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ADOLESCENCIA E SUJEITO PSICANALISE

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48
ARTIGO ORIGINAL
Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 48-55, abr/jun 2014
RESUMO
Objetivo: Apresentar brevemente a adolescência como ela é entendida na psicanálise, supondo que o adolescente está inserido 
numa sociedade que tem a juventude como ideal, contudo, não leva em conta a difi culdade deste nessa passagem assinalada 
por Freud e Lacan, como complexa, com a elaboração do luto dos pais da infância, do corpo infantil e o real do sexo. Métodos: 
Revisão de literatura, com pesquisa de autores clássicos da área da psicanálise como Freud e Lacan e outros contemporâneos.
Resultados: Valorização da adolescência pela mídia e falta de modelos e exemplos adultos podem difi cultar ainda mais a 
passagem por esta fase da vida. Conclusão: Na psicanálise, é pela palavra que a verdade do sujeito emerge para além do 
discurso. O que determina as escolhas do adolescente naquele momento passa por diversos conceitos que nos interessam 
e nos dão pistas para pensar a adolescência.
PALAVRAS-CHAVE
Adolescente, teoria psicanalítica, sociedades.
ABSTRACT
Objective: This paper presents a brief overview of adolescence as understood in psychoanalysis, assuming that these 
youngsters are surrounded by a society that has the youth as its ideal, while failing to appreciate the diffi culties they face 
at this stage in their lives, characterized by Freud and Lacan as a complex period, mourning the parents of their childhood 
and the child's body while coping with the reality of sex. Methods: This review of the literature surveys some classic 
psychoanalytic authors, such as Freud, Lacan and other contemporaries. Results: The high value placed on adolescence 
by the media and the lack of adult models and examples can make this period even more confusing. Conclusion: In 
psychoanalysis, the subject’s truth emerges through words and extends beyond discourse. Adolescent choices during this 
stage are steered by many concepts of interest that offer clues for thinking about adolescence.
KEY WORDS
Adolescent, psychoanalytic theory, societies.
Adolescência como tempo do sujeito
na psicanálise
Adolescence as the subject time in psychoanalysis
>
Valéria Sampaio 
Ferrão1
Maria Cristina Poli2
Valéria Sampaio Ferrão (valeriaferrao@yahoo.com.br) - Universidade Veiga de Almeida / Campus Tijuca. Rua Ibituruna, 108.
Tijuca - Rio de Janeiro, RJ, Brasil. CEP: 20271-901. 
Recebido em 10/09/2013 – Aprovado em 27/04/2014
1Mestre em Psicanálise, Saúde e Sociedade da Universidade Veiga de Almeida (UVA). Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Psicóloga Clínica, pós-
graduada na Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ). Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2Psicanalista, doutora em Psicologia pela Université Paris 13. Paris, França. Professora do Mestrado Profi ssional em Psicanálise, Saúde 
e Sociedade da Universidade Veiga de Almeida (UVA), Rio de Janeiro, RJ, Brasil e do Programa de Pós-Graduação (PPG) em Teoria 
Psicanalítica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Pesquisadora do Conselho Nacional de 
Desenvolvimento Científi co e Tecnológico (CNPq). Jovem Cientista do Estado/ Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do 
Estado do Rio de Janeiero,(FAPERJ). Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
>
>
>
49Ferrão e Poli ADOLESCÊNCIA COMO TEMPO 
DO SUJEITO NA PSICANÁLISE
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 48-55, abr/jun 2014Adolescência & Saúde
um Ideal de Eu. Assim, a projeção de um ideal é 
substituta do narcisismo de sua infância, no qual 
era ele mesmo seu próprio ideal.
1. Adolescência como tempo do sujeito 
Devemos pensar, então, num processo que 
consiste na mudança de meta da pulsão como 
possibilidade de afastamento da pulsão de in-
vestimento sexual para um ponto distante desse 
e que a satisfaça, mesmo que parcialmente. A 
formação de ideal eleva o nível das exigências 
do Eu, favorecendo o recalque, gerador de neu-
rose. Para Freud5, a sublimação é o que possi-
bilita a diminuição do confl ito, e a tensão será 
menor ou maior pela capacidade de sublimação 
de suas pulsões libidinais primitivas, sendo uma 
saída para cumprir essas exigências sem envol-
ver o recalque, parte da avaliação que o Eu faz 
de si mesmo e rechaça.
