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CONSTITUCIONAL I - CADERNO PARA PROVA 1 - DIRLEY

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Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
Constitucionalismo 
Conceito e origem 
Precipuamente, é importante salientar que o constitucionalismo é 
diferente de Constituição. Este consiste na ordenação sistemática e racional da 
comunidade política através de um documento escrito no qual se declaram as 
liberdades e os direitos e se fixam os limites do poder político. Aquele consiste 
basicamente em um conjunto de ideias atrelado a um complexo de valores que 
estruturaram um movimento histórico. Portanto, está vinculado à noção e 
importância da Constituição, a qual serve de meio para praticar os ideais de 
liberdade, opondo-se aos modelos absolutistas. Nesse cenário, o 
constitucionalismo despontou-se no mundo como um movimento político e 
filosófico inspirado por ideias libertárias, reivindicando os direitos dos 
governados e a limitação do poder dos governantes. Nesse contexto, o 
constitucionalismo sempre defendeu a adoção e consagração de modelos de 
organização política fundamental da sociedade, baseados na contenção de 
poder e proteção dos direitos das pessoas, defendendo a institucionalização de 
modelos ideais de governo, que jamais deveria ser exercido com abusos do 
poder. Assim, o constitucionalismo pretendeu assegurar o equilíbrio entre 
governantes e governados a partir das limitações do poder exercido pela 
Constituição. 
Vale salientar que o surgimento de Constituições escritas não se 
identifica com a origem do constitucionalismo, já que este não se destinou a 
conferir Constituições aos Estados, mas sim fazer com que eles abrigassem 
preceitos asseguradores da separação das funções estatais e dos direitos 
fundamentais. 
Por derradeiro, segundo Edvaldo Brito, constitucionalismo é “a 
expressão da soberania popular que representa, em certo momento histórico, o 
deslocamento do eixo do poder, cuja titularidade ou exercício era 
exclusivamente do soberano.” 
Por seu turno, a sua origem não é 100% comprovada, mas está mais 
seguramente associada à forma de organização do povo hebreu, regido pela 
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teocracia, onde surgiram as primeiras manifestações do constitucionalismo, em 
busca da limitação do poder absoluto, a qual havia a Lei do Senhor que se 
configurava como a lei superior, pondo limites nos homens governantes. A 
partir desse povo surgiram as primeiras ideias do constitucionalismo, que 
ilustrava um modelo arcaico que evidenciava um governo moderado, ou seja, 
um governo dotado de contensão do poder e de garantia de liberdades. 
Vale ressaltar que o constitucionalismo nunca se opôs ao poder, mas 
resistiu ao poder absoluto, evitando-o a partir da construção de modelos ideais 
que foram surgindo ao longo da história. 
Constitucionalismo antigo 
Desenvolveu-se por toda a antiguidade clássica, destacando-se dois 
momentos: o da Grécia antiga e o da Roma antiga. 
Grécia 
Nos estados da Grécia, sobretudo em Atenas, se adotou a democracia 
direta que privilegiou a soberania popular, ou seja, o cidadão era tratado como 
governante e governado ao mesmo tempo. Nesse sentido, não havia uma 
distinção material entre governantes e governados, apenas formal, pois juntos 
eles tomavam as principais decisões. 
Roma 
A fundação da República de Roma também foi palco importante para o 
amadurecimento das ideias constitucionalistas, na medida em que 
fundamentou o pensamento do constitucionalismo, institucionalizando um 
sistema de freios e contrapesos, no qual permitiu o controle dos abusos do 
poder. Vale lembrar que esse sistema só surgiu em um sistema monárquico no 
período da modernidade, intitulado como “check and balances”. 
Constitucionalismo medieval 
Identifica-se o constitucionalismo na Idade Média – período em que foi 
caracterizado pela expansão das monarquias absolutistas –, de maneira mais 
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destacada, a partir da Carta de 1215, caracterizada por um pacto entre Rei, 
nobreza e Igreja, conferindo garantias de liberdade e propriedade, responsável 
pela obtenção de importantes vitórias com a limitação do poder absoluto do rei. 
Destacou-se na Inglaterra, encontrando terra fértil, pois o país era regido por 
um sistema monárquico absolutista muito rígido, dirigido pelo Rei João Sem 
Terra, sendo este o mais perverso governante, fazendo, inclusive, a Igreja e a 
nobreza de vítimas. Por conta disso, a Igreja e a nobreza se uniram ao povo 
para pressionar o Rei. A partir daí veio a Carta, consolidando algumas 
garantias e direitos, como, por exemplo, a garantia à propriedade, garantia do 
devido processo legal, etc. A Carta, portanto, foi peça fundamental para a 
construção da democracia moderna, na medida em que, pela primeira vez na 
Idade Média, um monarca absoluto passou a se vincular às suas próprias leis, 
caracterizando como a evolução do pensamento constitucionalista. 
Apesar de essas duas épocas contribuírem para esse pensamento, onde 
mais ele se expandiu foi na modernidade. 
Constitucionalismo moderno 
A modernidade foi marcada por duas grandes revoluções: a revolução 
de independência das treze colônias americanas (1776) e a Revolução 
Francesa (1789-1799). Nesse cenário, foram fundamentais para ocorrer a 
derrocada dos Estados absolutistas, nascendo, assim, os Estados de Direito – 
onde o governante seria o primeiro a se sujeitar às próprias leis –, que 
beberam dos pensamentos iluministas. 
