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Aparelhos ideologicos de estado Althus

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o
, l l
Jì
/
r Tradruido do origiral en frBncés posrcdon
Revissr* Aurea Moraes Sa[tc
hòdlção,Gráfica: Orlado Fcmades
lr ediçãô:r 1983
Dircitos adquiridos peta
EDIçÓES GRAALLTDA.
Rua Hernrncgildo dçrBgn6, 3 l-A
Glóris, Rio de J,aneirq RI
CEPt2024L
Tel: (O21) 252-8592
que se Ìeserya o dheito dçsta qadugão.
Aüea{!:mos pelo:Repobotso postat'
L992
Iopresso ao Brasil I pünted in Brozil
CIP. Brasil. Catalogação na fmte
Sindiçato Nacioul drÈ Editores de Liuos, RI
Althusseç Louis,l91&
(Biblioteca de ciêruias sociais; v. n 25)
Tradução de: Poeicion
1. O Esüado 2" Eatado 
- 
Teoria I. Tlhrlo tr. Série
cDD-320.1
320.101
cDU_321
32t.AL
3-6 lo\
LOUIS ALTHUSSER
)úLV4l,vla t N cr/ ' , t fc/ í /
APARETHOS
2
IDEOLOGICOS DE
ESTADO
NOTA SOBRE OS APARELHOS
IDEOLÓGICOS DE ESTAI)O
Introd.uçfu Crítiea d,c
J. A. GullHoN ALBUeUBRquE
Tradução ile
Welran JosÉ EvexonLrsrA
Mlnre Lruu VlvplRos DE CAsrno
6s edição
N.' CHAM. .-9-?ç..,.).....
AL( 
€r, .3
À04
4iôq' 'ã6:õLi '4
gH
ilo'
_,aPABELH0S rDE0LócrC 9&L%-/o,,'
M;
Traduçdo
'de
Menre Llune Vrvunos on Cesrno
s"t'rs-gêe+lt9ysÊgJ,?+9,.9r9!.9_õSi 
,j:.Jrg*,_**_,
Impõe-se que tratemos de uma questão apenas es-
boçada em nossa s1Álisg, quando falamos da necessi.
dade de renovação dos meios de produção para que a
produção seJa possível. Era apenàs uma rápida indica.
ção. Conslderá-la-emos agora pôr si mesma.
i Como 9 r{lzig Marx, até uma criança sabe que uma
fÍormação social que não reproduz as condlções de pro.
f dução ao mesmo tempo que produz, não sobreviverá
lnem por um ano.2 Portanto a, condição últlma d.eprodução é a reprodução dqs condlções de produção.
Esta pode ser "sÍmples" (e então se ltmlta a reprodu.
zlr as condições pré.exlstentes de produção) ou "am.
püada" (quando as amplia). Deixemos, por hora, esta
dlstinção de lado:
O que é entáo a Reprodução das Condições de Pro.
dução?
Penetramos aqul num domÍnio ao mesmo tempo
bastante familiar, desde o Liwo II do Capital, e singu.
I O terto a ser lldo sê constltul de dols trechos de urn estudo
alnda em curso. O autor Íea questáo de entitulá.los Notas para
uma pesqulse. As idélas oçostas devem ser consideradas como
uma introduçáo à dlscussão.
2 Carta a Kugelmann, ll.?.1868 (Cartas sobre o Capltal, Ed So
clalea, p. 229).
\ r "
53
larmente descoúrecido. As evidênclas tenazes (evidêr,
Tentarernos exarnlnar as eoisas com método,
Para sÍrnplificar nossa e:rposiçáo e se consideramos
que toda fopnragão social é resultado de um modo deprodugão do.q{pnnte, podemos dizer que o proces-
so de produção aciona as forças produtivas edstentes
em e sob relagões de:prodtrçãgr{gfipirrns.
Segue-se que toda formaçáo social para_e$stg,_gg
mesmo tempo que produz, e para poder prodÈïr,.-dõvì
reproduzir as condições de sua produção. Ela 
-deve,portanto, reproduzir:
1 ) as forças produtivas
2) as reÌações de produçáo exlstentes
A Reprodução {91 ljeieg_Cç_E9{sffu_.
Todo mundo recorúece (mesmo os economistas
burgueses que cuidam da contabilidade nacional e os
Qualquer economista, qu" .ri.tã *" ." ãt"i:rgue dequalquer capitalista, sabe que é preciso anuafmenteprever a reposiçáo do.-que se esgota_ ou_se utilÍza naprodução: matéria.prima, instalações fixas (constnr.
54
ç.ges), instnrmentos de produção (rnáquinas), etc., . DÍ.
zemos: qualquer economista, qualquõr capíta[sta, en-qyryto. am-bos expressam o ponto de vista Aa empiesá,
contenta^ndose ern comentar sirnplesmente os tõrmoida prática ÍÍnancelra contábÍl da eìmpresa.
Porém sabemos, gr-agas ao gênio de euesnay _ quefoi o prÍmeiro a formutal eSte problema que ,,ialta áos
olhos" 
- g a9 gênio de Marx 
- 
que o reSolveu _ qru
não é ao nÍvel da empresa gue a ieprodução das coiai
ções matuÍais da produçãe bode sei penËaOa; pois nú
e nesse ilvel que ela existe em suas condições reais. Oque acontece ao nÍvel da gmpnesa é um efeito, que dá
apenas a ldéia da necessidede da reprodução, mãs que
não perrnite absolutamente pensar suas - cond.içõej e
seul meca;nisrnos.
Basta reÍletir um pouco para se convencer: o Sr. X,
capitaüsta, que. preg{z tecidos de lã em sua faUrica,
cleve "reproduzir,' sua rnatéria-prlma, suas máquinas,
etc.. .. Porérn 
.quem as_prroduz pÃra a óua produçâo iã"gutros capitatistas: o Si. y, um grande criador bJ ovoItla^s da Ausür.álla; o Sr. Z, graíde industrial metalúr.glco, produ3or de móquinas-ferra^rnentas, etc, etc, devernpor sua v€2, para produzir ess-es produtos que condi.gÍon_am a re_produção <rfs condiçdes de proãuçáõ doSr. X,. reprsdu^zir..as gonglçEes de iua prOpiia pr<iãúçao-,
e asslm ünÍinitarnente, tudb isso nuúa proporção'taique, Ro mercado nacÍonal (quando náo nõ rnercado
mundlal), a dernanda de rneiós de produçao tpara á
reprodução) possa ser satisÍeita pela-oferta,
. . 
P*_r" pensar este mecanismo que constitui urna es.pécie de "Íio Eem flm", é necessáriò seguir a traletoriã
'lglolal" d6-T!íarx, e 
.est'rtar espgcialrnente as relaçõesde circutação do cap*ar entre íÉãtã" r tpróauçáoãõã
Iqejos-de produçãot e o Setor II (produção do;;õ;
9g .o_fo,-to), e a realizagão Oa mãis.vatta, nos üvrosll.e_ $_I _d9 Q9.pitar.
Não penetraremos na arúlise desta questão, Basta.qgs h1vel mçncionado a e:dstêncüa da necessidade da
rgproduçáo das condições rnst€riqis d produçáo.
- ì 5(
nqp_P!gçg@_ \
Certamente alguma colsa terá chamado a atenção \do leitor. Referimo-nos à reprodução dos meios de pro '*
dução, mas não à reprodução das forças produtivas,
Omitimos portanto a reprodução do que distingue as
forças produtivas dos meios de produçáo, a saber a
reprodução da força de trabalho.
Se a observaçáo do que ocorre na empresa, esps
cialmente o exame da prática financeira pontábil das
previsões de amortlzação-inversão, pode dar-nos uma
idéia aproximada da existência do processo material da
reprodução, entramos agora num domínio no qual a
observação do que ocorre na empresa é, senão total-
mente, quase que totalmente inútil, e por uma boa ra.
zâo'. a reprodução da força de trabalho se dá, no_ essen-
cial, fora da empresa,
Como se assegura.a replsduSip_êglgfçê_de trabs.
lho? Ela é assegurada ao se dar à força de trabalho o
meio material de se reproduzir: o salário. O salário
consta na contabilidade de cada empresa, mas como
"capital mão-de-obra" ? e de forma alguma ço_mc Sqndt-
çáo da reprodução metefiãl-&-.Ìõ-rça de trabalho,--
No entanto é assÍm que ele "atua", uma vez que o
salário representa apenas a parte do.. valor_ pr-o_dui4ido
pelo gasto da força de trabalho, tndigp_e_pçlyel- parÊ_Sua
reprodução, quer dizer, tndispensável.para a r_econstf
túçáo da força de trabalho-do-assalariado (para ti-hã:
bitaçáo, vestuário e alimentação, em suÌna, pra que ele
esteja em condições de tornar a se apresentar nâ ma.
nhã seguinte - ó todas as santas manfras - ao 
-g,ti-"ng
da empresa); e acrescentemos: indispensável para a cria-
ção e educação das crianças nas quais o proletariado se
reproduz (em X unÍdades: podendo X ser igual a 0,1,2,
etc. . ) como força do trabaÌho.
