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CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO: 
 
Do que tratam tais campos do conhecimento e para que servem na formação do profissional do Direito 
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 Cabe à Ciência Política, segundo Streck e Bolzan de Morais (Ciência Política e Teoria Geral do Estado, Livraria do Advogado, 2003), estudar o Estado e suas relações com a sociedade, cabendo a esta disciplina o estudo dos diversos aspectos que dizem respeito ao funcionamento das instituições responsáveis por essa sociedade, estudo este que se encontra “atravessado” pelo imbricamento de questões referenciadas ao Estado, ao Governo, à Democracia, à Legitimidade, ao Poder.
 De acordo com Norberto Bobbio, a Ciência Política é uma forma de saber que se desenvolve NO TEMPO (uma DISCIPLINA HISTÓRICA), sofrendo, por conta desta característica, contínua transformação – por ser uma CIÊNCIA HISTÓRICA, nela não cabe a experimentação, ao mesmo tempo em que compartilha com outras ciências ditas humanísticas, dificuldades próprias que derivam de algumas das principais características do “agir humano”. 
Ciência Política/Teoria Geral do Estado - abordagens iniciais (II)
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Principais dificuldades que derivam do “agir humano” e que se encontram no cerne das ciências humanísticas e especificamente da Ciência Política:
O homem é um animal teleológico, que age e serve das coisas visando o atingimento de determinados objetivos, nem sempre declarados, nem sempre conscientes – aqui a Ciência Política não pode prescindir das contribuições da psicologia e da psicanálise.
 O homem é um animal simbólico que se comunica com seus semelhantes através de símbolos (dentre eles a linguagem) – o conhecimento da ação humana impõe a decodificação e a interpretação destes símbolos, cuja significação não é de todo conhecida, passível de uma reconstrução muitas vezes baseada em conjecturas.
O homem é um animal ideológico, o que significa dizer que ele se serve de valores pertinentes ao sistema cultural no qual se encontra inserido, visando a racionalização de seu comportamento, movimento este que permite com que alegue motivações diferentes daquelas que realmente impulsionaram as falas, os comportamentos, as tomadas de decisão – daí a importância de se revelar aquilo que está “escondido” e da análise e crítica das ideologias.
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POLÍTICA, SISTEMAS POLÍTICOS, PODER E PODER POLÍTICO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES GERAIS (I) 
 Referências bibliográficas: 
 - DIAS, Reinaldo. Ciência política, 2ªedição, São Paulo: Atlas, 2013.
 - MIGUEL, Luis Felipe. Democracia e representação, São Paulo: Unesp, 2014. 
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 - Independentemente do tempo e do autor sobre os quais se queira definir o início da busca pela configuração de uma “ciência política” (seja em Aristóteles na Antiguidade Clássica grega, seja em Maquiavel nos primeiros tempos da Era Moderna Europeia, seja em Hobbes no século XVII inglês), a CONSTITUIÇÃO E A MANUTENÇÃO DO PODER POLÍTICO se configuram como temas centrais deste campo do conhecimento.
Tais temas, à medida em que se desenvolveu e que está a se desenvolver o conhecimento sobre a política, passaram e continuar a passar por discussões que seguintes dizem respeito às seguintes questões, aos seguintes problemas...
 A seguir...
ALGUMAS REFLEXÕES INICIAIS SOBRE O QUE “PRETENDE” A CIÊNCIA POLÍTICA
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Principais discussões que derivaram e que continuam a se configurar como desdobramentos relacionados à temática central da ciência política (a constituição e a manutenção do poder político):
O problema da obrigação política, tema característico da tradição política liberal.
A questão da legitimidade da dominação presente na formulação de Weber.
A questão da governabilidade, presente em uma linha mais conservadora do pensamento político (Crozier, Huntington).
A discussão a respeito da hegemonia, presente no pensamento marxista e cuja referência fundamental encontra-se nas formulações de Gramsci.
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 É possível afirmar que, em parcela considerável da produção do conhecimento da ciência política contemporânea, a temática relacionada à configuração e à manutenção do poder político está a se converter no tema da organização democrática, condição esta que ganhou força a partir do final da Segunda Guerra Mundial, num processo contínuo em que a democracia está a ganhar legitimidade “universal”.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE (I)
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 Nos países do Ocidente, a democracia é o único regime político capaz de garantir a aceitação dos governados.