As revoluções tiveram como conseqüência fundamental as primeiras 
Constituições escritas, deixando, portanto, de ser concebida como simples 
aspiração política da liberdade: a Constituição dos Estados Unidos (1787) e a 
Constituição francesa (1791). Elas surgem com um dúbio propósito: o de 
organização do Estado e o de impor limites ao poder estatal, por meio de uma 
declaração de direitos e garantias fundamentais. 
Na Inglaterra, as ideias constitucionalistas se destacaram a partir dos 
seguintes documentos: 
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- Petição de direitos (1628) 
- Lei de Habeas Corpus (1679) 
- Declaração de direitos (1689) 
E, foi a partir daí que surgiu a monarquia constitucional vigente até hoje 
no Estado inglês. 
Por fim, a Primeira Guerra Mundial assinala uma profunda mudança no 
constitucionalismo. Nesse contexto, após esse momento histórico, o 
movimento foi desassociado do liberalismo, associando-se à preocupações de 
cunho econômico e social, na medida em que foram se formando Estados 
sociais intervencionistas em face dos Estados passivos liberais. Isso 
aconteceu, pois os governantes começaram a produzir leis e códigos 
autoritários. Ou seja, apropriaram-se das leis e códigos para utilizar como 
instrumento de opressão: a lei que libertava passou a ser a lei que oprimia (isso 
era observado, principalmente, na Itália, Alemanha, Espanha e Portugal). 
Assim, a teoria jurídica ficou enfraquecida, já que o governo estava agindo de 
acordo com a lei. 
Nesse contexto, Kelsen afirmou que o modelo nazista era juridicamente 
válido, pois era um regime que se baseava na lei, sendo, portanto, uma teoria 
positivista. Podemos concluir, então, que a teoria pura do direito não discute a 
legitimidade, ética e moral da lei, mas sim a lei enquanto positiva. 
Mas como contornar essa situação? O Estado de Direito não vai mais se 
basear nas leis, mas sim diretamente na própria Constituição. Com isso, surgiu 
a supremacia constitucional, que consiste na regulação direta das relações 
sociais, fazendo com que o governo das leis passe a se submeter ao governo 
constitucional e, para isso,fez-se necessário a reforma das constituições. 
Estas passaram a ser não mais apenas um documento jurídico, mas sim 
agregando valores – objeto de destaque da teoria jurídica, transformando-se 
em uma imposição, conforme a teoria da moralidade administrativa – que 
começaram a fazer parte da teoria jurífica, os quais eram relegados pela teoria 
positivista. 
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Constitucionalismo contemporâneo 
O constitucionalismo contemporâneo marcou a transição do governo das 
leis para a supremacia constitucional. Ou seja, o Estado Legislativo de Direito 
transformado em Estado Constitucional de Direito. Nesse contexto, as leis 
passaram a ser periféricas, na qual a Constituição assumiu o centro. Contudo, 
as leis não perderam a sua importância, mas agora o governo não pode usar 
das leis para oprimir, pois isso fere a Constituição. 
No constitucionalismo contemporâneo destacam-se três marcos: o 
marco histórico, que foi o aparecimento do Estado Constitucional de direito, pós 
Segunda Guerra Mundial, na qual no Brasil só foi aparecer com a Constituição 
de 1988; o marco filosófico, com o pós-positivismo, o qual promoveu a paz 
entre o positivismo e o jusnaturalismo; e, por fim, o marco teórico, que ocorreu 
o reconhecimento da centralidade da Constituição, decorrente da sua força 
normativa, ou seja, o “leicentrismo” para o “constitucentrismo”. Além disso, 
ocorreu o reconhecimento normativo dos princípios, os quais não eram 
considerados normas no positivismo de Kelsen, entrando estes na fonte do 
direito. A expansão dogmática dos direitos fundamentais, onde as pessoas 
começaram a ter maior proteção, garantindo esses direitos ampliados. O 
crescimento da jurisdição constitucional, passando a trabalhar na validade 
material das leis e não só formal, necessitando a norma agora estar de acordo 
com a Constituição, segundo o Princípio da Constitucionalidade. E, por fim, a 
renovação da interpretação jurídica, onde o intérprete passou a interpretar 
valores e não apenas a boca da lei. 
Patriotismo constitucional 
Busca o reconhecimento de um constitucionalismo intercultural, que 
deve reconhecer a diversidade de culturas e promover a conciliação entre 
todas as práticas culturais, propugnando uma união entre os cidadãos, através 
do respeito aos valores plurais do Estado Democrático de Direito, em face da 
ideia de nacionalismo, que tradicionalmente esteve vinculado a questões 
étnicas e culturais 
Conceito de Direito Constitucional 
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Em tese, é o ramo da ciência do direito que tem por objetivo estudar a 
Constituição. Contudo, este conceito não é inteiramente certo. O Direito 
Constitucional também compreende o estudo das instituições políticas e 
valores sociais e a sociedade. Ou seja, é o ramo do direito que tem por objeto o 
estudo sistematizado, crítico das constituições, das instituições políticas, 
valores sociais e a sociedade, determinando a sua estrutura, organização e 
seus fins, a composição e o funcionamento de seus órgãos superiores, 
disciplinando o modo de aquisição e ascensão ao poder e os limites de sua 
atuação, assim como os direitos e as garantias fundamentais do indivíduo e da 
coletividade. 
