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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Completo

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Liége Alendes de Souza
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Controle de constitucionalidade são os mecanismos postos pelo legislador constituinte originário que controlam os atos normativos de reforma constitucional. 
São requisitos essenciais para o controle: 
Constituição rígida (formalmente);
Atribuição de competência a um órgão 
A ideia de controle emana da rigidez constitucional, prevendo um escalonamento normativo. 
A constituição é norma de validade para os demais atos normativos do sistema. Daí decorre o princípio da supremacia da constituição. 
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Para José Afonso:
“significa que a constituição se coloca no vértice do sistema jurídico do país, a que confere validade, e que todos os poderes estatais são legítimos na medida em que ela os reconheça e na proporção por ela distribuídos. É, enfim, a lei suprema do Estado, pois é nela que se encontram a própria estruturação deste e a organização de seus órgãos; é nela que se acham as normas fundamentais de Estado, e só nisso se notará sua superioridade em relação às demais normas jurídicas”. 
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Sistema de inconstitucionalidade das leis:
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Quadro adaptado da obra de Pedro Lenza.
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Esses dois sistemas consagravam uma forma rígida de entender a inconstitucionalidade das leis, pelo que precisaram ser revistos e alterados, permitindo-se uma modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade. 
No Brasil, embora tenhamos adotado o modelo norte-americano (que defende a inexistência do ato inconstitucional e, portanto, sua nulidade), a regra geral da nulidade absoluta da lei inconstitucional vem sendo, casuisticamente, afastada pela jurisprudência e repensada pela doutrina. 
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Lúcio Bittencourt afirma com propriedade que:
 “... doutrina da ineficácia ab initio da lei inconstitucional não pode ser entendida em termos absolutos, pois que os efeitos de fato que a norma produziu não podem ser suprimidos, sumariamente, por simples obra de um decreto do judiciário”. 
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Essa mitigação de efeitos é percebida pelo teor do artigo 27 da lei 9868/99, que inequivocamente demonstra que, embora ainda seja a regra a nulidade da lei declarada inconstitucional, por vezes o Supremo poderá modificar seus efeitos, in verbis:
 Art. 27 – Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado. 
Estes efeitos modulados também se aplicam ao controle difuso – MS 22.357/DF e RE-AgR 434.222/AM.
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Espécies de inconstitucionalidade:
1 – por ação: decorre da atuação
2 – por omissão: decorre do silêncio legislativo.
A inconstitucionalidade por ação pode se dar por:
Vício formal – a lei ou ato normativo contém algum vício em sua forma, em seu processo de formação.
Vício material – é um vício de matéria, de conteúdo.
Vício de decorro parlamentar – novo – criado por Lenza. Haveria mácula no processo legislativo de formação das EC, uma vez comprovada a compra de votos no esquema do mensalão?
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ESPÉCIES DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE:
Quanto ao órgão fiscalizador
1- controle político
2- controle jurisdicional
3- controle misto
Quanto ao momento da fiscalização
1- controle preventivo
2- controle repressivo
 
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Controle quanto ao órgão fiscalizador (Quem controla)
1) Controle Político – é aquele exercido, normalmente, pelos poderes Legislativo e Executivo, sem participação do Judiciário. A doutrina é muito crítica com relação a esse tipo de controle porque se baseia muito mais num juízo de conveniência, desprovido de respaldo técnico, sendo redundante e parcial, pois é o próprio PL que controla a constitucionalidade dos atos que ele mesmo criou.
Exemplo: França.
2) Controle Jurisdicional (judicial) – desempenhado apenas por juízes e tribunais, é o PJ que o exerce com exclusividade. 
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Também é extremamente criticado porque cria um “governo de juízes”, pois desvia o judiciário de seu ofício típico, convertendo-o num órgão de natureza política.
Exemplo: Estados Unidos, foi o país que criou esse tipo de controle e adota até hoje. 
3) Controle Misto (eclético ou híbrido) – é a soma dos outros dois vistos anteriormente – o político e o jurisdicional.
