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DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL Entramos nos crimes contra a liberdade individual, descrito no Capítulo VI, mas ainda dentro do Título I – Dos crimes contra a pessoa. A liberdade individual é também um bem jurídico protegido por nossa CF, assim como a vida, honra e integridade física. Divide em 4: 1. Liberdade pessoal 2. Inviolabilidade de domicílio 3. Inviolabilidade de correspondência e 4. Inviolabilidade dos segredos. 1 – DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL O art. 5º, caput, da CF, fala do direito à liberdade, sendo crime o ato que prejudica este direito. CONSTRANGIMENTO ILEGAL Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. NÃO FAZER O QUE A LEI PERMITE: A Lei permite eu fumar em locais próprios, andar no parque, passear de bicicleta na rua. Aí, o autor, sob violência, grave ameaça ou outro meio que reduza a resistência, obriga a não fazer estas coisas. A FAZER O QUE A LEI NÃO MANDA: a lei não manda eu cantar em locais públicos, pagar dívidas de jogo, correr em uma maratona, lutar em um campeonato. Aí o autor, sob violência, grave ameaça ou outro meio, obriga a fazer estas coisas. - Considerações gerais: Foi criado no direto romano, mas não se tutelava a liberdade pessoal e sim a perturbação da paz e tranquilidade pública. Mas o direito à liberdade somente veio a virar direito próximo ao século XVIII, pelas ideias iluministas e jusnaturalistas. Após, foi o Direito Germânico que conceituou e inventou o termo constrangimento, sendo que tal termo foi utilizado por quase todas as legislações modernas. No Brasil este crime já foi inserido desde o primeiro Código do Império, (1830). Pode ser considerado um crime subsidiário, pq pode ser utilizado em outros crimes como meio de execução. Extorsão e estupro. - Bem jurídico: É a liberdade do ser humano para agir dentro dos limites legalmente previstos. Art. 5º, inc. II, da CF. Tanto a liberdade psíquica como a física. O objeto material é a pessoa, a qual recai a conduta criminosa. - Sujeito Ativo: Qq. pessoa, crime comum. - Sujeito Passivo: Qq. pessoa tbm, mas desde que dotada de capacidade de autodeterminação. - Tipo Objetivo O núcleo do tipo é o verbo CONSTRANGER. Constranger equivale a coagir alguém a fazer ou deixar de fazer algo. É retirar da pessoa a liberdade de autodeterminação. O crime pode ocorrer de duas formas: 1. Vítima compelida a fazer alguma coisa. Conduta comissiva. Ex: beber cerveja, andar sem sapatos. 2. Vítima compelida a deixar de fazer. Conduta omissiva. Não fumar em local permitido, não correr em parque público. A coação deve ser ilegítima, ou seja, o coator não deve ter o direito de exigir da vítima a realização ou abstenção de determinado comportamento. A ilegitimidade pode ser: • Absoluta: quando o agente não tem direito à ação ou omissão. Ex: obrigar a vítima a cantar uma música, a fumar, a beber, a ir a uma festa. • Relativa: Quando o agente tem direito à ação e omissão, mas a vítima não pode ser compelida a comportar-se da forma por ele visada. Ex: obrigar a vítima a pagar uma dívida para ele, resultante de jogo de azar. NÃO há crime quando o agente constrange a vítima a realizar uma ação ou omissão proibida por Lei. Ex: fumar em local fechado, pois é uma excludente de ilicitude do exercício regular do direito. Deve-se observar, se o comportamento da vítima pode ser exigido por meio de ação judicial, o crime será o de exercício arbitrário das próprias razões. (art. 345). Meios de execução: Crime de forma livre. O tipo descreve três meios de execução: 1. Violência: emprego de força bruta; 2. Grave ameaça: Violência moral. Promessa de realização de mal grave. A diferença do crime de ameaça é que aqui, se busca um comportamento da vítima, e a ameaça é só um meio. Ex: Se vc não me contar tal segredo, eu vou te bater. Já a ameaça, vc somente quer intimidar a vítima. Ex: vou te bater. Bem parecido. 3. Qualquer outro meio que reduza a capacidade de resistência da vítima: Utiliza de outro meio, que não a violência ou grave ameaça, mas reduz a capacidade da vítima. Ex: uso de drogas, hipnose, embriaguez. - Tipo Subjetivo: Dolo direto ou eventual. Vontade livre e consciente de constranger a vítima, mas com um fim específico. Se não tiver o fim, o crime é o meio. Ameaça, lesões. - Consumação e tentativa: Se consuma no momento em que a vítima faz ou deixa de fazer algo. É um crime material e não formal ou de mera conduta. Precisa do resultado para a consumação. Admite-se a tentativa. Ex: A, em vão, diz a B para não frequentar a praça pública, se não vai agredi-lo. (não fazer o que a lei permite). A golpeia B com socos para que cante uma música, no que não é atendido (fazer o que a lei não manda). - Causas de aumento de pena: § 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas. Cumulativamente: Detenção + multa. Em dobro: dobra a pena do crime e da multa. São causas de aumento de pena que dizem respeito à execução do crime. Reunião de mais de três pessoas: então tem que ser 4 pessoas. Aqui só acontece se for esta reunião para cometer um crime. Se for a reunião para cometer vários crimes de constrangimento, aí vai ser 288 cumulado com o 146, na forma do 69. Emprego de armas: basta uma única arma e pode ser qq arma (própria ou imprópria). - Concurso obrigatório: § 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência. O legislador entendeu que a violência é mais grave do que a ameaça ou o outro meio. Então, se usar a violência, vai responder pelo constrangimento em concurso material com o 129, leve, grave ou gravíssimo. - Causas de exclusão do crime: § 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; II - a coação exercida para impedir suicídio. Tem-se este parágrafo para proteger um bem jurídico indisponível, que é a vida. São causas especiais de exclusão da ilicitude. I – Não importa o motivo, pois a vida é uma questão de ordem pública. O médico pode agir sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal. É o caso das testemunhas de Jeová. II – O suicídio não é crime, mas é uma conduta ilícita, pois ataca um bem jurídico indisponível. O constrangimento neste caso é LEGAL. - Ação Penal e procedimentos: É Ação Penal Pública Incondicionada. E o procedimento é do JECRIM, mesmo na forma majorada, a não ser que for somada as penas. Cabe a transação e o Sursis processual. AMEAÇA Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - Somente se procede mediante representação. - Distinções entre Ameaça e Constrangimento Ilegal: Ameaça, deseja atemorizar o sujeito passivo, e o constrangimento tenciona uma conduta positiva ou negativa da vítima. - Considerações gerais: A ameaça não era reconhecida como direito autônomo no direito Romano, e sim como um elemento ou circunstância de outros delitos. Depois no direito Germânico é que começou a se ter uma autonomia no delito de ameaça. No Brasil, o CP do Império veio prevendo o crime de ameaça, mas não como acessório.Daí no CP de 1890 que se definiu o crime de ameaça, dando independência a ele. - Bem jurídico: Liberdade da pessoa humana, no tocante à paz de espírito, ao sossego, à tranquilidade e ao sentimento de segurança. Liberdade psíquica íntima. Bem material é a pessoa. - Sujeito Ativo: Crime comum. Qq. pessoa. Se for funcionário público no exercício de suas funções é abuso de autoridade. Art. 3º da Lei nº 4.898/65. - Sujeito Passivo: Qq. pessoa certa e determinada que compreenda o caráter intimidatório da ameaça. Pode contra uma classe de pessoas, daí responde em concurso formal. Não pede contra a coletividade – mundo. Não pode pessoa jurídica. Crime impossível se for incapaz – art. 17. Se for Presidente, Senador, Deputado ou STF é pela Lei de Segurança Nacional – Art. 28 Lei nº 7.170/83. - Tipo Objetivo: Núcleo do tipo é ameaçar. Ameaçar significa intimidar, amedrontar, mediante a promessa de causar-lhe mal injusto e grave. Não é qq. mal e sim o injusto e grave, que são as elementares do tipo. Cumulativas. Injusto: É o que a vítima não está obrigada a suportar, podendo ser ilícito ou imoral. Ex: vou te sequestrar. Ninguém tem o direito de sequestrar alguém. Vou te matar, vou te trair. Agora, se eu falar que vou demitir alguém por justa causa, aí não é injusto, pq é direito do empregador demitir. Outros ex: protestar título, despejar. São justos. Grave: É o capaz de produzir ao ofendido um prejuízo relevante. Pode ser de ordem econômica, física ou moral. Tal ato injusto deve ser grave. Vou te puxar a orelha, é um mal injusto, mas não é grave. A ameaça deve ser capaz de causar medo na vítima. Tem que ter credibilidade e não pode ser brincadeira. Tem que ver também as condições pessoais da vítima. Se eu falar que vou bater em um lutador de boxe, não é ameaça. Também não é ameaça mandar ir para o inferno ou que o raio caia em sua cabeça. Coisas que são impossíveis de se realizar por vontade do autor do crime. Crime de forma livre. Escrito, oral, gesto. O art. Fala palavra, escrito, gestou, ou qq meio simbólico. Não precisa estar na presença da vítima, basta chegar ao seu conhecimento. Espécies de ameaça: - Direta ou imediata: dirigida à própria vítima. - Indireta ou mediata: Dirigida a um terceiro, mas vinculada à vítima. Ex: falar pra B que irá agredir C. - Tipo Subjetivo: Dolo, vontade de ameaçar. Não precisa ter a vontade de causar o dano, somente de ameaçar. Não precisa ser em um estado de ânimo e refletido, pois a emoção e a paixão não excluem o crime – art. 28, I. Se estiver bêbado, tbm é crime. - Consumação e tentativa: É crime formal, e se consuma quando a vítima toma conhecimento da ameaça. Basta a intimidação. Tem tentativa no caso de escritos e não chega ao conhecimento. Mas não ocorre pq é Pública condicionada. - Ação Penal e Procedimentos. O Parágrafo único fala que é Pública condicionada. O procedimento é JECRIM. SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado: Pena - reclusão, de um a três anos. § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital; III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias. IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; V – se o crime é praticado com fins libidinosos. § 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral: Pena - reclusão, de dois a oito anos. - Considerações Gerais: Sequestro: é uma privação sem confinamento (ex. fica privado em um sitio). Cárcere Privado: privação com confinamento (ex. fica privado em um cômodo). - Bem jurídico: Liberdade de locomoção. Direito de ir, vir e permanecer de todas as pessoas. Art. 5º, caput, CF. Bem disponível, pois se não, os diretores do BBB seriam presos, de sado masoquista, candidatos em sala de concurso e vestibular. Mas é relativo, não pode a vítima autorizar a ficar preso pra sempre. Cabe HC se for uma autoridade. Art. 5º, LXVIII, CF. Objeto material é a pessoa humana. - Sujeito Ativo: Crime comum. Se for funcionário público é abuso de poder. Arts. 3 e 4 da Lei nº 4.898/65 e cabe HC. - Sujeito Passivo: Qq. pessoa. Se for presidente, senador, deputado ou STF é crime contra a Segurança Nacional – Lei nº 7.170/83. O consentimento da vítima é válido e exclui o crime. Se for mulher, tbm considera-se violência psicológica – art. 7º, da Lei nº 11.340/06. - Tipo Objetivo: Núcleo do tipo é privar. Privar significa tolher, total ou parcialmente, a liberdade de locomoção de alguém. Elementar: Sequestro e cárcere privado. Sequestro: é uma privação sem confinamento (ex. fica privado em um sitio). Cárcere Privado: privação com confinamento (ex. fica privado em um cômodo). Pode ser por ação e omissão (dever de garante do pai que vê seu filho preso no quarto e não faz nada). Pode também por detenção (levar a vítima a um cativeiro), ou retenção (impedir a saída da residência). Crime de forma livre, pode ser praticado também com violência ou grave ameaça. - Tipo Subjetivo: É o dolo, mas de privar a liberdade sem fim específico. Se for com o fim de vantagem econômica é extorsão mediante sequestro. Neste caso, a privação é elementar do tipo e não o sequestro e cárcere privado. Retenção de paciente em hospital para garantir o pagamento de honorários médicos é 345, exercício arbitrário das próprias razões. - Consumação e tentativa: Consumação: o crime se consuma com a privação da liberdade da vitima, é crime permanente, enquanto não libertada a consumação se protrai e pode-se prender em flagrante. O tempo da privação interfere na consumação? Tempo mais ou menos longo da privação não interfere na consumação, mas pode interferir no quantum da pena (prevalece). Tentativa: é perfeitamente possível a tentativa no crime de sequestro ou cárcere privado. - Qualificadoras: §§ 1º e 2º. Tais parágrafos elencam diversas qualificadoras, relacionadas à condição da vítima, ao meio de execução, ao tempo de duração, a finalidade do agente a ao resultado. No caput, cabe Sursis processual. Aqui não. § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; Âmbito de relações familiares tem maior reprovação. Não se aplicam as agravantes do art. 61. No bis in idem. Esse rol é taxativo. Sendo que o irmão não esta nas hipóteses dessa qualificadora. Tbm não abrange os parentescos por afinidade. E se iniciado o crime, a vítima tem 59 anos. Passados dois dias ele faz 60, e só é pego dois dias após o aniversário? Neste caso incide a qualificadora, pois é crime permanente, e o agente vai cometendo o crime até parar ou até ser pego. II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital; Internação fraudulenta. Emprego de fraude. Protege a vítima de tomar remédicos ou drogas para criar suposta debilidade física e mental. III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias. Só a privação já caracteriza o crime de forma simples. Aqui quis proteger a vítima, que a cada dia que passa, sofre mais. Se é menos, é simples. Mais de 15 dias, é 16 dias. Regra do art. 10, começa a contar o dia do fato. Prazo penal e não processual. IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; Menor de18 anos e impede a agravante genérica do 61. Pessoas mais vulneráveis. V – se o crime é praticado com fins libidinosos. Com fins sexuais. Se só prender é este crime e se prender e ter o ato sexual, é em concurso material com estupro. Antes este crime era o Rapto, art. 219 ou 220, mas foram revogado por este diploma. § 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral: Pena - reclusão, de dois a oito anos. Chamada de qualificadora por resultado. Maus-tratos consistem na conduta agressiva do agente que ofende a moral, o corpo ou a saúde da vítima, se produzir lesão corporal. Ex: privar de refeições e sono. Se tiver lesão corporal, aí não é aqui e sim em concurso material com os dois crimes. Pode todas as lesões. Se for em local que cause sofrimento físico ou moral é aqui. Ex: local frio e úmido. Não confundir com tortura. Tortura o prazer é em torturar. Aqui o prazer é me privar a liberdade. - Ação Penal e Procedimento. Penal Pública Incondicionada. Procedimento comum do CPP, mas no caput admite- se o Sursis processual.
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