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Mata-Machado capítulo I

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I
CONHECIMENTO ESPONTÂNEO DO DIREITO
1. Direito, noção de senso comum. 2. Vida
em sociedad e direito. 3. Regras do fazer e
regras do agir. 4. As regras sociais: 1. moda
ou foIk-ways; lI. usos e costumes; m. con-
venções íntra-grupaís: IV. especificidade da
regra de direito. 5. Fim do direito: o bem
comum.
Direito, noção de senso comum
1. No primeiro parágrafo da sua Introdução ao Estudo do
ireito, Julien BONNECASE (p. 17) alude à sua experiência de
professor para afirmar que dela tirou a convicção de que, se se
quiser descobrir a noção do nada no espírito do iniciante, basta
azer-lhe esta pergunta, entretanto tão simples: "que é o direito ?"
A nós nos parece, ao contrário, que existe no espírito de quem
'lu r que seja, candidato ao estudo dá ciência jurídica ou simples
hom m comum, cidadão de qualquer Estado, uma noção prévia
d qu é direito, exatamente por se tratar de uma idéia primeira .
• (t tiv mos, aliás, ocasião de realizar a experiência, com êxito
muito m flor do que o de BoNNECASE, pois, em vez de ficarmos
II,h n o qu o n da - aquisição preciosíssíma que nos scap /11
v df am qu O aluno t an põ os umbrais da Fa ulda di'
I) I' to .om ( c: r '\)1' nburr tad d no Õ juríd! a , 11 p('ll "
"
De acusadores não se precisa falar, ativos membros de um
"ministério público" inorganizado, a brandirem libelos às portas
dos bares e das lojas,
E há também sentenciosos corifeus de. uma ciência jurídica
espontânea e infundada, que prelecionam sobre o Direito com a
seriedade de doutores antigos e a audácia de reformistas da hora.
Caricatura à parte, tudo isso demonstra, em primeiro lugar,
a ligação íntima entre o direito e a 'vida. humana, sob qualquer
de seus aspectbs; e, em segundo, a presença de conceitos jurídicos
básicos na consciência do homem,
Aliás, essa presença poderá ser surpreendida desde a mais
remota infância,
KARL JASPERSrefere-se a toda uma "filosofia infantil" que
está para ser escrita (passim ) . Haverá também uma "filosofia
infantil do Direito a ser posta em letra de forma,
E na mais tenra meninice, quando apenas a criança adquire a
capacidade mecânica de apreensão dos objetos, que se evidencia a
existência do seu e do meu (ver como, a seguir, as crianças se
apegam a coisas insignificantes cujo valor supremo reside no fato
de serem não dos outros, mas delas: "é meu, não mexa, vá brincar
com o que é seu"), Tratar-se-á, menos do instinto de propriedade
do que da íntima relação entre a vocação das coisas para serem
possuídas e a do homem para as ter como suas, Igualmente na
infância; já se tem como certo o postulado, segundo o qual o que é
bom deve ser feito, e evitado o que é mau, Impressionante, ainda,
o rigoroso senso de justiça que se entremostra desde as primeiras
idades: o que se combinou há-de ser cumprido; ou não se pode
alterar a regra do jogo, Tudo isso sem falar nas simples expres-
sões: "é direito", "não é direito", que entram em nossa linguagem
rdinária, vulgar, desde os primeiros anos da vida,
Nem se diga que todas essas noções nos vêm, tais quais, da
ducação ou da pressão social, pois a sociedade atua aqui como
imples veículo, ou é o ambiente em que essas noções encontram
meio normal de circulação. Não se radicariam tão fácil e cons-
tantemente no espírito do homem, se neste já não existisse dis-
nosíção natural para recebê-Ias e transformá-Ias em normas ra-
cionais de conduta.
Dm tal assunto, a razão está com o velho mestre inglês, Sir
PAUL VINOGRADOFF(p. 10) para quem se, em sua minúcia, as
Ij(wmnfl jurídicas são complicadas e exigem uma certa técnica d('
oxpoHlçilo, aa opcracõoa mentais, que se desenvolvem no campo do
dírolto, baaolam-so 110 senao comum - nem por outro motivo dl'll
I1JlI'lIllH,que o mestre o ajude a patenteá-Ias, esclarecendo-as e
Jllllldo-Ihcs ordem.
