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A FORMAÇÃO DO PENSAMENTO OCIDENTAL - O PENSAMENTO CLÁSSICO

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CURSO: DIREITO 
1º SEMESTRE 
DISCIPLINA: HOMEM, CULTURA E SOCIEDADE. 
PROFA. MARIGILDA ANTÔNIO CUBA 
 
 
A FORMAÇÃO DO PENSAMENTO OCIDENTAL 
 
 
 
O pensamento clássico 
 
 
Os Sofistas 
 
 
Os filósofos gregos do período considerado socrático ou antropológico (séculos 
V a III a.C.) produziram as matrizes conceituais da filosofia na cultura ocidental. O 
grupo dos sofistas (Protágoras, Górgias, Crítias, Antifonte), a metafísica idealista de 
Platão e o realismo de Aristóteles construíram os primeiros alicerces teóricos da 
discussão filosófica. 
O primeiro momento tem início com os sofistas, mestres de retórica, que 
lançaram os debates em torno da lei, da justiça e da natureza. Atacados por Platão e 
Aristóteles, a tradição passou a considerá-los falsos sábios, ilusionistas do saber, 
mercenários e interesseiros. Um lento trabalho de reavaliação ocorrido nos últimos 
dois séculos tem reconhecido os méritos dos sofistas, o verdadeiro papel que 
desempenharam na construção da democracia ateniense. 
A palavra sofista deriva do grego sophistés, com o sentido original de 
habilidade específica em algum setor, ou homem que detém um determinado saber 
(do grego sóphos, «saber, sabedoria»). De início, vários profissionais eram «sofistas»: 
carpinteiros, charreteiros, oleiros e poetas. Quando o domínio de uma técnica era 
reconhecido por todos, o profissional era dito «sofista», desde as atividades artesanais 
aos trabalhos de criação artística. O termo era, portanto, um elogio. 
A partir do século V a.C. surgiram os professores itinerantes de gramática, 
eloquência e retórica, que ofereciam seus conhecimentos para educar os jovens na 
prática do debate público. A educação tradicional era insuficiente para preparar o 
cidadão para a discussão política. Era preciso o domínio da linguagem e de 
flexibilidade e agudeza dialética para derrotar os adversários. 
O êxito desses tutores foi extraordinário. Passaram a ser então designados de 
sofistas, sábios capazes de elaborar discursos fascinantes, com intenso poder de 
persuasão. Por outro lado, foram recebidos com hostilidade e desconfiança pelos 
partidários do antigo regime aristocrático e conservador. Quando Atenas se envolveu 
na guerra do Peloponeso, os sofistas foram responsabilizados pela decadência moral 
e política da cidade. O julgamento de Sócrates ocorreu neste clima de acusação e 
ressentimento. 
Nos séculos IV e III a.C., pensadores como Platão, Xenofonte e Aristóteles, 
dramaturgos como Aristófanes em sua comédia As Nuvens, todos passaram a atacar 
sistematicamente os sofistas. O termo adquire um sentido pejorativo e desfavorável, 
marcando para sempre o vocabulário filosófico: argumento sofístico ou sofisma é o 
mesmo que falso argumento ou argumento intencionalmente falacioso; de sofista 
deriva sofisticado, no sentido depreciativo de algo muito elaborado ou excessivamente 
ornado, embora vazio de conteúdo. 
 
Características gerais dos sofistas 
 
A primeira dificuldade em se falar dos sofistas em geral decorre do fato de não 
constituírem uma escola filosófica como os pitagóricos e os platônicos. Como veremos 
adiante, os sofistas seguem direções variadas e até mesmo opostas. Agrupá-los pelo 
que têm em comum, serve apenas para diferenciá-los dos filósofos anteriores, 
notadamente os pré-socráticos e suas preocupações com o mundo físico. 
Os sofistas marcam a passagem do período cosmológico para o período 
antropológico, centrado em questões linguísticas, gramaticais, epistemológicas e 
jurídicas. 
As características gerais dos sofistas são as seguintes: 
 
