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B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 357-369, maio/nov. 2007 | 357 Bacia Potiguar Otaviano da Cruz Pessoa Neto1, Ubiraci Manoel Soares2, José Gedson Fernandes da Silva3, Eduardo Henrique Roesner3, Cláudio Pires Florencio3, Carlos Augusto Valentin de Souza2 Palavras-chave: Bacia Potiguar l Estratigrafia l carta estratigráfica Keywords: Potiguar Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart 1 E&P Exploração/Interpretação e Avaliação da Margem Equatorial e Bacias Interiores/Interpretação e-mail: otaviano@petrobras.com.br 2 Unidade de Negócio de Exploração e Produção do Rio Grande do Norte e Ceará/Exploração/Avaliação de Blocos e Interpretação Geológica e Geofísica 3 Unidade de Negócio de Exploração e Produção do Rio Grande do Norte e Ceará/Exploração/Sedimentologia e Estratigrafia introdução A Bacia Potiguar localiza-se no extremo leste da Margem Equatorial Brasileira, compreendendo um segmento emerso e outro submerso. Distribui-se em sua maior parte no Estado do Rio Grande do Norte e, parcialmente, no Estado do Ceará. Geologicamen- te, é limitada a sul, leste e oeste pelo embasamento cristalino, estendendo-se a bacia marinha para norte até a isóbata de 2.000 m. O Alto de Fortaleza define seu limite oeste com a Bacia do Ceará, enquanto que o Alto de Touros define seu limite leste. A bacia abrange uma área de aproximadamente 48.000 km2, sendo que 21.500 km2 (45%) encontram-se emersos e 26.500 km2 (55%) submersos. O registro estratigráfico inclui três superseqüên- cias: uma Superseqüência Rifte, depositada no Cretá- ceo Inferior; uma Superseqüência Pós-rifte, deposita- da durante o Andar Alagoas; e uma Superseqüência Drifte, depositada entre o Albiano e o Recente. A Superseqüência Rifte é representada pe- los depósitos flúvio-deltaicos e lacustres das For- mações Pendência e Pescada (Berriasiano/Eo- Aptiano). A Superseqüência Pós-rifte é caracteri- zada pela deposição de uma Seqüência flúvio- deltaica, com os primeiros registros de ingressão marinha (Formação Alagamar). A Superseqüên- cia Drifte é caracterizada por uma seqüência flúvio-marinha transgressiva (Formações Açu, Pon- ta do Mel, Quebradas, Jandaíra e Ubarana), recoberta por uma seqüência c lást ica e carbonática regressiva (Formações Ubarana, Tibau e Guamaré). Rochas vulcânicas associadas à For- mação Macau foram depositadas entre o Eoceno e o Oligoceno na bacia. O preenchimento sedimentar da Bacia Poti- guar está intimamente relacionado com as diferen- tes fases de sua evolução tectônica: duas fases de rifteamento (Rifte I e Rifte II), cujo registro estratigrá- fico é correspondente ao conjunto de seqüências continentais que compõem a Superseqüência Rifte; 358 | Bacia Potiguar - Pessoa Neto et al. uma fase aqui denominada pós-Rifte, que corresponde a Superseqüência do mesmo nome, e a fase Termal constituída pelos conjuntos de seqüências marinhas transgressivas e regressivas, que compõem a Super- seqüência Drifte. Superseqüência Rifte Seqüências continentais K10 a K40 Correspondem ao preenchimento da bacia durante as fases Rifte I e Rifte-II. A fase Rifte I (Neo- berriasiano/Eobarremiano) é caracterizada por um regime tectônico de estiramento crustal, com altas taxas de subsidência mecânica do embasamento. Nesta fase se desenvolvem falhas com até 5.000 m de rejeito, preferencialmente normais, definindo meio-grábens assimétricos e altos internos de dire- ção geral NE-SW. Essas calhas tectônicas foram pre- enchidas pelos depósitos lacustrinos, fluvio-deltaicos e fandeltaicos que constituem a Formação Pendên- cia. Quatro seqüências deposicionais de terceira or- dem foram individualizadas nesta seção (Della Fávera et al. 1994), aqui denominadas de K10, K20, K34 e K36. Nas duas seqüências mais basais (K10 e K20) predomina uma sedimentação lacustre com fluxos gravitacionais de arenitos e fanglomerados, alimentados por sistemas deltaicos e de leques aluviais/fandeltas, provenientes da margem flexural e da margem falhada. Estimam-se valores de taxa de sedimentação