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ESTATUTO DO INDIGENATO PORTUGUES

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Prévia do material em texto

JOSt CARLOS [,lEY FU~PEIHA 
VASCO SOARES DA VEIG/\ 
Estatuto dos Indfgenas 
Portugueses das Provfncias 
da Guine, Angola 
e Mo~ambique 
Anotado 
e 
Legisla<;:ao complementar: 
ESTATUTO DOS JULGADOS MUNICIPAlS 
(Decreta n.o 39.817, de 15 de Setembra de 1954) 
REFORMA PRISIONAl DO ULTRAMAR 
IDecreta-Lei no" 39.997, de 29 de Dezembra de 1954) 
PORTARIA N.o 15.612, de 21 de Novembro de 1955 
2 .. 1 edic;ao 
llSBOA 
I 9 S 7 
Act. Col. 
B. O. 
C.Org. 
C6d. Gvil 
ad. de Trab. 
C6d. Penal 
Con~t. Pol. 
D. do G. 
Dec. 
Dec.-Lei 
Dip. Lt·g. 
ABREVIA TURAS 
- Acto Colonial, promulgado por Dec. n.o 18.570, de 8 de Ju. 
lho de 1930. Substituiu 0 titulo V da Constitui\ao PoHtica 
da Republica Portugucsa, de 1911. Considerado materia cons-
titucional pelo art. 133.° da Constitui\ao de 1933, foi integrado 
no texto da Constitui(ao pela l.ei n.o 2.048, de 11 de Junho 
de 1951. 
- Boletim Oficial. 
- Carta Orgcinica do Imperio Colonial Portugues, aprovada poe 
Dec.-Lei n.o 23.228, de 15 de Novembro de 1933. 
- COdigo Civil Portugues, aprovado por Carta de Lei de 1 de 
JuIho de 1867, alterado pelo Dec. n.o 19126, de 16 de De-
zembro de 1930 e tornado extensivo ao Ultramar por Dec. 
de 18 de Novembeo de 1869. 
- C6digo do Trabalho dos Indfgenas nas Co16nias Portuguesas 
de Africa, aprovado por Dec. n.o 16.199, de 6 de Dezembro 
de 1928. 
- C6digo Penal Portugues, publicado por forc;a do Dec. de 16 
de Seternbro de 1886, com alterac;oes introduzidas pelo Dec.-
-Lei n.o 39.688, de 5 de Junho de 1954. 
- ConstituiC;3.o PoHtica da Republica Portuguesa, de 11 de Abril 
de 1933, modificaJa pclas Leis n.os 1.885, 1.910, 1.945, 1.963, 
1.966, 2.009 e 2.049, respectivamente de 23 de Marc;o e 23 
de Maio de 1935, 21 de Dezcmbro de 1936, 18 de Dezern-
bro de 1937 23 de Abril de 1938, 17 de Setembro de 1945 
• 
e 11 de Junho de 1951. 
- Diario do Govemo. 
- Decreto. 
- Decreto-Lei. 
- Diploma Legislativo. 
Dip. ()rg. das ReI. 
de Dt.o Priv. - Diploma Organico das Rela<;5es de Direito Privado entre Indi-
genas e nao Indigenas, Dt,c. n.o 16.474, de 6 de Feveceiro 
de 1929. 
Ida Freitas
Realce
6 
ESiATIJTO DOS INDiGENAS P()Rl_'l_-iG-l-JE--'S-E-S-----
Est. 
_ Estatuto dos Indigenas Portugueses das Provincias da Guine) 
Angola e 11o<;arnbique, Dec.-Lei n.O 39.666, de 20 de Maio 
Est. de 1916 
Est. de 1929 
Est. dos J. ~L 
L.Org. 
Port. 
<-
de 1954. 
_ Estatuto Politico, Civil e Criminal dos Indigenas de Angola 
e Mo~ambique, Dec. n.o 12.533, de 23 de Outubro de 1926 
(tornado extensivo aos indigenas da Guine e da Companhia 
de :l'.{o\,ambique pelo Dec. D.O 13.968, de 30 de Maio de 
1927). 
_ Estatuto Politico, Civil e Criminal dos Indigenas, Dec 
n.o 16.473, de 6 de Fevereiro de 1929. 
_ Estatuto dos J ulgados Municipais das Provincias da Guine~ 
Angola e ~Ao<;ambique, Dec. n.o 39.817, de 15 de Setembro 
de 1954, reet. no D. do G. I serie, de 10 de Dutubro de 
1954 (0 Julgado Municipal de Dio rege-se tambem pelas 
disposi~5es deste diploma). 
_ Lei Organica do Ultramar Portugues, Lei n.o 2.066, de 27 
de Junho de 1953, alterada pela Lei n.o 2.076, de 25 de 
1't1aio de 1955. 
- POliaria. 
Rtf Pris. do Vlt. - Reforma Prisional do Ultramar. Designa-se por este nome 0 
Dec.-l:ci n.o 39.997, de 29 de Dezembro de 1954, que toma 
extenslVO ao Ultramar, com as altera<;oes dele constantes 0 
Dec.-Lei .n.o 26.?~3, ~e 28 de Maio de 1936 (Reorganiza{ao 
dos Servl<;OS PnslOnals) e 0 Dec.-Lei n.o 39.688, de 5 de 
Junho de 1954 (que introduz profundas altera(oes no COd. 
Penal). 
R. A. U. - Reforma Administrativa Ultramarina., promulgada pel0 Dec.-
-Lei n.o 23.229, de 15 de Novembro de 1933. 
I 
Estatuto dos Indfgenas Portugueses 
Decreto-Lei n°. 39.666 
A Lei Organica do Ultramar (Lei n.O 2.066, de 27 de Julho 
de 1953) contem varios preceitos relativos a popula~oes indigenas 
das provincias da Guine, Angola e Mo~ambique. Alem das bases 
componentes da sec~ao especialmente epigrafada «Das popula~oes 
indigenas», encontram-se, nomeadamente, 0 n.O V da base LXV, 
sobre 0 julgamento das questoes gentilicas, e 0 n.O II da base LXIX, 
sobre a extensao dos sistemas penal e penitenciario. 
A regulamenta~ao dos principios gerais contidos nestas bases 
exige que sejam alterados alguns dos preceitos dos chamados «Es· 
tatuto Politico Civil e Criminal dos Indigenas» e «Diploma Or· 
ganico das Rela~oes de Direito Privado entre Indigenas e nao In-
digenas» Decretos n.OS 16.473 e 16.474, de 6 de Fevereiro 
de 1929), que, por outro lado, haveria ja anteriormente conve· 
niencia em modificar e aditar em parte, a fim de uniformizar pro· 
cedimentos, extinguir regimes locais inadequados e alargar 0 am-
bito das reformas. 
COIn efeito, 'em leis gerais de canicter fundamental, como 0 
Acto Colonial, a Carta Organica do Imperio Colonial Portugues e 
a pr6pria Constitui~ao Politica, algumas das regras contidas no 
· estatuto e no diploma organico foram gradualmente aperfei~oadas, 
ao mesmo tempo que outros diplomas - como 0 Decreto n.O 35.461, 
de 22 de Janeiro de 1946, sobre 0 casamento - enunciavam pre-
ceitos que bem caberiam no estatuto. Acresce que certas n1aterias 
importantes, entre as quais a aquisi~ao da cidadania por antigos 
indigenas, eram reguladas apenas em textos locais, falhos de ho· 
mogeneidade. 
o presente decreto aplica os principios fundamentais, hoje 
consignados na Constitui~ao Politica e na Lei Organica, e desen-
volve-os, na extensao compativel com a sua natureza, devendo 
seguir-se-lhe outros diplomas que especialmente se oc-upem de cer .. 
tos aspectos que exigem regulamenta~ao pormenorizaJa. 
10 ESTATUTO DOS INDfGENAS POR'I1JGUESES 
Deseja-se acentuar tel' havido agora a preocupa(;ao de, sem 
enfraquecer a protecs,:ao legal dispensada ao indigena, considerar 
situas,:6es especiais enl que ele pode encontrar-se no caminho da 
civiliza~ao, para que 0 Estado teln 0 dever de 0 impelir. 
Nestes tern10S : 
Ouvido 0 Conselho lJItramarino (*) ; 
lTsando da faculdade conferida pela l.a parte do n.O 2.° do 
artigo 109.° da Constihlis,:ao, 0 Governo decreta e eu promulgo, 
para valer con10 lei, 0 seguinte : 
(.) Rtd'.O;io ~gundo rertifica~io d P ·de . d 
n.fJ 132. de ]9 ~ Juuho de 11)~4. a re$1 nCla 0 ConseJhQ, l'\l.bJicada no D. do (y. 
Ida Freitas
Realce
CAPITIJLO I 
Dos indisenas portugueses e do seu estatuto 
ARTIGO 1.0 
(Ambito de apliGl(ao territorial do estatuto de indigena) .(*) 
Gozan1 de estatuto especial, de harmonia com a Constitui~ao 
Politica, a Lei Organica do Ultranlar e 0 presente diploma, os indi-
genas das provlncias da Guine, Angola e Mo\ambique. 
§ unico. 0 estatuto do indigena portugues e pessoal, devendo 
ser respeitado em qualquer parte do territ6rio portugues onde se 
ache 0 indivlduo que dele goze. 
1. 0 «estado» de indigena. «Estatuto». 
o facto de os n.ativos das provincias portuguesas da Africa continental se encon-
tra.rem ainda em determinado grau inferior de civilizac;ao irnplica a necessidade de 
se processar urn ordenamento juridico adequado a possibilidade de efectivac;ao de 
poderes e deveres por parte desses nativos.· Isto e, os indtgenas (conceito que 0 
art. 2.0 (**) escIareceni) encontram-se numa posic;ao especial perante a ordem juri-
dica geral. Ora essa posic;ao especial dos sujeitos de direito perante a ordem juridica 
designa-se em terminologia tecnica pelo nome de <<:estado» (status) au «sitllarao 
jm'idica» ou «qualidat/Je jurfdica» e depende de urn conjunto de qualidades, circuns-
tancias ou situa.~6es pertinentes ao individuo ou grupos de individuos (v. g., estado 
de filho, estado de casado ou solteiro, estado de funcionirio, estado de indigena) -
Cf. Prof. Guilherme Moreira, IJJstituiroes do Direito Civil Portugltes, vol. I, pig. 168 ; 
Prof. Jose Tavares, OsPrincipios Fundamentais do Direito Cit!il, vol. II pigs. 25-31 ; 
Prof. Cabral de Moncada, uroes de Direito Cit!il, 2.& ed., 1954, vol. I, pigs. 300-303. 
«Situa.~ao juridica», «posi~ao juridica» e «estado» sugerem-nos logo a ideia de 
posifao perante algo. Esse algo que nos interessa para esdarecimento do conceito de 
eJtado de indigena e a ordem juridica gera!. Em sentido mais res tri to, entende--se 
todavia por estado a posi~ao perante 0 instituto familiar (status familiae) ou ate-
sentido restritissimo - apenas perante 0 casamento; por outro lado, pode tambem 
distinguir-se entre «situa~ao juridica» e «estado» : sitlla{"tlO ;uridica geral sera. a posi-
(ao da pessoa titular dum poder ou dever que a lei atribua abstractamente a quantos 
se encootrem em dada situac;ao de facto; sitlla(ao ;urrdica individual sera a posic;ao 
da pessoa titular dum poder ou dever com conteUdo pr6prio. definido segundo .IS 
suas condi~6es particulares (d. Prof . .Marcello Caetano, Manual de Direilo Admj"is-
Ira/ivol 4.- ed., 1956, pags. 172-173). Os poderes constitutivos do estado de indigen.t 
(.) As epigrafes nao constam do te:..:to legal ; sio dll exdusiva responsabilidade dos autorcs 
&sta edi~io. 
(H, ~ artigos IIlcncionados sem io..1i(a~iio ..10 diploma 11 que perteocem, sao do Est. actual. 
Ida Freitas
Realce
12 FSTATInD DOS INDlGENAS PORTIJGUESES 
Artigo 1.° 
oriein,un uma situa(io juridica geral; mas os indigmas pod em ter situa(oes. juridicas 
ind'ividuais as nl.lis variadas. 
o que nos interessa por ora e acentuar que quando falamos em e.rtddo de indfgel14 
nos repNtamos ao conceito amplo primeiramente assinalado. 
o conjunta de poderes e deveres inerentes ou respeitantes aa «estado» bem como 
(I mnjunto de oomus que organizam e disciplinam esse complexo de poderes e deve-
res tomam 0 nome de «estatuto». Par esta mesma expressao designam-se assim duas 
realidades que indubilh-e1mente se interpenctram, mas que conceitualmente se distin-
guem: a1em estaJuto esta tornado nUID sentido subjec/iI'o (conjunto de poderes e deve-
res) ; aqui, num sentido objectil'o (conjunto de regras de Direito). Distin<;ao paraleJa 
- e derivada - da que costuma fazer-se entre direito subjectivo e direito objectivo, 
tern imediata aplica~ao nesta materia: quando rcferimos 0 Dec.-Lei n.o 39.666 como 
~Estatuto dos Ir,digenas) tomamos a palavra no seu sentido objectivo; quando este 
art. 1.0 nos afirrna que os indigenas af referidos «gozam de estatuto especiah), usa-se 
a palavra nUID sentido subjectivo. 
2. <,EstadO» e {{Clpacidade». 