Relativismo – Tudo que existe é impermanente, mutável e plural. Tudo muda, as 
essências das coisas são variáveis e contingentes. 
Subjetivismo – Não existe verdade objetiva. As coisas são como aparecem a cada 
um. «O homem é a medida de todas as coisas.» (Protágoras) 
Ceticismo – Não podemos conhecer coisa alguma com certeza absoluta. O 
conhecimento humano é limitado às aparências. 
Indiferentismo moral e religioso – Se as coisas são como parecem a cada um, não 
há nada que seja bom ou mau em si mesmo, pois não existe uma norma 
transcendente de conduta. Em matéria de crença religiosa, devemos ser indiferentes, 
isto é, tanto faz acatar estes ou aqueles deuses. Alguns sofistas foram acusados, em 
consequência desta postura, de ateísmo. 
Convencionalismo jurídico – Acentuam a contraposição entre lei e natureza (nómos 
–phýsis). Não existem leis imutáveis, já que não possuem qualquer fundamento na 
natureza e nem foram estabelecida pelos deuses, mas são simples convenções dos 
homens para poderem viver em sociedade. 
Oportunismo político – Se não há nada justo e injusto em si mesmo, todos os meios 
são bons para se atingir os fins que cada um se propõe. O bom resultado justifica os 
meios empregados para consegui-lo. A eloquência é a arte da persuasão e pode ser 
empregada indistintamente para o bem e para o mal. 
Utilitarismo – Mais do que servir ao Estado, os sofistas ensinavam a empregar as 
habilidades retóricas a serviço dos interesses particulares, manipulando, se 
necessário, os sentimentos e as paixões. 
Frivolidade intelectual – Mais do que autênticos filósofos, os sofistas eram 
prestidigitadores intelectuais que encobriam o vazio do seu pensamento com uma 
«pirotecnia verbal» fascinante. Tinham uma confiança ilimitada no poder da palavra, 
na capacidade do discurso. 
Venalidade – Ao cobrarem por suas lições, os sofistas sofreram a crítica mais severa 
por parte dos atenienses, que não aceitavam fazer da atividade intelectual uma forma 
de negócio. Platão qualificava os sofistas de «mercadores ambulantes de guloseimas 
da alma». (Protágoras, 313c) 
Humanismo – Ao centrar seus interesses nos problemas humanos, os sofistas podem 
ser comparados aos humanistas da renascença (século XV), preocupados com os 
problemas práticos do homem político, da natureza humana inserida na polis e na vida 
do Estado. 
O que se percebe nesta caracterização? Apenas o último item é positivo, 
enquanto todo o restante é condenável. 
 
Condenação e reabilitação dos sofistas 
 
No diálogo Sofista, Platão mostra Sócrates a debater diversas definições para 
os sofistas: 
 caçador interesseiro de jovens ricos; 
 comerciante do ensino e das virtudes; 
 pequeno comerciante de mercadorias de primeira ou de segunda-mão; 
 mercenário da arte da erística, da contradição, do combate; 
 arte do simulacro, da ilusão. 
 
A erística é a arte de batalhar com palavras (logomaquia, para os gregos), ou 
seja, a arte de vencer nas discussões. Como se vê, Platão reduz o sofista á condição 
de comerciante do saber, mercenário do espírito, mero ilusionista sem conteúdo. 
Na peça As Nuvens, Aristófanes diz que o sofista possui a habilidade de 
pronunciar um discurso justo e um discurso injusto sobre o mesmo tema. No caso de 
um homicídio, por exemplo, o sofista poderia argumentar com igual brilhantismo como 
advogado de defesa e como promotor de acusação. 
Outro discípulo de Sócrates e contemporâneo de Platão, Xenofonte escreve 
nos Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates, que os sofistas eram comerciantes da 
sabedoria, e como tais comparáveis à venalidade da prostituição. E Aristóteles, na 
obra Argumentos Sofísticos, acusa os sofistas de «traficantes de uma sabedoria 
aparente, não real». (Arg. Sof., I, 165a). Como se não bastasse, ainda o mesmo 
Platão em diálogos como Ménon e Crátilo, dirige aos sofistas as mesmas denúncias 
de vendedores caros de uma ciência não real, mas aparente. 
Não se pode esquecer a origem aristocrática de Platão a Aristóteles. Este 
último era filho de um médico da corte de Felipe da Macedônia, tendo sob seu encargo 
a educação do filho do rei, o jovem Alexandre, posteriormente Alexandre Magno (O 
Grande). Acostumados a frequentar palácios e imersos numa cultura que despreza otrabalho manual, enxergaram apenas os aspectos venais e as habilidades verbais dos 
sofistas, como se fossem a ameaça contra o verdadeiro saber. 
 
Podemos reconhecer aos sofistas gregos os seguintes méritos: 
1- Iniciaram uma reflexão sistemática sobre os problemas humanos, ao invés das 
questões naturais e cosmológicas dos filósofos pré-socráticos; 
2- Aperfeiçoaram a dialética e a discussão crítica sobre as limitações e o valor do 
conhecimento; 
3- Destacaram o caráter diverso e relativo das leis, próprias de cada cidade, 
enfatizando a contraposição entre natureza (phýsis), lei (nómos) e pacto 
(thésis), em que se baseiam o direito natural e o direito positivo; 
4- Defenderam o conceito de natureza comum a todos os homens, o que serviu 
para fundamentar a lei de modo mais igualitário e universalista; 
5- Desenvolveram princípios educativos para o ensino de gramática e retórica; 
Protágoras considerava-se um mestre da sabedoria e da virtude política 
(politiké areté), formando os jovens para o debate público e o governo do 
Estado. O ideal sofístico de uma natureza humana que pode ser educada e 
constantemente aperfeiçoada deu início à ciência pedagógica e à formação 
humanista na antiguidade. 
 
Não é pouca coisa, mas não se iguala, sem dúvida alguma, às contribuições de 
Sócrates, Platão e Aristóteles. Ao menos seja reconhecida a influência positiva dos 
sofistas no debate jus filosófico: a defesa do naturalismo permite assentar o direito 
numa perspectiva mais cosmopolita e equânime. 
 
Protágoras (490-420a.C.) e Górgias (485-380a.C.) 
 
