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. ESTUDO ACADÊMICO SOBRE AS CONDIÇÕES DA AÇÃO NO PROCESSO PENAL. ESTACIO. 2017

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ESTÁCIO FIC
DIREITO PROCESSUAL PENAL I
CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL E PRESSUPOSTOS DE DESENVOLVIMENTO NO PROCESSO PENAL
	
	ALUNO: FRANCISCO MAXSUEL GOMES DOS SANTOS
MATRÍCULA: 201407372874
PROFESSOR: ÉRLON ALBUQUERQUE
	27/03/2017
INTRODUÇÃO
			Ao partimos para uma análise mais íntima de tudo que há existente no mundo, desde sua materialidade consagrada em forma de globo terrestre, até mesmo pendendo em suas minúcias tão primorosas quanto expressivas, ao espetáculo da vida humana, dos organismos regentes neste planeta, tão rico em detalhes, quanto vasto em formatos. Daí podemos concluir, de plano, que toda essa matéria existente no planeta precede de premissas, e estas são infindáveis. Não existiria vida sem oxigênio, não cessaríamos a sede sem existência de água, luz não haveria se não houvesse trevas. Até mesmo este corpo celeste que chamamos de terra, estaria fadado a colidir com outro astro qualquer, inclusive o sol, caso a força da gravidade não a mantivesse firme em seu eixo angular. São condições imperativas, intransigentes, são as famosas leis naturais. Como não poderia deixar de ser diferente, o direito também possui as suas próprias exigências, não tão somente tratando-se de normas mandamentais, mas sim de pressupostos imprescindíveis para o escorreito e eficaz aplicação de suas normas. Assemelhando-se, pois, aos mandamentos nativos do universo. 
			O presente estudo se concentrará nas condições existentes para a propositura da ação no direito processual penal, em uma análise mais específica aos seus pressupostos subjetivos e objetivos, sendo que nestes últimos se subdividem em objetivos extrínsecos e intrínsecos. Em princípio será abordado as condições de sua existência, visto que na ausência de uma delas, haverá ferimento mortal na vivência da pretensão. Com isso, fundamenta-se a primordialidade do exame primário. Logo após, será abordado os demais requisitos, quais sejam subjetivos e objetivos, dos quais, via de regra, podem ser saneados pelo magistrado. Vislumbra-se, então, que somente com o escorreito atendimento em conjunto de todos os preceitos, como a ordem natural de tudo que nos cerca, ter-se-á efetivamente a subsistência para a ação penal. 
CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS 
		Nos primórdios da humanidade não existia o Estado o qual conhecemos com o poder uno de aplicar jurisdição, de forma que a punição a qualquer delito ocorrido só se daria se fosse exercido pela própria vítima, ou quem, data venia, "tomasse suas dores", a bem verdade poderia ser qualquer pessoa, desde sua família, até mesmo toda a tribo a qual pertencia. Aqui reconhecendo-se a clara autotutela. Era a supremacia do mais forte que incutia terror nos sujeitos propensos a delinquir, que aplicava sanções degradantes até mesmo mortíferas, sem processos legais e consagradas sob injustiças. 
		À medida em que o Estado fora se fortalecendo, consolidando-se como aplicador de sanções, a autotutela passa-se a não ser mais aceita, de maneira que as audiências se tornam públicas, e as condenações penais, por seus efeitos impetuosos sobre os direitos fundamentais do réu, como a vida, a liberdade e a propriedade, sofrem limitações acerca de quem poderá aplicá-las. A partir daí, é que há um chamamento do direito de punir para o Estado, que o condiciona a um procedimento em que são dados oportunidades para o estabelecimento de defesa do acusado. Para esse procedimento feito em contraditório dá-se o nome de processo.
		Torna-se imperioso ressaltar que agora o processo toma-se como premissa a condição de conceder às partes o pleno acesso à justiça. Porém, tal acesso não se torna perfeito somente com a possibilidade de ingresso em juízo, mas sim com o constante avanço em admissões de partes e causas pretendidas no feito, sempre em garantia da observância das regras estabelecidas para o devido processo legal, permitindo a participação plena e imaculada possibilidade de influenciar no convencimento do juiz na utilização efetiva do exercício do contraditório e da ampla defesa.
