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PONTOS SOBRE O TEXTO LG COMO OBJETO DA LGSTC PARTE II

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Discussão sobre o artigo “A língua como objeto da linguística” 
(Antônio Vicente Pietroforte)
PIETROFORTE, Antônio Vicente. A língua como objeto da linguística. In: FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à Linguística. São Paulo: Contexto, 2002.
1
Introdução
Fábulas: 
“Le loup et L’Agneau” (La Fontaine)
“O lobo e o cordeiro” (Tradução de Ferreira Goulart)
Moral: contra a força não há argumentos.
Semelhanças entre português e francês: vous e vós; vos e vossos; an e ano; raison e razão; fort e forte; loup e lobo.
Explicação para as semelhanças lexicais e gramaticais: ambas tiveram origem no latim.
Método da Linguística do século XIX: histórico-comparativo.
Ferdinand de Saussure: contribuiu bastante para os avanços da Linguística histórica e comparativa. 
Saussure: no início do século XX definiu um novo objeto de estudos para a Linguística. 
“Bem longe de dizer que o ponto de vista precede o ponto de vista, diríamos que é o ponto de vista que cria o objeto; aliás, nada nos diz de antemão que uma dessas maneiras de considerar o fato em questão seja anterior ou superior às outras.” (SAUSSURE, 2012, p. 39).
Palavra “nu” corresponde ao latim “nudum”: análise da língua em suas mudanças históricas, a partir da semelhança fônica + informação histórica da antecedência do latim.
Palavra “nu”: quando se analisa como som ou como expressão de uma ideia, o ponto de vista histórico deixa de ser pertinente: como som, tornam-se relevantes informações fonéticas, e, como expressão de uma ideia, tornam-se pertinentes informações semânticas.
O suíço Ferdinand de Saussure, o pai da linguística moderna, ministrou três cursos na Universidade de Genebra, na Suíça nos anos de 1907, 1908 e 1910. 
Curso de Linguística Geral: • não foi escrito por Saussure, são anotações de alunos em suas aulas, Albert Sechehaye, Charles Bally e Albert Riedlinger (editores), que reuniram o material e, em 1916, publicaram o famoso CLG – obra póstuma (Saussure morreu em 1913). 
No livro não há o termo “dicotomias”, mas é assim que se costuma chamar os quatro pares de conceito: síntese das propostas de Saussure para a criação de um novo objeto teórico para a Linguística.
Dicotomia em Saussure: par de conceitos que devem ser definidos um em relação ao outro, de modo que um só faz sentido em relação ao outro.
Sincronia X Diacronia
A Linguística já existia antes de Saussure, só que desenvolvida de outro ponto de vista: Linguística Comparativa e Histórica.
Semelhança sistemática entre palavras do português, do espanhol, do francês e do italiano: línguas românicas (“línguas-filhas” do latim)
português
espanhol
francês
italiano
pai
padre
père
padre
Línguas-irmãs: filhas da língua-mãe (indo-europeu- língua reconstruída, a partir de suas “filhas” e das “filhas” de suas filhas
latim
grego
sânscrito
pater
patér
pitar
Sincronia X Diacronia
* Diacronia vem do grego dia que significa “através” e crónos que significa “tempo.” O estudo diacrônico estuda as mudanças que a língua sofreu “através do tempo”.
* A palavra sincronia vem do grego “syn” que significa “juntamente”, e “crónos” que significa “tempo”: sincronia significa “ao mesmo tempo”.
A partir da dicotomia sincronia vs diacronia Saussure determina uma distinção entre fatos sincrônicos e fatos diacrônicos, sendo que os fatos sincrônicos estabelecem períodos de regularidade num tempo da língua e a diacronia é a sucessão dessas sincronias.
Enquanto a diacronia estuda as mudanças que a língua sofreu através do tempo, o estudo sincrônico é o estudo da língua num determinado período do tempo. 
Saussure, ao distinguir dois pontos de vista distintos de olhar para o mesmo fenômeno, define um novo objeto de estudos para a Linguística.
O Lobo da fábula “tinha a barriga vazia, não comera o dia inteiro”. 
Análise do verbo “comer” (Valter Khedi, 1998, p. 8-9), nos dois pontos de vista: 
a) diacronicamente: vem do latim “edere”, cujo radical é “ed”. Como no presente do indicativo suas formas se confundiam com o verbo “esse” (ser), no latim vulgar da península Ibérica, o verbo “edere” passou a se realizar acompanhado do prefixo cum - que designa companhia. Passou a “cum edere > cumedere > comer” (em língua portuguesa).