I-embremos que esta quantidade de valor (o salá-
rio) necessário para a reprodução da Íorça de trabalho
3 Marx elaborou o concglto clentÍllco deste noçÁo: capltal va.
riável.
5ó
não está apenas determinada pelas necessÍdades de um
SM.I.G. "biológico", mas também por um mÍnjmo
histórico (Mam assinalava: os operários ingleses preci-
sam de cerveja e os operários franceses de vlnÌto) e,
portanto, historicamente variável.
Lembremos também que esse mÍnimo é duplamente
histórico enquanto não está definido pelas necessidades
históricas da classe operária recorüecidas pela classe
capitalista, mas por necessidades históricas impostas
pela luta da classe operária (dupla luta de classes: con.
tra o aurÍrento da Jorirada de trabalho e contra a dimi-
nuiçáo dos salários).
Entretanto não basta assegurar à força de trabalho
as condiçõesmateriais de sua reprodução para que se
reprodrrza como força de trabalho. Dissemos que â
Íorça de trabalho disporúvel deve ser "competente", isto
é, apta a ser utilizad"B no sistema complexo do processo
de produção. O desenvolvimento das forças produtivas
e o tlpo de tmidade historicamente constitutivo das
forças produtivas num dado momento determinam que
a força de trabalho deve ser (diversamente) qualificada
e entÉo reproduzida como tal. Diversamente: conforme
às êÌigências da divisão social-técnica do trabalho, nos
sêug dlfgjgntes t'cargos" e "empregos".
Ora, vejamos, como se dá esta repro{tçio da qua-
ltficação-(diversificada) da força de trabalho no regime
6-itaiista? Ao contrário do qne ocorria nas formaçôes
soclais escravÍstas e servis, esta reprodução da qualifi'
cação da força de trabalho tende (trata'se de uma lei
tendencial) a dar-se náo mais no "local de trabaÌho" (a
aprendizagem na própria produçáo) porém, cada vez
mais, fora da proflução, através do sistema escolar capi'
talistg e- de outras instâncias e instituições.
Ora, o que se aprende na escola? É possível chegar-
se a um ponto mais ou menos avançado nos estudos,
porém de qualquer rnaneira aprendese a ler, escrever,
e contar, ou seja, algumas técnicas, e outras coisas tam-
bém, lnclusive elementos (que podem ser mdimentares
ou ao contfário aprofundados) de "cultura cientÍfica"
ou "literária" diretamente utiüzáveis nos diferentes pos'
I
I
i
f3.:^iryf gl:l?s, a escota (mas também ourras
i*lr$sj:jgj:lt"r lo4õ t Ts;Ëj, e ouros apars,Hg:_"T: 
-o - 
Bcércto Í qgg1 -o [:ËJ],lhüi";":ï;ï
li*"iï:l"i*{?-g:-suain-reúã;.ïôããïã?*"gËüï'da produção, dB explqrqõão ã d;;
ume
:?y^::i:^_"ll:",,9s-tir{=176püA_ìJ'.ülriiãhffi
f,f , d;:'ili*1-,,9:lr::Tiósariiãnúe,;=;-ffi
,r,:,,1.",*^:ï*g:i13r-!g: operáriosii út; ; d, ,ffiáil:tlores r cap*atisras ), seja a'de-aúit;ãín; ïiOrâïffi
19s gggdlqs), seJa a de.grandes sacerdores da ideologiadominante (seus,,funciõnários',) etc
de trabalho evidencia, como
ão somente a reproduçao ae
nnbém a reprodúção áe suainante, ou da ,,pr-ática,, desú
somenre mas ramìcérn:, pJ,? ï?&Hl,i# H"ï"Jilgção dq força de_trabaÍho ," ,rã"gura em e sob asformas de submissão ideotógica. :--
-.9o? o que recorüecemos a presença de uma novarealidade: a ideologia
Faremos aqul duas obsenaçóes:
A primeira servirá para completar nossa aná-lÍse ds reprodução.
Acabamos de_ estudar rapidamente as formas dareprodução rìns Íorgas produiiv;;-;
3íif#üã"-e"r^'u';'r"ãoã-cüïó'ËiË3tï;"ï?h#ïïi
.^jl!""mgs pgrqnto desra quesrão. Mas para ob-rcrrnos os rneios de fazêlo, temós -qr." nou.*ente daruma grande volta.
A 
_segunda observação é que para dar esta volta so.mos obrigados a recolocar nóssa- velha qu"rt"oi o ú-,é uma sociedade?
lnÍraostrutura e Supercstrutura
Já tfuemos a 
, 
oport'nidade. de insistir sobre ocaÉter revotucionóriô Oa cãncãpçaJ-^roi*t" do ,,todo
{ Em Pozr Merz e Ltre le Coptlarlt, Maspero, t965.
58
social", naquilo em que ela se distingue da ,,totalidade"
produção ), a à sup-e1es!ryJufg,.,.que_..compreende 
_dgis
"níve,is"ou'.'i_ns-tâncias"._g. jl$Ëco.p_olÍlige_Lq_qi_rcüg__e
Além de seu interesse teórico-pedagógico (que apon.
ta a diferença entre Mam e Hegel), esta représentãção
oferece a seguinte vantagem teórica fundamental: ela per.
.mite inscrever no quadro teórico de seus conceitos es.
senciais o que denominamos seu índiee de elico,cin res.
pectiuo. O que se entende por isto?
Qualquer um pode facilmente perceber que a re.presentação da estrutura de toda a sociedade como um
edifÍcio composto por Ìrma base (infra-estrutura) sobre
a qual erguem-se os dois "andares', da superestruhrra
constitui uma metáfora, mais precisamente, uma metá.
fora espacial: um tópico.o Como toda metáfora, esta
sugere, faz ver alguma coisa. O que? Justamente lsto:que os andares superlores não poderlam ,.sustentar.se"(no ar) por si sós se não se apoiassem sobre sua base.
A metáfora do edifÍcio tem então como objetivo
primeiro representar a "determinação em úItima ins-
lância" pela base econômica. Esta metáfora espacial
tem então como resultado dotar a base de um Índice
de eficácia conhecido nos oélebres termos: determina.
çáo em última instância do que ocorre nos "andares"
da superestrutura pelo que ocorre na base econômica.
A partir desbe ínüce de eficácia "em útima instân.
cia", os "andares" da superestrutura encontram-se evi.
5 Tópico, do grego lopos: local. Um tóptco represente, num
espaço deÍinido, os locais respectivos ocupados poi este ou Bque.
la realidade: desta manelra o econômico está embalxo (a búe)
c a superestnrtura em clrns.
ó0 61
dentemente afetados por rliferentes índices de eficácia.
Que tipo de Índices?
Seu lndice de eficácia (ou de determinaçáo), en.quanto determinado pela determinação em última ins-
tância da base, é pensado peÌa tradição marxista sob
dtres formas: t ) a existêncla de uma ,,autonomia rela-
tiva" da superestrutura em reÌaçáo à base; 2) a exis-
tência de uma "ação de retorno" dâ superestrutura so-
bre a base.
Podemos então afirmar que a grande vantagem
teórlco do tipó de eficácia "derivada" próprio à superes.
fÍcio (base e superestmtura) consistè em mostrãr ao
mesrno tempo que as questões de determinação (ou deÍrdice de eficácia) são fundamentais; e que é a base
que determina em última Ínstância todo o edifÍcio; como
consequêncla somos obrigados a colocar o problema
teórlco do tipo de eficácia "derivada" próprio à superes-
trutura, isto é, somos obrigados a pensar no que a tra-
dição marrlsta designa petos termos conjuntos de auto.
nomia relatlva da superestrutura e de "ação de retor-
no" da sup€restrutura sobre a base.
O maior inconveniente desta representâção da es.
trutura de toda a sociedade pela metáfora eipacial do
sílirfsig está evidentemente no fato de ser elã metafó.
rica: lsto é, de permanecer descritiva,
Parece-nos desejável e possível representar as coi-
sas de outra maneira.
Que sejamos bem entendidos: não recusamos em
absoluto a metáfora clássica, já que ela mesma nos
obrlga a superá.la. E não a superaremos afastando.a
como caduca. Pretendemos simplesmente pensar o que
ela nos dá sob a forma de uma descriçáo.