Inquéritos a que temos procedido nas Faculdades onde lencio-
Ilnll\()H, tão logo se matriculam os primeiranistas, suscitaram
ItlHllnlHtirespostas interessantes à pergunta: "Por que escolheu o
1'111'1\0de Direito" ?
.,<, muitos se limitam à incaracterística referência "por voca-
1'1111",\)U outra parecida, não faltam os que aludem à "justiça",
til'" 1 ou valor a realizar, mencionam o seu propósito de lutar por
11111'('lIlização, ou se dizem dispostos a preparar-se para a defesa
IItHlhumildes, para o combate ao crime, para o aperfeiçoamento
tlll" lole, para os embates da advocacia, a supremacia dos "direitos
tio homem", desvendando, pois, de múltiplas formas, e mal se
1111I'(IRcntamà Faculdade, noções do que seja e daquilo a que
vlun '0 direito.
os "calouros" temos indagado a que tarefas se dedicam - pois,
IIOJO,no geral, o estudante já trabalha ao ingressar na Faculdade;
«('poIs, perguntamos-lhe se o direito ou a lei (a noção de lei é mais
concreta que a de direito) tem algo a ver, interfere de alguma
1'00'Iflllcom O que fazem,' As respostas surpreenderiam ao civilista
1'1'/ll\cês: normalmente, o aluno -. bancário, funcionário público,
«mprogado de empresas comerciais e industriais - lida com o
dlroito sob várias de suas formas, havendo mesmo os que já
dlt\<.:t'Íminamos ramos da Ciência Jurídica a tocarem mais de
111)1'1,0suas atividades, o "papel social" que representam em seu meio.
ostuma-sc dizer que "de médico e de louco toda gente tem
11111pouco" Mas toda gente tem mais que um grão de sandice,
IIIII,doao vezo de receitar remédios antigos e novos. Há, a nosso
1\", pültu~ esquinas, maior número de "juristas" que de loucos
111dI' médícos.
nflo "jurlstas" de todos os ramos e de tôdas as categorias
111'1111"'1101111ll-i, advogados, promotores, juízes, legisladores e até
"1'"pl\('llIlhtlIlH"na Ciência do Direito.
III'//I.'Iflt!l/)/'(),'i não faltam, capazes de oferecer normas seguras
111111111\"'"lIlIlzlI,ção do Poder, a correção dos males da burocracia
1111.til 1101'1'11Pllrto eleitoral, sempre a afirmarem: "se a lei deter-
"" 11IIW\II 11110OIl aquílo . " , ou "a lei deveria dispor de tal modo
11/10 dm.Lu I~lIIdm, assim ... ", numa incontrolável produção de
11" ItH IIIIhlloo o privado.
verifique algum ato
as sentencas surgem
lU
ti
as nossas ações submetidas a uma variedade imensa de controles.
Vejamos alguns desses dados:" 1\\1 opú .ul clássico, de 1913, o título de Common 'Se17,sein Law• o cl r ito pode ser compreendido, sem dificuldade, por pessoas
dI IIIl d ana inteligência e cultura. Precónceítuoso embora, em re-
111(' o no valor do senso comum, do qual se diz ser "o pior inimigo
di lodo o rigor científico", o penalista argentino ENRIQUER. AFTA-
'" I) N (p, '16) não pode deixar de reconhecer que a por ele chamada
"fi 1\11 IIH científica da Jurisprudência" é algo que se patenteia
I 111 110 1\ vida cotidiana ..