O mais eminente dos sofistas foi Protágoras, tratado com respeito por Platão 
no diálogo que leva seu nome. Atribui-se o primeiro estudo sistemático de gramática, 
distinguindo os gêneros masculino, feminino e neutro e as partes da oração em 
substantivo, adjetivo e verbo. Em retórica distinguiu as partes componentes do 
discurso: preâmbulo, disposição, exposição, discussão, refutação e conclusão. 
Ensinou durante quarenta anos e tornou-se muito rico, pois cobrava caro por suas 
lições. 
Protágoras defendia o relativismo do conhecimento, através do famoso dito «O 
homem é a medida de todas as coisas». Se não há uma razão ou um bem imutável, 
se todas as percepções são subjetivas, a habilidade retórica deve prevalecer para que 
meu argumento seja vencedor. A posição relativista conduz ao dilema da verdade e do 
discurso verdadeiro: vence a discussão quem tem razão ou tem razão quem vence a 
discussão? 
Górgias é famoso por seu niilismo exacerbado. Levando as teses relativistas ao 
extremo, nega a possibilidade de qualquer conhecimento, seja do espaço e do tempo, 
das coisas particulares ou mesmo do ser em geral. Conserva-se de Górgias os três 
princípios: a) Nada existe (o ser e o não-ser não existem); b) Se algo existisse, não 
poderia ser conhecido, ou seja, seria incompreensível para nós; c) Se algo existe e 
pode ser conhecido, não pode o conhecimento ser comunicado a alguém (este 
conhecimento seria totalmente subjetivo). 
É possível que as teses de Górgias fossem um exercício de retórica, para 
provocar os oponentes ou exercitar os alunos. Um jogo dialético para questionar as 
afirmações dogmáticas ou pretensamente absolutas de muitos filósofos. O fato é que 
ambos, Protágoras e Górgias, compartilham das mesmas teses céticas e reduzem o 
conhecimento ao jogo das aparências. 
Outros sofistas de destaque foram Hípias, Pródicos, Cálicles, Crítias e 
Antifonte. Chegaram até nós alguns fragmentos de suas obras e referências às suas 
façanhas de oratória. 
No que interessa à filosofia do direito, a contribuição dos sofistas foi questionar 
os valores éticos e jurídicos da polis ateniense, pondo em causa a forma de governo, 
combatendo a injustiça da economia escravista, embasando o direito natural a partir 
da ordem humana e não divina. Os sofistas forneceram os argumentos contra as 
distorções do direito positivo vigente nas diversas polis gregas. O indivíduo é o criador 
da cidade e vale sempre mais que a coisa criada: sua consciência, sua lei interior é 
mais valiosa que o decreto do democrata Péricles ou do tirano de Tebas. 
A crítica dos sofistas trouxe problemas. Com relação à escravidão, diziam: os 
deuses nos fizeram livres e a ninguém fez escravo. Ironizavam, na prática, a justiça da 
cidade, ensinando a quem quisesse pagar como vencer uma causa, 
independentemente da tese a ser defendida. Às leis decretadas pelo poder governante 
(nómos), opunham o conceito de uma natureza ou princípio natural (phýsis) presente 
no cosmo e no homem, assinalando, desse modo, a diferença entre as normas 
jurídicas convencionais e que quase sempre se identificam com os interesses do 
grupo mais forte. 
 
Para ilustrar o tema, um texto de Antifonte, O Sofista. 
 
Antifonte 
 
Antifonte de Atenas (480-411 a.C.) é uma figura controversa. Menciona-se na 
antiguidade um Antifonte famoso pela oratória e que teria sido o primeiro logógrafo, ou 
seja, o primeiro a escrever discursos sob encomenda. Do orador restam discursos 
importantes. Não se tem certeza se o orador e o sofista são os mesmos. Dúvidas 
históricas à parte, Antifonte, o Sofista, representa melhor que todos a contraposição 
entre a natureza (phýsis), na qual se baseia o direito natural, considerado inato e 
absoluto, e as leis da cidade (nómos), nas quais se apoia o direito positivo, puramente 
convencional e imposto pela força ou pela necessidade. 
A verdadeira justiça baseia-se na lei natural, que corresponde à verdade. As 
leis civis não passam de opinião. A separação em classes sociais é convenção social. 
Fomos todos feitos pela natureza do mesmo modo. Se a lei é apenas uma convenção, 
podemos transgredi-la, desde que ninguém o saiba. Mas não podemos transgredir de 
maneira alguma uma lei natural. Muitas leis e costumes não escritos são contrários à 
natureza, diz Antifonte, como honrar aos nascidos de berço nobre e desprezar os 
comuns. Todos os homens são iguais por natureza, sejam gregos ou bárbaros (não 
gregos). 
 