A igualdade juridica das pessoas. como tais, postulada pela filosofia politica, 
e expressamente declarada no art. 5.° da Const. Pol. e no art. 7.° do COd. Civil nao 
!=. que correspond~r ~~essariarnente ~ identidade de posic;ao perante tod~ os 
rnsurutos da ordem Jundica gera!. A dectJ.va diversidade de aptidoes, de mentalida. d~, de ~Ituras, gera como resultado necessario uma diversidade de situa~oes juri. 
dicas. Asslm, a cap.:zc;dade, enquanto medida de p0deres e deveres sof . - J~' 
vadas do estad'" ' re varla!:oes u,cCl-
Tociavia, 0 «estado de indigena» niio dad' , 
tis diminuti(») " "d d gera uma ver elra IIIca/Jacidade (<<capi-
, Ja porque as l11capaC! a es como exe~oes a rege I d . 
dade:, tern de Set expressa e taxativamente 'decl d . " a gera a capaC!-
aos indigenas 0 Est actual estabelece _ ara as pela Ie!, Ja porque em rela<;io 
poderes e dev'eres r;tirando antes d' , ~o urn c~rceamc-nto, mas a diversifica<;ao de 
para rC,c':ular situ~~oes entre indige~~C!t:to~~)va a ~er~a p~cela do direito comWTI 
usos e costumes pr6prios das sociedades i~di' e f,U stltUln 0-0. p;'la recqx;ao dos 
pela lei. genas, dentro dos l11Illtes e5tabdecidos 
A esfera juridica dos indigenas nao e ,)', d' , ., 
de <lplical;ao do direito comum pn'vad '! bl>ll~, Im/JIUl~ a. RC1:rai-s(;, sim, 0 ambito 
• , 0 e pu lCO, 
3. «Indigena» e «cidudao» Nacionalidade r . 
. . ,~onCCltos. 
o presentc Est. contrap6e indi"ena a (idada (- . , , 
gena (ou ('stado de indigena) a cidad " N 0 n~o l11dlgena) e cOlldlCdO de indf-
corr d an a. est! termmologia' d'-
. espon e urn eSlado caracterizado peJa at 'b . _ d ' a C011 l\ao de cidadania 
15to e, pela integraJ aplicadi.o d~ dire't 'brl~ wc;ao . 0 estatuto de direito comum (art - "J' - 10 pu ICO t prtvado dos c'dad- , 
'- . laos portugueses 
hto ass-=nte, deve apartar-se 0 c· '_ . 
outrc' acep~ii(-<> que tambem 11 - oncelto de cldadao, asslln de!imitado de duas 
nil) correspondem de modo alb~~a~ ~:~fn~~~ ~as legislac;oes e nji doutrina; mas lIC A~slm, a condirao de l'nd' _ g C; 0 que este Est. da ao termo q d r ". Irena nao se cont" - . . . 
Ee :;C1ona Idade, isto t, vinculo jurldico perm r~po(' a c/~tlda1/iC1 cil·il, 110 .rentido 
s 0 (rJffi~ membro do seu PO'Vn. Ta t 'dne~te que IIga um indivlduo a ~or;r: 0 IndlfJe~C1 tem na(i(;nalidade po~t~ ,~e:~ .adao, ~o. senti do rderido nrste E~ 
gt"fTl a duvldas: ,,0 ("Statut( d . d' g • , 0 § lInIeo deste art 1 0 - d ' .. , 
naJ - silbdit da ) 0 10 Igena portug • N '. nilO elxa 
- 0 = Cl dai') tanto . d' Iit'I •.. ). a sinoni . d . 
ad .. daos, porque it uni~de POlit~cal~(~g~~~~O:~r~ nad inJi~tna s~~gU~I~:~~~ pon eo lo!?lnunente a atribuit;:io 
ESTATIJTO DOS INDfGENAS PORTVGL1:SES 13 
Artigo 1.0 
da. naeionalidade portuguesa a twos os elementos popuJacionais do Esta.do, exeep-
tuados os estrangeiros. 
Por outro lado, nao pode eonfundir-sc 0 significado estatutario de cidadao com 
cidadania polifica (au aetiva), isto e, a participa<;ao no que alguns auton, ehamam 
«carpo de ddadaos» (v. g. Duguit, IrLwuel de Droit Constilut;onnel, 4.· ed., pag. 138), 
quer dizer, 0 eorpo eleitoral ou 0 conjunto de indivfduos que gozam de cectos dire:-
tos poHticos pertinentes a interven<;ao no exerdcio da soberania. Repare-se que, se 
o indigena nao goza de direitos poHticos em reJa<;ao as institui<;5es dos <'nao indi-
genas» (art. 23.' deste Est.), tambem 0 eidadao (no sentido do presente E~L) pode 
estar privado de direitos politieos se na sua pessoa nao concorrerem os requisitos 
legais neeessarios ao seu exerdcio. 
«Temos assim que 05 indigenas sao subditos portufueSeJ, Jubme!.'d~s a protecrao 
do Estado porlugues, mas sem fazerem parte da Nac;ao, quer esta seja considerada 
como comunidade cuJhlral (visto faltarem-lhe os requisitos de assimila<;ao de cultura), 
quer como associac;iio polftica dos cidadaos (por nao teRm ainda conquistado a 
cidadania).» - Prof. Marcello Caetano, A Conslituirao de 1933 - Ej/,.do de DireiJo 
Pol1tico, 1956, pag. 23. 
4. Cidadania origimlria e cidadania derivada (assimila~ao). 
Torna-se, par outro lado, necessario distinguir entre eid:rdania origin aria e cida-
dania derivada (assimila<;ao), :rtribuindo sempre ao termo eidadm.ia 0 canteudo que 
acim:r se indicou. A primeira nunea se perde, ao passo que a segunda pode ser reb-
rada nos termos do art. 64.° de5te Est. (Cf. Prof. Adriano Moreira, Admm;strafao 
da furtira aos lndigenas, 1955, p,ig. 118). Veja-se aplica<;ao directJ. desta distin(io 
em nota 7 ao art. 2.0 
5. Pessoalidade do estatuto de indigena. 
a § unico deste artigo 1.' constitui uma regra inovadora que "cio pOr fim a 
uma querela que empenhou a doutrina na vigencia do Est. de 1929. Discutia-se enUo 
o carieter pessool au territorial do estatnto do indfgena. No primeiro sentiJo-
agora consagrado legislativarnente - pronuneiou-se 0 Prof. Silv,l Cunha, in 0 Sistem.;t 
Portugues de Politiu bldigent/, Coimbr.l, 1953, p,ig. 181; no s<?gundo senti do. emi-
tirarn Pareceres a Repllrti(ao de Justic;a da Direcc;ao Geral de AJrninistr-ac;iio Politica 
e Gvil do Ministerio do Ultramar e 0 Conselho Consultivo da Procuradoria Geml 
da Repllblica, apud Bo/t!lim Gerd d;ls CoI6fli,/J. ana XXVI, n.o ~95 (Janeiro de 
1950), pags. 102 e seguintes. 
6. Remissao para legisla"ao geral. 
Corn referencia ao corpo do artigo, d. Canst. Pol., art. 138.°e L. arg., 
Base LXXXIV, n.os I e III, onde se indicarn as provinci.ls ultr,UTIMin'ls de' indi-
genato. 
7. Legisla(ao preterita. 
a corpo do artigo cOI'responde .10 art. 1.0 do Est. de 1".:'9. qulC' prt'\ia 0 
regime de indigenato apt'n~s nas tres pro\'in(ias cnnmeracias no actu.1.1 E,t P,)rem, 
a Lei n.o 2.016, de 29 de 1hio de 1946 (Lei de revisih) ,.l.J C. Or-".) , nL' tt"Xto 
revi~to do § unieo do art. 246.° da refl'rida C. Or", .. apenas e~cluia J,> regime de 
indigenato 0 Estado d,l India, 1L1Clll e eli)l) V crde, 0 que <"qui\'J1ia J. ampiiar tal 
l'<>gime a S. Tome e Prin(ipe e Timor. A L. Org. (Rl'C LXXXIV) restabele.:eu \) 
Ida Freitas
Realce
Ida Freitas
Realce
14 
Aritigo 1." 
bl r~l'" "'''(101111 ;l l,,"oposta do Dcputi'.Jo '. f . vada na A~s(;m - ~ 1~... •• • C .i~te1n.l de 1929, PO!' 01 apro • d ' texto do (ontr:lprojecto da c.1.mara or-
S"I1>.' Pinto no sentido de'dmanotenl 0-5e 1o H < S Tom!. ~ Timon) . . ' . d n as pa avr:" \. . t:" p<.)rativa. serem ellmUl:l as 0 . • . 
B. Estara 0 Est. de 1929 inteiramente revogado ? 
Cf. notas ,\0 .lft. 65." 
ARTIGO 2/' 
(NO(ao legal de indigena) 
Consideram-se indigenas das referidas provincias os ind~d­
duos de ra<;a negra ou seus descendentes q~e, ten~o nas~ldo 
ou vivendo habitualmente nelas, nao possuam a111da a tlustra~ao e 
os h,lbitos individuais e sociais pressupostos para a integral aplica-
do do dircito publico e privado dos cidadaos portugueses. 
, § unico. Consideram-se igualmente indigenas, os individu~s l~as­
cidos de pai e mae indigena em local estranho aque1as prov111C1as, 
para onde os pais se tenham temporariamente deslocado. 
1. Legisla~ao preterita. Confronto. 
o art. 2." do Est. de 1929 dispunha: 
Artigo 2.0 Para OS dc.-itos do prc:sente Estatuto, sao considerados in-
dlgenas os individuos da r3.\:J. negra ou dela descendentes que, pela sua 
ilustra\ao e costumes, se nao distingam do comum daquda ra\a ; c: nao 
indigenas, os individuos de qualquer ra<;a que nao c:stejam nestas con-
C!i<;6es . 
• \05 governos d.ls co16nias compete definir, em diploma lc:gislativo, 
as condi<;6es especiais que devf111 caracterizar os individuos naturais del as 
ou nebs habitando, para serem considerados indigenas, para 0 efeilo da apli-
Cat;ao do £Statuto e dos diplomas cspeciais promulgados para ilJdigenas. 
Do confronto entre 0 comeito de indigena fOlmulado na primtild parte do 
art. 2." do Est. de 1929 e a definic;:ao do carpo do art. 2." du Est. actual result.'t que: 
a) .- 0 texto adual ja nao ofen:ce, COlnO 0 Est, anterior, suces~ivaml'nk uma 
defim<;ao de indigena e outra J(: nao indigena, reJundanr ia manif(:stammlc (>scus,lda 
porque aquela exdui a n·cCl",~idu.dc Jesta; , 
b) -- 0 [,t. dt: 1929 wn~idef.lva lndigr.:nas 0, «individuos da nu;a n(~gra ou 
deJa descendtntes que, pela sua lluslra<;ao e (Ostwnc:s, SE" nao distingam do COUlum ~asuela r:~ar" l:?quanto qL~(' • para. 0 n~vo Est. ~ao. i.ndigenas os que <mao possuam 
amda ~ I. u'>tra<;ao e ?s habltos IfidlVldualS. e s.?CJals prE"ssupOMos pdra a integral ap!Jca~ao do d~f/Clto pUblIco (: _ pnvado dos cldadaos portuguese,>)). isto t:, situa entre 
(J COfllelto malS ,restrlto do hI., de, 1929 e 0 do actual,novas categorias de indio 
genas - {h d<:'>tnballzlIdvo e OS JI1dlgena; em <:volll(ao (Cf. para rnelhof l.ntt:ndi. 
Ida Freitas
Realce
ESTATUTO DOS INDfGENAS PORrJGL'EsES 15 
._---- -- --"----, -.. ._----
Artigo 2." 
mento sobre a nC'Ccssicladc de promover um estatuto parJ os indigenas destribalizulos 
~~ a~ota(J)('s ao art. 21."). Assim, 0 indigcna sO deixa de 0 set, nao por se di<;-
tmgwr do comum da sua rar;a (E<;t. de 1929), mas quando !>e identifiCd.c com 0 
grau de civiliza<:ao do, cidadaos. Na situa<;ao intermedia de indigentt deJlribaiiz,uiQ 
pode conferir-se .:.to indfgLn:J., sem perda (kssa qualidade, a faculdade (art. 27.(') 
ou mr:smo a obngatonedadc (art. 29.") de se re-geT pela lei comum. (U. anota-
(DeS aos arts. 27." e 29." e Prof. Adriano MoreIra, AdmitliJ!fJrao d1 fur/i(a aM 
il1dJ,;ellas, pag. 21 (. segs.). 
c) - A definic;ao de indigena do Est. actual i: ger.11 t: i!xcluJi,p. Geral, por-
que coroum it todas as provlncias de indigenao (c me-smo fora debs - § unic i) 
do art. 2.°): cxclusiva, porque 0 Est. actual nao atribui aos Governadores de 
provincia, como sucedia na vig&ncia do Est, de 1929. mmp<.-teocia pJI3. ddimIC'tIl, 
em diploma especial, as condi<:;oes qu-e devem caracterizar os indigenas das respecti-
vas provincias. Tao poueo a le,f:islac;ao local podeni alterar a presente defini<;ao -de 
indigena, por fon;a do principio consignado no § 2.° do art. 151.0 da C01lSt. Pol. ; 
d) - 0>; (Titerios sobre que assentava a definir;ij.o do Est. dt' 1929 - criterios 
etnico e cultural- foram alargados, acrescentando-!>e-Ihes tres nOH>S criterio> que 
funcionam acessoriamente, nos termos inJicados na nota seguinte, 
2. Conceito de indigena. Criterios gerais da ddini\ao. 
Os criterius utilizaJos pela ddinic;ao dt' indigena do Est. de 1929 sao ainciJ. 
hoje os prillcip,lis .. mas 0 Est. actual enumefllu outros critt-nos alt'5s6rios. Assim : 
1-Criterios principals: 
{/) - Crilerio etnico ou racial; 56 sao indigenas, em ~ntido k,c;aJ. 05 "individuos 
de rap ntgra uu os seus descendentes» ... 
b) - Crif<;r;o w/lltI'al: ... «que nao possuam :unda a iJus/r,;,';io» (indices lite-
d.rios: d. alineas b) e d) do art. 56.0 e alinea c) do art. 60.°) «t as hibitos inJiYi-
duais e sociais» (indict'S sociais: d. aJineas c), d) e c) do art. 56." e aJine;ls a), h) 
e d) do art. 60.°) «prt>supostoS» (peJos arts. 56.°, 57." e 60,") "par~ a inte~ J.pli~a­
<;:ao do direit() publico e privado .los cidadaos portugueses» ... 