,': f111C' "não existe ciência que toque de mais perto às questões
Illl'd utu da. vida que o Direito. Descobrir-se-á talvez, em nosso
I' II~d() cíal, homem que jamais se tenha ocupado de Ciências Na-
IIII'/L (ti d História; parece-nos, porém, muito difícil encontrar-se
111 \1' -m que seja absolutamente estranho aos problemas do Direito"
A ObH rvação é de outro jurista, o famoso KORKOUNOV.
ssím, parece-nos mais natural começar o estudo do Direito,
IIIW p Ias noções clássicas da "ciência", matéria versada por com-
II 11 li de Metodologia e que melhor ficaria numa INTRODUÇÃO
II'TLOSOFIADO DIREITO, mas, antes, por uma pesquisa reali-
1.ltdll Il nível da observação superficial, a qual focalize as diferentes
numlf stações de regulamentação da conduta humana na sociedade.
qu , é claro, importa não perder de vista a dupla adver-
11'11 'ia d um filósofo contemporâneo (J. MARITAIN,Deqrés, pp ..
I IR- I 3): r iabilitar, de alguma forma, o senso comum e recon-
c' lillr-A m ele é (1) preocupação excelente) pois ensina a hu-
111 Idn(l n, studioso da ciência e tende a restabelecer a unidade
1I1 I I .tual m nível mais humano, no ponto em que o pensamento
1111 110m rm do. rua se articula com o do filósofo; mas (2)preocupa-
': to (( litro lado perigosa) pois o senso comum não é homogêneo
.', \('11I lúvld, boa parte do progresso da ciência foi feita contra
l'lc "
, ,,(0 ,'11I ,'I()(';('(lade e diTeito
«, Não vivemos sós, eis a primeira verificação que se nos
impõe, Sem irmos ao exagero de DUGUIT,para quem o. homem
isolado é uma ficção - "o homem é social ou não é cousa alguma",
- basta-nos recordar a palavra de AmsTóTELES (pp. 5-6), verda-
deiro lugar-comum das ciências morais: o homem é um animal
político ou cívico, zoon politikon) "mais social que as abelhas e
outros anímais' que vivem juntos"
Os autores' costumam discutir a questão de saber se Robinson
não seria esse homem isolado, que viria contrariar a observação do
filósofo, e há mesmo alguns, como LASKI, que se referem ao caso
de São Simão Estilita, que vivia no alto de uma coluna. ENGELS
chega a desculpar-se perante o leitor por ter de insistir sobre o
caso de Robinson e Sexta-Feira, "história que pertence ao jardim
da infância, e não à ciência"
De fato, poucos personagens testemunham tão vivamente a
sociabilidade natural do homem quanto Robinson. Os destroços
do navio em que naufragou gritavam a presença da cooperação e
da convivência entre os homens, sem as quais o homem não se
pode realizar. Navio é construção, é obra de homens. O estaleiro
r aliza um grupo social bem característico: o da indústria, onde
processos de coordenação e subordinação se desenvolvem ao nível
da observação mais superficial. E a espada de que se serviu o
11 rói romanesco para colocar o selvagem a seu serviço não "brotou
do uma árvore", como observa ainda ENGELS (pp. 9-12), para
(11 smentír a tese de DÜHRING,segundo a qual está na violência a
odg' m da sociedade. Quanto aS. Simão, a própria coluna em
CHIJ cimo praticava o ascetismo era obra humana e as palavras
111I I iradas e inspiradoras que lançava do alto não se dirigiam
no lementos naturais, mas a homens capazes de lhe receber
01; n inamentos.
,I 111 unotações anteriores patenteiam o nexo íntimo entre
I 1111111' V d/l, humana e o direito, fácil é verificar que vida humana)
"111 • 1\ " (I, principalmente vida-em-sociedade. Não é preciso
'1"111111111111' lU' /I, nnális para ver que a atividade de cada um de
IIII I I 1I1 111,1111. I.' grada, mod lada pelo direito. De manhã à noite,
IlIdll '111I111111 I'/I:I;(mos stá sob o signo de regras que, se perma-
llt 1111 , 1111 111 I I. ud nd s r tais, obrigatórias, assumem teor
li. li I li rulu 111 nã qu ira v r a specificidade do fato social
11 I I t 111' 1 dl\ um, r ti. xt ri r x rcida sobr o indivíduo,
I! I c'.'I11I1 dudo d XJl t'i ncln doi qu b m m nstram s r m
b . ARISTÓTELESvê no dom da palavra a razão de ser da nota
ial definidora do homem. Os outros animais são suceptíveis,
ap nas, de experimentar e de exprimir, através de sons inarticula-
dos, sensações agradáveis ou desagradáveis: "Nós, porém, continua,
posauimos al~o mais; senão o conhecimento desenvolvido, pelo
m nos todo o sentimento obscuro do bem e do mal, do útil e do
pr judicial, do justo e do injusto, objetos para cuja manifestação
fi foi dado o órgão da palavra".