Não há maiores críticas quanto a essa forma de controle, porque é a melhor técnica. Certas matérias são fiscalizadas pelo PJ enquanto outras são controladas pelo PL e PE.
Exemplo: Brasil e Portugal 
 
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Controle quanto ao momento da fiscalização
O controle de constitucionalidade pode ser acionado em dois momentos distintos:
1º momento: na etapa do projeto de lei;
2º momento: na etapa posterior à produção da lei.
O controle que acontece na fase do projeto de lei é chamado de controle preventivo; e o que acontece após a produção da lei é o controle repressivo, exercido pelo judiciário e visa reprimir a inconstitucionalidade.
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Modelo brasileiro de controle 
O modelo brasileiro de controle de constitucionalidade é muito elogiado e pode ser resumido no seguinte esquema:
1) Controle político (preventivo – a priori):
Controle político legislativo – exercido pela CD, SF ou CN; no momento em que o projeto de lei é apresentado ele é submetido à apreciação da comissão de constituição e justiça – CCJ, que analisará o PL e, se a inconstitucionalidade for parcial, corrigirá o vício, se total, rejeitará e arquivará o projeto (através do Presidente da casa). Se não for unânime, pode haver recurso para o processamento (RI da CD e do SF).
Controle político executivo – exercido pelo PR através do veto jurídico.
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2) Controle jurisdicional (repressivo – a posteriori):
Controle jurisdicional concentrado – exercido pelo STF. É um controle abstrato, instaurado por provocação dos agentes legitimados (art. 103 CF). Se processa via ação.
 Controle jurisdicional difuso – realizado por juízes e tribunais nos processos de sua competência. O STF também o pratica através do recurso extraordinário ou recurso ordinário. Se processa via exceção.
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CONTROLE JURISDICIONAL DE CONSTITUCIONALIDADE
O controle jurisdicional, conforme referido supra, pode ser por via da ação (controle concentrado) ou via exceção (controle difuso).
Então:
Via de exceção (ou defesa ou incidental) = controle difuso;
Via de ação (ou abstrata ou principal) = controle concentrado
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O controle difuso de constitucionalidade 
Também é chamado de desconcentrado, subjetivo, aberto, concreto, descentralizado ou incidental.
É exercido pela via da exceção ou defesa, onde qualquer das partes, no curso de um processo, pode suscitar o problema da inconstitucionalidade, como questão prejudicial, cabendo ao judiciário decidi-la, pois só assim a questão principal poderá ser resolvida.
Surge em 1803, nos EUA, no famoso caso Marbury x Madison.
John Adams – perde a eleição para Presidente para Thomas Jefferson. Antes de deixar o cargo, nomeia como juiz de paz Marbury, mas não lhe entrega o ato de posse. Madison, secretário de Estado de Jefferson, não dá posse à Marbury, que ajuíza uma writ of mandamus na Suprema Corte, que, dois anos depois, é enfrentado por Marshall, chefe de Justiça. 
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Esse tipo de controle verifica-se no caso concreto, ou seja, através da análise de uma caso (ex: na época do Collor, houve o confisco da poupança e várias pessoas ajuizaram ação pedindo o desbloqueio da poupança, alegando que a lei era inconstitucional).
Pode ser suscitado:
Nos processos de conhecimento, de execução ou cautelar;
Em mandado de segurança individual e coletivo, habeas corpus, habeas data, mandado de injunção, ação civil pública, ação popular, ações ordinárias.
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A questão prévia pode ser levantada: 
Pelo réu (contestação, reconvenção, exceção);
Pelos terceiros que integram a relação processual (assistentes, litisconsortes, oponentes etc.);
Pelo autor da ação (seja ação trabalhista, civil ou eleitoral);
Pelo MP, que, aliás, deve manifestar-se sempre que for argüida a inconstitucionalidade na via da defesa, mesmo naqueles processos que, a rigor, não tenha que intervir, afinal, ele é o fiscal da lei (custos legis);
Pelo juiz, de ofício. O juiz (magistrado singular ou tribunal) pode e deve declarar a inconstitucionalidade das leis, sem que as partes precisem provocá-lo.