Este (Titt-rio lllitural e enunciado por via ncgativa: «que "ao POSStL.lID, , ,,.; 0 
seu preJl'minio sobrt ('> criterio etnic:o rounifestu-se pllr aquele ceder per-ante est<-: 
individuos dt' ral,.' ncgr.l (,riterio etnico) podem deixJ.r de ser indigenas, verifjc~d.l.5 
as condi<;6"s t'xigl'i.!> "dus arts, 56." e segllintes (criterio cultuml), 
n -- Criterio, .lct'"orios ou subordinaJos: 
•. ) _ Cnl~,i(i do "jl'f soli» Oil do IUf,ll do 11.1Jcimenlo; ... "que knlum tuS-
cido» nas provinci,ts de indigenato .. , (Extep,ao: meSlllO fora dtSo..l5 provin.:.ias nos 
casoS previstos no § unico - preJominio do «jus SJ.ngUlnis»). 
d) - Criterio tlu «ius r/utTIiciJii» ou '/.1 rt!JiJ,~nci.~: . , , «vi,,:ndo h.lbitualmente» 
n.l~ provinLia, de indigenato, Mas nem por pas5:lr a vi""r b,rhifu.:J "ie,,:e em local 
csfranho aqudJs pruvinLias (Metr6pole, Provincia.~ de nao indi!!enat,
'
- Cabo Verde, 
S, Tume e:: Principt:, India, Macau t' Timor -- ou Eslmn,c:elfO) 0 tndigena deiutli de 
o ser alltullI:ltilamcnte (ipso jurC->. ,om dispensa dm fl"q"i~lt"S cnul1<.iaJos nt"~ 
arts. 51." e seg', (0', nU • 1.", 3." e 'j," d.l Port. n," 11.612, transcrit.i na II pane' 
deste volume) -- preJominio do criterio cultural. 
e) - Criterio do «jus sa!Jguitlis» ou tiP jili,J.-(io. I\'i 0 prt'SSUp..)st\.' da consi-
def;J.<;ao d" S Ilni,,,, em conjuga\ao wm (I criterio ,u1tlll;1. fX~r i~ ~u .. , ponder.!. a 
influi::miJ cultural dos pais sobre os fllho" meSInO subtr.lldL'" as tnoJ<:nclJ.s .unblcIl-
tais: predominio subre 0 jllJ JOIJI/,i/II, 
Ida Freitas
Realce
16 
f~TATI)TO DOS IND1GENAS PORTUGU.b:'.b:' 
---~~.----
Artigo 2." 
. . . d . terpreta~ao da defini~ao legal de indigena. 3. DUvldas susClta as na 10 
. " .' interpreta<;ao da definic;ao legal de indi-
Nao obst.U1tc os cfltenos mdICados, .a A' ' dial dadas as evidentes 
gt"IU nao e isent,l de duv~~s. alias de ImportanCla pnmor , 
impiica(ol"$ ptiticas da, F',OSI~ao qU~Jse adoptar'""dem colocar-se e quais as soluc;5es 
Enuncicrnos as hlpOteses dUVI osas que t'~ 
que mdbor Ihes convem: 
I - Hip6teses que podem co!ocar-se: 
. f'lh d rooenitor Que nao e de rac;a negra 
.1) -0 individuo mestI~o. 1 0 e urn p co· ~ . d'gena 
nemdela descendente, e de Dutro progenit?r !ndigena d: ~c;a ,negra) ou nao In 1 
(assirnilado) dessa rac;a e originariamrnte lllcilgeoa _ ou ,nao lllcilgena . d la des-
bJ _ 0 individuo filho de progenitor que nao e. d~ :ac;a negra nem e) 
d de DUtro progenitor mesti<;o (descendente de mdivlduo de ra<;a negra , mas ceo e e ,,- . d' ) 
olo indigena., e originariammte inaigt"IU ou nao m !gena . . . 'd 
O . ,1' .'d £'H 0 de progenitores mestIi;OS (descmdentes de mdivl uos c) - m_I~1 uo I] • 'I d ) ~ .. ,. t' eli 
de rac;a negra) que ja adquiriram a cidadania (asslfIll a os t' OflgInanamen e 10 -
gena ou nan indigena ? . . 'd d 
d) _ 0 individuo filho de prog~ni.to: ~esti<;o (descendente de mdlvl ~ UO. e, rac;a 
negra). mas assimilado, e de pro~eru,to.r !n.dlgena d~ r~<;a negra, ~m ~e ?ao l~dlgena 
(assimilado) dessa mesma ra(a e, o!1?m~na:nente l~dl?ena ou nao mdlg~ . . 
e) -0 individuo filho de p:us nao !ndl~~~ .aslmllad.os, ,Tlamdo depot! d~ aqll1; 
sittio d .. cidadania por parte dos p.1/S, sera ongmanamente meligena ou ?ao ~nd:gena . 
E se sO urn des pals e nao indigena assimilado, sendo 0 outro progerutor mdlgena ? 
II - Inlerpretafao iitertU da dfjinifiio legal.-
Numa interpreta~ao estritamente literal da defini<;ao legal, desde que os indi-
viduos, cuja situac:ao particular se contempla nas hip6teses anteriores, tenham nas-
cido ou vivam habitual mente em provincias de indigenato, dado que, em qualquer 
dos casos figurados, descendem de indidduos de ra(a negra, seriam originariamente 
indfgenas e 56 perderiam essa qualidade quando reunissem as condic;5es exigidas nos 
arts. 56." e seguint<:s. E is to, indepedrntemente do grau em que se situem na sua 
ascendencia os individuos de rac;a negra., porque a lei nao estabelece distinc;5es e, 
segundo urn conbecido preceito de hermeneutica, onde a lei nao distingue, nao deve 
o interprete distinguir (ubi Jex non diJtinguit, nee nos distingllere debe1lJ1Is). 
III - Critic a da allterior interpretafao literal .-
Esta interpreta~ao contraria, contudo, OS principios fundamentais da politica 
indigena purtuguesa que se orienta no sentido de considerar a situa(ao de indigena 
meramente transitoria e excepcional. Na interpreta~ao literal anteriormente enunciacia, 
o criterio thnico assunllria urn relevo que esta longe de corresponder as constantes 
da nos;;a politica indigena, pois que na pr6pria economia da defini(ao legal de indi-
gena e 0 criterio cultural 0 dominante (Cf. nota anterior), 
Kao parec<: curial que os descendentt"'S de indig<:nas, me<mo apOs urn proccsso 
de m(.-stl~gem, devam considerar-se para sempre originariamentt' inJigenas. Tal solu-
~ao seria urn retroctsso na nossa legisla~ao de inJigcnato, r<:troct'Sso tanto mais 
int'Xplicavel quanto e certo que 0 Est. actual csta dominado pda ideia mestra da 
transitoriedade da condi~ao de indigen~. Na verd,ade, os diplomas espelia.is antc.-rior-
mt:Ott' ~ vigor nas p~OVln(~aS ultram~n~a: de mdl):wnJto, consagravam a solu~ao legal 
de (ooslderar corno nao mdlgenas os mdlvlduos nt"ssas condi<;5es. Assim : 
~m Mo<;arnbique, _0 art. 3,· do Di\J. Leg. n,· 36, de 12 de Nov<:mbro de 1927 
(puh\tcado tm ('xerU(;ao d? bt. de 1926" mas qU(- 5e IDankl'(' ('m vigor na vigen-
CUl do Est de 1929), consldcrava caractenzados pelas condi\5es exigidas no art. 1.0 
ESTATIJTO DOS INDJGE;\lAS PORTcGCESES 17 
-------------- --------------
Arti,Vo 2.(1 
do mcsmo diploma (condi(oes para aquisi(;.o cU cidadania). a:, mulheres e O'i filhos 
005 nao indigenas e os filhos dum indigma e dt' t:m nao indigcna, mas perfilhados 
por cste. 
. . ~a Guine, consideravam-se para tC)Jos os dei~O$ como cidadios portugueses os 
It;dIV.ld~os de mc;a n(.'!ra. ou dela descendr:ntcs, qut:' se encontra ,5em l'..as situat;6oes 
dlscmrunadas no art. 2." do Dip. Leg. n." 1.364, de 7 de Outubro de 1946, de 
entre as quais interessa referir a da aHnea. a): <6et mulher, viuva ou filho de 
cidad2.o originario ou que haia adquirido r:ssa qUJlidade». 
IV - So/ufao do PI·oj. Silt.~ Ctmh,/: 
Como solucionar 0 problema. em face do E:>~. actual ? 
Perfilhamos a opini~(' recentcmentr: sustentada pelo Prof. SilYa CUT!:'3 D:lS suas 
li<:oes de Polltica Indigcna, proferidas no Instituto Superior de Estudos U:nmarinO$ 
(Cf. Pol/tica Indigena, II, apontarnentos de li<;5e5, 1956-195', p.ig. 18), segundo 
a qual se devera fazer uma intel'pl'etarao restritilla 2.., art. 2.". por forma a nao 
induir na Gltegoria de indigena os inclividuo<; .1nteriormente- indicados. deJde que 
filhos legitim os 011 perfilhddos do progenitor nao indigena, pois em tais C.15C'5 «0 nor-
mal e que 0 teor de vida dos fi!hos decor.a sepmdo 0 padriio normal cia cultura por_ 
tuguesa) (op. cit., pag. 19). 
Ao referido Professor ja se «apreseDta m:l.is duvidoso 0 C<ISO de filhos de cicla-
dio oriundo do gmpo dos indigenas e indigenas, mas, desdt:: que a qU:llidade de 
cidadao perten,a ao pai talvez se ppssa sustentar 3. meSIlla solu(io, interprt'-o.an.do 
a con!l'dl'io sellJ:i 0 art. 57.0 do Estatuto» (op. e pags. ciL). 
As solw;iies expost:!s restringem-se. porem, aos filhos ltgitimos ou ilegitimos 
perfilhados. A legitimidade ou a pe:rfilha<;ao ir;culcam qu.e 0 filho $(on!. educacio 
peIo progenitor que vive segundo 0 p.drao da cultura ponugutsa (ou de outro 
tipo de cultura «civilizada») e nao ab:tndonado ,\ lei cia selv2.. Nesta ultima hip6tese. 
pode considenr·se que ? incidencia ambiental e a influcneia educ:l!.iol12.1 do proge-
nitor indigena s6 dificilml:me poderiam str superadas POl' uma hipcMtica assimi-
Ia(iio proccssada ateaves do progenitor nao indigcn.l. 
IlTIpressionado~ peb circunstancia de se nos afigurar impossin"1 J. face ::!o 
Est., fUn<.hllTIe:ntar :! dife-ren(:! de regime entre filhos Icgitimos e perfilhaclos, p"r 
urn lado, e filhos nao perfilh:!dos, por outro, cheg.imos a p.cn'i~r que a 501u<;5.0 do 
Prof. Silva Cunha sO poderia considerar-st' «de jure constituendo». Mas ,1 necessid.1de 
de enenntear uma solu<;ao corresponJente ao verdadeiro sentido <b. nossa politica 
indigcfu"l, leva·nos a aphudir agora, sem reservas, .: soill(;:io do ilustre Professor. 
(Em sentido contrario,' pelo menos quanto ,1 filhos de cidadaos oriundos da 
categoria de indigenas, d. Prof. Adri.lno Morl·ira. Admi'Zilfr.:trao d.; J uJ/ira 305 
1 ndigellt/S, pag. 29). 
4. Situa~ao juridica dos Whos de J..Ssimilados nascidos :lctes da J.qui-
si<;ao da cidadania pOl' parte dos pais. 
Em n:la(iio a aqu:<,::., da cidadania por p.';t, de filhos legitim os OIl perfilh;>.-
<los de nao indigenas, u..IsridoJ mller d,[ d..Jla at! "qlliJi(.io 1.z .. id.:..i.lr.!J ~los pais. 
mas menores de 18 an()s, na mesma dat,l. vip;or:l a reg!J. dl' art. ')7,". sc!!unJo 0 
qual estes «podem tambem adquiri-Ia. no ClS(' de <.ltisLut'rem aos rt"qUiSltos cias 
alin(~s b) e d) do art. 56.°». 
