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A IMPORTÂNCIA DO SABER CIENTÍFICO PARA A PRÁTICA PROFISSIONAL Ana Maria de Albuquerque Vasconcellos1 Rosália da Silva Corrêa2 RESUMO: Apresenta uma análise das formas de construção do conhecimento científico e de sua importância para a prática profissional, através da pesquisa. Ressalta que o processo de produção científica deve ir além da simples observação, sustentando-se fundamentalmente na interpretação da realidade observada, através da utilização dos métodos científicos hipotético-dedutivo, fenomenológico e dialético. Palavras-chave: conhecimento- método- ciência-pesquisa-prática profissional. Este artigo tem como objetivo incentivar os discentes do curso de Administração e Ciências Contábeis, a manterem uma postura crítica em relação as ciências administrativas e contábeis, de forma que a prática da pesquisa científica se torne uma ação constante. Pretende-se chamar a atenção de que essas ciências buscam através da pesquisa fornecer explicações acerca dos fenômenos, não como um dogma, pelo contrário, representam um conjunto de conhecimentos passíveis de questionamentos (Vergara,1997). Somente a partir de uma postura crítica em relação a ciência é que se pode compreender a complexidade dos fenômenos, em qualquer área do saber. O texto incorpora a idéia de que as ciências administrativas e contábeis precisam ser pensadas como formas de acesso ao conhecimento, mas precisam interagir com a filosofia, a religião, o senso comum, dentre outras. Acredita-se que o ponto central da ciência é a pesquisa, no entanto, a preocupação do 1 Socióloga, professora e pesquisadora da UNAMA pesquisador, como de qualquer homem, está permeada por crenças, paradigmas, valores que caracterizam a própria condição humana e assim, definem e distinguem a visão de mundo de cada um. Viegas refere-se a esse aspecto e comenta que “o conhecimento é um processo integrado, mas com funções diferenciadas” (Viegas,1999:47). Assim, segundo o autor, o ser humano relaciona- se com o mundo exterior mediante toda sua natureza composta e complexa, agindo concomitantemente como ideólogo, como religioso, como filósofo e também, como cientista, com maior ou menor grau de consciência. A necessidade de conhecer é inerente ao homem desde que ele se deu conta da importância de compreender o mundo para melhor se relacionar com o meio em que vive. A princípio suas limitações lhe impuseram a apreensão de um conhecimento que apenas favorecesse o atendimento de suas necessidades imediatas. Posteriormente, mais desenvolvido, procurou superar o imediatismo e compreender a complexidade do mundo que o cercava através de questionamentos sobre situações que o afligia. Seguindo este propósito, desenvolveu meios que lhe permitiam, não apenas a compreensão da realidade, mas a capacidade de solucionar os problemas verificados nesta realidade. A ciência surge nesse contexto como “solucionadora de problema”, como ressalta Popper apud Matallo Jr.In: Carvalho (1995). Nasce como uma prática viva, dinâmica, inovadora, racional, sistemática, objetiva e verificável, tendo como objetivo manifestar a evidência dos fatos. No entanto, apesar da reconhecida credibilidade da ciência, não se pode ignorar que lhe são inerentes características como a refutabilidade e a verificabilidade. Isso significa que a ciência não é algo permanente e acabado. Suas verdades não escapam à críticas e refutações decorrente do movimento constante e da complexidade das realidades presentes. Algumas explicações científicas caem em desuso e novas verdades buscam se adequar aos modelos vigentes. Para compreender a construção do conhecimento científico é necessário observar essa dinâmica das explicações científicas que vão e vem, nessa busca 2 Cientista Político, professora e pesquisadora da UNAMA incessante de novas teorias com maior capacidade explicativa e, portanto, com maior conteúdo empírico (Matallo Jr. In: Carvalho, 1995:56). A teoria clássica da ciência sempre considerou que para um conhecimento ser considerado como “científico” deveria repousar em bases sólidas e seguras, capazes de garantir certezas absolutas e verdades indubitáveis. Para Comte(1989) apenas poderia ser considerado como científico os fenômenos que pudessem ser observados, mensurados, quantificados, premissas essas que influenciaram muitos cientistas. Segundo ele “... é incontestável hoje que a observação dos fatos é a única base sólida dos conhecimentos humanos. Pode-se mesmo dizer estritamente, tomando esse princípio no seu maior rigor, que qualquer proposição que não seja redutível à simples enunciação de um fato, particular ou geral, não poderá ter nenhum princípio real e inteligível” (Comte, 1989: 85). As teses de Popper (1972) provocaram a reação de muitos filósofos, pois entende que a ciência é um processo racional em constante busca da verdade. Recomenda o autor que metodologicamente não se deve atentar apenas ao estritamente observável, ao invés disso, deve-se levantar hipóteses que possuam alto grau de abstrações, capazes de propiciar predições testáveis. Na concepção de Popper o conhecimento científico é o resultado de uma tensão entre nosso conhecimento e nosso desconhecimento, aprende-se com os erros cometidos e desta forma o conhecimento pode avançar por meio do enfrentamento de um o obstáculo. As teorias administrativas e contábeis como outra qualquer, oferecem respostas aos problemas para os quais foram chamadas a solucionar. No entanto, utilizando-se da pesquisa como uma prática de conhecimento, novos problemas surgirão como um desafio a buscar e desenvolver novos estudos. Com isso, pode- se concluir que o conhecimento nunca é apreendido em sua totalidade, pois a ciência tem sua origem em problemas e não propriamente na