 Por todo o mundo, já há algum tempo, houve (e continua havendo), por parte dos mais diversos regimes, a busca pela adaptação do rótulo “democrático” para si próprios, o que contribuiu para gerar uma série de democracias “adjetivadas” (democracia islâmica, democracia popular)...
 Outros regimes autoritários se apresentaram, em determinadas conjunturas como etapas “necessárias” para a edificação da democracia – temos como exemplo as ditaduras de Segurança Nacional da América do Sul.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE (II)
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Desafios que se colocam em relação à construção de uma “ordem democrática:
Em qualquer organização democrática, seja indireta (representativa) ou hipoteticamente direta, existirá sempre o desafio consubstanciado na relação entre os INTERESSES INDIVIDUAIS e uma “pretensa” vontade coletiva... É o desafio de que se permita a livre manifestação dos interesses individuais em conflito sem que se comprometa a unidade mínima, indispensável à existência de uma sociedade.
É possível afirmar, por fim, que a construção de uma ordem democrática implica em um desafio gerado pela possibilidade de manipulação da determinação da “vontade coletiva” através do uso estratégico das normas de agregação de preferências...
Um outro desafio diz respeito ao fato de que qualquer democracia precisa lidar com a capacidade heterogênea que os indivíduos apresentam em determinar suas preferências e interesses segundo seus RECURSOS COGNITIVOS e segundo sua POSIÇÃO SOCIAL.
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Problemas fundamentais que se apresentam para a consecução de uma democracia representativa:
A separação entre governantes e governados, o que leva à constatação de que as decisões políticas são tomadas, de fato, por um pequeno grupo e não pela massa das pessoas que serão submetidas a elas – QUEM GOVERNA EXERCE DE FATO A SOBERANIA QUE PERTENCE, APENAS, NOMINALMENTE AO POVO.
No caso das representações construídas pela via eleitoral, pode ser constatada a distância entre o momento em que são firmados os compromissos de campanha e o momento do exercício do poder. 
Como consequência do problema anterior, verifica-se a formação de uma política distanciada da massa da população – nas democracias contemporâneas, especialmente na brasileira, verifica-se uma considerável distância entre a massa da população e a elite política.
Ruptura do vínculo entre a vontade dos representados e a vontade dos representantes
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POLÍTICA, SISTEMAS POLÍTICOS, PODER E PODER POLÍTICO, A AÇÃO POLÍTICA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES GERAIS (II) 
 Referências bibliográficas: 
 - DIAS, Reinaldo. Ciência política, 2ªedição, São Paulo: Atlas, 2013.
 - MIGUEL, Luis Felipe. Democracia e representação, São Paulo: Unesp, 2014. 
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 - De acordo com Norberto Bobbio, o conceito de POLÍTICA se constitui como uma derivação de POLITIKÓS, um adjetivo que se originou de POLIS e que diz respeito à cidade e, por extensão, ao que é URBANO, CIVIL, PÚBLICO, SOCIÁVEL, SOCIAL...
- Ainda, segundo Bobbio, o conceito de POLÍTICA é normalmente utilizado para designar uma atividade ou um conjunto de atividades que tem, de algum modo, como termo de referência, a POLIS – em nosso mundo, que tem como termo de referência, de algum modo, o ESTADO...
- Pertencem à esfera da POLÍTICA, ou seja, ao âmbito de atuação da POLIS (ou seja, do ESTADO), na condição de “sujeito da ação”, as atividades de comandar (ou de proibir algo), de
exercer domínio exclusivo sobre um determinado território, de legislar com normas válidas erga omnes, de extrair/distribuir recursos de um setor da sociedade para outro/outros...
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES GERAIS A RESPEITO DO CONCEITO DE POLÍTICA 
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 - O homem, segundo Aristóteles, se apresentava como zoon politikón (animal político) – a utilização deste termo por Aristóteles exprimia a concepção grega de vida na Era Clássica, concepção esta que se referia à POLIS como unidade constitutiva e como dimensão suprema da existência.