~ unM &.itlla<;~lO interm(·di.1 enlre 0 pro(e"SSO de aquisi,J.<.' .l.ut<.'1fl1iw.":l Ja cida-
dania Cut. 60.") e a aquisi~l,) PO[ processo nonna!, rt',:.ulad.~ n,'s JIt.'. "t>-" t:' segs. 
deste Est. (Cf., nl'ste sentido, Prof. Adriano ",krcira, .iJm. d;1. .hst. .:,).i Ind., 
p:.ig. 117). 
Ifl 
Artigo 2: 
5. SitU.lt;:iO juridica da mulher indigena casada com individuo que 
adquira a cidadania. 
Ci. am)t.l~0es ao art. 57.0 
6. Indiaenas nascidos fora das provindas de indigenato, para onde 
os p~s se tenham deslocado definitivamente. 
~J.o obstant~ a interpreta(ao literal da liltim;~ parte do . § lini_co .d~te art. 2.· 
p<)dtr sus(itar duvidas sobre se os incllviduos nasc.tdos de ~ e mae mdigcnas, em 
local esttanhQ as provincias de indigenato para onde o~ pru.s. se tenham fes/ocado 
dejinith:.lmente, adquirem ou nao automaticamente a Cldada~I~,. as sol.u~oes apc:~~ 
tadas na Port. n." 15.612 (nas hipOteses contemplada~ peIo cnten? do filS .do~n1Cl11I 
- d. nota 2 a este artigo) inculcam que devem contmua.r a c.0nslderar-se mdlgenas 
ate preencherem as condi<;oes ex.igidaspelos arts. 56. 0 e segwntes do presente Est. 
7. Os individuos de ra~a negra (ou dela descendentes) originiuia-
mente nao indigenas, porque naturais de provincias de nao iudi-
genato, quando passem a viver habitualmente numa provinc.ia de 
indigenato, nao perdem, por esse simples facto, a sua quahdade 
de cidadaos. 
A solu<;ao em epigrafe impOe-se perantc- a distin(ao entre cidadania origin aria 
e cidadania derivada (Cf. nota 4 ao art. 1.0). 0 problema dos e!>tado5 jurfdicos 
e de ordem publica (V d. no<;3oo de ordem pi/blica em nota 7 ao a.."i:. 3.°) e 0 Est. 
apenas considera um uruco caso de perda de estado de indigena, 0 do art. 64 que 
obvi::c.ment(;" se reporta a cidadania derivada: «A cidadania concedida ou 1"eCOllhecida 
nos termos dos arts. 58.° e 60.° poden\. ser revogada ... » (0. Prof. Adriano Moreira, 
Adm. da Just. aos Ind., pags. 24-25). 
8. Alcance da expressao «viver habitual mente». 
o Prof. Adriano Moreira, ponde-rando que 0 E,>t. :lctual substituiu 0 conceito 
basilar de «domicilio» pda expressao «vivendo habitualmente» e considerando que 
tal substitui<;ao, por inteneiana!, so poderia itr () significado de juntar as regras tra-
dicionais do jus soli e do jus sanguinis, consagradas no art. 18.° do C6d. Civil, 
uma nova regra de atribui<;/io de nacionalidade, exdusiva dos indfgenas, com 0 
alcance positivo de abranger pOpUb~Ul" fronteiri<;as cuja sede de viua, flutuantc, 
poderia deslocar-se para territ6rio portugues, condui que sao s,;bdiloJ Oil llaciofJais 
portugueses os indiJ.!<:nas originariamente estrang<:iros «em ruio teur normal de 
vida se inscreve a desloca~ao para tcrritorio portugues», C'xduidas as «deslocac;oes 
puramente acidentais,. ~O,!IO M:rao as. que se inscrevem .no plano do recrutamento para 
o tr&balho em terntono estrani-,tlro» (vd. aut. CIt., Adm. da jllS!. ,/OJ illd., 
pags. 18-20) . 
. , 0 probl~a .d,: saber St? ef~ivamentt:', 0 art. 2.° do hI. consagrou urn novo 
cnteno de. atrlbwc;ao de nauonahclade, ic'Vanta uma questao previa: determinar se 
u Est. l: dlPI()ffi~ legal competente para dt-finir um regime juriJico de nacionalidade. 
Porqu,:" com delta, 0 art. 7.0 da Con>t. Pol. cornete it lei eivil a fa.culdade de dc1)er-
111lQar como 5(:'. adqulfe e wmo se percle a qualilhJe de ciJadao portugucs (no 
smudo de na(lOn~\Jdade), ~as parf'ce que cleve LlltenJer-se lei civil no sentido 
de leI comum, })OlS a deterffima<;ao. da esfera pessoal do btado e cll:: interesse tio 
geraJ t: rek'vantc que, durante mUlto tempo, a n:,pLttiva regulamenta~ao 5t: (Oll-
ESTATUTO DOS INlJi(JENAS POR11JGUESES 19 
Artigo 2.° 
~inha. entre .n?s. no pr?prio .texto co,nstitucional (att- a (' ... onstirui~ao PoHtica de 
911. exclusIve). IX.-vera, asslln, conslderar-sc abrangida na rernissao do art_ 7.-
da Co~st. Pol. 0 Est., .q~e e exernpl.o tirico duma lei especial? 
Nao obstante a duvlda. a doutema portugu(:"~a tern considerado que 0 Estatuto 
consagra de facto urn novo criterio de atrirui~ao da naciooalidade baseand~se 
na c.onj.uga~ao do art. 2." com 0 § unico do art. 1.", on·Je se fala ~prl"Ssamcnte 
em m~lg~nas portuguescs e ponJo-se ainda em relevo a epigrafe do capitulo I: 
«Dos mdlgenas portllglleres e do seu cstatuto». 
Este problema pn:nde-sc com questoes prJ.ticas de manifesto interesse; fot 
exactamente urn caso concreto, levado a considera~ao do itustre PrOClirJdor dJ. Re-
publica junto da Rela1;ao de Louren<;o Marqucs, Dr. Alberto Cabral cia Silva Basto 
que provocou urn judicioso Parecer deste magistrado que, pelo sea intercssc, ir~ 
edenr. 
o Comando da Policia consultara a Repacti1;ao Central dos Neg6cios Indigeoas 
cia Provincia de Moc;ambique sobre se <mm indigena estrangeiro. que entrou 
nesta provincia scm documentos pode ser dc¥:umentado com caderneta indigena 
emitida por qualquer uma das administra<;oes, e, em caso afirmativo. qual a dispo-
si1;ao legal que tal autoriza». A Rcparti<;ao citaJ.t rcspondea afirmativamente, e 
levantou 0 problema da nacionaliciade de indigenas estrangeiros. a face do an. 2,-
do Est. 0 Governador-Geral ouviu sobre 0 mesmo assunto a Procuradoria da Re-
publica. 
No parecer. invoca-se a opiniao, ja citada, do Prof.. Adriano Moreira., mas 
conclui-se por uma interpretac;ao mais esteita cia lei: 
«Embora se;a de exclllir a necessidacle de residenda perm.mente, parece-nos 
porem, a n6s qUe", em face da letra da ki e d05 :C!1te-cedentes dela ia referidos. 
uma simples reguIaridade de eomparenel:! nao bastara por. mais do que isso, ser 
necessario que 0 individuo, para vivcr habituaImente, cstabeIeca assim a sua vida 
com caraeter de regular estabilidade, implicando easa ou palhota propria. acompa-
nhamento de familia. se a tern. dcpendente de si e f'nrdcio dumJ. ac>iyidade normal, 
denteo do territorio nacional plra que seja considerado indigelu da Provincia. 
o 1!iver do artigo pareee impor esse minimo normal de condicoes pan que possa 
considerar-se que se efectua habitlMlme/lle jet que 0 habito rcsulta d.l pratica repe-
tida e. ate certo ponto, prolongada desse conjunto de aetos vulgares nJ. existencia 
de cada urn. 
Desta forma se ('"c1ui tlh.Io 0 que se desloca durn para outro lado da frooteira. 
cmhora com regularidade - como e, alias, normal nas populaC;5es indigenas. com 
o proposito de regresso ao territoria estrangeiro dande vdo como aqueJe que de 
Ja passou paLL 0 nosso territorio para prestlr determil4'ldos se'cvi.;-os ou efectuar 
trabalhos de caeaeter temporirio e com 0 mt'smo proposito de regrcsso findos eles 
- exemplo este que 0 Dr. Adriano r, foreira, alias feputa como n:io acarretando 
mlld.l1l<;"a de nacionalidade (ob. cit.) (*). 
Interprdando assim mais estritamente a lei supt'}e-se que se estei.l tambem mais 
I de harmonia com 0 sell fim e interesse superior do Est:!da i.i que rcstringie a 
possibilidade de naturaliza<;"ao dos indigen:ls oriunJos de krrirorio cstrm..iZeiro 
impede que, a titulo de re-ciprocidaJe. qut' represenhuia umJ. /·tt'.:lI/chl!. ndcs se 
proceda de modo prejudicial para connosco. 
De forma contraria pouco lurrariamo<; e muito nos suieitarbmos a perder 
<::m Angola, rebtivamente ao Congo Bd,Qa e Rlde~i'l d,~ ~l'rt(", como em ~h"-'lffir.ique 
bastando ter em mnta. como bern frisJ. a Rcparti,ao Central dos i\e~xios Inji~>n..lS, 
os 100.000 indigenas qlll' trab,dh.>,m na Africa dn SuI. 
DuviJas porem nJO pode haver que a simples entrada dum inJi.>'eru esU'.lfl~ 
Artigo 2." 
. a 'I'onol- contr.irio como isso stria a todos 
. nlo p,·rt'llte ,onsiJer.l·k> lOme) n. t.. , . f . 1 d' '-
gelw. .' . d 1 n do til' resulta da anahse da fL erll a IsposlC;ao 
0;: rnnClplO~ In er<lh,(ntlffic te G f P " 0 41/1')56 da Proeuradoria 
le'Ml como (lUff que eia s<: cr..tencia») (C. arnLr n.. ..' °8 0 1956 t""-" j • bI" a 10 111 0 Dn·C/to ano" , )0 til. Republic'.l de Lourenco M.u-qu\:s; e,;t., pu Ie ( -' " 
Fax n" 3" r·igs . .'(,8 e scgs,). . C h 
. . . :,. - pleno apl~uso do prof Sliva un. a, nas suas Esta lnkrrrdJ(ao nwrcceu 0 .~ . '. . (b' 
hC0es de Politic .. Co/un;.;! no Instituto Sureflor de Estll,lllS L'ltlamannos o. CIt., 
pacs. 15 e segs.). . b . -' . r d d 
• Embora no, choque \:tTIa m0dalidade 2.: atn ~lC;ao de naClOn~ 1 a e ~em 0 
conamo da vontaJe do t:strangeiro (por \'Cr.tur~ ate contra t1a), s~ pelo ~Imples 
iacto da residencia - fieis. Clssim. a uma doutnna que nos ,'em. p de PIllet-. 
part;;;e-t'05 estulticia discordar aqui. em simples anota<:5~~ a urn dlplom~ .~egal, de ti~ abaiizadas opinioes, pelo que nos absttmos de troltIr qualqu,er oplnlao sobre 
est:: mt.·linJr,1so e (l·mpJexo assunto. 
ARTIGO 3.° 
(Contemporiz<l<;ao LOtTI os USQS t costumes dos indigc--nas. Seus limites) 
Salvo quando a lei dispuser deutra maneira., os indigenas regem-
-se peios uses e costumeS proprios das respectivas sociedades. 
§ 1.0 A contemporiza<;ao com os usos e costumes indigenas 
e limitada pda moral, r·dos ditames cia hurnanidade e pdosinte-
resses superiores do livre exercicio da sob~ra!1ia portuguesa. 
§ 2.': Ae aplicarem os usos e coshlmes indigenas as autcriclaces 
prccurarao. sempre que posslvel, harmoniz(t-los com os prindpi05 
fundamentais do direito publico e privado portuguts, buscancJo 
promover a evolw;ao cautelosa das institui<;"oes nativas no sentido 
indicado por esses principios. 
§ 3.° A medida de aDiiGlcao dos usos e costumes indio-enas l- :. 0 
sera regulada tendo em conta 0 grau de (::voJ w;:io, as qualidades 
morais, a aptidio profissional do indigena e 0 afastamento ou inte-
grac;ao deste na socied~lde tribal. 
1. Legislat;ao prcterita. Confronto. Codificat;oe5 de US()s e costllme~ 
indigenas. 
Omniu-sc no actual Est. a n'gra ccns~graJa no art. 2." do Est. de" 1926, depois 
J;(:produLlda p.r, art. 4." do Est. Jt- 1929 nos termos seguintcs: 
. Art. 4'.D As c~d~fjcar;:o~ do~ u~os c co~tun:c:s privativos indigcnas scrao 
f(;ltas por c~rcun~n\oc:s admlf1lstLltIvas ou n:glUC::S, sc::gundo as circunstancias, 
!; nelas SE:rao acclte:s todo> os usos e costumes da vl'u'a 50'1' I' I-
_ r _. .' _ . • _ l a Inltlgena que 
nao or~ndam o~ dlrcltos de: sobcranla ou nao rcpu "I1Cll1 aos Inincll)ios d > 
humanJdacr'. b C 
Ida Freitas
Realce
______ ES_'fATUTO D9S _fNDIGENAS PORnJGUESES 21 
,-,~ ------- - ----- - --........ _---
Arti2;o 3.' 
