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O MUNDO E A CRISE DO PETRÓLEO DE

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O MUNDO E A CRISE DO PETRÓLEO DE 1973 
Descoberto no início do século XX, o petróleo passou a ser 
o principal fornecedor de energia, gerando um progresso 
acelerado aos países que se industrializaram e formaram 
grandes potências econômicas. 
Se o petróleo era o elemento principal da economia das 
grandes potências, originando progresso e riqueza, o 
mesmo não acontecia aos países que produziam o 
precioso ouro negro. O Oriente Médio tornou-se desde o 
fim da Primeira Guerra Mundial, o principal produtor de 
petróleo do mundo, o que levou à cobiça dos europeus, 
que dominaram a região por décadas, colonizando e 
explorando as suas riquezas. Aos poucos, os países do 
Oriente Médio foram adquirindo a sua independência 
política, mas sem ter o controle da sua principal riqueza, 
que até 1970, tinha mais de 90% da sua produção petrolífera controlada por sete companhias, as 
chamadas “Sete Irmãs”. 
Nas décadas de 1960 e 1970, a economia mundial estava totalmente dependente do petróleo, sem 
ele não havia progresso. Cientes desta dependência, os países produtores decidiram unir suas 
forças, rompendo com o cartel das “Sete Irmãs”. Surgia a Organização dos Países Exportadores 
de Petróleo, a OPEP (OPEC, em inglês), e a luta contra as grandes companhias petrolíferas 
começou a ser travada, com vitórias lentas, mas definitivas, para os países produtores do óleo 
negro. 
Não só interesses econômicos moveram esta luta, mas principalmente, políticos. O conflito entre 
árabes e israelenses, marcados pela Guerra dos Seis Dias, em 1967, e pela Guerra do Yom Kippur, 
em 1973, em que os árabes sofreram derrotas e humilhações indeléveis, foi o principal fator que 
fez do petróleo uma arma econômica. Para pressionar os Estados Unidos e a Europa, que apoiaram 
Israel nos conflitos, os árabes uniram-se, reduzindo a produção do petróleo, forçando o aumento 
drástico no preço do barril, originando a maior crise do petróleo, que afetou toda a economia 
mundial. A Europa e o Japão foram os que mais sofreram, sendo obrigados a racionar energia. Os 
Estados Unidos travaram o consumo e investiu nas suas reservas. Os países em desenvolvimento 
como o Brasil, foram os mais afetados, pois o encarecimento desta fonte de energia gerou um 
desequilíbrio nas suas frágeis economias. Com a crise petrolífera de 1973, encerrava-se o 
chamado “Milagre Econômico Brasileiro”, e o país entraria em colapso econômico, crise que se 
veio a agravar, só encerrando depois do fim da ditadura militar. 
A crise do petróleo de 1973 não seria a única, mais duas viriam, uma em 1979, com a queda do Xá 
Reza Pahlavi e a Revolução Islâmica Iraniana, outra em 1990, que deflagrou a Guerra do Golfo; 
mas seria a pior delas, pois só então o mundo apercebeu-se da dependência que tinha em relação 
ao petróleo e, de quem eram os verdadeiros donos do petróleo, ou seja, os países que o produziam 
e o exportavam. Desde então, os países buscaram alternativas ao petróleo, investindo em outras 
fontes de energia. E o mundo árabe passou a ter voz no cenário político internacional. A crise de 
1973 pôs fim à fartura do petróleo, iniciando à consciência de que o ouro negro era finito, e que o 
a sua extinção é uma questão de tempo. 
A Criação da OPEP 
Quando descoberto no início do século XX, 
o petróleo passou a ser a fonte de energia 
mais utilizada pelas nações 
industrializadas. A sua produção estava 
restrita a poucos lugares do planeta, sendo 
o Oriente Médio, o principal produtor. 
Dominando pelos europeus, os países 
produtores não tinham direito algum sobre 
as suas riquezas naturais. Mesmo quando 
alcançaram a independência política, 
caíram no domínio absoluto das grandes 
companhias petrolíferas. Muitas vezes, 
menos de 10% do petróleo comercializado 
ficava no país produtor. 