Vale lembrar que o conceito de direito constitucional está diretamente 
vinculado à sua origem, que, por sua vez, está ligada ao triungo das revoluções 
liberais do século XVIII, que buscavam um sistema político de limitação do 
poder, mediante a atribuição de funções a diferentes órgãos estatais, acrescido 
de uma declaração de direitos. 
Espécies ou divisão 
Há uma divisão do Direito Constitucional, caracterizando-se por uma 
abordagem meramente metodológica, visto que o Direito Constitucional é um 
só. Divide-se em: 
Positivo: É o conteúdo que se preocupa estudar a Constituição vigente 
em determinado país, ou seja, se preocupa em expor, examinar, interpretar e 
sistematizar os princípios e as regras constitucionais vigentes em um dado 
Estado; 
Comparado: É o Direito Constitucional de uma pluralidade de 
constituições, comparando-as e confrontando-as para apurar as semelhanças 
e diferenças entre elas, ou seja, essas comparações podem seguir os critérios 
de tempo, comparando, por exemplo, duas constituições distintas de um 
mesmo Estado, ou espacial, comparando constituições de Estados diferentes; 
Geral: Usa diferentes constituições para fundamentar um tópico 
específico. Nesse contexto, tem por objetivo a identificação e sistematização 
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dos princípios, conceitos e instituições comuns a diversos ordenamentos 
constitucionais e que se acham presentes em várias Constituições de Estados 
distintos, que revelam características equivalentes ou similares. Com isso, 
reúnem em categorias típicas, conceitos, figuras, princípios jurídicos que, se 
não absolutos e universais, são relativamente constantes e, portanto, gerais, 
comuns a um conjunto mais ou menos vasto de Constituições, como, por 
exemplo, o federalismo. Nesse sentido, o Brasil, Alemanha e EUA são Estados 
federais. Dessa forma, a parte geral não quer ver o que é igual ou diferente 
entre eles, mas visa criar uma teoria uniforme acerca desses Estados, 
examinando os pontos em que eles se aproximam. 
*A diferença entre o comparado e o geral é que este se preocupa 
apenas com notas gerais e comuns, enquanto o primeiro se interessa pelos 
grupos jurídico-constitucionais em sua singularidade e contraste frente a outros 
grupos. 
Relações do Direito Constitucional com outros ramos do direito 
O Direito Constitucional consiste no começo de todo o direito, ou seja, 
todos os outros ramos do direito são gerados e amparados pelo Direito 
Constitucional, que contém o gérmen de suas normas e instituições. Assim, o 
Direito Constitucional desempenha uma função primordial no sistema jurídico 
que é manter a unidade substancial de todo o direito. 
Fonte do Direito Constitucional 
As fontes do Direito Constitucional são divididas em duas categorias: as 
imediatas e as mediatas. 
Fontes imediatas: são as Constituições e os costumes, sendo aquela a 
maior e principal fonte do Direito Constitucional. Contudo, os costumes são de 
suma importância, principalmente para aqueles que adotam uma Constituição 
não escrita, como a Inglaterra, onde os costumes constitucionais representam 
a sua principal característica. Entretanto, também são importantes para as 
Constituições escritas, na medida em que ela pode completar e modificar as 
normas constitucionais. 
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Fontes mediatas: É a jurisprudência e a doutrina. A jurisprudência tem 
contribuído para uma reformulação do Direito Constitucional, causando as 
mutações constitucionais. Já a doutrina tem desenvolvido destacada influência 
na formação do Direito Constitucional, através das obras dos 
constitucionalistas. 
Teoria da Constituição 
Segundo Lassale, todos os Estados possuem e sempre possuíram, em 
todos os momentos da história, uma Constituição material, real e verdadeira. A 
diferença para os tempos modernos é o aparecimento de Constituições 
escritas. Na Idade Antiga, por exemplo, Aristóteles já distinguia as normas que 
organizavam e fixavam os fundamentos do Estado e as normas comuns que 
eram elaboradas e interpretadas em consonância com as primeiras. 
Concepções sobre a Constituição 
Há quatro concepções: sociológica, política, jurídica e cultural. 
Concepção sociológica: A Constituição tem origem na própria 
realidade social. Não é produtoda razão, mas sim do resultado das forças 
sociais, sendo, portanto, reflexo da realidade viva da sociedade. Lassale 
revelou os fundamentos sociológicos da Constituição: os fatores reais do poder 
que regem uma sociedade. Esses valores reais é a força ativa e eficaz, 
caracterizada pela monarquia, aristocracia, grande burguesia, banqueiros, 
classe operária e pequena burguesia. Ou seja, todos esses citados é a soma 
dos fatores reais que regem uma nação. 
Vale lembrar que a Constituição jurídica não pode divorciar-se da 
Constituição real, sob pena de tornar-se ilegítima. Dessa forma, de nada 
servirá o que se escrever numa folha de papel, se não se justifica pelos fatos 
reais e efetivos do poder. 
Concepção política: Carl Schmitt apresenta quatro conceitos de 
Constituição: absoluto, relativo, positivo e ideal. 
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Absoluto: Constituição é entendida como um todo unitário, podendo 
significar o próprio Estado (Constituição como a alma do Estado. Cessando a 
Constituição, cessa o Estado), uma forma de governo (uma maneira especial 
de ordenação política e social, sendo a monarquia, aristocracia ou 
democracia), um princípio dinâmico de sucessão (Estado como algo dinâmico, 
de aglutinação dos interesses contrapostos) e uma regulação legal 
fundamental (Constituição como norma fundamental da vida do Estado, um 
dever-ser). 