_ § unico. Em rCi~ra, nJ. codifi(a~ao das tradit;oes de direito civil deve-
ra? ;ldoptar-se, de inicio, somente as disposit;oes clue {orem indispensa-
Vets para. regular, dum modo geml, as rda(oes desse direito entre os in-
dlgcnas. 
Sc :omarm?s ,.em con.sid7'ra(ao - ~omo impOe a .indok destas ~ota.<;oes - apenas 
as actuaJ.5 provwClas de wdlgenato, so em Mo<;amblque as tentatlv2<; de codifi~io 
foram particularmente numero5JS. 
JA .em .1852, 0 Dr. Joao Pinto de Magalhaes, Juiz de Direiw e Govtrnador-
-Geral_wtenno (1851-1854), por Port. de 12 de Maio de lR52, encarregou wna 
comissao de lhe aprescntar urn projecto de regulamcnto que, depois, sancionou por 
Port. de 4 de Junho de 1853. Mais tarde. 0 Consdheiro Tenente-Coronel FrarlclSCO 
Maria da Cunha, Governador-Gl:!.d da Provincia (1877-1880). nomwu comj~ 
?istr~tais encarregadas, igualmcnte, de codificarcm os usos e tOstumes indlgenJ..S; 
mfcllzn:mtc:, pare<;e que nada se produziu nesse senti do, registando-se apenas, CorDe; 
nota pltorcsca, a insoIita opiniao do presidente da comissao distrital de Moc;am-
bique que deciarou (maO julgar nece~sirio a codifica<;ao dos usos e costumes, pur 
conformarem-sc os povos indigenas com as nossas leis»... (Ci. Dr. Albano de 
Ma,galhais, EstlldoJ C%niai.r - I - Leghlacao C%l1i,tI, seu EspfriJo, Sua Form:J(ao 
(! JellS Defeitos, Coimbra, 1907, pag5. 140 e 2(3). A terceira tentl~:-:.l de codi!"ica-
c;oes coube ao Tenente-Coronel Agostinho Coelho. Governador-GeraJ de 1882 a 1~~,,5 : 
em 1882 rffomendava, em alvara de 12 de ,Maio, que os us os t costumes dos 
indfgenas «devem sec respeitados, desde que nd.o ofcndam a lei>,. nomeand" enuo 
l!ffia comissao para org:wizar urn regularnento paD as caw,as Cl!rl":lj, (Cf. 0 Orier:te 
AfricailO PorJlI[!.lIh, de M. Simots Alberto e Francisco A. Toscano, pac:, 1691. 
Embora a comissao fosst" numerosa. pareee que pouco proouziu, pois que 0 GO'\'er-
nador-Geral. por Port. de 21 de Setembro dc 1883, encarregou 0 Sl:cretario-Gec.!i 
da Provfncia, Dr. ]oaquim de Almeid.l e Cunha, do tr:th:dho .LtC ai comeudo a 
comis;:oes, A.,sim surgiu 0 Ertztdo tlcerC..l dOJ fI'OJ e (Uf!:m:CJ d'lJ bane,l71eI, lathMs, 
mOHroJ, gel/Jias e ind;Y,elhlJ (1885). Em 1889 publicou-se 0 «Cecii"" dos Milan20s 
Inhambanenses», aprovado por Port. Prm·inci:tl n.o 269, de 11 de i\f.lio d"ss<: aBO, 
() qual vein rLvO,;;ar 0 velho «C6di~0 cll' lviiland05 Cafrea.is do Distrito de Inham-
hane», cle 29 de Setembro de 1852, que: nunea reee-bera aprovac;:io do Govemador 
da Provfncia. 
P(}rcm 0 mO\'imento rodificadnr melis (':>..tenso foi empr""'ldidu peio Go~c:m.!­
dor-Geral Freire de Andrade, :to ordenar ,lOS C'pitae<;-Mores, Com.lOd.mk~ \!":lit2r~'s 
e Administradores de Cjrcllm("fi~ao que apre<;entasscn1 relat6rio<; ttn0j!rificos .:k~t:-
1l;J(bs a servirem de h,lse a (:blw;'l(aO de (odipos de mi!aodo;; (Port. Provo n." 144. 
dL' 1 de Mar(o de 1<)07, no 13. O. n: 9 d.l Prov, de MO\.). Para 0fienta<;ao des,,,, 
tf:lb~lhos parlciares, hOllVl 0 (lliJ;ldo de: distrihlIir rl"LI~ fntiJade-s m'''CiC,!11das um 
Pro;ecto de RiJg"l,rm~lIl{) /1.11'./ jtllgamelJlr) J" l\fil.1nd,,r. ebb\)rado pelt\ Pn:sidentc cI,) 
'rr'hunal da Rda~ao de 1,OUrell(O MarqUe'S, Dr. Albano de M l?:,alh:ii;;, Os tr"b:llhc's 
(,lltar) iniciados revelaram-se muito fl"lUndos, publicanJo-se dric, subsidios. estuJo~ 
(' proje'Ctos, de tntre os quais roJem (itar"se: R.lur. Uso, t CUI/kr.,,'.' dos l>td':S"';J< 
do Vi,trito de IIlIJ<llllb_mc, por Augu,,\o Pl'reira Cilirctl (1910) ; Al',:,.: .. mewo .• J'Jbre 
ltIiIIiU/Ui, colhidos pelo Pn:~idel1te d,l Rela(io Dr. Albano de 1f.lL:.l!h'lIs (1910): 
In!orm_l(oeJ sobre Usos <' CO.fllmWr Jndlgell,/J", pelo A,lmin;~tr:iJor J.i ".' Circuns-
cric:ao (1Lll'u\o), Joan Bravo Faldo (l')1ll); U.ros e Crll;,.1S do.' hi,("-':':"- do 
Ditlrito du 11!/J.{mh,lIIe, pDf Bento Casimiro Feio (1910): In/urmJ\'jo lob'e dlgU1IS UfOS 
e Cos/limes lliJigenas d,., Cirfll11So'h·oe. de AI,.nica " S·,faL t 1 "10) : .1po/J.'.'1"r.c·t:tor 
!ur" 0 P,u/cUr, de IItTl Ccidigo de j\I:!.',idoJ, peL) IntffiJente do GovernL) .10 Ibv. 
Antoni(. Ferreira dl' Carvalho (1910) ; [,,·jOrf11.1r i., , sobr~ ,r1g!"IJ ['sur .. ,_:OSll4m';i 
">"'I _____ E_S_T_A_Tl_TTO __ DO_S_ll\,'DIGENAS PORTlTGUESES 
AltlgO 3.° 
IIlJig<:,.czs nos ConcelhDJ Jo lbo, Lago, Mef,1/"ic,1, Qllissanga e Ttmglle (Companh' 
do Nl<lSsa), (1910); P:oj~cto de C6digo de COJtumes Ca/reais, POt Augusto' Ca: 
do5O, Gov:rnador do. Dlstnto de Inhambane (1910) ; P"oiecfo de Regulamento para 
o JulgJm~nto de Mt/andos, pelo Intendente do Governo da Beira D At d 
'Id h r__ ' . varo e ~ an a e ,~tro (19~O) ; Bases par,'/ um Regulamento de Milal1dos (1910); Pro-
I,eto de Cod/go de Mr/andos pm'a a Cirmnsc";[!io do SenfT, elaborado por Manoel 
Monteiro Lopes (Beira, 1909). 
A codificar;ao dos usos e costumes gentilicos foi poueo depois preconizada no 
:U:. 37.:, n.O 3.°, da «Organizar,;ao ~dministrativa da Provincia de Mor;ambique», de 
Aires d Ornelas (Dec. de 23 de MalO de 1907), e competia a entao criada Secretaria 
dos Neg6cios Indie;enas. 
Ainda no proposito de dotar as provincias de indigenato com codigos de 
Jjze.ito consuetudinario dos povos aborigenes, a «Lei Organica de Administrac;ao 
Civil das Provincias Ultramarinas», de Almeida Ribeiro (Lei n.O 277, de 15 de Agosto 
de 1914), mandava proceder, no n.o 7.° da Base 18.-, a codifica<;ao dos usos e 
costumes indigenas, «no mais breve espac;o de tempo». 
Em Angola tentou-se dar cumprimento a essa deterrninac;ao. 0 Secretario dos 
Neg6cios Indigenas e Curador Geral da Provincia, Ferreira Diniz, elaborou nesse 
sentido um «Projecto de Estatuto Civil e Politico dos Indigenas», curto diploma 
de cinco artigos, que se completava e articulava com um «Projecto de Administra-
c;ii.o de Justic;a aos Indigenas da Provincia de Angola», diploma mais longo, onde 
se compendiavam as regras de direito adjectivo e substantivo respeitantes a indigenas, 
coordenadas com as norroas consuetudinarias tradicionais assim, e de certo modo, 
codificadas (d. aut. cit., Os Indtgenas da Provlnc;a de Angola, Coimbra, 1919, 
anexos I e II, pag. 610 e segs.). 
SO em 1941, para cumprimento do disposto no art. 24.0 do Est_ de 1929, 0 General 
Tristao de Bettencourt, Governador-Geral de Moc;ambique, deu inicio a Unica tenta-
tiva de codificar;ao moderna, incumbindo 0 Dr. Jose Gonc;alves Cota de elaborar 
os projectos de Codigos Penal e Civil dos Indigenas (Despacho d~ .28 de Julho 
de 1941). Em 1946, publicaram-se efectivamente os Projectos Defmlt!vos. do Esta-
tuto de Direito Privado e do C6digo Penaldos Indigenas de Mor;amblque que, 
todavia, mo foram p05tos em vigor. . ' 
Como se disse de principio, 0 Est. actual absteve-se de enunClar. urn ?recC'llo 
tendente a codificac;ao dos u50s e costumes gentilicos. A razao d~sta oIlenta(ao pode 
encontrar-se na preocupac;ao que inspira 0 nossa direito ultramann.o ~ctu:ll de a.fa~taI 
os obstaculos a natural evoluc;ao dos ioJigenas no sentido da asslmdac;ao (as~JmJ!a-
- d' I 'I . rt do § 2" deste art 3 0) dado que as co(lIfl(a~oes c;ao ten enCla - u tJlna pa e . .. , . , 1 
- de certo modo urn elemento cristalizador do direito, como p pOOl era~a ? ~~f _ :Marnoco e So~za, ao afirmar que «t~s c6digos imobili1.am os costu.mes /fidl-
enas tirando-Ihes a flexibilidade que eles tlOham e retardando urna t:Volu(ao natural 
g , od". ta to do dominio europeU» (aut. ot., Antolog/tl Colo1l1.11 que se pI uZlna ,lO con c 
PorlJlgUeJa, voL 1, pag. 107). , . d " 
Contudo as compilac;6es existentes d?s usos e costumes gentlhc~s, e c.aracter 
• . .' ~ de rova de direito gentiilco, por forc;a do art. 14. do Est. dos 
otlCral, secvlfao. P desenvolvemos n(."Sla nota a bibliografia refert-ote a codl-J. M. Essu, a razao porque 
fical,;Oe de direito gentilico. 
2. Remissiio para legis1a~iio gera!. 
Cf. art. 138.0 da Const. Pol. e n.o III da Base LXXXIV cia L. Org. 
ESTAn 7TO OOS INDIGENAS PORn;GUESES 23 
------------- -----------------
~ .... rtigo 3.· 
3. Conju&;}(;aO com outras disposi~oes deste Estatuto que ~-stabelecem 
e~,cep\()c'i it regra do corpo do art. 3.0. 
. G. arts. 25." (prindpio da assimila<;ao penal). 27." (faculdade de op~w pela 
leI comum) , 29." (aplica~ao exclusiva cla lei comum) , 31." (0 direito de propriedade 
sobre coisas mobili:irias e regulado pela lei comwn) , e 47." (as re1l1{Oes avis e 
comerciais entre indlgenas e nao indigenas regubm·se pela lei comum). 
4. A contemporiza\uo com os usos e costumes gentilicos. 
f no direito colonial, como observou Del V(:cchio, que a cc>labora~ '~~tre 
as duas Fontes tfpicas do Dirt'ito -- a lei e 0 costume -- deve ser 0 mais harmo. 
nica possivel e, mesmo. convergente (CE. Brever Re!le..:io,les Jobre Derecho Colonial, 
apud «Atti» da XXV reuniao da S. 1. P. S.. em Tripoli, reunido na colectanea 
espanhola de obras do A., llerhos y DOCIrina.f, Madrid. 1942, pag. 166). 
Os motivos que tdeologicamente informam a ordem juridica geral devem, por 
certo, ser relevantes em todo 0 territ6rio nacional. mas nao segundo urn doutrina-
rismo abstracto, uniformalizador e simetrico. de olhos cegos para a relatividade das 
condi,oes de vida. 
o presente artigo, ponderando os imperativos culturais e etnicos, reconhece 
jurisdicidade aos usos e costumes pr6prios das sociedades indigen..'ls, consagrando 
assim, expressamente, tal ordenamento consuetudinario como fonte de direito privado 
colonial. Mas na forma programatica cia ultima parte do § 2." reve1a~se a preocupa-
(aD de convergencia da orde.m jiiridica consuetudinaria no sentido da ordem juridica 
geral, de resto corolario do pr6prio desenvolvimentn da ac(ao civilizadora de carReter 
tendenci:dmmte assimilador, na sequencia da ideia da progressividade. elemento que 
distingue as sociedades humanas d:ts sociedades animais (AutO! cit.. uroes de Pilo-
lolia do Direito, trad port., 2.' ed., 19)1, pag. 331). 