- O “viver político”, a “politicidade” não se tratavam de partes ou de aspectos da vida, mas constituíam-se, para os gregos, especialmente para os atenienses da Era Clássica, o todo, a essência da vida.
- O homem “não político”, o homem “apolítico” era considerado como um SER DEFICIENTE, um ÍDION (significado original do termo que, para nós, significa IDIOTA), um SER CARENTE cuja insuficiência consistia em ter perdido (ou nunca haver adquirido) a dimensão e a plenitude de sua relação com sua POLIS.
OBSERVAÇÃO
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Algumas “definições” para um conceito de POLÍTICA
Como PRÁXIS HUMANA, o conceito de POLÍTICA encontra-se intimamente vinculado à noção de PODER – isto quer dizer que quem faz política busca ou exerce o poder, poder que se exerce sobre outro homem ou sobre determinado grupo social.
De acordo com Weber, o homem que se entrega à política, aspira ao poder, seja como instrumento de consecução de determinados fins (ideais ou egoístas), seja pelo desejo do “poder pelo poder”, usufruindo, assim do sentimento de prestígio que o exercício do poder confere. 
Segundo Karl Deutsch, a política pode ser entendida como a tomada de decisões através de meios públicos 
Parsons entende o aspecto político de um sistema social como uma condição voltada para a geração e a distribuição do poder.
 Para Hermann Heller, o conceito de político é mais amplo do que o de estatal, uma vez que, por exemplo, existiram atividades e grupos políticos antes da existência do Estado – a política deve ser entendida como a organização e atuação autônoma da cooperação social em um determinado território.
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 - A arte da política pode ser entendida como habilidade, destreza, perícia com que se maneja um assunto delicado, uma atitude já estabelecida com respeito a determinados assuntos – assim uma questão se torna política na medida em que poderá se transformar em uma questão polêmica.
- A política abrange diferentes significados, estando, porém, todos vinculados, de alguma forma à posse, à manutenção ou à distribuição do poder.
- Neste início de século XXI, tal como no século XX, a política encontra-se imiscuída em todos os aspectos da vida humana – o terrorismo, o aquecimento global, a redução da biodiversidade, a inserção social do imigrante, a melhoria da qualidade de vida de idosos e/ou de portadores de demandas especiais, a redução das desigualdades entre homens e mulheres são essencialmente questões de natureza política pois dependem de decisões a serem tomadas no âmbito dos Estados ou em fóruns internacionais.
OBSERVAÇÃO
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 - O poder se constitui como um dos mais importantes processos sociais das sociedades humanas, não havendo registro histórico de alguma sociedade que o tenha prescindido.
- As relações de poder implicam na constituição de uma hierarquia entre os diversos grupos sociais e no interior de cada grupo – o que existe em comum entre os diversos grupos e as relações de poder que os caracterizam é a existência de um poder supremo, ao qual todos estão submetidos – O PODER POLÍTICO.
- Independentemente de sua função ser a organização da vida em sociedade ou o estabelecimento da dominação de um grupo sobre outro, a ascendência do PODER POLÍTICO sobre os demais poderes é um fato indiscutível.
- A necessidade de que seja estabelecido um necessário grau de convivência social faz com que seja tolerado um maior ou menor grau de dominação de um grupo sobre outro - deriva-se desta necessidade a LEGITIMIDADE do exercício do poder político. 
- Ainda que a despersonalização do poder, o seu exercício por uma entidade aparentemente abstrata, contribua para uma maior aceitação da dominação política, não se deve esquecer que o exercício do poder é feito por pessoas reais que detém em um determinado momento histórico a primazia de determinar as ações dos demais membros da sociedade.
A RESPEITO DO PODER, DO PODER POLÍTICO, DA AÇÃO POLÍTICA...
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A RESPEITO DO PODER, DO PODER POLÍTICO, DA AÇÃO POLÍTICA... (II)
Em uma primeira abordagem, a ação política é a que, em termos ideais, determina a vida social, organizando-a, visando a obtenção do bem comum.
A ação política pode ser compreendida também como aquela que possibilita a tomada de decisões coletivas por meio de uma comunidade, decisões estas movidas, segundo Hannah Arendt, por um “querer viver junto”.
