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AULA6.doc Lições de Medicina Legal Dr. Aurélio Rodrigues TEMA: TRAUMATOLOGIA MÉDICO-LEGAL SUMÁRIO: TRAUMATOLOGIA MÉDICO-LEGAL: 1. Conceito, definição, classificação e importância. 2. Lesões corporais, classificação. 3. Energias lesivas: Classificação, meios, mecanismo de acção e características. Quedas. Conceito; definição; Classificação; características. Acidentes de viação. Classificação das lesões. Perícia médico-legal. A Traumatologia ou Lesionologia Médico-Legal estuda as lesões e estados patológicos, imediatos ou tardios, produzidos por violência sobre o corpo humano, nos seus aspectos do diagnóstico, do prognóstico e das suas implicações legais e socio-económicas. Trata também das diversas modalidades de energias causadoras desses danos. É um dos capítulos mais amplos e mais significativos da Medicina Legal, constituindo cerca da metade das perícias realizadas nas instituições especializadas. Seu maior interesse volta-se principalmente para as causas penais, trabalhistas e civis. A convivência no meio ambiental pode causar ao homem as mais variadas formas de lesões produzidas por alguns tipos de energias. Essas energias dividem-se em: a. Energias de ordem mecânica; b. Energias de ordem física; c. Energias de ordem físico-química; d. Energias de ordem química; e. Energias de ordem bioquímica; f. Energias de ordem biodinâmica; g. Energias de ordem mista. ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA As energias de ordem mecânica são aquelas capazes de modificar o estado de repouso ou de movimento de um corpo, produzindo lesões em parte ou no todo. Os meios mecânicos causadores do dano vão desde as armas propriamente ditas (punhais, revólveres) armas eventuais (faca, navalha, foice, facão, machado), armas naturais (punhos, pés, dentes), até os mais diversos meios imagináveis (máquinas, animais, veículos, quedas, explosões, precipitações). As lesões produzidas por acção mecânica podem ter suas repercussões externas ou internamente. Podem ter como resultado o impacto de um objecto em movimento contra o corpo humano parado (meio activo), ou o instrumento encontrar-se imóvel e o corpo humano em movimento (meio passivo), ou, finalmente, os dois se acharem em movimento, indo um contra o outro (acção mista). Esses meios actuam por pressão, percussão, tracção, torção, compressão, descompressão, explosão, deslizamento e contra choque. De conformidade com as características que imprimem às lesões, os meios mecânicos classificam-se: a. Perfurantes; b. Cortantes; c. Contundentes; d. Pérfuro-cortantes; e. Pérfuro-contundentes; f. Corto-contundentes. E, por sua vez, produzem, respectivamente, feridas punctiformes, cortantes, contusas, pérfuro-cortantes, pérfuro-contusas e corto-contusas. Não aceitamos as denominações feridas dilacerantes, corto - dilacerantes, perfuro - dilacerantes e contuso - dilacerantes pelo fato de não existirem instrumentos dilacerantes, corto - dilacerantes, perfuro - dilacerantes nem, tampouco, contuso - dilacerantes. As feridas, por exemplo, produzidas por vidro, lança, dentes ou explosão, ainda que venham a apresentar perdas vultosas de tecidos, não deixam de ser cortantes, pérfuro-cortantes, corto-contusas e contusas, correspondentemente. Lesões produzidas por acção perfurante As lesões causadas por meios ou instrumentos perfurantes, de aspecto pontiagudo, alongado e fino, e de diâmetro transverso reduzido, apresentam-se com graves repercussões na profundidade do corpo da vítima. Como exemplos mais comuns, apontam-se o estilete, a sovela, a agulha, o florete e o furador de gelo, os quais quase sempre actuam por percussão ou pressão, afastando as fibras do tecido e, muito raramente, seccionando-as. As lesões oriundas desse tipo de acção denominam-se feridas punctiformes ou punctórias, pela sua exteriorização em forma de ponto. Têm como características a abertura estreita; são de raro sangramento, de pouca nocividade na superfície e, às vezes, de grande gravidade na profundidade, em face desse ou daquele órgão atingido; e, por fim, sempre de menor diâmetro que o do instrumento causador, graças à elasticidade e à retractilidade dos tecidos cutâneos. As lesões produzidas nos órgãos profundos assumem forma de acordo com sua estrutura fibrosa, cartilaginosa, óssea etc. Nos órgãos constituídos de várias túnicas, como, por exemplo, o estômago, as lesões são orientadas em sentidos diversos: a serosa se mostra com a solução de continuidade alongada; a túnica muscular tem o ferimento em direcção às próprias fibras musculares; e, na mucosa, há uma terceira direcção, distinta das outras, Em seu trajecto, os instrumentos perfurantes podem produzir ferimentos que terminam em fundo de saco, numa cavidade, ou podem transfixiar um segmento, redundando assim em dois orifícios: um de entrada e outro de saída, além de um trajecto. A gravidade desses ferimentos depende do carácter vital dos órgãos e estruturas atingidos ou da eventualidade de infecções supervenientes. Sua causa jurídica é, na maioria das vezes, homicida e, mais raramente, de origem acidental ou suicida. Lesões produzidas por acção cortante Os meios ou instrumentos de acção cortante agem por um gume mais ou menos afiado, por um mecanismo de deslizamento sobre os tecidos e, teoricamente, por uma actuação de sentido linear. A navalha, a lâmina de barbear e o bisturi são exemplos de agentes produtores dessas acções. As feridas produzidas por essa forma de acção, preferimos denominá-las, embora não convenientemente, de feridas cortantes, em vez de "feridas incisas", deixando esta última expressão para o resultado da incisão verificada em cirurgia, cujas características são bem diversas daquelas das feridas produzidas pelos mais distintos meios cortantes. Essas feridas diferenciam-se das demais lesões pelas seguintes qualidades: a. Regularidade das bordas; b. Regularidade do fundo da lesão; c. Ausência de vestígios traumáticos em torno da ferida; d. Hemorragia quase sempre abundante; e. Predominância do comprimento sobre a profundidade; f. Afastamento das bordas da ferida; g. Presença de cauda de escoriação voltada para o lado onde terminou a acção do instrumento; h. Vertentes cortadas obliquamente; i. Centro da ferida mais profundo que as extremidades; j. Perfil de corte de aspecto angular, quando o instrumento actua de forma perpendicular, ou em forma de bisel, quando o instrumento actua em sentido oblíquo. Levando-se em conta que geralmente o ferimento começa e termina mais superficial, pela acção em arco já descrita, o centro da ferida é sempre mais profundo. Essa profundidade, entretanto, não é muito acentuada. É difícil um tipo de instrumento cortante capaz de alcançar órgãos cavitários ou vitais, excepção feita ao pescoço, onde a morte pode sobrevir pela síndrome de "esgorjamento" suicida, homicida ou, excepcionalmente, acidental. O diagnóstico diferencial é difícil, mas pode se dizer que no homicídio a profundidade da lesão é uniforme, enquanto no suicídio ela vai se tornando mais superficial à medida que se aproxima do seu término. No suicídio, tendo o indivíduo empunhado a arma com a mão direita, a ferida é oblíqua da esquerda para a direita e de cima para baixo. No homicídio, a ferida é transversal. As feridas repetidas falam em favor de suicídio, principalmente quando elas são paralelas e próximas umas das outras. A morte, nesses casos, se verifica por hemorragia, pela secção dos vasos do pescoço; por asfixia, devido à secção da traqueia e aspiração do sangue; e por embolia gasosa, por secção das veias jugulares. Se as feridas cortantes pudessem ser mostradas em corte sagital, teriam um perfil de aspecto angular, de abertura para fora, ou seja, bem afastadas na superfície e seu término em ângulo recto, numa legítima forma de V, isso quando o instrumento de corte age de forma perpendicular. Se, porém, o instrumento de corte actua obliquamente, sua forma é em bisel. O diagnóstico das feridas produzidas por acção cortante é relativamente fácil. A dificuldade pode se apresentar à distinção dos mais diversos instrumentos porventura utilizados. Uma questão de suma importância é a ordem das lesões que se cruzam. Como a segunda lesão foi produzida sobre a primeira, de bordas já afastadas, coaptando-se às margens de uma das feridas, sendo ela a primeira a ser produzida, a outra não segue um trajecto em linha recta (sinal de Chavigny). Esse facto não interessa apenas ao legista, mas também ao cirurgião, no sentido de suturar as feridas pela ordem de agressão. O prognóstico desses ferimentos é, em geral, de pouca gravidade, a não ser que sejam eles profundos e venham a atingir vasos ou nervos, e até mesmo órgãos, como no esgorjamento, levando a vítima, em muitas ocasiões, à morte. No tocante à causa jurídica das feridas cortantes, devem se levar em conta, entre outros dados, o número de lesões, as regiões atingidas, direcção, profundidade e regularidade. Aqui, ninguém pode esquecer as clássicas lesões de defesa — nas mãos, nos braços e até mesmo nos pés. Em tese, as feridas cortantes são mais acidentais e homicidas que suicidas. Dentro do conjunto das lesões produzidas por acção cortante, existe o que se chama de