. .Pensamos_gue é a partir da reprodução que é pos.
sÍvel e necessário peru;ar o que caiacterúa o'essericial
da existènsia e naturez,a dz superestruhrra. Basta colo.
car'se no ponto de vista da reprodução para que se es-
c$p.am mútas questões que a metáfora espacial do
edifÍcio indicava a existência sem dar.thes resposta con.
ceitual.
Sustentamos como tese Íundamental que somente
é possÍvel levantar estas questões (e portanto respon.
dêlas) a prtir do ponto de tsista dn reprodução.
Analisaremos brevemente o Direito, o Estado e aideologia a pa,rtir deste ponto de vista. E mostraremos
ao mesrïo tempo o que ocorTe a partir do ponto de
vista da prática e da produgáo por um lado, e -da repro.dugão por outro.
rb,
gurar a sua dorninação sobre a classe operária, para
submet$la âo processo de e4loqSão da mais:vellg'tãuerd,iaeÌ, à e:çlonação capitaüsta).]
pagou com seu sangue esta ocperiência) quando s po
lÍcia e sew órgãos au:dlirares são ,,ultrapassados p"io,
lcontecimentos"; e, acima deste conjunto, o Chefe deEslggo, o Governo e a Adminisirãfao.
_ 
Apresenüada desta forma, a ,,teoria marxista-lenj_nista" do Estado toca o e
neúrum momento de duvid
Da Teoria Descritiva à Teoria propriamente Dita
.,^.tio 9.ntanto, como o assinalamos na metáfora doedifÍcio (Ínfra'estrutura e r.rpérãJ*tura) também estaapresentação da natureza Ao pstaAõ permanece descri_tiva em parte.
Como usaremos constantemente este acljetivo (des-critivo) torna,se necessária um" à*iricagãõìú;';d;;qualquer eqúvoco.
^ 
Quando, ao Íalarmoq da metáfora do ed.ifÍcio ou dateoria marxista do Estado dir;;;s-ìue são concepcões;ivas de seu-objeto, íao ã-"ãã;r]
, inrenção crÍrióa. beló- 
"ónt-ü-
carar esta etapa comotran.
uolvinlento da teoria. e ,rór_
.itiva,' aponta este careter
conjunção dos termos em.ta espécie de ,,contradição,,.
toca.se em parte com o ad.
rmpanha. Isso signlfica exa.
Btsa,ocomeço'.,ï1Ïl9rï'#i:ï;,Í:ï'#.,iïfri:
a forma "descriüva" ,rn aú;;.;p;;"r" a reoria exige,
63
I
pelo efeito mesmo desta "contrâdlção", um desenvolvl-
mento da teoria que supere a forma da "descrição",
Precisemos nosso pensamento voltando âo nosso
objeto presente: o Estado.
Quando dizemos que a "teoria" marxlsta do Estado
que utilizamos é parcialmente "descritiva", isto significa
em primeiro lugar e antes de mais nada que esta "teo-
ria" descritiva é, sem dúvida alguma, o irúcio da teorla
mancista do Estado, e que tal irúclo nos fornece o es-
sencial isto é, o princÍpio decisivo de todo desenvolvi-
mento posterior da teoria.
Diremos, com efeito, que â teoria descritiva do Es.
tado é ju.sta uma vez que a definição dada por èÌa de
seu objeto pode perfeitarnente corresponder à imensa
maiora dos fatos observáveis no domínio que lhe con.
cerne. Assim, a deffurição de Estado como Estado de
classe, existente no aparelho repressivo de Estado, elu.
cida de maneira fulgurante todos os fatos observáveis
nos dlferentes niveis da repressão, qualquer que seJa
o seu domÍnio: desde os rnassecres de jurúo de 1848 e
da Comuna de Paris, do domingo sangronto de maio de
1905 em Petrogrado, da Resistência, de Charonne, etc..,
até as mais simples (e relativamente anódinas) inter.
venções de uma "censura" que proÍbe a Religioso de
Diderot ou uma obra de Gatti sobre Franco; eluclda
todas as formas diretas ou lndiretas de exploração e
extermínio das massas populares (as guerras lmperia-
listas); elucida a sútil domlnagão cotidiana aonde se
evidencia (nas formas de democracia política, por exem-
plo) o que Iénin chamou depois de Marx de ditadura
da burguesia.
Entretanto, a teoria descritiva do Estado represen-
ta uma etapa da constituição da teorla, que exige ela
mesma a "superação" desta etapa. Poftanto está claro
que se a definição ern questÍio nos fornece os meios
para identificar e reconhecer os fatos opressivos e arti.
culá-los com o Estado concebido como aparelho repres.
sivo de Estado, esta "articulação" dá lugar a um tipo
de evidência muito especial, a que teremos oportuni.
darie de nos referir mais adia.nte: "Sim, é asslm, eqtá
O essencial da teoria marxista do Estado
Mesmo depois de uma revolução soeial como a del9l?, grande parte do aparelho de Estado permanecia
6 Ver mals adlante: Acerca da rdeologra,
& 65
da "Ceoria marxista do Es-
l l ) o
srvo do Estado; 2) deve-se distinguir o póder Oe esiaàodo aparelho de Esr-a_do; B) o oujeliy,s_dd-.tura de cfaúõs
O que deve ser acrescentado à ,,teoria marxista" doEçtado é, entáo, outra coisa.
Devemos avançar com prudência num catnpo emque os clássicos do ma,Snqmõ nos precedeiarntíïi"iìãl
mas sem ter sistematizado sob urina íorma teOrica ôiavÍurços decisivos que suas àxperiências e procedimen.
66
6i
a repressão adÍninistratiïa, pgr exemp]o, pode revrstlr.
se de formas não fÍsicas ) ^ -
AIE religiosos (o sistema das diferentes lgrejas)
AIE escolar (o sistema das diferenües ,,escolas" pú.
blicas e privadas)
AIE familiar 6
AIE JurÍdico Y
AIE polÍtico (o sistema polÍtico, os dlferentes par.
tidos)
AIE slndical
AIE de irúormação (a imprensa, o rÉdio, a televl.
sâo, etc ) - -
AIE cultural ([etras, Belas Artes, esportes, etc. , , )
Nós afirmamos: os AIE não se confundem com o
Aparelho (repressivo) de Esüado, Em que conãiìGã
diferença?
tj 
_A Íamilia desempenhâ claramente outres ,,ftrnções,' que a deAIE, Elá intervém na reprodução da força de tiabalnô, nÍa ãclependendo dos modos de produção, unidaãe ae p59ãúfaã t õu tirnidade de consumo.
9 O "Dileito" pertence. ao mesmo rcmpo ao Aparelho trepressi.
vo) rlo Estado e ao sistemR dos AIE.
rrS 69
e a 99asjão de expressar,se neles, utilizando as contra.
l0-Em um texto patético, datado de tg3?, Kmpskaia reÌata os
esforços desesperados de lénin, e o que ela i,ia como ã-rãufracasso ("Le chemln preounü.
--t
i ,
1\
I
I
1
I
I
ì
1l
dições existentes ou conquistândo pela luta posÍções de.
combate l0 blt.
Concluamos nossasr observagões.
Se a tese que propÌrsarros tem Íundamento, volta-
mos, precisando-a quanto a um questÍio, à teoria mar.
xista clássica do Estado. Diremos que por um lado é
preciso distinguir o poder do Estado (bua detenção
por. 
. . ) e por outro o Aparelho de tstado. Mas acres-
centamos que o Aparelho de Estado compreende--dois
corpos: o corpo das lnstituiçõés que constituem_o_qpa.
relho represFiyg do Estado, e o oorpo de 
-instituiçÕ_eéque representam o corpo dos Aparelhos ldeolónç_qs io.
Estado.
Mas, se é assim, não podemos deixar de colocar a
seguÍnte questão, mesmo no estado bastante sumário
de nossas indicações: qual é exatamente o papel dos
{parelhos ldeoló,gico--s_g,o Eg.ta!g? qual é o fundamentod_e. sua importância? Em -óútras palavras: a que çor-
responde a "firnçiol'-destes Aparelhos ldeológicos 3o_
l0 bis O que, em breves palavras, se dia aqul ar,etes de luts de
classes nos AIE não pretende evidentemente esgotar a questão
de luta de classes.
Para tratar desta questãrr, devese ter presente dois prln.
cÍpios.
