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Antropologia – estudo dirigido Material de disciplina ZUCON, Ota vio; BRAGA, Geslline. Introdução às culturas populares no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013 Vídeoaulas 1 a 6 Rotas de Aprendizagem 1 a 6 Neste breve resumo, destacamos a importa ncia para seus estudos de alguns temas diretamente relacionados ao contexto trabalhado nesta disciplina. Os temas sugeridos abrangem o conteu do programa tico da sua disciplina nesta fase e lhe proporcionara o maior fixaça o de tais assuntos, consequentemente, melhor preparo para o sistema avaliativo adotado pelo Grupo Uninter. Esse e apenas um material complementar, que juntamente com a Rota de Aprendizagem completa (livro-base, videoaulas e material vinculado) das aulas compo em o referencial teo rico que ira embasar o seu aprendizado. Utilize-os da melhor maneira possí vel. Bons estudos! Atença o! Esse material e para uso exclusivo dos estudantes da Uninter, e na o deve ser publicado ou compartilhado em redes sociais, reposito rios de textos acade micos ou grupos de mensagens. O seu compartilhamento infringe as polí ticas do Centro Universita rio UNINTER e podera implicar em sanço es disciplinares, com possibilidade de desligamento do quadro de alunos do Centro Universita rio, bem como responder aço es judiciais no a mbito cí vel e criminal. Sumário Tema: Conceito de Cultura ................................................................................................................................................ 4 Tema: Evolucionismo e Etnocentrismo e Relativismo Cultural ..................................................................................... 6 Tema: Cultura de Massas e Cultura Popular .................................................................................................................... 9 Tema: Globalizaça o, Mundializaça o e Cultura ............................................................................................................... 10 Tema: Patrimo nio imaterial ............................................................................................................................................ 12 Tema: Religiosidade e Tradiça o ...................................................................................................................................... 15 Tema: Mitos, lendas e o folclore brasileiro .................................................................................................................... 17 Tema: Folkcomunicaça o, Mu sica e Identidade .............................................................................................................. 20 Tema: Conhecimento Popular e Regionalismo .............................................................................................................. 23 Tema: Conceito de Cultura E comum sermos levados a crer que europeus ou norte-americanos sa o mais “desenvolvidos” que no s, brasileiros, tanto em termos econo micos quanto culturais. Esse tipo de concepça o deriva, em boa parte, de uma compreensa o do social baseada fundamentalmente no desenvolvimento material. Assim, regio es ou paí ses considerados economicamente pobres acabam por ser entendidos como culturalmente pobres. No entanto, segundo a Antropologia, a “cultura” define- se como um conjunto de saberes, comportamentos, crenças e costumes adquiridos e transmitidos por um processo coletivo de aprendizagem. Sendo assim, povos que na o possuem escrita ou que na o apresentam padro es de organizaça o econo mica como a dos paí ses industrializados ocidentais, tambe m seriam produtores de “cultura”, segundo a definiça o antropolo gica. Julgar uma sociedade a partir de para metros oriundos de outro agrupamento social e o que os antropo logos chamam de “etnocentrismo”. --- Para alguns autores, a ana lise das sociedades humanas em sua diversidade pode tambe m enfocar as relaço es entre antropologia e histo ria. Um estudo cla ssico nessa direça o e Casa Grande e Senzala, livro escrito por Gilberto Freyre em 1933. Esse autor, ao tentar compreender a formaça o da sociedade brasileira, analisou o processo de colonizaça o de nosso paí s, problematizando as relaço es entre culturas indí genas, europeias e africanas – e as heranças resultantes dessa mistura – a luz das abordagens histo rica e antropolo gica. Nesse sentido, a cultura estabeleceria ví nculos com a dina mica das sociedades, com base em suas transformaço es no tempo e nos contatos com o outro. A cultura de um povo sofre alteraço es ao longo do tempo por conta, de um lado, dos contatos com outras populaço es (seus ha bitos e crenças) e, de outro, dos pro prios processos internos de mudança econo mica ou polí tica que afetam os valores daquela sociedade. Assim, o contato entre europeus, indí genas e africanos, durante o processo de colonizaça o brasileiro, gerou alteraço es nas culturas origina rias desses grupos, com trocas de saberes e pra ticas, produzindo, dessa forma, uma cultura propriamente brasileira, com elementos em constante troca e transformaça o. --- “E difí cil definirmos cultura de modo u nico, visto que esta abrange diversas acepço es. Em linhas gerais, podemos definir esse termo como o conjunto de saberes, comportamentos, crenças e costumes adquiridos e transmitidos por um processo coletivo de aprendizagem”. Existem inu meras formas de desenvolvimento do conhecimento, uma delas e o conhecimento popular, a cultura popular, que se desenvolve no cotidiano das pessoas, passa de geraça o em geraça o e permanece em muitas famí lias como costumes enraizados na rotina, que caminham com muitos outros conhecimentos adquiridos ao longo dos anos. Na o e possí vel afirmar que a medicina popular invalida a medicina tradicional, e possí vel observar que no Brasil as duas formas de tratamento para enfermidades caminham juntas. A utilizaça o de diversos sistemas de conhecimento e muito comum na cultura brasileira. Por exemplo para tratar um resfriado e comum que muitos brasileiros optem por tomar diversos tipos diferentes de cha , ou de xaropes e produtos de medicina popular ao mesmo tempo que tambe m optam por tratar da enfermidade com reme dios da medicina tradicional. --- E comum sermos levados a crer que europeus ou norte-americanos sa o mais “desenvolvidos” que no s, brasileiros, tanto em termos econo micos quanto culturais. Esse tipo de concepça o deriva, em boa parte, de uma compreensa o do social baseada fundamentalmente no desenvolvimento material. Assim, regio es ou paí ses considerados economicamente pobres acabam por ser entendidos como culturalmente pobres. Esse entendimento equivocado costuma desconsiderar que aqueles indiví duos que na o sabem ler ou escrever, por exemplo, tambe m te m sua pro pria cultura. Uma das mais importantes misso es da antropologia e desfazer esse tipo de perspectiva, levando-nos a compreender que qualquer indiví duo ou grupamento humano e , antes de tudo, cultural. Outro desdobramento fundamental dos estudos antropolo gicos e permitir-nos observar que a cultura e um dos principais elementos de diferenciaça o das sociedades, ou seja, cada grupo apresenta uma dina mica interna – maneiras de pensar, fazer e interpretar o mundo a sua volta – que e compartilhada entre seus membros e com outros grupos. ZUCON, O.; BRAGA, G. G. Introdução às Culturas Populares do Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 12, capí tulo 1, adaptado. Tema: Evolucionismo e Etnocentrismo e Relativismo Cultural Esse tipo de concepça o prevaleceu nos meios cientí ficos e no imagina rio social ate o iní cio do se culo XX, ganhando força tambe m pela influencia das teorias deterministas, como o Evolucionismo, segundo as quais a humanidade, apesar de u nica, apresentava escalas diferentes de "evoluça o". As populaço es anteriormente consideradas "selvagens" passariam ao estatuto