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FASCICULO LINGUISTICA 1

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Prévia do material em texto

Línguistica I
Bárbara Olímpia Ramos de Melo
Shirlei Marly Alves
UESPI
2010
Licenciatura Plena em Letras Espanhol
UAB – UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
UESPI – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA
LICENCIATURA PLENA EM LETRAS ESPANHOL
Línguistica I
Bárbara Olímpia Ramos de Melo
Shirlei Marly Alves
UESPI
2010
 Melo, Bárbara Olímpia Ramos de.
 Linguística I / Bárbara Olímpia Ramos de Melo;
Shirlei Marly Alves. – Teresina:UAB/UESPI, 2010.
126 p. (Licenciatura em Letras Espanhol)
ISBN: 978-85-61946-08-1
1 Linguística. 2 Linguística - metodologia. 3. I - Alves,
Shirlei Marly. II Título.
CDD: 410.18
M528l
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Vice-presidente da República
José Alencar Gomes da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Secretário de Educação à Distância
Carlos Eduardo Bielschowsky
Diretor de Educação à Distância CAPES/MEC
Celso José da Costa
Governador do Piauí
Wilson Nunes Martins
Secretária Estadual de Educação e Cultura do Piauí
Maria Pereira da Silva Xavier
Reitor da UESPI – Universidade Estadual do Piauí
Prof. Carlos Alberto Pereira da Silva
Vice-reitor da UESPI
Prof. Nouga Cardoso Batista
Pró-reitor de Ensino de Graduação – PREG
Prof. Manoel Jesus Memória
Coordenadora da UAB-UESPI
Prof. Bárbara Olímpia Ramos de Melo
Coordenador Adjunto da UAB-UESPI
Prof. M.Sc. Raimundo Isídio de Sousa
Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação – PROP
Prof. Isânio Vasconcelos de Mesquita
Pró-reitora de Extensão, Assuntos Estudantis e Comunitários – PREX
Prof. Francisca Lúcia de Lima
Pró-reitor de Administração e Recursos Humanos – PRAD
Prof. Acelino Vieira de Oliveira
Pró-reitor de Planejamento e Finanças – PROPLAN
Prof. Raimundo da Paz Sobrinho
Coordenadora do curso de Licenciatura Plena em Letras Espanhol – EAD
Profª. M.Sc. Margareth Torres de Alencar Costa
Edição
UAB - FNDE - CAPES
UESPI/NEAD
Diretora do NEAD
Profª. Dra. Bárbara Olímpia Ramos de Melo
Coordenador Adjunto
Prof. M.Sc. Raimundo Isídio de Sousa
Coordenadora do Curso de Licenciatura
Plena em Letras – Espanhol
Profª. M.Sc. Margareth Torres de Alencar Costa
Coordenador de Tutoria
Prof. Esp. Omar Mário Albornoz
Coordenação de Produção de Material
Didático
Prof. Esp. Marivaldo de Oliveira Mendes
Autoras do Fascículo
Profª. Dra. Bárbara Olímpia Ramos de Melo
Profª. M.Sc. Shirlei Marly Alves
Revisão
Profª. M.Sc. Teresinha de Jesus Ferreira
MATERIAL PARA FINS EDUCACIONAIS
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS CURSISTAS UAB/UESPI
UAB/UESPI/NEAD
Campus Poeta Torquato Neto
(Pirajá), NEAD, Rua João Cabral,
2231, bairro Pirajá, Teresina (PI).
CEP: 64002-150, Telefones:
(86) 3213-5471, 3213-1182 (ramal
294).
http://ead.uespi.br
E-mails:
eaduespi@hotmail.com
 coordenacao.uab@uespi.br
Profª. M.Sc. Leonildes Pessoa Facundes
Diagramação
Luiz Paulo de Araújo Freitas
Capa
Luiz Paulo de Araújo Freitas
Fonte da imagem: <http://inss.nireblog.com>
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO........................................................................................................................9
 INTRODUÇÃO..............................................................................................................................11
UNIDADE 1
LÍNGUA E LINGUAGEM: NATUREZA, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES........13
1.1 COMUNICAÇÃO ANIMAL E LINGUAGEM HUMANA.............................................15
1.2 CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM HUMANA..................................................22
1.2.1 Definições de linguagem (língua).......................................................................28
1.3 MODELOS DE COMUNICAÇÃO...............................................................................32
1.4 FUNÇÕES DA LINGUAGEM......................................................................................34
UNIDADE 2
LINGUÍSTICA: NATUREZA DOS ESTUDOS, HISTÓRIA E CORRENTES DE
ESTUDOS LINGUÍSTICOS............................................................................................41
2.1 LINGUÍSTICA: OBJETO E OBJETIVOS, PERSPECTIVAS DE ESTUDOS........43
2.1.1 Objeto da Linguística ........................................................................................ 43
2.1.2 Objetivos da Linguística ................................................................................... 52
2.2 BREVE PERCURSO HISTÓRICO DOS ESTUDOS DA LINGUAGEM
HUMANA..............................................................................................................................56
2.3 ABORDAGENS DA LÍNGUA.......................................................................................61
2.3.1 Linguística Histórica .............................................................................................61
2.3.2 Estruturalismo..........................................................................................................63
2.3.3 Funcionalismo.........................................................................................................64
2.3.4 Sociolinguística.......................................................................................................66
2.3.5 Gerativismo..............................................................................................................68
2.3.6 Linguística Textual..................................................................................................73
2.3.7 Análise do Discurso...............................................................................................75
UNIDADE 3
DESCRIÇÃO E NORMATIVISMO NOS ESTUDOS DA LÍNGUA.............................80
3.1 PERSPECTIVA DE ESTUDOS: A LINGUÍSTICA É DESCRITIVA, NÃO
PRESCRITIVA....................................................................................................................82
3.2 CONCEPÇÕES DE GRAMÁTICA............................................................................84
UNIDADE 4
A PESQUISA EM LINGUÍSTICA......................................................................................88
4.1 O QUE É PESQUISA....................................................................................................90
4.2 MÉTODO DE PESQUISA...........................................................................................91
REFERÊNCIAS......................................................................................................................109
ANEXOS......................................................................................................................................111
APRESENTAÇÃO
O presente fascículo integra o material de apoio
pedagógico desenvolvido pela Universidade Estadual do Piauí -
UESPI correspondente à disciplina Linguística I, que compõe a
estrutura curricular do Curso de Licenciatura plena em Língua
Espanhola, na modalidade de educação a distância (EAD). Este
fascículo foi organizado e sistematizado com o objetivo de contribuir
com os seus estudos e suas reflexões acerca da compreensão
dos objetivos e da importância da Linguística como ciência.
Nesse sentido, são apresentados aspectos ligados à
comunicação humana e à linguagem que possibilita essa
comunicação, mais especificamente a língua, a qual é composta
de signos verbais, ou palavras, como são mais comumente
conhecidas. Sendo a Linguística um campo de estudo que busca
uma compreensão do que é e de como funciona a língua, e ainda
sendo esta um objeto de natureza complexa, organizamos os
conteúdos deste fascículo de modo que você possa ter uma visão
ampla sobre as características da comunicação linguística
(Unidade 1) e, em seguida, sobre como a Linguística constroi seus
estudos.
Assim, na Unidade 2, apresentam-se as definições, o
objeto de estudo, os objetivos e um panorama histórico da
Linguística, bem como os diferentes modos de abordagemda
língua. A Unidade 3 traz esclarecimentos acerca das diferenças
entre estudos linguísticos e aqueles desenvolvidos pela Gramática
Tradicional, enquanto, na última Unidade (4), você terá uma visão
sobre como se organizam trabalhos de pesquisa em Linguística e
como eles contribuem para a ampliação dos conhecimentos na
área.
UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA
10
Para um melhor aproveitamento das informações e um
aprendizado mais consistente, sugerem-se alguns passos, tais
como atentar para os objetivos de cada unidade e fazer as
atividades sugeridas no final de cada texto, ações que o ajudarão
a sedimentar conhecimentos; valorizar e empenhar-se nos
trabalhos de grupo tanto quanto nas reflexões individuais;
compartilhar ideias; atentar para as referências bibliográficas e,
se necessitar, recorrer a elas para aprofundar-se nos conteúdos
abordados nas disciplinas de seu curso.
Finalmente, procure ler, refletir, analisar criticamente cada
ideia e/ou teoria aqui apresentada. Suas dúvidas poderão ser
apresentadas junto ao seu tutor. Bons estudos!
Professoras
Bárbara Olímpia Ramos de Melo
Shirlei Marly Alves
UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA
11
INTRODUÇÃO
Definir Linguística como o estudo da língua nem sempre é
tão esclarecedor como pode parecer. Isso porque pode dar a
entender que o linguista estuda uma língua em particular, o que,
embora não seja errado, tampouco dá uma idéia adequada do
objeto de estudo dessa ciência.
É preciso que se alcance uma compreensão do que
realmente faz o linguista e como seu trabalho de cientista se
direciona para a geração de conhecimentos que nos ajudam a
entender, por exemplo, como se adquire uma língua e como esta
se estrutura de modo a tornar-se funcional na vida humana.