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Matérias afetas ao controle difuso:
a) Lei ou ato normativo municipal em face das cartas estaduais - pela via do controle difuso, todo e qualquer juiz pode decretar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo municipal perante a carta estadual. 
Se a decisão declarar a inconstitucionalidade da lei municipal, caberá recurso ao TJ do Estado, que dará a última palavra, sendo sua decisão irrecorrível, uma vez que o art. 102, III, a, b, c, d da CF não previu recurso extraordinário para o STF no caso de declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo municipal em face da constituição estadual. Cuidar: nos tribunais o julgamento será pelo pleno ou pelo órgão especial – reserva de plenário. A turma ou câmara poderá apreciar caso semelhante, depois da decisão do plenário.
Não há que se falar em fraude ao devido processo legal nem a outras garantias constitucionais, é medida de economia processual e de não abarrotamento do STF.
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b) Lei ou ato normativo municipal em face da carta federal – no sistema brasileiro, só há duas formas de se realizar o controle de constitucionalidade de lei ou ato normativo municipal em face do texto da CF:
Pela argüição de descumprimento de preceito fundamental – ADPF (veremos mais adiante);
Pela fiscalização difusa, exercida, no caso concreto, por qualquer juiz ou tribunal.
Podemos observar, pelo teor do art. 102, I, a da CF que a ação direta de inconstitucionalidade (ADIN) só pode ser manejada perante atos normativos federais ou estaduais, ficando de fora os atos municipais (locais).
Essa exclusão é proposital e indica que os atos municipais que ferem a constituição só poderão sofrer controle pela via difusa. 
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Contudo, a decisão prolatada por juízes ou tribunais, declarando, no caso concreto, a inconstitucionalidade da lei municipal frente à CF, será passível de Recurso Extraordinário ao STF, isso porque o parâmetro não é mais a constituição estadual e sim o texto da própria constituição, cuja defesa e guarda incumbe ao supremo.(vide art. 102, III, a a d). Cuidar: no STF, para que este examine o RE, deve ser demonstrada a repercussão geral (§3º, art. 102 C/88) – é um pressuposto de admissibilidade – sobre RG, ver a lei 11.418/2006..
c) Leis ou atos normativos distritais – pelo controle difuso também poderá ser declarado, no caso concreto, a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo distrital. Como o DF é um misto de Município e Estado, cabem algumas considerações:
A sentença do TJDF que declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo distrital que conflite com a constituição distrital é irrecorrível. 
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Neste caso se aplica o mesmo entendimento já analisado quando tratamos da inconstitucionalidade de lei estadual face à Constituição do Estado, não cabendo recurso extraordinário ao Supremo.
A sentença do TJDF declaratória de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo distrital prolatada em face da Constituição Federal, comporta, na via difusa, recurso extraordinário ao STF. É exatamente a mesma coisa que acontece com a lei municipal em face da Constituição Federal.
d) Espécies normativas – no curso de uma demanda é possível a fiscalização difusa de emendas constitucionais, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções. 
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Nenhum órgão do judiciário será obrigado a aplicar emendas constitucionais ou medidas provisórias ilegais, podendo qualquer juiz ou tribunal, independente de provocação, declarar a inconstitucionalidade. Produzirá efeito entre as partes. 
e) Tratados internacionais – quando os tratados internacionais são incorporados aos sistema jurídico passam a ser considerados como leis, submetendo-se ao controle difuso
f) Atos normativos privados – o controle difuso pode ter como objeto de impugnação atos normativos privados, como a convenção de condomínio ou estatuto da empresa, que, no caso concreto, violem dispositivos da carta magna. 
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Procedimento:
Pelo controle difuso, a ação pode ser ajuizada em primeira instância e ter recurso de apelação para o Tribunal de Justiça.