de "primitivas", o que significava dizer que representariam uma fase anterior do desenvolvimento cultural da espe cie humana, como se ainda na o tivessem passado ao estado de "civilizados". O paradigma evolucionista, muito popular ate o iní cio do se culo XX, foi em grande parte abandonado pela Antropologia atual por conta de seu cara ter etnoce ntrico, ou seja, por conta da desconsideraça o das particularidades sociais e culturais de cada povo e sociedade. Ao conceber a histo ria como um “caminho u nico”, o evolucionismo hierarquiza as culturas de acordo com a proximidade destas em relaça o ao ideal de “progresso” dos paí ses industriais, deixando de lado as noço es particulares que cada sociedade possui a respeito do que significa “progredir”. --- A partir da virada do se culo XIX para o XX, o evolucionismo passou a ser mais sistematicamente contestado, ocorrendo uma transformaça o tanto nas concepço es quanto nos me todos de trabalho dos antropo logos. Com essa transformaça o, um elemento essencial se colocava em pauta: para compreender outras culturas, e preciso vivencia -las de maneira direta, ou seja, entrar em contato com os grupos sociais que se pretende estudar. Com base nessa premissa, surgiu o que se chama ate hoje de pesquisa de campo. A pesquisa de campo permite romper com teorias demasiadamente etnoce ntricas, como o evolucionismo, ao frisar a necessidade de que o pesquisador se insira fisicamente entre os membros do grupo pesquisado, a fim de captar a lo gica interna e contextual daquela cultura e de utilizar os pro prios referenciais “nativos”, como mitos e rituais, em suas descriço es. O produto final da pesquisa de campo deve ser um retrato, portanto, da singularidade das culturas, e na o o estabelecimento de hierarquias entre elas, como fazia o evolucionismo ate o iní cio do se culo XX. --- Estudar uma sociedade e penetrar num mundo que, se, de um lado, pode parecer familiar, de outro, pode ser muito diferente. Outra definiça o que nos estimula a pensar nessa direça o nos e dada pela antropo loga Ruth Benedict, ao propor que a cultura e “uma lente atrave s da qual o homem ve o mundo”. Uma das caracterí sticas universais das sociedades humanas e o “etnocentrismo”, ou seja, o fato de julgarmos os fatos do mundo natural ou social a partir de crite rios culturais pro prios e especí ficos a nossa cultura. Isso faz com que os ha bitos, pra ticas e valores alheios sejam vistos como algo “exo tico” ou radicalmente “diferente” dos nossos. O estranhamento e , assim, um produto do etnocentrismo, ou seja, de enxergarmos o mundo atrave s da “lente” de nossa cultura. --- O Etnocentrismo po e como central a forma como um indiví duo ve o mundo e e com base nessa perspectiva que esse indiví duo julga e enxerga as demais culturas. Isso cria conflitos e distanciamentos entre pessoas, grupos e classes sociais e faz com que determinados grupos se considerem "melhores" e se sintam no direito de menosprezar o outro. Por exemplo, a noça o de progresso e elaborada com base em referenciais que estabelecem um ponto a que todos os povos deveriam chegar, em termos de desenvolvimento econo mico e intelectual. A noça o de “progresso” pode ser considerada uma noça o etnoce ntrica por ser definida em funça o dos valores, ha bitos e pra ticas das sociedades industriais do mundo ocidental, como Estados Unidos e Europa, por exemplo. Sendo aplicada a contextos sociais diversos, essa definiça o acaba por hierarquizar as diversas culturas quanto ao grau de proximidade em relaça o ao ideal de “progresso” estabelecido por aquelas sociedades. O resultado final desse processo e a classificaça o – etnoce ntrica – de alguns paí ses como “desenvolvidos” e de outros, como “subdesenvolvidos”, desconsiderando as particularidades sociais e culturais de cada um. --- Existem no Brasil dezenas de matrizes religiosas (catolicismo, protestantismo, espiritismo, islamismo, budismo, umbandismo, entre inu meras outras) e, apesar de a concepça o geral das religio es prever a existe ncia de um Deus, essa "força superior" e compreendida de maneiras diversas, e cada matriz religiosa relaciona-se ritualmente tambe m de va rias formas. Contudo, na o e incomum encontrarmos pessoas que valorizam sua religia o e menosprezam ou criticam as outras, sem, no entanto, conhece -las na pra tica. Etnocentrismo significa a tende ncia que temos a julgar o outro segundo os nossos pro prios para metros culturais, quer dizer, os para metros do grupo social ao qual pertencemos e em que fomos socializados. A atitude destacada no trecho da questa o ilustra essa tende ncia etnocentrista no confronto com experie ncias religiosas alheias: norteado pelos valores de sua pro pria religia o e desconhecendo em grande parte a lo gica interna das religio es de outros grupos, o indiví duo sente-se compelido a menospreza -las ou critica -las, pois as julga segundo crite rios que lhes sa o externos. A antropologia, como “cie ncia da alteridade”, colabora para o entendimento das culturas como singularidades dotadas de lo gica pro pria, a qual so se pode chegar a compreender por meio de um processo de observaça o participante e do exercí cio de uma atitude relativista, tanto diante da cultura alheia quanto da pro pria. --- A maneira como pensamos e desenvolvemos nossas pra ticas cotidianas na o e fruto de processos biolo gicos, mas sim socioculturais. Assim como a lí ngua que começamos a falar quando ainda somos bebe s, nossas atitudes diante das situaço es mais corriqueiras tambe m sa o parte do nosso entorno social. O trecho citado chama a atença o para o cara ter social de nossas atitudes diante do mundo, ou seja, como os nossos valores sa o aprendidos em um processo de socializaça o. Sendo aprendidos e relativos a um grupo social especí fico, esses valores mudam com o tempo e de acordo com cada sociedade. O relativismo cultural parte desse reconhecimento: o de que a cultura e um produto da histo ria de uma dada sociedade, possuindo, portanto, uma lo gica pro pria, que so pode ser compreendida por meio do conví vio direto com os membros daquele grupo. Julgar um grupo a partir de valores culturais que lhes sa o estranhos seria, assim, incorrer em etnocentrismo, a atitude oposta ao relativismo cultural. --- Com o desenvolvimento das pesquisas de campo, a antropologia ficou conhecida como a Cie ncia da Alteridade por excele ncia. Alteridade significa colocar-se no lugar do outro e, assim, compreende -lo em suas particularidades; e ver a si mesmo e compreender determinados aspectos de sua pro pria cultura como u nicos. Assim, ao deixar de lado o etnocentrismo das teorias evolucionistas, o pesquisador deve se esforçar para entender a natureza, a dina mica, os porque s das sociedades, sem avalia -las ou julga -las por seus pro prios referenciais. Alteridade e uma postura oposta a quela do evolucionismo e dos diversos tipos de etnocentrismo. Significa na o apenas colocar-se no lugar do outro, apreendendo a lo gica de suas aço es e valores, mas tambe m a relativizaça o da pro pria cultura do pesquisador, que na o podera , segundo essa perspectiva, ser usada como medida ou para metro para o julgamento das culturas alheias. Significa, dessa forma, enxergar que toda cultura possui uma singularidade irredutí vel, que so pode ser acessada caso se abra ma o de uma postura etnoce ntrica ou evolucionista. --- Uma das principais caracterí sticas do pensamento antropolo gico e a sua tende ncia ao relativismo cultural, ou seja, a “entender o outro apartir de sua pro pria o ptica, ver sob o ponto de vista do outro, tentando entender suas nuances e sutilezas culturais”. O relativismo cultural e a tentativa de compreender o ponto de vista de um indiví duo ou grupo pertencentes a outra cultura, levando em conta a histo ria e o contexto em que esta o inseridos. Significa, portanto, neutralizar a tende ncia ao etnocentrismo, ou seja, a tende