Somente a partir do fim da Segunda Guerra Mundial é que os países produtores de petróleo vão 
tomar consciência da exploração a que se submetiam, e da necessidade de reter a riqueza que se 
esvaía, beneficiando apenas as grandes companhias. Iniciou-se uma luta progressiva dos 
produtores petrolíferos, com poucos avanços durante décadas. 
Um fato marcante aconteceu em 1959, quando se reuniu na cidade do Cairo, no Egito, o Primeiro 
Congresso Árabe do Petróleo, contando com a participação da Venezuela. Durante o congresso, 
deliberou-se que os países produtores tivessem uma maior integração na indústria petrolífera e, 
que se criasse companhias nacionais que operariam ao lado das sociedades privadas. Naquele 
ano as grandes companhias impuseram uma redução de 18% sobre os preços de referência do 
petróleo do Oriente Médio. 
Sete grandes companhias, chamadas de “Sete Irmãs”, controlavam a produção do petróleo no 
mundo, sendo elas cinco americanas, a Standard Oil of New Jersey (conhecida pelo mundo como 
Esso e Exxon nos EUA), a Standard Oil of California (hoje parte da Chevron), a Gulf Oil (também 
parte da Chevron), a Mobil Oil e a Texaco; uma britânica, a British Petroleum; e, uma anglo-
holandesa, a Royal Dutch-Shell. Em agosto de 1960, a Esso tomou a iniciativa de impor uma outra 
redução de 18% sobre os preços do petróleo, fazendo com que o preço do barril chegasse a um 
patamar inferior ao ano de 1953. 
Como reação à baixa no valor do barril do petróleo, os países produtores responderam com energia 
ao cartel dos consórcios internacionais, conclamando uma reunião em Bagdá, no Iraque, em 14 de 
setembro de 1960, da qual participaram representantes da Arábia Saudita, Iraque, Irã, Kuwait e 
Venezuela. Na reunião foi assinado o “Convênio de Bagdá”, documento que criou a Organização 
dos Países Produtores de Petróleo (OPEP). A organização definiu como objetivo principal do seu 
estatuto, a coordenação e unificação das políticas petroleiras dos países membros, determinando 
melhores meios de salvaguardarem seus interesses ante as companhias petrolíferas. Além dos 
cinco países fundadores, outros se juntaram a OPEP, constituindo 12 membros na época da crise, 
em 1973: Irã, Iraque, Arábia Saudita, Kuwait, Venezuela, Líbia, Argélia, Indonésia, Emirados 
Árabes, Nigéria, Qatar e Equador. Atualmente, 13 países são membros da OPEP, sendo Angola o 
décimo terceiro membro, que entrou para a organização em 2007. O Gabão fez parte da OPEP de 
1975 a 1994, sendo um ex-membro. O Equador, que se tornou membro em 1973, deixou a 
organização em 1992, voltando a fazer parte dela em 2007. A participação da Indonésia está em 
processo de revisão, pois já não é considerado pela OPEP um país exportador de petróleo líquido. 
Com a formação da OPEP, uma nova página seria escrita na história do petróleo. Sua ascensão 
eliminaria futuramente, as tramas do monopólio das Sete Irmãs no mercado de energia. Também 
transformaria o petróleo em arma de negociação entre as nações, interferindo e influenciando em 
vários conflitos mundiais surgidos no Oriente Médio ao longo das décadas. Mas as vitórias 
econômicas da OPEP só viriam a partir de 1970. Até lá, nacionalizações do petróleo e pressões 
econômicas sobre o mundo definiram a consolidação da OPEP como organização de peso. 
A Guerra de 1967, a OPAEP e o Acidente do Oleoduto de Tapline em 1970 
Em maio de 1967, Síria, Jordânia e Egito lideraram uma invasão a Israel, 
para tirar o Estado judaico do mapa. Explodia uma guerra que duraria 
apenas seis dias, mas que deixaria conseqüências históricas definitivas. 
Israel infligiria aos árabes a mais humilhante derrota de todos os tempos. 