No TJ o processo será distribuído e poderá ser dirigido ao órgão especial (nos tribunais com mais de 25 membros) composto por no mínimo 11 julgadores e no máximo 25 para apreciar, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo. É a chamada cláusula de reserva de plenário.
O Supremo poderá apreciar este processo através do recurso extraordinário. (cuidar a repercussão geral).
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Efeitos da decisão:
Em regra, o efeito da decisão em controle difuso é inter partes e ex tunc.
 
Contudo, o STF já entendeu que, mesmo no controle difuso, é possível se atribuir à decisão efeito ex nunc (pro futuro).
O caso que originou tal interpretação foi o RE 197.917, pelo qual o STF reduziu o número de vereadores do Município de Mira Estrela/SP, mas jogou os efeitos para a próxima legislatura.
A decisão no controle difuso não tem força vinculante em relação aos demais órgãos do judiciário e da Adm pública.
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Senado Federal no controle difuso:
Segundo o art. 52, X da CF/88, cabe ao SF suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do STF.
Conforme refere Uadi, isso só tem cabimento no controle difuso, quando o STF emite decisão definitiva e irrecorrível (deliberada pela maioria absoluta do pleno), que faz coisa julgada no caso concreto entre as partes, ele deve oficiar ao SF para suspender a execução da lei inconstitucional. 
O Senado suspende a executoriedade da lei por meio de resolução.
 
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Somente depois da publicação da resolução do senado é que os efeitos do controle difuso atingem a todos (erga omnes), produzindo eficácia geral, ampliando-se os efeitos do controle difuso.
Segundo o STF, a resolução do senado terá efeitos retroativos, ou seja, ex tunc, desconstituindo todas as relações jurídicas formadas sob a égide do ato declarado inconstitucional. Esse efeito é controverso na doutrina. 
Assim, todas as ações firmadas sob o império do ato inconstitucional tornam-se inválidas. 
Cuidar: o efeito retroativo (ex tunc) é atribuído pelo STF, ao Senado cabe apenas estender os efeitos da decisão, que passa de inter partes para erga omnes.
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Resumindo:
A atuação do SF só ocorre no controle difuso, concreto;
OSF não está obrigado a suspender a execução da lei;
Não há prazo para a atuação;
A decisão do SF pela suspensão da execução é irretratável;
O SF não pode modificar os termos da decisão do STF;
O instrumento a ser utilizado é a Resolução;
A competência do SF alcança leis federais, estaduais e municipais;
A resolução do SF sujeita-se a controle de constitucionalidade. 
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CONTROLE CONCENTRADO
A nossa constituição agasalha o controle concentrado de normas desde 1965, permitindo apenas ao STF a apreciação da inconstitucionalidade das leis ou atos normativos.
Também é conhecido por: controle objetivo, reservado, fechado, em tese, principal, abstrato ou centralizado. É exercido via ação. 
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Pela via da ação, somente o Supremo exerce a fiscalização da constitucionalidade das leis e atos normativos. 
Magistrados e Tribunais não o exercem, pois é exclusivo do órgão de cúpula do Judiciário. 
O controle
concentrado apresenta características do processo objetivo, não sendo regido pelas mesmas diretrizes dos processo comum, posto que é direcionado exclusivamente para a defesa, em tese, da harmonia do sistema constitucional.
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A ação civil pública não pode ser ajuizada como sucedâneo de ação direta de inconstitucionalidade.
O controle concentrado também não reprime a inconstitucionalidade do processo legislativo. Apenas atos conclusos, promulgados e publicados sujeitam-se ao controle abstrato. O mecanismo utilizado para reprimir a inconstitucionalidade do processo legislativo é o controle difuso. 
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O STF no controle concentrado 
A atuação do STF no controle concentrado é de legislador negativo, ou seja, não tem a função de criar normas (legiferação positiva), mas sim de expurgá-la do ordenamento jurídico por ser inconstitucional. 
O STF não inova a ordem jurídica, pois não exercita o poder de impulsão, apenas funcionando como legislador negativo, jamais positivo. 