Como estudante de Letras, área que tem a linguagem
humana como foco de interesse, é importante que você saiba como
se constroem as informações que temos hoje acerca da língua –
de modo geral - e ainda das línguas em particular (como o espanhol,
por exemplo). Esse trabalho de reflexão e de investigação é
desenvolvido por pessoas que se intitulam linguistas, os quais, em
sua grande maioria, se iniciaram como estudante de Letras,
fazendo graduação, especialização, mestrado, doutorado, pós-
doutorado. Assim foram não só adquirindo conhecimentos, mas
também usando-os para pesquisar e gerar mais conhecimentos
acerca da linguagem humana. Aliás, na universidade, além do
ensino, a pesquisa é uma atividade que deve fazer parte da rotina
de trabalho acadêmico. Nesse sentido, mesmo cursando uma
Licenciatura, cujo objetivo é primeiramente formar professores,
também adquirirá habilidades para fazer pesquisa em Linguística
e Literatura de língua espanhola.
Nesse sentido, os estudos de Linguística são necessários
para quem vai atuar no campo do ensino, já que, para o professor,
UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA
12
é importante ter informações acerca do que é uma língua e de como
funciona, pois, só assim terá subsídios para planejar ações de
ensino-aprendizagem mais efetivas. Nesse sentido, os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN), documentos do Ministério da
Educação que trazem orientações para o trabalho na escola, tomam
seus fundamentos das ciências da linguagem.
Face ao exposto, o estudante de Letras tem diante de si
uma excelente oportunidade de se iniciar no modo científico de
conhecer a linguagem humana – manifesta nas diversas línguas,
alcançando uma compreensão que ultrapassa o senso comum,
habilitando-se às tarefas em que esses conhecimentos se fazem
necessários, incluindo ensinar línguas (materna ou estrangeira).
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13
OBJETIVO
• Refletir sobre a linguagem com base em estudos relativos a sua
natureza, características e funções.
UNIDADE 1
LÍNGUA E LINGUAGEM: NATUREZA, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES
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1.1 COMUNICAÇÃO ANIMAL E LINGUAGEM HUMANA
A admiração que a linguagem
sempre exerceu sobre o homem está
atrelada ao poder de não só nomear/
criar/transformar o universo real, mas
também trocar experiências, falar sobre
o que existiu, poderá vir a existir e até
mesmo imaginar o que não precisa
nem pode existir. O interesse pela linguagem manifesta-se de variadas
formas: mitos, lendas, cantos, rituais ou trabalhos eruditos que buscam
explicar essa capacidade humana.
Ao longo dos séculos se encontram relatos que se referem às primeiras
palavras da criança, como também às indagações sobre as condições
necessárias para falar. Conta-se, por exemplo, que o rei Psamético do Egito,
no século VII A.C, determinou o confinamento de duas crianças desde o
nascimento até a idade de dois anos sem qualquer convívio com outras
pessoas, para que se observasse como falariam ou se falariam ou ainda
que língua falariam no contexto de privação social. Além da crueldade
envolvendo o episódio é preciso notar que a hipótese sustentada pelo rei
era que, se essas crianças crescessem sem exposição à fala humana e
viessem a falar, a primeira palavra emitida espontaneamente pertenceria
à língua mais antiga do mundo. Passados dois anos de total isolamento as
crianças emitiram uma seqüência fônica que teria sido interpretada como
“bekos”, palavra do frígio, língua indo-européia desaparecida, do grupo
anatólico, que era falada pelos frígios. Concluiu-se, então, que a língua dos
frígios era a língua mais antiga do mundo.
(fonte: www.comciencia.br/.../handler.php?section=8)
MITOS E LENDAS SOBRE A LÍNGUA HUMANA
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15
A Torre de Babel, de
acordo com o l ivro de
Gênesis, foi uma torre
enorme construída na
cidade de Babi lônia
(hebraico: Babel,
acadiano: Babilu) , uma
cidade cosmopol i ta,
caracterizado por uma
confusão de l ínguas,
também chamado de
“princípio” de Nimrod ‘s
reino. De acordo com o
relato bíbl ico, uma
humanidade unida das
gerações seguintes o
Dilúvio, fala um único
idioma e migrando do
Oriente, participou da construção. O povo decidiu sua cidade deve ter
uma torre tão grande que ele teria “o seu topo nos céus.” No entanto, a
Torre de Babel não foi construído para a adoração e louvor a Deus, mas
em vez dedicado à glória do homem, para “fazer um nome” para os
construtores: “Então disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade
e uma torre com o seu topo nos céus, e façamo-nos um nome para nós
mesmos, caso contrário seremos espalhados sobre a face de toda a
terra. Alguns acreditam que um Deus vingativo e veja o que as pessoas
estavam fazendo, desceu e confundiu suas línguas e as pessoas
espalhadas por toda a terra.
(Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Tower_of_Babel)
UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA
16
Uma questão que sempre se coloca é a seguinte: só a
espécie humana possui linguagem ou existe também comunicação
entre os outros animais? Acerca dessa questão, alguns estudos
foram desenvolvidos, sendo que um deles foi publicado na década
de 1950, por Karl von Frisch, sobre a comunicação entre as
abelhas.
Conforme os dados da pesquisa de von Frisch, a abelha
comunica-se através de uma “dança” na colméia. Quando uma
delas encontra flores com pólen, retorna imediatamente para sua
colméia e começa a chamada “dança das abelhas”. Para indicar a
posição das flores em relação à colméia, em relação ao Sol e a
distância em que as flores com o pólen se encontram, o inseto
realiza uma série de movimento curtos e rápidos, de acordo com a
informação que quer passar às demais. Na medida em que suas
colegas operárias percebem o movimento, elas “decodificam” as
informações e descobrem imediatamente onde está a fonte de
pólen. Os movimentos são variados, mostrando quehá diferentes
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17
combinações entre eles, para indicar diferentes locações. Descobertas
mais recentes sugerem que até mesmo informações sobre o tipo de
flor e a qualidade do pólen são transmitidos nessa dança.
Os diferentes tipos de dança apresentam-se como
verdadeiras mensagens que anunciam a descoberta para a
colméia: ao perceber o odor da obreira ou absorvendo o néctar
que ela deglute, as abelhas se dão conta da natureza do alimento;
ao observar a dança, as abelhas descobrem o local onde se
encontra a fonte do alimento.
Essa pesquisa apresenta uma importante revelação sobre
o funcionamento de uma “linguagem” animal, o que permite, pelo
confronto, avaliar a singularidade da linguagem humana. Embora
seja bem preciso o sistema de comunicação das abelhas – ou de
qualquer outro animal cuja forma de comunicação já tenha sido
analisada – ele não constitui uma linguagem no sentido em que o
termo é empregado quando se trata de linguagem humana, como
se pretende demonstrar a seguir.
As abelhas são capazes de:
(a) compreender uma mensagem com
muitos dados e de reter na memória
informações sobre a posição e a distância; e
(b) produzir uma mensagem
simbolizando – representando de maneira
convencional – esses dados por diversos
comportamentos somáticos.
Essas constatações evidenciam que esse sistema de
comunicação cumpre as condições necessárias à existência de
uma linguagem:
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18
Assim como a linguagem humana, esse sistema é válido
no interior de uma comunidade e todos os seus membros são aptos
a empregá-lo e compreendê-lo da mesma forma. No entanto, as
diferenças entre o sistema de comunicação das abelhas e a
linguagem humana são consideráveis, conforme a seguir:
(a) a mensagem se traduz pela dança exclusivamente,
sem intervenção de um “aparelho vocal”, condição essencial para
a linguagem;
(b) a mensagem da abelha não provoca uma resposta,
mas apenas uma conduta, o que significa que não há diálogo
entre elas. As respostas são sempre as mesmas, o que se
diferencia da linguagem humana.
(c) a comunicação se refere a um dado objetivo, fruto da
experiência. A abelha não constrói uma mensagem a partir de
outra mensagem. A linguagem humana caracteriza-se por oferecer
um substituto à experiência, apto a ser transmitido infinitamente
no tempo e no espaço;
(d) o conteúdo da mensagem é único - o alimento, sendo
que a única variação possível refere-se à distância e à direção. O
conteúdo da linguagem humana, por sua vez, é ilimitado;
(e) a mensagem das abelhas não se deixa analisar,
decompor em elementos menores.
a)a)a)a)a) há simbolismo, ou seja, capacidade de formular e
interpretar um “signo” (qualquer elemento que represente
algo de forma convencional);
b)b)b)b)b) há memória da experiência e aptidão para analisá-
la, isto é a abelha que comunica “lembra” onde está a fonte
do pólen, enquanto as receptoras conseguem “entender”,
analisando a dança.
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19
É esse último aspecto a característica
mais marcante que opõe a comunicação das
abelhas à linguagem humana. Num enunciado
lingüístico como “Quero água”, é possível
identificar primeiramente dois elementos
portadores de significado: quero e água.
Articulando-se os dois, tem-se o enunciado
Quero água. Quero e água também se podem
decompor, cada um em dois elementos portadores de significado:
quer- (radical verbal) + -o (desinência número-pessoal); águ-
(radical nominal) + -a (vogal temática nominal). Esses elementos
são denominados morfemas. Prosseguindo a decomposição,
pode-se chegar a elementos menores ainda. No enunciado “Quero
água”, a menor unidade, os segmentos sonoros, denominados
fonemas (/a/, /g/, /u/, /a/), permitem distinguir significado, como se
pode observar na substituição de (á) por (é) em água\égua.
Essa decomposição de elementos comprova que as
unidades são articuladas umas com as outras, o que é fundamental
na linguagem humana, pois permite produzir uma infinidade de
mensagens novas a partir de um número limitado de elementos
sonoros distintivos.