entre 400 e 500 m/Ma nos depocentros da Seqüência K20. Nas duas seqüên- cias mais superiores (K34 e K36), a sedimentação é predominantemente flúvio-deltaica progradante, com contribuição de sistemas deposicionais axiais (SW-NE) e provenientes da margem flexural (NW- SE) da calha tectônica. A contribuição da margem falhada consiste de leques fandeltaicos empilhados, com pouca expressão lateral. Nessas seqüências, a taxa de sedimentação apresenta uma tendência de crescimento em direção ao topo da seção rifte, com valores que variam entre 150 m/Ma na Seqüência K34 até 600 m/Ma na Seqüência K36. A ocorrência de sedimentos da fase Rifte I na porção submersa da bacia está restrita ao pro- longamento do rifte emerso na direção NE, sendo pouco amostrada por poços devido à grande pro- fundidade dos mesmos. No entanto, a correlação com as seqüências identificadas no rifte emerso torna-se bastante complexa devido às bruscas vari- ações de fácies e à baixa resolução dos métodos de datação bioestratigráfica. A fase Rifte II (Neobarremiano/Eo-Aptiano) é caracterizada pela implantação do regime transcorren- te/transformante ao longo da futura margem equatorial, causando uma grande mudança na cinemática do rifte. Na Bacia Potiguar, este evento provoca um desloca- mento do eixo de rifteamento para a porção submersa da bacia, ao mesmo tempo em que causa levanta- mento e erosão na porção emersa, que se comporta como uma ombreira do novo rifte. A direção de trans- porte tectônico muda de NNW para E-W, com movi- mentos predominantemente transtensionais destrais, em resposta ao início do processo de deriva continental. O registro dessa fase na Bacia Potiguar é restrito à porção submersa, sendo dado pelas Seqüências K38 (Barre- miano Superior) e K40 (Aptiano Inferior). A Seqüência K38 encontra-se preservada na por- ção submersa da bacia, tendo sido amostrada por po- ços em grábens isolados sobre a plataforma de Aracati (Grábens de Jacaúna, Massejana e Fortaleza), bem como nos depocentros relacionados às falhas de Macau e Ubarana. Litoestratigraficamente, a Seqüência K40 constitui a parte mais superior da Formação Pendên- cia, sendo constituída por arenitos grossos e pelitos de um sistema flúvio-deltaico-lacustrino. A Seqüência K40 é constituída por uma cu- nha clástica sintectônica, reconhecida inicialmen- te no bloco baixo da Falha de Pescada, cuja ativi- dade está geneticamente relacionada a um au- mento da taxa de subsidência no final da fase de rifteamento da bacia. O sistema de falhas de Pes- cada possui direção geral WNW-ESE e constitui o limite proximal de ocorrência desta seqüência. O preenchimento sedimentar é dado por sistemas deposicionais continentais, dominados por leques aluviais e sistemas fluviais de alta energia, com bancos carbonáticos restritos. A esta seção de ro- chas corresponde à unidade litoestratigráfica de- nominada Formação Pescada. A partir do Neo-aptiano inicia-se a deposição da megasseqüência proto-oceânica sobre uma forte discordância angular (mais evidente na porção emer- sa), em resposta ao início de uma subsidência termal lenta e generalizada: a Seqüência K50. B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 357-369, maio/nov. 2007 | 359 Superseqüência Pós- Rifte K50 O intervalo Aptiano – Albiano na Bacia Po- tiguar é marcado pela passagem gradativa de sis- temas deposicionais continentais para marinhos. O regime tectônico dominante nesta fase é mar- cado por subsidência térmica que sucede ao evento de afinamento litosférico e crustal (fase Rifte), aqui denomindada de fase Pós-rifte. A sedimentação desta fase é dominada por sistemas deposicionais flúvio-lacustres, cujos de- pósitos encontram-se assentados diretamente so- bre uma forte discordância angular no topo da seção rifte. O registro litológico dessa seqüência é representadopelos sedimentos transicionais da For- mação Alagamar, depositados em regime tectônico de relativa quietude que caracteriza essa fase. No entanto, em algumas porções dos grábens de Boa Vista e Guamaré, conglomerados de le- ques aluviais e