ncia a julgar as culturas alheias – seus ha bitos e prefere ncias – a partir de crite rios que lhes sa o exteriores. Tema: Cultura de Massas e Cultura Popular Conforme o historiador Roger Chartier [...], a cultura popular e uma categoria erudita. Ao estudar a cultura da Europa Ocidental dos se culos XVII e XVIII, o autor localiza um processo social de repressa o a cultura popular promovido pelas elites e pela Igreja, no sentido do enaltecimento de valores considerados “civilizados”. A expressa o “cultura popular” foi inventada pelas elites europeias, a fim de desvalorizar os ha bitos e pra ticas culturais do “povo” e de diferencia -los da “cultura erudita”, ou seja, dos valores e ha bitos da pro pria elite. Nasce assim, a partir do etnocentrismo dos estratos sociais dominantes, a oposiça o persistente entre a “alta cultura” e a “baixa cultura”: a primeira, erudita e civilizada, e a segunda, tida como popular e inculta. --- Apesar de as inter-relaço es culturais entre povos ocorrerem ha mile nios, nos u ltimos 200 anos – e mais violentamente a partir do se culo XX –, o cada vez mais acelerado processo de industrializaça o trouxe significativas conseque ncias. O desenvolvimento de produtos e meios de difusa o de massa propiciou a certos paí ses mais avançados em termos materiais e tecnolo gicos a disseminaça o em escala mundial dos elementos de sua pro pria cultura e o contato com outras. Esse interca mbio tem evoluí do e acompanhado o desenvolvimento, principalmente nas u ltimas de cadas, de meios como telefone, ra dio, cinema, televisa o e internet, entre outras formas modernas de comunicaça o, que penetram cada vez mais fortemente no cotidiano das comunidades, ate mesmo daquelas mais distantes e isoladas geograficamente. Uma das principais caracterí sticas do mundo globalizado (ou mundializado, segundo alguns autores) e a troca constante de refere ncias e valores culturais entre diferentes povos e regio es do globo. Nesse processo de troca, as culturas populares tradicionais acabam defrontando-se com um novo tipo de produça o cultural, aquela das sociedades de massa, propagada pelos meios contempora neos de comunicaça o, como a televisa o e a Internet. A cultura de massas refere-se a produça o em larga escala de bens culturais e a difusa o destes pelos meios contempora neos de comunicaça o, como a televisa o e a Internet. Diferentemente das chamadas “culturas populares”, cujas caracterí sticas ligam-se ao ritmo e a organizaça o social de uma dada comunidade e apresentam um cara ter enraizado e cí clico, a chamada “cultura de massas” destaca-se pela rapidez de seu ritmo, pela busca constante da novidade, pela espetacularizaça o e por ser voltada principalmente ao consumo em grande escala. --- Em "(...) uma festividade de cara ter ritual como o tambor de crioula, comum no Maranha o, em que ha a unia o de mu sica (taro bom e cantos) e dança (realizada so por mulheres), pode haver ladainhas, atestando a caracterí stica religiosa dessa manifestaça o. No interior de uma comunidade na qual a realizaça o dessa festividade faz parte de um ritual local, esta na o tera o mesmo sentido simbo lico quando realizada em um audito rio de um centro urbano, para um pu blico alheio a tal tradiça o, apesar de as estruturas formais serem muito semelhantes”. (ZUCON, Ota vio; BRAGA, Geslline. Introduça o a s culturas populares no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 68.) Bosi (2002, p. 11) estabelece uma diferenciaça o fundamental entre a cultura de massas e a popular ao afirmar que a u ltima, diferente da primeira, possui tempo cí clico e enraizamento; assim, mante m relaço es com a e poca da colheita, com o tempo das mare s, os perí odos de trabalho e o o cio e conserva os ví nculos com seus realizadores. Em geral as manifestaço es culturais populares conectam-se aos feno menos ligados a s comunidades em que ocorrem, respeitando as dina micas como as funço es sociais que cumprem e o tempo e a maneira como morrem. Tema: Globalização, Mundialização e Cultura O termo globalizaça o, de acordo com alguns autores, refere-se a um processo que ocorre ao menos desde as chamadas Grandes Navegaço es, a partir dos se culos XV-XVI, quando foram dinamizadas as condiço es de surgimento do capitalismo e estreitados os contatos entre os povos em termos mundiais. Desde enta o, as complexas interaço es econo micas, sociais e culturais passaram, cada vez mais intensamente, a transformar o perfil das populaço es, assinalando um contexto de interca mbios de proporço es ine ditas, que propiciou, de forma cada vez mais estreita, a comunicaça o e a conexa o entre regio es e povos de diversas partes do mundo. Ortiz diferencia os termos global e mundial, tomando o primeiro para referir-se aos processas econo micos e tecnolo gicos e o segundo para a ana lise da cultura. Na o nos interessa abordar diretamente os aspectos econo micos – apesar da importa ncia que as atividades de produça o, distribuiça o e consumo de bens e serviços - articulados internacionalmente – te m no a mbito da cultura. Para Ortiz (2000), o termo mundializaça o nos traz a perspectiva de interpretar os contatos globais como feno menos que nem sa o homoge neos nem tendem a tornar o mundo culturalmente semelhante. As transformaço es decorrentes da intercomunicaça o planeta ria, em processo cada vez mais intenso, propiciam um grande conjunto de mudanças. Os indiví duos, as comunidades e os povos, a medida que tomam contato com o "outro”, podem vir a adaptar suas refere ncias culturais de acordo com novos desejos ou novas necessidades. Por exemplo, urna festa popular normalmente restrita a pro pria comunidade que a produz começa a atrair o movimento de turistas, e e comum que algumas caracterí sticas de sua realizaça o possam se adaptar ao gosto desses espectadores. --- A globalizaça o (ou mundializaça o) intensificou as trocas econo micas e culturais entre diferentes paí ses e povos, agora mais facilmente conectados por conta do advento dos meios de comunicaça o de massa e do incremento dos meios de transporte. Esse processo permitiu que as diferentes culturas (locais, regionais ou nacionais) fossem mais facilmente divulgadas ao redor do mundo, gerando um aumento dos contatos com valores e ha bitos distintos e obrigando a uma redefiniça o constante das identidades culturais no mundo contempora neo. Assim, alguns paí ses te m conseguido difundir em escala global o seu estilo de vida e suas produço es culturais, alterando, por essa via, culturas muitas vezes bastante distantes. Estas, por sua vez, na o recebem essa cultura massificada de maneira passiva, mas sim adaptando-a a um novo contexto e a novas necessidades e interesses. A constante difusa o e adaptaça o de produtos e ha bitos culturais e , assim, a grande marca do mundo globalizado. --- Stuart Hall chama a atença o para o tema da mundializaça o, utilizando como exemplos a difusa o de valores culturais ocidentais entre as sociedades asia ticas, assim como a ressignificaça o de elementos culturais tradicionais, como a culina ria indiana, apo s a sua inserça o em uma cultura de massa: as pessoas que moram em aldeias pequenas, aparentemente remotas, em paí ses pobres, do "Terceiro Mundo", podem receber, na privacidade de suas casas, as mensagens e imagens das culturas ricas, consumistas, do Ocidente, fornecidas atrave s de aparelhos de TV ou de ra diosporta teis, que as prendem a "aldeia global" das novas redes de comunicaça o. Jeans e abrigos — o "uniforme" do jovem da cultura juvenil ocidental — sa o ta o onipresentes no sudeste da A sia quanto na Europa ou nos Estados Unidos, na o so devido ao crescimento da mercantilizaça o em escala mundial da imagem do jovem consumidor, mas porque, com freque ncia, esses itens esta o sendo realmente produzidos em Taiwan ou em Hong Kong ou na Core ia do Sul, para as lojas finas de Nova York, Los Angeles, Londres