Leia-se a seguir trechos selecionados de A Verdade, de Antifonte: 
«Justiça é não transgredir as leis (nómos) da cidade, em que alguém é 
cidadão. Desse modo, um homem poderá melhor conduzir-se em harmonia com a 
justiça se na presença de testemunhas respeita as leis e, quando está só, sem 
testemunhas, respeita os decretos da natureza (phýsis). O que pertence às leis é 
imposto artificialmente, enquanto o que pertence à natureza é compulsório. Aquilo que 
se conforma às leis, se permanece oculto aos que estão de acordo com elas, escapa 
da vergonha e da punição; se não permanece oculto, não escapa; em contrapartida, 
se algo conatural à natureza (phýsis) é forçado, ultrapassando o que é possível, ainda 
que permaneça oculto a todos os homens, o mal não é menor, nem muito maior se 
todos o vêm, pois nesse caso não há transgressão segundo a aparência (doxa), mas 
segundo a verdade (alétheia)». 
«A maior parte do justo segundo a lei é contrário à natureza. Com efeito, está 
legislado – estabelecido por nómos – para os olhos o que devem e não devem ver; 
para os ouvidos, o que devem ou não devem ouvir; para a língua, o que devem ou não 
devem dizer; para os pés, onde devem ou não devem caminhar; para o ânimo, o que 
deve ou não deve desejar. As proibições da lei não estão em acordo com a natureza. 
(...) A vida pertence à natureza, assim como a morte; a vida deriva do que é 
proveitoso, a morte que é nociva.» 
«Respeitamos e veneramos os nascidos de pais nobres, mas não respeitamos 
nem veneramos os que não se originam de casa nobres. (...) Tratamo-nos uns aos 
outros como bárbaros, embora todos por natureza tenhamos nascidos iguais, bárbaros 
e gregos. E é permitido a todos os homens observar as leis da natureza, que são 
obrigatórias. (...) Todos nós respiramos pela boca e pelo nariz, e comemos com as 
mãos...» Temas para discussão 
a. Explique os diversos significados do termo sofista. Por que a consideração 
depreciativa em relação aos sofistas? De exemplos de profissões ou situações 
onde a retórica é importante. 
b. Natureza, Costumes e Lei: contraditórios ou complementares? 
 
 
Filosofia patrística (do século I ao século VII) 
 
Inicia-se com as Epístolas de Paulo e o Evangelho de João e termina no século 
VIII, quando teve início a Filosofia medieval. 
A patrística resultou do esforço feito pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e 
João) e pelos primeiros Padres da Igreja para conciliar a nova religião - o Cristianismo 
- com o pensamento filosófico dos gregos e romanos, pois somente com tal 
conciliação seria possível convencer os pagãos da nova verdade e convertê-los a ela. 
A Filosofia patrística liga-se, portanto, à tarefa religiosa da evangelização e à defesa 
da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que recebia dos antigos. 
Divide-se em patrística grega (ligada à Igreja de Bizâncio) e patrística latina 
(ligada à Igreja de Roma) e seus nomes mais importantes foram: Justino, Tertuliano, 
Atenágoras, Orígenes, Clemente, Eusébio, Santo Ambrósio, São Gregório Nazianzo, 
São João Crisóstomo, Isidoro de Sevilha, Santo Agostinho, Beda e Boécio. 
A patrística foi obrigada a introduzir ideias desconhecidas para os filósofos 
greco-romanos: a ideia de criação do mundo, de pecado original, de Deus como 
trindade una, de encarnação e morte de Deus, de juízo final ou de fim dos tempos e 
ressurreição dos mortos, etc. Precisou também explicar como o mal pode existir no 
mundo, já que tudo foi criado por Deus, que é pura perfeição e bondade. 
Introduziu, sobretudo com Santo Agostinho e Boécio, a ideia de “homem 
interior”, isto é, da consciência moral e do livre-arbítrio, pelo qual o homem se torna 
responsável pela existência do mal no mundo. 
Para impor as ideias cristãs, os Padres da Igreja as transformaram em 
verdades reveladas por Deus (através da Bíblia e dos santos) que, por serem decretos 
divinos, seriam dogmas, isto é, irrefutáveis e inquestionáveis. Com isso, surge uma 
distinção, desconhecida pelos antigos, entre verdades reveladas ou da fé e verdades 
da razão ou humanas, isto é, entre verdades sobrenaturais e verdades naturais, as 
primeiras introduzindo a noção de conhecimento recebido por uma graça divina, 
superior ao simples conhecimento racional. Dessa forma, o grande tema de toda a 
Filosofia patrística é o da possibilidade de conciliar razão e fé, e, a esse respeito, havia 
três posições principais: 
 
1. Os que julgavam fé e razão irreconciliáveis e a fé superior à razão (diziam eles: 
“Creio porque absurdo”). 
2. Os que julgavam fé e razão conciliáveis, mas subordinavam a razão à fé 
(diziam eles: “Creio para compreender”). 
3. Os que julgavam razão e fé irreconciliáveis, mas afirmavam que cada uma 
delas tem seu campo próprio de conhecimento e não devem misturar-se (a 
razão se refere a tudo o que concerne à vida temporal dos homens no mundo; 
a fé, a tudo o que se refere à salvação da alma e à vida eterna futura). 
 
