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Estudo de clássicos - Utopia

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Oljailson Nogueira de Freitas
ESTUDO DOS CLÁSSICOS
 UTOPIA DE THOMAS MORE
Campo Grande – MS
2017
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho apresenta uma breve síntese da obra “Utopia” de Thomas More. Thomas More, grande chanceler da Inglaterra, nasceu em Londres em 1478 e foi aí decapitado em 1535. Filho de um dos juízes do banco dos reis foi aos quinze anos colocado como pajem do Cardeal Morton, Arcebispo de Cantuária. Foi homem de estado, diplomata, escritor, advogado e homem de leis, ocupou vários cargos públicos. Thomas More chegou a se auto descrever como "de família honrada, sem ser célebre, e um tanto entendido em letras". 
Deu aos filhos uma educação excepcional e avançada para a época, não discriminando a educação dos filhos e das filhas. Fez carreira como advogado respeitado, honrado e competente e exerceu por algum tempo a cátedra universitária. A sua obra mais famosa é "Utopia", neste livro criou uma ilha-reino imaginária que alguns autores modernos viram como uma proposta idealizada de Estado e outros como sátira da Europa do século XVI.
Nessa obra Thomas More descreve uma sociedade que entende como melhor do que aquela onde vivia. O nome Utopia (vem do grego, ou-topos: lugar nenhum) é considerada como o local onde se encontraria a sociedade ideal e inalcançável. Embora o nome da ilha indique que esta exista em um lugar nenhum.
DESENVOLVIMENTO
	Sua descrição da terra ideal compreende Utopia como um local sem propriedade privada, onde todos trabalham, mas sem exageros e todos tem direito a tudo e além de direitos tem obrigações para com todo e o Estado. Todos, necessariamente, têm que trabalhar na agricultura por um determinado espaço de tempo para que aprendam a colher da terra e se mantenham saudáveis desde crianças, e todos têm ofícios definidos, sejam como tecelã, pedreiros, artesãos etc. Os magistrados são escolhidos por grupos de família anualmente, e os mesmos não ganham nada a mais por isso a não ser o prazer de ser útil. Os empregos não dependem de a pessoa ser homem ou mulher ou da sua formação anterior.
Para os utopienses a felicidade da vida consiste na tendência das instituições dessa república em liberar todos os cidadãos de servidões materiais na medida em que o permitem as necessidades da comunidade e a favorecer a liberdade e a cultura de espírito. As cidades são muito bem planejadas e tem sua quantidade de habitantes controladas de diversas formas além de controle do tipo de diversão e da ociosidade para que não haja um enfraquecimento da vida social. Em Utopia há escravos que são desertores, utopienses que cometeram crimes e até mesmo voluntários estrangeiros. Essa sociedade em forma de república perfeita retratada pelo autor é uma crítica ferrenha a sociedade europeia do séc. XV, pois a mesma se dizia cristã, mas não praticava nenhum pouco da bondade dos utopienses que eram pagãos, mesmo vendo que jamais isso se aplicaria naquela sociedade usando como exemplo, que em quanto houvesse moeda corrente sempre haveria pobreza. 
Sendo assim a criação da ilha imaginária de Utopia está ligada a duas ideias centrais defendidas por More, que é a da não existência da propriedade privada e a ideia onde os interesses individuais são possíveis apenas se feito através do preenchimento, primeiramente, do coletivo. Assim, todos os outros pontos da obra como: costumes, cultura, governo, dentre outros, estão diretamente ligados a esses dois pontos principais. O autor vê na propriedade privada a causa de todas as privações da vida humana, sendo esse tipo de propriedade a causa da desigualdade material, concentração de riquezas, exploração do trabalhador. Por outro lado, a indispensabilidade dos interesses individuais se subordinar aos coletivos vendo assim a sociedade como um conjunto é a única maneira de alcançar prosperidade e progresso. Mesmo que muitas das ideias de Morus não sejam aplicáveis ao mundo, do modo como ele se encontra hoje, é importante ter um ideal a ser seguido.