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Mecanismos de controle concentrado na CF/88
Os instrumentos jurídicos previstos na CF que permitem ao STF realizar a defesa da constituição são:
Ação direta de inc. Interventiva – 34, VII;
Ação direta de inc. Genérica – 102, I a 1ª p.
Ação declaratória de Const. – 102, I a 2ª p.
ADPF – 102, § 1º
Ação direta de inc. por Omissão – 103, § 2º
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1) Ação direta de inc. interventiva (representação interventiva)
É uma criação tipicamente brasileira e está consagrada no art. 34 inciso VII da CF/88.
Tem como fundamento a questão da intervenção federal nos Estados e Município. Divide-se em duas fases: 1- judicial; 2- pós judicial, que acarretará na nomeação de interventor pelo Presidente da República. 
Na prática, nunca recebeu muita atenção. 
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Resguarda os chamados princípios constitucionais sensíveis, mas não é a única, uma vez que estes também podem ser defendidos pela ação genérica, sendo esta segunda mais efetiva que a primeira, posto que possui efeito erga omnes.
Vale lembrar que os princípios sensíveis são 5 e estão previstos no art. 34, VII:
Forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
Direitos da pessoa humana;
Autonomia municipal;
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Prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
Aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. 
A violação de qualquer um desses princípios sensíveis já autoriza o ajuizamento da ação interventiva. 
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A ação interventiva, nas palavras de Uadi, é consectária do instituto da intervenção, porque se os Estados ou o Distrito Federal deixarem de acatar os princípios sensíveis, estarão submetidos à maior sanção política aplicada no plano federativa: a intervenção na autonomia que possuem. 
A ação interventiva é um mecanismo abstrato, mas que se opera em concreto, porque estaremos diante de um litígio envolvendo a União e o Estado membro ou o DF, buscando-se a solução de uma questão prejudicial e não propriamente de uma decisão de inconstitucionalidade. 
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A ação direta interventiva possui uma finalidade jurídica e outra política. 
Jurídica porque visa declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo estadual ou distrital.
Política, porquanto colima abrir caminho para se decretar a intervenção no Estado ou no Distrito Federal. 
Não são objeto da ação direta interventiva as leis e atos municipais, apenas os estaduais e distritais. 
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A decisão do STF na ação interventiva poderá determinar a intervenção no Estado ou no Distrito Federal. 
Só tem legitimidade para o ajuizamento da ação interventiva o PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA (art. 129, IV e art. 36, III).
A ação direta interventiva não desencadeia o processo objetivo, que independe de partes para ser instaurado e da demonstração de um interesse jurídico específico, pois aqui existem partes e, para ser ajuizada faz necessário comprovar a violação de um interesse jurídico (princípio sensível).
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São partes na ação interventiva:
1 – A União, representada pelo PGR (parte ativa);
2 – O Estado-membro ou o Distrito Federal (parte passiva).
Procedimento:
O PGR recebe denúncia de violação aos princípios sensíveis, analisa o caso e, discricionariamente, decide se é caso ou não de ajuizar a ação direta interventiva perante o STF.
Ajuizada a ação, o relator no STF será sempre o Presidente, que terá 30 dias para analisá-la, podendo, inclusive, determinar o arquivamento, se entender a denúncia infundada. Pedirá informações ao Estado ou ao DF.
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O relatório será apreciado e julgado pelo pleno. Sendo a decisão pela inconstitucionalidade, o Presidente do STF deverá comunicar os órgãos estaduais interessados e, depois de publicado o acórdão, levar ao conhecimento do PR, que deverá limitar-se a suspender a execução do ato impugnado. Caso essa medida não seja suficiente para o restabelecimento da normalidade, aí sim o Presidente decretará a intervenção federal, afastando as autoridades locais e nomeando interventor, que permanecerá no cargo até que os motivos da intervenção tenham cessado. 
Segundo entendimento doutrinário, não cabe pedido liminar, mesmo que haja previsão na lei 4337/64.