O pensamento cristão medieval 
As Características Filosóficas do Cristianismo 
 
Não há propriamente uma história da filosofia cristã, assim como há uma 
história da filosofia grega ou da filosofia moderna, pois no pensamento cristão, o 
máximo valor, o interesse central, não é a filosofia, e sim a religião. Entretanto, se o 
cristianismo não se apresenta, de fato, como uma filosofia, uma doutrina, mas como 
uma religião, uma sabedoria, pressupõe uma específica concepção do mundo e da 
vida, pressupõe uma precisa solução do problema filosófico. É o teísmo e o 
cristianismo. O cristianismo fornece ainda uma - imprescindível - integração à filosofia, 
no tocante à solução do problema do mal, mediante os dogmas do pecado original e 
da redenção pela cruz. E, enfim, além de uma justificação histórica e doutrinal da 
revelação judaico-cristã em geral, o cristianismo implica uma determinação, 
elucidação, sistematização racional do próprio conteúdo sobrenatural da Revelação, 
mediante uma disciplina específica, que será a teologia dogmática. 
Pelo que diz respeito ao teísmo, salientamos que o cristianismo o deve, 
historicamente, a Israel. Mas entre os hebreus o teísmo não tem uma justificação, uma 
demonstração racional, como, por exemplo, em Aristóteles, de sorte que, em definitivo, 
o pensamento cristão tomará na grande tradição especulativa grega esta justificação e 
a filosofia em geral. Isto se realizará graças especialmente à Escolástica e, sobretudo, 
a Tomás de Aquino. Pelo que diz respeito à solução do problema do mal, solução que 
constitui a integração filosófica proporcionada pelo cristianismo ao pensamento antigo 
- que sentiu profundamente, dramaticamente, este problema sem o poder solucionar - 
frisamos que essa representa a grande originalidade teórica e prática, filosófica e 
moral, do cristianismo. Soluciona este o problema do mal precisamente mediante os 
dogmas fundamentais do pecado original e da redenção da cruz. Finalmente, a 
justificação da Revelação em geral, e a determinação, dilucidação, sistematização 
racional do conteúdo da mesma, têm uma importância indireta com respeito à filosofia, 
porquanto implicam sempre numa intervenção da razão. Foi esta, especialmente, a 
obra da Patrística e, sobretudo, de Agostinho. 
 
Esta parte, dedicada à história do pensamento cristão, será, portanto, dividida 
do seguinte modo: o Cristianismo, isto é, o pensamento do Novo Testamento, 
enquanto soluciona o problema filosófico do mal; a Patrística, a saber, o pensamento 
cristão desde o II ao VIII século, a que é devida particularmente a construção da 
teologia, da dogmática católica; a Escolástica, a saber, o pensamento cristão desde o 
século IX até o século XV, criadora da filosofia cristã verdadeira e própria. 
 
Características Gerais do Pensamento Cristão 
 
Foi conquistada a cidade que conquistou o universo. Assim definiu São 
Jerônimo o momento que marcaria a virada de uma época. Era a invasão de Roma 
pelos germanos e a queda do Império Romano. 
A avalancha dos bárbaros arrasou também grande parte das conquistas 
culturais do mundo antigo. 
A Idade Média inicia-se com a desorganização da vida política, econômica e 
social do Ocidente, agora transformado num mosaico de reinos bárbaros. Depois 
vieram as guerras, a fome e as grandes epidemias. O cristianismo propaga-se por 
diversos povos. A diminuição da atividade cultural transforma o homem comum num 
ser dominado por crenças e superstições. 
O período medieval não foi, porém, a "Idade das Trevas", como se acreditava. 
A filosofia clássica sobrevive, confinada nos mosteiros religiosos. O aristotelismo 
dissemina-se pelo Oriente bizantino, fazendo florescer os estudos filosóficos e as 
realizações científicas. No Ocidente, fundam-se as primeiras universidades, ocorre a 
fusão de elementos culturais greco-romanos, cristãos e germânicos, e as obras de 
Aristóteles são traduzidas para o latim. 
Sob a influência da Igreja, as especulações se concentram em questões 
filosófico-teológicas, tentando conciliar a fé e a razão. E é nesse esforço que Santo 
Agostinho e Santo Tomás de Aquino trazem à luz reflexões fundamentais para a 
história do pensamento cristão. 
 
A Filosofia Medieval e o Cristianismo 
 
Ao longo do século V d.C., o Império Romano do Ocidente sofreu ataques 
constantes dos povos bárbaros. Do confronto desses povos invasores com a 
civilização romana decadente desenvolveu-se uma nova estruturação européia de vida 
social, política e econômica, que corresponde ao período medieval. 
Em meio ao esfacelamento do Império Romano, decorrente, em grande parte, 
das invasões germânicas, a Igreja católica conseguiu manter-se como instituição 
social mais organizada. Ela consolidousua estrutura religiosa e difundiu o cristianismo 
entre os povos bárbaros, preservando muitos elementos da cultura pagã greco-
romana. 
Apoiada em sua crescente influência religiosa, a Igreja passou a exercer 
importante papel político na sociedade medieval. Desempenhou, por exemplo, a 
função de órgão supranacional, conciliador das elites dominantes, contornando os 
problemas da fragmentação política e das rivalidades internas da nobreza feudal. 
Conquistou, também, vasta riqueza material: tornou-se dona de aproximadamente um 
terço das áreas cultiváveis da Europa ocidental, numa época em que a terra era a 
principal base de riqueza. Assim, pôde estender seu manto de poder "universalista" 
sobre diferentes regiões européias. 
 