Percebe-se, assim, que a comunicação das abelhas não
é uma linguagem propriamente dita, mas um código de sinais,
como se pode observar pelas suas características: conteúdo fixo,
mensagem invariável, relação a uma só situação, transmissão
unilateral e enunciado indecomponível. O linguista Émile
Benveniste chama a atenção, ainda, para o fato de essa forma de
comunicação ter sido observada entre insetos que vivem em
sociedade, o que comprova que esta é condição tanto para a
linguagem humana como para os códigos dos animais.
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20
Quadro 1: Comunicação humana x linguagem animal
As características apontadas acima podem ser
sintetizadas no quadro 1, abaixo:
LINGUAGEM HUMANA
O diálogo é sua base
É transmitida entre os
indivíduos e ainda de
geração em geração.
Uma mesma mensagem
pode ser transmitida de
diferentes formas. Ex.: “Estou
com fome!” ou “Ainda não
comi hoje!”
É articulada, isto é, juntam-
se unidades menores para
formar unidades maiores: A-
s banan-a-s caí-ra-m.
O que se comunica pode se
referir ao passado ou ao
futuro
COMUNICAÇÃO ANIMAL
Não existe diálogo
A informação recebida não
pode ser retransmitida, isto é,
um animal não transmite a
outro a informação recebida.
A informação não pode ser
alterada. Os sinais são fixos,
e para cada informação há um
tipo de sinal.
Os sinais não podem ser
decompostos, ou seja, não
podem ser compreendidos em
pedaços menores nem
retransmitidos. Não há
articulação.
O que é comunicado só vale
para o momento da
comunicação.
UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA
21
1.2 CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM HUMANA
O termo linguagem tem uma acepção ampla e uma
acepção estrita, já que tanto é usado para designar todas as formas
humanas de utilizar símbolos para comunicar (a linguagem das
cores, a linguagem dos gestos, os sinais de trânsito e outros códigos
de comunicação) como para referir a uma forma particular de
linguagem que é a língua, a qual se caracteriza pelo uso de símbolos
verbais – vocais e articulados pelos seres humanos.
Neste fascículo, ao usarmos o termo de linguagem daqui por
diante, estaremos atentos ao seu emprego estrito, isto é, tomaremos
linguagem como sinônimo de língua, cujas características
distintivas de outras formas de linguagem são as seguintes:
Aitchison (1976) estabelece algumas características das
línguas humanas, traçando também um paralelo com os códigos
de comunicação animal:
1. Uso de sinais sonoros: também alguns animais, como
pássaros, insetos, golfinhos, usam sons para se comunicar,
mas só os seres humanos possuem um aparelho fonador
(figura ), sendo capazes de produzir sons distintivos mínimos,
como /a/ /f/ /z/ /ê/, os quais podem se juntar para formar
inúmeras palavras.
Figura: Aparelho fonador
Fonte: letratura.blogspot.com
UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA
22
2. Arbitrariedade: você já se perguntou por que chamamos de
vento o ar que se movimenta? Não poderia se chamar ponzo ou
taroco? A falta de uma explicação para a maioria dos nomes
que têm as coisas é que indica que há uma relação arbitrária
entre os sons dos signos e aquilo que significam. No caso dos
animais, muitas vezes se percebe uma relação entre o sinal
usado e a mensagem que é transmitida. Um animal que queira
pôr de sobreaviso um seu opositor arqueará o corpo em posição
de ataque, Na linguagem humana, as onomatopéias são
exceção, pois trata-se de sons com que se imitam os sons da
realidade, mas são muito reduzidas para invalidar a tese da
arbitrariedade dos signos lingüísticos.
Você já parou para pensar de onde vêmos nomes das coisas? Por que
computador chama computador? Por
que temos de chamar a água que cai
do céu de chuva?
Marcelo fica muito cismado com esse
problema e resolve que vai chamar as
coisas do seu próprio modo. Assim,
leite vira “suco de vaca”. Mas sua vida começa a ficar
difícil quando ele inventa palavras novas para todas as
coisas e ninguém mais entende o que ele fala!
A autora de Marcelo, Marmelo, Martelo (1976) é Ruth
Rocha, que escreveu mais de 50 livros para crianças.
(verdadeabsoluta.net/loja/livros/marcelo-marme...)
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23
3. A necessidade de aprendizagem: um gato ou um maçado,
desde que nascem, já começam a emitir os sons que usarão em
toda sua vida. Mesmo que fiquem isolados de seus semelhantes,
ainda assim, miarão ou emitirão grunhidos. Já os bebês humanos
dependem de ficar expostos a uma língua para, poderem, mais
ou menos por volta dos dois anos de idade, começar a falar.
Alguns casos raros de crianças que foram criadas por animais,
longe do convívio humano comprovam que, mesmo tendo uma
dotação genética para uma língua, precisamos de um estímulo
externo, isto é, precisamos ouvir os outros para adquirir
competência lingüística.
4. Dupla articulação: conforme exposto acima, a língua humana
é articulada, isto é, estruturas maiores são formadas por
estruturas de um segundo nível (frases - palavras – morfemas –
fonemas). A primeira articulação é aquela em que se unem
elementos significativos (palavras/morfemas), enquanto a
segunda é a que ocorre entre fonemas, que formam as unidades
da primeira articulação.
Fonte: www.fotosdahora.com.br/clipart/cliparts_image...
UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA
24
5. Diferimento: essa característica da língua significa que
podemos falar de coisas que não estão presentes no contexto
em que nos comunicamos. Assim, conversamos sobre nossa
infância, sobre um incidente ocorrido no dia anterior, sobre
sonhos, planos para o futuro. Isso é possível porque a
linguagem nos permite imaginar, algo que não ocorre com a
maioria dos animais, cuja comunicação requer que os
elementos estejam presentes. É por isso que não se verá
jamais um animal dando um “recado” a outro. Mesmo a abelha
que dança para as outras, embora fazendo-as saber sobre o
néctar em um lugar distante, só consegue passar essa
mensagem, e mais nenhuma outra. Em comparação com a
capacidade humana de se referir até ao que não existe, isso é
quase nada em termos de diferimento.
Fonte: comunix.org/files/u1/mafalda1.jpg
UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA
25
6. Criatividade (ou produtividade): Um número muito reduzido de
mensagens é o que pode produzir um animal durante toda sua vida.
Os seres humanos, por seu turno, podem produzir novos enunciados
sempre que quiserem. Uma pessoa pode, nas circunstâncias mais
imprevistas, uma fase que nunca tenha sido aí enunciada e mesmo
assim ser compreendida, como, por exemplo “Um elefante está
voando pela sala!”. Claro que se pode pensar que esse falante
está bêbado, ou delirando, o que significa que o enunciado foi
compreendido. Cotidianamente, na hora do café, podemos dizer:
Que café delicioso! Adorei esse café! Nunca tomei um café como
esse! e tantas outras formas de elogiar a bebida, isto é, sobre a
mesma coisa, temos enormes possibilidades de enunciados.
Amanhã é meu níver. Amanhã é meu aniversário.
Adoro refri. Adoro refrigerante.
Ele é animal! Ele é muito bom!
Ela gosta de causar. Ela gosta de impressionar /
 criar confusão.
Estamos só ficando. Estamos só nos relacionando
 sem compromisso.
Ele me azarou. Ele acabou comigo.
7. Organização em sistema: Mesmo com a nossa criatividade
lingüística, não dizemos qualquer coisa de qualquer jeito. Por
exemplo, não ouviremos jamais a palavras jkrnte, em português
nem em espanhol; tampouco uma sentença como Chovi meu
antes nesse caso tanto. Isso demonstra que a língua se organiza
em sistemas (compostos de elementos e de regras para sua
combinação) que cada falante domina muito bem, produzindo
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8. Dependência de estrutura: cada elemento da língua adquire
sua identidade na relação que mantém com os demais. Sabemos,
por exemplo que i- é um prefixo quando aparece na estrutura de
palavras como irreal ou imóvel. Do mesmo modo, reconhecemos
Aqueles como sujeito em enunciados como Aqueles são meus
pais; ou como adjunto adnominal em Aqueles carros foram
multados. Desse modo, cada estrutura define a identidade de seus
componentes, bem como o lugar que ocupará na cadeia estrutural.
apenas unidades permitidas por esses sistemas, inclusive quando
cria uma palavra nova. Note que o termo imexível, pronunciado
pela primeira vez por um ministro brasileiro na década de 1980,
é formado por um prefixo + radical + sufixo, seguindo as regras
do sistema mórfico do português.
LEITURA COMPLEMENTAR
SLIDES INTRODUÇÃO AOS
ESTUDOS DA LÍNGUA
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1.2.1 Definições de linguagem (língua)
O desenvolvimento dos estudos lingüísticos levou muitos
estudiosos a proporem definições da linguagem, próximas em
muitos pontos e diversas na ênfase atribuída a diferentes aspectos
considerados centrais pelo seu autor. Neste item serão
apresentadas duas propostas, a de Ferdinand de Saussure e a
de Noam Chomsky, que pressupõem uma teoria geral da
linguagem e da análise Lingüística.
Saussure (1996) considerou a linguagem “heteróclita e
multifacetada”, pois abrange vários domínios; é ao mesmo tempo
física, fisiológica e psíquica; pertence ao domínio individual e social.
A linguagem envolve uma complexidade e uma diversidade de
problemas que suscitam a análise de outras ciências, como a
psicologia, a antropologia etc., além da investigação Lingüística,
não se prestando, portanto, para objeto de estudo dessa ciência.