Toda ação é finalizada tendo em vista um determinado objetivo, estruturando-se de forma que o agente responsável seja um “decisor” que precisa se dar os meios necessários para o atingimento dos fins previamente estabelecidos.
Podemos entender como “decisor”, o agente que, além de elaborar o projeto que abriga os fins a serem atingidos, decidiu engajar-se na sua concretização, tornando-se totalmente responsável por ela.
Dar-se os meios necessários à obtenção de um resultado positivo significa dizer que o “decisor” deve planejar da melhor maneira possível a sucessão de seus atos (com o foco na eficácia), visando atingir um resultado positivo.
A busca pelo resultado positivo por meios de atos eficazes, previamente planejados por parte do “decisor” deve (ou deveria) ser marcada pela análise das vantagens e dos inconvenientes das escolhas dos meios (cabendo neste ponto uma possível reflexão ética).
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COMO SE DÁ A ORGANIZAÇÃO DA AÇÃO POLÍTICA? 
Ela compreende um espaço de discussão dos objetivos a serem definidos (partidos, sindicatos, grupos associativos em geral, mídias).
Ela diz respeito a uma forma de ter acesso à representação do poder (por meio de eleições). 
Ela deve propor modalidades de controle (internamente às diversas instituições e externamente por movimentos reivindicativos diversos).
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INSTÂNCIAS IMPLICADAS NA AÇÃO POLÍTICA (I): 
A instância política é delegada e assume a realização da ação política – por ser uma instância de decisão, deve agir sempre em função do POSSÍVEL.
A instância cidadã está na origem na escolha dos representantes do poder – a instância cidadã elege a instância política para realizar o DESEJÁVEL.
* O exercício do poder político não se apresenta como uma tarefa fácil uma vez que, cabe a ele, ditar a lei, sancioná-la, assegurando-se sempre de obter e manter o consentimento da instância cidadã. 
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POLÍTICA, SISTEMAS POLÍTICOS, PODER E PODER POLÍTICO, A AÇÃO POLÍTICA, O DISCURSO POLÍTICO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES GERAIS (III) 
 Referências bibliográficas: 
 - DIAS, Reinaldo. Ciência política, 2ªedição, São Paulo: Atlas, 2013.
 - MIGUEL, Luis Felipe. Democracia e representação, São Paulo: Unesp, 2014. 
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 - A utilização do conceito de SISTEMA POLÍTICO corresponde a um “olhar” específico para os fenômenos políticos, uma vez que, tal conceito, se refere ao conjunto de atividades políticas que se desenvolvem em uma sociedade, indo muito além dos conceitos de governo, de Nação, de Estado.
- Mais do que associar o conceito de SISTEMA POLÍTICO ao uso da força física legítima nas sociedades, o SISTEMA POLÍTICO que se configura em uma determinada sociedade diz respeito não somente ao uso da força física legítima, mas abrange todas as interações que influenciam, que afetam, que ameaçam o uso da força física legítima.
- Assim, um SISTEMA POLÍTICO abrange não apenas organizações governamentais (legislativos, cortes de justiça, órgãos administrativos), mas também todas as estruturas sociais, incluindo grupos familiares e sociais, em seus aspectos políticos.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
GERAIS A RESPEITO DO CONCEITO DE SISTEMA POLÍTICO (I)
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 - Segundo Claus Offe, a presença de novos movimentos sociais, reivindicando a ação política dentro da sociedade civil, se constitui como uma “nova forma de fazer política” para além do binômio institucional tradicional PÚBLICO-PRIVADO.
- As ações destes novos movimentos sociais, para que sejam “aceitas”, “registradas”, “reconhecidas”, “legitimadas”, devem estar relacionadas a objetivos que sejam assumidos pela sociedade.
- Tais movimentos não buscam, necessariamente, o exercício do poder, aspirando, entretanto, que o poder os leve em consideração na formulação de determinadas políticas públicas e que, ao mesmo tempo, não interfira em aspectos de seu interesse.
- Seus interesses seriam “pós-materiais”, relacionando-se, por exemplo, a temáticas de “identidade sexual”, meio ambiente, ao mesmo tempo em que suas formas de organização se constituiriam de forma menos rígida, atuando, muitas vezes de maneira informal e/ou descontínua. 