fandeltas associados com sedimen- tação fluvial de granulometria grossa com forte controle tectônico, sugerem que algumas falhas herdadas da fase rifte continuaram ativas durante o Neo-aptiano. A Seqüência K50 é constituída por um tra- to de sistemas deposicionais francamente trans- gressivo, marcado pelo afogamento gradativo de sistemas fandeltaicos e flúvio-deltaicos (membros Canto do Amaro e Upanema) pelos folhelhos transicionais do Membro Galinhos. O evento de máxima transgressão ocorre sobreposto a um in- tervalo de rochas constituído por folhelhos pretos e calcilutitos ostracoidais, amplamente distribuí- do na bacia, denominado de Camadas Ponta do Tubarão (CPT). Essas rochas são interpretadas como o primeiro registro de ingressão marinha na bacia e depositadas em ambiente lagunar res- trito (sabkha) durante um período de clima ári- do. Dados geoquímicos e bioestratigráficos (pre- sença de dinoflagelados) corroboram a hipótese de que a primeira incursão marinha na bacia ocor- reu nesta idade. A partir do Albiano, o regime tectônico atu- ante é dominado por subsidência térmica e deriva continental. O ambiente deposicional é marinho raso, com a formação incipiente de sistema de pla- taforma-talude e bacia. Tem início a sedimenta- ção da seqüência marinha. Superseqüência Drifte K60 a N50 Esta superseqüência compreende toda a sedi- mentação marinha ocorrida a partir do Albiano Inferior. Ela pode ser dividida em dois conjuntos de seqüências: as Seqüências Marinhas Transgressivas, de idade Eoalbiano – Eocampaniano, e as Seqüências Marinhas Regressivas, de idade Neocampaniano – Holoceno. Seqüências Marinhas Transgressivas K60 a K90 Nesta fase, a bacia experimenta taxas mais modestas de subsidência, com o depocentro princi- pal formando uma grande calha fluvial de orienta- ção geral NE-SW. Esse sistema passava gradativamente em direção ao mar para uma platafoma rasa siliciclástica a mista, com a implanta- ção de sedimentação carbonática de borda de plata- forma e um sistema de talude/bacia marcado pela formação de cânions submarinos com sedimentação turbidítica associada. Os cânions de Pescada e Ubarana, escavados neste período, foram preenchi- dos dominantemente por folhelhos de talude, inter- calados com camadas de turbiditos, diamictitos e olistolitos carbonáticos. O sistema foi gradativamente afogado pela grande transgressão do Neocretáceo, resultando em empilhamento vertical de sistemas fluviais, com sis- temas entrelaçados na base, passando a meandrantes grossos, meandrantes finos e estuarinos no topo. O afogamento máximo dos sistemas fluviais ocorre no Eoturoniano, dando lugar à implantação de extensa plataforma/rampa carbonática dominada por maré, formada na transição para as seqüências regressivas. As Seqüências Transgressivas K60 a K90 que re- gistram este período têm início com a deposição da seção fluvial a marinha representada pelos sedimentos siliciclásticos proximais (Formação Açu) e marinhos dis- tais (Formação Quebradas), bem como pelos depósitos carbonáticos marinhos rasos (Formação Ponta do Mel). Na porção emersa, as discordâncias limítrofes das Seqüências K60, K70 e K84 coincidem, respectiva- mente, com os limites das unidades de correlação infor- mais denominadas Açu-1, Açu-2 e Açu-3 (Vasconcelos et al. 1990) da Formação Açu. Por outro lado, na por- 360 | Bacia Potiguar - Pessoa Neto et al. ção submersa, a discordância limítrofe da Seqüência K70 coincide com o topo da Formação Ponta do Mel. O máximo transgressivo dessa seqüência ocor- reu na passagem Cenomaniano - Turoniano, sendo marcado pela deposição de uma seção de folhelhos contínuos na porção submersa da bacia e pelo afo- gamento dos sistemas fluviais e estuarinos na porção emersa. Segue-se a implantação de uma platafor- ma/rampa carbonática dominada por maré (Forma- ção Jandaíra), cujos sedimentos mais novos apresen- tam idade eocampaniana. As rochas carbonáticas da Formação Jandaíra afloram em praticamente toda a porção emersa da Bacia Potiguar, onde se encon- tra intensamente erodida e carstificada, e mergulha