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Resumo Crise de Estado - José Luiz Bolzan de Morais

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AS CRISES DO ESTADO E DA CONSTITUIÇÃO E A TRANSFORMAÇÃO ESPACIAL DOS DIREITOS HUMANOS
PARTE I - AS CRISES DO ESTADO
1. Crise conceitual. O poder como soberania
	A ideia de soberania caracteriza-se como um poder juridicamente incontrastável capaz de decidir e definir o conteúdo e a aplicação de normas, tradicionalmente tida como una, indivisível, inalienável e imprescritível. É aquela típica do Estado-Nação, onde sua estrutura é a base de um Poder centralizado, que exerce monopólio da força e da política, em um determinado território. Dessa forma, a soberania constitui, é constitutiva e constituída pela ideia de Estado-Nação ou Estado Nacional. A soberarina é a principal característica em um Estado Moderno.
	As ideias de soberania e de cooperação jurídica, econômica e social são atreladas em uma interdependência estabelecida entre os Estados-Nação. Os agentes econômicos, na visão de Bolzan, acabam por impor uma nova lógica às relações internacionais e, uma soberania descolada de qualquer vínculo, limitação ou comprometimento recíproco. 
O atual crescimento econômico e a autonomização desse poderio econômico, nos mostra que a economia está sobre o controle dos governos dos Estados Nacionais e, inclusive, de órgãos de caráter supra e internacionais, como por exemplo a ONU e a União Europeia.
O poder público, está condicionado e/ou submetido por agentes econômicos que não possuem visibilidade como os agentes políticos, impondo direcionamentos e sentidos à ação estatal, que “são reflexos dos “humores” de “instituições” fictícias”.
2. Crise estrutural. O fim do Estado de bem-estar social
Podemos olhar o Estado Contemporâneo através das mudanças impostas e realizadas pela incorporação da questão social, que atribui um caráter de função social, forjando-o como Estado Social.
Os processos de crescimento, aprofundamento e transformação das formas de atuação do Estado não beneficiaram somente as classes trabalhadoras com a garantia de determinados direitos, como também, possibilitaram a atuação em muitos setores, o que possibilitou investimentos em estruturas básicas que alavancaram o processo produtivo industrial.
A democratização das relações sociais significou a abertura de meios que possibilitaram “a quantificação e a qualificação das demandas por parte da sociedade civil, em especial, a incorporação de novos atores. As novas políticas sociais vinculadas aos direitos sociais são: regulação das relações de trabalho, seguridade social, educação, saúde, juros, política de transportes, infraestrutura industrial e urbana, câmbio, etc. Com o aumento da atividade estatal, aumenta sua burocracia, como instrumento de concretização dos serviços. De acordo com Norberto Bobbio, a democracia tem trajetória ascendente e a burocracia possui um percurso inverso, andam em caminhos opostos.
O caráter do Estado Social é caracterizado pela intervenção do Estado voltada à proteção e promoção do bem-estar social, a implementação de prestações públicas e o caráter finalístico ligado ao cumprimento de sua função social. 
Para Norberto Bobbio, o Estado de Bem-Estar Social, assegura como direito público o básico de habitação, renda, saúde, alimentação e educação. O Estado Democrático de Direito emerge como uma transformação/aprofundamento da fórmula, entre o Estado do Direito e o Welfare State - que é o Estado em que todos os cidadãos têm direito à proteção, onde a questão de igualdade e bem-estar são fundamentos para a atitude interventiva do Estado - ou seja, enquanto temos a tradicional questão social em voga, há sua qualificação pelo caráter transformador, que agora se incorpora.
2.1. As crises do Estado social
A institucionalização deste modelo, que pode ser o aprofundamento do liberalismo, como também sua reformulação ou, sua negação, tem como características crises, marchas e contramarchas, avanços e recuos, composições e rupturas. A crise pode advir do seu próprio desenvolvimento contraditório ou da reação de seus opositores.