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES GERAIS A RESPEITO DO CONCEITO DE SISTEMA POLÍTICO (III)
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Algumas características constantes dos sistemas políticos, segundo Robert Dahl:
Controle desigual dos recursos políticos: o controle sobre os recursos políticos se distribui de forma irregular, entendendo-se recurso político como um meio através do qual uma pessoa consegue influenciar outras pessoas – dinheiro, informação, alimento, ameaça de uso da força, empregos, amizade, posição social, o direito de elaborar leis, votos...
A busca pela influência política: membros de um determinado sistema político buscam adquirir influência sobre a elaboração de diretrizes, de regras e sobre as decisões governamentais.
Busca/aquisição de legitimidade: Em todas as vezes que os meios governamentais são empregados para acomodar situações de conflito de interesses, os líderes políticos buscam assegurar-se de que as decisões que foram tomadas serão amplamente aceitas pela sociedade, não somente pelo temor da violência, do castigo, da coerção mas, sobretudo, pela “construção” de uma convicção de que os procedimentos governamentais adotados sejam considerados moralmente certos, moralmente adequados.
Objetivos conflituosos/concorrentes: membros de um sistema político podem perseguir objetivos conflituosos/concorrentes com os objetivos tratados pelo governo do sistema – Conflito e consenso se constituem como dois aspectos importantes de qualquer sistema político. 
 Desenvolvimento de uma ideologia: A liderança exercida por determinados membros de sistema político necessita de um conjunto de doutrinas suficientemente integradas entre si, suficientemente permanentes voltadas para a “construção” da justificativa do exercício de tal liderança.
 O impacto de outros sistemas políticos e influência da mudança: Dificilmente existem sistemas políticos isolados – de um modo geral, sistemas políticos são influenciados por outros sistemas políticos e, inevitavelmente, sofrem mudanças, o que significa dizer que nenhum sistema político jamais foi imutável.
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DO DISCURSO POLÍTICO COMO PROCESSO DE INFLUÊNCIA SOCIAL
O DISCURSO se configura como o conjunto de atos de linguagem que circulam no mundo social, refletindo tudo aquilo que se constitui nos universos do pensamento e dos valores que se impõem em um tempo histórico determinado.
A análise do discurso, diferentemente da Filosofia e da Ciência políticas e da História, não faz questionamentos sobre a racionalidade política, sobre os mecanismos que produzem os comportamentos políticos e nem sobre as explicações causais – na verdade, a análise do discurso produz questionamentos sobre como os discursos tornam possíveis a emergência de uma determinada racionalidade política e da regulação dos fatos políticos.
Ainda que o discurso político não esgote todo o conceito político, NÃO HÁ POLÍTICA SEM DISCURSO – ou seja, o discurso é constitutivo da política, o que significa dizer que é através da circulação dos discursos que a linguagem possibilita a constituição dos espaços de discussão, de persuasão e de sedução nos quais se elaboram o pensamento e ação políticos.
A AÇÃO POLÍTICA e o DISCURSO POLÍTICO estão inevitavelmente ligados, permitindo que o estudo político se faça pelo discurso (pela análise do discurso).
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DOS LUGARES SOCIAIS DE “FABRICAÇÃO” DO DISCURSO POLÍTICO
Os lugares de fabricação do discurso político
 O discurso político como sistema de pensamento resulta de uma atividade discursiva que busca fundar um ideal político a partir de certos princípios que sirvam de referência para a construção de opiniões e posicionamentos - em nome de sistemas de pensamento determinam-se as filiações ideológicas.
O discurso político como ato de comunicação relaciona-se diretamente aos atores que participam da cena da comunicação política objetivando a obtenção de adesões, rejeições ou consensos – o discurso político como ato de comunicação resulta de aglomerações que estruturam em parte a ação política (comícios, debates, reuniões, ajuntamentos, declarações televisivas, apresentação de slogans)
O discurso político como comentário tem como propósito o conceito político, cuja finalidade está fora do campo da ação política, sendo um discurso a respeito do político, sem o risco político.