		Partindo agora para uma análise conceitual da Ação, pode-se afirmar que se trata de um poder de defender pretensões ativas em um processo jurisdicional, salientando que tal movimento é um direito consagrado de poder pedir ao Estado a efetiva prestação de sua atividade jurisdicional aplicado nos diversos casos trazidos para análise, e essa movimentação não se concentra sob as mãos do autor da ação proposta, podendo o mesmo feito ser movido em seu percurso pelo réu presente na demanda.[1: Trata-se de direito de ação, com destaque ao seu corolário princípio da inafastabilidade de análise de jurisdição que no ordenamento contemporâneo pátrio fora consagrado no artigo 5º, inciso XXXV da Constituição Federal de 1988.]
		Ao exercer o poder de agir, há uma solicitação de tutela estatal, e uma vez certificado o órgão capaz de prestá-la, este, de modo imprescindível, deve proferir uma decisão acerca da pretensão formulada pelo autor, resolvendo sobre a pretensão se deve ser declarada procedente ou improcedente, extraídas tais conclusões, obviamente, do mérito da ação. Mesmo assim, deve-se lembrar que o direito de formular ação ao judiciário se condiciona a determinados requisitos, visto que na falta de um deles, faculta, ou muitas vezes impede de modo absoluto, ao o órgão jurisdicional de decidir o mérito da demanda.
		Sobre os requisitos absolutos, destaca-se a análise das condições da ação, que sempre deve ser antecedente à decisão sobre o mérito, a vista que não atendidos, concretiza-se meio de impedimento a apreciação sobre os pedidos formulados. Contudo, se o magistrado acata a ação e profere decisão com julgamento de mérito, presume-se relativamente, que aceitou o mérito, reconhecendo o atendimento das condições da ação.
		De modo específico ao processo penal, convém registrar que além das condições gerais da ação que são aplicadas em todos os trâmites processuais deste estado pátrio, existem as condições específicas, também chamadas de especiais da ação penal. Destacando que essas condições genéricas são exigências em qualquer persecução criminal, já as específicas somente serão exigidas em determinados casos isolados. Dito isto, pode-se concluir, que se ausentes tais condições tanto genéricas ou específicas, a ação penal estar-se-á fadada a ser rejeitada.
DAS CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL
Inicialmente cumpre destacar que o nosso ordenamento pátrio não dispõe de modo específico à ação penalista acerca dos seus pressupostos de existência, de modo que a melhor doutrina sempre sugeriu, e na prática é como tem acontecido, a aplicação dos requisitos presentes na ação civil, hoje regulados pela Lei nº 13.105/2015, o nosso novo código de processo civil. Por isso, os mesmos preceitos para a sua existência são os utilizados na rotina processual civilista. 
Nesse ínterim, passamos agora a discorrer sobre as condições da ação penal e seus pressupostos, que podem ser assim dispostos como a possibilidade jurídica do pedido, o interesse de agir e legitimidade, contudo, torna-se oportuno lembrar que o novo código de processo civil não traz mais como pressuposto de existência a possibilidade jurídica do pedido, bastando ser atendidos o interesse e a legitimidade, nos termos do artigo 17 (CPC). Resta-se nítido que o novo regramento processual civilista adotou a teoria do binômio interesse-legitimidade. Agora que já se sabe quais são tais requisitos, passa-se à análise mais profunda de cada um. 
DA LEGITIMIDADE
	Ter legitimidade para propor a ação penal pode-se por assim dizer que é estar na adequada forma subjetiva da ação, quando o agente se mostra titular do poder de permanecer em um dos polos da demanda (legitimidade ad causam), quer seja no passivo, quer no ativo, decorrentes, via de regra, da titularidade da relação jurídica estabelecida entre os agentes antes da propositura da demanda ou pelo teor do fato ocorrido. A legitimidade ativa no processo penal em ação penal pública, éexercida pelo Ministério Público, visto a indisponibilidade do direito que o caso trata. Já na ação penal privada, o polo ativo é feito pelo ofendido. No polo passivo, a legitimidade pertence ao suposto ator do fato, que terá à sua disposição todo o arcabouço do devido processo legal e da ampla defesa e do contraditório do ordenamento pátrio. Portanto, visualiza-se que possuir legitimidade é um dos pressupostos essenciais para o escorreito seguimento do feito, tendo em vista que uma vez o agente não a possuindo, estará fadado a ter a sua pretensão extinta sem qualquer análise de mérito. Outro entendimento não poderia ser, levando em consideração que não há como se falar em defesa de teses, na veracidade dos fatos, se o agente não participou ou presenciou o ocorrido, e se não foi ofendido, deixando deste modo, o magistrado sem o mínimo de substrato fático para proferir julgamento. 