Relativo: Constituição compreende uma pluralidade de leis 
constitucionais, distintas quanto ao conteúdo, alcance e valor, e iguais apenas 
na forma. Nesse contexto, tudo o que está na Constituição é constitucional, 
pouco importando o conteúdo e o alcance. Portanto, essas normas não podem 
ser alteradas por leis ordinárias, caracterizando-se pelas Constituições rígidas. 
Positivo: Constituição (decisão política fundamental) entendida como o 
modo e a forma de ser de uma unidade política. Ou seja, deriva de uma 
vontade política já existente. A nação que gera a Constituição e não o inverso, 
seguindo a sistematização “unidade política – vontade política de existir – 
decisão concreta de conjunto sobre o modo e a forma de existir (Constituição). 
Schmitt distingue Constituição de leis constitucionais, onde aquela é um 
documento onde as decisões políticas fundamentais jamais podem ser 
reformadas, uma vez que correspondem à própria substância e essência da 
Constituição. Estas, por outro lado, podem ser reformadas pelo processo de 
reforma constitucional. 
Ideal: Constituição apresenta-se como um documento de conteúdo 
político e social, considerado ideal por corresponder aos postulados políticos 
do momento. É aquela Constituição que fixa soluções consideradas como as 
únicas legítimas. 
Concepção jurídica: Constituição como norma jurídica fundamental de 
organização do Estado e de seus elementos essenciais, dissociada de 
qualquer fundamento sociológico, político ou filosófico. 
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Para Jellinek, a Constituição é um “conjunto de regras jurídicas que 
determinam os órgãos supremos do Estado, fixam o modo de sua criação, suas 
relações mútuas, seu domínio de ação, enfim, o lugar fundamental de cada um 
em relação ao poder estatal”. 
Já Kelsen defende que a Constituição pode ser concebida em dois 
sentidos: lógico-jurídico e jurídico-positiva. O primeiro traz a ideia da norma 
hipotética fundamental, que serve de fundamento lógico transcendental de 
validade da própria Constituição jurídico-positiva. O segundo fala da norma 
positiva suprema, fundamento de validade para todas as outras normas 
positivas. Com isso, a Constituição representa o escalão de direito positivo 
mais elevado. 
Concepção cultural (conexão das concepções anteriores): 
Afirmação do direito, que é produto da atividade humana, como objeto cultural, 
como uma parte da cultura. A cultura, em qualquer momento histórico, constitui 
uma unidade organizada no sentido de que todas as partes da cultura, 
materiais ou espirituais, acham-se em íntima conexão. Por exemplo: se a 
economia influi sobre o direito, este reage sobre a economia. 
O direito é um fato social, uma vez que, por debaixo do ordenamento 
jurídico vigente, existe uma realidade, que o produz inicialmente, que o mantém 
depois, e que o vai reelaborando, no futuro, condicionando-o em todo 
momento. Assim, direito não é só fato social, mas também norma, na medida 
em que procura moldar, determinar e dirigir a sociedade. Portanto, o direito é 
ser (fato) e dever-ser (norma) agindo mutuamente. 
Para a concepção cultural, Constituição é um conjunto de normas 
jurídicas fundamentais, condicionadas pela cultura total, e ao mesmo tempo 
condicionante desta, emanadas da vontade existencial da unidade política, e 
reguladoras da existência, estrutura e fins do Estado e do modo de exercício e 
limites do poder político. Dessa forma, a concepção de Constituição como fato 
cultural é a que melhor desponta na teoria da Constituição, pois resume em si 
todas as concepções. 
Supremacia da Constituição 
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A força normativa da Constituição a coloca no topo do ordenamento 
jurídico, como documento supremo, subordinante. Nesse cenário, todas as 
normas constitucionais das Constituições rígidas têm estrutura e natureza de 
normas jurídicas, ou seja, normas providas de juridicidade. Portanto, todas as 
normas constitucionais são dotadas de imperatividade, as quais assume uma 
supremacia, seja pela conformação formal ou material, em face às demais 
normas do sistema jurídico. A Constituição deve ser entendida por dois 
ângulos: 
Formal: capacidade de impor a todo o sistema jurídico a obrigatoriedade 
da observância de determinadas formalidades e procedimentos. Por exemplo: 
emendas constitucionais só podem ser aprovadas sob a observância desse 
procedimento e formalidade, caso contrário ela será inconstitucional. 
Material: percebe a verdadeira essência da Constituição. O sistema 
jurídico passa a ser parametrizado com os valores da Constituição. 
Para Kelsen, a ordem jurídica é uma construção escalonada de 
diferentes degraus ou camadas de normas jurídicas, onde a Constituição situa-
se em seu ápice, considerada o fundamento supremo da validade de todas as 
normas jurídicas. Daí surge o princípio da constitucionalidade: todos os atos 
normativos dos poderes públicos só são válidos e, consequentemente, 
constitucionais, na medida em que se compatibilizem, formal (modo de 
produção) e materialmente (conteúdo em conformidade com a Lei Magna), com 
o texto supremo. 
Vale lembrar que a supremacia da Constituição só se verifica onde há a 
Constituição rígida. E, ainda, a vinculação da Constituição e de suas normas é 
uma realidade do constitucionalismo contemporâneo, que impõe uma força 
vinculante bilateral da norma, ou seja, vincula tanto os órgãos do poder político, 
como os cidadãos. 