5. A ordcm juridicI consuetudinaria como ordem juridica dcrivada. 
Por ordem jurfdica entende~se 0 complexo de normas de Din'ito que possuem, 
como base ultima da sua jurisdicidade, 0 mesmo fundamento (Cf. Kelsen. Teoria 
PJlrtt do Direito, 1945, pal'. 61). 
Quando 0 fundamento da jurisLlicidade das normas de dc-terminada ordem juri-
<lica ja nao e apenas outra norma juridim f!l..'lis solene mas urn princfpio hipotetico 
(a constitui~ao hipotetica de Kdsen, op. cit. pag. 6S) ou urn postulado insusceptivel 
de demonstra~ao «(Om pretende Morelli, I.e::;olli di Diritto Inlernaziol/.11e Prit'aJo, 
1941, pag. 3) estamos perante uma ordem juridica aut6noma. 
Contritri.lmc-nte, se 0 fllndarnento da jurisdicidade das norma' de derenninada 
orJ~m juridica e uma norma de outra ord'11l juridica, aquela diz·se derivada ou 
slIbordinaLla. 
Or:1 as normas juridic:ts consuetud'inarias cuja manuten~io se consente., ~ram 
o fundamento cia sua jurisdicidade cIa norma pl:rmj~si\'a do corpo do art. 3." deste 
Est. - sao, pois, orJen; juridicas subordinadas au derivadas. 
6. Limites da contemporiza~ao com os us os e costumes indigenas. 
A (ondmao que apontamos na nota anterior conduz-nos a co[lsC'<juencias feo 
rundas: tratando-se de orJt'I1~ juridi(:ts derivacIas, i: legitimo que .1 ordem juridica 
principal estabele~a certos limites a jurisdicidade das normas UsualS e costumeiras 
das sociedades indigenas. Quais sejas esses limites, e problema que de hi muiw tem 
prt'o(upado a doutrina. 
F5TATUTO DOS I~DiGENAS PORTI1GUESES 
---- ---_._------------
Artigo 3." 
.1) A:;sim, I) Coegc(>Ss,) Iutem:«!olul de S[>eiologia Colonial, reunido ~m Paris 
em 1900, :l q~and,) da grande Exposi<;:io Inkrnacional, aprovou um voto, proposto 
T'"r Arthur Glrault 1'0 seu not:,vd relatorio sobre a Conditioll des Indigi!l1e.r au 
r~ml1 de 1-11<' de /,[ UgiJl4tion Ch'ii et Crimil1cl/e cf de ia DiJlfdwlt;(JJ' de fa Tllstiee 
~egundo 0 qual seria «dcseja.Yel d('ix~r aas indigenas 0 beneficio dos s('Us costumes' 
~t'~rr,' que esse'S COStl.\lDes oilo fossem incomrativeis com 0 respeito devido a vid~ 
e ,\ hberdade hun1.lnas,>. Du,cmk a discussao do citado rdat6ril). 0 advogado Paul 
\'.'.n em" er:.bc,,,,he c1l'."gou a propor qlle sc' acrescentasse a f6nnula de Girault a 
seguinte fras.e (, ... ou quan,1o nao \'iolem as no;;sas ideias de justic;a e nao sejam 
conL.irios 0105 interesses dos inciigcnas», mas 0 Congresso aplaudindo a replica do 
relator de que tal formula. scri:1 (<abrir a r-orla a todas as tentativas de :lssimilac;ao», 
rejeitou a emenda. (d. CmgrL lmemacional de S()cioi"gi{' C%l/i,d, tW.1I a Pa/';s 
aM 6 (111 11 Ao.; 1900, P~~ris, 190" pi,(!_ 55 - rc!atorio de Girault -, pags. 214-216 
- dis~'Ussao do cit. rd.at6rlO. - (:. r',1g. 443 - yolo - todas no \'01. I). 
b) Logo no ~o segJinte. 0 Congr.:sso Colonial Nacioml. reunido em Lisboa 
em 1901, emitiu sobre 0 mesmc· assunto novo yoto, segundo 0 qual as instituic;oes 
jurldicJ.s dos n,i r !\'o5 dev('riam S!:'f reconhecidas enqu:mto nao contrariassem a moral 
e a justic;a. Esti f6nnuJa, como se \'c, harmonizava de certo modo as propostas de 
Gi.rault e de Van Ccluwe,,~er.c:he ao Congresso de Paris. (Cf. Congle.rso C%1J;a/ 
Nacir'rJal iJ;auglJrado no dj,i '2 de Dezembro de 1901, Acia.r das Sessoes, Lisboa, 1902, 
pa,Q. 277, voto VII). 
.. AGr" depois, 0 Prol:'. L('?o Vaz de Sampayo e Mello, criticando largamente 
o voto do Congres5o Je P.:ris (que, em sell eatender. conte:nporizaria, ipro facto, 
COr.1 uma forma de D..:.t[('POf?,~i.:.l que se limitasse a devorar as vitimas de motte 
llltural). considera c;ne «as institui<;6es e COS::Ul:~('5 dos indip;enas devcm ser conser-
vado5 auan<!.o nao sc'p.m incompativeis com os preceitos do Dirc-ito Natural ou com 
3. segu;:,m<';~l politica <1.'1 coJcnia_ e ainda qc::cndo nao represen;l-rI1 pritica de if!tole-
rivd seh-ageria» (d. (l!te.li&eS Coloniaes - Politica li,d;geil:J, Porto, 1910, pay,. 16). 
d; - 'Foi c Cons.-:lheiro Almeida Ribtiro quem, entre n6s, introduziu no pluno 
!egislauvQ a rrimeira dcfini~J.o das limil1\';c;, impostas it ac~i~a,ao dos usos e cos-
m:IDcs indil:enas. E CGmo os trabaJhos do Congresso de So~iolo:;ia Colonial tinham 
impression~do viv::uTI"ate os coloni:llistas coevos (0 Prof. Marno:o e Sou~ d::s,ifiwu 
liS aetas L_:' Congres50 como «ffionumcnto lmorredouw" - Admlll/J/iclfc/o ~()loJlI{/,I, 
1905. pag. 401). a Lei n." 277, de 15 de Agosto de 1~14 (Lel Organ!ca ue 
Administra<;ao Ci\ il das PrC'vincias Ultramarinas), _ na ~s.telra das con~lus~)(:~ de 
Paris, dispunha na l:S:ls:: 18.\ n." 2.", que "~lS rda<;ol'S C!VlS entre:Ics [lndlg(:ll,a~} 
serw reguladas pelos usos e costwnc:, pnv;,tlvos. el7l tudo 0 que nao for contr:HLO 
aos direiros f'.!.nc!;:'E)l'otais da vi,h (: da libenlade human;!» .. , " , 
e) __ 0 r:.;~. de 1929, no ~eu art. 4." -- repetlndo, ahus, ? .art. 2. uo ~s:: ~e 
19-' ~ di<DO<tO na ultima parte cia Base III, das Basts Ol'gaDlt3S LIt Admlllboa-_~' c~l~nial' (Bacelar Bebiano), aprovadas p<:lo Dec. n." 15.241? ?t: 24 d; Ma((;o 
: 928 _, '. exigir wmo Iimites do dirdto consuetucimano .lflcilgena, (} 
1 IP;5SOd :Ur .~, _ d"; s'oh(;.rania ( a "',e"uranca politica da coI6n1.l". de que rf>sjX:1to IX 0" "r:" .Yo ~ • b' . • . ,. d f~h';a Sampa}'o e l\fdlo) c pe!os principios de ~lUm;l!Jldade. Nos. «pn~(!p!Os. _ e 
h 'd d <·nt·~;-ova se tJ l("lte6do do voto lll: Par!s -mas aInd.! ot omltlU umam a' e)) JI cu",_ - .. , 1 L' b .1 1901 
1_. ,.'.1. pc.la moral enunClado no Congrt>so ce IS oa oC . o lrrt1te cor:'.·1tu\u(Y ~, b' J t 246" I C } Foi. p( i'. do art. 22· do Act. Ct,!., com IJl~'.\U com. o. ~',. , } .. La .,.' f ~_1 ~Uffier3."~o malS extens3 e cUieada do:, lUftltt:S ao ItLonit.-Or" que rC~<.lltOu wna ~..,~ <Xl . . . 
. 'J,-, d '. tumes indi (T~nas os quais nao p 'eflam contranar os Prlll-
c:o-.(-mo 05 1~>OSl c (d(>:tam~ c\a l;~ma~i(l.ldt: e as condi~ues et" livre exerdcio cia 
C'PI'i'· d.a JilOla, os I 
:.oOtllUlia r"Jrtugu(;S~. . . d Act C I " a O'n~t ) (_ lim.ites anteriormentt indlGldo, tran,<t':lr::.r.1 0 ". O. PJIa " ' . 
,g j, c' uando aqtlde diploma deixou de s(:r m~tcnalmffitt llutollomo, 
PUt. (;;.rt. l~S. ), <j. t ~to clJn.,titucioru:d as rc!,ras q'.le continha (1951). pa:.:>an~lCJ .. J[K(.rl'porar-~e no (! 
ESTATUTO DOS INDiGENAS PORTIJGUESE5 25 
. ---- -----_._-._-----
Artigo 3.° 
Desta sortc-, us Jimilcs gerais da contunporiza(~o com 05 l1~;Oo;. " costumes locai~ 
cnunciados no texto con~titu(iollal, sao l'cpdidos no art. 3.· dcc.tt E~t. 
7. A no~ao ue «ordem publicd coloriial». 
D"v(;' notar-se, porem, que 05 Jimites estabelecidos pda ordem Juridic;, prin-
cipal a ordem jurldica dcrivaJa nao sao arbitricios. 
A accita<;ao dos US05 e costumes tradicionais das soeie-dadc-<; gentiJicas nao se faz 
sem certo sacriflcio da soberania da ordem juridicJ. principal (p,.rque:-. como_ ~e ilis5e, 
se vai l'etirar eficacia normativa a part~ do direito (ornwn em rda<;iio aos in.:igenas 
- art. 1.0, nota 2, in fine) - sacrifieio que ted, n.1.turalmente, )irnites b"hL.l(.b, 
por certas conceN5~s fundam:·ntJ.is J~ ()r~aniza\ao e dir,ciplina social de que niio i: 
possive! abdicar. Tais concep\ues CO:1c,titU(:rn de urn mojo ~eral a no<;:io de «Qrdem 
pllblica» que, quando reveste (} uLnicter, Gue agora f'.lnieuJarrnente:- nos irr~eressa. 
de por de acordo a concepc;ao de civiliz,!(ao adoptada pelo Estado civiliz.:Jor com 
a manutenc;ii.o (12 ordem juridica indig~'Ila, toma 0 flU!;1e de «ordem p:tb/i," c, ;·~niaJ •. 
Ii no re3peito pcb moral, pelos dilames da hununiJ~d'_· e pc/os intere:;:>{;'i supe-
riores Jo livre excrdcio da sobe-r:u1ia portuga:.'sa que 5(' 1Ul.!lioa. no mommto actual, 
a ordem pllblica colonial portugm:sa. 
(Suhre 0 conceito de «ordCTIl publica cobni~hl, cf. l) estudo A S'/(';'/ de 
Ordem Pltb/iea Colonial, do Prof. Silva Cunha, ill E."t/doJ Col!/.'li..;;.;. E~vi;.t.l QJ. 
Escola SuperiGr Colonial, VCII. I, f~. n.'" 2-3, PUt;';. 107 e s('[.lLin~cs). 
Nao 5C confunda, porem, a OV\30 de odem I~ubljca (conjunto de principICl'S) 
com as chu1l1.ldas 110rmrlJ de il1tell:sr< e oldem Phb!ic", Ii.> ql!ai, mc'Smo no c;:mru 
geralmerrte reserlfado it autonomia ,t, vontade (como 0$ contnto'). nao podcrn ser 
afa~~.l'.bs pcbs partes. E,':mplo de norma de iokresse e or,ltlD puJ-,lic.' de f:5peci.ll 
aplica,iio 11(1 LTltramar t: 0 .ut. l." du D.c n." 36.909 ('L!Sptc;,~o ,!~ ac(Oes de 
db;:2jO contra 0 Estado) de 11 ,L Junho de 1948. 
8. ConLclldo da «ordem publica colonial» porruguesa : 
A) -A moral. 
A COl1,:, PoL ap.:n,IS feconhece e"mo limites dJ '"bl-rani t do E:>tado p: ~(",:U.:'-' 
;l mot'.1l e 0 dlre/lo. c.:,..t pc·r 1!'JoraJ, t:pc'(ifi -:1 ainda a lei cl.ln:;titucionaj, el1lenJe-".-
a mOI',1i cri-rt,;, tl'aJicional no pais (a't. 43.·, § 3.") (U. i'c"F. M.lI'cello C~eL'tn,·. 
A C-,}""ilJlj(:io dc 1933. pa~s. 32-~\ (' Frof. Silva Cunha, .1 Nor.]., d" O"j,J'; 
Pub/i,-,; Colonial, lit.. r;igs. 119-121J). A ch se repona. tamI~tm, l,l:)\'ian'e"~, 0 
.lrt. 1'\8." da !l!l·SITI.l COilst. Pol. e, POlt.l!lto, () § 1." do art. 3." JLste- Est. 