 2.1.1 Crise fiscal
Por trás da maioria das críticas que se fazem e das propostas de revisão, tendentes a um retorno, parece que quem está por trás de tudo é a crise fiscal- financeira do Estado. Este é um ponto de não-retorno, ou seja, não se pode voltar as bases de um Estado mínimo incompatível com as demandas e necessidades de uma sociedade que expande cada vez mais, mas não significa que estamos sujeitos a ver minguadas ou revistas de algumas de suas características marcantes. É necessário supor que não existem respostas unívocas para os desafios colocados, devemos então, buscar pelos fundamentos da “falência” de Bem-Estar Social. Para superar as situações transitórias, para solução das quais este modelo de Estado Social fora elaborado, foram apontadas duas perspectivas: o aumento da carga fiscal ou a redução de via, diminuição da ação social.
2.1.2 Crise ideológica
	A partir de 1980 observou-se uma nova debilidade no Estado Social, que poderíamos chamar de uma “crise de legitimação”, estabelecendo dúvidas quanto as fórmulas de organização e gestão próprias do Estado de Bem-Estar Social. Assim, essa crise ideológica, patrocinada pelo embate entre democratização do acesso ao espaço público da política, oportunizando que, pela participação extensa, tenha-se crescimento significativo de demandas e, para além, tenha-se a complexificação das pretensões sociais, inclusive pelos perfis dos novos atores que se colocam em cena, também a burocratização. Então, continuamente, a demanda política se vê frustrada pela “resposta” técnica.
2.1.3 Crise filosófica
	A crise filosófica atinge os fundamentos do modelo do Bem-Estar Social. A crise mostra a desagregação da base do estado social e está calcada no seu fundamento da solidariedade, tornando o conteúdo tradicional dos direitos sociais, das estratégias de políticas públicas a eles inerentes, enfraquecidos. O projeto do Estado Social foi incapaz de construir um protótipo antropológico que lhe atribui o sentido, dessa forma sua base antropológica, procura dispor de agentes capacitados de uma compreensão coletiva compromissada e compartilhados de bem-estar no mundo. Não obstante, só se observou a transformação do indivíduo liberal em cliente da administração. 
2.2 O Estado social e enfrentamento de suas crises
Neste momento ocorre o enfretamento das crises e suas eventuais estratégias a serem adotadas. O projeto neoliberais/neocapitalista tem suas “preferências”. Nesse sentido, a inviabilidade da permanência da ordem de bem-estar é buscada através de um discurso econômico. A discussão sobre a (in)eficiência econômica do modelo não é suficiente, isso porque ele projeta mais que um arranjo econômico/contábil. Aparentemente, por trás da moldura social surge um projeto social de rearranjo das relações intersubjetivas que está calcado tanto no consenso democrático quanto na ideia de um viver comunitário. 
Por outro lado, as transformações conceituais que atingem a compreensão tradicional da ideia de Estado, sobretudo no seu poder, podem acabar por trazer novas configurações mundiais, como novos atores. Também devemos levar em consideração, o aspecto da crise político-democrática.
Para enfrentar essa questão será dividido em três diferentes momentos: da Crise constitucional, da Crise funcional e da Crise política.
3. Crise constitucional (institucional). Política, Direito e Economia
	A Constituição, que é um documento jurídico-político, esteve sempre no meio das tensões e poderes. O que pode significar a sua mudança em programa de governo. Ao analisar o modelo Estado Constitucional, para além de sofrer os influxos de um processo de desterritorialização do poder, sofre também, de uma política de “colonização econômica”. Portanto, percebe-se que esse fenômeno que hoje está imerso em circunstâncias que funcionam como elementos desestabilizadores, funcionando como um instrumento de desconcentração do poder, além, dos conjuntos dos ideais revolucionários expressos na Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão.Sendo assim, nota-se que o constitucionalismo, se ressente, nos dias de hoje, seja pela fragilização daquilo que ele mesmo “constituiu”, o Estado, seja pela tentativa de apontá-lo como um instrumento que impede o desenvolvimento.
A crise constitucional mostra-se na linha primordial para esta discussão, desde fora, como processo de descontitucionalização provido do neoliberalismo. Por fim, esse documento jurídico-político, conduziria as propostas a serem classificadas como componente da Constituição.