'-, poí , em virtud d sua própria natureza racional que o homem
}l d a vi m o i da
I"
Nã nos parece, pois, que o argumento de ARISTÓTELES se
111I I i apenas em razões biológicas, como .insinua RECASENS SICHES
(flfI, 6-7), mas concordamos com este autor em que, ainda que
10 c p ssível encontrar-se um homem isolado, que não se houvesse
1I1111\ifl omunicado com nenhum outro, a análise da "estrutura e
;111 funções de sua vida" nos poria perante a necessidade de
1I1t'I\1Hr referências a um seu semelhante, a um próximo, porque
"o 110m m é essencialmente um sujeito que pode e tem que per-
11111.111', comunicar, amar, pedir", donde ser o social "ingrediente
1'11 'htl necessário" de nossa existência.
(1, O "comércio da palavra" a que alude ARISTÓTELES é bem
/I I ual da presença, na sociedade, de certas regras de conduta,
II/d,r' as quais as do direito. Pela intercomunicação tecem-se laços
Ill1tl' os homens. Alguns, de mera coordenação: os homens trocam
C'lltl' si bens, auxílios mútuos, sentimentos, idéias, compram e
vond rn, unem-se e se atritam, atacam-se e se defendem. Outros,
dI' aubordinação : filhos obedecem aos pais, dirigidos a dirigentes,
nuhordiuados a chefes. Outros, a um tempo, de coordenação e
ubordinação. E todas essas interações se exercem dentro de limites
d ~I , ajustam-se a modelos, são comandados' por determinadas
I'(·grn .
le a regras impostas à conduta dos homens enquanto mem-
hros da sociedade são a primeira manifestação, realmente espon-
1 ,11 u, d dir ito. Eis por que é dentro da sociedade, na tessitura
1111 vldu s cial, que se encontra o fenômeno jurídico. Não há
1'011'10 scapar às velhas fórmulas que já aparecem na obra dos que
fi' m Ir t ntaram a sistematização da ciência jurídica, tal como
11 VI'III'I'llnd CHRISTIANUS THOMASIUS (1665-1728), que escrevia:
li /I,' '/1'11, .'II)('iclate) jus no11.est" - não há direito fora da sociedade,
111'1'1 C'CIILnlld : "in. omni societate jus esi" - o direito aparece
• 111 t lido g n r de sociedade.
oc' c'llc)j'(m há que vão ao extremo de não admitir outra visão
IjUI 11 o \( .111, a visão puramente social do direito. Este seria
I I 11 1111 1It1 loolnl, exclusivamente isto. Com eles repetiríamos, de
IlIlIlI , rrulu, () nforísmo latino "ubi societas, ibi jus", mas inserindo
1 "I, I' 111,111 H,O h, m m qu , vivendo em sociedade, não se modela
Itll 1/('" IIh\ 11/ I.tt 80'1 dado, mas pode, pela força 'do espírito,
1111111 jl 1/1 11 IC 11 H rvl , poí não p rt nce à sociedade s gundo
loelo o I I/ '11', 1 r f 'idamo a sim, a fórmula de um jusfilósofo,
111/1 I 11111111 "I malA ata: Ubi h mo ibi soei ta '; ubi ,<; ci to»
/1 ~II , 1'11/11, 1/,1 L nomo, ihi j1'8" ( IId há h m m, há a ci adc:
1111111 Ic 1 lI(' 1111,,1111, hr, () dlrolto : !OI,O, ond: o h m m, Hí dir lt ).
Fenômeno humano, o direito apresenta-se como fenômeno social,
pois na vida social se revela, sendo que o homem é, por natureza,
/I nimal político.
P gras do fazer e regras do agir
3. Mas essa primeira noção do direito-regra de conduta do
11 mem na sociedade não o diferencia ainda de outras múltiplas
1'(gras, modelos, quadros, a que se submete nossa atividade, no
I -gime normal de convivência.