O primeirb princÍpio foi Íormulado por MaDC no preÍáclo
da Contribuiçôo: "Quando corulderamos tels abalos (ums revo
lução social), é necessárlo dtstinguir entre o abalo materisl 
-que pode ser constatado de mEnelra clentlÍlcamente rigorosa
- 
das condições de produção econômicas, e as Íormas Jurldlcas,polÍticas, religiosas, artÍsticas ou íüosóÍlces etravés das quals
os homens tomem consclêncla deste corúito e o levam ató o
fim" A luta de classes se expressa e se ererce portsnto nas
Íormas ideológicas, e poÉànto se exerce também nas formas
ideológrcas dos AIE. Mas a luts de classes ultrapassa emplr.
mente estes íormas, e é porque ele as ultrspaEsa que a lute
das classes exploradas pode se exercer nos AIE, voltaÍrdo I
arma da ldeologla contra as class€s no poder.
Isto em ÍunçÁo do segundo prlncÍplo: e luta das classes
ultrapassa os AIE porque ela não üem stras raÍaes ns ideologla,
mas na InÍraestrutura, nas relaçóes de produçóo, que são te
laçôes de expÌoreção, e que constltuem a bss€ dss releções de
classe. \
Est-ado, que. não funcionam através da repressão, mas
da-irÌeologia?
G
ll Sobre a reprodução das relações de produção
I
P-odemos então responder'à nossa: questeo central,
mantida em suspenso por tanto, tempo: como é asse.
gurada a repfpdução das relaçÕes de produção?
Na llnguagem metafórica do tópico ( Infra-estrutura,
Superestrutura) diremos: efa é, pm grahde partet',
assegurqda pela superestrütüia jurídiao-política e ideo'
t949a.
Porém, uma vez que julgamos indispensável ultra'
passar ests Unguaggm ainrla descritiva, diremos: ela é,
ern-erdããtpâitérr. assezurada pelo exercício do poder
dô-Ëítãdõ-nos aparethós de Estado, o'Apaielhb (re-
pí,essivo) do Estado, por um Ìadg, e os Aparelhos ldeo'
lógicos do Estado por outro.
4 * Reunimos ,o que foi dito anterÍormente'nos trêspontos segúntes:
1. Todos os aparelhos do Estado funcionam ora
através da repressão, ora através da ideologia, com a
dlÍerença, de que o Aparelho (repressivo) do Estado
fi:nciona prÍncipalrnente através da repressão enquanto
que os Aparelhos Ideológicos do Estado funcionam
prtncipalmente através da ideôlogia,
2. Ao passo que o Aparelho (repressivo) do. Es-
tado constitui um todo organ,izado cujos diversos com'
ponentes estão centralizados por uma unidade de dire-
çáo, a da polÍttca da luta de classes aplicada pelos
fepresentantes polÍticos dâs classes domlnantes, que
detëirã-õ-boder do Estado, - os Aparelhos ldeológicos
do Estado são múlttplos, distintos e relativamente au'
ll Em grande pert€. Pots as releçÕes de produçôo sào entes de
mels nada reproduzidas pelamaterialidade do processo de pro'
dução e do processo de circulaçáo' Mas não devemos esquecer
que ss relações ldeológicas estóo presentes nesies mesmos .pro'
oeBsos.
\72 t . )
tônomos, susceptÍveis de oferecer um campo obJetÍvoàs contradições que expressarn, de formas'õrtliúta.das, ora mais amplas, bs efeitos dos choquói-;ï;-;Iuta das classes capitaüsta e proretária, ass-imlõi.ã-oã
suas formas subordinadas.
. 
3 Enquanto que a rrnidade do Aparelho (repres-
sivo) do Estado está assegurada por sua organJzaçáocentratizada, unificada sob- a aireçìao aol rep-rãõntãn-tes das classes no poder, executántes aa pãiiu;- d;luta de classes das c[asses'rro poáér-- a unidade entreos diÍerentes Aparelhos Ideoiógicos do Eúão ã;;
19seg'urada, geralmente de mane-ira contraOtOriÀ, Ëi;ideologia dominante, a da çtasss dominante
Tendo em conta estas caracteristicas, podemos nosrepresentar a reprodução das relações dd proCucaõlã
ca segurnte maneira, segundo uma espécie ãe ,,diïisão_do trabalho":
O.papel do aparelho repressÍvo do Estado consisteessencialmente, como ap_areUro repressivo, 
"_ 
ã;*ti;peÌa força (fÍsica ou náo) as,cóndiçõ"" póiitïõ. -ãã
reprodução das relações de produção, que lao em-úttima instância relações de 
- 
explordçáo, 'Não ãpËii""--ãaparelho de Estado_contribui para sua prOpriã-iõro,duçáo (exisrem no Esrago capitatista as aiiáiìi"sïõ.lÍticas, as dinastias mititares, 
"ió.i m"" também, esobretudo o Aparetho de Estado assegura pera repiãiiaò(da_ força fÍsica mais brutd es simËt", ôrd"üï;iãibições administrativas, à censura 
"$ricita ." i-pri"iã",gt:.). ?s. eondições potÍticas do exerËÍcio dos Âp;-;h;Ideológicos do Estado.
Com efeito, são estes
12 No que diz resoeito LRarte da reproduçáo assegurada peloAparetho repressivo Oo nôtaao ã-oi-ip",iïu,os ldeológÍcos doEs[ado.
1^
Toga" (por vezes tensa) entre o aparelho repressivodo Estado e os Aparefios Ideológicos do Estado e entre
os diferentes Aparelhos Ideotógicos dq Estado é asse.gurada.
Somos levados a formular a hipótese seguinte, emfunção mesmo da diversidade dos aparelhos úeológicos
do Estado em seu papel único, pois que comum, dã re.produção das relagões de produçáo, I
Enumeramos, nas formações sociais capitalistas
contemporâneas um número relativamente elèvado de
aparelhos ideológicos do Estado: o aparelho escolâr, oqpÊrelho-religlasg,. q 
_apa_Ielbo_ÍamÍiiàr, o aparelho polÍ-
tigA--oiparelho sindical, o aparelho de iúormeçãõ, o
apare-lh.o cgltjrral etc. , ,
, i
75
?Í i
mâs também a sua hegemonia tdeológica, indlspensá.
vel à reprodução das relações de produção capÍtaiistas.
tade 4qs classes dorninantesl). Ne Alernanha as coisas
i7
antes de ,,atravessar,' a Repúbüca de lVeimar e de en.tregar.se ao nazismo,
- 
_P9r.qug o'aparelho escolar é o aparelho ideológicode Estado dominante nas formaçoes iociaiJ úpit4Ë!;e como funciona?
No momento é suficiente responder:
I 
- 
Todos os aparelhos ideológtcos de Estado,
Syaisquel qu-e sejam, concorrem para o mesmo Íim: areprodução das reìaçõ9: g.".prodüção, isto è, -Aai'jëUlções de exploração capitatistâs, '='
7ÍÌ
- ì
?( l
da ideologia (saber-lratar as consciênclas com o..r€s:.
peito, ou seja, o desprezo, a chantageln, a demagogia
que convêm, com as.ênfases na Moral, na Virtude, na
"Transcendência", na Nação, no papel da França no
Mundo, etc.) .
Certamente muitas destas Virtudes (modéstia, resig,
nação, submlssão de uma parte, cinismo_rj_espfgzo,_se-
gurança, altivez, grandeza, o falar bem, habilidade) se
aprendem também nas FamÍlias, na lgreja, no Exército,
nos Belos Livros, nos filmeS, e mesmó- nos estádios.
Porém nenhum aparelho ideológico do Estado dispõe
durante tantos anos da audiência obrigatória (e por
menos que isso signifique, gratuita.,,), 5 a 6 dias num
total de ?, numa média de I horas por dia, da totali.
dade das crianças da formação social capitalista.
É pela aprendizagem de alguns saberes contidos na
inculcaçâo maciça Oalaeologia ãa classe dominante qüè,
em grande parte, sáo 
_.reproduzidas as relações de pro-dução de uma Íormaçâo social capitalista, ou seja, as
relações entre exploradores e elçlorados, e entre explo-
rados a exploradores. Os meeanismos que prodüzerrr
esse resultado vital para o regime capitalista sáo natu-
ralmente encobertos e dissimulados por uma ideologia
da Escola universalmente aceita, que é uma das formas
essenciais da ideologia burguesa dqm-ingnte: uma 
_ideo.
logia que repreSentã a nscõla como neutra, dèsprõi,iáa
de ideologia (uma vez que é leiga), aonde os pr-qfp_s:
sores, respeitosos da "consciência" e da "liberdadel'
das crianças que lhes são confiadas (com toda ço-nfian.