com baixa inclinação em direção ao Oceano Atlânti- co. A espessura é variável desde algumas dezenas de metros na porção oeste da bacia, atingindo um valor máximo da ordem de 600 m na porção da pla- taforma interna atual, passando a zero em direção a água profunda por efeito de erosão ou condensação. O limite do pacote carbonático da Formação Jandaíra com os arenitos da Formação Açu sotopos- tos é concordante e representa a superfície de inun- dação máxima do Cretáceo Superior na bacia. Os depósitos deste trato de sistemas deposicionais trans- gressivo são caracterizados por folhelhos de ambien- te nerítico médio a batial, na porção submersa da bacia, e sucessões de tidal bundles (ambiente estuarino) e folhelhos marinhos na porção emersa. O trato de sistemas de mar alto é representado pela deposição de carbonatos da Formação Jandaíra. Na porção emersa, a região deste contato constitui uma expressiva cuesta que se estende por todo o Estado do Rio Grande do Norte e parte do Estado do Ceará, configurando um relevo em chapada, conhecida como Chapada do Apodi. O padrão estratal dos sedimentos dessa se- qüência consiste de estratos com mergulhos suaves e clinoformas sigmoidais típicas de bacias de mar- gem em rampa. Dentro do pacote carbonático é possível indivi- dualizar duas seqüências deposicionais. Uma seqüência correspondente ao intervalo Neoturoniano - Eosantoniano (K88) e que tem o limite basal marcado por evidente quebra nos perfis de poços e bruscas mudanças ambientais identificada nas associações bioestratigráfi- cas. Constitui-se por grainstones bioclásticos e oolíticos na porção proximal e por wackestones e mudstones na porção distal. A última seqüência, que corresponde ao intervalo Neo-santoniano – Eocampaniano (K90) é ca- racterizada pelo total domínio da sedimentação carbo- nática na bacia, inclusive na porção proximal. Seqüências Marinhas Regressivas K100-E10 a N60 A partir de um evento erosivo de grande magni- tude durante o Neocampaniano, ocorre um grande ci- clo de seqüências regressivas que se estende até o Holoceno. Um evento transgressivo importante foi re- gistrado na base deste ciclo, representado por uma seção condensada conhecida como Marco Radioativo, de idade neocampaniana, que se encontra assentado diretamente sobre o limite basal da megasseqüência. Dentro deste ciclo regressivo foram individua- lizadas pelo menos sete seqüências deposicionais, limitadas por eventos erosivos regionais. Essas se- qüências estão preservadas quase exclusivamente na porção submersa da bacia, em especial aquela do Cretáceo Superior e Paleógeno (K100-E10). Os úni- cos registros aflorantes dessas seqüências na porção emersa ocorrem sob a forma de depósitos de leques costeiros proximais de idade miocênica. As Seqüências Regressivas (K100-E10 a N60) representam o registro estratigráfico na bacia entre o Neocampaniano e os dias atuais. Caracterizam-se por sistemas mistos compostos por leques costeiros, siste- mas de plataformas rasas com borda carbonática e sis- temas de talude/bacia. Os correspondentes litoestrati- gráficos dessas seqüências são as rochas definidas nas formações Barreiras, Tibau, Guamaré e Ubarana. Pelo menos seis seqüências podem ser indivi- dualizadas neste intervalo, limitadas por discordân- cias bem marcadas em seções sísmicas, quebras nos perfis elétricos e descontinuidades bioestratigráficas em poços (Soares et al. 2003). A seqüência mais antiga, de idade Neocampaniano – Eopaleoceno (K100–E10), preserva ainda delgadas relíquias de uma plataforma carbonáticae, sobretudo, fácies de talu- de e bacia. Sotopostos a essas fácies mais distais ocorrem olistolitos carbonáticos das Seqüências K88 e K90, escorregados e depositados na base do talu- de, por efeito de colapso da borda da plataforma após a importante erosão do Neocampaniano. Uma seqüência intermediária, de idade Neopaleoceno – Eomioceno, está representada em quase toda a bacia por uma cunha sedimentar com- posta de relíquias de uma plataforma carbonática, fácies de talude e bacia, limitada no topo por outro importan- te