esquartejamento, traduzido pelo ato de dividir o corpo em partes (quartos), por amputação ou desarticulação, quase sempre como modalidade de o autor livrar-se criminosamente do cadáver ou impedir sua identificação. A redução do corpo a fragmentos diversos e irregulares, como nos acidentes ferroviários, denomina-se espostejamento. Essa ocorrência, no entanto, pode ser usada como forma de dissimulação para confundir com um suicídio ou um acidente, mas a perícia terá condições de evidenciar as características vitais dos ferimentos e outros achados que possam desqualificar aquelas situações. Lesões produzidas por acção contundente Entre os agentes mecânicos, os instrumentos contundentes são os maiores causadores de dano. Sua acção é quase sempre produzida por um corpo de superfície, e suas lesões mais comuns se verificam externamente, embora possam repercutir na profundidade. Agem por pressão, explosão, deslizamento, percussão, compressão, descompressão, distensão, torção, contra golpe ou de forma mista. São meios ou instrumentos geralmente com uma superfície plana, a qual actua sobre o corpo humano, produzindo as mais diversas modalidades de lesões. Essa superfície pode ser lisa, áspera, ou irregular. Geralmente esses meios são sólidos e, mais amiúde, líquidos ou gasosos. A contusão pode ser activa, passiva ou mista, de conformidade com o estado de repouso ou de movimento do corpo ou do meio contundente. É activa a contusão quando apenas o meio ou o instrumento se desloca. É passiva quando só o corpo humano está em movimento. As mistas também são chamadas de biconvergentes ou biactivas (quando o corpo humano e o instrumento se movimentam com certa violência). O resultado da acção desses meios ou instrumentos é conhecido geralmente por contusão. As lesões produzidas por essa forma de energia mecânica sofrem uma incrível variação. Entre elas, distinguem-se as seguintes variedades: Rubefação. Não chega a ser uma lesão, sob o ponto de vista anatomo-patológico, por não apresentar significativas e permanentes modificações de ordem estrutural, mas o é sob o ângulo da Medicina Legal. Qualquer alteração da normalidade individual de origem violenta interessa ao estudo e à análise técnico-pericial. A rubefação caracteriza-se pela congestão repentina e momentânea de uma região do corpo atingida pelo traumatismo, evidenciada por uma mancha avermelhada, efémera e fugaz, que desaparece em alguns minutos, daí sua necessidade de averiguação exigir brevidade. A bofetada na face ou nas nádegas de uma criança, onde muitas vezes ficam impressos os dedos do agressor, configura exemplo dessa tipificação lesional. Ao se restabelecer a normalidade circulatória regional atingida, desaparecem todos os seus vestígios. É a rubefação a mais humilde e transitória de todas as lesões produzidas por acção contundente. Escoriação. Tem quase como resultado a acção tangencial dos meios contundentes. Pode ser encontrada isolada ou associada a outras modalidades de lesões contusas mais graves. Tem pouco significado clínico, mas assume um valor indiscutível na perícia médico-legal. Define-se como o arrancamento da epiderme e o desnudamento da derme, de onde flúem serosidade e sangue. Simonin chamou-a de erosão epidérmica e Dália Volta de abrasão. Essa simples lesão epidérmica, que não traz um maior valor aos clínicos e cirurgiões pela sua irrelevante importância médica, tem, no entanto, para a Medicina Legal, um valor transcendente. Afirma Olympio Pereira da Silva, quando se refere à extraordinária importância para o médico legista de uma simples escoriação. "Vale, para este, como o ponteiro da bússola para o navegante indeciso; como o facho de luz para quem tacteia na escuridão; " (In Medicina Legal, Rio de Janeiro: Editora Liber Júris, 1974, pág. 94). Escoriação típica é aquela em que apenas a epiderme sofre a acção da violência. Quando a derme é atingida, não é mais escoriação, e sim uma ferida. A escoriação não cicatriza, não deixa marcas. A regeneração da área lesada é por reepitelização. Há o restitutio ad integram. Quando a acção atinge as cristas das papilas dérmicas, a crosta não é serosa, como na escoriação típica, mas de constituição sero-hemática ou hemática, seguindo-se a uma tonalidade amarelo-avermelhada até um final pardacento, quando a crosta vai se despregando, pouco a pouco, da periferia para o centro, deixando uma área despigmentada. Nas escoriações produzidas post-mortem, não há formação de crosta; a derme é branca nem serosidade, nem sangue de suas papilas. O leito da escoriação produzida depois da morte é seco, descorado e apergaminhado. Escoriação que deixa cicatriz não é escoriação. O único vestígio de recenticidade é uma mancha rósea, descorada, que desaparece em poucos dias. A idade de uma escoriação tem fundamental interesse médico-legal, e isto é feito através da observação cuidadosa do aspecto da lesão, da crosta e da coloração concernente ao tempo de reepitelização. A forma dessa lesão também tem importância pericial. Algumas vezes, o instrumento ou meio causador da escoriação deixa impresso, no corpo da vítima, sua identificação. Os saltos de sapato, as palmatórias e as unhas são exemplos dessa natureza. Podem ter a forma rectilínea, curva, sinuosa, curta, longa, em estrias, em faixas, em placas etc. A sede da escoriação não deixa de ter certa relevância na perícia da vítima ou do agressor, principalmente no que diz respeito à natureza da agressão ou da defesa. Escoriações ungueais ou rastros escoriativos ungueais, no pescoço ou em volta das asas do nariz, são importantes na suposição homicida. Nas coxas, nas mamas, nos genitais externos, nas nádegas, supõe-se atentado violento ao pudor. Outro elemento de realce é o número dessas lesões. Se múltiplas, em várias regiões e de formas diversas, levanta-se a hipótese de traumatismos sucessivos, como, por exemplo, nos atropelamentos. Lesões de formas idênticas, mesmo em regiões diferentes, pode-se pensar em sevícias. Mesmo que as escoriações sejam estudadas entre as lesões produzidas por acção contundente, a observação tem demonstrado que outros tipos de acção também produzem tais alterações. Assim, não constitui nenhuma surpresa ter sido uma escoriação produzida por pedaços de vidro, agulhas, pregos, farpas de arame, pontas de faca – peixeira, lâminas de barbear, unhas, entre outros. Equimose. Trata-se de lesões que se traduzem por infiltração hemorrágica nas malhas dos tecidos. Para que ela se verifique, é necessária a presença de um plano mais resistente abaixo da região traumatizada e de rotura capilar, permitindo, assim, o extravasamento sanguíneo. Em geral, são superficiais, mas podem surgir nas massas musculares, nas vísceras e no periósteo. Thoinot dizia que a equimose era uma prova irrefutável de reacção vital. Quando se apresenta em forma de pequenos grãos, recebe o nome de sugilação e, quando em forma de estrias, toma a denominação de víbice. As equimoses nem sempre surgem de imediato ou nos locais de traumatismo. Não é muito raro, nos traumatismos crânio – encefálicos mais graves, surgirem tardiamente equimoses palpebrais, subconjuntivais, mastóideas, faríngeas e, com menos frequência, cervicais. Uma contusão no terço médio do braço pode ocasionar uma equimose na prega anterior do cotovelo. Pode ela também ser de origem espontânea, mais comum nos braços e nas coxas das mulheres. A forma das equimoses significa muito para os legistas. Às vezes, imprime com fidelidade a marca dos objectos que lhe deram origem. Fivelas de cinto, saltos de sapato, estrias de pneus de automóveis (estrias pneumáticas de Simonin) e tranças de corda podem deixar suas impressões. A equimose de sucção, provocada pelo beijo, imprime, vez por outra, em regiões como o pescoço e o colo, a forma dos lábios, explicada pela diferença das pressões intra e extravasal, dando um aspecto de "violetas róseo - equimóticas". Quando a equimose é produzida por objectos cilíndricos, como bastões, cassetes, bengalas, deixa, em vez de uma marca, duas equimoses longas e paralelas, conhecidas por víbices, em virtude de o extravasamento do sangue verificar-se ao lado do traumatismo e não na sua linha de impacto. A tonalidade da equimose é outro aspecto de grande interesse médico – pericial. De início, é sempre avermelhada. Depois, com o correr do tempo, ela se apresenta vermelho-escura, violácea, azulada, esverdeada e, finalmente, armazenada, desaparecendo, em média, entre 15 e 20 dias, cronologia esta incerta, levando em conta as dimensões da equimose, sua localização e os próprios factores individuais. Essa mudança de tonalidades que se processa numa equimose tem o nome de "espectro equimótico de Legrand du Saulle". Em geral, é vermelha no primeiro dia, violácea no segundo e no terceiro, azul do quarto ao sexto, esverdeada do sétimo ao 10-, amarelada por volta do 12º dia, desaparecendo em torno do 15º o 20º O valor cronológico dessas alterações é relativo. As equimoses da conjuntiva ocular não sofrem essa sucessão de tonalidades em virtude de ser a conjuntiva muito porosa e de oxigenação fácil, não permitindo que a oxihemoglobina se transforme e se decomponha. Esta se mantém de colorido vermelho até sua total reabsorção. A sucessão