ça) pelos "pais" (que por sua vez sáo também livres,
isto é, proprietários de seus filhos), conduzëìfr-na's"à
ìiberdade, à moralidade, à responsabilidade aduÌta pèlb
seu exemplo, conhecimentos, literatura e virtudeS. "liber.
tárias",
Peço desculpas aos professores que, em condições
assustadoras, tentam voltar contra a ideologia, contra
o sistema e contra as práticas- 
_@, aspoucas armâs que podem encontrar na histó_ria. e nQ
saber que "ensihamr'.'São uma espéôlé--iG-1iõiois, uas
eles são raros, e mútos (a malorla). náo têm-nem um
princípio de susp91!a.do "trabalh-q'l-Ere o sisterna-fqdg
,\
Rô
os UDtapassa.-e-esmaga) os obriga a- fa,zer, ou, o que ép!oi, põem todo. seu empenho e engenhosidade em
faaê-lo de acordo com a última orientaçáo (os famosos
De fato, a lgreJa foi substttuída pela Escola em
dial ile claSses.
Acerca da ldeologia
Quando apresentamos o conceito de Aparelhos ldeo'
lóglcos do Estado, quando dissemos que os AÏE funcio-
naiarn "através da ideologia", invocamos uma reaÌi'
dade acerca da qual é necessário dizer algumas pala'
vras: a ideologia,
Sabe-se que a expressão: ideologia, foi forjada por
Cabanis, Destutt de Tracy e seus amigos, e que desig'
nava por objeto a teoria (genérica) das idéias, Quando,
50 anos mais tarde, Mârx retoma o termo, ele lhe con'
Íere, desde &s suas Obras da Juventude, um sentido total'
mente dtstürto. A tdeologla é, aÍ, um sistema de idéias,
de represèntaçóes que domlna o espÍrlto de um homem
ou de um $upo soolal. A luta politico-ideológica condu'
zida por Marx desde seus artigos na Gazeta Rpnana iria
{ | l
rapidaÌnente levá-ro.ao corúronto com esta rearidade eobrigá-lo a aprofunda, *as;;ileiias intuiçoes.
portanto estamos diar
gares), ele não contém est
em grande parte de uma t
Desejaria arriscar_me a propor um primeiro e muitoesquemático esboç_o. 
_As tesés qïã ú.u""ntarei não sáocerramente improvisadas, mas não podem 
.;r-;;t";tadas e corriprovaaÀ, istã j;;"ffi;"d,as ou rerificadas,a não ser através Oe estuãbs-" *ãil""" aprofi:ndactaq.
A ldeologia não tem história
. 
Uma advertência antes
Por outro lado, se. eu posso apresentar o projeto deulna teoÌi. do ideologi^ ,;"- g;ot"à'ü 
.r* teoria é um
82
dos elementoÍ- do qr:al dependem as teorias das ideolo,gias, isto irnplica nuTna prbposição aparentemente para-doxal que enunciarei nos .ãg,riilur'termos: a id.eologtanã,o tem história.
muia aparece com todas as
teologia atemã. Marx a 
"rrrn.ea'que, segundo ele, náo tem
rral (subentenda.se: e as de,
.- . 
N".ideologia alemã, esta fórmula aparece num con.texto nitidamente posiúivista, a iaeotogia e concebÍdacomo pura ilusão, 
-puro- sonho, ou seja, nada. Toda asua realidade esüá fora dela
sada como uma construçác
exatamente o rnesmo esta
autores anteriores a Freud,
, vez gue a filosofÍa é a ideo.
'ologia alemã..
, a ideologia não tem histó.rra,_ utna vez que sua história está fãra dela, i; 
-;;;;
está a única história, a dos inaivíúos concretos etc
n trad_uçáo direta para o por-cragmática pela guâl a paitiilifere-ntes pode-se õonrtruii ou.
a. açáo de construçao sem úÃrém que nÉo se co'ntl -cóm ìï
- ì
Na ldeologia alem.õ, e tese de que a ldeologia não tem
história é portantouma tese prrramenüe negativa que
significa ao mesmo tempo que;
l. - a ideologia, não é nada mais do que puro
sonho (fabricada não se sabe por que poder a não ser
pela alienaçáo da divisão do trabalho, porém esta deter.
minaçáo também é uma determinaçâo negatiaa),
2, - a ideologia não tem história, o que não quler
dizer que ela não tenha uma história (pelo contráriò,.
urna vez que ela não é mais do que o pátido reflexo va.\
zio invertido da história real ) mas que ela náo tem uma t *
história szra.
 lese que gostaria de defender, retomando fonnal-
mente os termos da ldeologia alemõ. ("a ideologia não
tem hisfória")'é radicalmente diferente da tese posibi.
vista-historicísta da ldeologia alemõ..
Porque, por um lado, acredito poder sustentar que
ns ideologias têm uma história sua (embora seja ela,
em última instância, determinada pela luta de classes);
e por outro lado, acredito poder sustentar ao mesmo
tempo que a ideologia em geral não tem historu, nào
em um sentido negativo ( o de que sua hÍstória está fora
dela), mas num sentido totalmente positivo.
Este sentido é positÍvo se consideramos que a ideo-
logia tem uma estrutura e um funcionamento tais que
f.azem dela uma realidade não-histórica, isto é, omni.
histórica, no sentido em què esta estrutura e este iup.
cionamento se apresentam na mesma forma imutável
errr toda história, no sentido em que o Manllesto defÍne
a histórÍa como história da luta de classes, ou seja, his.
tória das sociedades de classe.
Eu diria, fornecendo uma referência teórica reto-
mando o exemplo do corüo, desta vez ns, concepção freu.
diana, que nossa proposição: a ideologia não tem tús.
tória pode e deve (e de uma forma que nada tem de
arbitrária, mas que é pelo contrário teoricamente neces-
sária, pois há um vÍnculo orgÈÍrico entre ss duas pro-
posições) ser diretamente relacionadâ à proposição de
Freud de que o intonsc'tente ë etenn isto é, rÉo tom
história.
84
F:is porque me considero autorizado, ao lrlenos pre.
sunüivamente, a propor uma teoria da ideologia em ge.
ral, no mesmo sentido em que Freud aprese-trtou r'.,,ár,
teoria do inconsciente em geral,
classes" e à sua históiia.
A ldeologh ó uma "reprêsentação" da relação imaginária
dos Indlvlduos com suas condições reals, de exlJtência
Para abordar a üese central sobre a estrutura e o
Tese 1: A Ídeologla representa a relação imaginá-
rla dos lndivÍduos com suas condições reais de exis-
tência.
Dlz-se comumente que a tdeoÌogla religiosa, a ideo,
logta moral, a ldeologla JurÍdica, a ideologla polÍtica, etc,
são "concepções de rnundol'. Contrapomos, â menos que
se vlva uma dessas ideologias como a verdade (se, por
exemplo, se "crê" em Deus, no Dever, na Justiça etc.),
que esta tdeotogta de que falamos a partir de um ponto
1y
8.s
de vista crÍtico, de um exame semelhante ao do e[nótug,-r
dos mitos de uma "sociedade primitiva", que essas "con.
cepções de mundo': sáo em grande parte imaginárias, ou
seja, náo "correspondem à realidade".
Portanto, adrnitindo que elas não correspondem à
realidacie e que então elas constituem uma ilusão, admi.
timos que elas se referem à realidade e que basta "in.
terpretá-las" para encontrar, sob a sua representação
imaginária do mundo, a realidade mesma desse mundo(ideologia = i lusão/alusão).
Existem diferentes tipos de interpretação. As meis
conhecidas sáo a mecanicista, corrente no sécúo XVIII,(Deus é a representação imaginária do Rei real) e a
"hermeneuúica", inaugurada pelos primeiros Padres da
Igreja e retomada por Feuerbach e pela escola teológico.
filosófica originada nele, por exemplo o teólogo Barth,
etc, (para Feuerbach, por exemplo, Deus é a essência
do Homem real), Chego ao essencial aÍirmando que, in.
terpretando a transposiçáo (e inversão) imaginária da
ideologia, concluÍmos gue nas ideologias "os homens re-presentam-se, de forma imaglnária, suas condições reais
de existència".
Infelizmente esta interpretação deixa em suspenso
um pequeno problema: porque os homens .,necessltam"
dessa transposiçáo imagürá,ria de suas condlçôes reals
de existência, para "representar.se" suas condÍçóes de
existência reais?