evento erosivo, datado como de idade Eomioceno. O padrão estratal dessas seqüências é variá- vel e apresenta duas geometrias distintas. As Seqüên- cias Basais (E20 a N10) apresentam clinoformas mais B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 357-369, maio/nov. 2007 | 361 oblíquas com quebras de plataformas mais abruptas e bem definidas, mostrando um evidente domínio de feições progradacionais, com predomínio de fácies de talude da Formação Ubarana. Na porção mais profunda ocorrem turbiditos intercalados com folhelhos de talude e derrames vulcânicos terciários (basaltos da Formação Macau na área do Cânion de Agulha). As Seqüências N20 a N50 apresentam pa- drão dominantemente agradacional, com a preser- vação de sedimentos de plataforma mista rasa das formações Tibau e Guamaré (Pessoa Neto, 1999). A Seqüência N60 é formada por sedimentos aluviais provenientes dos rios Açu e Mossoró, na por- ção proximal, sedimentos de praia e dunas na região costeira, sedimentos siliciclásticos intercalados com sedimentos bioclásticos de plataforma externa e sedi- mentos finos no talude e bacia profunda. O limite externo abrupto da borda da plata- forma dessas seqüências é de origem provavelmen- te tectônica, controlada pela reativação tardia de falhas antigas ancoradas no embasamento. Os sedimentos conglomeráticos imaturos da Formação Serra do Martins, que ocorrem sobre platôs do embasamento ao sul da Bacia Potiguar, são inter- pretados como parte desse evento regressivo, deposi- tados na porção mais continental do mesmo. O cres- cente influxo de terrígenos na plataforma do siste- ma Barreiras-Tibau-Guamaré, durante o Mioceno, deve-se a um acentuado incremento da erosão do relevo pós-cretáceo da província Borborema. magmatismo Três eventos magmáticos principais são iden- tificados na Bacia Potiguar: Rio Ceará Mirim, Cuó e Macau. O evento magmático conhecido como For- mação Rio Ceará Mirim ocorre na forma de diques de diabásio com forte orientação E-W no embasa- mento adjacente à borda sul da Bacia Potiguar. Este enxame de diques está relacionado à gênese do rifte, datado com base nos dados 40Ar/39Ar, com pulso em 132,2 ± 1 Ma. A ocorrência de rochas vulcanoclásti- cas intercaladas aos sedimentos da porção basal da Formação Pendência, na porção emersa da bacia, também é correlacionada com este evento. O evento magmático conhecido como Forma- ção Serra do Cuó, definido com base em afloramento localizado na borda sul da Bacia Potiguar, ocorre na forma de derrames de basalto com tendência alcali- na, apresentando idades radiométricas (Ar-Ar) com idade de 93,1 ± 0,8 Ma (Souza et al. 2004). O evento magmático conhecido como Forma- ção Macau ocorre intercalado aos sedimentos da seqüência regressiva e no embasamento adjacente à bacia, sendo datados pulsos no Eoceno/Oligoceno com idades distribuídas entre 70-65 e 9-6 Ma, com picos entre 48,9 ± 2,9 e 31,4 ± 1,5 Ma. As rochas magmáticas são principalmente basaltos que ocor- rem sob diversas formas no Alinhamento Macau – Queimadas (AMQ), predominando, em termos de área aflorante, derrames com pico de idades Ar-Ar entre 27 e 22 Ma. Um pulso mais novo no Mioceno com idade mínima de 14,7 ± 0,9 Ma é datado com base em relações estratigráficas em poços na porção sub- mersa da bacia (Pessoa Neto, 1999). A espessura total desses derrames de olivina-basalto atinge até 1.500 m na região dos cânions de Agulha e Ubarana, evidenciando a grande magnitude desse evento. A origem desse vulcanismo pode estar associada à pas- sagem da margem equatorial sobre o hot spot de Fernando de Noronha ou ainda estar relacionado à colocação de magmas em zonas de alívio, a partir de ajustes tectônicos intraplaca. referências bibliográficas ARARIPE, P. T.; FEIJÓ, F. J. Bacia Potiguar. Boletim de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 127-141, jan./mar. 1994. DELLA FÁVERA, J. C.; CASTRO, J. C.; SOARES, U. M.; ROSSETTI, E. L.; MATSUDA, N.; HASHIMOTO, A. T.; GUSSO, J.; RODRIGUES, R.; AZAMBUJA, N. C.; ALVES, D. B. Estratigrafia de Seqüências da Formação Pen- dência, Bacia Potiguar. 