ou Roma. E difí cil pensar na "comida indiana" como algo caracterí stico das tradiço es e tnicas do subcontinente asia tico quando ha um restaurante indiano no centro de cada cidade da Gra -Bretanha. --- Os indiví duos, as comunidades e os povos, a medida que entram em contato com o outro, podem vir a adaptar a suas refere ncias culturais de acordo com novos desejos ou novas necessidades. Apesar desse contato acontecer a mile nios, essas relaço es interculturais te m crescido apo s a industrializaça o, o que trouxe significativas conseque ncias como o desenvolvimento de produtos e meios de difusa o de massa como telefone, ra dio, cinema, televisa o, internet e proporcionou aos paí ses desenvolvidos a disseminaça o dos seus elementos culturais em escala mundial. Desta forma, as identidades culturais te m passado por transformaço es em funça o das influe ncias externas e chegam por meio de cabos e antenas. Tema: Patrimônio imaterial “O aceleramento dos processos de industrializaça o, urbanizaça o e modernizaça o dos meios de comunicaça o – em todas as suas implicaço es transformadoras das culturas – demandou atença o cada vez maior de pesquisadores e o rga os governamentais para com a preservaça o das manifestaço es culturais, particularmente as tradicionais, aquelas que se acreditava estarem desaparecendo”. (ZUCON, Ota vio; BRAGA, Geslline. Introduça o a s culturas populares no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 76) Patrimo nio Imaterial e o patrimo nio cultural que abrange as manifestaço es culturais de tudo o que e considerado folclore, com a preocupaça o de manter-se o registro de todas essas manifestaço es para que na o ocorra a extinça o das pra ticas tradicionais. Existem va rios me todos para documentar e preservar os elementos das culturas populares, no Brasil a maneira escolhida para a preservaça o do patrimo nio imaterial e via polí tica pu blica. Existe uma instituiça o de ní vel nacional chamada Instituto do Patrimo nio Histo rico e Artí stico Nacional (Iphan) para trabalhar com o patrimo nio imaterial, e paralelamente foram criados leis e o rga os estaduais e municipais que atendem ao propo sito. --- Apesar de as leis e de as instituiço es voltadas a pesquisa das manifestaço es culturais brasileiras — sobretudo nas primeiras de cadas de existe ncia — assinalarem uma forte valorizaça o do patrimo nio material edificado, espe cie de refere ncia simbo lica de uma memo ria das elites, houve tambe m um fomento das manifestaço es na o materiais, que guardou estrita ligaça o com as identidades culturais — regionais e brasileira — cuja fonte principal era o popular. Desta forma, o “patrimo nio cultural imaterial” refere-se aos saberes, festividades e calenda rios, lugares e formas de expressa o que compo em a memo ria coletiva de uma dada populaça o, mas que na o necessariamente esta o materializados em objetos concretos ou edificaço es. Uma dada forma de preparaça o de alimentos ou um estilo de dança e canto, quando tradicionais e passados de geraça o a geraça o, por exemplo, podem compor esse tipo de “patrimo nio intangí vel” que os institutos de preservaça o cultural buscam proteger. --- Em 2004, surgiu o Departamento do Patrimo nio Imaterial do Iphan, criado com o intuito de fazer valer um aspecto considerado historicamente caracterí stico da cultura brasileira: a diversidade. Esse departamento, ao qual se subordinou o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP), que existe desde 1958, te m incumbe ncias que levam em conta questo es antropolo gicas e sociais, como o "respeito a diversidade cultural do Brasil", a "valorizaça o da diferença" e a “ampliaça o do acesso ao patrimo nio cultural como direito de cidadania e base para o desenvolvimento sustenta vel do paí s" (Iphan, 2006, p. 14). Com a intensificaça o das trocas econo micas e culturais promovidas pela globalizaça o (ou mundializaça o, segundo alguns autores) e da consequente difusa o em larga escala de produtos culturais oriundos dos paí ses economicamente dominantes, tornou-se uma preocupaça o do Estado brasileiro preservar elementos da memo ria coletiva de nossas populaço es, como os saberes pra ticos, as formas de expressa o e as festividades tí picas, elementos esses que compo em o chamado “patrimo nio cultural imaterial” do paí s e que colaboram para a manutença o de nossa diversidade. --- “A Organizaça o das Naço es Unidas para a Educaça o, a Cie ncia e a Cultura nasceu no dia 16 de novembro de 1945. A missa o da UNESCO consiste em contribuir para a construça o de uma cultura da paz, para a erradicaça o da pobreza, para o desenvolvimento sustenta vel e para o dia logo intercultural, por meio da educaça o, das cie ncias, da cultura e da comunicaça o e informaça o”. (ORGANIZAÇA O DAS NAÇO ES UNIDAS. UNESCO. Unesco: o que e ? O que faz?. Disponí vel em <http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001887/188700por.pdf>. Acesso em 19.10.2017.) A UNESCO, na primeira metade do se culo XX, considera o folclore como um ponto chave da diversidade cultural, fruto da preocupaça o do desaparecimento dessa diversidade em raza o da globalizaça o e da mundializaça o. O folclore seria uma ferramenta de diversidade cultural e transforma a cultura em uma categoria polí tica. A relaça o da UNESCO com a diversidade cultural foi uma resposta a Alemanha Nazista, totalizante e excludente do diferente, com a promoça o de ferramentas de polí tica patrimonial. --- “Mestres sa o considerados ‘tesouros humanos vivos’”, reconhecidos como tais pela UNESCO. A transmissa o oral de saberes significa que a memo ria na o existe no passado, mas que ela existe porque ela e uma reinterpretaça o do passado no tempo presente. Geralmente quando se faz inventa rio do passado se busca quem dete m o conhecimento oral vivido do bem. Essas pessoas sa o chamadas de “mestres”. O passado, assim, passa a ser a reconstruça o do passado nos dias de hoje, tornando o bem imaterial algo mo vel, pore m preservados de suas caracterí sticas. --- O tombamento e o ato administrativo de registrar um determinado patrimo nio como “especial” pelo Estado, dotando-o de proteça o especí fica pela legislaça o pro pria. Ou seja, o Estado interve m na propriedade privada sob o argumento de necessidade de preservaça o por motivos histo ricos, sociais, culturais ou mesmo cientí ficos. Quando um patrimo nio e tombado, ele esta representando a histo ria sob o olhar de uma populaça o ou de uma parcela especí fica da populaça o de um paí s – que e a perspectiva da elite. Quando vemos um conjunto arquiteto nico desse nos dias atuais reparamos na sua beleza e na sua amplitude. E quando valorizamos esse espaço esquecemos das relaço es por tra s / implí citas nesse patrimo nio: as relaço es de exploraça o e ate mesmo de possí vel escravida o que sa o apagadas quando o patrimo nio e preservado. --- O Instituto do Patrimo nio Histo rico e Artí stico Nacional Brasileiro (IPHAN) e autarquia federal vinculada ao Ministe rio da Cultura, e sua funça o e a de preservar o patrimo nio nacional, com vistas a proteça o e a promoça o dos bens culturais para as presentes e futuras geraço es. Em 1937 surgiu uma instituiça o de ní vel nacional batizada inicialmente como Serviçodo Patrimo nio Histo rico Nacional (Sphan), atual Instituto do Patrimo nio Histo ricos Artí stico Nacional (IPHAN). No contexto da polí tica nacionalista da Era Vargas, esse o rga o foi um importante elo entre a perspectiva de desenvolvimento econo mico e industrial do paí s, em “direça o ao futuro” e um “olhar atento” a importa ncia das refere ncias histo ricas nacionais, expressas nos monumentos edificados e nas manifestaço es culturais e folclo ricas. Paralelamente, foram criados leis e o rga os estaduais e municipais, em moldes semelhantes, que atendem, ao mesmo tempo, a construça o de uma memo ria nacional e regional, congregada a interesses polí