Freud 6, em seu texto “Romances Familia-
res”, relata-nos sobre como é dolorosa a passa-
gem da adolescência e da grande importância 
do desligamento dos pais. E escreve que só os 
que conseguem passar por esse processo po-
dem seguir, pela necessidade do confronto do 
ideal que tinha deles e da realidade, em busca 
de outros modelos e formar novos conhecimen-
tos independentes das crenças de seus pais. Para 
ele, a partir do desligamento das fi guras paren-
tais é que será possível ao adolescente a aqui-
sição de conhecimentos e posições diferentes 
diante da vida. Ele nos encaminha a perceber 
que, após esse afastamento, haverá um período 
de “retifi cação da vida real” através de fantasias 
que têm objetivos eróticos e ambiciosos, geral-
mente o primeiro oculto sob o segundo. São 
fantasias como as de que seus pais não são seus 
verdadeiros pais e que estes talvez sejam mais 
poderosos e interessantes, enfatizando qualida-
des que provavelmente advêm daquelas atribuí-
das aos pais no primeiro momento, na infância, 
e que deixaram saudades, não se desfazendo, 
portanto, delas. Fantasias servem para lidar com 
a perda dos pais idealizados e com o novo, o 
encontro com a agressividade sexual.
INTRODUÇÃO
Pretendemos analisar, neste artigo, a im-
portância da psicanálise no contexto sobre o 
tema da adolescência e suas escolhas. Como psi-
cólogos, percebemos que a adolescência ocupa 
um lugar de ideal na sociedade atual, marca de 
uma sociedade narcisista, mas, quando volta-
mos a atenção para outro lado que não as vanta-
gens da juventude, reconhecemos a difi culdade 
desse momento crítico do sujeito.
Geralmente o que nos é revelado quando 
um adolescente chega ao consultório é a queixa 
de seus pais de questionamentos incessantes e 
a impressão de que o adolescente em questão 
está sempre testando os limites que lhe são im-
postos. E o que sabemos, segundo autores que 
estudam o tema, como Jean-Jacques Rassial 1 e 
Philippe Julien 2, é que essa posição rebelde é 
bastante saudável nessa passagem.
Os autores Aberastury e Nobel 3 falam dessa 
rebeldia como sendo o trabalho psíquico do su-
jeito adolescente para elaboração do luto diante 
das perdas dos pais da infância e do corpo in-
fantil. Essa questão do corpo é profundamente 
discutida no narcisismo conforme a teoria freu-
diana, especifi camente no eixo do Eu Ideal e do 
Ideal do Eu, que é a constituição do Eu na psica-
nálise. Lacan 4, ao propor o Estádio do Espelho, 
verá essa construção teórica de Freud como in-
dicação do Eu Ideal, como sendo predominante 
imaginário e o Ideal do Eu, simbólico.
Ao relermos “Introdução ao narcisismo” 5, 
entendemos o que levou o autor a esse pensa-
mento. Na teoria freudiana, o conceito de Nar-
cisismo fala sobre a constituição do Eu, que se 
dá inicialmente por um amor a si mesmo des-
frutado na infância e que se dirige para um Eu 
Ideal que ainda é perfeito e completo e não quer 
abrir mão dessa perfeição de sua infância. Pela 
impossibilidade de manter-se nesse estado, pela 
entrada na cultura e o poder de ajuizar, o sujei-
to irá entrar em confl ito com essa imagem de 
si mesmo e a saída possível será uma tentativa 
de superar essa impossibilidade na forma de 
>
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DO SUJEITO NA PSICANÁLISE
Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 48-55, abr/jun 2014
2. Declínio social da função paterna
Estudamos Lacan para sabermos o que 
ele fala do declínio social da função paterna. 