Na Guerra dos Seis Dias, os israelenses tomariam aos egípcios a 
península do Sinai e a Faixa de Gaza; aos sírios as colinas de Golã; e, 
aos jordanianos, a Cisjordânia e Jerusalém. A derrota mostrou a 
fragilidade dos exércitos dos países árabes ante ao exército israelense.Além da derrota, o mundo árabe ressentiu-se do apoio explícito do 
mundo ocidental a Israel, excepcionalmente o apoio dos Estados Unidos. 
Em novembro, a Organização das Nações Unidas (ONU), aprovou a 
Resolução nº 242, condenando a invasão dos israelenses aos territórios árabes, pedindo a retirada 
imediata da zona de ocupação, além de conclamar uma solução justa para a questão dos 
refugiados palestinos. Apesar da resolução da ONU, não foi aplicado esforço algum para que ela 
fosse cumprida. 
No rebote da Guerra dos Seis Dias surgiu mais uma organização para defender os interesses dos 
produtores de petróleo, a Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo (OPAEP). A 
organização foi fundada em 9 de janeiro de 1968, por um documento assinado entre países árabes, 
em Beirute, no Líbano. O acordo foi assinado pela Arábia Saudita, Líbia e Kuwait. Juntar-se-iam 
aos três países fundadores a Argélia, o Bahrein, os Emirados Árabes Unidos e o Qatar, em 1970; 
a Síria e o Iraque, em 1972; o Egito, em 1973; e, a Tunísia, em 1982, que deixaria a organização 
em 1986. A OPAEP só admite países árabes como membros. 
A 3 de maio de 1970, um pequeno acidente na Síria, que geraria a ruptura de um oleoduto, iniciaria 
a primeira retaliação dos árabes às grandes companhias petrolíferas, era o começo da grande crise 
petrolífera que culminaria em 1973. 
Até 1970, dez anos passados da fundação da OPEP, os resultados obtidos pelos países 
exportadores de petróleo foram restritos a um pequeno aumento de impostos pagos pelas 
companhias estrangeiras, que continuavam a controlar 80% das exportações de petróleo bruto e 
90% da produção do Oriente Médio e da África do Norte. Médio Oriente e África possuíam 60% das 
reservas mundiais de petróleo, estando vinculados a contratos das grandes companhias, que 
previam a estas, mediante o pagamento de determinadas quantias, a concessão sem limites da 
exploração do óleo extraído do subsolo árabe. 97% deste óleo iam para as mãos 
das concessionárias a preços que se mantinham praticamente inalterados desde a Segunda 
Guerra Mundial. 
Naquele maio de 1970, um trator a operar na Síria, próximo 
ao oleoduto de Tapline (Trans Arabic Pipe Line), filial da 
Aramco (Arabian American Company), chocou-se contra as 
instalações por onde passavam, anualmente, 30 milhões de 
toneladas de petróleo, que vinham da Arábia Saudita com 
destino ao porto libanês de Sidon. O acidente parecia ser 
fácil de ser resolvido pelos diretores da Texaco, Standard Oil 
of Califórnia, Esso e Mobil Oil (as “quatro irmãs” sócias da 
Aramco), bastaria um pedido de autorização para entrar no território sírio e reparar o oleoduto, um 
procedimento rotineiro nos campos petrolíferos. Inesperadamente, a autorização foi negada pelo 
governo sírio, que manteve o veto ao acesso a seu território por nove meses. O transtorno atingiu 
à Europa Ocidental, que se viu subtraída de 60 mil barris de petróleo por dia, gerando grandes 
prejuízos econômicos. 
Nacionalizações de Empresas Petrolíferas e Aumento dos Preços do Petróleo 
Os reveses dos exploradores de petróleo estavam apenas a começar, 
duas semanas após o acidente do Tapline, Argélia, Iraque e Líbia 
enviaram os seus ministros do petróleo a um encontro em Argel, que se 
decidiram unir contra as companhias petrolíferas internacionais, trazendo 
exigências como a revisão dos contratos, o aumento de preços e 
impostos sobre o óleo extraído dos seus subsolos. 
Os resultados do encontro surtiram efeito logo em julho, quando a Argélia 
aumentou os impostos sobre os lucros de uma das companhias francesas 
que exploravam o seu subsolo. No mesmo mês, a Líbia nacionalizou as 
companhias que distribuíam o seu petróleo, convocando a seguir, a Esso 
e a Occidental Petroleum a debaterem o aumento dos preços. O coronel 
Muammar Khaddafi, presidente líbio, intimidou a Occidental Petroleum a 
reduzir 100 mil toneladas diárias de petróleo. 