Classificação da Constituição 
1. Quanto ao conteúdo: pode ser Constituição formal ou material. 
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Formal: são aquelas que surgem dos textos elaborados a partir de um 
processo de positivação constituinte, ou seja, as normas são produzidas por 
uma Assembléia Nacional Constituinte. Portanto, o que define a Constituição 
formal não é o seu conteúdo, mas sim a forma pela qual ocorreu a sua 
existência. 
Material: são aquelas cujas disposições limitam-se a tratar de um 
conteúdo material limitado à organização do Estado, dos poderes do Estado e 
dos direitos e garantias fundamentais, pouco importando se provém de uma 
Assembléia Constituinteou não. Portanto, o que define a Constituição material 
é o seu conteúdo, não importando a forma pela qual foi produzida. 
* A não importância desse procedimento é o divisor de águas entre a 
Constituição matéria e formal. 
2. Quanto à forma: escrita e não-escrita. 
Escrita: são aquelas cujas normas estão reunidas e consolidadas em 
um texto formalmente produzido em âmbito constitucional. 
Não-escrita: também possuem textos, mas é caracterizada pela 
prevalência dos costumes constitucionais que coexistem com textos. Por 
exemplo a Inglaterra com a Magna Carta, Bill of Rights, etc. 
3. Quanto à origem: promulgada (democrática), outorgada (não 
democrática), cesarista e pactuada. 
Promulgada: são aquelas democraticamente adotadas em um país. É o 
resultado de uma legítima manifestação constituinte e da livre manifestação do 
povo. As Constituições promulgadas no Brasil foram as de 1891, 1934, 1946 e 
1988. 
Outorgada: são aquelas impostas ao povo sem a sua participação, 
sendo, portanto, autoritariamente organizada. As Constituições outorgadas no 
Brasil foram as de 1824, 1937, 1967 e 1969). 
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Cesarista: são aquelas elaboradas por um ditador sem a participação 
popular. Caracteriza o poder absoluto. Contudo, convoca um plebiscito ou 
referendo para haver uma consulta popular para aprovar o que ele elaborou. 
Entretanto, essa política é uma farsa para forjar o absolutismo do ditador, já 
que no dia do referendo ou plebiscito, há máquinas de guerra pelas ruas. 
Exemplo disso foi na França, no governo de Napoleão, e no Chile. 
Pactuada: são aquelas que nascem através de um contrato 
constitucional entre duas partes. Portanto, é um compromisso político, instável 
(pode a qualquer momento ter reversões), entre duas forças políticas 
antagônicas. Exemplo disso foi na Revolução Francesa, a Constituição de 1791 
caracterizada pela revolta do terceiro Estado contra a monarquia, clero e 
nobreza. 
4. Quanto à consistência/estabilidade: imutáveis, fixas, rígidas, 
flexíveis e semi-rígidas. 
Imutáveis: são aquelas que não podem ser alteradas em nada por 
nenhum poder. Com isso, vão perdendo a sua força normativa, pois não se 
adéqua ao avanço social. A Constituição do Império do Brasil era imutável nos 
quatro primeiro anos. Nesse estilo de Constituição, para fazer uma mudança, 
apenas com uma nova Constituição, revogando a atual. 
Fixas: são aquelas que podem ser alteradas, mas só permite a 
mudança pelo mesmo poder constituinte originário que a elaborou. 
Rígidas: são aquelas que garantem a estabilidade da Constituição e 
abre portas para evoluir mediante a dinâmica social. Portanto, admitem 
alterações em suas disposições, por meio de um poder específico (poder 
derivado) para isso, mediante um processo legislativo de emenda. Esse 
processo é dificultado para garantir a estabilidade do texto, apresentando o 
maior coro do Brasil: 3/5 passando duas vezes por cada casa do Legislativo. 
Vale lembrar que a rigidez pode varias de Estado para Estado, de 
Constituição para Constituição. Por exemplo: a Constituição dos EUA é mais 
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rígida que a do Brasil. É a primeira do mundo e só foi modificada 27 vezes, 
com um coro de 2/3. 
Flexíveis: são aquelas que podem ser alteradas com facilidade. Ou 
seja, uma lei pode alterar as suas disposições. 
Semi-rígidas: são aquelas que consegue, em um único texto, reservar 
parte do texto à rigidez e outra parte podendo ser alterada facilmente. Portanto, 
há uma parcela de rigidez e outra parcela de flexibilidade. 
A Constituição de 1824 era semi-rígida, conforme o art.178, que 
reservava parte da Constituição (direitos e poderes) a um procedimento rígido, 
enquanto outra parte era flexível. 
5. Quanto à extensão: sintética e analítica 
Sintéticas: são aquelas Constituições breves, que se limita a dispor de 
princípios gerais. 
Analíticas: são aquelas Constituições que regulam detalhadamente 
todos os aspectos da vida social. Por exemplo: Brasil. 
6. Quanto ao modo de elaboração: dogmática e histórica 
Dogmáticas: são aquelas Constituições escritas e sistematizadas, 
elaboradas por um órgão constituinte em determinado momento da história, a 
partir de determinados valores que são adotados pela Assembléia Constituinte 
vigentes no momento em que são confeccionadas. São necessariamente 
escritas, para que os valores integrem o texto. Por exemplo: Brasil. 
Históricas: são aquelas que decorrem de um lento e contínuo evoluir 
das tradições de um povo. Não são escritas. Exemplo: Inglaterra. 
