Buscar

Chorar é preciso APPOA Associação Psicanalítica de Porto Alegre

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

 (/) 
21 de janeiro de 2017
Autor(es): Sandra Djambolakdjian Torossian
Este texto é dedicado a todos aqueles junto aos quais chorei 
E são muitos...
Dizem que sou Dizem que sou chorona. Mas também dizem que me reconhecem pelo sorriso e a gargalhada. Assim, entre choros e risos fui sendo
quem sou. 
Durante a infância, o choro era melhor suportado. Na juventude, não tive a mesma sorte. Junto ao meu corpo que crescia, aumentava a necessidade
de tentar controlar o choro. Seja feliz! Não chore! Cresça!Um dos primeiros dilemas chegou quando fui escolher a pro�ssão. A Psicologia era uma das
minhas predileções. "Não é aconselhável, tu és muito sensível". 
Talvez inspirada por Chapeuzinho Vermelho - que insistia em aparecer nos meus sonhos quando criança - optei pelo não aconselhável. Aventurei-me
pela �oresta proibida com certa teimosia e desobediência juvenil. Achei que o estudo e a análise fariam com que eu parasse de chorar. Um engano
como tantos outros! Continuo passando da gargalhada ao pranto sem qualquer inibição. 
Ainda gostaria de poder me controlar. Chorar em público, que tristeza! Mas sem sucesso nessa empreitada fui aprendendo a escutar o meu choro e a
transformar essa aprendizagem em ferramenta de escuta no meu trabalho. 
Ele não se apresenta do mesmo modo em todas as situações. Há o choro controlável, aquele que a gente deveria conseguir engolir, nó na garganta.
Um choro de empatia com a tristeza e as di�culdades do outro ou de identi�cação com uma história qualquer. Amigos, �lmes, livros que nos fazem
chorar. 
Há aquele da nossa tristeza frente a situações da vida. Momentos de luto, mudanças ou perdas. Alegrias, talvez. Mas há aquele que invade o corpo.
Que vem de um lugar não reconhecível. Que toma conta do momento e não nos deixa falar. Não há palavras, o silêncio se impõe. 
Esse, eu tenho vivenciado vendo as migrações forçadas, as mortes em barcos que tentam ultrapassar fronteiras. Pelas imagens das guerras na Síria e
tantas outras guerras atuais. Imagens que me invadem e tocam num ponto da minha história familiar na qual o silencio é hóspede. História de um
genocídio não reconhecido. 
Mas não são somente essas imagens longínquas que me fazem soluçar. Também aquelas bem próximas. Histórias de miséria e pobreza como
ferramenta de descarte juvenil. Desigualdade que escolhe vidas a �car e vidas a morrer. Soluço incontido por histórias que atestam a ruptura
traumática do pacto democrático. 
Histórias de extermínios que tem habitado textos acadêmicos sobre os quais tenho sido convidada a argüir. Testemunhos bem escritos de estudantes
e pro�ssionais que, felizmente, insistem em fazer as letras aparecerem, ali onde o mutismo é estratégia de dominação. Sobressaltos cotidianos no
contato com as notícias do dia nas quais constatamos os direitos que se perdem e a perversão que se impõe. Políticas da crueldade que se alastram
nas relações cotidianas e ganham suporte nos discursos governamentais. Já não se inibe a crueldade, mas se autoriza e se aplaude. 
Neste cenário, que toca e repete histórias de outras épocas, no qual  crescem os muros, o pensamento quer ser alijado pela imposição do
automatismo do trabalho e os direitos adquiridos são ignorados com a complacência dos Poderes que deveriam garantir proteção, chorar é preciso. É
por isso que não peço mais desculpas ao público que me vê chorar em aulas, bancas e cinemas. A partir dessas vivências e experiências, hoje posso
dizer que chorar é fazer revolução num mundo que estimula a crueldade e nos solicita que façamos de conta que nada disso é verdade. 
É por isso que não peço mais desculpas ao público que me vê chorar em aulas, bancas e cinemas. A partir dessas vivências e experiências, hoje posso
dizer que chorar é fazer revolução num mundo que estimula a crueldade e nos solicita que façamos de conta que nada disso é verdade.
 voltar

SUL 21 | 21 de janeiro de 2017
CHORAR É PRECISO

ASSOCIAÇÃO PSICANALÍTICA DE PORTO ALEGRE 
Rua Faria Santos, 258 Petrópolis - Porto Alegre, RS CEP 90670-150
Fone: (51) 3333.2140 ou (51) 3333.7922 
 Localização no mapa (https://www.google.com/maps/embed?pb=!1m18!1m12!1m3!1d3453.7105317688615!2d-51.19261428488482!3d-
30.045161381882128!2m3!1f0!2f0!3f0!3m2!1i1024!2i768!4f13.1!3m3!1m2!1s0x9519783cd80800af%3A0xe954569350f1�9!2sAppoa!5e0!3m2!1spt-
BR!2sbr!4v1475676965960) 

HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO 
Segunda à quinta-feira das 8h30min às 12h e das 13h às 21h30min 
Sextas-feiras das 8h30min às 12h e das 13h às 20h

Continue navegando