M.l:> a l ';i,:CUliJ do respt'ito Ft'b mor.Ii erista ,IL ve entt-n,:er·se ern l;ecm& 
h.ibeis, imprimindo a esse Jimite LUlU cuta flexihijid.hlC'. 
Com (cfLito. " mor.d e 0 funJ;unento e a finaliJadl: de todo 0 Direito. t'. ~s>im, 
o pr,"prio direito Uln"uduJill.;rio Jos indigents (no qlt.d Sf: insncvt1TI .. alih, ;c,,,,,,, 
regras wrinicas, principalllll:nk nn, slxiedades isl;unizad.ls J.l Guin~ e do f1<:.rt<: 
de MtX;Jlllbi'lue) kill a sua funlLun('nta\~L> mor~l- lit;rna ed(a ql:C' 010 :: ~ If'_':~, 
]"')' i,m, 11ll1a jntel!'r~ta(Uo inflexlvcl dos lin,itL's impostCl'S pc-la m(·'~.l! 01 :;..::cit!l(!io 
dos !lSI)S indigcnas, miria no extrl'r110 JL' r(>ijr~ .. jurj',!icidade a tc ... ia$ as n.>rmas 
do din.itLl inJigc:na, cuja fundamcf't .• c.',) mG,J! nie> wincid" <: <em .i nll'~.d (r-j:;.::a. 
N0.() e t',,~e, eviJwtemente, () pI:[b"mcnto <10 j.:gisbdor. ;-,'mn rcsulta .1" Jispo-
5i,iies do pr6priu Est. ASSJrI1, dJ. pn-:,uo<;:" c·;.!<lbe1ecid:l r,,' ~ 3: Ce' .IC-:. 3l},", 
inf(c.rC' .. s~, a '-Ol.':""r;o, que, trol l~!San1('ntos cr.·I. ... br.:.Jos sL;t:undl) os L"~I..~," ~~,--'fl:{!~a)~ t2 
adl1litid::t a pnligamia- pd.tlu que, todavia. f: d,,·I~.'U:1(:nt. l0~1tr.':I.: .I T.,':~l 
crist'i. 
o liIIlitL Jjer,d Ja apli(at;iio dos usus e costun1t~ gt:·ntlH~i..·' 1...~~J.!x~~;:lid,_) n~ 
rSTATI:ro OOS INDIGENAS PORl1JGLESES 
Artigo 3,· 
, " "I'tel ~da moral crista - tern formula<;oes cspedfic~" em 
" 1· Je-ste 'rt 1 -respt ~. , (' 'I'" d 'd d ~,' '.~' d" E t tai"- como: art. 15.· ill fme pnVI t:glOS as auton a es 
div("rsos artli:O$ 0 S." , hJ ti'I")' t 30 0 § 1. 
" ).' 170 00.· (actO'S "edacos aos c t:les gen lCOS , ~r. ., . ~t~ti~I;-asd " art. ,~.' nde' maricio por parte cia mulher indigena e prolbi<;ao do levi-
,hl'<;'lUl ... ce esCOwa . ., I' d' . d' 
) -'0" ~~ 2· e 3 0 (rroibi<;ao de poiIgamla e po I3n Cia aos 10 19enas rato : art. :> •• ~'ii' • 
(.lsaJ"S (lflonicamente) ; etc. 
9. Cent.: B) - Os dit:unes da humanidade. 
A expressao - «ditames da humanidade» - e de significac;;ao ~as,tante fluida e 
S(L<'(f"ptivel de extensao varia, mas .unanimam,ente se the tern atnbU1d~ 0 ~a1c~n.c,e 
de induir no seu conteUdo 0 respelto pela Vida human~ pela pe~sonal~za<;ao ~u.n­
dica das Fl~soaS humanas (proihic;;ao da escravatura) e pela sua Integndade flSlca 
e li1:>t:rdade. 
10. Cont.: C) - Os interesses superiores do livre cxercicio da sobe-
rania portuguesa. 
Contrariam 0 livre exercicio da soberania pOliuguesa as normas consuetuJinarias 
des indigenas que cerceiam as condi~6es que permitam exercer plenamente as fun-
~Oes juridicas (legislativa e txecutiva) e nao jurfdicas (poHticas e tecnicas) do 
Estado ou se substituiam a este no exerdcio do poder politico e da soberania. 
T::mbem 0 Est., alem da regra geral do § 1. 0 deste art. 3.°, dissiminou por 
outras disposi~6es formulac;;oes tendentes a limitar os usos e costumes indigenas em 
func::'o da salvaguarda da soberania portuguesa, tais como: art. 10.", § 2.°, 2.-
parte (condi<;oes para a manuten<;ao das autoridades gentilicns) ; art. 11.°, § unico 
(homologac;iio da designa<;ao des regedores); a:t. 12.0 (homologaC;;ao da escola 
de, chefes _de ~rupo e ~hefes de povoa<;ao) ; art. 14." (proibic;ao de destitui<;ao ou 
~t'lnt~gra~ao aas autondades gentiEcas); art. 15.0 (Iimites aos previlegios das 
aut:da;les _genti!ic:;s) ;. art. 17.0 (actos vedados aos chefes gentilicos); art. 18.° 
(su rdin;u;ao hlerarqulCa das autoridades gentllicas as autoridades administra-tlvas) ; etc. ' 
11. Medida da contemporiz~ao com os usos e costumes gcntilicos. 
DefinidfJ> os jim ;It' da ct' - 'Ii r"~p . abe ' on emponzac;ao com os USGS c costumes genh cos, 
-"".4 re agora est- lee r d'd d ". \.1m cr'" ,"' 1 e a me ] a e5sa contemporizac;ao. 0 Est. ac.tual enuncra 
. I.ena a ta respe!' ° 1\ 3 0 d 
cue ('ra omi<so t '. nO
I 
'ii . este art. 3.0 - ao contrario do Est. de 1929 
. ." nes e partleu at. 
Convem ainda acentu' . , . d 
como tais _ a 0 ~ ar que, enquanto se faculta aos mcilgenas - contmuan 0 ~e Ihes cor":':rc ~c;ao P?b'l~guma ou algumas das materias enumeradas no art. 27,0 
de ap\icar,ao d<x pom, I 1 ade de cstabelc:cerem, por iniciativa propria, a medlda 
'f". 5eUS uses e costumes .. I - . 'd' d . 'tul es t:. nma Impor+ant'· . _ as re ac;oes Jun leas e que sqam h ar . 
, ISSlma movar;ao de<;t E t f f I' e ·S., que se nos a .igura particularmente e 11:, 
12. Os indigena~ destribalizados. 
'" 0 af ta " ~- ... as mento dos incH/!.·· d" J ql!e slgnlflca uma v d"" en.lS a sOCleJade tubal i: de tal modo rna1'ca 0 
c. r l; . (>f "'-ltlTa <,ubtracra' \ .. 
J re ·,.\Jv;< mtegra!;ao Of ,. h'h', . ' ? a tra'lCIonal disciplina da tribo, seID uma 
aph, - d h altos mdlv'd" . t ral a~AO 0 dircito puh]' .. 1 lUllS e SOCialS pressupostos para 10 eg 
"W(JOtr" J( 0 e PTlvado d . I d- ( f 2 u) f: C< i!lJl~nos em prestn,a da si _ os ,Cl,.a aos port.u.l~u.eses C.' art. . , 
.>ntempiado nf)$ aru 210 2 • tiIa,ao de mdlJ,:ena destnhallzaJo cUJO problema 
. " 2. e 29.0 dt·.,te E<;t. 
ESTATIJTO ooS INDiGENAS PORTIlGUESES '2i 
ARTIGO 4.° 
(Fins cia Politica Indigena) 
o Estado promovera por todos os meios 0 mtIhommento das 
condi~6es materiais e morais cia vida dos indigenas, 0 desenvolvi-
mento das suas aptid6es e faculdades naturais e, de maneira geral, 
a sua educac;ao pelo ensino e pelo trabalho para a trans{orma~ 
dos seus usos e costumes primitivos, valorizac;ao da sua actividade 
e integrac;ao activa na comunidade, mediante acesso a cidadania. 
1. Legisla\"ao prete rita. Confronto. 
o actual art. 4." corresponde, em parte, aos arts. 3.~ e 4.· do Est. de 1929: 
Art. 3.° A Republica Porruguesa garante a todos os indi'genas os dire:i-
tos concorrentes a Iiberdade, seguranc;a individual e propriedade, a defesa das 
suas pessoas e propriedades, singulares ou colectiva, a assistencia publica e 
liberdade do seu trabalho; e promove, por todos os meios, 0 cumprimento 
dos seuse deveres conducentes ao melhoramento das condic;:oes materiais e 
morais da sua "ida, ao desenvolvimento das suas aptid6es e faculdades na-
turais e, de maneira geral, a sua instruc;:ao e progresso, para a transfor~o 
p,radual dos seus usos e costumes privativos, valorizac;ao da sua acti\ridade 
e sua integrac;:ao na vida da colonia, de modo a constituirem urn e.:emento 
essencial da sua administrac;:ao. 
Yd. art. 4.° do Est. de 1929, transcrito em nota 1. aD art. 3.· deste Est. 
2. Remissao para Iegislac;:ao geral. 
o presente artigo constitui urn desenvolvimento ,Li B,l'(' LX,.XXlV, n." J, da 
L. Org. Relacionar com os arts. 6.°, n,· 3.", 8.· e 137 .° .la Const. Pol. 
ARTIGO 5.° 
(A~si,tcncia sanit:lria e h~cnica as pOPlJla('~ indigerus) 
o Estado prestara a assistencia necess{iria ao melhoramento da. 
sanidade das popula~oes e seu crescimento demogr:i£ico, e bern 
assim a introdu<;10 de novas tccnicas de produ<;3.o na economia 
das socieJaJes nativas. 
1. Legisl~ao pretcrita. Confronto. 
Cf. I~st. de 1929, art. 3." (em nota 1 ao .itt 4· df"Sk Est) c' ,ut. 5," 
Ida Freitas
Realce
28 ESTATI iTO DO~ 1J\.UTGENAS PORTUGUESES 
-----------------
Artigo 5." 
Eft. d.· 1929: 
Art. 5.~ Os indlgenas tern direito a protecQio, assisten( i:l, ccluca\,ao e ins-
tm,:1o por p:1fte do l~stado. ..". ' 
S unico. Uma parte elas receitas pro"ement~ ~o Imposto l~dlg.~l:a sera 
c~fig,ttoriamente destin:ld3. a efectiYa\"ao destes dlreltos e aos lr~lhoral!1entos 
de odem material respectivos. 
O ~ .' do art <; 0 Jq Est de 1929 foi diminado, taJvez por contrariar 0 ~ umeo . ,. . . 1 . 1 rrindpi~ da «nao (oilsigna(tlO de IHeilas», uma das r~gras func ament'lIs ,~a orga; ni;.a~lo do Or(amento. segundo a qual «toJas as r:celtas devem 5e~ efecdv~das a 
- bert de todas as despesas indistintamente e nao algumas n:celtas destmadas 
co ura .. 'b . F r -
:10 pagamento de cert,1~ despesas}) (Cf. Prof. Ten,elra ill Clro, meme,H, l<;oes pro· 
feridas em 1941-1942, pig. 43). 
2. Remissao para legi.sht;ao geral. 
Cf. Port. :1." 12.544. de 13 de Sl"t",C]bro de 1948, que insere disposi<.;oes atinentes 
a mdhorar as condi~6es -de o.ssistencia sanitaria aos indigenas. 
ARTIGO 6.° 
(Educa<;ao e ensino) 
o ensino que for especiaimente dcstinado 20'; indigenas cleve 
visar aos fins gerais de educa~rrc moral, dvica, intelectual e fisica, 
estabelecidos nas leis e tambfm a aquisi~ao de hibitos (:; aptid5es 
de trabalho, de harmonia com os sexos, as candi~l}::s sociais e as 
conveniencias das economias regionais. 
§ I." 0 ensino a que est.:: artigo S~ reEere proclll'J1'a sempre 
difundir a lingua portuguesa, mas, como il15trurnento dcle, poded. 
ser autorizado 0 empregG de idiomas nativos. 
§ 2.° Ao,,- incJigcnas habilitados com 0 e:nsino de ac.lapta~ao 
ou que mostrem, pda forma que a lei previr, dcmecessidade dele, 
e garantida a admiss~lo ao (nsino publico, nos tcrmos aplicavcis 
aos outros po:tugueses. 
1. Legi~!".~o preti:rita. Confronto. 
Cf. Est. at: 1929. arts. 3." e 5." (em nota aos OLftS. r.." c 5." dt's(e :Est.). 
2. Remhsao para lcgi~b;::i;) ge:ral. 
u. § 3." do art. 42." da Con;,t. Pol. 
o ~(;;c.-~i n.", ~1.207. J: ,5 de llbril de 1941 (E'itatuto Mi"ionario), (()nfiou 
;"J pt:sso .. l /T'I'~W)nano {' ",uxdlar da; Mb,oes Catoll'cas - ' f' . I ' I 
. ' ., 0 L11,!nr) 0 Ina ("p(,(la-
____ ESTAT'UTO DOS INDIGENAS PORTL"GI;ESES 29 
----------- -----'-------- -_._-------_._--------
Artigo 6.° 
mf:fJtc d~st1n'k;" .1:)s. indigenas (Jrts. 66." e 68."), sem djMin~ao de credos reIJf!'(:sos 
(esclareClmtnto ofxaal da Port. 0.° 14,440, de 3 de Julbo de 1)53). . 