4. Crise funcional. A perda da exclusividade.
O Estado adotou a função tripartite quanto às atividades próprias do ente público, como uma estratégia de desconcentração do poder, que leva em conta três principais poderes, são eles: executivo, judiciário e legislativo. A Crise funcional, como é nominada, gera a referida perda de centralidade e exclusividade do Estado, o que pode ser sentido pelos órgãos incumbidos do desempenho de funções estatais. O caráter coercitivo seria próprio às decisões do Estado. Esta perda deve ser vista também pelos seus aspectos externos, no qual percebe-se a mudança no seu perfil clássico das funções estatais, onde a especialização é substituída pela ocupação. Desta forma, podemos apontar um pluralismo de ações e um pluralismo funcional. 
5. Crise Política (e da representação)
A representação política como mecanismo moderno da democracia é inalterada em um processo de rupturas, como a crise política. A democracia representativa tornou um instrumento incapaz de responder adequadamente a todos as pretensões, anseios, etc., o que conduz ao lugar adequado, ao jogo da política. 
Para a constituição efetiva de uma democracia representativa, diante dos quadros de enfrentamento do espaço público da política e de sua economicização, nota-se, o desaparecimento de reais alternativas de escolha, uma vez que se estabelecem um estereótipo desdiferenciarão de propostas, desidentificação de candidaturas etc., levando o cidadão a um processo de apatia política. 
O sistema político apoiado na ideia de representação política sofre de insuficiências para dar conta de um contexto de aprofunda transformação das estratégias e estruturas de poder.
Crises do Estado Contemporâneo - Quadro de resumo
	CRISES
	ESTADO
	ASPECTO
	REFLEXO (S)
	CONCEITUAL
	Moderno
	Território
Povo
Poder – Soberania
Direitos Humanos
	Público/Privado
Nacional
Local
Supranacional
“Extranacional”
	ESTRUTURAL
	Contemporâneo (Welfare State)
(Função social)
	Financeira (custos)
Ideológica
(Burocracia vs. Democracia)
Filosófica (individualismo/solidarismos)
	REFORMA DO ESTADO
	INSTITUCIONAL (Constitucional)
	Contemporâneo
	Constitucionalismo moderno
- Globalização
- Mutação
	Desconstitucionalização
Flexibilização
Desrespeito
Desprestígio prático (Dallari)
	FUNCIONAL
	Contemporâneo
	Função do Estado
Crise de identidade
	Legislativo:
Lex mercatória;
Direito inoficial;
Direito marginal
Executivo:
Assistencialismo
Jurisdição:
Fórmulas alternativas
	POLÍTICA
	Contemporâneo
	Democracia
Representativa
	Participação política
Representação
Sistemas partidários
Sistemas eleitorais
Apatia política
Novas fórmulas de democracia
Fonte: MORAIS, 2002.
PARTE II – DIREITOS HUMANOS E CONSTITUIÇÃO
1. Os Direitos Humanos
	Conforme Norberto Bobbio, os direitos humanos não vieram todos juntos, eles são parte da história e se formulam quando e como as circunstâncias sócio-histórico, político-econômicas são propícias ou referem-se à inexorabilidade do reconhecimento de novos conteúdos.
2. Direitos Humanos e Constituição
	A importância da Constituição é fundamental para o enfrentar o problema dos Direitos Humanos. O Constitucionalismo desempenhou e desempenha função fundamental para a garantia de parâmetros mínimos de vida social-democrática digna. Pode-se dizer que a Constituição nada mais é do que um acordo de vontades (pacto fundamental) políticas desenvolvido em um espaço democrático, que permite a consolidação histórica das representações sociais de um grupo, consolidando diversos fatores e seres que influem na construção de um espaço, de um bem-estar digno no mundo. 
2.1 O caráter eficacial das Normas Constitucionais relativas a Direitos Humanos
A discussão sobre essa eficácia ganhou contornos com o surgimento do constitucionalismo social, logo após a Constituição Mexicana (1917) e de Weimar (1919), quando entã,o os textos constitucionais fazem parte de normas de caráter premial ou jurídico, o qual agrega normas a definir objetivos a serem atingidos. As diversas normas que compõe a Carta Magna são classificadas quanto a carga eficacial.
Os direitos ditos fundamentais sociais, valores intrínsecos a uma ordem constitucional empenhada com os valores humanitários, logo, sua carga eficacial não deve ser objeto de concessões políticas ou tergiversação.