Para esse fim, Saussure separa uma parte do todo linguagem, a
língua - um objeto unificado e suscetível de classificação. A língua é
uma parte essencial da linguagem; é um produto social da faculdade
da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas
pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos
indivíduos.
A língua é, pois, para Saussure “um sistema de signos” -
um conjunto de unidades que se relacionam organizadamente
dentro de um todo. É “a parte social da linguagem”, exterior ao
indivíduo; não pode ser modificada pelo falante e obedece às leis
do contrato social estabelecido pelos membros da comunidade.
O conjunto linguagem - língua contém ainda outro elemento,
conforme Saussure: a fala, que é um ato individual; resulta das
combinações feitas pelo sujeito falante utilizando o código da língua;
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28
expressa-se pelos mecanismos psicofísicos (atos de fonação)
necessários à produção dessas combinações.
A distinção linguagem/língua/fala situa o objeto da
Lingüística para Saussure. Dela decorre a divisão do estudo da
linguagem em duas partes: uma que investiga a língua e outra que
analisa a fala. As duas partes são inseparáveis, visto que são
interdependentes: a língua é condição para se produzir a fala, mas
não há língua sem o exercício da fala. Há necessidade, portanto,
de duas Lingüísticas: a Lingüística da língua e a Lingüística da fala.
Saussure focalizou em seu trabalho a Lingüística da língua, “produto
social depositado no cérebro de cada um”, sistema supra-individual
que a sociedade impõe ao falante. Para o mestre genebrino, “a
Lingüística tem por único e verdadeiro objeto a língua considerada
em si mesma, e por si mesma”.
Os seguidores dos princípiossaussureanos esforçaram-
se por explicar a língua por ela própria, examinando as relações
que unem os elementos no discurso e buscando determinar o valor
funcional desses diferentes tipos de relações. A língua é
considerada uma estrutura constituída por uma rede de elementos,
em que cada elemento tem um valor funcional determinado. A teoria
de análise lingüística que desenvolveram, herdeira das idéias de
Saussure, foi denominada estruturalismo. Os princípios teórico-
metodológicos dessa teoria ultrapassaram as fronteiras da
Lingüística e a tomaram “ciência piloto” entre as demais ciências
humanas, até o momento em que se tomou mais contundente a
crítica ao caráter excessivamente formal e distante da realidade
social da metodologia estruturalista desenvolvido pela Lingüística.
Em meados do século XX, o norte-americano Noam
Chomsky trouxe para os estudos lingüísticos uma nova onda de
transformação. Chomsky propõe uma definição de linguagem de como
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29
um conjunto (finito ou infinito) de sentenças, cada uma finita em
comprimento e construída a partir de um conjunto finito de elemento.
Essa definição abrange muito mais do que as línguas
naturais, mas também todas as línguas naturais são, seja na
forma falada, seja na escrita, linguagens, no sentido de sua
definição, visto que toda língua natural possui um número finito
de sons (e um número finito de sinais gráficos que os
representam, se for escrita); mesmo que as sentenças distintas
da língua sejam em número infinito, cada sentença só pode ser
representada como uma seqüência finita desses sons (ou letras).
Cabe ao lingüista que descreve qualquer uma das
línguas naturais determinar quais dessas seqüências finitas de
elementos são sentenças, e quais não são, isto é, reconhecer o
que se diz e o que não se diz naquela língua. A análise das
línguas naturais deve permitir determinar as propriedades
estruturais que distinguem a língua natural de outras linguagens.
Chomsky acredita que tais propriedades são tão
abstratas, complexas e específicas que não poderiam ser
aprendidas a partir do nada por uma criança em fase de aquisição
da linguagem. Essas propriedades já devem ser “conhecidas”
da criança antes de seu contato com qualquer língua natural e
devem ser acionadas durante o processo de aquisição da
linguagem. Para Chomsky, portanto, a linguagem é uma
capacidade inata e específica da espécie, isto é, transmitida
geneticamente e própria da espécie humana. Assim sendo,
existem propriedades universais da linguagem, segundo Chomsky
e os que compartilham de suas idéias. Esses pesquisadores
dedicam-se à busca de tais propriedades, na tentativa de construir
uma teoria geral da linguagem fundamentada nesses princípios.
Essa teoria é conhecida como gerativismo.
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30
Assim como Saussure - que separa língua de fala, ou o
que é lingüístico do que não é - Chomsky distingue competência
de desempenho. A competência Lingüística é a porção do
conhecimento do sistema lingüístico do falante que lhe permite
produzir o conjunto de sentenças de sua língua; é um conjunto de
regras que o falante construiu em sua mente pela aplicação de
sua capacidade inata para a aquisição da linguagem aos dados
lingüísticos que ouviu durante a infância. O desempenho
corresponde ao comportamento lingüístico, que resulta não
somente da competência Lingüística do falante, mas também de
fatores não lingüísticos de ordem variada, como: convenções
sociais, crenças, atitudes emocionais do falante em relação ao
que diz, pressupostos sobre as atitudes do interlocutor etc., de
um lado; e, de outro, o funcionamento dos mecanismos
psicológicos e fisiológicos envolvidos na produção dos
enunciados. O desempenho pressupõe a competência, ao passo
que a competência não pressupõe desempenho. A tarefa do
lingüista é descrever a competência, que é puramente Lingüística,
subjacente ao desempenho.
A língua - sistema lingüístico socializado - de Saussure
aproxima a Lingüística da Sociologia ou da Psicologia Social; a
competência - conhecimento lingüístico internalizado - aproxima
a Lingüística da Psicologia Cognitiva ou da Biologia.
Alguns nos após a divulgação do modelo de Shanon, Bertil
Malmberg (1969) e Roman Jakobson (1969), apresentam suas
propostas. A preocupação de Jakobson e Malmberg é “completar”
ou “ampliar” as propostas anteriores, para que pudesse ser usado
para a comunicação verbal, o modelo de comunicação
excessivamente simplificado da teoria da informação, da teoria
da comunicação ou da cibernética, ou dele aproveitar apenas os
elementos necessários ao exame da comunicação humana.
“Caixas” são assim acrescentadas ou excluídas.
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31
Para Jakobson, na esteira dos estudos sobre a
informação, há na comunicação um remetente que envia uma
mensagem a um destinatário, e essa mensagem, para ser eficaz,
requer um contexto (ou um “referente”) a que se refere,
apreensível pelo remetente e pelo destinatário, um código, total
ou parcialmente comum a ambos, e um contato, isto é, um canal
físico e uma conexão psicológica entre o remetente e o
destinatário, que os capacitem a entrar e a permanece em
comunicação.
Bertil Malmberg e Roman Jakobson foram responsáveis
pelo processo de reformulação do modelo de comunicação. Os
autores ampliam o modelo com a representação do código,
situando a atualização das unidades lingüísticas entre o código e
o emissor; introduzem também a preocupação com a relação do
emissor e elementos extralingüísticos.
O modelo resultante dessa ampliação é um dos mais
conhecido entre os estudiosos da linguagem na atualidade.
Confira na figura 1, a seguir:
LOCUTOR => DISCURSO => RESPOSTA DO OUVINTE
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32
Quadro 2: Modelo do processo de comunicação, segundo Roman
Jakobson.
Se as propostas de Jakobson ampliam o modelo da teoria
da informação, sobretudo no que diz respeito aos códigos e
subcódigos e à variação lingüística, sua contribuição mais
conhecida e igualmente relevante para o estudo da comunicação
está relacionada com a questão da variedade de funções da
linguagem. Jakobson mostrou que a linguagem deve ser examinada
em toda a variedade de suas funções, e não apenas em relação à
função informativa (ou referencial ou denotativa ou cognitiva), que,
por ser a função dominante em certo tipo de mensagem e por ser
a que interessa ao teórico da informação, foi, muitas vezes, no
século XX principalmente, considerada a única ou a mais
importante.
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33
1.4 FUNÇÕES DA LINGUAGEM
As funções da linguagem propostas por Jakobson partem
da consideração do modelo de comunicação acima, focalizando
cada um dos elementos presentes na comunicação. Assim, em
qualquer processo comunicativo, alguns elementos assumem papel
central e são mais focalizados do que os outros. A função da
linguagem que ganha destaque é, por isso, aquela que melhor se
adequa à centralidade de qualquer um dos itens constantes no
processo comunicativo. O realce particular de cada um dos
componentes do modelo comunicativo é feito a partir de uma das
funções da linguagem, apresentadas nas figuras a seguir:
Figura 2: Esquema de comunicação
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34
A função referencial, ou informativa, é centrada no
componente contextual da comunicação, focando o conteúdo da
mensagem, ou seja, apresenta a informação a ser veiculada de
modo objetivo e claro, sem fazer referência ao emissor ou
destinatário. Esta função é a mais encontrada no discurso
jornalístico e acadêmico.
Figura 3: Elementos da Comunicação/Funções da linguagem
Fonte: www. jackbran.pro.br
JORNAL ESPANHOL NOTICIA PRIVATIZAÇÃO DE
PARTESDA AMAZÔNIA
O diário El Pais afirma que o presidente Lula deu sinal verde para o
início da privatização de parte da floresta brasileira.
O jornal espanhol ressalta que Lula sempre foi contra as privatizações,
assim como o PT, mas se rendeu aos problemas insolúveis relativos à
preservação da Amazônia. Segundo o El Pais, o objetivo do governo
brasileiro é inibir o desmatamento com a chegada de empresas para a
extração de madeira e outros produtos de forma sustentável.