das diversas tonalidades noutras regiões tem como explicação a transformação da hemoglobina extravasada das hemácias em hematina e globina. A primeira vai se reduzindo aos seus produtos finais de decomposição — a hematoidina e a hemossiderina. Essa variação de tonalidades se processa, na maioria das vezes, da periferia para o centro, até seu desaparecimento total. Há certas causas que retardam ou aceleram a absorção das equimoses. Na criança, é mais rápida que nos velhos. Será tanto mais lenta quanto mais extenso, mais profundo e mais abundante for o extravasamento hemorrágico. No morto, a equimose mantém seu colorido até surgirem os fenómenos putrefactos que lhe modificam as peculiaridades. A absorção dos pigmentos verifica-se por actividade fagocitária. Esse dado é importante à perícia, pois algum tempo mais tarde pode esse pigmento ser encontrado na rede ganglionar da região atingida, mesmo após o desaparecimento da equimose. Também pode ser realizado o estudo histológico da evolução das equimoses. Módica, em Viena, emprestou a maior contribuição a este aspecto. Observou que, nas primeiras 24 horas, presença de malhas de fibrina, infiltração hemorrágica, presença em qualquer lugar do corpo, sangue fora dos vasos, roturas de vasos e mais particularmente de capilares, sinais de transformação de hemoglobina e ausência de meta-hemoglobina. O livor hipostático mostra sangue não-coagulado, ausência de malhas de fibrina, ausência de infiltração hemorrágica, presença em locais específicos — é visível nas zonas de decúbito — , integridade de vasos capilares, sangue dentro dos vasos, ausência de transformação hemoglobínica, presença de meta-hemoglobina neutra e sulfídrica vista através da espectroscopia. As equimoses profundas mais habituais são as Petéquias pequeninas e arredondadas, vistas por transparência através das serosas das vísceras ou de certas regiões, como as equimoses subpleurais e subpericárdicas (sinal de Tardieu), ou no tecido subpalpebral, quando das asfixias mecânicas. Não confundir a hipóstase visceral com equimose. Sendo assim, o estudo das equimoses empresta um grande subsídio ao perito médico-legal. Sua tonalidade permite esclarecer a idade. Sua forma pode denunciar o tipo de instrumento que a produziu. E o local em que ela se encontra conduz a uma avaliação sobre a natureza da causalidade jurídica. Localização e o aspecto das contusões, como também sua multiplicidade, embora de valor significativo na conclusão de vários traumatismos, podem ter causas diversas. Balthazard foi, certa vez, chamada para examinar o corpo de um homem encontrado morto num bordel, onde passara a noite com uma mulher. Na manhã seguinte, ela fugira e o cadáver apresentava várias equimoses no lado esquerdo. A polícia pensou em crime. Após o mestre necropsiar o corpo, provou ter havido hemorragia cerebral com hemiplegia consecutiva. Cada vez que ele tentava levantar-se, caía sempre do mesmo lado: o da hemiplegia. E as equimoses nada mais representavam senão cada impacto do corpo nas tentativas de erguer – se. Hematoma. O maior extravasamento de sangue de um vaso bastante calibroso e a sua não-difusão nas malhas dos tecidos moles dão, em consequência, um hematoma. Formam-se, no interior dos tecidos, verdadeiras cavidades, onde surge uma colecção sanguínea. Pela palpação da região afectada, percebe-se a sensação de flutuação. O hematoma, em geral, faz relevo na pele, tem delimitação mais ou menos nítida e é de absorção mais demorada que a equimose. Pode também ser profundo e encontrado nas cavidades ou dentro dos órgãos, e, por isso, é chamado de hematoma intraparenquimatoso (intra-hepático, intra-renal ou intracerebral Bossa sanguínea. A bossa sanguínea diferencia-se do hematoma por apresentar-se sempre sobre um plano ósseo e pela sua saliência bem pronunciada na superfície cutânea. É muito comum nos traumatismos do couro cabeludo e é vulgarmente chamada de GALO. A. Forma da ferida contusa é quase sempre sinuosa ou estrelada, e mais raramente rectilínea, variando de acordo com a forma do instrumento, a região atingida e a violência da contusão. A irregularidade das bordas da ferida contusa é justificada pela acção brusca da superfície do meio ou instrumento causador da agressão. A ferida da pele é irregular, desigual, anfractuosa, serrilhada ou franjada. As escoriações em torno do ferimento ou nas bordas da própria ferida são justificadas pelo mecanismo de contusão por acção oblíqua ou perpendicular ao plano cutâneo. E as equimoses das bordas da lesão são de pouca monta em virtude do extravasamento do sangue, que sai para o exterior pelo próprio ferimento. O fundo da ferida é sempre irregular pela acção mais evidente dos planos superficiais e seu irregular mecanismo de agressão. As vertentes são irregulares, pois o meio traumático, atingindo de maneira disforme e não alcançando ele próprio a profundidade, torna essas margens irregulares. Não é muito raro existirem, entre uma borda e outra da ferida, pontes de tecido íntegro constituídas principalmente de fibras elásticas da derme que distenderam durante a contusão, mas não chegaram a se romper. Podem também surgir, nesses tipos de ferimentos, fragmentos de pele de dimensões várias ligados apenas a uma das vertentes. A retracção das bordas da ferida deve-se à reacção vital e é maior na pele e menor nos planos mais profundos. As feridas contusas são menos sangrantes que as cortantes, pois a compressão exercida pelo meio ou instrumento esmaga a luz dos vasos lesados, levando, por assim dizer, a uma hemostase traumática. O fundo da lesão sempre mostra vasos, nervos ou tendões que não se rompem devido à maior elasticidade e maior resistência desses elementos. Os ângulos da ferida, em número de dois ou mais, de acordo com a forma da lesão apresentam tendências à obtusidade. As características das feridas contusas orientam o perito sobre a direcção do meio ou instrumento lesivo, podem demonstrar se foram realizados em vida ou depois da morte, a forma do instrumento utilizado, a natureza da violência e, ainda, a suavidade e prognóstico. A causalidade jurídica desses ferimentos é sempre acidental ou homicida e, mais esporadicamente, suicida. As feridas contusas no couro cabeludo, além das características anteriores, apresentam o que Simonin chamou de erosão epidérmica marginal apergaminhada, em redor da lesão. Fracturas. Decorrem dos mecanismos de compressão, flexão ou torção e caracterizam-se pela solução de continuidade dos ossos. São chamadas de directas, quando se verificam no próprio local do traumatismo, e indirectas, quando provêm de violência numa região mais ou menos distante do local fracturado. Estas últimas têm como exemplo o indivíduo que cai de uma certa altura em pé e fractura a base do crânio por contra golpe. A fractura pode estar reduzida a um simples traço ou a vários traços. Ou, ainda, reduzida a vários fragmentos, tomando a denominação de fractura cominutiva Algumas vezes, é a fractura fechada (subcutânea) e, outras vezes, aberta (exposta). Quanto à sua extensão, dividem-se as fracturas em completas e incompletas. Nas crianças, pelo fato de terem o esqueleto mais cartilaginoso, pode haver apenas a deformação do osso sem fractura ou esta se apresentar de forma incompleta (fractura em galho verde) No que diz respeito à orientação das fracturas, elas classificam-se em: transversais, longitudinais, oblíquas, espiraladas, em hélice, em passo de parafuso, em vara verde, em T e em Y. Na produção das fracturas, incidem os seguintes elementos: violência da acção do agente traumático, local onde se exerce a acção e causas predisponentes. O diagnóstico da fractura deve ser orientado pela dor local espontânea e aumentada com os movimentos e pela palpação, redução dos movimentos, deformidades, execução de movimentos anormais, sensação pela palpação de ossos crepitando e, principalmente, pelos raios X. Por fim, pode ocorrer a desarticulação dos ossos da cabeça, na maioria das vezes acompanhada de fracturas, conhecida por disjunção crânio – facial e sempre motivada por grande impacto, principalmente quando o corpo humano é deslocado de encontro a um objecto parado, como nos acidentes de trânsito. Luxações. São caracterizadas pelo deslocamento de dois ossos cujas superfícies de articulação deixam de manter suas relações de contacto que lhes são comuns. São denominadas completas, quando as superfícies de contacto se afastam totalmente, e incompletas, quando a perda de contacto das superfícies articulares é parcial. Podem ser fechadas e expostas. As mais comuns são as luxações do ombro, do cotovelo, do joelho e do tornozelo. Entorses. São lesões articulares provocadas por movimentos exagerados dos ossos que compõem uma articulação, incidindo apenas sobre os ligamentos. Uma flexão intensa de uma mão sobre o antebraço, uma abdução mais brusca do polegar sobre o seu metacarpo, um pé mal-assentado no solo ou uma rotação mais violenta de um joelho são exemplos de causas capazes de produzir uma entorse. A sintomatologia mais comum é a dor intensa, ao nível da articulação atingida, que se exacerba com a movimentação activa ou passiva e pela palpação. Notam-se ainda perturbação funcional com redução temporária