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Geocronologia e geoquímica do magmatismo cretácico a terciário do NE do Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 42. 2004, Araxá. Resumos. Minas Gerais: Sociedade Brasileira de Geologia, 2004. 1 CD-ROM. VASCONCELOS, E. P.; LIMA NETO, F. F.; ROOS, S. Unidades de correlação da Formação Açu – Bacia Potiguar. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 36. 1990, Natal. Anais. São Paulo: Sociedade Brasi- leira de Geologia, 1990. v.1, p. 227-240. B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 357-369, maio/nov. 2007 | 363 apêndice: litoestratigrafia Desde a última revisão estratigráfica realiza- da na Bacia Potiguar (Araripe & Feijó, 1994), algu- mas unidades informais foram incorporadas à colu- na estratigráfica da bacia, em função de novos da- dos de poços perfurados, tanto na porção emersa quanto na porção submersa. Em função destes no- vos dados, três novas unidades litoestratigráficas são propostas para a bacia, e uma quarta é redefinida. Redefinição do Membro Porto do Mangue da Formação Quebradas (Grupo Apodi) A Formação Quebradas foi definida por Sou- za (1982) como membro da Formação Ubarana e elevada à categoria de formação por Araripe e Feijó (1994), incluindo o Membro Redonda, definido para designar os depósitos arenosos distais da Formação Açu, e o Membro Porto do Mangue, definido para designar espessas camadas de folhelhos que afogam o sistema fluvial da Formação Açu. Propõe-se aqui a redefinição deste membro como correspondente ao pacote de rochas que compreende os depósitos dis- tais de todas as unidades marinhas transgressivas (for- mações Açu, Ponta do Mel e Jandaíra). • nome: O nome Membro Porto do Mangue deriva do nome da cidade de mesmo nome, situada a norte do Estado do Rio Grande do Norte. • equivalência regional: baseado em dados bioestratigráficos e cronogeológicos, bem como correlações estratigráficas regionais, esta unidade pode ser correlacionada com o Mem- bro Uruburetama da Formação Ubarana, na Bacia do Ceará. • seção tipo: O Membro Porto do Mangue ocorre apenas em subsuperfície e está defi- nida no poço de extensão Rio Grande do Norte Submarino 61 (4-RNS-61; 40 58’ 51,87" S e 360 23’ 32,67" W), perfurado em 1984, ten- do atingido a profundidade máxima de2632 (-2609 m). Ocorre entre as profundidades de 1495 / 2195 m, perfazendo um total de 700 m de seção predominantemente siliciclástica pelítica (fig.1). • litologia: A composição litológica dominante desta unidade é de margas, calcilutitos e fo- lhelhos de talude/bacia, com turbiditos e olistolitos carbonáticos intercalados. • distribuição: Esta unidade é inteiramente res- trita à porção submersa da Bacia Potiguar e Figura 1 – Perfil-tipo do Membro Porto do Mangue. Figure 1 – Porto do Mangue Member reference section. 364 | Bacia Potiguar - Pessoa Neto et al. ocorre tanto preenchendo cânions quanto na região de talude/bacia das citadas formações. • contatos e relações estratais: Os sedimen- tos do Membro Porto do Mangue depositam- se discordantemente sobre os sedimentos da Formação Alagamar. O contato superior é dis- cordante com os folhelhos da Formação Ubarana. • idade: O Membro Porto do Mangue foi de- positado – com base em datações pelos mé- todos bioestratigráficos – entre o Eo-albiano e o Eocampaniano. Membro Lagoa do Queimado da Formação Pendência (Grupo Areia Branca) Unidade litoestratigráfica proposta por Francis- co Fontes Lima Neto (2007, comunicação verbal) com hierarquia de formação para designar os depósitos de leques aluviais e fandeltas associados às falhas de bor- da do rifte Potiguar. Propõe-se aqui a sua formalização como membro da Formação Pendência. • nome: O nome Membro Lagoa do Queimado deriva do poço 1-LQ-1-RN (Lagoa do Queima- do, no.1), onde estes depósitos foram amostrados e descritos. A denominação do poço teve como origem uma importante la- goa de mesmo nome, situada no município de Pendências, no Estado do Rio Grande do Norte. • equivalência regional: estes depósitos po- dem ser comparados, estratigráfica