Agir é para o homem, de certo modo, limitar-se ou autolími-
t.ar-se , A observação da maneira como se movem as coisas, na
realidade exterior, mostra-nos que há seres que recebem de outros
/ ou movimento, são os chamados seres inanimados (uma pedra,
por exemplo, a. cair ou que é lançada) ; outros que se movem a si
mesmos, mas com regularidade fatal, determínísticamente, ao im-
pulso de regras invioláveis (as plantas, os animais irracionais, por
ixcmplo, que, mesmo entre os que atingem a mais alta escala zoo-
lógica, são incapazes de criar normas para a sua própria conduta),
homem, este, é criador de regras ou de normas de ação. Daí por
que sua atividade se apresenta limitada, modelada, situada em
quadros sociais mais ou menos rígidos.
Deixemos de parte as regras que visam antes ao fazer que
n agir. As primeiras convém o nome de normas técnicas -
1\11 inam-nos a fazer alguma coisa. As regras do agir é que inte-
1'1'11 um ao mundo do direito. Chamam-se éticas) pois nos movem
1I1pl smente à ação, não para condicionar meios de fazer algo
I \.lIrlor ao homem - um objeto de uso, uma peça de arte - mas
II/LI'IL omandar a própria vida do homem. Estas regras ou normas
I "'w morais) em sentido estrito, se visam à perfeição do homem,
euquanto mesmo que homem. Assumem, por outro lado, as feições
mn diversas, quando põem em relevo a dimensão social do homem,
I vão desde as normas de mera cortesia naturais ou adquiridas até
na que estabelecem uma dada linha de conduta inter-humana mais
ou menos imposta à observância geral.
praticamente impossível a descrição de todas as espéciesde normas sociais a que se submetem os homens. Reduzâmo-las
t quatro e chamemos-lhes modas, usos e costumes, conuençô H
'/,nlnt-gru/pai.q dir uo .
I)
N li' esquema de trabalho poderá ser figurado assim:
{
técnicas
{
morais
orrm H de conduta: _. { moda (foT:kways)
éticas . usos e costumes
. . sociais convenções íntra-grupaís
direito.
'ri oras sociais
4. Consideremos, para começar, as regras de verificação mais
11('0( HAivI - as sociais.
as quisermos escalonar, do ângulo da ação externa que
\I ítam, podemos verificar que elas:
a) se impõem ao homem com maior ou menor fôrça de
obriqaioriedade, sendo, sob outro aspecto,
b) mais ou menos contínuas,
o) mais ou menos socializadas, donde a submissão das pes-
soas a elas variar- em intensidade e permanência,
â) P rmitindo ou não a interferência, da açõo individual
na sua criação, modificação ou extinção.
I, N seu comportamento social, o, homem é submetido às
• 11 'llL da moda. Vestimo-nos, por exemplo, segundo um padrão
11\ v vor, mais estandardizado aqui do que ali, sempre, contudo,
11111dI (l( ndo a uma certa "linha" Nem é só na maneira de vestir-se
qUI I muní]' sta o poder normativo da moda. A maneira de ali-
1111111111' I I "d repousar, a de divertir-se, horários de refeição,
d, "'11 hntho, práticas de esportes dominantes em determinados
111 11.. I 1 Ulohl mos, gírias, hábitos da mais diversa natureza, tudo
11 iludI (Il 1', ígualm nte, sob o império da moda. Esta corres-
"lIl1d' I 11 I 11111 do IlS) ctos daquilo a que o sociólogo americano
WII,I,1 M (h/AliAM MM1lJR chama "folkways" A moda varia no
JlI "I 110 I ( mJ? • ll'lt um jeito do comportar-se no meio rural,
fi li' 11 11 ,,1tI I mo m UA nos m 10s citadinos. A descoberta, em
11ft 11 11111'1111110, dl f'ol lI( 11. ías antiga bem nos demonstra como
• I 111' 11 dI moth I ) volúv 1 . qualqu r j ito, não afron-
II 10 u. socí dad c m cxotismos xagerados. O professor pod ria
I:ompllr r à aula DI trajes do século XVII, mas suscitaria, no
mínímo, o riso dos alunos. Estes, .por sua vez, ainda que ínsensí-
vnlm int , submetem-se' a modelos de certa uniformidade.