A primeira resposta (a do século XVIII) propõe
uma solução simples: Pqr culpa dos Padres ou dos Dés.
potas. Eìes "forjaram" Belas Mentiras para que, petrsan.
do obedecer a Deus, os homens obedecessem de fato aos
Padres ou &os Déspotas, que na maiorla das vezes alla.
vam-se em sua impostura: os padres a senrlço dos dés.
potas ou vice.versa, segundo as posigões poUticas dos
"teóricos" em questão, Hé portanto uma causa para a
transposição imaginária das eondições de existência
reais: essa causa é a existência de um pequeno grupo de
homens cínicos que assentam sua domÍnação e sua etçlo.
rnq'áo do "povo" sobre uma representBção Íalseada do
86
myndg, imaginada por eles para subjugar os espÍritospela dominação de sua imaginaçáo.
. 
A sggun+ resposta (a de Feuerbach, retomada pa.
Iavra por palavra por Marx em suas Obras d,a Juvèn-
tude) é mais "profunda", e igualmente falsa, Ela busca
e encontra uma causa para a transposição e deforma.
çáo imaginária das condições de existência reais doshomens, para a alienação no ÍmagÍnário da representa-
ção das condições de existência dos homens. Eita causa
não é nem mais os padres ou os déspotas, nem a suaprópria imaginaçáo ativa ou a imaginaçáo passiva de
suas vÍtimas. Esta causa, é a alÍenaçáo material que rei.
na nas conüçÕes mesmas de existência dos homens. É
desta maneira que Marx defende, na euestdo Jud.ía e em
Retomo aquÍ ume tese já apresentad,a: náo sáo as
suas condÍções reais de existêncÍa, seu mundo real que
os "bomens" "se representam" na ideologia, o que e
nelas representado é, antes de mais nada, a sua reiaçáo
com as suas condições reais de exÍstência. É esta rela.
em sua verdade),
" ì
B?
Em linguagem marxista, se é verdade que a reprê
sentação das condições de existência reais dos indivÍduos
Sendo assim, a questão da "causa" da deforn çãoimaginária rlas relações reais na ideologia desaparece, edeve ser substituÍda por uma outra quèstão: põr que a
representação dos indivÍduos de sua relação (individual)
mos porque no prossegulmento de nossa e:çoslção, por
hora, náo iremos mals longe.
Tese II: A ideologia tem uma e:dstência materlal
13 Emprego propositalmente este lermo bastante moderno. p\ls
mesmo nos melos comunistas, a ,,expÌicaçóo,' de tal desvio pc.l i l . ico tofiort,unlsmo dc tl lreltn ou de osquerdo) poto açãã ?1,
rrma "clique" é lnÍelizmenle írequente. \..
lÌ lÌ 8()
que esta relação imaginária é em sl mestna dotada de
uma existência material
Constatramos..o segurnte: )
\dJm ind.ivÍduo crê em Deus, ou no Dever, ou na Jus.
fiça, etc. Esta crença provém (para todo mundo, isto é,
para todos gue vivem na representação ideológica da
ideologia, que reduz a ideologia, por definiçáo, às idéias
dotadas de existência espiritual) das tdéias do dito tn.
divÍduo enquanto sujeito possuidor de uma consciência
na qual estáo as idéias de sua crença. A partir disso,
isto é, a partir do dispositivo "conceitual" perfeitamen-
te ideológieo assim estabelecido, (um suJeito dotado de
uma consciência aonde livremente ele formula as idéias
em que crê), o comportamento material do dito indi.
vÍduo decorre naturalmente. ,
O indivÍduo em questão se conduz de tal ou qual
maneira, adota tal ou qual comportAmento prático, e,
o que é mais, participa de certas práticas regulamenta.
das que são as do aparelho ideológico do qual "depen-
dem" as idéias que ele livremente escolheu com plena
consciência, enguanto sujeito. Se eÌe crê em Deus, ele
vai à lgreja assistir à Missa, ele se ajoelha, reza, se con-
fessa, faz penitênoia (outrora ela era rnaterial no sen.
tido corrente do termo), e naturalmente se arrepende,
e continua, etc. Se ele crê no Dever, ele terá compor.
tamentos correspondentes, inscritos nas práticss rltuaÍs,
"segundoos bons costumes". Se ele crê na Justlga, ele
se submeterá sem dÍscussáo às regras do DÍrelto, e po.
derá mesmo protestar quando elas são violadas, assünar
petições, lomar parte em uma manifestação, etc.
Em todo esse esquefna, constatamos portanto que
a representaçáo ideológica da ideologia é, ela mesma,
forçada a reconhecer que todo "suJeito" dotado de uma
"consciência" e crendo nas "idélas" que sua "censclên.
cia" Ìhe inspira, aceitando.as livremente, deve "aglr sc
gundo suas idéias", imprimindo nos atos de sua prática
maferial as suas próprias idéias enquanto sujeito li.
vre. Se ele náo o taz, "algo vai m&1",
Na verdade se ele nâo taz o que, em função de
sÌrâs crenças, deveria |.az,et, é porque faz algo diferente,
90
o que, sempre em função do mesmo esquema idealista,deixa perceber que ele tem em mente iáéias d.iferentes
das que proclama, e que ele age segundo outras idéias,
seja como um homem ',inconseqúente" (,,ninguém é
voluntariamente m&u"), ou cínico, ou perverso.
pqye3s.os) que ele realiza. Esta ideologia fala de atos:
nós falaremos de atos inscritos em piáticas, E obser-
AUás, devemos à "dialética,' defensiva de pascal a
. 
-.llremos portanto, considerando um sujeito (talindivÍduo), que a existência das idéias de sua crença é
' 
N.T. no original em inglês.
Ì
9l
material, pois suas idéias são seus atos materiais inse-
ridos em prálÍcas materiais, reguladas por rituais ma.
teriais, eles mesmos definidos pelo aparelho ideológico
material de onde provêm as ideias do dito sujeito, Na-
turalmente, os quatro adjetivos "materiais" referem-se
a cliferentes modalidades: a materialidâde de um deslo-
r:amento para a missa, de uma genuflexão, de um sinatt
da cruz ou de um mea culpa, de uma frase, de uma ora- 
'ção, de uma contriçáo, de uma penitência, de um oÌhar, \, *de um aperto de mâo, de um discurso verbal interno(a consciência) ou de um discurso verbal externo náo
são uma mesma e única materialidade, Deixamos em
suspenso a teoria da diferença das modalidades da ma-
terialidade.
Resta que nessa apresentaçáo invertida das cotsas,
náo nos deparamos exatamente com uma "inversão" uma
vez que constatamos que certas noções pura e simples.
mente desapareceram em nossa apresentação enquanto
que outras permanecem e que novos termos aparecem.
Desaparece: o termo idêias.
Permanecem: os termos suJelto, consciência, cren.
ça, atos.
Aparecem: os ierÍnos prátlcas, rituais, aparelho
ideológlco.
NÉo se trete portânto de uma lnversão, mas de um
remanejamento bastante estranho dedo o resultado que
obtemos.
As idéias desaparecem enquanto üals (enquanto do'
tadas de uma eústência ldeal, espirltual), na medida
mesma em gue se evidenciava que sua existência estava
inscrita nos atos das práticas reguladas por rituais de'
finidos em última instância por um aparelho ideoló
glco. O sujeito portanto atua enquanto agente do se'
guinte sistema (enunciado em. sua ordem de determlna
Ção real): a ideologia existente ern um aparelho tdecr
lógico material, que prescreve práticas materiais regu'
ladas por um rituaÌ material, práticas estas que existem
nos atos materiais de um suJelto, que age consciente
mente segundo suâ crença,
92
Nesta formulação conservamos as seguintes noções:
sujeito, consciência, crença, atos. Desta sequência extrai-
remos o termo central decisivo, do qual depende todo
o demais: a noção de suJeito.
E enunciamos duas teses simultâneas:
,' 1. - só há prática através de e sob uma ideologia
2. - só há ideologia pelo sujeito e para o sqjeito
Podemos agora abordar a nossa tese central,
A ldeologia interpela os individuos enquanto suieitos
Esbp tese vem simpÌesmente e:çlicitar a nossa últi-
ma formulação: só há ideoiogia pelo sujeito e para os
sujeitos. ou seja, a ideologia existe para sujeitos con-
cretos, e esta destinação da ideologia só é possÍvel pelo
sujeito: isto é, pela categoria de sujeito e de seu funcio-
namento.
Queremos dizer com isso, mesmo que esta categoria(o sujeito) não apareça assim denominada, que com o
surgimento da ideologia burguesa, e sobretudo com o
dâ ideologia jurídica ta a categoria de sujeito (que
pode aparecer sob outras denominações: como em Pla-
táo por exemplo, a alma, Deus, etc.) é a categoria cons-
tltutlva de toda ideologia, seja qual for a determinaçáo(regional ou de olasse) e seja qual for o momento his-
tórico, 
- 
uma'vez que â ideologia não tem história.