7. Quanto à finalidade: garantia e social/dirigente 
Garantia: adaptada após as Revoluções do século XVIII, a Constituição 
Garantia tem por finalidade assegurar as liberdades individuais, limitando o 
exercício arbitrário do poder. Portanto, assegura espaço de autonomia às 
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pessoas que nem o Estado pode intervir. Surgiu logo após as grandes 
revoluções, em um ambiente de Estado liberal, Estado mínimo, onde quanto 
mais afastado da pessoa humana o Estado estiver, melhor. Isso devido ao 
período da época que era o Estado Absolutista, o qual as revoluções da época 
queriam e conseguiram derrubar. 
Entretanto, com a evolução da sociedade e necessidades dos 
indivíduos, foi percebido que esse modelo foi muito bom para aquela época, 
que dotava de um Estado opressor. Contudo, passou-se a perceber a 
necessidade do Estado nas relações individuais e coletivas. A partir disso, 
muda-se o modelo para as Constituições Sociais, organizando um Estado 
diferente. 
Sociais/dirigente: conseqüência do constitucionalismo social do século 
XX, que provocou a mudança do Estado liberal par ao Estado social, as 
Constituições Dirigentes são aquelas responsáveis por promover o bem-estar 
social, dando uma nova face à sociedade. Estabeleceu, assim, uma relação de 
intervenção para assegurar o equilíbrio entre o público e o privado, 
promovendo o bem estar, interferindo na vida, saúde, educação, etc. Portanto, 
o Estado surgiu como peça fundamental para garantir esse equilíbrio, 
passando, então, a ter obrigações positivas, como a de atuar prestando 
serviços públicos visando sempre o bem estar, a partir de políticas públicas. 
*O modelo garantia durou até as duas primeiras décadas do século XX 
em todo o mundo. A partir daí, surgem as Constituições sociais, a qual a 
primeira foi a do México, segunda da Rússia e terceira da Alemanha. Essa 
Constituição alemã teve importância crucial para a primeira Constituição social 
do Brasil, de 1934. 
8. Quanto à ideologia: ortodoxa e eclética. 
Ortodoxa: adota uma única ideologia, não admitindo qualquer outra. É 
típica dos países socialistas. 
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Eclética: é plural, se compatibiliza com todas as ideologias, 
aparentemente contrapostas, garantindo a harmonia entre elas. Constituição 
brasileira é eclética. 
9. Quanto ao ser: normativa, nominal e semântica. 
Normativa: vai ao encontro com o conceito de força normativa. Tem 
valor jurídico e, portanto, suas disposições são normas jurídicas imperativas, 
regulando a realidade social sem insurgir-se dela, isto é, sendo também 
regulada pela realidade social. Dessa forma, abre o ambiente de interatividade 
entre o direito e a política, fazendo com que esta se submeta à observância e 
adaptação dos termos normativos. 
Nominal: não tem valor jurídico e, portanto, suas disposições não têm 
normas jurídicas normativas. Só existem de forma retórica, não conseguindodominar o processo político e sim dominado por ele, não regulando a realidade 
social. 
Semântica: são cartas políticas das quais os governos autoritários se 
servem para governar autoritariamente. Ao invés de ser um instrumento de 
limitação do poder, apresenta-se a serviço do poder, de modo a estabilizar e 
eternizar a intervenção dos dominadores do poder político. É o que Maduro 
está querendo implementar na Venezuela. A Constituição do Estado novo 
(1937) foi semântica, bem como as Constituições da ditadura de 1967 e 1969. 
*Uma Constituição não pode ser instrumento de governo, se não se 
qualifica como semântica. 
A Constituição brasileira de 1988 
A Carta Magna de 1988 é, de maneira resumida, formal, escrita, 
democrática, rígida, analítica, dirigente, dogmática, eclética e normativa. 
Estrutura da Constituição 
As Constituições possuem uma estrutura padrão, que envolvem um 
preâmbulo, uma parte dogmática e uma parte transitória. 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
- Preâmbulo: parte introdutória dos textos constitucionais, que 
prenuncia, de forma resumida, toda a ideologia da Constituição e os seus 
valores prestigiados. Nesse contexto, com o preâmbulo já se tem a ideia da 
Constituição de um determinado Estado. 
Surgiu-se uma dúvida com relação a natureza do preâmbulo, no que diz 
respeito se é norma jurídica ou não. Nesse contexto, surgiram duas correntes, 
uma favorável e outra desfavorável à força normativa do preâmbulo. A corrente 
prevalecente é a desfavorável, título concedido após o julgamento envolvendo 
a Constituição do Estado do Acre, onde o STF firmou sua posição no sentido 
de que o preâmbulo da Constituição não tem força normativa, entretanto pode 
servir como parâmetro para interpretação de todo o texto constitucional. 
- Parte dogmática: reúne, no seu texto permanente, todos os direitos e 
garantias fundamentais da pessoa humana, compreendendo os direitos 
individuais, econômicos, culturais, etc. É a parte mais importante da 
Constituição. 
- Parte transitória (ADCT): é a parte final, que reúne normas 
constitucionais de vigência temporária, visando assegurar a transição jurídica 
de uma Constituição anterior para uma nova Constituição, regulamentando 
algumas situações em caráter temporário. Portanto, enquanto vigerem, são 
normas jurídicas obrigatórias. 
Elementos da Constituição 
São cinco os elementos da Constituição: elementos orgânicos, 
elementos limitativos, elementos sócio-ideológicos, elementos de estabilização 
constitucional e elementos formais de aplicabilidade. Eles servem para indicar 
um conjunto de normas que compartilham o mesmo objeto. 