Note-se, entretanto, que a obrigação de seguir a. moda não
( impõe de maneira absoluta; é, ao contrário, bastante relativa. I
Não há .muíto, certo arquiteto e pintor paulista .ínventou um mo-
eI 10' de vestir-se que sugeriu fosse adotado em nosso clima tro-
Jl cal. Sugeriu-o e experimentou-o. Ninguém o impediu de circular
IHllLS ruas da grande capital, de saiote, alpercatas e blusa ligeira-
trl nte feminina. Chegou mesmo a entrar em um cinema dos
maís exigentes em matéria de vestuário, pois vai ao ponto de
mpor aos homens que o frequentem o uso da gravata.
lI. Diverso é o caráter dos usos e costumes vigentes numa
ti terminada comunidade.· Considerados sob o tríplice aspecto da
obrigatoriedade, da .continuidade e da sociabilidade, situam-se em
grau superior ao da moda: Esta, aliás, pode ser considerada como
r 'ição superficial e transitória de um uso ou costume. A capacidade I
d modelar e de limitar a ação do homem, na sociedade, e, aqui,
muito maior. Os usos e costumes radicam-se profundamente na I
vida de convivência e inter-relação humana. Por eles se pode definir I
um povo: "Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso", diz
1\ sabedoria popular. Dificilmente o homem escapa à exigência dos
usos e costumes vigorantes em seu meio. Não só a sua atividade
n rmal, como o êxito de seus empreendimentos dependem em alto
grau de sua fidelidade a êles,
Ocorre, até, como se mostrará no estudo das fontes do direito,
que o costume assuma teor jurídico. Os us~· e costumes não se
transformam a não ser de um modo muito lento, passadas muitas
muitas gerações. Surgem na comunidade sem que se possa dizer
com precisão de onde e de quem. As próprias condições materiais
d meio, aspectos geográficos, climatéricos,além da educação, dos
s ntimentos religiosos, das técnicas de trabalho, etc., contribuem
para gerá-los . São, assim muitos mais socializados que as modas.
A ação individual tem escassíssíma eficácia sobre eles.
lU. Mantendo ainda o tríplíce critério de diferenciação que
sugerímos, o da obrigatoriedade, da continuidade e da sociabilidade,
parece-nos se deva distinguir, entre as' formas de. controle exer-
'ido sobre a atividade do homem, regrando-a as convenções intra-
-fl?'upctis, cuja nota específica estará na círcunstâncía de impor-se
IlOS indivíduos dentro dos grupos de menor extensão, mais ou
17
lu se, ele J> S ,c
'UROH, . prátl 'tU:! ou dto l' lígíos s
, AquI, "mai rigor aa a' brigatori dado, mais
mo d l' ras, quadros c modelos, cuja trans-
<l um ou mais indivíduos acarretaria a sua
111111 1I111'lO, /I. • m mo viol nta, do interior do grupo. As conven-
I tudo, ainda quando o pretendam, capacidade de
iu ontinuar, como os usos e costumes, e, embora dêem
1111 110 PII jo que as modas à interferência individual, comportam-
11' , /I 11' Ih m, podendo ser identificada a ação ordenadora ou
1101 11111( Vil cx rcida sobre elas por este ou aquele membro ou por
1011II 11(\1 lI(! d membros do grupo.
IV, D ntre todas as formas descritas de controle social (e
11 110 I"f rimos às mais aparentes, accessíveis à observação super-
I I' III ti spontãnea) o direito ocupa lugar privilegiado.
A,'i r 'yras de direito são caracterizadas por maior obriqatorie-
dI/til, 'P sla pretensão à permanência e à continuidade, - obtidas
I'mp.. que se conformam aos usos e costumes mais característicos
d l 'omunidade a que se impõem e, quanto à terceira nota, a da
,'111 (x,bilidade, evidencia-se, sobretudo, pelo aspecto impessoal t;l
1/I'j'nt do ,"J us mandatos, orâenamentos, proibições e punições.