e sedimentologicamente, aos fandeltas e le- ques aluviais da Formação Salvador, na Ba- cia do Recôncavo. • seção tipo: O Membro Lagoa do Queimado ocorre apenas em subsuperfície e está defini- da no poço (1-LQ-1-RN; 50 15’ 24,10" S e 360 36’ 52,82" W), perfurado em 1980, tendo atingido a profundidade máxima de 1235 m (– 1190 m). Ocorre entre as profundidades de 870 a 1235 m, perfazendo 365 m de seção predominantemente siliciclástica grossa (fig.2). Figura 2 – Perfil-tipo do Membro Lagoa do Queimado. Figure 2 – Lagoa do Queimado Member reference section. B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 357-369, maio/nov. 2007 | 365 • litologia: A composição litológica dominan- te desta unidade é de conglomerados polimí- ticos, arenitos grossos a conglomeráticos ima- turos e feldspáticos com líticos. • distribuição: Os depósitos correspondentes a esta unidade ocorrem principalmente nas bordas falhadas do rifte, principalmente nas áreas dos grabens de Guamaré, Umbuzeiro e Apodi, com ocorrências menos expressivas na porção NE do Graben de Boa Vista. • contatos e relações estratais: Os sedimentos grossos do Membro Lagoa do Queimado deposi- tam-se lateralmente e intercalados aos sedimen- tos pelíticos e arenosos lacustres da Fm. Pendên- cia. O contato superior é discordante com os se- dimentos fluviodeltaicos da Formação Alagamar. • idade: O Membro Lagoa do Queimado foi depositado, com base em datações pelos métodos bioestratigráficos palinologia e ostracodes não-marinhos, durante o Eocretá- ceo (Berriasiano a Barremiano). Membro Canto do Amaro da Formação Alagamar (Grupo Areia Branca) Unidade litoestratigráfica aqui proposta para designar os depósitos fandeltaicos e fluviais entrela- çados que ocorrem na base da Formação Alagamar. • nome: a designação Canto do Amaro provém do povoado localizado 24 quilômetros a nor- deste da cidade de Mossoró, Estado do Rio Grande do Norte, topônimo previamente ado- tado para nomear um campo produtor de pe- tróleo na Formação Açu e em reservatórios da unidade aqui formalizada. • equivalência regional: considerando-se as características litológicas, faciológicas e o con- texto tectônico, o Membro Canto do Amaro é homotáxico ao Membro Carmópolis da Forma- ção Maceió, na Bacia de Sergipe. Figura 3 – Perfil-tipo do Membro Canto do Amaro. Figure 3 – Canto do Amaro Member reference section. 366 | Bacia Potiguar - Pessoa Neto et al. • seção tipo: o Membro Canto do Amaro ocor- re apenas em subsuperfície e está definido no poço Canto do Amaro n°830 (3-CAM-830-RN; 5° 08’ 29’’ S e 37°09’14’’ W), perfurado em 2002, tendo atingido a profundidade máxima de 1426 m (-1338m). Este poço de extensão descobriu jazida mais profunda de óleo em reservatórios desta unidade. Ocorre entre as profundidades de 1322 a 1383 m, perfazendo um total de 61 metros de seção predominan- temente conglomerática (fig.3). • litologia: a composição litológica dominante desta unidade é de conglomerado polimítico/ oligomítico e arenito muito grosso a médio, com intercalações de arenito médio a muito fino, capeados por siltito ou folhelho casta- nho-avermelhado a cinza claro/escuro. • distribuição: Os depósitos correspondentes a esta unidade ocorrem com maior expressão no Graben de Boa Vista, no flanco oriental do Alto de Mossoró, e em algumas áreas da fa- lha de Carnaubais (Guamaré, Palmeira e Fa- zenda Pocinho). • contatos e relações estratais: as rochas desta unidade assentam-se em discordância sobre a Formação Pendência ou sobre embasamento. O contato superior/lateral é interdigitado, gradacional ou abrupto com o Membro Upanema da Formação Alagamar. • idade: com base em análises palinológicas e ostracodes não-marinhos realizadas em amos- tras de calha e testemunho, a porção superior da unidade tem idade neo-aptiana. Membro Cristóvão da Formação Pescada (Grupo Areia Branca). Unidade litoestratigráfica proposta para desig- nar os depósitos carbonáticos lacustres que ocorrem no topo da Formação Pescada. • nome: O nome Membro Cristóvão deriva de uma localidade de mesmo nome, situada na