da função, tumefação, rubor local, movimentos articulares anormais e, às vezes, equimose ou hematoma da região lesada. Nos casos mais graves, podem verificar-se roturas de ligamentos, desinserções de ligamentos, roturas musculares, roturas de tendões, derrame seroso ou hemorrágico na cavidade articular, fracturas ósseas e até mesmo arrancamento de pequenas porções do osso que se prende a ligamentos. Em geral, seu prognóstico é bom, e, quando não existem complicações mais sérias, sua cura se processa de 10 a 15 dias, principalmente quando são tratadas correctamente. Roturas de vísceras internas. Um impacto violento sobre o corpo humano pode resultar lesões mais profundas, determinando roturas de órgãos internos. Os ferimentos externos nem sempre são proporcionais ao carácter grave dos resultados internos. Há circunstâncias que condicionam ou agravam essas lesões: força do traumatismo, região atingida, condições fisiológicas especiais (útero grávido, repleção da bexiga, do estômago e dos intestinos), certas condições patológicas: um baço ou um fígado aumentados são mais facilmente atingidos. A acção traumática pode ser por compressão, pressão, percussão, tracção e explosão. Todas as vísceras estão sujeitas a essa forma de lesão. No entanto, as mais comuns são: fígado, baço, rins, pulmões, intestinos, pâncreas e supra-renais. As teorias que explicam o mecanismo dessas roturas são: TEORIA DA PRESSÃO HIDRÁULICA. Segue a lei de Pascal. A pressão sofrida por um órgão interno equipara-se a um recipiente cheio de água onde a força é exercida em todas as direcções, vencendo no lugar de menor resistência. Essa teoria é mais aplicada para os órgãos ocos. TEORIA DA HIPERCURVATURA. Certas ropturas dependem da própria curvatura do órgão. É sempre transversal nas faces anterior e posterior das vísceras encurvadas. Assim, no fígado, se o agente actua em sentido antero-posterior, a rotura será transversal e na face convexa. E será em sentido longitudinal, se o traumatismo for em sentido lateral TEORIA DAS MODIFICAÇÕES DE FORMA. Um órgão arredondado, quando comprimido em certa direcção, modifica sua forma e diminui seu eixo no ponto onde sofre a pressão. No mesmo instante, esse órgão tem seus meridianos desviados passando sobre aquele ponto e, ainda, uma ampliação dos círculos paralelos. A roptura será sempre na direcção dos meridianos, isto é, na direcção da acção traumática. Há outras causas, como: do contra golpe, da rotura pelo aumento brusco da pressão interna (pulmões) e da laceração motivada pelos ligamentos de suspensão. O perito não pode esquecer das ropturas e hemorragias espontâneas de órgãos doentes cuja lesão nada tem a ver com uma contusão. Assim, são as perfurações do estômago e intestinos por processo infeccioso, a roptura de aneurisma da aorta e o desgarramento de um baço gigantesco por hiperesplenismo. Pode também a perícia determinar se o traumatismo foi causa agravante ou condicionante de uma rotura numa lesão corporal seguida de morte quando o agente não quis o resultado, mas assumiu o risco de produzi-lo. Aí, a lesão é dolosa, mas o resultado é culposo. Syndrome explosiva (blast injury). Produzida pela expansão gasosa de uma explosão potente, acompanhada de uma onda de pressão ou de choque que se desloca brusca e rapidamente numa velocidade muito grande, a pouca distância da vítima e mais grave, em locais fechados. Segundo William, esta força, para produzir lesões no homem, deve ser no mínimo de 3 libras por polegada quadrada. Se a expansão da onda explosiva ocorre dentro d'água, verificam-se os mesmos efeitos, levando em conta que a água apresenta uma velocidade de propagação. As lesões provocadas pela expansão gasosa atingem diversos órgãos e se caracterizam de acordo com a sua forma, disposição e consistência. O "blast" pulmonar é também muito comum e apresenta-se com hemorragia capilar difusa dos lobos médio e inferiores e equimoses subpleurais, e suas vítimas têm escarros hemoptóicos. Os alvéolos ficam distendidos e rotos, podendo os pulmões apresentarem impressões costais na sua superfície. O "blast" abdominal mostra o estômago com infiltrados hemorrágicos da mucosa ou serosa, e em alguns casos até roturas. Os intestinos também são mais agredidos, exibindo sangramentos dispostos em anéis na parte terminal do íleo e do ceco, podendo apresentar perfurações. O "blast" cerebral caracteriza-se, na maioria das vezes pela presença de hematomas subdurais ou hemorragia ventricular. O "blast" auditivo é representado por roturas lineares da metade anterior do tímpano, comummente bilateral. Nos casos mais benignos, pode-se verificar surdez passageira por comoção labiríntica. O "blast" ocular, de menor frequência, caracteriza-se pela hemorragia do vítreo, equimose subconjuntival intensa e cegueira definitiva ou temporária. O coração é o órgão que suporta melhor as ondas de expansão do blast injury. Lesões por martelo. De causa quase sempre homicida, essas lesões, quando produzidas com certa violência, podem apresentar danos graves, como, por exemplo, afundamentos ósseos do segmento golpeado, reproduzindo a perda de tecidos quase semelhante à forma e às dimensões daquele objecto agressor. Essas circunstâncias são conhecidas como fractura perfurante" de Strassmann. Pode ocorrer também um afundamento parcial e uniforme com inúmeras fissuras, em forma de arcos e meridianos, e, por isso, denominado sinal do "mapa-múndi" de Garrara Quando o traumatismo se verifica tangencialmente, produz uma fractura de forma triangular com a base aderida à porção óssea vizinha e com o vértice solto e dirigido para dentro da cavidade craniana. Esse é o sinal em "terraza" de Hoffmann. Encravamento. É uma modalidade de ferimento produzida pela penetração de um objecto afiado e consistente, em qualquer parte do corpo. São ocorrências de grande impacto, quando o corpo do indivíduo se desloca violentamente de encontro ao objecto, ou quando ambos se defrontam em grande velocidade. Sua natureza etiológica é sempre acidental. Empalamento. Essa forma especial de encravamento caracteriza-se pela penetração de um objecto de grande eixo longitudinal, na maioria das vezes consistente e delgado, no ânus ou na região perineal. As lesões são sempre múltiplas e variadas, sua profundidade varia de acordo com o impacto e as dimensões do objecto contundente. É necessário, no entanto, em certas ocasiões, fazer a diferença entre o empalamento e a introdução voluntária de corpos estranhos no ânus. Nesta última hipótese, não se observam grandes mutilações perineais; dificilmente ocorrem lesões intra-abdominais, e os objectos são menos irregulares. Lesões por cinto de segurança. Três são os tipos de cintos de segurança usados comummente pelos condutores e pelos passageiros de veículos a motor: o pelviano ou subabdominal, que mantém a pélvis presa ao assento; o toracodiagnonal, que prende o tronco de encontro ao encosto da poltrona; e o combinado ou de "três pontos", que é uma combinação dos dois modelos citados. A prática tem demonstrado que o cinto pelviano, num choque mais grave, não evita que a cabeça e o tronco se projectem para diante, originando traumatismos craniofaciais, rotura de vísceras internas e fractura de coluna. O cinto toracodiagnonal, mesmo fixando o tronco ao encontro do assento, num impacto mais violento não chega a evitar que o corpo deslize para baixo, redundando em lesões dos joelhos, da perna e da coluna cervical. Mesmo sendo o cinto combinado, o mais usado e aconselhado, não oferece ele uma protecção incondicional, ainda que fixe a pélvis e o tórax na poltrona. Pode ocorrer, num choque mais sério, a hiperflexão ou a hiperextensão brusca da região cervical, provocando, entre outros, o traumatismo do mento sobre o tórax com luxação da mandíbula ou ferimentos da língua pelos dentes. No entanto, o mais grave, e que devem ser observadas com maior cuidado nas necrópsias de tais eventos, são as fracturas e luxações das vértebras cervicais, ocasionando, até, secções totais ou parciais da medula. Lesões por atropelamento. Na maioria das vezes, as lesões decorrentes de atropelamento são múltiplas e distribuídas por diversas regiões do corpo. As primeiras lesões da vítima são as produzidas pelo impacto do veículo em movimento e dependem muito da velocidade dele e do local atingido. As outras lesões são oriundas do impacto do corpo e da sua projecção no solo altura do pára choque. No entanto, essas lesões podem se verificar em regiões mais baixas das pernas, principalmente se, no momento do impacto, o veículo estava freando. Podem também das significativas de tecidos das regiões escapulares, lombares, genitais, torácicas, abdominais e dos joelhos, conhecidas por "escoriações de arrastão". Têm como características serem representadas por estrias paralelas na direcção do arrastão, que começam mais profundas e terminam mais rasas e mais largas na medida em que o veículo ou o corpo diminui de velocidade LESÕES DO CONDUTOR DO VEÍCULO. Os condutores de veículos, quando acidentados, geralmente apresentam lesões do tórax por choque violento sobre o volante e lesões do crânio por traumatismo sobre o pára-brisas, além de outras eventuais lesões cutâneas, ósseas e viscerais. As