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2) Ação direta de inc. genérica
Surgiu no Brasil com a emenda constitucional nº 16/1965.
Temos duas modalidades de ação direta de inconstitucionalidade:
Por ação;
Por omissão 
A ação direta de inconstitucionalidade genérica é o mecanismo de controle exclusivamente abstrato das normas, que consiste num processo objetivo. 
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Somente o STF pode apreciar (foro competente para processar e julgar) a ação direta genérica. 
No campo de atuação da genérica não há lide ou litígio, nem contraditório, porque inexiste conflito de interesses em jogo.
Também não se fala em partes, no sentido do processo clássico. Existem requerentes, mas inexistem requeridos.
O objeto da direta genérica é a tutela da ordem constitucional como um todo, e não a defesa de um direito subjetivo lesado ou na iminência de sê-lo. 
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A finalidade da ação direta genérica é eliminar da ordem jurídica as leis ou atos inconstitucionais. 
O STF julga as ações diretas genéricas originariamente e, nesta via, não se discutem questões concretas, casos particularizados, como o ocorre no controle difuso. 
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Matérias que constituem objeto da direta genérica:
Leis ou atos normativos estaduais – via ação genérica o STF vai apreciar a constitucionalidade das cartas estaduais e também as leis produzidas pelas Assembleias Legislativas. (102, I, a).
Lei ou ato normativo distrital – embora a CF só referir lei ou ato normativo federal ou estadual, sem mencionar as leis ou atos normativos distritais, o STF tem competência para efetuar o controle concentrado destes também, porquanto ao DF são atribuídas as competências dos Estados e Municípios. 
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Decisões normativas dos Tribunais – o STF pode conhecer, via ação genérica, os atos dos Tribunais revestidos da forma de resoluções administrativas, portarias, deliberações interna corporis, etc. 
Se estende também para as normas dos Tribunais de Contas, Tribunais de Justiça, do Trabalho...
Espécies normativas – também é possível utilizar a ação genérica para o controle concentrado das espécies normativas do art. 59 da CF. 
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Matérias que não constituem objeto de ação genérica:
Lei ou ato normativo municipal em face da CF – cabe apenas ADPF ou controle difuso. 
Leis ou atos normativos revogados;
Atos normativos privados – o controle abstrato somente pode ter como objeto impugnação de atos normativos emanados pelo Poder Público;
Crises de legalidade – desobediência da lei pelas autoridades públicas. Inviável ADI.
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Leis e atos de efeitos concretos;
Súmulas;
Legitimidade – art. 103, I a IX – é a chamada legitimidade
ativa concorrente:
I – PR
II – a mesa do SF
III – a mesa da CD
IV – a mesa da Assembleia Legislativa ou da Câmara legislativa do DF
V – governador de Estado ou do DF
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VI – o PGR
VII – o conselho federal da OAB
VIII – partido político com representação no Congresso Nacional
IX – confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. 
Esse rol é taxativo e não pode ser ampliado.
Deve estar presente na ação a pertinência temática, ou seja, certas agremiações devem comprovar que a suposta ofensa ao texto da CF repercutiu em seus objetivos sociais e econômicos. 
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A legitimidade passiva recai sobre o órgão ou autoridade do qual emanou o ato que se pretende impugnar. Ao sujeito passivo (requerido) cumpre prestar informações ao Ministro relator do processo. 
Ao Advogado-Geral da União incumbe a defesa da norma federal, distrital ou estadual atacada em ação direta de inconstitucionalidade. Sua manifestação deve ser sempre no sentido de velar pela preservação da constitucionalidade dos atos normativos. 
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Tem a Adin natureza dúplice ou ambivalente. 
Efeitos:
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Se houver desrespeito ao caráter vinculante da decisão em ADIN, poderá o prejudicado ajuizar reclamação, proposta diretamente no STF.