A função paterna é estruturante e, através da 
visão de Lacan, é hoje entendida como uma 
função simbólica do pai comoum exercício de 
nomeação independente da presença do pai 
na família. Julien2, no texto “Os paradoxos da 
transmissão”, nos descreve o que seria a fun-
ção paterna. Ele coloca dois momentos para a 
instauração do lugar do pai como primordiais 
para que o adolescente abandone os pais idea-
lizados de sua infância e siga para fazer novas 
alianças de acordo com a lei do desejo. Ele re-
lata, num primeiro momento, a angústia do 
bebê que depende da mãe para se alimentar, 
se sentir seguro e sentir o prazer do carinho e 
dos cuidados que a mãe lhe passa. A angústia 
de não saber o que ele signifi ca no desejo dela, 
o enigma do desejo do Outro.
Alberti 7 nos ajuda a entender o conceito de 
Outro criado por Lacan, privilegiando a questão 
da alteridade que esta presença estabelece com 
a noção de eu dissociado do outro, quando a 
mãe aparece e some e não volta sempre que o 
neném pede. Alberti menciona o conceito de 
Édipo criado por Freud em que relata que essa 
primeira relação com a fi gura que cuida e nutre 
servirá de instância privilegiada, comparativa-
mente às outras relações que terá ao longo da 
vida, a qual o sujeito se voltará sempre numa 
tentativa de apaziguamento do desamparo fun-
damental que nos constitui. Julien2 nos fala da 
passagem da angústia do enigma do desejo do 
Outro para a angústia de ser tudo ou nada para 
a mãe, e que ela responde com sua posição 
desejante, e não é ele o objeto de desejo, é o 
pai. Ela transmite ser um terceiro quem ocupa 
o lugar para onde aponta o seu desejo. O lugar 
da paternidade é a mulher que transmite. Julien 
segue, então, com outra questão do fi lho, se a 
mãe não é “toda”, ele pode ser para ela a sig-
nifi cação do seu desejo em troca do amor dele. 
O que faz para a mãe ter desejo voltado para 
um outro, se seguirá como questão. O que esse 
homem que ocupa o lugar do desejo da mãe 
tem, será a questão. Será instaurado o pai idea-
lizado, uma missão difícil de cumprir. Ser como 
esse homem idealizado acarretará, segundo Ju-
lien, o apelo a uma autoridade paterna. E isso 
acontecerá também com o adolescente quan-
do estiver na difícil passagem da adolescência, 
com a obrigação de ter um futuro trabalho ou 
o medo de fi car desempregado e o perigo de 
fi car sozinho e desamparado se os projetos não 
derem certo. Em algum momento deste proces-
so, ele procurará uma fi gura nesse lugar, o lugar 
de autoridade incontestável para se amparar. 
Julien acredita que, na nossa sociedade, poderia 
ser um professor ou um político para dizer-lhe 
o que fazer, mas, infelizmente, em sua maioria, 
ele percebe que estes estão com o discurso pa-
dronizado, estando, portanto, despreparados 
para exercer a função de mestre. É muito ruim, 
diz Julien, quando o momento da necessidade 
dos adolescentes chega e os modelos que esta-
riam ocupando esse lugar não estão exercendo 
sua função de mestre e o que sobra para lidar 
com o desamparo que isso acarreta são: a vio-
lência, as drogas ou o suicídio como um último 
apelo de uma autoridade à imagem de um Pai 
Ideal. Julien diz que este pai ideal está na teoria 
de Freud como o fundador da Lei em três mitos: 
Laios, o pai de Édipo, Urvater, o possuidor de 
todas as mulheres, em Totem e Tabu e Moisés, 
fundador de uma nova religião. Para Julien, o 
pai idealizado é necessário e atual, pois a de-
manda por esse pai ideal é presente na violência 
dos jovens, nas revoltas étnicas e na adesão dos 
jovens a seitas. O importante é que esse lugar 
seja ocupado pelo homem que aponta onde 
está o desejo da mãe enquanto mulher, para 
que o jovem possa a ele recorrer, vê-lo falhar e 
elaborar o luto do Pai ideal.