A ilha tem um governo democrático e similar ao republicano. Para More, o governo seria similar a uma republica com um governo democrático tendo origem no povo, não deixando a responsabilidade nas mãos de uma só pessoa. More inspirou-se na república de Platão para criar essa sociedade perfeita. É uma necessidade muito forte a criação desse governo democrático, sendo eleito e ligado diretamente aos interesses da população. Entretanto, mesmo em uma utopia nem tudo é perfeito, à aqueles que não integram essa sociedade igualitária, que no caso são os escravos.
Embora oficial o cristianismo na Utopia, havia inúmeras religiões espalhadas e nenhuma se opunha a outra, vivendo acima de tudo com respeito. Acreditava-se ainda que a felicidade plena fosse obtida na vida após a morte, tanto era a crença que se chorava pelos doentes e não pelos mortos. Utopia, segundo Thomas More, é a “civilização perfeita”. 
Do ponto de vista filosófico a obra reside na revalorização do epicurismo, que tinha como ponto central de sua filosofia enaltecer os prazeres da vida. Em More o epicurismo é defendido de maneira indireta, por meio da evidente simpatia com que retrata a vida da imaginária ilha, onde os habitantes não concordam em não procurar o prazer. No entanto, More também faz adições em seu livro, que não se adequam dentro da ética epicurista, como as provindas de Platão: a imortalidade da alma, a providência divina, e as recompensas de uma vida futura após a morte do corpo. Além do platonismo, também é possível perceber no texto a presença da filosofia estoica, que aparece na insistência do problema da virtude.
A Utopia expressa o desejo de reforma de toda a vida social e religiosa dos europeus do século XVI, época de profunda renovação, nesse aspecto exercendo influência sobre autores contemporâneos a More em outras tentativas de retratar uma sociedade ideal. Não concordando com a estrutura econômica vigente na Europa, o autor descreve uma sociedade ideal, auto regulável e sem a existência da propriedade privada.
Na obra, More indica como os utopianos puderam através de um esforço teórico e prático de racionalidade, resolver os problemas que correspondiam as mais graves questões de sua época: o problema da criminalidade e da sua repressão, o problema da família e do matrimônio, o problema dos conflitos religiosos, e a propriedade privada.
Assim, no decorrer do livro, podemos perceber que a Utopia seria a antítese da Inglaterra no século XVI, tratando-se assim de uma fábula com os princípios de uma sociedade humana perfeita. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Thomas More no Livro Segundo, apresenta uma visão de uma vida em uma sociedade coletiva. Apesar disso, nessa sociedade havia espaço para escolhas individuais. Mas tais escolhas eram condicionadas a partir das leis do país, ou seja, tal liberdade individual pode ser entendida como uma “meia liberdade”. Apesar disso, para época em que o livro foi escrito, a liberdade proposta seria algo a frente do seu tempo, e que não existia nas sociedades europeias.
O título e todo o conteúdo do livro expressam a ideia de algo que não seria aplicável na sociedade atual da época. Apesar disso, fica entendido que a ideia do autor seria a de criticar a sociedade em que ele vivia e ao mesmo tempo idealizar a sociedade ideal. Dessa forma, as críticas que ele realizar no Livro Primeiro, no Livro Segundo são refeitas a partir da sociedade ideal, daquilo que seria perfeito.
O livro ainda tem uma crítica atual à sociedade em certos pontos. Ainda se vive em uma sociedade individualista, que explora os mais fracos e pobres, em que existe sociedade privada, e principalmente sociedades são destruídas através de guerras que só existem para demonstrar o poder dos países mais ricos, que desejam controlar o povo e as riquezas dos mais pobres.
Pode-se afirmar que o Livro Segundo ainda é uma utopia nos dias atuais, e que ressalta pontos que podem ser mudados na sociedade atual.
Há alguns pontos a serem analisados,que podem ser trazidos para debates nos dias atuais como a questão da liberdade religiosa ainda habita as discussões nos dias de hoje.