Ant s de qualquer reflexão ou elaboração oientífíca, o senso
comum assinala a natureza das regras de direito, enquanto normas
di' conduta impostas ao homem vivendo em sociedade. A ocorrência
d., maior obrigatoriedade pode, por exemplo, fazer com que moda
1111 iostume adquiram a feição de direito. Os homens .usam cumpri-
runutar-se uns aos outros, quando se encontram; a maneira de
IIIZ -10 varia com a moda: antes havia o hábito de tirarem-se os
('" lp U , se '0 encontro era entre cavalheiros, ou beijarem-se os
1'11 l( H, se entre senhoras; hoje, o mais comum é um ligeiro aceno
di mü ou de cabeça, ou a simples emissão de um som qualquer,
"111110 I, ôi... Se porém, '0 encontro se faz entre militares, um
1111 r or, outro superior, o cumprimento - no caso a continência -
I dl'v do, ob pena de sanção, nem há como substituí-Io por outra
1111'11111, d aceno manual ou saudação oral. Sem dúvida, pode o
1111 11U ru ou a mulher vestir-se de infinitas maneiras. Não porém,
til p'OlIl () d praticar "ultrage público ao pudor", quando, então,
, 1111' t ob a cominação da lei penal.
li' /11 til! (U'roito: o bem comum
), stumes, usos, ritos e convenções recebem eventualmente
1" )(('(', o jurídica. Em todos esses afeiçoamentos das normas sociais
lfi
I, di!' Ito, bs rva-sc que a nota de jurisdicidade surge em função
(to acréscimo e acentuação da obrigatoriedade, da pretensão à per-
manência e da generalização. E por que tal acréscimo? Porque,
todas essas regras, modelos, quadros, desde as modas ao direito,
apresentam como pressões sociais ou como outras tantas limita-
('Õ s à atividade individual, nem por .isso deixam de visar, em
última análise, a um certo bem dos indivíduos e da sociedade.
O bem individual e o bem social não são contraditórios entre
i. Chocam-se, porém, numa espécie de tensão) da qual resultam
n prevalêncía e a 'preponderância ora de um, ora de outro. Claro
que as modas e as convenções, estas últimas no sentido especial
nsainalado acima, estão mais na linha do bem individual que do
m social. O· oposto ocorre com '0S usos e costumes e com o
direito. As regras, os modelos, os quadros que exprimem atitudes
costumeiras 'ou que aspiram a determinar ações e omissões de
ordem jurídica,mesmo quando servem de proteção a bens indivi-
duais, têm em mira o bem da convivência entre os membros da
H ciedade, ou o bem comum) que é tal não apenas por ser de todos,
mas porque deve reverter sobre 'ca'da um.
Será, pois, em virtude da atração do bem comum) cuja pro-
moção e guarda não podem ser deixadas ao arbítrio individual,
aue as regras, modelos e quadros do direito adquirem maior obri-
gatoríedade, permanência e sociabilidade, O bem comum é a medida
e o estímulo de tais afeiçoamentos. Eis como, ao simples exame
de fatos que se desenrolam no seio da sociedade, se patenteiam
algumas notas específicas da regra de direito.
LIVROS MENCIONADOS E PARA CONSULTA
AFTALION, Enrique R. - Critica deZ saber de los juristas, Ed. Arayú,
Buenos Aires, La Plata, 1951.
- CjFernando Garcia Olano e José Vilanova -- Introdu.cción al Derecho,
EI Ateneo, Buenos Aires, 1956, 2 vols.
ARISTóTELES -- La. Politique, trad . THUROT, Garnier,s/d.
BONNEC'ASE, Julien - Introductuni à l'étude du. Droit, Recueil Sirey, 1939.
DUGUIT. Léon - 1'1'IIité de Droit Oouetitutionnei, 3' ed. T. r. E, Boccard,
Paris, 1927, '
ENGELS Friedrich .._. Lc rôle de Ia vioZence dans Z'histoirc, trad . René
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JASPERS, Karl Lntroâuctuni à la PhiZosophie, trad. JEANNE HERSCH,
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