E, para que esse luto seja possível, esse ho-
mem não pode encarnar a lei que responde a 
demanda do fi lho, para que ele não fi que numa 
identifi cação que o torne impotente. O pai pre-
cisa perder o fi lho, como indica Freud citado por 
Julien2 num sonho que relata:
51Ferrão e Poli ADOLESCÊNCIA COMO TEMPO 
DO SUJEITO NA PSICANÁLISE
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 48-55, abr/jun 2014Adolescência & Saúde
Um pai velou dia e noite, durante muito tempo, jun-
to ao leito do fi lho doente. Após a morte do fi lho, ele 
vai repousar num quarto ao lado, mas deixa a porta 
aberta, a fi m de poder, de seu quarto, olhar aquele 
onde o cadáver do fi lho jaz no caixão, cercado de 
grandes velas. Um ancião foi encarregado da vigília 
mortuária, está sentado junto do cadáver e murmu-
ra preces. Após algumas horas de sono, o pai sonha 
que o fi lho está junto de seu leito, pega-lhe o braço 
e murmura num tom cheio de reprovação: “Não vês 
que estou queimando?”. Ele desperta, percebe uma 
luz viva vindo do quarto mortuário, lá se precipita, 
encontra o velho adormecido: a mortalha e um bra-
ço do pequeno cadáver foram queimados por uma 
vela que lhes caiu em cima. 
(Sigmund Freud, op. cit., p.433)
Julien afi rma que esse sonho relatado por 
Freud, de um pai que acaba de perder um fi lho 
e sonha com o menino lhe questionando sobre 
a sua falha em salvá-lo, pode ser interpretado 
do ponto de vista de que o pai precisa se posi-
cionar num lugar que não é o da culpa, de que 
não pode tudo, e permitir se mostrar como um 
homem falível, humano, que não pode ver tudo, 
saber tudo e salvar o fi lho de todo o mal. Segun-
do Julien2, se esse pai fi ca na posição encarnada 
do Pai Ideal, que seu fi lho almeja por se sentir 
impotente, a identifi cação com o grande mes-
tre que sabe tudo sobre a vida do fi lho, fazendo 
o fi lho acreditar em uma imagem indestrutível 
do pai, o fi lho não conseguiria sair da posição 
dependente em que se encontra. O pai real que 
Julien descreve é aquele que coloca um limite 
quando o fi lho pede que ele encarne o gran-
de mestre, o que desperta uma fantasia no fi lho 
que faz com que ele projete no pai a fi gura de 
um Pai Ideal, mas, ao mesmo tempo, o pai, co-
locando essa barreira, indica uma falta, um im-
possível de saber que levará o fi lho a viver o luto 
desse Pai Ideal, e, posteriormente, abandonar os 
pais e, de acordo com a lei do desejo, viver sua 
própria vida, suas alianças e escolhas.
Alberti7 coloca que é preciso um pai para 
ser um mediador entre o desejo da mãe e do 
fi lho, para que o próprio desejo da mãe - de que 
o fi lho tenha sucesso na passagem da adoles-
cência - aconteça. E diz, ainda, que o Nome-do-
-Pai, ao barrar o desejo da mãe, indica ao fi lho 
que ele deve buscar fora do núcleo familiar as 
suas realizações, como está presente também na 
teoria freudiana da elaboração do Édipo.
Sonia Alberti7 ainda explica que o fi nal da 
infância de um sujeito é indicado pela incorpo-
ração do Outro da infância, que são os signifi -
cantes que vêm da mãe. Os pais idealizados não 
são mais necessários. Pela incorporação deles, 
o adolescente já pode lidar com as suas falhas 
e pode se separar deles após o luto. O Outro 
incorporado será a herança que servirá como 
norteador dos seus próprios desejos. O Outro 
incorporado é a consequência da entrada do 
Nome-do-Pai barrando o desejo da mãe. O 
Nome-do-Pai é o que permite a separação do 
desejo da mãe e possibilita a saída da alienação.
Quinet 8 escreve que o sujeito, sendo deter-
minado inicialmente pelos signifi cantes que se 
encontram nesse lugar psíquico que é o Outro, 
tesouro dos signifi cantes, não tem identidade 
própria, ele está alienado nessa representação do 
sujeito que não é fi xa, o sujeito não “é”, ele é re-
presentado por um signifi cante para outro signi-
fi cante, ele é um furo no conjunto de linguagem, 
deslizando nas cadeias signifi cantes (S/$→S’).
