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A Lei 8666/93

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LEI 8.666/93: Pontos positivos e negativos
A Lei 8.666 completa 18 anos em junho com sua eficácia em xeque. Enquanto alguns criticam a norma e acham que merece mudanças bruscas, outros afirmam que ela é eficiente e precisa só de emendas ou ajustes para se adaptar, por exemplo, à evolução tecnológica.
A lei segue princípios parecidos com os de 1922, quando foi editado o Código da Contabilidade Pública da União. Assim como naquela época, a Lei 8.666 contempla a proposta mais barata, considerada por muitos especialistas um retrocesso, uma vez que não prima pela qualidade do serviço ou do produto. Mesmo o acréscimo do pregão ao processo, em 2002, a mais moderna das modalidades, é tido como atrasado por privilegiar o menor preço. Depois do Código de 1922, as licitações foram regidas por dois decretos-lei, de 1967 e de 1986. Este deu origem à legislação vigente.
Para o mestre em Direito Público Jorge Ulisses Jacoby Fernandes, a legislação não é atrasada, porque não ficou mais que três meses sem alterações ou acréscimos desde sua criação, em 1993. Jacoby já foi conselheiro do Tribunal de Contas do Distrito Federal, procurador e procurador-geral do Ministério Público e juiz do Trabalho. Acompanhou a tramitação do projeto da lei e foi redator da Ata de Registro de Preços, de 2002.
Embora não ache a lei desatualizada, Jacoby defende a criação de outra, visto que apenas as alterações provocam divergências e não atendem às reais necessidades. “Faltam melhores regras processuais, mais base eletrônica e regras éticas, tanto para os servidores quanto para os licitantes. Devemos aproveitar essa experiência de 18 anos para elaborar uma nova legislação”.
Há pontos positivos e outros que precisam ser aprimorados. A principal preocupação é como preservar a legalidade e a moralidade sem perder a eficiência. Ela precisa ser íntegra, mas ágil. Considero a inserção do pregão na lei um grande avanço, pois fica garantida a celeridade do processo e a transparência. Contudo, é evidente que a lei precisa de alterações para possibilitar formas de contratação mais modernas e ágeis, não contempladas no pregão. Em 1993, a internet não era tão presente. Por esse motivo, a lei não dispõe sobre publicação eletrônica. Seria fundamental para uma concorrência mais ampla e justa. Uma das questões que também necessitam de consideração é a preocupação com o meio ambiente. É papel do poder público dispor sobre esses critérios. Tramita na Câmara dos Deputados um projeto do Executivo para a atualização de itens da Lei 8.666.
A Lei 8.666 é acusada de ser muito formal. Isso porque partem do pressuposto de que estabelece critérios muito rigorosos, que dificultam a vida do público. Entretanto, ela existe para ser cumprida. As reclamações partem tanto dos administradores responsáveis pelo processo quanto dos contratados e participantes. Há alguns anos foi criado o pregão. Ele também é muito criticado, apesar de ser mais rápido, sob o argumento de que prioriza o preço em detrimento da qualidade. Mas isso, infelizmente, é um problema da administração pública. Falta fiscalização dos contratos. A administração deve designar e valorizar quem fiscaliza os contratos, para que seja possível averiguar com competência o serviço prestado, o material entregue e a obra executada. O problema principal não está na lei, mas na falta de pessoal treinado. Não é modificando a lei que vai se conseguir fazê-la valer.
A licitação é uma competição que se orienta pelo princípio da isonomia, além de outros, no intuito de obter a proposta mais vantajosa e, ao mesmo tempo, permitir que os interessados disputem, em igualdade de condições, a realização de negócios com a administração. É curioso que as sucessivas modificações no conjunto normativo alusivo às licitações e aos contratos administrativos jamais atinjam objetivos eficazes. As modificações, sempre com a justificativa de aprimorar o processo, visaram a tornar mais eficiente o relacionamento entre a administração e seus contratados, bem como a dificultar condutas éticas, morais e legalmente consideradas reprováveis. Abstraindo-se os eventuais progressos alcançados, foi notória a ampliação do enredo de exigências, dificultando a ação do administrador e criando um difuso sistema de responsabilização propiciador de impunidades.
É fundamental, no campo da administração pública, regras para estabelecer limites. A lei vem cumprindo o seu papel, mas começa a pedir aperfeiçoamentos, não no sentido de destruir a coluna dorsal – as referências e parâmetros estabelecidos. Precisamos modernizar a lei. Introduzir a tecnologia, que não estava prevista na época de sua criação. A inserção da modalidade pregão na lei não supre as necessidades. É preciso garantir que as demandas sejam mais rápidas e menos burocráticas. Eventualmente, desenvolver mecanismos pelos quais, em determinadas áreas, as decisões tenham velocidade maior. Isso vale principalmente para as políticas públicas essenciais, que envolvem os interesses diretos do cidadão, no campo da saúde, da segurança, da alimentação, da educação e do transporte. A lei funciona, ainda que morosamente, mas a máquina pública também precisa estar mais preparada para ter mecanismos de transparência e de controle.

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