 
Modulação de efeitos: o STF pode fazer a manipulação temporal dos efeitos da decisão de inconstitucionalidade. É instituto de ordem excepcional. Deve ter como requisitos a segurança jurídica e o interesse social, (lei 9868-99 art. 27) e se aprovado por 2/3 dos membros do STF (8 Ministros)
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3) Ação declaratória de constitucionalidade - ADC
 A ADC, também chamada de ação direta de constitucionalidade – ADCON, surgiu no nosso direito em 1993, pela EC n° 3.
 É um mecanismo de defesa abstrata do texto da CF, pela qual se busca, diante do Supremo, o reconhecimento de que determinado ato normativo é constitucional. 
Também possui a natureza jurídica de um processo objetivo, posto que se insere no controle abstrato de normas. 
Procura banir o estado de incerteza e insegurança, provindo de interpretações diferenciadas. Confere homogeneidade às controvérsias e evita decisões contraditórias.
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A ação declaratória vai criar o que UADI chama de atmosfera de certeza e segurança nas relações jurídicas, transformando a presunção relativa (juris tantum) em absoluta (juris et juris).
A ação declaratória parte do princípio de que a lei ou ato normativo é constitucional, até que se prove o contrário.
A ADC vincula os poderes públicos, impedindo que determinado assunto, já decidido pelo STF, volte a ser reexaminado em sede de controle difuso, procrastinando a solução dos feitos. 
Também é processada e julgada originariamente no STF. 
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O objeto da ADC é a lei ou ato normativo federal que esteja sendo alvo de comprovada controvérsia judicial. 
Uadi refere que os atos municipais e estaduais também podem ser objeto de ADC, desde que exista norma expressa na CE prevendo a possibilidade. Desse modo, o constituinte reformador do Estado pode instituir ADC, por Emenda à CE, para a declaração de constitucionalidade de normas e atos estaduais e municipais frente à constituição estadual, a ser ajuizada no TJ.
Os legitimados para a propositura da ADC são os mesmos da ADI – art. 103 CF/88.
 
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É obrigatória a manifestação do PGR, no prazo de 15 dias, como custus legis, embora ele não ocupe o posto de curador da presunção de constitucionalidade, como ocorre na ADI genérica.
O processo e julgamento da ADC está previsto na Lei 9868/99 e, em linhas gerais, apresenta o mesmo rito da ação direta de inconstitucionalidade genérica.
Aqui não existe legitimado passivo, porque não é possível atribuir tal legitimação aos órgãos dos quais emanou o ato impugnado. 
A decisão final em ADC exige o quórum de deliberação de, pelo menos, 8 ministros (art. 22 da Lei da ADC). Com o voto de 6 a lei ou ato normativo será proclamada constitucional. Sem o número necessário de ministros, o julgamento fica suspenso. 
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Efeitos:
Os efeitos da decisão final na ADC são ex-tunc, erga omnes (contra todos) e vinculantes (quanto aos atos dos órgãos judiciários, da adm pública, direta e indireta, da União, dos Estados e dos Municípios e DF). 
Se o STF julgar parcialmente procedente a lei ou ato normativo federal, sua constitucionalidade será em parte, o restante da norma deverá ser declarada inconstitucional.
Quando o STF declara a constitucionalidade da lei ou ato normativo federal, não mais será possível contestar o assunto (não será novamente analisado).
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4) Argüição de descumprimento de preceito fundamental - ADPF 
Instrumento criado pelo legislador brasileiro, a ADPF foi inserida na CF/88. É um mecanismo especial de controle de normas, que permite aos legitimados do art. 103 levarem ao conhecimento do STF a ocorrência de desrespeito às normas basilares da ordem jurídica. 
A ADPF tem a finalidade de preservar os preceitos fundamentais. 
Pelo seu uso é possível suspender liminarmente, ações judiciais ou administrativas em curso, as quais deverão acatar a sentença geral e vinculante.
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A ADPF possui natureza jurídica híbrida ou mista, porquanto embora participe do controle concentrado, o debate constitucional que trava busca por fim a uma questão prejudicial, ocorrida ao longo da demanda, em sede de controle difuso. 