Dlzemos: a categoria de suJeito é constitutiva de
toda ideologia, mas, ao mesmo tempo, e imediatamen-
te, 
- 
acrescentamos gue a categoria d,e sujeito nã,o é
constitutioa de todn ideol,ogia, umn Dez que toda tdeo-
logia tent por fwqã,o (é o que a deline) "corutltuit'' in-
dío[cl,uos cornretos ern sujeitos. É neste jogo de dupla
constttulção que se localiza o funcionamento de toda
ideologÍa, não sendo a ideologia mais do que o seu fun-
14 Que laz da categoria jurÍdica de "sujeito de direiüo" uma
nocâo ldeológlca: o homem é naturalmente um suJeito'
93
clonamento nas formas materiais de existência deste
mesmo funcionamento.
Para compreender o que daÍ decorre, é preciso es-
anirnal ideológico".
O fato do autor, enquanto autor de um d.iscursoque se pretende cientÍfico, estar completamente aÌrsen-
te, como "sujeito", de "seu" discurso cientÍfico (todo
o discurso cientÍfico é por definição um discurso sem
sujeito, só existe um "Sujeito da ciência,' numa ideolo.gla da ciència), é um outro problema que, pelo momen.
to, deixaremos de lado,
Ídeologia 
- impor (sem parecer fazâlo, urna vez que
se tratam de "evidências,') as eúdências como evÍdên.
cias, que não podemos deixar de reconheeer e d.iante
das quais, inevitável e natualmente, exclamamos (em
l5 Os 
_ 
lÍnguistas e todos agueles que recorrem à lÍngrÍstÍca
com diferentes fins, tropeçam Íreqüentemente em dlticüdadesque decorrem do desconhecimento -do Jogo dos eÍeitos ldeoió
cicos em todos os discursos 
- 
inclusiye sg dls(,lrnôr oÍentÍÍlcos.
94
voz alba, ou no "silêncio da consciência"): ,,é evidente!é exatamênte i,ssol é verdadet,,.
. 
É nesta 19açao que se exerce a função de recorohe.
cimmto ideológico, que é uma das duas íunções Aa iaãã.logia. enquanto tal (sendo o d,esconhecimenío 
" 
,ú l*.
ção inversa).
tQ Fg.t"-duplo ,,neste rhomento" é mais uma prova da ,,eterni_gldul'. da- ideotogia, runê vez que o tntervato 'ae tõmpã ;üï;,s-eprra- nÉo é levado em contâ, escrõvò-àstas tiniras-ã--ï i."abril de 69, vocês as lerÉo 
"ao'mpãra qìrl*ao.
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q.5
Numa primeira formulaçáo direi: tod.o id.eologia àn-terpela os ind,ivíduo,s connretos enqlulnto sujeàtoi con.
cretos, através do funcionamento da categoiia de su-jetto.
_ 
Esta formulação implica, pelo momento, na distin.
ção entre os indivíduos concretos por um lad.o, e sujei.
tos concretos por outro, embora o sujeito concreto-só
exista neste nível num fundamentadò indivtduo eon.
creÌ,o.
l? A interpelação, prátinl cotidiana, submetida a um rltual pre
ctso, toma uma forma bastante especlal na práticâ pollciaf de
"interpelação", quando se trats de- lnterpelar ,,suspeitos,'.
96
Naturalmente, para a comodidade e clareza de ex.
(90ozo das vezes o interpelado) se volta, acreditando-suepeitando.sabendo que se trata dele, reconhecendo por-
tanto que "certamente é ele" quem está sendo chamádo,
Porém na ralidade as coisas ocorrem sem sucessão al-guma. A existência da ideologia e a interpelação dos
indivÍduos enquanto sujeitos sáo uma únióa e mesma
coisa,
que se seJa verdadeiramente spinozista ou marxista,
o que, qu8,nto a este aspecto, vem a dar exalamente no
97
Ínesmo), O que nos faz dizer que a ideologia não possui
um etterior (para si mesma) mas que ao mesmo tempo
ela é eúerioridade (para a ciência e para a realidade),
Spinoza explicou isto perfeitarnente duzentos anos
antes de Marx, que o praticou, sem explicá-lo detalha-
damente, Mas abandonemosesta questão, rica de con.
seqüências n_ão apenas teóricas, mas direüamente polí-
ticas, da qual depende por exemplo toda a teoria da crí-
tica e autocrÍtica, regra de ouro da prátÍca da luta de
cìasses rnarxista-leninista.
Fortanto a ideologia interpela os indivíduos enouan.to sujeÍtos. Sendo a ideologia eterna, d,evemos agorã s,r-primir a temporalidade eÌn que apresentamos o Íun.
cionamento da ideorogia e dizer: a ìdeologia sempre/ já.
rnterpelou os ind,ivÍduos como sujeitos, o que qúer cii.
zer- qu€ os indivÍduos foram sempre/já interpeladospela 
- 
Ídeologia como sujeitos, o qüe necessari-arnente
'nos leva a uma últirna formulação: os indiuiauos saò
semprelja sujeitos. Os individu-os sáo port"r,to ,."úJ.
tratos' em relação aos sujeÍtos que ex.istèm desde sem.pre. Rsta formulaçáo pode parecer urn paradoxo.
Que um indivÍduo seja sempreljá sujeito, antes
mesmo de nascer, é no,entanto a maÍõ stnltes iealiaa.
cle, acessÍv_el a qualquer urn, sem nenhum paradoxo.
Que os indivÍduos sejam sempre ,.abstratos" em rela.
ção aos sujeitos que_são desdè sempre, Freud iá oãã.monstrou, assinalando simplesmenté o ritual ideológ:.
co que envolve a espera de um ,,nascimenüo", este ,,íe.liz.acontecirnento". todos sabemos como e guanto é es.perada a criança a nascer. Deixando de tadô os ;.sóntl.
mentos" Ísto,,prosaicarnente, quer dizer que as formasde ideotogia farniliqr/paternãt/maternatTcon:ugãifirã.
ternal, que constituem a espera do nascimento'dã 
"rian.ça, lhe conferem antecipadamente uma série Ae caraótã.
rÍsticas: ela ferá o nome do seu pai, terá portanto úâidentidade, e será insubstituÍvel. Àntós ae nascei a cí"n
ça é portanto sujeito, determinada a sê-lo através de e
na cg$ieuraçio ideológica familiar especÍfica na qual
ele é "esperado" após ter sido concebiao. lnritil dG;que esta corúiguraçáo ideológica familiar é, em sua uni.
cidade, fortemente estnrturada e que é neste estnrtúa
98
ì
implacável, mais ou menos ,,patológlca" (supondo-se
que este terrno tenha um sentido determinável) que ojá.presente futuro.sujeito,,encontrará" o,,seu" lugar,quer d{zer 
"tornando,se" o sujeito sexual (menino-ou
menina) que ele Já é,
C-ompreende,se que esta pressão e predeterminaçáo
ideológica, todos os rituais dõ crescimento, da educaçãoÍamiliar têm atguma relação com as ,,etapas pregenitãis
e genÍtais da sexualidade", tal como estudadas Dor
teld, na "apreensão" do que ele designou, po, sèus
efeÍtos, como o inconsciente. Mas deixlmos também
este ponto.
-Prossigarnos. Deter.nos-emos agora na maneira pelaqual os "atores" desta encenaçãõ da interpelaçã'o e
seus respectiv,os papéis estão refletidos na pióprla es.truture de toda ideologia.
Um exemplo: A ideologla religiosa cristã
Sendo a estrutura formal de toda ideologia sempreidêntica, nos contentaremos em analisar apãnal im
exernplo, acessÍvel a todos, o da ideologia reüliosa; esta
mesma demonstragão pode ser reprodúzida pãra a'ideo-logia rnoral, JurÍdica, polÍtica, estética, etc.
_ 
Consideremos.portanto a ideologia religiosa cristá.Utillzarçmos urna figxrra de retórÍca ã a ,,farãmõi rar"r;,isto é recolheremos num discurso fictÍcio o ç,ue áa
"dlz" nóo apenas em seus dois Testamentos, atràvés de
seus teólogos, em seus Sermões, mas em suas prá-
tlces, seus rituaÍs, suas cerimônias e seus sacramentos.
A ideologta cristá diz aproximadamente o seguinte.
_ 
Ela rlÍz: Dirijo.me a ti, ind.ivíduo humano chamadoPedro (todo indivÍduo é chamado por seu nome, no
sentido passivo, não é nunca ele quó se dá um no*eipara dizer que Deus e:dste e que tu deves lhe prestar
contas. Ela acresceltat É Deus-quem se dirige a'ti pela
minha voz (tendo a Escritura iecolhid.o a -palawa oegqo, a-,Tradigão a'transmitido, a fnfdiUiUOad,e ponti-Ílcra a Íixad.o para s€mpre qua.rrüo às questóes ,,delica.