lesões provenientes do traumatismo do tórax sobre o volante são mais significativas, pois elas podem caracterizar exactamente a posição do indivíduo no comando do veículo. Muitas vezes, ele apresenta o que se chama de "tatuagem traumática", pelo fato de ficar impresso no tórax a parte do desenho do volante. As lesões do crânio são, quase sempre, na região frontal, quando o acidente é por impacto violento, e estão relacionadas com o tipo de traumatismo sobre o pára-brisas. Outras lesões podem estar representadas por fracturas dos joelhos e colo dos fémures pela brusca projecção do corpo da vítima sobre as estruturas abaixo do painel no momento do impacto e por ferimentos no dorso dos dedos dos pés, principalmente do que está sobre o pedal, por hiperflexão e contusão deles no momento do impacto do veículo. Isto serve, inclusive, para indicar quem o conduzia. Em suma, quatro são os pontos possíveis de impacto em acidentes automobilísticos, principalmente quando o condutor não estava usando o cinto de segurança: a fronte, o tórax, os joelhos e os pés. Lesões por precipitação ou quedas. As lesões por precipitação foram sumariamente descritas por Leon Thoinot: "Pele intacta ou pouco afectada, roturas internas e graves das vísceras maciças e fracturas ósseas de características variáveis". Desse modo, quanto maior for a velocidade horizontal calculada, maior foi o impulso da vítima. A região do corpo que sofre o impacto da queda é também muito importante nesse estudo. No suicídio, é mais comum o lançamento do corpo com a posição em pé; e, mais raramente, de mergulho de cabeça, sendo que, até cinquenta metros, a vítima em geral conserva a mesma posição. Nos casos de acidente ou de homicídio em face da surpresa ou da manipulação da vítima a tendência é que ela sofra movimentos de rotação, em virtude da precipitação desordenada, tomando as mais variadas posições no espaço e impactando – se em regiões bem diversas, principalmente na região lateral do corpo. Feridas produzidas por acção pérfuro-cortante As feridas pérfuro-cortantes são provocadas por instrumentos de ponta e gume, actuando por um mecanismo misto: penetram perfurando com a ponta e cortam com a borda afiada os planos superficiais e profundos do corpo da vítima. Agem, portanto, por pressão e por secção. Há os de um só gume (faca - peixeira, canivete, espada), os de dois gumes (punhal, faca "vazada") e os de três gumes ou triangulares (lima). As soluções de continuidade produzidas por instrumentos pérfuro-cortantes de um só gume resultam ferimentos em forma de botoeira com uma fenda regular, e quase sempre linear, com um ângulo agudo e outro arredondado. Sua largura é notoriamente maior que a espessura da lâmina da arma usada e o seu comprimento, menor que a largura da folha, se o trajecto da arma foi perpendicular ao plano do corpo, saindo da mesma direcção, e maior se agiu obliquamente. Se, ao sair, tomou um sentido inclinado, corta mais a pele, aumentando o diâmetro da fenda. Os ferimentos causados por arma de dois gumes produzem uma fenda de bordas iguais e ângulos agudos. As armas de três gumes originam feridas de forma triangular ou estrelada. O trajecto das feridas produzidas por esses instrumentos tem as características das resultantes da acção dos meios perfurantes. A perícia, diante dessas lesões, entre outros problemas, tem de levar em conta a identificação da arma usada, a gravidade dos ferimentos, o tempo da lesão, se esta foi produzida em vida ou depois da morte, sua causa jurídica, a posição da vítima e do agressor, a ordem das lesões e o número de agressores. No diagnóstico da arma usada, devem-se levar em consideração as dimensões, a forma e a profundidade do ferimento, atentando-se para o facto de que o tamanho dessas lesões, devido à elasticidade da pele, pode ser inferior, igual ou superior ao diâmetro da arma. Os ferimentos penetrantes do abdómen, por esse tipo de instrumento, podem ter um trajecto maior ou menor que o comprimento dele, e isto é explicado pela movimentação aflita da vítima numa luta corporal, nos seus recuos e avanços, comuns nas flexões do corpo durante a contenda. As feridas penetrantes são geralmente graves, não apenas pela infecção causada no interior do organismo, como também pelas lesões sofridas pelos órgãos de maior importância. As mais graves, e que impõem tratamento cirúrgico imediato, são as penetrantes à cavidade peritoneal. A mais comum das causas jurídicas dessas lesões é o homicídio, enquanto o suicídio e o acidente são mais raros. O diagnóstico diferencial entre elas é feito através da direcção, do número e do local dos ferimentos, de outros sinais de violência, de mais de dois ferimentos mortais, da variedade das feridas e do local da morte. O acidente e o suicídio por essa forma de acção são bem esporádicos. A posição da vítima e do agressor podem ser ressaltadas através do estudo da localização e da direcção dos ferimentos. As feridas dorsais indicam, quase sempre, que a vítima estava de costas para o agressor. O trajecto, a profundidade e a cauda de escoriação voltada para esse ou aquele lado levam à conclusão da direcção que tomou o instrumento, de cima para baixo ou de baixo para cima, se da direita para a esquerda ou vice-versa. Em geral, o agressor usa a arma de características pérfuro-cortantes com o gume voltado para dentro ou para baixo. A ordem da sucessão das lesões fundamenta-se na direcção e na quantidade da hemorragia das feridas. Se um indivíduo tem um ferimento no tórax e o sangramento flui em direcção vertical, de cima para baixo, e outro no flanco esquerdo derramado para o lado e para dentro, diz-se que a primeira lesão foi a do tórax, quando ele ainda estava de pé, e a segunda, a do flanco esquerdo, com a vítima caída. Quando as feridas se cruzam, a sequência dos ferimentos é dada pelas características discutidas sobre o assunto quando do estudo das feridas cortantes (sinal de Chavigny). O número de agressores pode constituir um problema a ser elucidado pela perícia. Muitas lesões de mesmos caracteres induzem-nos a pensar na existência de um só agressor. No entanto, isso não é regra geral, pois uma vítima pode ser ferida por dois agressores usando a mesma arma. E, também, pode um agressor usar dois tipos de instrumentos, sucessivamente. É mais difícil um mesmo autor usar duas facas-peixeiras, por exemplo. A multiplicidade de vítimas e a gravidade dos traumatismos orientam o raciocínio no sentido de muitos agressores. Ex. Há alguns anos, quando era comum a presença de peritos em local de morte, fomos a um lugarejo chamado Mata Redonda, nos arredores de João Pessoa. A casa ficava num alto e muito isolada das outras. Tinha apenas uma porta de entrada e outra de saída. A porta de trás estava fechada e a da frente com meia-porta aberta, uso comum naqueles tipos de habitação. Havia um homem morto junto à porta da cozinha, com um extenso ferimento penetrante, na região mamária esquerda, por onde se via o coração aberto. Presa à sua mão, uma faca manchada de sangue. Outro cadáver de homem, na sala da frente, tinha ferimentos nos braços, nas mãos e na região dorsal (este último ferimento profundo) e uma extensa hemorragia externa e local. Não havia rastreamento hemorrágico. Afirmamos haver um terceiro agressor. Ouvida a esposa de uma das vítimas, ela terminou confessando ter sido seu irmão, o autor da segunda morte, para vingar o cunhado que morrera antes. Assim, o estudo detalhado de todos esses elementos possui uma admirável força esclarecedora e, em muitos casos, acusatória. Tudo depende de quem observa pacientemente, como quem procura juntar as peças misturadas de um jogo de quebra-cabeças. �PAGE � �PAGE �15� AULA5.doc Lições de Medicina Legal Dr. Aurélio Rodrigues TEMA: TANATOLOGIA FORENSE SUMÁRIO: TANATOLOGIA FORENSE Introdução Conceito de Tanatologia forense - Classificação da Tanatologia - Importância Vida. - Conceito - Fases da vida Morte - Conceito - Fenómenos post-mortem - Classificação - Indicadores de morte - Causas jurídicas de morte Autópsias - Conceito - Classificação - Pressupostos para a realização de autópsias e finalidades - Métodos e incisões utilizadas em autópsias - Os dois grandes tempos das autópsias Etapas para realização de autópsias das cavidades toracoabdominal e craniana e seus respectivos momentos. Introdução Uma vida perpétua na terra era o propósito de Deus quando criou o mundo. Por infidelidade do primeiro casal humano, aquele propósito deu lugar a morte. A partir daquele momento os descendentes de Adão e Eva passaram a ter um tempo limite de vida que culmina com a morte. Por conseguinte, até aos dias de hoje o nascimento e a morte são os problemas que mais afligem a humanidade, onde a vida é a interface entre os dois momentos cruciais. Conceito de Tanatologia forense Etimologicamente Tanatologia deriva do grego, sendo: Thanatus = morte logus = / tratado Tanatologia é a ciência que estuda a morte. Tanatologia forense é o ramo da Medicina legal que estuda a morte e as suas implicações jurídicas. Classificação da Tanatologia A Tanatologia classifica-se: I – Tanatologia geral: Tanatologia geral – Estuda as questões estáticas e dinâmicas da morte, fenómenos cadavéricos, a relação e formas