- Elementos orgânicos: indicam as normas constitucionais da 
organização política e estrutura do Estado, como, por exemplo, as formas de 
Estado, os três poderes, etc. 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
- Elementos limitativos: indicam normas que dispõem dos direitos e 
garantias fundamentais da pessoa humana, contendo o poder absoluto do 
Estado. 
- Elementos sócio-ideológicos: indicam as normas constitucionais que 
revelem o grau de comprometimento do Estado com a sociedade. Ou seja, se 
esse grau de comprometimento for baixo, estamos falando de um Estado 
liberal, onde Estado e sociedade são separados por extremos; por outro lado, 
se esse grau de comprometimento for alto, estamos diante de um Estado 
social, onde não há essa separação, ou seja, Estado e sociedade coexistem. 
- Elementos de estabilização constitucional: indicam as normas 
constitucionais que têm por objeto a defesa da força normativa da Constituição, 
resolução dos conflitos constitucionais (ex: União poder decretar intervenção 
nos estados membros em situação de calamidade pública, ou de atos de 
inconstitucionalidade), ou seja, essas normas têm por objeto assegurar a 
estabilidade do texto. 
 - Elementos formais de aplicabilidade: identificam as normas que 
regulam a forma de aplicação da Constituição, como, por exemplo, o parágrafo 
1º do artigo 5º da Constituição. 
Teoria do Poder Constituinte 
O Poder Constituinte é o poder de organizar um determinado núcleo 
social, dotando-lhe de fundamentos políticos, por meio de uma Constituição. 
Ou seja, é o poder de firmar uma Constituição, responsável por ditá-la, por 
estabelece-la. Dessa forma, o Poder Constituinte inaugura, institui, único capaz 
de organizar as comunidades políticas por meio da Constituição, seja ela 
histórica ou dogmática. É a primeira manifestação de poder político em um 
núcleo social. A expressão maior da vontade de um povo ou grupo destinada a 
estabelecer os fundamentos de organização a sua própria comunidade. É, 
portanto, a manifestação soberana de vontade de uns ou alguns indivíduos 
determinada a gerar um núcleo social. 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
O desejo de criar uma organização em torno de uma associação já é o 
início do poder constituinte. Isso acontece, em uma macroproporção, com as 
constituições. Os outros poderes, seja público ou privado, são poderes 
constituídos a partir do Poder Constituinte. 
A Teoria do Poder Constituinte não surgiu só para estuda-lo, mas, 
primordialmente, para legitimá-lo, pois nem sempre a autoridade emanente do 
Poder Constituinte foi exercido em função das pessoas, mas sim do soberano. 
A teoria dessa autoridade sendo exercida em função das pessoas surgiu na 
modernidade constitucional, formando, assim, o Estado de Direito. Mais 
precisamente com a Revolução das 13 colônias americanas e com a 
Revolução Francesa, que surgiram de bases da legitimação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No Antigo Regime, todo o poder emanava do Rei e este privilegiava o 
Primeiro e o Segundo Estado. Ao Terceiro Estado, o Rei cobrava obrigações e 
deveres, como, por exemplo, o pagamento de tributos, patrocinando toda a 
estrutura do regime (benefícios e privilégios do Primeiro e Segundo Estado), 
sem nenhum benefício. Vale ressaltar que o Primeiro e Segundo Estado 
representavam apenas 3% da população dos franceses. 
Rei (poder absoluto) 
Estados Gerais 
Primeiro Estado (alto 
clero) 
Segundo Estado 
(nobreza) 
Terceiro Estado (burguesia e 
camponeses) 
Antigo Regime (França) 
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O Terceiro Estado estava de olho no que acontecia nos Estados Unidos. 
Surgiu, no Terceiro Estado, a figura de um padre, que não estava no alto clero. 
Este padre, chamado Emmanuel Joseph Sieyès, foi eleito deputado, 
representante do Terceiro Estado. Sieyès era um grande intelectual e passou a 
liderar o Terceiro Estado nas reivindicações deste ao escrever no papel as 
causas da Revolução e panfletou seu texto nas ruas da França, inclusive nos 
interiores, criando a marcha dos camponeses. Teve, portanto, participação 
decisiva para a eclosão da Revolução Francesa, na medida em que o seu 
panfleto representava um manifesto da causa revolucionária, na luta contra o 
absolutismo e privilégios do clero e nobreza. 
O seu texto trazia três indagações: Quem é o Terceiro Estado? O que 
tem sido o Terceiro Estado? O que quer ser o Terceiro Estado? 
Para a primeira indagação, a resposta foi “tudo”, pois o Terceiro Estado 
faz tudo. Portanto, o único capaz de existir como uma nação. Para a segunda 
indagação, a resposta foi “apesar de ser tudo, tem sido nada”, pois não tem 
direitos, vantagens, benefícios ou privilégios, apenas restrições. Para a terceira 
indagação, a resposta foi “como o único capaz de ser uma nação, quer ser uma 
e, para isso, precisa se organizar como uma, por meio do PoderConstituinte”. 
Ou seja, transferi-lo do Rei ao Terceiro Estado, surgindo aí a base da 
legitimação do Poder Constituinte. A legitimação do Poder Constituinte, por sua 
vez, leva a dois pilares: a institucionalização do Poder Constituinte e este leva 
à despersonalização do Poder Constituinte, ou seja, as pessoas passam, a 
instituição fica. 
