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Aula 18 - Rodrigues de Brito- Um Libelo Contra o Colonialsimo - Buescu M.

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(*) Libelo: pequeno livro, opúsculo. 
 
Rodrigues de Brito: um Libelo (*) contra o Colonialismo 
 Bruno Gabriel Witzel de Souza 
Mircea Buescu 
 
 Buescu ressalta a importância que o processo de Independência teve para o Brasil, contrapondo-se à idéia 
de que se passava de um sistema colonial legalmente estabelecido para outro que se diferenciava apenas por não 
manter o status quo (passando-se de Portugal para a Inglaterra). Assim, ressalta a importância que teve a primeira 
metade do século XIX para o país: é certo que aquele foi um período de estagnação econômica, conforme ressaltara 
Furtado, mas seria o ponto de inflexão para o aumento, na segunda metade do XIX (em função da produção 
cafeeira), de aumentos sucessivos na renda per capita nacional; demais, foi justamente nesta época que se 
começaram a consolidar perspectivas que mais tarde mostrar-se-iam relevantes para a história do país. 
 Assim, o autor é extremamente crítico em se enquadrar o processo de independência nos moldes marxistas 
de alteração revolucionária a partir das tensões inerentes ao sistema (ou seja, vai claramente contra o modelo de 
Fernando Novais). Para ele, faz-se necessário considerar um rol maior de possibilidades que não se enquadram nas 
contradições do sistema colonial. Por exemplo, o período de 1800-1850 foi marcado por importantes alterações 
intelectuais, sociais, políticas e culturais, para além das propriamente econômicas: formava-se uma elite intelectual, 
havia um contato maior com intelectuais europeus imersos nos ideais liberais, as novas idéias espalhavam-se mais 
rapidamente com uma imprensa nascente, o sistema educacional começava a ser padronizado, a introdução de mão-
de-obra européia tinha características de maior desenvolvimento técnico etc.; do lado sócio-econômico, podemos 
citar, por exemplo, a formação de uma classe média catalisada pela transferência da Corte, a abolição (ainda que 
truncada) do tráfico negreiro, a criação de novos quadros jurídico-econômicos (como o Banco do Brasil) e, 
principalmente, a consolidação cada vez maior da economia cafeeira. 
 O autor realiza, então, uma discussão da importância que teve a difusão dos ideais liberais no Brasil à época. 
Para tanto, fundamentar-se-á principalmente no opúsculo de Rodrigues Brito, que claramente evidencia o surgimento 
de uma elite intelectual mergulhada nos ideais do liberalismo clássico (sobretudo em Adam Smith) e que unia 
deliberadamente os conceitos de liberdade (em oposição aos séculos de colonialismo) e liberalismo. 
 Ainda que persistam na referida obra de Rodrigues Brito algumas características tradicionais (como a idéia 
de que a cultura da cana é “e será sempre o rumo mais importante” da economia), o texto marca profundamente a 
percepção que tinham da metrópole os coloniais: as “faltas de liberdades”, a limitação da produção industrial 
(fazendo referência ao decreto de 1875), as barreiras ao livre comércio e as disposições proibitivas são 
características apontadas como a causa do não desenvolvimento econômico brasileiro. A solução surge justamente 
na eliminação, total ou parcial, destes obstáculos. Assim, apesar de inicialmente cauteloso, Brito classifica como 
verdadeiros “furtos” muitos dos resultados das políticas metropolitanos. 
 Além disso, mostrando um panorama contrário à idéia de que o fim do tráfico negreiro decorreu apenas das 
pressões externas de uma Inglaterra então demandante de mercados cada vez mais amplos, está a defesa que Brito 
faz do fim deste tráfico: não se apóia em qualquer base moral e mostras-se realmente indiferente à escravidão 
enquanto instituição, mas afirma que esta é a causa principal da baixa produtividade do trabalho no país (ou seja, a 
remoção da escravidão tem por objetivo precípuo a melhoria das condições econômicas pelo aumento da 
produtividade daí decorrente). 
 Desse modo, “a sua oposição, em nome do liberalismo, aos entraves, impostos, controles, limitações e 
proibições, é a revolta disfarçada contra a política colonial. As liberdades que ele pleiteia, em nome da nova doutrina, 
implicam no abandono dos próprios fundamentos do colonialismo, sobretudo nos seus moldes mercantilistas”. 
Rodrigues Brito, escrevendo ainda em 1807 (ou seja, antes mesmo da transferência da Corte) é o reflexo claro de 
uma nova perspectiva surgida na colônia, a qual desempenharia papel fundamental no processo de independência e 
que consolidaria as posições assumidas pela nação recém-independente no período crucial de 1800-1850.

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