesmo um pedido de socorro. Bondaruk (2015, p. 79 – 80) fala a respeito dos espaços determinados pela psicologia e pela cultura que os autores costumam denominar de zonas de distância, são quatro zonas de distância: 1. Zona Íntima: também chamada de zona imediata, vai de 14 cm a 46 cm de distância do nosso corpo. Nela, só pessoas com maior nível de intimidade podem penetrar, como cônjuges, pais, filhos, amigos íntimos e parentes. 2. Zona pessoal: de 46 cm a 1,20 m, é a distância em que pessoas ficam em reuniões sociais, como festas, atividades, coquetéis e reuniões de amigos. 3. Zona social: de 1,20 m a 3,60 m, é a distância que mantemos de estranhos, como um encanador que nos presta um serviço em casa, um carteiro ou o entregador de supermercado ou qualquer pessoa que não conhecemos bem. 4. Zona pública: mais 3,60m. Quando estamos na presença de um grupo maior de pessoas as quais não conhecemos, é nessa distância que nos sentimos seguros. A abordagem 3D trata da utilização do espaço e da sua adequada gestão. Conceitualmente são três os princípios implementados através da abordagem dos 3D: Designação, definição e design. Conforme orienta Carvalho (2015, p.39) apud Karpinski (2016) “é de se realçar o fato de terem surgido diferentes guias de boas práticas com base nos princípios enunciados no Cpted, e que apresentam diversas propostas de checklist a utilizar. O checklist é de uso bastante comum, o termo designa nada mais do que uma lista de checagem que utilizamos como garantia de que não esquecemos de algo importante em um determinado processo. Também pode ser utilizado para impedir que cometamos algum engano. A segurança de residências e condomínios segue, no tocante à arquitetura contra o crime, as mesmas noções que devem, como já comentamos, serem adaptadas para cada caso específico. Bondaruk (2015) acerca das linhas de defesa, ressalta que são três perímetros de proteção que estão localizados entre o que queremos proteger do delinquente. Sobre as linhas de defesa, os quatro elementos que a compõe são: 1. Cercamento: tão importante quanto portas e janelas, pode ser feito de muros ou grades, mas devemos atentar sempre para adequarmos os procedimentos mais vantajosos para o caso concreto em que aplicaremos o cercamento. 2. Concertina: feitas de metal, com aspecto de espiral, são geralmente colocadas sobre as cercas e muros. 3. Cercas elétricas: com a mesma função da concertina, porém utilizando energia elétrica, são geralmente colocadas sobre cercas e muros. 4. Eclusas: sistemas de portões compartilhados, em que há a abertura de um até o veículo ultrapassá-lo e somente após o fechamento do primeiro portão 11 o segundo é aberto, permanecendo o veículo e os seus ocupantes em uma espécie de “gaiola de segurança”. Outro conceito interessante ao nosso estudo, retirado do documento Capacitação em acessibilidade da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, está relacionado também ao design. O Desenho Universal significa a concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem utilizados, na maior medida possível, por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou projeto específico. O “Desenho Universal” não excluirá as ajudas técnicas para grupos específicos de pessoas com deficiência, quando necessário. Capítulo 5 – O papel da segurança e da sustentabilidade urbana A conferência nas Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio+20, trabalhou no desenvolvimento de objetivos e metas para implementar os objetivos de desenvolvimento do milênio. Na época, foi decidido que o processo dever ser intergovernamental e aberto a todos. Nessa ideia, foi aprovado o documento “Transformando nosso mundo: a agenda 2030 para desenvolvimento sustentável” que trouxe os cinco “P”. Tratava- se de um plano de ação que visava guiar as pessoas na busca da erradicação da Pobreza em todos os seus aspectos em direção da Prosperidade, da Paz, das Parcerias e da proteção do Planeta. Composto por 17 objetivos denominados objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), foram organizados em 169 metas. O autor selecionou 2 objetivos: Objetivo 11 = Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. Objetivo 16 = Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis. Capítulo 6 – Evitação do crime contra a vida Conforme o Código Penal temos no mínimo quatro crimes contra a vida: o homicídio, o suicídio, o infanticídio e o aborto. Ainda há de se verificar todos os desdobramentos e as agravantes desses delitos. Ainda em 2015, houve a inclusão do feminicídio, que é crime de homicídio cometido especificamente contra a mulher por razões da condição social do sexo feminino. O Transtorno de Estresse Pós-Traumático foi criado por militares que foram expostos a experiência de guerra. Ao retornarem do combate, esses militares não conseguiram retomar suas rotinas, apresentando transtornos psíquicos. O Transtorno de Estresse Pós-Traumático é um transtorno de ansiedade que acomete o indivíduo que tenha sofrido ou presenciado algum tipo de violência, gerando um trauma no mesmo. 12 Uma das causas para que este indivíduo venha desenvolver o TEPT é a violência, gerando traumas que podem prejudicar consequentemente a saúde mental dos indivíduos. Cerqueira (2016) traz uma importante análise sobre a vitimização fatal da juventude, pois situa a vitimização de acordo com a idade e o grau de instrução dos indivíduos. Os picos de homicídios ocorrem com homens de 21 anos de idade e demonstra que aqueles com instrução maior do que 8 anos têm menos probabilidade de serem vitimizados. Já as pessoas na faixa dos 21 anos de idade com menos de oito anos de escolaridade têm 5,4 vezes mais chance de serem vítimas de homicídios.
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