A mãe encarna esse Outro a quem, ao nascer, 
a criança se sujeitará. Após a separação, a criança 
poderá ser sujeito. O Nome-do-Pai é o que per-
mite a separação do desejo da mãe. A criança sai 
da posição de objeto de desejo da mãe, e essa 
interdição possibilitará, também,à mãe mudar de 
posição para não “engolir” essa criança. Podemos 
pensar mais sobre essa função na sociedade atual, 
sendo que o Nome-do-Pai confi rma o signifi can-
te Pai que é instituído pela mãe.
A partir do estudo dos conceitos psicanalí-
ticos, como o Narcisismo e o Édipo da teoria de 
Freud e Alienação e Separação de Lacan, é que 
podemos chegar a uma abordagem melhor de 
como trabalhar com o sujeito adolescente numa 
pesquisa bibliográfi ca inserida no campo discur-
sivo da psicanálise. Freud9, no texto “O mal-estar 
52 Ferrão e PoliADOLESCÊNCIA COMO TEMPO 
DO SUJEITO NA PSICANÁLISE
Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 48-55, abr/jun 2014
na civilização”, escreve sobre o desamparo. Como 
estamos falando do mal-estar do adolescente, 
essa leitura jamais ultrapassada nos dá uma boa 
ideia sobre como se sentem os adolescentes e por 
que é comum que se juntem em grupos.
Podemos ver na literatura psicanalítica a 
importância dos grupos e da cultura para os 
adolescentes. No livro “A fratria órfã”, a psicana-
lista Maria Rita Kehl10 refl ete sobre a juventude 
atual, dizendo que, na década de 20, o que se 
valorizava era a idade adulta, sendo comum um 
homem jovem ostentar bigode e roupas escuras 
para aparentar respeitabilidade e seriedade, o 
ideal de sucesso da época, o contrário de hoje, 
em que a juventude é valorizada como ideal de 
sucesso. A autora nos lembra de que, naque-
la época, o que era jovem era relegado como 
sem valor, sem credibilidade. E, ainda, associa 
os anos entre as décadas de 70 e 80 como uma 
época de enaltecimento do ideal da juventude. 
Ser jovem virou slogan usado pela publicidade 
como “o melhor”, “o sucesso”.
Na verdade, adolescentes são bons consu-
midores, sem freio pela característica própria da 
juventude, diferente da desconfi ança e prudên-
cia geralmente mais frequentes nos mais “ve-
lhos”. Ainda, de acordo com Kehl, quanto mais 
tempo nos sentirmos jovens, melhor para esse 
mercado produzir descartáveis. Ela refl ete sobre 
o mal-estar que isso pode ser gerado nos adul-
tos, porque há o efeito do tempo em relação às 
experiências, surtindo mudanças na maneira de 
enxergar a vida. O atraente da juventude seria a 
confi ança, a coragem, a despreocupação com as 
consequências e a falta de pudores na tentativa 
de obter prazer, pela disponibilidade, pela es-
perança e pelos anseios do sujeito adolescente. 
Kehl demonstra que isso tem um preço e apare-
cerá, portanto, em outros aspectos da vida do 
sujeito pelos efeitos da alienação de quem não 
consegue passar pela adolescência.
Ficando vazio o lado do adulto, o adoles-
cente segue desamparado ao se perceber num 
mundo em que ele dita as regras, sem que haja 
o confl ito necessário entre ele e seus pais e pro-
fessores. Esses últimos, por sua vez, deveriam 
dar uma referência do que seriam as regras im-
postas, além de suas ideias e sentimentos.
Sem esse referencial, ocorre a ausência ou 
omissão do grande Outro, deixando uma brecha 
para os adolescentes serem cooptados por Esta-
dos totalitários ou Instituições, como a Igreja e 
o Exército, por exemplo. Kehl acredita que esse 
esvaziamento da experiência tira o sentido da 
vida, pela falta de alteridade. Ela nos convida a 
refl etir sobre o paradoxo da depressão de uma 
cultura que tem a juventude como ideal, apoiada 
em sensações efêmeras e de prazer, onde se cava 
um buraco cada vez maior pela falta de sentido.