Uma área de 90 mil hectares de floresta amazônica em Rondônia seria
a primeira a ser privatizada, já em 2008.
(Fonte: opiniaoenoticia.com.br/)
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35
A função emotiva centra-se no
emissor da mensagem. As estratégias
lingüísticas encontradas nessa função
destacam o remetente como parte do
conteúdo veiculado, expressando, o
caráter emocional e afetivo do
enunciador. Os efeitos dessa função
são a subjetividade e proximidade do
sujeito que veicula a mensagem do
conteúdo desta. Esta função predomina em textos que destacam
o eu-lírico ou o próprio enunciador, como as poesias.
A função conativa procura organizar o texto de forma a que
se imponha sobre o receptor da mensagem, persuadindo-o,
seduzindo-o. Nas mensagens em que predomina essa função,
busca-se envolver o leitor com o conteúdo transmitido, levando-o
a adotar este ou aquele comportamento. da linguagem focalizada
o destinatário. Essa função é bastante utilizada quando agimos
sobre o outro, dando conselhos, fazendo perguntas, pedidos e
ordens. Outro uso bastante comum da função conativa é na linguagem
da publicidade em que se procura convencer e persuadir o
destinatário, produzindo nele comportamentos desejados.
Atinja suas metas
comerciaisMultiplique
cada dólar investido.
Atingimos lucro máximo
com o mínimo de
investimento.
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36
A função fática diz respeito ao fato de que usamos certos signos
para chamar a atenção (ruídos como psiu, ahn, ei), ocorrendo quando
a mensagem se orienta sobre o canal de comunicação ou contato,
buscando verificar e fortalecer sua eficiência. da linguagem centra-se
na utilização do canal de contato entre emissor e destinatário. Os efeitos
dessa função são a aproximação entre os interlocutores, produzindo
interesses comuns, e efetivando a manutenção da interação.
A função poética da linguagem se manifesta quando a
mensagem é elaborada de forma inovadora e imprevista, utilizando
combinações sonoras ou rítmicas, jogos de imagem ou de idéias.
Essa função é capaz de despertar no leitor prazer estético e surpresa.
A língua é utilizada para produzir mensagens que chamem à atenção
o destinatário pela forma como são construídas, elaboradas. A
publicidade, assim como a literatura, são formas de uso da língua em
que se encontra com mais freqüência a aplicação dessa função.
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37
A função metalingüística se caracteriza quando a linguagem
se volta sobre si mesma, transformando-se em seu próprio
referente. Geralmente o entendimento da metalingüística se define
pelo fato de o código se tornar objeto da comunicação,
possibilitando assim sua avaliação, sua adequação, e sua
significação no processo comunicativo. A metalingüística é
encontrada nos glossários e dicionários.
Pirâmide
s.f. Monumento de base retangular e quatro faces triangulares, que
formam uma ponta na extremidade superior. / Fig. Amontoamento de
objetos em forma de pirâmide. / Apresentação de acrobacia em que
umas pessoas se apóiam sobre outras, formando uma espécie de
pirâmide. // Pirâmide das idades, representação gráfica das idades de
um grupo humano (geralmente um estado), apresentando-se em
abscissas negativas o número dos homens e em abscissas positivas o
número das mulheres. // Anatomia. Pirâmide de Malpighi, elemento
cônico que forma a substância medular do rim. // Matemática. Pirâmide
regular, a que tem por base um polígono regular e cujo vértice se projeta
ao centro desse polígono. (As faces de uma pirâmide regular são
triângulos isósceles iguais.) (A área lateral de uma pirâmide regular tem
por valor o semiproduto
do perímetro de sua
base por seu apótema.
O volume de uma
pirâmide é igual à terça
parte do produto da
superfície da base pela
altura.)
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38
É preciso esclarecer, porém, que
as seis funções não se excluem -
dificilmente temos, em uma mensagem,
apenas uma dessas funções. Entretanto,
é engano pensar que todas estejam
presentes simultaneamente. O que pode
ocorrer é o domínio de uma das funções;
assim, temos mensagens predominantemente referenciais,
predominantemente expressivas.
As funções da linguagem, como descritas
por Jakobson, pressupõem a concepção de que
a língua tem como função maior e vital os
processos de comunicação. Assim, cada uma
das funções aqui descritas corresponde às
opções do falante de destacar um aspecto da
comunicação sobre o outro. No entanto,
considerar que o papel da língua é apenas
comunicar, é reduzi-la a um código que em nada difere de outros
sistemas de comunicação até agora estudados.
Além desses modelos baseados na teoria da informação,
existem modelos de conversação que invertem as setas dos
modelos acima. Criando um papel ativo para o receptor.
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ATIVIDADES
1. Analise as capas da revista Veja, a seguir, e comente a função
da linguagem predominante em cada uma.
2. Por que se pode afirmar que no poema a seguir, há presença
da função metalingüística?
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OBJETIVOS
• Reconhecer os estudos linguísticos, identificando objeto, objetivos e
correntes de estudo.
• Inteirar-se do desenvolvimento histórico dos estudos da linguagem
humana, reconhecendo filiações entre eles.
• Distinguir, nas diferentes abordagens da língua, recortes e objetivos.
UNIDADE 2
LINGUÍSTICA: NATUREZA DOS ESTUDOS, HISTÓRIA E
CORRENTES DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS
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41
2.1 LINGUÍSTICA: OBJETO, OBJETIVOS, PERSPECTIVAS DE
ESTUDOS
Neste tópico trataremos mais especificamente do objeto
e dos objetivos dos estudos lingüísticos a fim de nos
familiarizarmos ainda mais com aquilo de que se ocupam os
lingüistas, estudiosos que buscam deslindar os “mistérios” dessa
forma de linguagem que é de uso cotidiano – a língua, e ainda
veremos que objetivos buscam alcançar com suas pesquisas.
Esse estudo se justifica em razão de que, num
curso de graduação em Letras, é importante que o
estudante tome conhecimento das bases teóricas da
disciplina que dão fundamentação aos estudos de
língua, compreendendo qual seu objeto e a se
propõem esses estudos.
Começaremos comentando uma pesquisa feita junto a
estudiosos brasileiros e, a partir daí, estenderemos nossas
considerações com base em outras obras que abordam a questão.
2.1.1 Objeto da Linguística
Na obra Conversas com l ingüistas: virtudes e
controvérsias da linguística, Xavier e Cortez (2003) apresentam
uma série de entrevistas com renomados lingüistas brasileiros,
os quais foram questionados sobre definições de língua, caráter
científico da Linguística, compromissos desta ciência com a
educação e outros assuntos. Segundo os organizadores da obra,
“As questões buscavam fazer os entrevistados sintetizarem em
torno dos mesmos assuntos toda a sua experiência enquanto
estudiosos da linguagem” (p. 10).
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42
Quadro 3 : Definições de Linguística Fonte: Xavier; Cortez (2003) -
adaptado
Interessam-nos neste fascículo as respostas relativas às
seguintes perguntas: Que é Linguística? e Para que serve a
Linguística?, das quais destacamoselementos que nos darão base
para melhor compreender o objeto e os objetivos dessa ciência:
ENTREVISTADOS
Maria Bernardete Marques
Abaurre
Carlos Alberto Faraco
Francisco Gomes de Matos
Rodolfo Ilari
Mary Kato
Ingedore V. Koch
Luís Antonio Marcuschi
Maria CecíliaMollica
O QUE É LINGUÍSTICA?
Campo de estudos que acomoda os mais variados temas a
respeito de linguagem e línguas naturais.
Ciência que tem como objeto a linguagem verbal ou as línguas
naturais
Ciência que se ocupa do processo linguagem em suas múltiplas
representações, principalmente a linguagem escrita, a linguagem
falada e que também se ocupa das origens, da estrutura e do
funcionamento e dos efeitos do uso nos usuários.
Entender como a língua funciona não é saber muitas línguas e
também não consiste apenas em juntar informações sobre as
mais variadas características de uma língua, mas é tentar ver
como funciona.
Ciência que estuda as línguas humanas ou línguas naturais.
É a ciência da linguagem verbal. Estuda o sistema lingüístico e
também a maneira como a língua é posta em prática no seio da
sociedade.
É a investigação das formas, dos usos e das atividades
lingüísticas.
Área de investigação de conhecimento que se ocupa de uma
gama de questões relacionadas à origem, a natureza e a função
da linguagem humana.
OBS.: Veja, ao final do fascículo (ANEXOS), fotos e uma
biografia profissional dos linguistas citados no quadro.
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43
Em todas as respostas dos lingüistas, um elemento comum
se destaca: o foco dos estudos lingüísticos é a língua (= linguagem
verbal) em seus mais variados aspectos: forma, estrutura, origem,
função, usos. Observe que não se trata de uma língua em particular,
mas sim do que é comum a toda e qualquer língua natural (em
oposição às línguas criadas pelo homem (artificiais), como a do
universo da informática). Obviamente que há lingüistas que se
ocupam especificamente da descrição do português ou do espanhol
ou de qualquer outra língua (moderna ou antiga). Trata-se, nesse
caso, de uma especificação do trabalho do estudioso. Nesse ponto,
já podemos constatar que existe uma Linguística Geral e estudos
linguísticos específicos, também chamados de Linguística Descritiva.