DO INTERESSE DE AGIR 
Ter interesse de agir pode ser definido como a possibilidade de se ter proveito ao se utilizar do sistema processual penalista. Se a partir de todo o movimento iniciado na ação penal, o agente poderá se vê satisfeito com o resultado que possa obter. A melhor doutrina cita que o requisito do interesse de agir se desdobra em um trinômio, quais sejam a necessidade, utilidade e a adequação. Dito isto, passamos a análise de cada um especificamente. Pode-se vislumbrar a ocorrência da necessidade quando não há outra forma de se mover a ação senão utilizando a ação penal, tendo em vista que não há outra forma de se impor uma pena ao ator do delito sem a ocorrência de todas as fases do devido processo legal. 
A utilidade pode ser entendida como o teor da resposta que pretensão poderá trazer ao autor da ação, se será proveitoso, trará mais benefícios ao agente e por isso o satisfaz. Sem que haja tal utilidade presente na movimentação da ação penal, obviamente todo percurso do feito será inútil para o agente titular da pretensão, havendo, pois, uma clara ausência de interesse em propor a ação penalista. 
O requisito de adequação se mostra atendido quando se vislumbra que a utilização do meio escolhido pelo agente é capaz de satisfazer a sua pretensão, ou seja, a condenação do réu e a consequente aplicação da sanção. 
Isto posto, vislumbra-se atendidos as condições da ação quando são verificados facilmente na demanda cada um dos requisitos já expostos. Sob pena de ser derrogada a ação proposta sem a resolução de mérito. 
CONCEITO DOS PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
Em princípio convém destacar que os pressupostos processuais, valendo-se de toda a sua completude, são exigências obrigatórias à existência e validade da relação processual, assim como bem preleciona o mestre J.J. Calmon de Passos, os pressupostos possuem diferenças com os requisitos pois os primeiros são "supostos prévios e anteriores a serem satisfeitos, com vistas à existência ou validade de um ato ou de um negócio jurídico, relação jurídica ou situação jurídica", já os segundos "condição a ser previamente satisfeita para alcançar um certo fim preestabelecido na norma". Os pressupostos podem ser classificados em subjetivos e objetivos extrínsecos e intrínsecos, sendo que os primeiros têm relações específicas com as partes presentes na relação jurídica processual, estabelecida na forma triangular entre juízes e partes, quanto aos segundos, diz respeito a validade dos atos executados durante todo o trâmite do processo que devem ser em consonância estrita ao que dispõe a lei e a observância de possíveis fatos impeditivos. [2: J.J Calmon de Passos. 2014. Livro: clássicos- A Ação no Direito Processual Civil Brasileiro ]
DOS PRESSUPOSTOS SUBJETIVOS
Os pressupostos subjetivos podem ser definidos como exigências impostas estritamente as partes que irão permanecer na demanda, com o fito de torná-las legítimas na integração dos polos da ação, quer sejam nas condições postulatórias, defensivas ou julgadoras. 
De modo inicial, torna-se primordial a observância do atendimento das condições de ser parte, de estar em juízo e de poder postular. Na primeira exigência é necessário a constatação da possibilidade de contrair direitos e obrigações, podendo ser pessoas naturais, jurídicas ou formais (aqui sendo espólio ou massa falida), salvo, órgãos que não possuem personalidade jurídica.
No que diz respeito a capacidade de estar em juízo é a certificação de que a parte pode exercer direitos e deveres processuais, que está apta a executar seus próprios direitos e vontades, sem qualquer necessidade de representação. Exclui-se aqui os absolutamente incapazes e os relativamente incapazes (Arts.3º e 4º do código civil) que deverão ser representados por seus pais, tutores ou curadores; e assistidos por seus representantes legais, respectivamente. 