99
das"). Ela diz: Eis quem tu és: Tu és pedro! Éis a tua
Eis aí um discurso bastante conhecido e banal, mas
ao mesmo bempo profundamente surpreendente.
cia fixa: "é verdade, eu aqui estou, operário, patráo,
soldado!" neste vale de lágrimas; se ela obtém o reco.
rüão, da corúissáo e da extrema.unção, etc.., ) devemos
observar que todo este "procedimento", gerador de su.jeitos religiosos cristãos, é dominado por um estranho
fenômeno: só existe uma tamanha'multidáo de sujeitos
religiosos possÍveis sob a condição absoluta da existên.
cia de vrn Outro Sujeàto único, Absoluto, ou seja, Deus.
18 Embora saibamos que o indlvÍduo é sempre e antecipadamen-
te sujeito, continuamos a empregar este termo, pelo efeito de
contreste que produz.
100
Deslgnaremos este novo e singular Sujeito como
Sujeito com mairiscula para distingui-lo dos demais,
sem maiúscula.
A interpelação dos indivÍduos como sujeitos supõe
a "existência" de um Outro Sujeito, único, e central, em
l{o*9 do qual a ideologia religiosa interpela tod,os osindivÍduos como sujeitos. Tudo isto está claramente
escrito ru no que justamente se chama a ,,Escritura,':
"Naquele tempo, o Serüor-Deus (Jeová) falou a Moisés
das nuvens. E o Senhor chamou Moisés: ,,Moisés!" ,,Sou(certamente) eu!, disse Moisés, eu sou Moisés teu servo.
fale e eu escutarei!" E o Senhor falou a Moisés. e lhe
disse: "E7t solt Aquele que É".
Deus se define a sÍ mesmo portanto como o Sujei-
to por excelência, aquele que é por si e para si (,,Eu sou
Aquele que é"), e aquele que chama seu sujeito, o indi-
vÍduo que, pelo próprio chamado, está a ele submetido,
o indivÍduo chamado Moisés. E Moisés, interpelado -
chamado por seu Nome, tendo reconhecido que ,,trata-
va-se certamentê dele" se reconhece como sujeito, su.jeito de Deus, sujeito submetido a Deus, sujeito peLo
Sujetto e submettdo oo SuJeiúo. A prova: ele o obedece
e faz com que seu povo obedeça às ordens de Deus.
Deus é portanto Sujeito, e Moisés, e os inúmeros
suJeitos do povo de Deus, seus interlocutores-interpela.
dos: seu espelho, seus reflexos. Os homens não foram
crlados à lma4em de Deus? Como toda reflexáo teoló.
gica o prova, embora Ele pudesse perfettamente passar
sem..., Deus precisa dos homens, o Sujeito precisa dos
suJeltos, assim como os homens precisam de Deus, os
suJeltos preclsam do SuJeito. Ou melhor: Deus precisa
dos homens, o SuJeito dos suJeitos, mesmo na temÍvelÍnversão de sua imagem neles ( quando estes se delxam
levar pelos excessos, quer dizer, pelo pecado).
otr melhor: Deus se duplica a si mesmo, e envia
seu Filho à terra, como simples suJeito "abandonado"
a sl mesmo (o longo lamento do Jardim das Oliveiras
l9 Clto nÃo so pé da letra, m.as de Íorma resumida.
101
Decifremos,,em linguagem beórica esta ad.mirável ne.
cessidade de desdobramento do Sujeito em sujeitos edo Suieito mesTno em suielto-Sujeito.
Resumamos o que vimos acerca da ideologia emgeral,
A estrutura especular duplicada da ideologia ga.
rante ao mesmo tempo:
I ) a interpelação dos ,,indivÍduos,' como sujeitos,
2! O_ dogma da Trindade é a teoria mesma do desdobramento
.do. Suieito_ ío Pai) em sujeto ro úrrõi-ã-ãJiui-iãrãÊ;ËË:
cuìar ,o Espir i to Sanroì .
r0 l
2) sua submissão ao Sujeito
3 ) o reconhecimento mútuo entre os sujeitos e oSujeito, e entre os próprios sujeitos, e finalmónte o re.
conhecimento de cada sujeito por si rnesmo.2r
4, a garantia absoh.lüa de que tudo está bem as.
sim, e sob a condiçáo de que sê os sujeitos reconhece-
rem o que são s sg sgp6lrrzirem de acordo tudo irá bem:
"assim seJa".
I
\
1
Ì03
urna autoridade superior, desprovido de liberdade, a
não ser a de livremente aceitar a sua submissáo. Esta
última conotação nos dá o sentido desta ambigüidade,
que reflete o efeito que a produz: o indivÍduo é interpe.
Lado como sujeito (liure) para liuremente submeter-se
as ordens do Sujetto, para acettar, portanto (liuremen.
te) sua submissã.o, para que ele "realize poÌ si mesmo"
os gesfos e atos de sua submissão. Os sujeitos se cozs.
tituem pela sua sujeiçã.o. Por isso e que "caminham por
si mesmos".
"Assimseja!".. . Estas palavras, que expressam o
efeito a ser obtido, provam que as coisas náo são "natu-
raìmente" assim ("naturalmente": fora desta oração,
fora da intervenção ideológica). Estas palavras provam
que d prectso que assim seja, para que as coisas sejam
o que devem ser usemos a palavra; para que a repro.
dução das relações de produção seja, nos processos de
produçáo e de circulaçáo, assegurada diariamente, na
"consciência", ou seja, no comportamento dos indiví-
duos-sujeitos, ocupantes dos postos que a divisáo social-
técnica do trabaÌho lhes designa na produçáo, na explo-
ração. na repressão, na ideologização, na prática cien.
tífica, etc, Nesle mecanismo do reconhecimento espe.
cular do Sujeito e dos inctividuos interpelados como su.jeitos, da garantia dada pelo Sujeito aos sujeitos caso
estes aceilem livremente sua submissão às "ordens" do
Sujeito, como o que exatamente nos defrontamos? Á
realidade posta em questáo neste mecanlsmo, a que ne.
cessariamente é desconhecida pelas formas mesmas do
reconhecimento ( ideologia = recoflh€cimento/desconhe.
cimento), é certamente em última instância, a reprodu.
ção das relações de produção e demais relaçoes que de.
las derivam.
PS. - Se estas teses esquemáticas possibilitam o
esclarecimento de alguns aspectos do funcionamento da
Superestrutura e de sua forma de intervençâo na In.
fraestrutura, elas sáo evidentemente abstratas e deixam
necessariamente em suspenso problemas importantes,
acerca dos quais é necessário dizer alguma coisa:
1) O problema do processo de conjunto da reali.
zação da leprodução das relações de produçáo.
Os AIE contrìbueÌn, como elementos d,este processo,para esta reprodução. Mas o ponto de vista de sua sim.ples contrÍbúção permanece abstrata,
processo que se exerce o efeito das diferentes ldeolo.gias (sobretudo da ideologia jurídico.moral).
postos da "divisâo técnica" do trabalho, Na verd.ad.e, a
não ser na ideologia da classe dominante, não exrste
"divisão técnica" do trabalho: toda divisâo ,,técnica,'.
toda organização "técnica" do trabalho constitui a for
ma e a máscara de uma divisáo e de uma organizaçào
sociois (de elasse) do trabalho. A reprodução das rèla
ções de produção não pode deixar de ser o empreen.
dimento de uma classe. Ela se reallza ao longo dé uma
luta de classes que opõe a classe dominante à classe
e:çlorada.
O pro,cesso de conJunto da reallzação da reprodução
das relações de produção perrnanece abstrato até que
nos situemos no ponto de vista desta luta de classe. Oponto de vista da reproduçâo é então, em úÌtimâ ins.
tância, o ponto de vista da luta de classes.
2) O problema da natureza de classe das ideolo.gias e:dstentes numa formação social.
l0d l0s
! t
a
dentro de e conura tais ALE os ultrapassa, pols verrr
de outro lugar.
a partÍr daÍ que se pode compreender de onde provêm
as ldeologias que se realizam e se corúrontam nõs AIE
Porque se é verdade que os AIE representam a lormitpela qual a ideologia da classe dornÍnante deve necessa.
riamente se reallzar, e a forma corn a qual a ideologia
da classe dominada deve necessarÍamente medtr.se e
corúronta!.se, as ideolOgias náo ',nagcem,' dos AIE mas
das classes sociais em luta: de suas condtções d.e exis-têncla, de suas práticas, de suas orperiênóias de luta,
etn.
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