de embalamento e as particularidades da observação do cadáver no processo de determinação das causas de morte. Tanatologia propriamente dita Tanatopatognose Tanatomorfologia Tanatoprofilaxia Tanatoterapia Tanatopraxia II – Tanatologia especial: Tanatologia especial – Estuda os diversos tipos de morte e as suas variedades. Tanatologia propriamente dita – Estuda as descobertas das causas de morte. Tanatopatognose – Estuda o mecanismo patológico da ocorrência da morte. Tanatomorfologia – Estuda o comportamento durante o surgimento dos fenómenos morfológicos, que vão surgindo na fase de agonia. Tanatoprofilaxia – Estuda a prevenção das mortes motivadas nos casos reversíveis da morte à vida. Exemplos coletes prova de bala, terapêutica sem antibiograma, etc. Tanatoterapia – Estuda a forma de como prestar o tratamento aos moribundos e a diferenciação da morte aparente da real. Tanatopraxia – Estuda os aspectos de conservação artificial dos cadáveres. Importância A sua importância reside no facto de permitir o estudo minucioso do cadáver através da sua identificação, do mecanismo e causa da morte, do diagnóstico diferencial do médico legista e também a elaboração do relatório que será enviado à autoridade judicial. Vida. Conceito A vida é o exercício total e permanente das funções vitais do organismo. Fases da vida As fases da vida são: Embrionária Fetal Infantil Puberdade Adolescente Adulta Senil Morte. Conceito A morte é a cessação dos fenómenos vitais, pela paragem das funções cerebral, respiratória e circulatória. Como definição convencional é a cessação total e permanente das funções vitais. Fenómenos post-mortem Os fenómenos post-mortem, devem ser conhecidos para além do médico que faz a autópsia, por todos aqueles que participam na investigação criminal (forças policiais que se deslocam ao local onde apareceu o cadáver), dos advogados e juízes que vão receber os relatórios da autópsia. Estes sobretudo, devem ter um entendimento preciso sobre a sequência dos fenómenos da evolução do cadáver e da terminologia médico-legal empregue para descrever, sob pena de fazerem interpretações erradas e considerar como lesões traumáticas fenómenos que resultam da normal evolução da putrefacção cadavérica. Os fenómenos devidos a cessação das funções vitais podem ser divididos em dois grandes grupos: Abióticos .Imediatos . Paragem cardiorespiratória . Imobilidade do cadáver . Ausência de circulação . Dilatação pupilar . Relaxamento esfincteriano (perda de fezes, urina e etc.) . Perda da consciência, de sensibilidade (táctil, térmica e dolorosa) . Tardios . Desidratação . Arrefecimento do corpo . Livores cadavéricos (hipostase viscerais) . Rigidez cadavérica (rigor mortis) . Flacidez cadavérica B – Transformativos: . Destrutivos: . Autólise – por acidificação dos tecidos . Putrefacção . Microrganismos . Aeróbios . Aeróbios facultativos . Anaeróbios . Fases de evolução: . Coloração (mancha verde de putrefacção) . De produção de gás (enfisema putrefacto) . De liquefacção . De esqueletização . Conservadores: . Saponificação (o cadáver adquire consistência mole, semelhante ao sabão ou queijo e cor amarela-parda) = Adipocera. . Mumificação (o cadáver adquire aspecto de múmia) . Corificação . Maceração Classificação da morte 1º Sob o ponto de vista clínico: Morte biológica – caracteriza-se pelo desaparecimento actividade biológica do organismo. Morte clínica – caracteriza-se pela ausência definitiva de sinais vitais clínicos. 2º Sob o ponto de vista anátomo – patológico: Morte anatómica é a morte dos aparelhos e do organismo como um todo num instante determinado. Morte histológica é a morte paulatina das células e tecidos. Morte aparente é aquela em que o indivíduo parece morto, mas está vivo. Tem batimentos cardíacos fracos e quase imperceptíveis. Morte relativa é aquela em ocorre uma paragem efectiva e duradoura das funções nervosas, respiratórias e circulatórias. Morte real caracteriza-se pelo desaparecimento definitivo de toda actividade biológica do organismo. 3º Sob o ponto de vista médico-legal: a) Morte natural é a que resulta das alterações orgânicas ou perturbações funcionais provocadas por agentes naturais, inclusive os patogénicos sem a interferência de factores mecânicos. Ela pode ser: . Patológica: ocorre na sequência de uma condição mórbida. .Gerontológica ou fisiológica: decorrente do processo de envelhecimento. .Súbita: é aquela de efeito imediato, havendo entre o seu início e o fim apenas alguns minutos não possibilitando um atendimento mais efectivo. b) Morte violenta é aquela que tem como causa determinante a acção abrupta e intensa ou continuada e persistente de um agente mecânico, físico ou químico sobre o organismo. Ela pode ser: . Homicídio: é a eliminação voluntária ou involuntária da vida de uma pessoa, por acção ou omissão de uma outra pessoa. . Suicídio: é o acto mediante o qual uma, livre e consciente suprime a própria vida. . Acidente: é também chamado homicídio involuntário. *******Morte repentina: é o resultado fisiológico que se sobrepõe ao patológico, mas o patológico expressa-se. Indicadores de morte A existência de morte aparente exige todo cuidado ao fazer-se o diagnóstico da realidade da morte, a fim de evitar inumações, necrópsias ou embalsamamentos prematuros. A tanatognose é precisamente a parte da Tanatologia que estuda o diagnóstico da morte. Esse diagnóstico é feito através de numerosos sinais, chamados sinais de morte. Estes sinais são divididos em: Duvidosos, prováveis e certos. Os sinais duvidosos são os seguintes: Imobilidade do corpo Perda da consciência Insensibilidade geral e dos sentidos Suor frio Suspensão aparente dos movimentos respiratórios Cessação dos batimentos cardíacos Ausência de pulso Face cadavérica Os prováveis: - Resfriamento progressivo do corpo - Paralisia dos esfíncteres - Manchas nas escleróticas - Livores cadavéricos - Hipostase Os certos: Rigidez cadavérica Putrefacção Autólise Mumificação Causas jurídicas de morte As causas jurídicas de morte são aquelas decorrentes de: Homicídios Suicídios Acidentes 5. Autópsias. Conceito Autópsia é o método de diagnóstico post-mortem, com objectivo de evidenciar a causa mortis dos pontos de vista médico e jurídico. Sinonímia: Necrópsia; necroscopia; tanatoscopia; Necrotomópsia sendo esta última a expressão mais correcta pois significa estudar o morto por cortes. . Classificação das autópsias As autópsias podem ser classificadas da seguinte forma : 1- Médico-Legais (jurídicas) . Regulamentadas . Jurídicas . Brancas 2- Anatomo-patológicas (clínicas) 3- Com fins de transplantes de órgãos) Pressupostos para a realização de autópsias: . Morte violenta . Morte de nomenclatura . Morte de estrangeiros . Morte de pessoas no domicílio . Morte hospitalar antes de 72 horas de internamento . Mortes duvidosas . Diagnóstico definitivo da causa de morte Finalidades das autópsias . Identificar o morto . Diagnosticar na realidade a causa da morte . Diagnosticar o tempo decorrido de morte . Informar as circunstâncias da morte . Auxiliar na determinação da natureza jurídica da morte . Os dois grandes tempos da autópsia A necropsia compreende dois grandes tempos: I – Inspecção externa II – Inspecção interna I – Inspecção externa O perito deverá começar pelo exame das vestes. Examinar e descrever as peças a sua forma, cor, manchas, orifícios, inscrições, correlação entre soluções de continuidade nas mesmas e possíveis ferimentos no cadáver, estado de conservação, lacerações, etc. Examinar e descrever todos os objectos que acompanham o cadáver, como cintos, botões, cordões, suspensórios, remédios, etc. Examinadas e retiradas as vestes passa-se ao cadáver examinando e descrevendo-o na seguinte ordem: – Elementos de identidade: cor, sexo, idade, altura, peso, dimensões, biótipo, sinais característicos, impressões digitais, grupo sanguíneo. - Sinais de morte: rigidez muscular, manchas de hipóstase, começo da putrefação, etc. - Exame da cabeça: - Exame do pescoço: descrever sinais de violência e movimentação anormal. – Exame do tórax: - Exame do abdómen: – Exame do ânus: – Exame dos genitais: homem etc. Se for mulher – – Exame dos membros superiores: – Exame dos membros inferiores: II - Inspecção interna – Cavidade craniana - Cavidade torácica - Pescoço – Cavidade abdominal – Canal raquidiano e medular. Do ponto de vista social a embalagem funerária é importante porquanto significa dar um tratamento condigno ao cadáver. Todavia do ponto de vista médico significa evitar a transmissão e ou a propagação das doenças, porém juridicamente significa a confirmação da inexistência do indivíduo como cidadão. �PAGE � �PAGE �9� AULA13.doc Lições de Medicina Legal Dr. Aurélio Rodrigues TEMA: EMBRIAGUEZ SUMÁRIO: EMBRIAGUEZ INTRODUÇÃO Há necessidade de diferenciação entre: embriaguez etílica e alcoolismo. EMBRIAGUEZ ETÍLICA: é o conjunto de manifestações neuropsicossomáticas resultantes da intoxicação etílica aguda de carácter episódico e passageiro. ALCOOLISMO: segundo Magmes Huss nos fins do séc. XIX, caracterizou-o como um síndrome psico-orgânico constituído por um elenco de perturbações orgânicas e psíquicas, resultantes do uso imoderado e contínuo do álcool ou etanol, independentemente de que no momento do exame médico tenha feito uma maior ou menor uso de bebidas. Embriaguez – estágio Alcoolismo – estado PROBLEMAS RESULTANTES DO ALCOOLISMO Problemas de ordem: Médica Psiquiátrica Psicológica Policial Médico-Legal CLASSIFICAÇÃO DAS BEBIDAS ALCOÓLICAS BEBIDAS FERMENTADAS “Vinho, cerveja”, caracterizam-se por apresentarem o menor teor de álcool, por serem resultado da fermentação natural de substâncias terciárias. BEBIDAS DESTILADAS Caracterizam-se pela grande concentração de álcool, obtidas por destilação em alambiques “ aguardentes, uísques, conhaques, licores”. BEBIDAS ALCOOLIZADAS Conseguidas artificialmente pelo adicionamento de álcool aos produtos fermentados (vinhos especiais). OBSERVAÇÃO: As bebidas alcoólicas também podem ser acrescidas outras substâncias como: essenciais, éteres, aldeídos, corantes e ainda conservantes. EMBRIAGUEZ ETÍLCA AGUDA CLINICA As manifestações clínicas dependem mais da tolerância individual do que da quantidade ingerida. As manifestações clínicas podem ser: Físicas Neurológicas Psíquicas 1- MANIFESTAÇÕES FISICAS Traduzem-se pela taquicardia, congestão das conjuntivas, hálito alcoólico-acético, taquipneia, taquiesfigmia. 2- MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS Estão associados as perturbações clínicas do equilíbrio da marcha. Marcha ebriosa, cerebelar, ou em ziguezague. Sinais de Romberg simples e combinado. As manifestações motoras de coordenação estão associadas a ataxia, dismetria, dissinergia ou assinergia, disdiadococinésia. A disartria se manifesta pelo distúrbio na articulação da palavra Inibição relativa da sensibilidade táctil, dolorosa e térmica, fenómenos vagais, soluços, vómito, surge o embotamento das funções sensoriais. 3- MANIFESTAÇÕES PSQUICAS Traduzem-se pelas alterações do humor, do senso ético, da atenção senso – percepção, do curso do pensamento, da associação de ideias até atingirem os impulsos menores. - Atitude exageradas, ousados e ridículas. FASES DE EMBRIAGUEZ Alguns autores “Magnan Bogen” dividem a embriaguez em cinco fases: Fase Subclínica Fase de Excitação Fase da confusão Fase do sono Fase da Morte Outros autores como: Pessina, Nicollin, admitem 4 fases: Fase Subclínica Fase de excitação Fase de confusão Fase do sono “comatoso” Outros autores e a maioria deles admite só três fases: Fase de excitação: Caracterizada pela eloquência, vivacidade aparente, humor gracejador, instabilidade no sigilo. Fase de confusão ou fase médico-legal: Há o surgimento das perturbações nervosas e psíquicas. Tendências a agressões, irritabilidade sem motivações. Fase do sono ou fase comatosa: Não se mantém de pé, caminha aos tombos ou agarrado aos outros e acaba por cair num sono profundo. TOLERÂNCIA AO ÁLCOOL: É a capacidade maior ou menor que alguém possui em embebedar-se. FACTORES: Peso do indivíduo Concentração alcoólica Hábito de beber Estado do indivíduo Circunstâncias do meio ambiente METABOLISMO DO ÁLCOOL ETÍLICO A velocidade de absorção varia de acordo a devidos factores como: Quantidade de álcool ingerido. Fraccionamento e espaçamento das doses. Concentração do álcool contida na bebida. Presença ou não de alimentos no estômago Capacidade individual de absorção. EQUILÍBRIO DE CONFUSÃO: É a constante de concentração etílica que o organismo atinge no sangue de forma uniforme. Fenómenos de excitação e depressão cerebral como resultado do efeito narcótico. CURVA ALCOÓLICA Curva de difusão ou absorção (30 – 60 minutos – ascendente) Pico “nível de manutenção” Curva de eliminação “descendente” inicio - 1hora 30 minutos. A taxa de concentração de álcool no sangue é determinada pelo macrométrico de Nicloux. DOSAGEM DO ÁLCOOL NO CADÁVER Veia femoral depois das 48 horas de morte Sangue periférico antes das 48 horas de morte Humor vítreo Na bílis Medula óssea ASPECTOS PERICIAIS Existência de embriaguez Complexidade de embriaguez Originalidade de embriaguez Grau da capacidade do indivíduo na referida embriaguez Necessidade de tratamento Estudo minucioso do paciente e sem antecedentes. FORMAS DED EMBRIAGUEZ Embriaguez culposa Embriaguez preterdolosa Embriaguez fortuita Embriaguez acidental Embriaguez por força maior Embriaguez preordenada Embriaguez habitual Embriaguez patológica Embriaguez agressiva e violenta Embriaguez excito-motora Embriaguez convulsiva Embriaguez delirante ALCOOLISMO PERIGOS: Transtornos de conduta Transtornos mentais diversos Manifestações do juízo critico na administração dos seus interesses. MANIFESTAÇÕES DO ALCOOLISMO I- MANIFESTAÇÕES SOMÁTICAS Hepatomegália Edemas palpebrais Tremores nas mãos Ventre aumentado Pescoço fino Insegurança na marcha Congestão das conjuntivas Dispneia Vermelhidão da face com rede venosa nasal Face alcoólatra. II- PERTUBAÇÕES NEUROLOGICAS Distúrbio metabólico Nervos periféricos – polineurite Nervos cranianos – poliencefalite superior hemorrágica de wernicke Córtex cerebral – prejudicam a memória, levam ao síndrome de Korsakow. POLINEURITE É o comprometimento de vários neurónios por um processo degenerativo. É um síndrome sensitivo-motora, representada por parestesias cutâneas, hipostasia superficial, mialgias, impotência motora dos músculos braquiais e crurais, alterações dos reflexos, atrofias musculares, alterações regenerativas e perturbações de coordenação motora. POLIENCEFALITE SUPERIOR HEMORRÁGICA DE WERNICKE Caracteriza-se por sintomas resultantes de lesões por minúsculos focos hemorrágicos dos nervos cranianos do tronco cerebral, cujos sintomas são: Paralisia dos músculos do globo ocular Sintomas trigeminais (nevralgia facial), paralisia dos músculos faciais e, algumas vezes, disfonia, disfagia, tremor da língua e tremores peribucais. SINDROME DE KORSAKOW Síndrome amnésica ou psicose polineurítica, está caracterizada por um quadro clínico de amnésia, desorientação no tempo e no espaço, confabulação e sintomas de polineurite. As anamnésias orgânicas são progressivas e as psicogénicas são súbitas na sua maioria. Amnésia anterógrada “lacunar” Amnésia retrógrada Amnésia total Amnésia alternante Surgem confabulações após crise aguda de delirium tremens maior em mulheres. PERTURBAÇÕES PSIQUICAS São perturbações que se revelam nas esferas de atenção, afectividade, violação, memória, senso ético, senso percepção, ideação, consciência e capacidade de julgamento. A acção tóxica do alcoolismo humano crónico, poderá determinar as seguintes manifestações físicas de certa gravidade, conhecidas por psicoses alcoólicas: DELIRIUM TREMENS Confusão, agitação e angústia, alucinações de ordem visual, amnésia e angústia com tremores. A duração da crise é de 10 dias e a convalescença é precedida de prolongado sono de 10 a 20 %, com causa mais constante à pneumonia ALUCINOSE DE BEBEDORES Alucinações auditivas, desencadeada por excessos alcoólicos; conserva-se a lucidez com alterações de vida afectiva. Manifestam-se devido a hipersensibilidade pelos ruídos, dando lugar em seguida as alucinações de sons musicais, com o progresso para sons humanos e aberrações homossexuais. DELIRIO DE CIÚMES DE BEBEDORES - Infidelidade conjugal idealizada - Sentimento de culpa devido a impotência sexual - Aumento da discórdia conjugal até a acção criminosa - Recidiva certa EPILEPSIA ALCOÓLICA Crises convulsivas semelhantes às de epilepsia que, na maioria das vezes, desaparecem quando cessam as causas. Começam por pequenas convulsões localizadas tipo jacksoniana e depois generalizam-se. Geralmente a presença de constituição epileptogênica e a dependência do tipo de bebida estão na origem da epilepsia alcoólica. DIPSOMANIAS É a crise impulsiva e irreprimível de ingerir grandes quantidades de bebidas alcoólicas. ASPECTOS JURÍDICOS RESPONSABILIDADE CRIMINAL Capacidade Responsabilidade Grau de embriaguez Tipo de embriaguez Premeditação do acto �PAGE � �PAGE �4� AULA16.doc Lições de Medicina Legal Dr. Aurélio Rodrigues TEMA: PSICOLOGIA E PSIQUIATRIA FORENSE SUMÁRIO: PSICOLOGIA E PSIQUIATRIA FORENSE PSICOLOGIA – É ciência que estuda os aspectos psíquicos e tudo ligado a psique. PSICOLOGIA FORENSE: É a ciência que estuda a psique e suas implicações jurídico – criminais. CLASSIFICACAO: Psicologia forense propriamente dita Psicopatologia forense Psiquiatria forense. 1- No âmbito da Psicologia forense propriamente dita incluem-se o estudo dos limites normais, biológicos, mesológicos e legais da responsabilidade penal e capacidade civil. 2- No conteúdo da Psicopatologia forense estudam-se s limites e modificadores anormais da responsabilidade e da capacidade bem como os problemas relacionados com estes assuntos. 