ticos locais. O Instituto na o se preocupou inicialmente, quando de sua criaça o em 1937, com a cultura popular. Sua preocupaça o restringia-se a preservaça o de edifí cios histo ricos e obras eruditas. --- “Acredita-se que ta o importantes quanto as aço es de preservaça o e fomento das manifestaço es de cara ter imaterial sejam as iniciativas de visibilizaça o e conscientizaça o pu blica da importa ncia desse tipo de patrimo nio, sendo, de fato, imprescindí veis. A continuidade necessita tanto de seus realizadores quanto de um reconhecimento perante a sociedade sobre sua riqueza e releva ncia”. (ZUCON, Ota vio; BRAGA, Geslline. Introduça o a s culturas populares no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 84.) Um campo de atuaça o da a rea de patrimo nio, que faz uma ponte entre as manifestaço es culturais e os processos educativos, e a chamada educaça o patrimonial. Com base no envolvimento de educadores dos diversos ní veis, alunos, instituiço es de pesquisa e/ou visitaça o e comunidade, e possí vel desenvolver uma enorme quantidade de projetos. A utilizaça o de ví deos, as visitas de campo, as oficinas envolvendo mestres e a pro pria atividade de pesquisa podem ser ferramentas de conhecimento para todas as idades. Tema: Religiosidade e Tradição “(...) os cultos e os ritos das religiosidades populares brasileiras caracterizam-se, de maneira acentuada, por formos diretas de mediaça o com o sagrado e pelo desejo de interferir na realidade de maneira ma gica, com a pretensa o de melhorar / promover a vida terrena de alguma maneira”. (ZUCON, Ota vio; BRAGA, Geslline. Introduça o a s culturas populares no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 116.) No Brasil, religiosidade e sabedoria populares muitas vezes se confundem, pois sa o comuns os ritos e os cultos que te m por finalidade a cura do corpo fisico. Simpatias, retas, benzeduras, ervas e unguentos sa o de uso corrente, fazendo parte de nosso dia a dia. De ta o usuais que sa o, nem sempre sa o conotados e muitas vezes passam despercebidas de seu contexto original e da origem na religiosidade popular. Esse "tocar" entre religiosidade e saber popular poderia simplesmente ser aplicado pala onipresença do catolicismo portugue s e pela forte presença ma gico-religiosa africana e indí gena. --- “O tra nsito religioso talvez seja a caracterí stica mais comum das religiosidades populares”. (ZUCON, Ota vio; BRAGA, Geslline. Introduça o a s culturas populares no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 118) De acordo com Hall, uma das caracterí sticas da modernidade tardia - perí odo no qual estamos inseridos - a fragmentaça o das identidades, ou seja, a possibilidade de podermos exercer diferentes identidades, supostamente antago nicas, ao mesmo tempo. Como exemplo, podemos citar uma pessoa professada cato lica, que, nos momentos de problemas de sau de ou financeiros pode buscar ajuda em outras religio es, coma o espiritismo, que diverge do catolicismo em seus dogmas. Assim, o tra nsito religioso pode ser apenas uma possibilidade para a fragmentaça o da identidade, mas inscreve-se no cotidiano de maneira que possamos notar o quanto as religiosidades populares sa o marcadas por certo afrouxamento de seus limites. --- “Na perspectiva da histo ria e da antropologia, a noça o de tradiça o difere da assumida pelo senso comum ao se constatar que as tradiço es esta o em transformaça o”. (ZUCON, Ota vio; BRAGA, Geslline. Introduça o a s culturas populares no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 112.) Os historiadores Eric Hobsbawm e Terence Ranger utilizaram o termo "invença o da tradiça o", para salientar que em alguns momentos essas tradiço es foram estabelecidas ou impulsionadas para criar coesa o ou reforçar sentimento de identidade em grupos sociais. Em oposiça o ao conceito de invença o da tradiça o o antropo logo Sahlins usa o termo inversa o da tradiça o para destacar que as tradiço es na o sa o simplesmente inventadas, mas, sim, sa o sempre reforçadas por meio de uma refere ncia ja existente. A 'inversa o' e uma forma de resiste ncia cultural e de afirmaça o da identidade cultural. --- “Artesa o e a pessoa que faz a ma o objetos de uso frequente na comunidade. Seu aparecimento foi resultado de pressa o da necessidade sobre a intelige ncia aliada ao poder de inovar, possibilitando tambe m ligar o passado ao presente, mediante a linguagem; possibilitou as geraço es mais novas receber das mais velhas, suas te cnicas e demais experie ncias acumuladas”. (Disponí vel em <http://www.eba.ufmg.br/alunos/kurtnavigator/arteartesanato/artesanato.html>. Acesso em 19.10.2017). Diferentes autores ponderam que ha dois crite rios para pensar essa diferenciaça o: o primeiro afirma na arte o predomí nio da forma sobre a funça o, ao contra rio do artesanato, supostamente mais ligado a utilidade; ja a segunda parte do crite rio de que o artesanato e feito em se rie, ainda que artesanalmente, enquanto a arte produz obras u nicas, na o repetitivas. --- Num passado relativamente recente, antes de os bens industrializados invadirem a penetrarem boa parte da vida cotidiana, as pessoas eram obrigadas a construir muitos de seus artefatos: cestos, facas, panelas, redes de pesa, roupas etc. Malinowski (1978) afirma que nas sociedades sem manufaturas a feitura dos objetos os personalizava ao ma ximo, a ponto de os roubos quase na o existirem, pois, se algue m fosse apanhado com algo que na o lhe pertencesse, prontamente seria identificado em virtude das particularidades do objeto. As moradias tambe m eram feitas pelas ma os do pro prio dono, com a mate ria prima disponí vel na regia o, atendendo a s necessidades clima ticas e respeitando os referenciais culturais e as condiço es socioecono micas do indiví duo, da famí lia e da comunidade. Essas sa o as caracterí sticas comuns ao que podemos definir como arquitetura popular. Podemos elencar no Brasil diversas te cnicas construtivas, oriundas de saberes seculares – como em certas construço es indí genas – ou da engenhosidade pessoal de alguns construtores – caso comum das moradias urbanas em que se reutilizam sobras de materiais diversos. Temos, portanto, um vasto e heteroge neo conjunto de habitaço es populares: casas de ta bua de madeira, construí das por imigrantes europeus na Regia o sul do Brasil ha mais de cem anos; edificaço es de pedra erigidas na regia o da Chapada Diamantina, Bahia, na e poca da mineraça o de diamantes; construço es urbanas feitas de madeira, tijolos, ou outros materiais, chamadas pejorativamente de barracos; casos de barro, encontradas em muitas regio es do Brasil, feitas por meio de te cnicas como adobe, pau a pique e taipa. ZUCON, O.; BRAGA, G. G. Introdução às Culturas Populares do Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 149, capí tulo 6, adaptado. Tema: Mitos, lendas e o folclore brasileiro “Voce conhece a Mula sem Cabeça? O Curupira? O Chupa Cabra? O lobisomem? Sabia que eles fazem parte do folclore brasileiro? Sabia ne ? Mas talvez voce na o saiba que na o e so de assombraça o que e feito o mundo do folclore na o. Te m tambe m os costumes,tradiço es, mu sicas, linguagem, brinquedos, brincadeiras, mitos, contos, superstiço es, artesanato, festas populares… Daí nas festas tem as danças folclo ricas como o baia o, o frevo, o maracatu, a quadrilha… E . Isso tudo e folclore brasileiro e da melhor qualidade!”