Conflitos e Conciliação entre a Fé e Saber 
 
No plano cultural, a Igreja exerceu amplo domínio, trançando um quadro 
intelectual em que a fé cristã era o pressuposto fundamental de toda sabedoria 
humana. 
Em que consistia essa fé? 
Consistia na crença irrestrita ou na adesão incondicional às verdades reveladas 
por Deus aos homens. Verdades expressas nas Sagradas Escrituras (Bíblia) e 
devidamente interpretadas segundo a autoridade da Igreja. 
"A Bíblia era tão preciosa que recebia as mais ricas encadernações”. 
De acordo com a doutrina católica, a fé representava a fonte mais elevada das 
verdades reveladas - especialmente aquelas verdades essenciais ao homem e que 
dizem respeito à sua salvação. Neste sentido, afirmava Santo Ambrósio (340-397, 
aproximadamente): Toda verdade, dita por quem quer que seja, é do Espírito Santo. 
Assim, toda investigação filosófica ou científica não poderia, de modo algum, 
contrariar as verdades estabelecidas pela fé católica. Segundo essa orientação, os 
filósofos não precisavam se dedicar à busca da verdade, pois ela já havia sido 
revelada por Deus aos homens. Restava-lhes, apenas, demonstrar racionalmente as 
verdades da fé. 
Não foram poucos, porém, aqueles que dispensaram até mesmo essa 
comprovação racional da fé. Eram os religiosos que desprezavam a filosofia grega, 
sobretudo porque viam nessa forma pagã de pensamento uma porta aberta para o 
pecado, a dúvida, o descaminho e a heresia (doutrina contrária ao estabelecido pela 
Igreja, em termos de fé). 
Por outro lado, surgiram pensadores cristãos que defendiam o conhecimento 
da filosofia grega, na medida em que sentiam a possibilidade de utilizá-la como 
instrumento a serviço do cristianismo. Conciliado com a fé cristã, o estudo da filosofia 
grega permitiria à Igreja enfrentar os descrentes e demolir os hereges com as armas 
racionais da argumentação lógica. O objetivo era convencer os descrentes, tento 
quanto possível, pela razão, para depois fazê-los aceitar a imensidão dos mistérios 
divinos, somente acessíveis à fé. 
Entre os grandes nomes da filosofia católica medieval destacam-se Agostinho 
e Tomás de Aquino. Eles foram os responsáveis pelo resgate cristão das filosofias de 
Platão e de Aristóteles, respectivamente. 
"Tomai cuidado para que ninguém vos escravize por vãs e enganadoras 
especulações da "filosofia", segundo a tradição dos homens, segundo os elementos 
do mundo, e não segundo Cristo." (São Paulo). 
 
Patrística: "A fé em busca de argumentos racionais a partir de uma matriz 
platônica" 
 
Desde que surgiu o cristianismo, tornou-se necessário explicar seus 
ensinamentos às autoridades romanas e ao povo em geral. Mesmo com o 
estabelecimento e a consolidação da doutrina cristã, a Igreja católica sabia que esses 
preceitos não podiam simplesmente ser impostos pela força. Eles tinham de ser 
apresentados de maneira convincente, mediante um trabalho de conquista espiritual. 
Foi assim que os primeiros Padres da Igreja se empenharam na elaboração de 
inúmeros textos sobre a fé e a revelação cristãs. O conjunto desses textos ficou 
conhecido como patrística por terem sido escritos principalmente pelos grandes 
Padres da Igreja. 
Uma das principais correntes da filosofia patrística, inspirada na filosofia greco-
romana, tentou munir a fé de argumentos racionais. Esse projeto de conciliação entre 
o cristianismo e o pensamento pagão teve como principal expoente o Padre 
Agostinho. 
"Compreender para crer, crer para compreender". (Santo Agostinho) 
 
Escolástica: "Os caminhos de inspiração aristotélica levam até Deus". 
 
No século VIII, Carlos Magno resolveu organizar o ensino por todo o seu 
império e fundar escolas ligadas às instituições católicas. A cultura greco-romana, 
guardada nos mosteiros até então, voltou a ser divulgada, passando a Ter uma 
influência mais marcante nas reflexões da época. Era a renascença carolíngia. 
Tendo a educação romana como modelo, começaram a ser ensinadas as 
seguintes matérias: gramática, retórica e dialética (o trivium) e geometria, aritmética, 
astronomia e música (o quadrivium). Todas elas estavam, no entanto, submetidas à 
teologia. 
A fundação dessas escolas e das primeiras universidades do século XI fez 
surgir uma produção filosófico-teológica denominada escolástica (de escola). 
A partir do século XIII, o aristotelismo penetrou de forma profunda no 
pensamento escolástico, marcando-o definitivamente. Isso se deveu à descoberta de 
muitas obras de Aristóteles, descobertas até então, e à tradução para o latim de 
algumas delas, diretamente do grego. 
A busca da harmonização entre a fé cristã e a razão manteve-se, no entanto, 
como problema básico de especulação filosófica. Nesse sentido, o período escolástico 
pode ser dividido em três fases: 
 Primeira fase - (do século IX ao fim do século XII): caracterizada pela 
confiança na perfeita harmonia entre fé e razão. 
 Segunda fase - (do século XIII ao princípio do século XIV): caracterizada 
pela elaboração de grandes sistemas filosóficos, merecendo destaques nas 
obras de Tomás de Aquino. Nesta fase, considera-se que a harmonização 
entre fé e razão pôde ser parcialmente obtida. 
 Terceira fase - (do século XIV até o século XVI): decadência da escolástica, 
caracterizada pela afirmação das diferenças fundamentais entre fé e razão. 
 