3. O termo adolescência e o reconhecimento dessa 
passagem pela cultura 
A sexualidade eclode na adolescência dian-
te da mudança do corpo e se faz presente na 
mudança de posição diante dos pais. Nominé 11 
aborda no texto “Adolescência ou a queda do 
anjo”, que há um real do sexo que se impõe, 
sobrepondo-se à autoridade dos pais, daí o des-
ligamento e o confronto como referência de que 
o sujeito está nesse processo. Em outros tempos, 
a criança convivia com os adultos sem distinção. 
No século XVII é que houve o reconhecimen-
to da infância e suas peculiaridades. Philippe 
Ariès 12, em seus estudos sobre a história das 
mentalidades através das classes dominadas, 
nos demonstra que antes do século XVII não ha-
via o reconhecimento da peculiaridade infantil 
com características próprias que deveriam ser 
cuidadas. Inicialmente, a criança era reconhe-
cida como um anjo, pura, ingênua e angelical, 
características ressaltadas nas pinturas dessa 
época. Depois, com o surgimento das escolas, 
que tinham como meta principal a noção de 
proteção, a criança deveria ser protegida.
No seu trabalho a “História social da 
criança e da família no Ocidente”12, Ariès de-
monstra que o surgimento de um discurso 
sobre a infância está vinculado à emergência 
da percepção da especifi cidade do infantil na 
modernidade. Adolescência, naquela épo-
53Ferrão e Poli ADOLESCÊNCIA COMO TEMPO 
DO SUJEITO NA PSICANÁLISE
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 48-55, abr/jun 2014Adolescência & Saúde
ca, ainda não era distinguida da vida adulta 
como foi a infância. Somente acontecerá essa 
distinção por volta dos séculos XVIII e XIX.
Já no século XX esse tema é privilegiado, está no 
foco da atenção voltada para o contato com o 
novo, a mudança. Ser jovem, na nossa cultura, 
passa a ser um valor, um ideal.
Freud, no século XIX, choca a sociedade 
ao desvelar que a sexualidade é sempre infantil. 
Através da psicanálise, entendemos a constitui-
ção do sujeito apresentando uma sexualidade 
que culmina no Complexo de Édipo, conceito 
de Freud que diz da nossa sensação de desam-
paro ao nascermos e que nos acompanhará ao 
longo de toda a nossa vida. O neném chora e é 
atendido, o que transforma o choro em deman-
da. É a procura do amor do outro que aplacará 
a sensação de desamparo.
Podemos ver a questão da linguagem em 
Édipo, clássica tragédia de Sófocles. Para Freud, 
o que se passa com Édipo, matar o pai sem saber 
que era seu pai e desposar uma mulher sem sa-
ber que era sua mãe, situa-se no nível do incons-
ciente, do desejo inconsciente de matar o pai 
e unir-se à mãe. O inconsciente constituído por 
dois desejos criminosos, o parricídio e o incesto. 
Por isso Freud usa esse mito para mostrar o 
que se passa no Complexo de Édipo, o desejo in-
consciente de matar o pai e unir-se à mãe. Mas, 
para Lacan, é a instalação da lei que interdita a 
mãe para o sujeito, que constitui efetivamente o 
Complexo de Édipo. 
Durante toda a vida, o Complexo de Édi-
po terá muito a resolver. O que nos é útil saber, 
pois, o excesso da presença edípica atrapalhará 
os relacionamentos e difi cultará escolhas. Pode-
mos, assim, observar melhor o que a psicanálise 
diz do sujeito no tempo da infância e adolescên-
cia, nosso foco.
4. Infância e adolescência na visão da psicanálise
Um importante homem teve destaque na 
educação francesa por sua formação e contri-
buição: Henri Wallon. Ele tinha formação va-
riada e exercia papel de grande importância 
como fi lósofo, médico, psicólogo e político na 
França. Durante o período em que se dedicou à 
psicologia infantil, Wallon 13 elaborou um expe-
rimento demonstrando que a criança dos 6 aos 
18 meses, aos poucos, diferencia a imagem do 
espelho e do seu corpo, mostrando a passagem 
do especular para o imaginário e do imaginário 
para o simbólico.