. (Disponí vel em < http://www.smartkids.com.br/trabalho/folclore>. Acesso em 29.02.2016) Sendo assim, enquanto o folclore esta preocupado com o resgate de tradiço es culturais, a cultura esta preocupada com a diversidade da experie ncia humana e esta em permanente construça o, ou seja, e permanentemente construí da. --- Para a antropologia a cultura e um importante ponto de estudo, poderia ser definido como “um conjunto de saberes, comportamento, crenças e costumes adquiridos e transmitidos por um processo coletivo de aprendizagem”. Partindo desse ponto a disciplina abordou diversos pontos, como a possibilidade de perceber que existe uma diferença entre o erudito e o popular. Da mesma forma que existe uma dista ncia entre o erudito e o popular existe um distanciamento entre a crença popular e as doutrinas oficiais. (ZUCON, Ota vio; BRAGA, Geslline. Introduça o a s culturas populares no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013. p. 12.) As crenças populares sempre ocorreram em paralelo as doutrinas oficiais, muitas vezes opondo-se a elas. Crença popular aplicado a realidade popular, existem elementos variados entre a doutrina oficial e a crença aplicada no cotidiano. Um bom exemplo esta no catolicismo popular, o catolicismo popular vincula diversos elementos, elementos da cultura popular, com elementos da experie ncia pra tica da rotina o conhecimento empí rico, do dia-a-dia, elementos simbo licos, com fatos naturais. E a aplicaça o da doutrina cato lica com a soma de mais elementos variados da cultura popular. A crença popular ajuda a favorecer o dia logo entre o mundo sobrenatural e a vida cotidiana. Existem dois movimentos entre cultura popular e a cultura erudita, movimentos de encontro e movimentos de embate entre elas, como por exemplo o movimento que originou a conhecida guerra de canudos. O Brasil e rico na fusa o de va rios elementos religiosos em uma doutrina so , por exemplo: umbanda, candomble . --- O conhecimento de um povo, esse e um dos conceitos dados ao termo folclore, no Brasil as primeiras pesquisas feitas sobre folclore foram feitas por Jose de Alencar e Sí lvio Romero, que ja buscavam uma identidade nacional com base nas manifestaço es populares, esses autores procuraram estudar e documentar realizaço es como a literatura de cordel, as danças, mu sicas e folguedos produzidos pelo povo. Toda identidade e uma construça o simbo lica, ou seja, toda identidade necessita de elementos construí dos historicamente que sa o representaça o do grupo social e no Brasil a identidade brasileira e construí da pela ligaça o entre povo, cultura e miscigenaça o. O primeiro grande elemento da identidade brasileira e o samba, que se torna o ritmo nacional. Outro elemento que foi construí do e faz parte da identidade brasileira e o carnaval. Ale m disso, intelectuais da a rea tambe m afirmam que a identidade brasileira e formada pela diversidade, o “caldeira o cultural” representado pelas etnias formadoras do povo brasileiro e um elemento a ser valorizado. --- Certas narrativas, marcadas pelas interfere ncias causadas pelos contatos culturais, trazem a visa o indí gena sobre esses contatos, como no relato apresentado por Sa ez (2006, p.195-196) sobre os Yaminawa , grupo indí gena que habita a Terra Indí gena Cabeceiras do Rio Acre, na cidade de Assis Brasil: Os Jaminawa [Ynaminawa ] antigamente na o tinham machado, tinha [algo] como um machado de pedra. Comiam sem sal. Na o tinham aldeia: andavam constantemente de um canto para o outro. Quando conheceram os brancos, de primeiro estes matavam os homens, levavam as mulheres e as crianças. Agora os jovens Jaminawa ja na o te m mais medo do branco; va o para a cidade, para estudar com eles, ja na o te m mais medo. Podemos compreender que os mitos se relacionam a busca de explicaço es alego ricas sobre determinadas caracterí sticas da sociedade. Assim como os processos culturais se transformam ao longo do tempo, os mitos tambe m se atualizam. Por um lado, as narrativas tentam da conta de processos histo ricos – e o caso do impositivo, e por vezes, truculento contato com a cultura “dos brancos”. Por outro lado, os mitos procuram abarcar transformaço es mais recentes, relativas a elementos da cultura de massas. Ao analisarmos os mitos, com seus relatos fanta sticos e, muitas vezes, fora dos padro es explicativos da cie ncia, devemos considerar tanto seus aspectos simbo licos quanto suas caracterí sticas alego ricas. Portanto na o devemos julgar essas narrativas como “falsas” ou “exageradas”. A perspectiva do antropo logo ou do historiador da cultura deve levar em consideraça o o que se tenta representar por meio dos relatos, como estes podem ser resultado de processos culturais e histo ricos, ou ainda, por que motivos se transformam. ZUCON, O.; BRAGA, G. G. Introdução às Culturas Populares do Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 144, capí tulo 6, adaptado. --- Entre as comunidades caiçaras paranaenses, sa o comuns personagens lenda rios que intermediam as relaço es entre ser humano e natureza. Algumas lendas inspiram temores e indicam simpatias. Na Ilha das Peças, litoral do Parana , existe um personagem – comum em diversos lugares do Brasil – que ali recebe o nome de pai do mato e, em outras localidades, e referido como caapora ou caipora. Todas as denominaço es se referem a um ser que habita as matas e tem como funça o primordial proteger as a rvores e regular a caça dos animais, zelando por eles. Assim, a entidade aparece para afugentar o caçador que mata mais animais do que o necessa rio. As lendas se apresentam tambe m com narrativas orais, mas, diferentemente dos mitos, na o tem a funça o de primordial de explicar a origem das coisas; ale m disso, conte m elementos e personagens fanta sticos e, muitas vezes, te m a funça o de reguladoras da vida cotidiana. E importante percebermos que as lendas podem ter um cara ter local, ou seja, esta o ligadas a determinada comunidade, mas tambe m podem ocorrer em diversas regio es de um paí s ou mesmo deslocar-se de um continente para outro. Assim como os mitos, as lendas sofrem modificaço es, variando no tempo e no espaço de acordo com os contextos sociocultural e histo rico. ZUCON, O.; BRAGA, G. G. Introdução às Culturas Populares do Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 145, capí tulo 6, adaptado. --- Em muitas comunidades, observa-se a decade ncia do ha bito de contar histo rias. A esse ncia do universo das lendas e a transmissa o “ao pe do ouvido”, apesar de podermos encontra -las em registros escritos (...) Uma histo ria do lobisomem contada a beira da fogueira por algue m que afirma ter visto tal criatura difere de uma histo ria contada na escola, relatada por uma professora que a leu num livro e pretende fazer um trabalho a respeito com seus alunos. As lendas, assim como os mitos, sa o fontes orais que devem ser consideradas documentos histo ricos das culturas populares. Na medida em que na o ha uma transmissa o oral das histo rias, elas tendem a ser a se desconectar do sentido que tinham outrora. A se tentar apreender as lendas fora de seu contexto social, de suas motivaço es implí citas, e sem a intensidade interpretativa do contador, acaba-se por fazer com que estas percam parte de sua força no imagina rio social. Os povos indí genas estabelecidos no Brasil muito antes da chegada dos europeus na o tinham um sistema de escrita. A oralidade era (e ainda e , em muitos casos) a forma de comunicaça o mais importante. Com base nessa comunicaça oopera-se a transmissa o dos saberes e da pro pria histo ria, contada por meio dos mitos de maneira alego rica e fanta stica, sem perder as suas caracterí sticas simbo licas e de ligaça o com o social e o cultural. ZUCON, O.; BRAGA, G. G. Introdução às Culturas Populares do Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 149, capí tulo 6, adaptado. Tema: Folkcomunicação, Música e Identidade “A mu sica talvez seja a manifestaça o artí stica popular mais significativa no Brasil. Espalhada por todo o territo rio nacional, temos uma enorme diversidade de ritmos e sonoridades, cada qual com sua histo ria, caracterí sticas e inter-relaço es pro prias”. (ZUCON, Ota vio; BRAGA, Geslline. Introduça o a s culturas populares no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 100.) Nesse campo, a definiça o do popular carece de alguns