observação pura e simples. Ressalta ainda Popper, que a construção do conhecimento científico deve ser por meio do levantamento de um problema ao qual se indica uma solução provisória(hipótese) que se deve criticar para a eliminação dos erros. A solução dada deve ser submetida ao teste de falseamento, através da observação e experimentação. Segundo esta visão, se a hipótese resistir aos testes, fica provisoriamente corroborada, até que não apareça um novo teste que a derrube, quando então será refutada, exigindo a construção de uma nova hipótese. Com o propósito de tornar sua construção mais racional e objetiva, a ciência utiliza-se do método científico como um instrumento facilitador na sondagem da realidade. O método científico é um conjunto de procedimentos técnicas e regras que subsidiam a investigação e possibilitam a verificação das afirmações. De acordo com Galliano (1979), o método científico se constitui basicamente de elementos como: o procedimento racional, que envolve as vias de raciocínio indução e dedução; o procedimento experimental, ligado diretamente à realidade, tendo como objetivo verificar as hipóteses elaboradas; a técnica de observação, ponto de partida para identificação dos fatos da realidade e que tem por características a exatidão, a objetividade, a precisão e o método; a análise e a síntese, que são processos metódicos de tratamento do objeto de estudo, sendo que a análise decompõem o todo em parte para que seja estudado em detalhes. E a síntese procede reconstruindo o todo buscando conhecer a totalidade da coisa em si. Dessa forma torna-se possível conhecer as relações determinantes do objeto. Vergara (1997) define método como uma forma lógica de pensar. Apresenta três métodos de abordagem que fundamentam os estudos científicos:hipotético- dedutivo, fenomenológico e dialético. O método hipotético-dedutivo faz deduções a partir da elaboração de hipóteses. Esse método está intimamente ligado a corrente positivista que tem como característica a pesquisa através da observação e da experimentação, sua explicação está nos fatos como se apresentam e não na subjetividade ou compreensão dos fenômeno. O papel do pesquisador é observar os fenômenos e estabelecer uma relação regular entre eles, sem procurar suas causas. O procedimento estatístico é o que mais se adequa à esse método; o método fenomenológico parte da compreensão dos fenômenos e não apenas das aparências empíricas, isso significa a procura da essência do fenômeno através da reflexão e da intuição. Esse método se caracteriza pela tentativa de explicar os aspectos mais originais do fenômeno; o método dialético é um processo crítico que se caracteriza como um movimento reflexivo do todo às partes e destas ao todo, ou seja, uma constante interação entre o todo e as partes. É ao mesmo tempo análise e síntese. Visa a captação do movimento histórico e suas contradições inerentes. Esse método procura descobrir possíveis contradições no próprio fenômeno estudado. Todo esse procedimento que permite a obtenção do conhecimento da realidade se desenvolve através da pesquisa. Essa prática envolve um conjunto de atividades e orientações para a busca de descobertas ou verdades. Através dessa atividade sistemática, metódica e reflexiva descobrimos respostas para os problemas que se manifestam como lacunas do nosso conhecimento. O ato de pesquisar possibilita a compreensão, reformulação e transformação de teorias científicas, ao mesmo tempo que nos aproxima do novo, do desconhecido. Sendo a realidade “um todo contínuo, complexo e dinâmico”, nas palavras de Barros e Lehfeld (2000), o profissional não pode ficar aliado desse processo, e a universidade é o espaço que lhe permite iniciar esse contato com os fatos da realidade através da apreensão do conhecimento acumulado favorecida pela leitura e discussão de textos teóricos; pela reflexão e pelo desenvolvimento do senso crítico, formando assim o seu espírito científico. A elaboração de trabalhos acadêmicos, como resumos, fichamentos, seminários e pesquisas bibliográficas, contribuem para a formação de uma consciência crítica e estimulam a prática da leitura e da escrita, atividades imprescindíveis para o desenvolvimento do raciocínio lógico. O profissional ou futuro profissional, não pode ignorar que o seu amadurecimento intelectual fortalece a sua capacidade de interagir com essa realidade dinâmica e de compreende-la, possibilitando uma prática profissional apoiada no conhecimento científico, construído a partir de uma investigação racional, metódica e objetiva. A construção do conhecimento não deve se restringir aos denominados pesquisadores profissionais, e sim expandir-se à todos aqueles que buscam compreender a complexidade dos fenômenos e das relações que se desenvolvem num mundo cada vez mais interativo e indagador. Bibliografia Consultada BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de Metodologia Científica-Um guia para iniciação científicas. E. ed. Ampliada. São Paulo: Makron Bookf, 2000. CARVALHO, Maria Cecília M. de Carvalho. A Construção do Saber Científico: Algumas Posições. IN: CARVALHO, Maria Cecília M. de.(org.) Técnica de Metodologia Científica-Construíndo o Saber. 2 ed. São Paulo: Papirus, 1989. CERVO, A. L.;BERVIAN, P. A. Metodologia científica para uso de estudantes universitários. São Paulo: Mc Graw-Hill do Brasil, 1983. COMTE, August. Sociologia . São Paulo: Ática, 1989. Coleção Grandes Cientístas Sociais. POPPER, Karl R. Conjunturas e refutações. Brasília: Universidade de Brasília, 1972. (Coleção Pensamento Científico) VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração.São Paulo: Atlas, 1997. VIEGAS, Waldyr. Fundamentos de Metodologia Científica. Brasília, 1999.
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