Em 1936, Lacan4 desenvolve uma teoria 
sobre o momento em que a criança se reconhe-
ce no espelho com a afi rmação de uma pessoa 
que fala que a imagem é dela. A imagem lhe 
dá a ilusão de completude, embora antecipató-
ria, segundo suas condições motoras ainda sem 
controle e sem a capacidade de verbalizar que a 
imagem é um eu. Mas esse texto não fi ca regis-
trado na Conferência que estava participando na 
Sociedade Psicanalítica de Paris. No mesmo ano 
faz uma releitura no Congresso Internacional de 
Psychoanalytical Association (IPA) deMarienbad. 
Wallon pediu a Lacan, em 1938, que escrevesse 
um artigo a respeito do imaginário na estrutu-
ração do sujeito. Depois disso, em 1949, Lacan4 
apresenta o texto “O estádio do espelho como 
formador da função do eu tal como nos é reve-
lada na experiência psicanalítica”, no XVI Con-
gresso Internacional de Psicanálise, em Zurique. 
O eu no título está se referindo ao eu do incons-
ciente. Ele apresenta a formação do eu ligada ao 
momento de antecipação jubilatória diante da 
imagem do espelho. A formação se dá, segundo 
Lacan, nos encontros da criança com a imagem, 
matriz simbólica constituída na relação com a 
forma primordial do eu antes da objetivação na 
dialética de identifi cação com o outro.
Segundo Lacan4, não se pode negar o su-
jeito do inconsciente. A mãe que produz um 
psicótico é a mãe que inconscientemente não 
transmite o Nome-do-Pai (signifi cante que mar-
ca a operação do recalque), o que já estava de-
terminado na relação dela com o pai. Imagens 
do corpo despedaçado se constituem com as 
pulsões autoeróticas que são desintegradas, 
múltiplas, dispersas e anárquicas. No estádio do 
espelho dá-se a integração e o que eram pulsões 
54 Ferrão e PoliADOLESCÊNCIA COMO TEMPO 
DO SUJEITO NA PSICANÁLISE
Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 48-55, abr/jun 2014
>
autoeróticas anárquicas são resignifi cadas. Na 
esquizofrenia e na melancolia essa constituição 
integrada é frágil porque é necessário um sig-
nifi cante para amarrar essa imagem. É preciso 
uma crença na palavra do Outro, o reconheci-
mento do signifi cante Nome-do-Pai. Na para-
noia ele não tem o signifi cante Nome-do-Pai, 
mas ele tem o signifi cante da mãe, um signifi -
cante que faz com que ele possa ter laço social, 
mas não tem limite, não percebe quando está 
ultrapassando o limite entre ele e o outro.
A imagem é alienante, no sentido da alie-
nação crítica. A imagem no espelho nos captura 
porque ela esconde a castração. Enquanto su-
jeitos do inconsciente, somos sujeitos divididos 
pela fala em consciente e inconsciente. Na histe-
ria a divisão é revelada no discurso. A imagem no 
espelho esconde a nossa divisão porque somos 
todos divididos. A imagem é única, é perfeita, 
por isso, amamos nossa imagem no espelho. Es-
conde todas as questões da divisão do sujeito, 
mostra só uma imagem. É a imagem que o outro 
tem da gente. A imagem que nos captura não 
é igual à imagem que o outro vê, nós vemos a 
imagem invertida. O que está à direita está à es-
querda e o que está à esquerda está à direita. É 
a imagem antecipatória, porque quando o bebê 
se reconhece no espelho ele ainda não tem con-
trole dos esfíncteres, da fala e nem do andar. Há 
uma defasagem entre a imagem especular e a do 
espelho que é integral, inteira, é um eu melhor 
do que eu sou, é mais inteira, mais competente, 
e é daí que o eixo especular é o eixo do amor e 
do ódio; amor pela imagem maravilhosa que sou 
eu e ódio a qualquer coisa que venha abalar essa 
imagem. Freud descreve isso com uma frase: “o 
maior perigo da análise e que gera maior resis-
tência é o narcisismo”. A imagem é sempre satis-
fatória porque tem uma integração que nunca 
teremos. O “esquema L” de Lacan no Seminário 
2, representa “O Estádio do Espelho”.