esclarecimentos. Em primeiro lugar, a mu sica popular na o deve ser confundida com o conceito de mu sica popular brasileira (MPB), disseminado a partir da de cada de sessenta. Este termo foi criado fundamentalmente por meio do engajamento de artista, com intelectuais, preocupados com as relaço es entre as artes e os problemas sociais e polí ticos, durante o peitado da ditadura militar no Brasil. A partir dos debates sobre uma musicalidade legitimamente popular e brasileira o samba emergiu como uma grande refere ncia para os mu sicos engajados. Contudo, os artistas-intelectuais, fossem de esquerda, fossem de direita, foram tutelares em relaça o a s classes populares. Desse modo, a denominaça o MPB na o se refere necessariamente a uma manifestaça o propriamente popular, mas a um conceito construí do historicamente por meio da intelectualidade e da mí dia ligados direta ou indiretamente a indu stria da mu sica. --- “Tradicionalmente, a comunicaça o de massa e entendida como o campo de atuaça o de profissionais de mí dia – jornalistas, publicita rios, redatores, repo rteres, foto grafos, te cnicos de ví deo e a udio, entre outros – que, com formaça o acade mica ou na o, atuam em grandes veí culos de comunicaça o, como jornais, revistas, ra dios e TVs”. (ZUCON, Otavio. Introduça o a s culturas populares no Brasil. Curitiba: InterSaberes: 2013. p.12). Assim, a folckcomunicaça o valoriza a informaça o oral como importante feno meno comunicativo. A cultura popular incorpora outros meios de comunicaça o em seu cotidiano, atrave s das novelas, internet, a cultura popular se adapta a outros meios de comunicaça o para reproduzir a sua pro pria experie ncia. Por exemplo, as benzedeiras que ja utilizam a internet e o telefone para realizar seu trabalho. --- A Cança o de Exí lio, de Gonçalves Dias, apresenta va rios elementos culturais que sa o elementos da cultura popular brasileira. Conforme visto ao longo da disciplina, existe um processo de construça o cultural em que os principais elementos da cultura passam a se destacar nas manifestaço es culturais, como por exemplo, nas mu sicas. No exemplo da mu sica de Gonçalves Dias e possí vel perceber va rios elementos da cultura brasileira como por exemplo: a refere ncia as palmeiras, que remete as praias brasileiras; Sabia , que e considerada a ave sí mbolo do Brasil e que tem remete as inu meras espe cies de aves que temos no Brasil; as estrelas, va rzeas e flores fazendo mença o a vasta natureza brasileira e suas riquezas; “nossa vida mais amores” refere ncia a vida amorosa brasileira e sua fama de ser agitada. --- “Brasil, meu Brasil brasileiro meu mulato inzoneiro vou cantar-te nos meus versos. O Brasil, samba que da Bamboleio que faz gingar o Brasil, do meu amo (...)”. O trecho da mu sica de Ary Barroso nos remete a identidade brasileira. O povo brasileiro foi construí do por uma miscigenaça o de raças e culturas, pela incorporaça o de elementos dos mais variados. Para conseguir entender essa miscigenaça o e importante relembrar o perí odo de descobrimento do Brasil. Os primeiros elementos sa o da cultura indí gena, que ja estava presente no territo rio com a chegada dos portugueses, depois disso, podemos perceber que foram incorporados elementos da cultura africana com a vinda dos escravos africanos ao territo rio brasileiro e tambe m elementos da cultura europeia com a vinda dos colonizadores. Essa miscigenaça o e conhecida como o mito das tre s raças, esse e apenas o iní cio da miscigenaça o de raças e culturas da identidade brasileira. --- A composiça o “Cavalgada das Valquí rias” do maestro Richard Wagner e uma opera que apresenta elementos da cultura no rdica e vincula a identidade a origem do povo alema o para uma cultura ja morta: a do povo viking. Esse e um exemplo de romantismo. Com os processos da industrializaça o e urbanizaça o promovidos pela revoluça o industrial passa-se a se ter medo, receio do desaparecimento de manifestaço es culturais, medo de que o mundo seja homogeneizado e o romantismo surge como a preocupaça o de externar as diferenças, externar a riqueza das riquezas. Romantismo foi o movimento litera rio e artí stico que procura resgatar a cultura popular e trazer para ela o proseio da cultura refinada e erudita. No romantismo o povo e a tradiça o tornam-se objeto de interesse intelectual. Tudo que era rejeitado e discriminado na idade me dia passa a ser visto como algo positivo, como as raí zes de um povo, e um movimento inverso que vem de encontro com os movimentos nacionalistas, e a busca por uma identidade. --- O rap (abreviatura, do ingle s, de ritmo e poesia), ge nero musical diretamente associado ao hi- hop, em muitos casos e construí do com base em fragmento de outras mu sicas gravadas (isso recebe o nome de sambple – “amostra”, em ingle s). Nas apresentaço es, os grupos contam com um DJ (disj jockey), que “toca” as bases pre -gravadas por meio de aparelhos (CD players, toca-discos, computadores e outros) e trabalha, simultaneamente, com efeitos sonoros. Sobre a base cantam um ou mais MC’s (mestres de cerimo nia) que escrevem os seus versos previamente e, em va rios momentos, utilizam-se de improvisaço es. Os fragmentos sonoros utilizados no rap podem derivar, por exemplo, de um samba, traduzindo a apropriaça o moderna de refere ncias tradicionais e nacionais. A facilidade dos recursos eletro nicos de ediça o de som – aliada a um canto que soa quase como uma declamaça o – faz com que jovens sem formaça o musical formal nem recursos financeiros para a aquisiça o de equipamentos possam se expressar livremente. O conjunto de elementos este ticos que compo em o hip-hop, bem como sua ligaça o com as camadas populares urbanas, indica o seu pertencimento a uma categoria: e uma manifestaça o cultural popular moderna. Aqui cabe ponderar que a cultura popular pode estar no universo urbano e utilizar de elemento urbanos-industriais, ao contra rio do que aludem alguns teo ricos que consideram o popular essencialmente ligados aos saberes e aos fazeres tradicionais e essencialmente rurais. O hip-hop transitou das ruas e dos bailes da periferia para as ra dios e as TVs comerciais e agregou, ale m dos produtos de consumo, a ele associadas (CDs, roupas, etc.), um conjunto heteroge neo de indiví duos de classes sociais distintas – tanto na produça o quanto na recepça o. ZUCON, O.; BRAGA, G. G. Introdução às Culturas Populares do Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 75, capí tulo 3, adaptado. --- Tanto a indu stria fonogra fica quanto o ra dio permitiram o registro e a reproduça o em se rie de mu sicas, trouxeram a possibilidade de um interca mbio mundial que levou as manifestaço es musicais aos lares mais distantes e possibilitaram que essas mu sicas pudessem ser ouvidas em praticamente todos os tipos de meio de reproduça o – ra dios de carro, telefones celulares, MP3 players etc. Nas culturas populares, a mu sica podeservir como elemento que compo e ritos religiosos. Nos terreiros de umbanda ou candomble o soar dos tambores e de outros instrumentos percussivos, acompanhados ou na o de cantos em coro, evocam a relaça o com entidades e orixa s; nas culturas indí genas, a mu sica tem uma grande importa ncia em diversos momentos da vida coletiva – entre os í ndios do Mato Grosso e considerada um elemento central do ritual, constituindo a forma ideal de expressa o dos afetos. No Maranha o o tambor de crioula e uma expressa o popular festiva que tem na mu sica e na dança elementos fundamentais. Sa o, em geral, tre s tambores feitos de troncos ocos, tocados por homens que se revezam na atividade; ha um solista que canta e um coro, tambe m masculino; a s mulheres reserva-se a exclusividade da dança, que termina com uma “punga” ou umbigada – ato para a troca da dançarina. E uma manifestaça o da mobilizaça o comunita ria, de origem afro-brasileira, sem data fixa, sendo realizada, em muitos