Veja a seguir uma notícia de jornal na qual se pode perceber
pontos de vista de lingüistas sobre um determinado fenômeno muito
comum em nosso país:
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44
Esta matéria foi publicada na edição de 23 de novembro
de 1997 do jornal Folha de São Paulo:
Leve dicionário na hora de ir às compras
Nesta época de compras, liquidação vira “sale” e as “stores” vendem
com 50% “off”. Levantamento mostra que 15% das lojas e bares
paulistanos são batizados com nomes em inglês
Lúcia Martins
Da Reportagem local
A mãe up-to-date vai neste X-mas aproveitar uma sale e conseguir 50%
off em uma toy shop para comprar um presente para o baby. Se você tem
dificuldades para entender a frase acima, desista de fazer compras neste
Natal em São Paulo.
Usar palavras, expressões ou traduzir nomes inteiros para o inglês é a nova
tática para atrair os consumidores, principalmente nos bairros de classe média
da cidade.
Nos Jardins e na Vila Mariana (ambos na zona sudoeste), é quase impossível
encontrar nomes de lojas, de marcas e de serviços em português. “How to
get the best price”, “Aceitamos cards”, “Fazemos delivery” são alguns
exemplos encontrados nesses bairros.
A “invasão” da língua pode ser medida pelo número de lojas com nomes
em inglês. De cada 100 lojas de São Paulo, 15 têm alguma palavra ou
estrutura do inglês no nome. Essa é uma estimativa da Federação das
Câmaras e Dirigentes Lojistas, que fez um levantamento em 3.300 lojas. A
explicação de Maurício Stainoff, presidente da federação, é a mesma dada
por especialistas. “Inglês tem prestígio”.
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45
Os donos de bares também resolveram
americanizar. O índice de nomes in english é o
mesmo das lojas. Levantamento da Associação
de Bares e Restaurantes Diferenciados mostra que
cerca de 15% dos seus 300 associados também
têm nomes em inglês.
O grupo que estimula o turismo na cidade é
chamado de SP Convention Bureau. Segundo o
grupo, esse é um nome usado por outras capitais.
A mais recente campanha do SP Convention
Bureau é a “SP Wellcomes Visa”, para atrair
clientes do cartão de crédito.
Para a maior parte dos estudiosos da língua, o que ocorre na cidade é
apenas reflexo da globalização. A prova disso é a demanda crescente de
quem quer aprender a língua. Na cidade, há 3.000 cursos.
Para alguns estudiosos do português, o fenômeno é “invasão”. Para outros,
apenas um “empréstimo”. Ieda Maria Alves, professora-doutora de Filologia
e Língua Portuguesa da USP, está organizando um dicionário de
neologismos e levantou cerca de 3.500 palavras novas usadas pela
imprensa. Desses, 10% são anglicismos.
Entre os recordistas em uso, estão cult, black, talk show (veja as 20 mais
usadas nesta página). Para Ieda, os “empréstimos podem representar um
fator de enriquecimento”. No Aurélio, os anglicismos são cerca de 400,
menos da metade dos estrangeirismos.
Já para Dino Preti, professor-doutor de linguística da PUC-SP, a “infiltração
do inglês é absurda e deve ser controlada”. “Essa invasão é difícil de evitar.
Acho que o caminho é o fortalecimento das escolas”.
(Fonte: www.novomilenio.inf.br/.../imagemp/19971123b.jpg)
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46
Mas voltemos a nossa questão inicial:
A resposta é então quase óbvia:
A língua em seus múltiplos aspectos
O fato de ser múltiplo torna esse objeto altamente complexo
e, como mostra a história da Lingüística (neste fascículo), os estudos
foram, nas suas diversas vertentes, enfocando aspectos diferentes:
os gregos, por exemplo, se preocupavam com a eficácia dos
discursos e estudavam a língua grega para verificar de que modo
os arranjos lingüísticos poderiam fazê-los alcançar sucesso nas
assembléias; já os lingüistas comparativistas, principalmente no
decorrer do século XIX, buscavam nos elementos fônicos das
línguas encontrar parentescos e filiações entre elas.
Como se vê, diferentes objetivos geraram diferentes
objetos: ora a língua é vista como discurso, ora como estrutura
fônica (a isso é que denominamos objeto de estudo). Percebe-
se, com esses dois exemplos, o quanto de riqueza há no objeto
língua, o que gerou muitas subdivisões no terreno da ciência
lingüística, conferindo-lhe na verdade o status de um conjunto de
estudos sobre a linguagem humana.
Para entendermos melhor as multifaces desse grande objeto de
estudo que é a língua, reflitamos sobre o depoimento do professor Ataliba
de Castilho quando de suas aulas de Linguística na universidade:
Bom, eu quando dou aula na graduação, costumo
dizer para os alunos: se você quer entender o que é
lingüística e o que é o seu objeto, você precisa pensar
Qual o objeto da Linguística?
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47
um pouco na fábula dos três cegos apalpando o
elefante. Cada um apalpava um pedaço e definia o
animal por aquele pedaço. Então, o que pegava na
perna, dizia assim: “o elefante é assim um cilindro
muito duro, rígido, [...] parece que esse animal não
se mexe é ocupa posição vertical no espaço”. O outro
que mexia lá na tromba, naturalmente, discordava
não só quanto à disposição no espaço, quanto à
rigidez ao tato, tanto quanto à mobilidade. (XAVIER;
CORTEZ, 2003, p. 55).
Assim, como destaca a professora Mary Kato, a Linguística
é, na verdade, uma grande área, um termo genérico para muitas
subciências. Por exemplo, há lingüistas que estudam a gramática
das línguas, enfocando o modo como os elementos se estruturam
morficamente ou sintaticamente – os linguistas formais;outros se
voltam para as relações entre as estruturas e as funções que elas
desempenham na comunicação humana e como expressam os
pontos de vistas dos falantes – são os linguistas funcionais; outros
ainda se empenham no estudo dos textos – os linguistas de texto,
havendo também estudiosos dos fenômenos do discurso, que têm
como objeto de estudo o sujeito situado nos diversos discursos
que se constroem com a língua. A esses se chamam analistas do
discurso (XAVIER; CORTEZ, 2003)
Há, portanto, muitas tendências na Linguística, sendo que
uma delas é o estudo do chamado “núcleo duro” – fonologia,
morfossintaxe e semântica. O lingüista americano Noam Chomsky,
por sua vez, defende que o objeto de estudo da Linguística é o
conhecimento depositado no cérebro humano que dá ao homem a
capacidade de usar uma língua sem que lhe tenham ensinado.
Outros, como Marcuschi, “acham que a Linguística pode ser mais
ampla e envolve inclusive lingüística de texto, análise do discurso,
análise da conversação, por exemplo. Isto é, envolve processos,
atividades, e outras coisas mais.” (XAVIER; CORTEZ, 2003, p. 136).
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48
Segundo Weedwood (2002), os termos microlinguística
e macrolinguística, embora ainda não estejam bem estabelecidos,
são usados para se referir, respectivamente a uma visão mais estrita
da língua (ou núcleo duro, como já tornou comum dizer), restrita aos
aspectos puramente lingüísticos, como fonemas, morfemas,
sintagmas, elementos lexicais e referências vinculadas apenas aos
elementos lingüísticos, enquanto a macrolinguística diz respeito a
uma visão mais ampliada do escopo da lingüística, incluindo
mecanismos psicológicos que se relacionam à produção e
recepção da fala (domínio da psicolinguística), as mudanças pelas
quais uma língua passa (linguística histórica), as variações
lingüísticas vinculadas a elementos da sociedade, como classe,
origem, grau de escolaridade (sociolinguística) e outros.
Como enfatiza Weedwood (2002, p. 12),
A figura abaixo ilustra esquematicamente como a
Linguística constrói seu objeto de estudo.
Figura 1: Microlinguística e macrolinguística
Fonte: Weedwood (2002, p. 11)
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49
Às vezes a lingüística se encontra com a neurologia:
inscrita no cérebro, a língua está sujeita a distúrbios
(por exemplo, a afasia), extraordinariamente
reveladores do seu funcionamento. Às vezes o lingüista
tem de ser sociólogo, pois a língua é também,
eminentemente um produto social – ou, ainda,
psicólogo, pois a produção lingüística ativa todas as
faculdades psíquicas (memorização, associação,
organização do pensável...) que são do domínio
privilegiado da psicologia.
Percebe-se, pois, que, embora seu objeto seja sempre a língua,
a Linguística a estuda sob diversos ângulos. Sendo a língua muito complexa,
para compreendê-la, são necessários vários modos de abordá-la, daí se
geram os diferentes campos de estudos lingüísticos, conforme enfatiza
Mollica (XAVIER; CORTEZ, 2003, p. 145),
Nessa medida são inúmeros os seus domínios. Nós
podemos imaginar seus domínios e outros que estão
por vir. E aí, portanto, é amplo o diálogo com outras
áreas do saber. [...] É uma área, vamos dizer assim, por
si só naturalmente fragmentada, razão pela qual a própria
definição vai conter uma dinamicidade muito grande.
É importante observar que, conforme ainda a figura 1 (acima),
os sons da língua, fonemas, morfemas, sintagmas, léxico, estão no
chamado núcleo duro, constituindo o que é estritamente lingüístico.
Isso significa que tais elementos também fazem parte do objeto de
estudo de vertentes que se situam na órbita do núcleo. Assim o que
diferencia psicolinguistas, sociolinguistas, neurolinguistas, analistas do
discurso, lingüistas de textos, lingüistas históricos de lingüistas formais
é o fato de que estes se atêm a estudar a língua em si mesma (como
postulam a correntes formalistas), procurando descrevê-la em níveis
de estruturação (organização fonológica, mórfica, sintática), enquanto
aqueles levam em conta elementos extralinguísticos (psicológicos,
sociais, históricos) para explicar o que é lingüístico.