A imagem é alienante, no sentido da alie-
nação crítica. A imagem no espelho nos captura 
porque ela esconde a castração e, enquanto su-
jeitos do inconsciente, somos divididos pela fala 
em consciente e inconsciente. Os histéricos, por 
exemplo, revelam no discurso deles que se sen-
tem divididos. A imagem no espelho esconde a 
nossa divisão porque, embora sejamos sujeitos 
divididos, a imagem é única, é perfeita, e por 
isso a amamos.
A adolescência na psicanálise era discutida, 
também, através da noção de puberdade por 
Freud 14 em “Os três ensaios sobre a sexualida-
de”, mas depois foi se diferenciando na teoria: 
puberdade e adolescência. Puberdade se refe-
rindo a mudanças físicas, e adolescência, a todo 
o conjunto de transformações juntas. Segundo 
Alberti7, Freud descreve sobre a puberdade no 
terceiro dos três ensaios.
No texto “O Adolescente e o Outro”, Alber-
ti7 ressalta a difi culdade de muitos pais de supor-
tar a adolescência dos fi lhos e há o afastamento. 
Quando a ausência das referências primárias 
acontece antes do tempo da separação, o ado-
lescente sente essa experiência como abandono 
e toma atitudes radicais para chamar a atenção. 
O ciclo de abandono aumenta pelo sentimento 
de impotência de alguns adultos e educadores 
quando se deparam com um adolescente re-
belde que grita uma necessidade justamente da 
atenção deles. A autora chama a atenção para 
essa difi culdade dos adultos de lidarem com a 
adolescência porque o adolescente, para de-
sempenhar a via da separação, tenta aniquilar a 
imagem até então suposta aos seus adultos cui-
dadores para torná-los menos dominantes em 
relação a ele. Esse ataque sofrido é que torna 
difícil continuar ao lado, cuidando, por isso é 
preciso muito amor por parte dos pais e educa-
dores para lidar com suas próprias inseguranças 
e falhas, expostas pelo adolescente. 
CONCLUSÃO
A adolescência, na teoria psicanalítica, é con-
ceituada como um tempo do sujeito, uma passa-
gem por processos complexos como: elaboração 
de perdas, de escolhas, da falta do Outro, para 
Lacan, e elaboração da castração, para Freud.
55Ferrão e Poli ADOLESCÊNCIA COMO TEMPO 
DO SUJEITO NA PSICANÁLISE
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 48-55, abr/jun 2014Adolescência & Saúde
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10. Kehl MR. A fratria órfã: conversas sobre a juventude. São Paulo: Olho d’Água; 2008.
11. Nominé B. A adolescência e a queda do anjo. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos; 2001.
 12. Ariès P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; 1981.
13. Wallon H. A evolução psicológica da criança. São Paulo: Martins Fontes; 2007.
14. Freud S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Freud S. Edição standard brasileira das obras 
completas. Vol VII. Rio de Janeiro: Imago; 1972. p. 123-253.
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Nessa passagem, o adolescente perde a 
crença de que seus pais podem salvá-lo do de-
samparo, e ele terá que dar conta disso elabo-
rando o luto da queda dos pais onipotentes da 
infância. Existem os que não terminam esse tra-
balho de elaboração da falta do grande Outro, 
substituindo os pais por uma religião ou outras 
formas substitutivas. Dado fundamental acerca 
da complexidade do tema, que é importante ci-
tar, é que essa quebra do imaginário em relação 
aos pais, não havendo metáfora paterna, pode 
defl agrar o surto psicótico.
Na psicanálise, é pela palavra que a verda-
de do sujeito emerge para além do discurso. O 
que determina as escolhas do adolescente na-quele momento passa por diversos conceitos 
que nos interessam e nos dão pistas para pensar 
a adolescência.

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