Cabimento: lei 9882/99
Evitar lesão a preceito fundamental pela prática de ato do poder público;
Reparar lesão a preceito fundamental pela prática de ato do poder público;
Reconhecer a relevância do fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal.
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Atos que comportam ADPF:
1) Atos do poder público – podem ser atos legislativos, administrativos ou judiciais. Um exemplo de cabimento se dá com relação aos editais de licitações, contratos administrativos, concursos públicos, decisões dos tribunais de contas.
2) Atos privados equiparados aos praticados por autoridades públicas – comportam argüição atos exercidos por entes privados que agem por delegação do poder público, como as concessionárias de serviços públicos e dirigentes de entidades particulares de ensino. Se couber mandado de segurança, descabida é a possibilidade de ajuizamento de ADPF (ela é subsidiária). 
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 3) Atos municipais – com muita cautela, o STF tem admitido o uso da ADPF, para não convertê-la em Ação direta de inconstitucionalidade. 
Por força do princípio da subsidiariedade, o STF só poderá admitir a ADPF se inexistir outro meio idôneo e eficaz para sanar a lesividade do ato.
Cumpre referir que preceitos fundamentais são aqueles que informam o sistema constitucional, ou seja, estabelecem comandos basilares e imprescindíveis à defesa dos pilares da manifestação constituinte originária. 
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São exemplos de preceitos fundamentais:
Soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho, livre iniciativa, pluralismo político – art. 1° da CF;
Princípio republicano e princípio federativo, princípio do Estado Democrático – todos no caput do art. 1°;
Princípio da separação dos poderes – art. 2°;
Princípio do devido processo legal – art. 5°, II;
Principio da ocupação de cargos através de concurso público – art. 37, II; 
Princípio da independência funcional da magistratura – art. 95 e 96. 
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Compete ao STF processar e julgar a ADPF.
Os legitimados para propor a ADPF são os mesmos da ADC e da ADI, ou seja, os taxativamente elencados pelo art. 103.
Os legitimados passivos são aqueles que devem prestar informações ao órgão ou agente que supostamente tenha praticado ato vulnerador de preceito fundamental. 
Também se exige a comprovação de pertinência temática para a propositura por alguns dos legitimados. 
A decisão do STF terá efeito ex tunc, erga omnes e vinculante. 
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5) Ação direta de inconstitucionalidade por omissão
A
Ação direta de inconstitucionalidade por omissão é o mecanismo de defesa abstrata da constituição que se destina a combater a inércia legislativa. 
É um verdadeiro processo objetivo, que não visa sanar litígios ou controvérsias entre as partes.
 A ação de inconstitucionalidade por omissão serve para que o STF comunique ao legislativo a necessidade de feitura de lei para sanar a falta de normatividade, jamais podendo ele criar a lei reclamada. 
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A competência para processamento e julgamento também é originariamente do STF.
A legitimidade ativa também é a mesma das outras ações (art. 103, I a IX CF).
A pertinência temática deve ser perquirida por alguns dos legitimados (mesa da AL ou Câmara legislativa do DF, governador, confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional).
A legitimidade passiva pertence à pessoa ou órgão responsável pela não edição do ato necessário à efetividade da norma constitucional. O procedimento é o mesmo da ADI genérica. 
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A decisão do STF que declara a omissão inconstitucional possui natureza obrigatória ou mandamental. Nela o Supremo determina ao poder ou órgão competente que tome as providências necessárias à cabal efetividade da constituição. 
A decisão dirige-se ao poder legislativo e aos órgãos administrativos:
PL – é cientificado para que adote as medidas cabíveis, porém a sentença do STF não estipula prazo para o parlamento exercer seu múnus, pois senão o STF estaria obrigando o PL a legislar, quebrando o princípio da convivência harmônica entre os poderes.
Órgãos administrativos – deverão tomar providências no prazo de 30 dias, sendo cabível indenização.
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