Em seu manifesto, Sieyès distinguiu três fases na formação da 
sociedade política: 
1. Indivíduos isolados com vontade de se reunir, atribuindo-lhes direito 
de uma nação; 
2. Agora reunidos, deliberam sobre as necessidades comuns e a forma 
de satisfazê-la; 
3. Indicação de representantes para decidirem em nome da sociedade. 
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É nesta terceira fase que Sieyès sustenta a necessidade da 
Constituição. Defende a existência de um poder legítimo, cujo titular seria a 
nação, para a criação da Constituição. 
Poder Constituinte ≠ Teoria do Poder Constituinte 
O Poder Constituinte difere da Teoria do Poder Constituinte. O primeiro 
sempre existiu, uma vez que nunca deixou de haver o ato de uma sociedade 
estabelecendo os fundamentos de sua própria organização. O segundo é a 
teoria da legitimação do poder, surgida a partir do século XVIII. Vale ressaltar 
que essa distinção só é importante para as Constituições rígidas. 
Natureza do Poder Constituinte 
O Poder Constituinte é um poder político/fático ou jurídico/de direito? A 
esse questionamento surgem duas correntes distintas: a do jusnaturalismo e a 
do juspositivismo. 
O Poder Constituinte como um poder político/fático é defendido pela 
corrente juspositivista, a qual defende o Poder Constituinte como poder de fato, 
pos funda em si mesmo e não em Direito pré-existente. Portanto, o Direito é 
uma norma jurídica posta pelo Estado, ou seja, só há Direito quando produzido 
pelo Estado. 
O Poder Constituinte como um poder jurídico/de direito é sustentado 
pela corrente jusnaturalista, que vê o Poder Constituinte como um poder de 
direito, pois é assentado no direito natural que lhe é anterior e superior, ou seja, 
anterior ao próprio Estado que funda. Onde o direito é aquele produzido pelas 
relações humanas. Essa era a posição de Sieyès. 
Enquanto que para os jusnaturalistas as pessoas nascem livres e iguais, 
para o positivismo as pessoas são livres e iguais à medida que o Estado 
garante a liberdade e igualdade. 
Positivismo: antes do Direito há o Estado e antes do Estado a 
Constituição. Antes da Constituição, por sua vez, vem o Poder Constituinte, 
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que antes dele, uma vontade política de organização coletiva. É o sistema 
Poder Constituinte – Constituição – Estado – Direito. 
Jusnaturalismo: o Direito aparece primeiro, fundamentando e 
justificando a presença do Poder Constituinte, vindo depois a Constituição e o 
Estado. 
A corrente positivista é a predominante atualmente, com importantes 
mudanças, reconhecendo, por exemplo, os valores. Nasce aí o pós-
positivismo. Portanto, a natureza do Poder Constituinte é o poder político/fático. 
Titularidade e exercício do Poder Constituinte 
Começou-se a distinguir o titular do poder constituinte do seu exercente. 
O titular é o povo, exclusivamente, na medida em que todo o poder emana do 
povo. Este, por sua vez, terá seus representantes, que serão os exercentes do 
Poder Constituinte. Portanto: 
Titular: povo, exclusivamente 
Exercente: Representantes do povo, que em nome do povo, 
estabelecem a Constituição do Estado por meio da Assembleia Nacional 
Constituinte, os chamados agentes constituintes. Quem integra essa 
Assembleia não são vereadores, deputados ou senadores, mas sim os agentes 
constituintes. Aqueles mencionados integram a Câmara de Vereadores e o 
Congresso Nacional, respectivamente. 
Espécies/divisão do Poder Constituinte 
Existe por uma questão metodológica que tem o Poder Constituinte com 
o poder de elaborar a Constituição e o que tem a competência de reformar a 
Constituição já existente. Portanto, é imprescindível notar que o Poder 
Constituinte é único, indivisível. Se o poder é derivado, não é constituinte, mas 
sim constituído. 
Poder Constituinte Originário: é o poder que estabelece a 
Constituição, não encontrando condições ou limites pré-estabelecidos no 
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Direito. Nesse contexto, aqui não se fala em competência, mas sim em 
potência de elaborar a Constituição. Em regra, ocorre via de guerra, mas pode 
ser pela própria vontade política de romper com a Constituição. É exercido pela 
Assembleia Nacional Constituinte. 
Poder Constituinte Derivado: existe a partir do Poder Constituinte 
Originário e tem por finalidade ou a reforma da Constituição, exercido pelo 
Congresso Nacional, ou a instituição de coletividades, exercido pelas 
Assembleias Legislativas Estaduais. Fala-se, portanto, em uma competência 
constitucional e não uma potência. Pode se subdividir, a depender da forma de 
Estado, em: 
Reformador: existe para alterar a Constituição, sob a justificativa de não 
ter que acionar o Poder Constituinte Originário a todo o memento. Manifesta-
se, atualmente, pelas Emendas Constitucionais, expresso no art. 60 da CF/88. 
É exercido pelo Congresso Nacional. 
Decorrente: competência de elaborar as Constituição Estaduais, 
exercido pelas Assembleias Legislativas Estaduais, que elaboram e emendam 
as Constituições dos estados. Expresso no art. 25 da CF/88. 
 
Poder Constituinte Derivado 
Reformador Decorrente 
Altera a Constituição 
Congresso Nacional 
Elabora e emenda 
Constituições Estaduais 
Assembleia Legislativa 
Estadual

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