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52
 EXEMPLIFICANDO:
Um lingüista formal identifica os sufixos com carga
semântica de diminutivo, estudando os seus contextos de
ocorrência: –zinha pode ser encontrado em partezinha e
pelezinha; -ula se verifica em partícula e película. Também observa
que o segundo sufixo provoca uma mudança na vogal temática dos
nomes (-ula faz com que –e mude para –i), isto é, o nível mórfico
altera o nível fônico dos vocábulos.
Diante dessas mesmas ocorrências lingüísticas, o
sociolinguista busca associar elementos com os contextos sociais
de uso, observando que os sufixos apresentam diferentes graus
de formalidade e que o segundo grupo normalmente é encontrado
na fala de pessoas mais escolarizadas.
ATIVIDADE
COMPLEMENTAR
1. Leitura do artigo “O caráter imprescindivelmente parcial do objeto da
lingüística”, de Bruna Carvalho Santa. Disponível em
<www.unipinhal.edu.br/ojs/falladospinhaes/.../getdoc.php?id...>.
Após a leitura do artigo, escreva um comentário sobre a parcialidade da
definição saussuriana e da definição chomskyana da língua. Poste seu
comentário no portfólio.
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2.1.2 Objetivos da Linguística
Em seus estudos sobre a linguagem humana (língua) o
lingüista visa a atingir determinados objetivos – o que constitui a
busca de respostas para as questões colocadas sobre o objeto
língua, como já vimos, a partir de enfoques diferentes. Assim,
passaremos agora a tratar de objetivos, isto é, do que a Linguística
se propõe e que procedimentos adota para tal.
Primeiramente, como já destacamos, na Linguística, como
em outros campos, o conhecimento é restrito ao objeto e ao ponto
de vista adotado pelos diversos grupos de lingüistas. Sem dúvida,
a disciplina é empírica (faz parte da experiência de vida das pessoas).
Assim, a língua preexiste ao estudioso: ele não a inventou, ela está
diante dele para ser estudada. “O primeiro objetivo do lingüista,
assim, é descrever o que a realidade lhe impõe” (MARTIN, 2003,
p. 15).
Lingüística é a ciência que estuda a linguagem. O
termo foi empregado pela primeira vez em meados
do século XIX, para distinguir as novas diretrizes para
o estudo da linguagem, em contraposição ao
enfoque filológico mais tradicional. A filologia ocupa-
se, principalmente, da evolução histórica das línguas,
tal como se manifestam nos textos escritos e no
contexto literário e cultural associado. A lingüística
tende a dar prioridade à língua falada e à maneira
como ela se manifesta em determinada época.
Apresenta ainda uma tendência maior à
universalização e aspira à construção de uma teoria
geral da estrutura da linguagem que abarque todos
os seus aspectos. O desenvolvimento, ao longo dos
séculos, de várias hipóteses sobre a formação,
evolução e funcionamento da linguagem criou a base
para as pesquisas lingüísticas atuais.
Entretanto, a língua em si, em sua inteireza, não é acessível
ao estudo, isso porque não há como ver e ouvir tudo o que compõe
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uma língua (como se deposita no cérebro, por exemplo), desse
modo, o linguista, com os dados que observa (os elementos
lingüísticos que analisa), tira conclusões, testa e daí constrói uma
teoria sobre a língua, sua estrutura e funcionamento. A teoria
corresponde a um conjunto de afirmações feitas acerca do
que se estuda. Por exemplo, a teoria gerativa afirma que a língua
é um conjunto de regras gramaticais de estrutura sintática
depositada no cérebro dos falantes.
Obviamente que
os gerativistas não tinham
como abrir a cabeça de
alguém para ver a língua lá
depositada,mas podiam
verificar que as crianças,
em um determinado
período de sua vida,
começam a falar sem
precisar que alguém lhes
ensine, bastando que estejam em contato com outros falantes.
Também são elas capazes de produzir e compreender frases que
nunca ouviram, isto é, o uso da língua não se dá por imitação, e sim
por um mecanismo de geração de sequências lingüísticas. Com
base nessas observações e raciocínios, construiu-se a teoria da
aquisição inata da língua.
A Linguística tem, pois, como um dos seus objetivos,
explicar como uma língua é aprendida ou gerada. Tem-se aí o
que se denomina de Linguística Teórica, pois teoriza sobre a língua,
sem particularizar nenhuma língua específica. A lingüística teórica
procura estudar questões tão diferentes sobre como as pessoas,
usando suas particulares linguagens, conseguem realizar
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comunicação, quais propriedades todas as linguagens têm em
comum, qual conhecimento uma pessoa deve possuir para ser
capaz de usar uma linguagem e como a habilidade lingüística é
adquirida pelas crianças.
Outro objetivo que também se coloca aos estudos
lingüísticos é o de descrever línguas naturais específicas, daí
temos descrição do português brasileiro, descrição do espanhol
da Idade Moderna etc. A esses estudos denominam-se Linguística
Descritiva.
Em razão de as línguas não serem estáticas, mudando em
razão das necessidades dos falantes localizados em diferentes
épocas, outro objetivo da Linguística é de caráter histórico. Esses
estudos, por exemplo, tomam como objeto de estudo as mudanças
que ocorreram na passagem de dialetização do latim até se
formarem as chamadas línguas neolatinas, como o português, o
espanhol, o italiano, o francês. O objetivo é buscar os
mecanismos ou princípios que regem essas mudanças.
Ainda quanto aos seus objetivos, existe a Linguística
Aplicada, a qual se propõe a estudar as línguas com vistas a
objetivos práticos, como melhorar o ensino-aprendizagem de
língua materna ou de língua estrangeira, fazer planejamento lingüístico
em nações marcadas pela pluralidade de línguas, decidindo-se, por
exemplo, qual língua será considerada oficial, desenvolver trabalhos
missionários em comunidades pouco conhecidas.
A figura 1 (acima), em que se mostram as diversas
correntes dos estudos linguísticos, verificamos que se diferenciam
não só pelo objeto dos estudos, como também pelos objetivos
que estabelecem para os estudos. Nesse sentido, a seguir (figura
2), apresenta-se uma síntese dessas diferenças entre duas dessas
vertentes da Linguística:
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Figura 2: Vertentes lingüísticas: objeto e objetivos
Fonte: UESPI, 2009
Por fim, apresentamos, a partir do ponto de vista dos
lingüistas entrevistados por Xavier e Cortez (2003), algumas
considerações acerca da “utilidade da Linguística”. Ao serem
postos diante da questão Para que serve a Linguística?,
manifestaram o seguinte:
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PARA QUE SERVE A LINGUÍSTICA?
Contribuir para uma melhor compreensão de problemas da sociedade, por
exemplo: preconceito lingüístico, aquisição da língua materna, ensino de
língua.
O trabalho científico tem uma utilidade em si mesmo, que é a geração de
conhecimentos.
Para ajudar os usuários a compreenderem a comunicação humana, a
identificarem características do comunicar bem do comunicar para o bem.
Serve para esclarecer, orientar usuários quanto à importância de construir
uma identidade confiante, segura.
Linguística é essa prática pela qual nós tentamos dar o manual de uma
prática que funciona sem manual. Assim a Linguística tem servido muito
para desfazer certos mitos sobre a aprendizagem de língua (materna e
outras), ajudando a melhorar o ensino.
Para fazer entender o que é língua. Assim, é preciso descrever línguas. É
papel da Linguística explicar.
Entender a língua é entender a interação humana, daí a importância de se
ter amplos conhecimentos sobre a língua, e é isso que a Linguística propicia.
Para nos fazer compreender de que forma nós interagimos, como chegamos
a nos entender, como conseguimos construir e dar a entender este mundo
que nós construímos, como a realidade é sentida e reproduzida para as
pessoas.
LEITURA COMPLEMENTAR
SLIDES “PARA ENTENDER A
LINGUÍSTICA”
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2.2 BREVE PERCURSO HISTÓRICO DOS ESTUDOS DA
LINGUAGEM HUMANA
No século IV a.C. já se tem notícias dos primeiros estudos
cujo foco é algum aspecto da linguagem. Inicialmente, foram razões
religiosas que levaram os hindus a estudar sua língua, para que os
textos sagrados reunidos não sofressem modificações no momento
de ser proferidos. Mais tarde os gramáticos hindus, entre os quais
Panini (século IV a.C.), dedicaram-se a descrever minuciosamente
sua língua, produzindo modelos de análise que foram descobertos
pelo Ocidente no final do século XVIII.
Já os gregos preocuparam-se, principalmente, em definir as
relações entre o conceito e a palavra que o designa, ou seja, tentavam
responder à pergunta: haverá uma relação necessária entre a palavra
e o seu significado? Platão discute muito bem essa questão no Crátilo.
Platão também se deteve nos problemas fundamentais da linguagem.
As questões levantadas em suas obras são cruciais, uma agenda à
qual a tradição européia tem retornado, consciente ou
inconscientemente, muitas e muitas vezes ao longo de seu
desenvolvimento.
 Aristóteles desenvolveu estudos noutra direção, tentando
proceder a uma análise precisa da estrutura Lingüística, chegou a
elaborar uma teoria da frase, a distinguir as partes do discurso e a
enumerar as categorias gramaticais.