O poder de postular em juízo é exclusivo aos advogados que representam as partes, sendo requisitos essencial para propositura e prosseguimento do feito, salvo em casos específicos presentes na justiça trabalhista, nos juizados especiais e na impetração de habeas corpus (Art. 654 do CPP) 
Ademais, se faz necessário lembrar que é pressuposto subjetivo o juiz ser competente para apreciar a pretensão, ou seja, possuir jurisdição cabível para proferir julgamento ao caso. A competência no código de processo penal, Decreto Lei nº 3689/1941, é disposta nos artigos 69 a 91 da aludida norma processual. Com essa observância é atendido o pressuposto do juiz natural que detenha jurisdição imposta conforme a lei. Acrescente-se, ainda, que é pressuposto subjetivo a imparcialidade do magistrado. O mesmo deve decidir a lide estabelecida de forma justa, sem pendências ou pressões externas por ocasião de amizades, parentesco ou qualquer outra vinculação com uma das partes. 
DOS PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS DA AÇÃO PENAL
	Os pressupostos extrínsecos da ação penal, também podendo ser chamados de pressupostos processuais objetivos extrínsecos, podem ser definidos como a verificação precedente acerca de possíveis impedimentos que podem obstar a propositura da ação penal, quais sejam a ocorrência de litispendência, de coisa julgada, perempção e de convenção de arbitragem. Isto posto, passa-se à sucinta análise específica dos mesmos. 
Litispendência ocorre na duplicidade de ações idênticas a outra que já está em curso.
A Coisa julgada se vislumbra quando há impossibilidade de rediscutir a lide já resolvida por decisão que não caiba mais recurso.
Ocorre a Perempção ao verificar-se a nítida perda do direito de propor ação por sujeito que por três vezes deu causa à extinção do processo por abandono de causa.
O Compromisso arbitral faz referência a negócio jurídico processual entre direitos patrimoniais disponíveis, quando é afastado a apreciação do magistrado sobre o compromisso firmado. Torna-se perfeito com uma livre disposição entre as partes que nomeiam um foro de juízo arbitral para posterior julgamento de suas demandas.
	DOS PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS DA AÇÃO PENAL
	Dos pressupostos intrínsecos da ação penalista, também chamados de pressupostos processuais objetivos intrínsecos, podem ser entendidos como as condições que relacionam o procedimento à subordinação da lei e os objetivos do agente que devem estar dentro dos limites e adequadas à forma processual vigente. 
	Tais requisitos são a petição apta, a citação válida e o instrumento de mandato válido. Assim sendo, passamos então à análise mais específica de cada um deles. 
	A petição inicial é o instrumento utilizado pelo autor para dá início ao processo, devendo conter os requisitos que a lei estabelece no artigo 319 e seguintes do código de processo civil de 2015, para que assim seja concebível a relação processual sem vícios.
Com a eficácia da citação ocorre a integralização da demanda, fazendo o réu tomar conhecimento da ação que é movida contra si. Tal ato deve ser concernente aos critérios estabelecidos em lei para ser declarada válido e regular. O código de processo civil traz as possibilidades em que a citação poderá ser executada no artigo 246. Ainda quese tornem infrutíferas as tentativas de citar o réu, caso este compareça ao juízo espontaneamente, dar-se-á por citado.
	O Instrumento de mandato é requisito essencial para o advogado postular em juízo em nome de terceiro. Entende-se que o patrono que representa parte na demanda, em todo ato que praticar no percurso do feito, deve ser precedido da apresentação da respectiva procuração, sob pena de se ter declarados todos os seus atos como inexistentes. 
CONCLUSÃO
	Por todo o exposto no presente estudo, visualiza-se uma nítida imprescindibilidade de observância das condições exigíveis para se propor uma ação penal, bem como os seus pressupostos. Nota-se que atender tais exigências tornam-se necessárias para que todo o curso da pretensão seja escorreito, livre de vícios, quer sejam eles de vontades, quer sejam de qualquer maneira danosas as partes. A constatação de ausência de tais pressupostos aqui levantados em qualquer momento do rito, ainda que o feito tenha sido iniciado regularmente, não sendo suprida, e dessa maneira perdure com o vício, o Magistrado ficará impedido de prolatar sentença de mérito, tendo como consequência a extinção do processo. Aqui, mais uma vez, demonstra-se a importância de atendimento a todos os pressupostos. Conclui-se, por então, a lógica de todas essas exigências, qual seja fornecer a efetiva prestação jurisdicional, travestido sob a toga de um magistrado competente, a quem com ele se socorre.

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