casos, em homenagem a Sa o Benedito. Pode haver o entoar de ladainhas entre os toques de tamborim, e comidas e bebidas sa o oferecidas aos brincantes. ZUCON, O.; BRAGA, G. G. Introdução às Culturas Populares do Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 105, capí tulo 3, adaptado. Tema: Conhecimento Popular e Regionalismo “As pessoas esta o com a barriga inchada, passo o reme dio e a pessoa volta: - Doutor, eu perdi tre s quilos, (...) eu vim buscar mais. Enta o e porque a coisa funciona” (‘Doutor’ Raiz, 12/09/2012). Em nossa disciplina de antropologia foi possí vel perceber a importa ncia do conhecimento popular no Brasil. Ao pensar essa importa ncia um grande tema e debatido, a importa ncia da medicina popular frente a medicina tradicional. A utilizaça o de diversos sistemas de conhecimento e muito comum na cultura brasileira como por exemplo a medicina popular. A medicina popular pode ser entendida como o conhecimento popular para o tratamento de enfermidade, como o tratamento com cha s para dores de estomago, dores de cabeça. A pessoa em sua enfermidade na o procura um u nico sistema de tratamento, ao mesmo tempo que a pessoa vai ao me dico tradicional ela utiliza diversos sistemas como curandeira, benzedeira, toma cha s e garrafadas. Um exemplo e o mercado ver o’peso no Para que e conhecido por ter para vender inu meras ervas, garrafadas, cha s, infuso es para tratamentos terape uticos. Outro exemplo e o denominado Doutor Raiz, que e um profundo conhecedor das ervas. Dr. Raiz na o e doutor, mas e reconhecido como tal por suas pra ticas de medicina popular, a efica cia esta no efeito pra tico vistos nos corpos dos pacientes. Dessa maneira, isso mostra como o conhecimento popular e importante na cultura brasileira. --- O termo popular se originou no final da idade de me dia, com o surgimento dos Estados Naça o, para diferenciar classes sociais, sendo elas: clero, aristocracia e povo. Esses tre s segmentos na o se misturavam, ou quando o faziam, eram por relaço es bem claras e hiera rquicas. A aristocracia e o clero tinham mecanismos de controle da cultura letrada, restringindo o acesso ao conhecimento. O povo ao final da idade me dia, iní cio da civilizaça o moderna era composto majoritariamente por camponeses. Esses camponeses tinham o conhecimento empí rico, ou seja, cultivo da terra, ciclo das estaço es do ano e o relacionamento com o plantio, era o conhecimento empí rico. Tinham o conhecimento cotidiano, a apreensa o intuitiva da realidade e tambe m o conhecimento compartilhado. Enquanto o conhecimento erudito era um conhecimento teo rico. Era um conhecimento baseado na reflexa o intelectual e sistematizada, que previa a racionalizaça o do mundo sensí vel e o acesso restrito ao conhecimento. A cultura erudita e aquela aprendida em cole gios e academias. --- “Boa parte da intelectualidade defendeu historicamente a concepça o de uma cultura popular brasileira, intimamente ligada ao triângulo racial. Contudo, os regionalismos tambe m foram, e ainda o sa o, expressa o da alteridade de alguns grupos em oposiça o a imposiça o de valores estrangeiros, de elite ou de uma cultura nacional unificada. Alguns movimentos, em momentos especí ficos, puseram-se a refletir sobre a importa ncia das particularidades locais”. (ZUCON, Ota vio; BRAGA, Geslline. Introduça o a s culturas populares no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013. p. 53.) Os regionalistas, em especial Gilberto Freyre, tinham preocupaça o com os modismos que vinham do exterior principalmente trazidos pela classe me dia e classe alta brasileira que poderiam ameaçar as tradiço es populares brasileiras. E possí vel perceber isso com a publicaça o de Freyre “Manifesto Regionalista” que expo e a necessidade de valorizar os elementos da cultura popular e cuidar com a vinda dos elementos externos, como por exemplo, o Papai Noel em um clima tropical. Outro autor importante para a argumentaça o da valorizaça o da cultura regional foi Ariano Suassuna, que se preocupava em enaltecer a riqueza das tradiço es populares e manifestaço es populares. O movimento regionalista propunha a arte popular como elemento de inspiraça o para artistas. --- No Brasil, algumas polí ticas pu blicas te m como foco nos chamados mestres, indiví duos cujos saberes sa o considerados importantes e, assim, passí veis de transmissa o para geraço es mais novas por meio de projetos de incentivo, como os Grio s – Mestres dos Saberes. Entretanto, o sistema de preservaça o do patrimo nio cultural imaterial em nosso paí s na o tem os mestres como foco principal, pois leva mais em consideraça o a coletividade, os grupos, as mudanças, e as adaptaço es que nos sa o peculiares. Os indiví duos ou os grupos detentores de saberes tradicionais, conforme a normativa da Unesco, de 1993, sa o considerados tesouros humanos vivos. A instituiça o recomenda aos paí ses-membros que que considerem a releva ncia desses tesouros, os quais tem capacidades ou habilidades para criar ou reproduzir determinados elementos do patrimo nio imaterial. A ideia fundamenta-se na importa ncia e na necessidade de transmissa o de saberes, mais uma vez ancorada na noça o de preservaça o. Nesse caso, preservar e transmitir o conhecimento, e os grupos as comunidades e os indiví duos com tal importa ncia e capacidade, segundo essa perspectiva, deveriam ate mesmo receber auxí lio financeiro dos governos para desenvolver suas atividades. ZUCON, O.; BRAGA, G. G. Introdução às Culturas Populares do Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 83, capí tulo 3, adaptado. --- A espada-de-sa o-jorge, a pimenta, o comigo-ningue m-pode, entre outros tipos de planta, sa o usados simbolicamente nas religio es de matriz africana como forma de proteça o contra maus agouros, mau olhado, olho gordo, olho grande e inveja. Ao refletirmos sobre tal ha bito, e possí vel notarmos que a utilizaça o dessas plantas implica necessariamente, crença na inveja vinda por meio dos olhos de outrem, e que quando utilizadas, afastam os efeitos dos olhares invejosos. O uso da espada-de-sa o-jorge por exemplo, e ma gico, pore m a sua utilizaça o na o e conotada pelos usua rios como ma gico-religiosa; no entanto ela o e . Explicando melhor: e ma gica porque implica atribuir poderes a uma planta e acreditar que te -la a porta pode interferir de forma pra tica na realidade e e religiosa porque as origens dessa pra tica e seu uso simbo lico esta o nas religio es. Em muitas regio es do Brasil sa o comuns as benzedeiras, os benzedores, os raizeiros, os curandeiros, as costureiras e os arrumadores, que sa o especialistas de cura que atuam por meio de saberes populares, em geral herdados. Em alguns estudos consta que os benzedores e os curandeiros eram procurados apenas em lugares onde na o existiam me dicos ou por populaço esmuito pobres. Outras pesquisas mostram que, se no contexto rural onde ha falta de me dicos os benzedores sa o a primeira opça o, no contexto urbano sa o a opça o para os casos em que a medicina na o obteve resultado. Em geral, as benzedeiras iniciam seu atendimento com uma pergunta sobre o problema do consulente. Elas apresentam diagno sticos comuns, que podem ser doenças do corpo ou da alma, ma sorte ou “atrapalhos” na vida – como olho gordo, olho grande, mau olhado e quebranto –, que sa o curados por meio de be nça os ou simpatias. Determinadas doenças te m nomes particulares, como “bichas” (lombriga), “doença de macaco” (mal de simioto), “cobreiro” (alergia provocada por planta/herpes-zo steres), “ar” (paralisia facial) e “susto” (trauma provocado pelo medo). Ale m desses males tambe m benzem patologias me dicas contempora neas, como depressa o e estresse. ZUCON, O.; BRAGA, G. G. Introdução às Culturas Populares do Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 122, capí tulo 5, adaptado.
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