A união dos paises produtores de petróleo contra o truste das companhias internacionais aumentou 
o poder de barganha. Os três maiores campos petrolíferos do mundo estavam no golfo Pérsico, em 
El Ghuar, na Arábia Saudita; Borkan, no Kuwait; e Kirkut, no Iraque. Os três países decidem 
aumentar os impostos sobre os lucros das concessionárias. 
Em novembro de 1970, Houari Boumédienne, presidente da Argélia, nacionalizou a Mobil Oil e a 
Newmont. Em dezembro, a OPEP reuniu-se em Caracas, na Venezuela, decidindo que a partir de 
então, o preço do petróleo seria unificado, eliminando assim, as diferenças que haviam de um país 
produtor para o outro. Os preços foram alinhados pelo que era praticado mais alto, sendo 
aumentados. Na reunião, constituíram ainda, um comitê especial para negociar com as sociedades 
petrolíferas em nome dos países do golfo Pérsico. O petróleo tornou-se mais caro, 
conseqüentemente, os produtos nos Estados Unidos e na Europa. 
Mas dois membros do comitê formado na reunião de Caracas, Ahmed Yamani, ministro saudita, e 
Jamshid Amouzegar, ministro iraniano; revelam à mídia do ocidente que vão moderar o debate a 
favor dos interesses dos norte-americanos. Irã e Arábia Saudita eram aliados tradicionais dos 
Estados Unidos, esta posição marcaria o inicio das divergências entre os países produtores de 
petróleo. As divergências entre os árabes, os conflitos árabe-israelense, e ganância das grandes 
potências em resolver os seus interesses, entrelaçavam-se de forma perigosa, começando a 
desenhar a crise do petróleo. 
O Prelúdio da Crise de 1973 
A derrota na Guerra dos Seis Dias, em 1967, deixou os países 
árabes feridos em seu orgulho, dispostos a uma revanche. 
Líderes egípcios como Gamal Abdel Nasser e o seu sucessor, 
Anwar Sadat, conclamavam que somente uma nova guerra 
poderia obrigar Israel a devolver os territórios anexados. Em 
1971, Sadat vociferava que se os israelenses não deixassem 
a zona de ocupação até o fim do ano, deflagraria a guerra. As 
ameaças não se concretizaram naquele ano. 
Em fevereiro de 1971, as companhias petrolíferas 
internacionais são obrigadas a ceder, fazendo uma oferta 
superior às pretensões dos produtores: 35 centavos de dólar 
como referência do preço do barril de petróleo, com dois 
aumentos anuais correspondentes à inflação e à demanda; 
contra os 12 e 17 centavos de dólar por barril que a OPEP 
esperava. As concessionárias garantiram assim, os 
investimentos e o controle da produção, indo buscar o lucro exorbitante aos principais compradores 
do golfo Pérsico, a Europa e o Japão, que reféns do petróleo, arcaram com os aumentos na sua 
economia, pagando um grande preço social. Esta crise travou o crescimento dos japoneses e dos 
europeus, favorecendo os Estados Unidos, ameaçados pela concorrência nipônica e européia. Esta 
garantia das grandes companhias fez com que elas reinvestissem os lucros com a venda do 
petróleo em pesquisas de novas fontes de energia, satisfazendo os norte-americanos. 
As divergências entre os membros da OPEP precipitaram os acontecimentos. A Argélia e a Líbia 
foram as que mais protestaram contra as decisões, exigindo que as companhias fossem obrigadas 
a reinvestir maior parte dos lucros do petróleo nos países produtores. Diante do impasse, a Líbia 
terminou por privatizar a British Petroleum Company, composta pela Esso, Shell, Britsh Petroleum, 
Mobil Oil e Compagnie Française de Pétroles. A Argélia, por sua vez, nacionalizou as empresas 
petrolíferas francesas. 