Do ponto de vista diacrônico, o “com – ” de comer não é um radical, é um prefixo.
b) sincronicamente, os elementos linguísticos são estudados dentro de um recorte temporal. Considerando esse “com – ” um elemento linguístico que se define em relação aos demais elementos linguísticos que formam a língua portuguesa, ele define-se como um radical: “comilança”. “comilão”, “comida”, e em relação aos radicais dos demais verbos da mesma língua, como em “beber”, pitar” e “cair”.
Metáfora para relacionar sincronia e diacronia: tronco de uma árvore em crescimento (um corte transversal em seu lenho revela uma relação sincrônica entre os elementos que o compõem e um corte longitudinal revela um desenvolvimento diacrônico desses estados sincrônicos.
Fatos sincrônicos são de natureza sistemática: estabelecem princípios de regularidade. Por exemplo, em português:
* todo verbo possui morfemas de modo e tempo e de número e pessoa
* todos os substantivos possuem morfemas de gênero e número
“comêramos”
(1ª p. do pl. do pretérito mais-que-perfeito do indicativo)
“lobos”
Com -(radical)
lob–(radical)
– e(vogal temática de 2ª conjugação)
– o –(morfema de gênero masculino)
–ra–(morfema de tempo pret. mais-que-perfeito do modo indicativo)
– s(morfema de número plural)
–mos(morfema de 1ª p. do número plural)
Os fatos diacrônicos são imperativos: se impõem à língua.
A diacronia é a sucessão de sincronias: faz-se um estudo sincrônico do português do século XIII, do século XIV etc.
Língua X Fala (PIETROFORTE, 2002, p. 81-84).
Língua
Fala
coletiva
particular
dado social
dado individual
abstrata
concreta
ideal
real
realiza-se na fala
realização da língua: uso do sistema
Língua como sistema: Saussure define um novo objeto de estudo para a Linguística.
Sistema: conjunto organizado em que um elemento se define pelos outros. 
Sistema = estrutura
Língua: conjunto de signos em que um signo se define pelos demais signos do conjunto.
Signo: se constitui de uma relação entre um conceito e uma imagem acústica.
Signo: é a união do significado + significante
Significado: Conceito/ideia
Significante: imagem acústica – impressão psíquica de uma sequência articulada de sons (vogais, consoantes e semivogais). 
Palavra “comer”
Signo /komer/
Imagem acústica /komer/
+
Conceito de “ingerir alimentos sólidos”
Com -(morfema: radical)
– e(morfema: significa que o verbo pertence à 2ª conjugação)
– r(morfema:indica que o verbo está no infinitivo)
Obs.: /r/ emrat– (é apenas uma consoante, não tem significado isoladamente)
Conceito desenvolvido por Saussure: “valor” – o sentido de uma unidade, que definida por suas relações com outras da mesma natureza. (PIETROFORTE, 2002, p. 83).
Para o linguista, uma coisa é definida somente quando está em oposição com outra: - Um signo é o que os outros não são.
Em “comer”:
a) o radical só tem valor linguístico em relação aos demais radicais da língua portuguesa, como o beb- de beber, o viv- de viver etc;
b) o morfema –e - : morfema de 2ª conjugação: só tem esse valor em relação aos demais: -a (1ª); – e (2ª).
Em “loba”:
- a: morfema que indica o gênero feminino; define-se como feminino em relação ao morfema 
o, de gênero masculino.
Na língua só há diferenças. Por exemplo: o valor do /l/ só é dado por sua oposição ao /r/: lata e rata
Metáfora da rede: descreve o ponto de vista sistemático (cada nó está relacionado com os demais nós que formam a rede, assim como os signos que formam um sistema linguísticos estão relacionados entre si.
Metáfora do jogo de xadrez: o que define o que é uma rainha não é seu formato nem o material de que a peça é feita, mas o seu valor no jogo, ou seja, sua oposição em relação às demais peças.
Signo
Significante + Significado
O conceito
designotraz a significação para dentro da língua e sua estrutura: o signo não une uma palavra e uma coisa, mas umsignificantee umsignificado.
O signo é arbitrário = não motivado: não há uma relação de causa e efeito que motive a relação que une um significado a um significante. Ex.: signocomer(nada há na imagem acústica formada pelas sequências de vogais e consoantes /komer/ que leve a uma relação direta com o conceito “comer”.

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