A Questão dos Universais: o que há entre as palavras e as coisas 
 
O método escolástico de investigação, segundo o historiador francês Jacques 
Le Goff, privilegiava o estudo da linguagem (o trivium) para depois passar para o 
exame das coisas (o quadrivium). Desse modo surgiu a seguinte pergunta: qual a 
relação entre as palavras e as coisas? 
Rosa, por exemplo, é o nome de uma flor. Quando a flor morre, a palavra rosa 
continua existindo. Nesse caso, a palavra fala de uma coisa inexistente, de uma idéia 
geral. Mas como isso acontece? O grande inspirador da questão foi o inspirador 
neoplatônico Porfírio, em sua obra Isagoge : "Não tentarei enunciar se os 
gêneros e as espécies existem por si mesmos ou na pura inteligência, 
nem, no caso de subsistirem, se são corpóreos ou incorpóreos, nem se 
existem separados dos objetos sensíveis ou nestes objetos, formando 
parte dos mesmos". 
Esse problema filosófico gerou muitas disputas. Era a grande discussão sobre 
a existência ou não das ideias gerais , isto é, os chamados universais de 
Aristóteles. 
 
 
Filosofia medieval (do século VIII ao século XIV) 
 
Abrange pensadores europeus, árabes e judeus. É o período em que a Igreja 
Romana dominava a Europa, ungia e coroava reis, organizava Cruzadas à Terra 
Santa e criava, à volta das catedrais, as primeiras universidades ou escolas. E, a partir 
do século XII, por ter sido ensinada nas escolas, a Filosofia medieval também é 
conhecida com o nome de Escolástica. 
A Filosofia medieval teve como influências principais Platão e Aristóteles, 
embora o Platão que os medievais conhecessem fosse o neoplatônico (vindo da 
Filosofia de Plotino, do século VI d.C.), e o Aristóteles que conhecessem fosse aquele 
conservadoe traduzido pelos árabes, particularmente Avicena e Averróis. 
Conservando e discutindo os mesmos problemas que a patrística, a Filosofia 
medieval acrescentou outros - particularmente um conhecido com o nome de 
Problema dos Universais - e, a além de Platão e Aristóteles, sofreu uma grande 
influência das ideias de Santo Agostinho. Durante esse período surge propriamente a 
Filosofia cristã, que é, na verdade, a teologia. Um de seus temas mais constantes são 
as provas da existência de Deus e da alma, isto é, demonstrações racionais da 
existência do infinito criador e do espírito humano imortal. 
A diferença e separação entre infinito (Deus) e finito (homem, mundo), a 
diferença entre razão e fé (a primeira deve subordinar-se à segunda), a diferença e 
separação entre corpo (matéria) e alma (espírito), O Universo como uma hierarquia de 
seres, onde os superiores dominam e governam os inferiores (Deus, arcanjos, anjos, 
alma, corpo, animais, vegetais, minerais), a subordinação do poder temporal dos reis e 
barões ao poder espiritual de papas e bispos: eis os grandes temas da Filosofia 
medieval. 
Outra característica marcante da Escolástica foi o método por ela inventado 
para expor as ideias filosóficas, conhecida como disputa: apresentava-se uma tese e 
esta d devia ser ou refutada ou defendida por argumentos tirados da Bíblia, de 
Aristóteles, de Platão ou de outros Padres da Igreja. 
Assim, uma ideia era considerada uma tese verdadeira ou falsa dependendo 
da força e da qualidade dos argumentos encontrados nos vários autores. Por causa 
desse método de disputa - teses, refutações, defesas, respostas, conclusões 
baseadas em escritos de outros autores -, costuma-se dizer que, na Idade Média, o 
pensamento estava subordinado ao princípio da autoridade, isto é, uma ideia é 
considerada verdadeira se for baseada nos argumentos de uma autoridade 
reconhecida (Bíblia, Platão, Aristóteles, um papa, um santo). 
Os teólogos medievais mais importantes foram: Abelardo, Duns Scoto, Escoto 
Erígena, Santo Anselmo, Santo Tomás de Aquino, Santo Alberto Magno, Guilherme de 
Ockham, Roger Bacon, São Boaventura. Do lado árabe: Avicena, Averróis, Alfarabi e 
Algazáli. Do lado judaico: Maimônides, Nahmanides, Yeudah bem Levi. 
 
Filosofia da Renascença (do século XIV ao século XVI) 
 
É marcada pela descoberta de obras de Platão desconhecidas na Idade Média, 
de novas obras de Aristóteles, bem como pela recuperação das obras dos grandes 
autores e artistas gregos e romanos. 
São três as grandes linhas de pensamento que predominavam na Renascença: 
 