2.2 A concretização dos Direitos Humanos
Ao pensar na concretização do conteúdo dos Direitos Humanos, em especial os das últimas gerações, o enfrentamento deve ser feito através de duas diferentes perspectivas, não excludentes entre si: “pelo” Estado e “pela” Sociedade.
2.2.1 A concretização “pelo” Estado.
	Primeiramente, devemos pensar em uma vertente de concretização pelo Estado (verificar se o papel do ente público é estatal) para obter maior efetividade. A ação pública estatal deverá incluir além do reconhecimento do nível legislativo expresso ou implícito. Como uma produção legislativa ordinária de caráter implementante da norma superior. Ao falar das liberdades positivas, principalmente, a ação do legislador, é imprescindível que se inclua uma atuação promotora dos mesmos, a qual se funda em geral na ação executiva do Estado, colocando em prática conteúdos reconhecidos pelo direito positivo.
	A implantação dos Direitos Humanos, em especial os positivos, acarretam a necessária compreensão jurídica, fundamentada na prática comprometida e acende em uma teoria engajada, em que a constituição não seja percebida exclusivamente como uma folha de papel.
2.2.2. A concretização “pela” Sociedade.
É necessário refletir sobre a questão da concretização dos direitos humanos, a partir de uma perspectiva social. Ou seja, estratégias além daquelas já apontadas na seara jurídica, os atores sociais para verem materializados as políticas humanitárias.
PARTE III – O FUTURO DOS DIREITOS HUMANOS
1. Direitos Humanos e Constituição. De novo!
	A globalização econômica acarreta em uma radical mudança no perfil do Estado contemporâneo, em especial, no caráter soberano, que reflete na capacidade de auto-organização. A fragilização das estruturas estatais e a perda de sua centralização torna necessária uma reflexão sobre a questão institucional, uma vez que as constituições sempre foram o reflexo do poder soberano dos Estados Nacionais dotados de um território e de um povo. Com isso apresentaram o Estado-Nação como Estado Constitucional, visto que sempre estiveram superpostas.
Com a soberania transformada e minimizada, pode-se perguntar para onde se direciona o constitucionalismo. Essa soberania tem feito o Estado-Nação reformular a estrutura do seu direito positivo, rever sua política legislativa, redimensionar a jurisdição de suas instituições judiciais, etc..., o que muitas vezes aponta para a flexibilização do constitucionalismo. É necessária ainda a efetividade prática dos Direitos Humanos, através de múltiplos meios e lugares para torná-los concretos. No entanto, do que isso adianta se, diante do atual quadro da crise das instituições públicas as instâncias de regulação social estão enfraquecendo, não é suficiente falarmos do debate jurídico-positivo se não tivermos sua efetividade. 
2. As transformações da Constituição
	Deve ser revisitado um tema tradicional para teoria constitucional, mas que assume diferentes formas quando pensamos sobre: o papel da jurisdição constitucional e o desempenho pela função executiva do Estado. Segundo José Sánchez, ao longo do século XX ocorre uma significativa mutaçãono universo da constitucionalismo, no qual há um profundo aumento no papel da jurisdição constitucional e de seus produtos hermenêuticos. Isso se trata de uma constituição viva, que se transforma constantemente através de sua própria prática.
O direito constitucional tornou-se refém de uma lógica mercadológica da política, modificando as constituições em prolongamentos subservientes aos programas do governo rompendo com seu caráter estabilizante e sua pretensão sobre perenidade, proveniente do projeto liberal.
3. A desterritorialização dos Direitos Humanos e das Constituições. Um caminho dúplice.
	Além da Carta dos Direitos Fundamentais expressam no interior dos diplomas constitucionais e do caráter eficacial que lhe é atribuído, deve-se ter presente que, as constituições contemporâneas assumem a abertura expansionista. Pode-se acompanhar, nesse espectro, a conclusão de Oscar Vieira no sentido de que no caso da integração regional, não está ocorrendo apenas uma internacionalização, está ocorrendo também, uma constitucionalização do sistema regional sem a mesma força e intensidade.
REFERÊNCIAS
MORAIS, José Luiz Bolzan de. As Crises do Estado e da Constituição e a Transformação Espacial dos Direitos Humanos. 1. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002.

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