 A falta de liberdade religiosa é marca registrada em países muçulmanos, onde quem não compactua com sua crença é taxado de infiel e deve ser exterminado da face da Terra. A Utopia contribui para analisarmos como funciona uma sociedade com total liberdade religiosa. Não há espaço para preconceitos, para discussões sem fundamentos, para intolerância. O convívio de cidadãos de diferentes crenças apenas contribui para a diversidade social, o que é altamente benéfico. A Utopia mostra também que a população quando colocada em contato com os valores Cristãos adere naturalmente a eles, na prova de que o Cristianismo é a Religião natural do homem.
A eutanásia é outra questão que é discutida exaustivamente hoje. Em Utopia, surpreendentemente visto que o autor era cristão, a eutanásia era permitida. Neste ponto, a Utopia tende a ser uma sociedade mais liberal do que conservadora, porém só de abortar esta discussão já é de bom grado, visto que é necessária que ambas as teses sejam expostas.
As tensões em Utopia são resolvidas sempre na diplomacia. A força deve ser usada em último caso, sempre. Algo que nos dias de hoje não acontece, visto que os governos preferem a força à diplomacia, sendo assim, fica a lição da Utopia.
A educação em Utopia, o acesso à educação é universal, e a divisão do trabalho se dá através do mérito dos alunos. Tal característica dos utopianos é aclamada nos dias de hoje pela grande maioria dos países do mundo e pela Organização das Nações Unidas (ONU), onde a luta contra o analfabetismo e a favor de uma educação de qualidade tem sido uma bandeira. Tendo o Brasil como exemplo, se todos tivessem oportunidades iguais a uma educação de qualidade, os níveis de pobreza e criminalidade seriam reduzidos, os nossos líderes seriam intelectualmente mais capacitados, nossa representação política melhorada, nosso potencial econômico otimizado e nosso desenvolvimento acelerado. Em Utopia, a constituição é sintética, ou seja, possui poucos artigos, e é composta por normas jurídicas de fácil entendimento, de modo que a população a conhece e compreende. Quando havia uma questão a ser decidida na justiça, o cidadão apresentava seus argumentos diretamente ao juiz, sem a necessidade da intermediação de advogado, que ouvia os dois lados da situação e decretava seu veredicto. Levando tal questão para os dias atuais, veremos que as leis são muito extensas e dúbias, dando sempre brechas para diversas interpretações de advogados, necessários já que o nível de dificuldade das constituições exige anos de estudo para a sua compreensão. Tal situação facilita a ação de indivíduos inescrupulosos, que utilizam as variações da lei para conseguir os mais absurdos benefícios. Se as leis fossem de fácil entendimento, a justiça seria bem menos burocrática e bem mais ágil, facilitando a todos. O sistema penal utopiano obriga o condenado a trabalhar em prol da população, reeducando-o e permitindo sua reintegração à sociedade de modo salutar. No caso do Brasil, os presidiários não são separados em função da gravidade do crime cometido, não realizam (na grande maioria dos casos) nenhuma atividade reeducativa e são onerosos ao Estado. Um simples ladrão de bolsas fica em contato com um grande traficante de drogas. O tempo em cárcere torna-se uma escola do crime. Um sistema penal inteligente, como o utopiano, distinguiria os presos por grau de periculosidade, promoveria atividades reeducativas e diminuiria o custo do Estado vinculando a pena ao trabalho compulsório. “A Utopia” é uma obra de repercussão intertemporal. 
Em nosso ponto de vista, as ideias de Utopia não são aplicáveis ao mundo real, uma vez que o padrão ideal que a ilha oferece a toda população não é suficiente para uma maioria que prefere a partir de seu próprio esforço, trabalho e estudo alcançar níveis melhores de vida. Entretanto, simpatizo com algumas ideias para um mundo ideal, como sua busca pelo diálogo ante a qualquer conflito armado, a inclusão do cidadão na escolha de seu governante e não descriminação da população independente de sexo ou de sua religião. A busca de cada um pelo sucesso pessoal, já mostra uma característica fundamental do ser humano, o individualismo. E nesse ponto já se torna inviável a construção de uma sociedade como Utopia, uma vez que a base dos valores utopianos é a coletividade. 
REFERENCIAS 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Utopia Acessado em 31 de maio de 2017
MORUS, Thomas. A Utopia. Rio de Janeiro, RJ. Editora Nova Fronteira,2011
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