Dentre os latinos, destaca-se Varrão que, assim como
os gregos, dedicou-se à gramática, apresentando como uma arte
e também como ciência. Os estudos de Varrão, como historiador
e filósofo, conferem a seu trabalho um enforque muito diferente
do das outras obras romanas sobre linguagem que chegaram até
nós. Nas porções remanescentes do De língua latina, Varrão
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estabelece duas dicotomias problemáticas: o papel da natureza
e da convenção na origem das palavras, e a questão da analogia
e da anomalia na regulação do discurso. Tal como Platão, Varrão
conclui que o significado original das palavras, imposto em
concordância com a natureza, foi obscurecido em diversos casos
pela passagem do tempo, e que a etimologia pode
freqüentemente ajudar a recuperar o significado verdadeiro e
original. Por etimologia Varrão entende um tipo de explicação
semântica, em vez do tipo de explicação primordialmente
fonológica da etimologia histórica a que estamos habituados.
Traça, também, uma importante distinção entre a natureza
subjacente, original, da língua(gem) e o uso, e entre os usos
descritivo e prescritivo da analogia. A importância maior dos
estudos de Varrão reside na forma clara com que formulou e seguiu
até o fim algumas das implicações da dicotomia significado-forma,
um legado em que se baseariam gerações posteriores de
gramáticos latinos.
São pouquíssimas as gramáticas do período entre
Varrão e Quintiliano (de 30 a.C. a 100 d.C.) que sobreviveram
até nós, embora gramáticos do século I como Q. Rêmio Palemão,
Valério Probo e Pansa tenham sido fartamente citados por
autores posteriores. A educação romana sob o Império era
destinada à formação de oradores.
Na Idade Média, um pequeno grupo de eruditos em
atividade na universidade de Paris entre 1250 e 1320,
denominados modistas consideraram que a estrutura gramatical
das línguas é una e universal, e que, em conseqüência, as regras
da gramática são independentes das línguas em que se realizam.
Perspectiva que guarda semelhanças com aquela que Chomsky
séculos depois apresentou.UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA
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Os modistas se baseavam na noção dos ‘modos de
significação”, que fornecia um arcabouço para se descrever o
processo de verbalização. Na concepção modista, o objeto do
mundo real, externo ao entendimento humano, podia ser
apreendido como um conceito pelo entendimento, e o conceito
podia ser dado a conhecer por um signo falado, tornando-se
dessa maneira um significado. A teoria sintática modista (que
recentemente foi objeto de comparação com a moderna teoria
das valências] só pode ser avaliada adequadamente quando
se sabe mais acerca de idéias não-modistas sobre sintaxe.
Pode ser que os modistas tenham recebido o crédito de idéias
que, na época, eram lugar-comum. Certamente, foi o
sustentáculo cognitivo de sua teoria, a estrutura subjacente aos
próprios modi significandi, que atraiu a crítica da posteridade,
mais do que sua teoria propriamente sintática.
Posteriormente, a tradução dos livros sagrados em
numerosas línguas, no século XVI, foi um marco nos estudos sobre
a linguagem. Também nesta época viajantes, comerciantes e
diplomatas trazem de suas experiências no estrangeiro o
conhecimento de línguas até então desconhecidas. Em 1502 surge
o mais antigo dicionário poliglota, do italiano Ambrosio Calepino.
Em 1660, a Gramática de Port Royal, de Lancelot e Arnaud,
que foi modelo para grande número de gramáticas do século XVII,
demonstra que a linguagem se funda na razão, é a imagem do
pensamento e que, portanto, os princípios de análise estabelecidos
não se prendem a uma língua particular, mas servem a toda e
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59
qualquer língua. A própria origem dessa gramática espelha os
elementos conflitantes em ação: o encontro da gramática particular
com a filosofia. Enquanto escrevia livros didáticos de latim, grego,
espanhol e italiano, Claude Lancelot observou a existência de aspectos
comuns a estas e (supôs) a todas as outras línguas.
A Gramática de Port Royal é a
precursora reconhecida de uma longa série
de gramáticas “gerais”, “filosóficas”,
“universais” ou “especulativas”, cujos
autores estavam preocupados em
demonstrar a presença marcante dos
princípios lógicos na linguagem,
dissociados dos efeitos arbitrários do uso
de qualquer língua particular. Na língua
portuguesa A Gramática filosófica da língua portuguesa, de
Jerônimo Soares Barbosa, escrita em 1803, mas só publicada
em 1822, é a representante mais notável dos princípios da
Gramática de Port-Royal.
O conhecimento de um número maior de línguas vai
provocar, no século XIX, o interesse pelas línguas vivas, pelo estudo
comparativo dos falares, em detrimento de um raciocínio mais
abstrato sobre a linguagem, diferentemente daquilo que foi
enfocado no século anterior. É nesse período que se desenvolve
um método histórico, instrumento importante para o florescimento
das gramáticas comparadas e da Lingüística Histórica. O
pensamento lingüístico contemporâneo, mesmo que em novas
bases, formou-se a partir dos princípios metodológicos elaborados
nessa época, que preconizavam a análise dos fatos observados.
O desenvolvimento do método comparativo, que resultou
num conjunto de princípios pelos quais as línguas poderiam ser
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60
sistematicamente comparadas no tocante a seus sistemas
fonéticos, estrutura gramatical e vocabulário, de modo a
demonstrar que eram “genealogicamente” aparentadas. Assim
como o francês, o italiano, o português, o romeno, o espanhol e
as outras línguas românicas tinham se originado do latim, também
o latim, o grego e o sânscrito, bem como as línguas célticas,
germânicas e eslavas e várias outras línguas da Europa e da Ásia
tinham se originado de alguma língua mais antiga, à qual é
costume aplicar o nome de indo-europeu ou proto-indo-europeu.
O fato de as línguas românicas descenderem do latim e assim
constituírem uma “família” era coisa sabida havia séculos. Mas a
existência da família lingüística indo-européia e a natureza de sua
relação genealógica foi demonstrada pela primeira vez no século
XIX pelos filólogos comparativistas.
O estudo comparado das línguas vai evidenciar o fato de
que as línguas se transformam com o tempo, independentemente
da vontade dos homens, seguindo uma necessidade própria da
língua e manifestando-se de forma regular.
Franz Bopp é um dos estudiosos que se destaca nessa
época. A publicação, em 1816, de sua obra sobre o sistema de
conjugação do sânscrito, comparado ao grego, ao latim, ao persa
e ao germânico é considerada o marco do surgimento da Lingüística
Histórica. A descoberta de semelhanças entre essas línguas e
grande parte das línguas européias vai evidenciar que existe entre
elas uma relação de parentesco, que elas constituem, portanto, uma
família, a indo-européia, cujos membros têm uma origem comum,
o indo-europeu, ao qual se pode chegar por meio do método
histórico-comparativo.
O grande progresso na investigação do desenvolvimento
histórico das línguas ocorrido no século XIX foi acompanhado por uma
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61
descoberta fundamental que veio a alterar, modernamente, o próprio
objeto de análise dos estudos sobre a linguagem - língua literária - até
então. Os estudiosos compreenderam melhor do que seus
predecessores que as mudanças observadas nos textos escritos
correspondentes aos diversos períodos que levaram, por exemplo, o
latim a transformar-se, depois de alguns séculos, em português,
espanhol, italiano, francês, poderiam ser explicadas por mudanças
que teriam acontecido na língua falada correspondente. A Lingüística
moderna, embora também se ocupe da expressão escrita, considera
a prioridade do estudo da língua falada como um de seus princípios
fundamentais.
É no início do século XX, com a divulgação dos trabalhos
de Ferdinand de Saussure, professor da Universidade de Genebra,
que a investigação sobre a linguagem - a Lingüística - passa a ser
reconhecida como estudo científico. Em 1916, dois alunos de
Saussure, a partir de anotações de aula, publicam o Curso de
Lingüística geral, obra fundadora da nova ciência.
Ao longo do século XX,
também foram desenvolvidos
estudos com base na analogia,que,
tomada em seu sentido mais amplo,
desempenha um papel muito mais
importante no desenvolvimento das
línguas do que simplesmente o de
esporadicamente inibir aquilo que, do
contrário, seria uma transformação
completamente regular do sistema
fonético de uma língua. Quando uma
criança aprende a falar, tende a
regularizar as formas anômalas, ou irregulares, por analogia com os
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2.3 ABORDAGENS DA LÍNGUA
Conforme você já deve ter percebi
a LÍNGUA não é um objeto simples, já que
em sua constituição e funcionamento há
muitos fatores implicados: cognitivos,
estruturais, formais, históricos, sociais.
Desse modo, seria impossível dar conta
de descrever e explicar um objeto tão
complexo de forma adequado se não
houvesse um enorme esforço por parte
dos estudiosos, os quais acabam se especializando numa
abordagem da língua que privilegia determinados fatores. Assim,
padrões mais regulares e produtivos de formação na língua. Por
exemplo, a criança tende a dizer “eu fazi” em vez de “fiz”, tal como diz
“comi”, “abri”, “vendi” etc. O fato de a criança proceder assim é uma
prova de que ela aprendeu ou está aprendendo as regularidades ou
regras de sua língua. Ela prosseguirá seu aprendizado
“desaprendendo” algumas das formas analógicas e substituindo-as
pelas formas irregulares correntes na fala da geração anterior. Mas,
em alguns casos, ela manterá uma forma analógica “nova”, e pode
ser então que esta se torne a forma reconhecida e aceita pela
comunidade de falantes.
Antigamente, a Lingüística não era autônoma, submetia-

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