Em 1972, realizou-se o Congresso Árabe do Petróleo, em Argel, onde os participantes 
recomendaram à OPEP que o petróleo fosse posto a serviço da nação árabe. Era o prelúdio do uso 
do petróleo como “arma econômica”, que seria usada no próximo conflito árabe contra Israel. A 
consciênciadesse poderio atingia todos os países árabes, o incentivo às nações produtoras de 
petróleo de apropriarem-se progressivamente das suas próprias riquezas alastrou-se. Era preciso 
valorizar esta riqueza e através dela, consolidar maior participação dos árabes na política 
internacional. Estes objetivos começariam a ser testados em outubro de 1973, quando explodiu 
uma nova guerra entre árabes e israelenses. 
 
 
 
Deflagrada a Guerra e a Crise 
O ano de 1973 foi marcado por encontros diplomáticos 
entre vários líderes árabes. Um encontro no Cairo, 
entre o presidente da Síria, Hafez Assad; o rei Hussein, 
da Jordânia; e, o monarca saudita Faiçal Ibn Abdul 
Aziz al Saud; despertou a curiosidade da imprensa 
ocidental, que vislumbrava uma possível ação militar 
contra Israel. A iminência da guerra aumentou quando 
o presidente egípcio Anwar Sadat, o líder argelino 
Houari Boumédienne e o presidente da organização de 
libertação da Palestina, Yasser Arafat, encontraram-se. Sucessivas reuniões das lideranças árabes 
precediam uma imensa nuvem de guerra no Médio Oriente. 
No dia 6 de outubro de 1973, as suspeitas são confirmadas, forças militares egípcias ocuparam, 
em seis horas, toda a margem oriental do canal de Suez. Simultaneamente, os sírios avançaram 
sobre as colinas de Golã. A luta bélica estava iniciada, era o feriado judaico do Yom Kippur, por 
isto o quarto conflito árabe-israelense ficou conhecido como a Guerra do Yom Kippur, ou a Guerra 
do Kippur-Ramadã. Os conflitos estenderam-se de 6 a 26 de outubro de 1973. 
A Guerra do Yom Kippur ficou caracterizada por misturar a política internacional com o petróleo. 
Os Estados árabes tinham a consciência da importância do petróleo na economia mundial, e de 
que eram os maiores produtores do ouro negro. Esta evolução na relação dos produtores com o 
petróleo, levou-os a ter maior autonomia ante a exploração das companhias petrolíferas e, maior 
força política nas questões internacionais. Enquanto violentos combates eram travados nos campos 
de luta, o Iraque decretava a nacionalização dos bens da Mobil Oil e da Esso, na Barash Petroleum 
Company (consórcio com a mesma composição da já nacionalizada Iraq Petroleum Company), 
limitando parte dos interesses norte-americanos nas suas jazidas petrolíferas. A OPAEP, dez dias 
após o inicio da guerra, reuniu-se no Kuwait, decididos a usar o petróleo como arma de guerra. Na 
reunião foram tomadas medidas que reduziam a produção de óleo destinada aos Estados Unidos 
e demais países que apoiavam Israel. A decisão estava disposta a ir ao embargo total aos norte-
americanos e aos países vistos pelos árabes como não amigos, como a Holanda, que apoiava 
abertamente Israel; a Rodésia; a África do Sul e Portugal. 
O mundo ocidental, especificamente os EUA, apoiavam Israel, mas necessitavam do petróleo 
árabe. As companhias petrolíferas norte-americanas pressionaram o governo de Washington a 
mudar de tática em relação à diplomacia que tinham com o Oriente Médio. A decisão da OPAEP 
de usar o petróleo como barganha política, exigiu que o mundo e os EUA apoiassem os árabes na 
Guerra do Yom Kippur, algo diplomaticamente impossível para aqueles países. Era o início das 
mudanças no jogo político econômico do petróleo, mostrando ao mundo que as relações 
internacionais entre produtores e consumidores atingiam um outro patamar. Os produtores 
começavam a controlar as suas jazidas, há décadas exploradas pelas companhias internacionais, 
obtendo finalmente, maiores benefícios econômicos e poder de barganha política para os seus 
interesses. A disposição dos árabes em usar o petróleo como arma poderosa, levou o mundo a 
uma grande crise econômica, em 1973, que ficou conhecida como a crise do petróleo. 