3. Remissao para legisla\i'io local. 
COIn_ rdl'rencia ao § 1.". (f. () Dip. Leg. n." 167, de 3 dc' Agosto d~ 1929 
(M.r.c;alnblquC'), ond~ se dispiic q~e os mlssionarios {'Strange-iros, p~a ministrar~ 
(;.05100 aos nossos In,iI,:-:c-n~s sao obr~gados a a~rl'ndu(m a t.llar previamente porLTccs, 
Imgua tin que 0 seu msmo devera ser dcctuado. 
CAPITULO II 
Da sjtua~ao iuridica dos indigenas 
SEC<;AO I 
Os organh:3~aO politica 
ARTIGO 7.° 
(l-.Lmuten(i:o transitoria. d.ls institui(oes politicas tradicionais dos indi;l:trus) 
As institui<;:6es de natureza politica tradicionais elos incligcnas 
sao tr:msituriamente mantidas e conjugarn-se com J.S instituiC;6es 
J.c!minis~L'~ivas do Estado p(1rtu:~L!~S peb forma Jccbrada nd lei. 
I. LegisL1~iio preterita. Confronto. 
Cf. £:,t. de 1')29, art. 6.": 
Art. G.O 0 Lt.Hlo assegura 0 bom funcionamento c progressi\o .lFifei-
«(}~,m('llto Jas institui<:6es politil.ls dos indi,genas e mantem as autoridades 
gentilich, como Lll rcconhecicias pcbs autoridades admini:;trativJs. 
2. Conjuga,ao com outras disposi\()cs deste Estatuto. 
Os indl,,,eI1.l~ so gozam de din:1t05 politlWS em rda~iio ,'s SNJJ ins!ihW;Oe5 
tradidonais (,1ft. 23.°). 
j. Emllladramento politico-administrativo das popuIa<;oes indigenas. 
() tnquadr"mt:1h) politico-adnuni,tr,lti"o Jas populJ,oes io,l,,;,'OJS roJ", r::-.i:-
z.ll'-Se atclvt-> de qu.ltros sistemas: 
,f) - .l1dtllIJli.rlr,J(.:io )n'c:'L"I.l.' n:io fcuH1hel"e as organiz.!(o('s stl·u.lis e 3Uh.lridaJes 
jndigen~s. suostituinJo-<ls intq:;nlmente por institui,oes organi?aJas e dirird:1s 
pOl' fumion.irios. adnll!l1,ttativos do [,t"do m)onizadoc. (A(tualmenk este Si'IC'm.l 
nan': sL'guiu" na pniti(:J. nem mesmo peJos pJI"'" qut' ~doptam unlJ pl1litl1.1 franca. 
lJ1t'nte assimiladoI'J). 
:;0 IN
DlGENASpORTUGUESES 
ESTATLTTO DO:; 
,Arrigo 7.· 
I . d' I rule) . mantem as organiza.;oes sociais 
.. ..... (we In Ira . f b) _.1dmlfJlsh.J\.UJ 11UJlrt(l~ . 'h fes tradicionais. Como escreve 0 Pro . 
. • . -trutura e os seus l e . hi' 
WJlgenaS COOl a SU.! e,. . Ih ~ proprias nao se mtegram na erarqUla 
:;I1\., Cunha.. ~as auton~adC'S que e s:am jlmto delas por meio de funcionarios 
,dministr.itiw. d~ colon:zadores, .qluh,e ac(p of Silva Cunha, 0 Sistema Portllgues de 
(oro fun("ao de flSGlhza~ao e con,c 0» r. ~ 
po/hie.; Indigena. 19~3, pa;:. 1.89): da lu""ar a formulas mistas, designadas 
) A cooJuga~ao do, dOls SiStemas '" .. - . J' C .- _-' .: • d' eeta alenuath e admln/SlrafaD mulrecla ale-
respe<.ilY-amentc por _mlmslrafao Ir 
r.1I.w.1. 
4. 0 sistema portugues de enquadramento poHtico-administrativo das 
populac;oes indigeoas. 
A nossa politica colonial orientoo-se a !,~r de 1820 por ~~ sistema de 
J.Jministrac;ao directa, alias mais no plano leglslanvo do que na pranca, dado que 
os terri~6rios africanos nao estavam efectivamente ocupados. . . 
Em 1899, Mouzinho de Albuquerque, no Sell Relat~no sobre Mo~~blq~e. 
IlJ. esteira do pensamento de Antonio Enes, propOs urn sistema de admmlstrac;ao 
indirecta atenuada, atrav!':s de pc.oquenas unidades politicas indigenas control ad as pel as 
autoridades administrativas (Vd. Mor;ambique, 1896-1898, Lisboa, 1899, pag. 177). 
Desde entao e este sistema de administra~ao que tem vingado no plano legisla-
tivo, embora na prltica, por vezes, se note uma tendencia para uma poHtica de 
adminislfa(:i.o direct .. atenuada. Tanto 0 Est. de 1929, como 0 actual se inscrevem 
na orienta~J.o legislativa mencionada. De notar que 0 Est. actual acentua a transi-
toriedade cia rnanuten~ao das institui(oes nativas e refere expressamente a conjflgafao 
destas com as institui<;5es administrativas do Estado portugues, ideia imp Hcita, ainda 
que oj\) expressa, no art. 6.0 do Est. de 1929. Assim, a formula de administra~o 
indir~(la e mais nitida no enunciado do texto actual. 
A. politica indigena portw;uesa esta, neste ponto, absolutamente conforme com 
os enslOamentos da melhor doutrina. Ponderemos neste e~larecedor trecho de uma 
obra do Missionario Suic;o Henriquc A. Junod, que 0 Prof 1:>. Malinowski, da Univer-
s~cl~J: de Londres, conslderou «0 melhor !iv.ro de etnografia» de sociedades primi-
tn.s.. e.1Jguns sonhadores querem ver 0 SIstema tribal inteiramente abolido e a 
dualidade de governo _desaparecer imediatamente pela absorcao dos poderes dos 
chefes, e ~ sua. mtegra<;ao _nos dos comissarios dos negocios incligenas. Isto seria urn 
eIro. AdSsrffi, 3.Inda que nao ~ndo urn cidadao eleitor no Estado 0 indigena n5.o 
(''..Lza 0 permanece urn membro res"on' I d 1- ' d ,-- Se' e - save 0 seu c a, Nao apressemos por isso 
OJ, mo!"!:' (J c a. este tlver de morrer que seja de I (d 
e C'.diu'hes dos Bantos _ A Vida dll' T'b mo;te natura ... » apu US.0J 
pig. 545 trad port J . Ma ma rJ 0 Sul-Affleal1a, tomo I, Vida SOCltll, 
. , . ., .ouren(o rques 1944) C P f M d Curr<Cd. ('... mesmo perantc ula iie ' . omo es.creveu 0 1'0. .en. es 
de c:-sfon;os inabe!s para obter :~ m~d: menos. atrasadas, reconheu:ll-se 0 pengo 
lidade, da Sua wltura do St'U re' dn<;a.clamulto brusca ou rapida da sua menta-
N " , glme e VI do seu t'p d . - . I )5 mlfil!>tro,; fflmanticos que pret d' ,.' Joe orgaruza,ao SOCIa. 
<0 delicia.s <ill C6digo Civil (; Aden. I~m utoplcamente aplicar a estas pobres gentes 
~entes monarquicus e rF-hublic n ministratlV~ da metropole, suceJeram-se os diri-
. -y a os que no inlC10 do . I XX '''_''fl''~ m3.l'> rl-ali,ta". «Pouco a p< '. secu 0 • test<=munharam urn 
fin.;, fora de estIitas prto<:upa\~~~o'c~~~tl~ulu:se 0 novo edificio. Se bem que os 
Illesmcn;. a protf:c~iiIJ. a CJvilizara( . es.sll~als, se tenbam mantido sempre os 
mnral 1 . 1 - ' I, a aSSlml ar;ao e 0 be . I 
. Co.> IXJPU a~,)t:S, uS mttodos j' c . m-cstar tanto matena comO "~!>lm <umo a~ po~sibilidade. ICJo.is evx.tram e f()r~rrn adaptados as circumtancias, 
ProfC:'CiO,j !lU Sem.line CF)/rn//(//e {,' I erent<.~ consoante os tercitorios» (Discurso 
/' -tw,ci 1 d A J I/IlJerfll(//r~ Abril d 1949 1 . II . d &,. "1{1r/ n "drmJ flu,};.!,;/! de I'U'. , '. e .' pU). no BII etm e 
t 61). IIIVtnU" C()/()n/ale de Bd)!,iqlll', p{lgS. 
______ E_:S_l_'A_T_U_T<->_D_O_SI:\'DIGENAS PORTl'GUESI:S 31 
---- ------- -- -----
ARTIGO 8.° 
(Denomlla\ao dos agregados politilO~ tradicionais) 
Os agregados politicos trauicionais sao genericamente consi-
derados :egcdorias indig~nas, consentindo-se cmbora a design~ao 
estabel,ec~da peIo uso regIOnal (sobado, regulado, reino, etc.). 
§ . u.ll1.co. Quando a sua extensao 0 justifique as regedorias podem 
ser dlvldidas em grupos de povoa~6es e em povoa<;6es. 
Legisla~ao preterita. Confronto. 
cf. R. A. u. art. 9l.° e seguintes. 
ARTIGO 9.° 
(Integra<;ao dos indigenas nos seus agregados poHtico.s) 
A cada regedoria pertencem todos os indigenas que no ;<)dl 
territ6rio habitam permanentemente. Os que nele apenas resid.ir.l 
transitoriamente, ainda que por efeito de contrato de trabalho, 56 
para efeitos de policia dependem das autoridades gentilicas locais. 
§ unico. A mudan~a de residenci;l de urn indigenJ. de uma para 
outra regedoria, dentro da mesma circunscri~ao, depende de :mto-
riza~ao da entidade administrativa local; a mudant;a para rege-
doria situada noutra circunscri\"ao depende de autorizac;ao dos .lJmi-
nistradores interessados. 
legi~hu;jo pret~rita. Coofrooto. 
Este art. reproJuz 0 ~lrt. 92.0 da R. A. U. com a seguinte diieren\3. no § 
lmiu>; onJe t'stA no E,t. «da entiJade administrativa 10C.l1», li.l-se na R. A. e. 
«do administradoI». 
Quer dizer: nos Concdhos e CirlllDSai(oes subdivididos em Post,,, AJnllnistra-
tivus, u rl:spedivo Chefe de Posto poJe autorizaf a muJ.ln~.1 .Ie residencia de urn 
indlgena de lima p.lra outra regedori.a dentro da area do ~u. Po~tu. Mas ~ 0 
indlgena pretender ft'sidir em n:-gedona de outro Posto Admllllstuuvo, dentro da 
!l1es~a Circunscri,iio, a autoriza.;ao rl"'IK'ctiva ted. de ser-Ihe J.lda pdo AJminis-
u·ac!or, por ser est..: fUDcionario a autoriJaJe comUDl com lOmpetencia territori.ll enl 
all1b.ls as fcgedorias. 
ARTIGO 10.° 
(Autoridade~ gentilicas. Alribui(Jlcs) 
Fm caela regedoria indigena excrce autoridade s,)br,_' J.S p0pU-
la.~5es gentilicas um rcgcl!Or indigcn:J.. Em cldJ grupo J~ po\ua-
~_2 ____ . __ ~~~T_A_TLTO DOS INDiGENAS PORTUGLlESES 
Artigo 10.° 
\Ot~ ou pO\'OO(ao ser:! ess~ autoridade confiada a urn chefc de 
1 - 1 -
,(ll!P" de povoa~oes ou ce pcvoas;ao. 
§ 1." 0 exer".-icio das funs;6es de autoridaJe gentilica e normal-
r~1(nte remuneradc. 
§ 2.' Os regedores e chefes de grupo de pcvoa~6es ou de 
povca\3.o des.:mpenham as func;:6ts atribuiclas peIo uso local, com 
as limitas;oes est~beleciclas neste diploma. A obcdiencia que as 
popuh;6es Ihes devem e a r.:sult8nte da tradis;ao e sera ma11tida 
engtl~nto respeitar os prindpios e interesses cla aclministra<;:iio, a 
CO!lt'.:nto do Gcverno. 
1. Legis:,,";-ao prcterita. Confronto. 
CL R. A. l·., art. 94.". que e r('produzido no corpo do art. e § 1.0 do Est. 
o § 2.° do Est. wrresponde ao § tinieo do art. 94.0 cia R. A. LT., com ciiferent;as 
de n:dacc;ao: «fiO Ql_'._' nao for contririo a soberania nacionaJ» foi substituido peJa 
exprtssao mais ampJa «com as Iimitacoes estabelecidas neste diploma», pdo que se 
deve conjugar com () art. 3.°, § 1.0, d(:"ste Est. 
2. S6 03 indigenas poderao exercer funr;oes de autoridade gentilica. 
{(As hml;Gt:S de autoridade indigena nao podem s.c:r cxercidas por nao indlgenas, 
mesmo que pertenc;am ~, m91 negra ou dela sejam descendentcs», porqut: {(a novo 
Est.itutu ( ... ) distingue claramente entrc- indigenas e nao indfg,-,lUs considerando 
expre'~amente estes cidadaos portuguestS (arts. 56." e stgts.) 05 quais se regc-m 
integralmente

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