1. Aquela proveniente de Platão, do neoplatonismo e da descoberta dos livros do 
Hermetismo; nela se destacava a ideia da Natureza como um grande ser vivo; 
o homem faz parte da Natureza como um microcosmo (como espelho do 
Universo inteiro) e pode agir sobre ela através da magia natural, da alquimia e 
da astrologia, pois o mundo é constituído por vínculos e ligações secretas (a 
simpatia) entre as coisas; o homem pode, também, conhecer esses vínculos e 
criar outros, como um deus. 
2. Aquela originária dos pensadores florentinos, que valorizava a vida ativa, isto é, 
a política, e defendia os ideais republicanos das cidades italianas contra o 
Império Romano-Germânico, isto é, contra o poderio dos papas e dos 
imperadores. Na defesa do ideal republicano, os escritores resgataram autores 
políticos da Antiguidade, historiadores e juristas, e propuseram a “imitação dos 
antigos” ou o renascimento da liberdade política, anterior ao surgimento do 
império eclesiástico. 
3. Aquela que propunha o ideal do homem como artífice de seu próprio destino, 
tanto através dos conhecimentos (astrologia, magia, alquimia), quanto através 
da política (o ideal republicano), das técnicas (medicina, arquitetura, 
engenharia, navegação) e das artes (pintura, escultura, literatura, teatro). 
 
A efervescência teórica e prática foi alimentada com as grandes descobertas 
marítimas, que garantiam ao homem o conhecimento de novos mares, novos céus, 
novas terras e novas gentes, permitindo-lhe ter uma visão crítica de sua própria 
sociedade. Essa efervescência cultural e política levou a críticas profundas à Igreja 
Romana, culminando na Reforma Protestante, baseada na ideia de liberdade de 
crença e de pensamento. À Reforma a Igreja respondeu com a Contrarreforma e com 
o recrudescimento do poder da Inquisição. 
 
O pensamento moderno 
Nesse período há grande interesse pelas ciências que se relacionam com a 
ideia de evolução e, por isso, a biologia terá um lugar central no pensamento ilustrado, 
pertencendo ao campo da filosofia da vida. Há igualmente g grande interesse e 
preocupação com as artes, na medida em que elas são as expressões por excelência 
do grau de progresso de uma civilização. 
Data também desse período o interesse pela compreensão das bases 
econômicas da vida social e política, surgindo uma reflexão sobre a origem e a forma 
das riquezas das nações, com uma controvérsia sobre a importância maior ou menor 
da agricultura e do comércio, controvérsia que se exprime em duas correntes do 
pensamento econômico: a corrente fisiocrata (a agricultura é a fonte principal das 
riquezas) e a mercantilista (o comércio é a fonte principal da riqueza das nações). 
Os principais pensadores do período foram: Hume, Voltaire, D’Alembert, 
Diderot, Rousseau, Kant, Fichte e Schelling (embora este último costume ser colocado 
como filósofo do Romantismo). 
A realidade é um sistema de causalidades racionais rigorosas que podem ser 
conhecidas e transformadas pelo homem. Nasce a ideia de experimentação e de 
tecnologia (conhecimento teórico que orienta as intervenções práticas) e o ideal de 
que o homem poderá dominar tecnicamente a Natureza e a sociedade. 
Predomina, assim, nesse período, a ideia de conquista científica e técnica de 
toda a realidade, a partir da explicação mecânica e matemática do Universo e da 
invenção das máquinas, graças às experiências físicas e químicas. 
Existe também a convicção de que a razão humana é capaz de conhecer a 
origem, as causas e os efeitos das paixões e das emoções e, pela vontade orientada 
pelo intelecto, é capaz de governá-las e dominá-las, de sorte que a vida ética pode ser 
plenamente racional. 
A mesma convicção orienta o racionalismo político, isto é, a ideia de que a 
razão é capaz de definir para cada sociedade qual o melhor regime político e como 
mantê-lo racionalmente. 
Nunca mais, na história da Filosofia, haverá igual confiança nas capacidades e 
nos poderes da razão humana como houve no Grande Racionalismo Clássico. Os 
principais pensadores desse período foram: Francis Bacon, Descartes, Galileu, 
Pascal, Hobbes, Espinosa, Leibniz, Malebranche, Locke, Berkeley, Newton, Gassendi. 
Filosofia da Ilustração ou Iluminismo (meados do século XVIII ao começo do 
século XIX). Esse período também crê nos poderes da razão, chamada de As Luzes 
(por isso, o nome Iluminismo). O Iluminismo afirma que: 
 Pela razão, o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade social e 
política (a Filosofia da Ilustração foi decisiva para as ideias da Revolução 
Francesa de 1789); 
 a razão é capaz de evolução e progresso, e o homem é um ser perfectível. A 
perfectibilidade consiste em liberar-se dos preconceitos religiosos, sociais e 
morais, em libertar-se da superstição e do medo, graças as conhecimento, às 
ciências, às artes e à moral; 
 o aperfeiçoamento da razão se realiza pelo progresso das civilizações, que vão 
das mais atrasadas (também chamadas de “primitivas” ou “selvagens ”) às 
mais adiantadas e perfeitas (as da Europa Ocidental); 
 há diferença entre Natureza e civilização, isto é, a Natureza é o reino das 
relações necessárias de causa e efeito ou das leis naturais universais e 
imutáveis, enquanto a civilização é o reino da liberdadee da finalidade 
proposta pela vontade livre dos próprios homens, em seu aperfeiçoamento 
moral, técnico e político. 
 
 
REFERÊNCIA: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. Unidade I, cap. 2, “Mito e Filosofia”. Ática: 
São Paulo, 2000, p.

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