região costeira do município de Areia Branca, na porção noroeste do Estado do Rio Grande do Norte. • equivalência regional: baseado em dados bioestratigráficos e cronogeológicos, bem como correlações estratigráficas regionais, esta unidade pode ser correlacionada com o Mem- bro Morro do Chaves da Formação Coqueiro, nas bacias de Sergipe e Alagoas. • seção tipo: O Membro Cristóvão ocorre ape- nas em subsuperfície e está definida no poço explotatório Ubarana Submarino 47 (7-UB-47- RNS; 40 56’ 3,670" S e 360 21’ 41,329" W), perfurado em 1981, tendo atingido a profun- didade máxima de 2612 (-2584 m). Ocorre entre as profundidades de 2437 a 2486 m, perfazendo um total de 49 m de seção pre- dominantemente carbonática (fig.4). • litologia: depósitos carbonáticos compostos de calcarenitos e coquinas a conchas de bivalves, intercalados com arenitos finos bioturbados com fragmentos de bivalves e folhelhos pretos laminados intercalados com margas e calcilutitos. • distribuição: Estes depósitos ocorrem na área do Campo de Ubarana, tendo sido amostra- dos por diversos poços do mesmo campo, sen- do interpretados como bancos carbonáticos restritos, depositados no início de períodos transgressivos de borda de lago. • contatos e relações estratais: Os sedimen- tos do Membro Cristóvão depositam-se con- cordantemente sobre os sedimentos mais in- feriores da Formação Pescada. O contato su- perior é discordante com os arenitos da base da Formação Alagamar. O contato lateral é interdigitado com os sedimentos siliciclásticos da Formação Pescada. • idade: O Membro Cristóvão foi depositado – com base em datações pelos métodos bioes- tratigráficos – durante o Eo-aptiano. B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 357-369, maio/nov. 2007 | 367 Figura 4 – Perfil-tipo do Membro Cristóvão. Figure 4 – Cristóvão Member reference section. 368 | Bacia Potiguar - Pessoa Netoet al. 542 OTAVIANO DA CRUZ PESSOA NETO .et alBACIA POTIGUAR 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 0 65 00 65 0 60 0 630 1050 150 350 55 0 15 00 12 50 40 0 13 00 85 0 85 0 10 00 G U AM AR É M AC AU AÇ U JA ND AÍ R A PE N DÊ NC IA PESCADA TI BA U G UA M AR É AR EI A BR AN CA GALINHOS UPANEMA AP O D I Q UE BR AD AS PO RT O D O M AN G U E MIOCENO SUPERIOR FLUVIAL- DELTAICO MIOCENO INFERIOR OLIGOCENO SUPERIOR EOCENO MÉDIO PALEOCENO SUPERIOR CAMPANIANO SUPERIOR SANTONIANO SUPERIOR TURONIANO SUPERIOR CENOMANIANO SUPERIOR CENOMANIANO INFERIOR ALBIANO SUPERIOR ALBIANO INFERIOR ALAGOAS SUPERIOR ALAGOAS INFERIOR BURACICA INFERIOR ARATU SUPERIOR RIO DA SERRA SUPERIOR RIO DA SERRA MÉDIO C R E T Á C E O ( G Á L I C O ) ( S E N O N I A N O ) P A L E Ó G E N O N E Ó G E N O E O C E N O APTIANO ALAGOAS C E N O M A N I A N O T U R O N I A N O C O N I A C I A N O S A N T O N I A N O C A M P A N I A N O D A N I A N O S E L A N D I A N O Y P R E S I A N O L U T E T I A N O P R I A B O N I A N O R U P E L I A N O C H A T T I A N O A Q U I T A N I A N O B U R D I G A L I A N O L A N G H I A N O S E R R A V A L I A N O T O R T O N I A N O M E S S I N I A N O Z A N C L E A N O PA LE O C EN O ( N E O C O M I A N O ) A L B I A N O BARRE- MIANO HAUTE- RIVIANO VALAN- GINIANO BERRIA- SIANO TITHO- NIANO J I Q U I Á BURACICA A R A T U R I O D A S E R R A D O M J O Ã O T H A N E T I A N O B A R T O N I A N O N 40 - N 50 N 20 - N 30 E8 0 - N 10 E4 0 - E7 0 E2 0 - E3 0 K1 00 - E1 0 K90 K88 K86 K70 K60 K50 REDONDA K40 K38 K36 K34 K20 Ma ÉPOCA IDADE NAT U RE ZA DA SE DI M EN TA ÇÃ O DISCORDÂNCIASAMBIENTEDEPOSICIONAL GEOCRONOLOGIA FORMAÇÃO MEMBRO LITOESTRATIGRAFIA NEO EO NEO MESO EO MESO EO NEO EO NEO EO EO N EO B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 357-369, maio/nov. 2007 | 369 BGP v15 n2 grafica 183 BGP v15 n2 grafica 184 BGP v15 n2 grafica 185 BGP v15 n2 grafica 186 BGP v15 n2 grafica 187 BGP v15 n2 grafica 188 BGP v15 n2 grafica 189 BGP v15 n2 grafica 190 BGP v15 n2 grafica 191 BGP v15 n2 grafica 192 BGP v15 n2 grafica 193 BGP v15 n2 grafica 194 BGP v15 n2 grafica 195 BGP v15 n2 grafica 196
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