 
 
A Crise de 1973 e as Conseqüências para o Mundo 
O uso do petróleo como arma de guerra teve 
conseqüências dramáticas para a economia dos 
paises que dele dependiam. A Europa consumia 
80% do petróleo que provinha do Oriente Médio e 
o Japão 90%. Quando os árabes iniciaram o 
embargo do petróleo, reduzindo a produção até o 
limite oficial de 15% com variações de um produtor 
para o outro, os europeus foram obrigados a 
racionar combustível, impondo a proibição da 
circulação de veículos em dias definidos da 
semana; os japoneses fizeram reduções drásticas 
de consumo de energia, afetando a produtividade 
das suas indústrias. 
A crise atingiu aos países em desenvolvimento, 
considerados amigos pelos árabes, de forma 
indelével, já que se utilizavam do petróleo como fonte de energia barata, tendo o seu valor 
aumentado bruscamente. O Brasil recorreu ao racionamento de combustível, viu a mentira do 
chamado “Milagre Econômico” esvair-se, entrando em um dos períodos mais difíceis da sua 
economia. 
Curiosamente, o embargo que tinha como objetivo principal atingir os Estados Unidos, não 
consegue o propósito. Os Estados Unidos eram menos dependentes do petróleo árabe, tomando 
medidas de cautela relativas às reservas que possuíam e ao consumo. Foram beneficiados pelo 
freio nas economias européias e japonesa, concorrentes diretas dos seus produtos. O embargo 
aos norte-americanos foi suspenso em março de 1974. Um mês antes, Irã e Arábia Saudita, 
principais aliados árabes dos Estados Unidos, receberam uma considerável quantidade de aviões 
de guerra norte-americanos. Naquele ano, a Aramco aumentou os seus investimentos na Arábia 
Saudita de 500 para 800 milhões de dólares. 
As companhias petrolíferas, conhecidas por “Sete Irmãs”, tiveram grandes lucros com a crise, pois 
eram as únicas com condições de fazer os maiores lances no mercado negro do petróleo, 
dominando a produção e o transporte do produto árabe, vendendo-o por preços exorbitantes aos 
consumidores. Com a crise, as “Sete Irmãs” viram os seus lucros, em 1973, a atingirem um aumento 
de 159%. 
A alta explosiva nos preços do petróleo enriqueceu muitos países árabes, que viram a renda per 
capita subir para os 5 mil dólares anuais. Qatar, Kuwait, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos 
e Líbia, formaram o conjunto de paises novos ricos do Oriente Médio. 
A crise do petróleo de 1973 afetou o mundo inteiro. As conseqüências, em princípio daninhas para 
a economia do mundo, foram, ao longo do tempo, benéficas e positivas. Foi a partir dela que se 
teve a consciência da dependência que a economia mundial tinha do petróleo, da fragilidade dessa 
dependência, e da necessidade de investir-se em outras fontes de energia. No Brasil, o 
desenvolvimento da utilização do álcool como combustível foi uma conseqüência da crise do 
petróleo. 
Se a crise petrolífera de 1973 serviu para a busca de novas fontes de energia no mundo, ela 
conseguiu aumentar as diferenças econômicas entre os países ricos e pobres, fomentando um 
quadro de desigualdade social por todo o planeta. Não solucionou o conflito entre árabes e 
israelenses, que continuam a insurgir revoltas e guerras na região, ceifando milhares 
de vidas.Após 1973, o mundo testemunharia mais duas grandes crises do petróleo, que continuou 
a ser usado como arma política: a de 1979, originada pela deposição do Xá Reza Pahlavi e a 
Revolução Islâmica, no Irã; e, a de 1991, desencadeada pela Guerra do Golfo. O petróleo continua 
a ser um grande provedor de energia, conseguindo movimentar a economia mundial. Os esforços 
para substituí-lo por outras fontes exigiram investimentos em estudos, com o objetivo de oferecer 
outras alternativas quando o ouro negro for esgotado. Esta consciência só foi possível graças à 
crise de 1973 e as suas conseqüências históricas, que marcaram os últimos anos do século XX.

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