3- A Psiquiatria forense estuda os assuntos médico-legais dos doentes mentais, dos oligofrênicos, dos neuróticos e das personalidades psicopáticas. O código penal de cada pais, e o instrumento legal que estabelece os limites e modificadores da responsabilidade penal, sendo alguns expressamente e outros implicitamente, como também estabelece e fixa os limites e modificadores da capacidade. LIMITES E MODIFICADORES DA RESPONSABILIDADE PENAL E DA CAPACIDADE CIVIL Biológicos – Idade - Sexo - Emoção e paixão normais - Agonia “Moribundo” b) Psicológicos – Sonambulismo (condição entre o sono natural e o patológico) - Hipnotismo (sonambulismo provocado) - Surdo – mudez - Afasia - Prodigalidade – Gasto imoderado capaz de comprometer o património, decorrente de enfermidade mental. Pode ser: Oniomania - compulsão para tudo comprar; Cibomania – compulsão para jogar; Dipsomania – compulsão para beber. - Embriaguez c) Psiquiátricas - Dependência a drogas - Doenças mentais - Deficiências de inteligência - Transtornos de personalidade - Neuroses d) Mesológicas - Civilização - Psicologia colectiva (das multidões) e) Legais - Causas e circunstâncias do crime PSIQUIATRIA: é a ramificação médica que trata e estuda as perturbações do comportamento humano. PSIQUIATRIA FORENSE: é a aplicação da psiquiatria clínica à administração da justiça. Causas das doenças psíquicas que de certo modo trazem implicações jurídicas: Doenças em geral Infecções sobretudo a sifilítica Endo- intoxicações Exo – intoxicações sobretudo a alcoólica Causas psíquicas, sobretudo emotivas Causas sociais Herança Predisposição Transtornos, sobretudo cranianos. Educação Raça Idade (condições de maior ou menor frequência) Profissão Estado civil Crenças e superstições *Consultar a psiquiatria clínica por se tratar da área de alta especificidade. PSICOPATOLOGIA FORENSE É a aplicação à administração da justiça dos conhecimentos e resultados obtidos da Psicopatologia clínica. PSICOPATOLOGIA CLINICA: é a área que estuda as questões patológicas relacionadas com a psique. São elas: Personalidade patológica Distúrbios da personalidade Personalidades oligofrênicas Personalidades psicóticas Personalidades demenciais Personalidades neuróticas Personalidades dissociais **Estuda-se em psiquiatria por ser prerrogativa dos médicos psiquiatras �PAGE � �PAGE �2� AULA15.doc Lições de Medicina Legal Dr. Aurélio Rodrigues TEMA: SEXOLOGIA MÉDICO-LEGAL SUMÁRIO: ABORTO. CRIMES SEXUAIS. À Medicina legal interessa apenas o aborto desamparado pela lei, criminoso, ou a sua tentativa, quando, a despeito do abortamento, o conceito não morre por circunstâncias alheias à vontade do sujeito. O Aborto Aborto é a privação do nascimento ou seja a interrupção da gravidez Quanto ao diagnóstico da realidade de um aborto, importa aqui, a questão do aborto criminoso. Conceito Será então "o aborto a expulsão prematura e violenta provocada do produto da concepção, independentemente de todas as circunstâncias, de idade, vitalidade e mesmo deformação regular". Perícia do Aborto: Para a medicina legal não importa o tempo gestacional em que ocorre a interrupção da gravidez, seja desde a fecundação até momentos antes do início do trabalho de parto ou o termo, no 9° – mês. Aborto Criminoso: É a interrupção ilícita da vida intra-uterina, normal e não patológica, em qualquer fase de sua evolução gestatória até momentos antes do início do trabalho de parto, sendo irrelevante que a morte do produto da concepção ocorra dentro ou fora das entranhas maternas, desde que, nascido vivo, sucumba logo após, por inadaptação para à vida extra-uterina. O aborto criminal - é um delito material de dano efectivo, cujo momento de consumação ocorre com a morte do produto da concepção, seja do ovo, embrião ou feto ou do nascido vivo inadaptado. � O direito ampara a vida humana desde o momento da fecundação. Embora personalidade se inicie com o nascimento completo e com vida" (art.º _______) do CC. � � Diz-nos o CP, no seu (art. _____°) " aquele que, de propósito, fizer abortar uma mulher pejada, empregando para este fim violência ou bebidas, ou medicamentos, ou qualquer outro meio, se o crime for cometido sem consentimento da mulher, será condenado a pena de prisão maior de 2 à 8 anos ". O aborto provocado resulta de lesões corporais de natureza leve ou grave ou até mesmo pode levar a morte. Importância médico-legal: Se o aborto é provocado pela ingestão de substâncias tóxicas, poderá levar o organismo materno a intoxicação, que vão desde simples efeitos até o efeito letal. Se o meio empregue é mecânico, as eventualidades são diversas e as mais graves são as embolias gasosas, devido à entrada de ar nas veias uterinas, as perturbações de útero, as lesões de alças intestinais e peritonite, a gangrena uterino o tétano pós – parto. O Aborto Legal: O aborto provocado também ocorre quando o médico para salvar a vida da mãe, e não havendo outro recurso, ou quando a gravidez é gerada por consequência de estupro ou violação. Perícia Médico-Legal: Dada a complexidade do crime de infanticídio, a perícia médico-legal exige para sua caracterização os seguintes elementos: Prova de ser nascente; Prova de infante nascido; Prova de recém-nascido: cordão umbilical ou nós do mesmo, parada prolongada de progressão, ruptura da matriz na sede de cicatriz uterina de cesariana anterior, placenta prévia obliterando os orifícios respiratórios externos, aspiração de mucosidade, de liquido amniótico ou de sangue, compressão na cabeça com cavalgamento acentuado dos ossos cranianos contra as bacias estreitas ou por desproporção céfalo-pélvica. A Sedução. Conceito Por sedução define-se como sendo, a obtenção de um desejo por meio de irresistível influência: Assim, revela a "sedução toda e qualquer actuação exercida de modo irresistível e influente o bastante para convencer outrem afazer ou realizar o que é de intenção do agente". Assédio sexual È um crime ainda não regulado no nosso ordenamento jurídico mas, sabemos que na revisão feita ao código, já consta tal crime. O Estupro Conceito: Derivado do latim Stuprum (afronta, infâmia, desonra), indica genericamente toda a espécie de relacionamento carnal criminoso ou ilegítimo, com mulher honesta. Significa conjunção carnal contra a vontade da mulher, mediante sedução. Fundamentação Legal: Estupro (art._______) CP " aquele que, por meio de sedução, estuprar mulher virgem, maior de 12 e menor de 18 anos, terá a pena de prisão maior de 2 a 8 anos) • O Atentado ao Pudor Conceito: Entende-se todo o acto libidinoso ou impúdico, diverso da conjunção carnal, praticado com violência ou grave ameaça contra pessoa de um outro sexo, visando satisfazer paixões lascivas, completas ou incompletas, em manifestação inequívoca de depravação moral. Com efeito, o agente do delito habitualmente é portador de toda uma gama de perversões sexuais. Fundamentação legal: O crime de Atentado ao Pudor, posição contida no (art°______°) CP, determina que é: " Todo o atentado contra o pudor de uma pessoa de um outro sexo, que for cometido com violência, quer seja para satisfazer paixões lascivas, quer seja por outro motivo.,.) O Crime de Ultraje Publico ao Pudor: Nos termos do (art°______°) do CP, determina que o: "cometido por acção, ou a publicidade resulte do lugar ou de outras circunstanciais de que o crime for acompanhado e posto que não haja ofensa individual da honestidade de alguma pessoa, será punido com prisão até seis meses e multa até um mês" A Violação: A posição contida no (art.______) do CP, sobre a violação determina que: " Aquele que tiver cópula ilícita com qualquer mulher, contra a sua vontade, por meio de violência física, de veemente intimidação ou de qualquer fraude, que não constitua sedução, ou achando-se a mulher privada do uso da razoa, ou sentidos, comete o crime de violação, e terá a pena de prisão maior de 2 a 8 anos" Intervenção Pericial: O auto de exame de corpo de delito correspondente, mostra apenas, quando possível, que houve, ou não houve, conjunção carnal. Não contudo informar quem manteve a conjunção carnal eventualmente positiva. A conjunção carnal se efectiva com a introdução, parcial ou total, do pénis em erecção na vagina, haja ou não ejaculação. Pois esta se não for consentida consuma-se o crime. No mesmo acto de exame há quesitos a respeito da violência: Se esta ocorreu antes, durante ou depois da conjunção carnal apurada. Não se pode afirmar, se se cometeu o acto de violência. Não se deve afastar a hipótese de uma mulher ter mantido conjunção carnal com um homem, espontaneamente, e depois, por algum desentendimento alheio à conjunção carnal, ela sofrer agressão. O mesmo raciocino vale para os casos de atentado ao pudor, quando apenas a vítima é a aprova contra o agressor, a sentença depende muito mais da credibilidade dos envolvidos do que da prova técnica. AULA14.doc Lições de Medicina Legal Dr. Aurélio Rodrigues SUMÁRIO: INFANTICÍDIO (RESUMO) INFANTICÍDIO DELICTUM EXCEPTUM, forma privilegiada de homicídio. “ Matar, sob influência de estado puerperal, o próprio filho durante ou logo após o parto. É o atentado contra a vida do indivíduo desde o momento do seu nascimento até ao 8º dia. HISTÓRIA Roma e Grécia antiga. Protecção aos recém-nascidos normais Exposição dos recém-nascidos com deficiência à fome, sede e outros tipos de sofrimento. Jus vitae et nescis - Direito da vida e morte - O juízo da vida e o nascimento Justiniano – Crime - Morte por motivos cristãos PUNIÇÕES POR INFANTICÍDIO Enterramento vivo Queimaduras Empalada. Ordenação criminal de Carlos V “Constitutio Criminalis Carolina”, dispunha o seguinte, às mulheres que matavam os seus filhos: Enterramento vivo, Empalação; como atenuação seriam antes afogadas A tenacidade de ferros com brasas. Século XVIII Ideias humanistas Abrandamento das penas MOTIVAÇÕES
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