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Nicolau Maquiavel (1469 – 1527): o pensador do realismo político.
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Considerações iniciais a respeito de Maquiavel...
Considerado como um dos primeiros pensadores a lidar com a temática do realismo político, estigmatizado por muitos como um “autor maldito” pelo fato de ter se transformado em referência para o exercício da tirania por parte de uma série de governantes ao longo das idades moderna e contemporânea ou percebido como um conselheiro que buscou alertar os dominados contra a tirania dos dominantes, Maquiavel, certamente é um dos pensadores políticos mais polêmicos.
Suas obras como analista político foram produzidas durante o período de retiro forçado, em propriedade familiar localizada em São Casciano (próximo a Florença), após ter ocupado, por 14 anos (de 1498 a 1512), a Segunda Chancelaria da República de Florença onde desempenhou importantes missões tanto na Itália, como no exterior, destacando-se por sua diligência na implantação de uma milícia nacional – tal retiro forçado (um exílio interno) foi resultado de uma série de reviravoltas políticas em Florença, desde a expulsão dos Médicis nos últimos anos do século XV, passando pela ascensão e queda de Savonarola (que substituiu os Médicis) e pelo retorno dos Médicis ao comando de Florença em 1512.
Durante o retiro forçado em São Casciano, produziu suas principais obras de análise política: O Príncipe (ao longo dos anos de 1512, 1513), Os discursos sobre a primeira década de Tito Lívio (de 1513 a 1519), a Arte da Guerra (de 1519 a 1520) e a História de Florença (de 1520 a 1525).
Apesar de uma série de tentativas de retorno à vida pública após a sua demissão em 1512, Maquiavel tornou-se “persona non grata” para a República de Florença, vindo a falecer em 1527.
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Aspectos gerais do pensamento político de Maquiavel (I)
A preocupação fundamental das obras de Maquiavel estava relacionada ao Estado – não ao melhor Estado, não a um Estado imaginado, não a um dever-ser do Estado, mas ao Estado real, voltado para a imposição da ordem social.
Mantendo um “diálogo” permanente com autores da Antiguidade (como Tácito, Políbio, Tucídides, Tito Lívio) e, de certa forma, rejeitando a tradição idealista de Platão, Aristóteles e Tomás de Aquino, o ponto de partida e de chegada o pensamento de Maquiavel é a realidade concreta, a verdade efetiva das coisas, vendo e examinando a realidade tal como se apresentava e não como se gostaria que fosse.
 Substituindo o dever ser pelo ser da realidade, o problema central para Maquiavel era descobrir como fazer reinar a ordem, como instaurar um Estado estável, interrompendo o interminável ciclo de estabilidade e caos.
Assim, na busca pela verdade
efetiva, em seu “diálogo” com os pensadores da Antiguidade, Maquiavel observa a presença de traços humanos imutáveis - assim, a natureza humana é marcada pela ingratidão, pela simulação, pela covardia diante dos perigos, pela avidez pelo lucro.
O conflito e a anarquia se constituiriam, portanto, em desdobramentos inevitáveis de tais paixões e instintos malévolos – desta forma, o estudo do passado se constituiria em uma fonte privilegiada de ensinamentos.
A história para Maquiavel é cíclica, repetindo-se indefinidamente em períodos de ordem e de caos, uma vez que não haveriam meios de domesticação absoluta da natureza humana – o poder político tem uma origem mundana, nascendo da própria “malignidade” da natureza humana, constituindo-se tal poder como a única possibilidade de enfrentamento do conflito, ainda que tal domesticação seja precária e transitória.
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Aspectos gerais do pensamento político de Maquiavel (II) 
Em virtude da desordem resultante da imutabilidade da natureza humana, existiriam, segundo Maquiavel, em todas as sociedades duas forças opostas: o desejo do povo de não ser dominado e o desejo dos poderosos em dominar e oprimir o povo.
Para evitar a anarquia que pode derivar do conflito entre tais forças, deve-se encontrar um mecanismo que sustente uma determinada correlação de forças – para tanto, Maquiavel sugere duas “respostas” à anarquia que deriva da natureza humana, a saber: o Principado e a República.
A escolha de uma destas “respostas” institucionais não resulta de uma simples escolha ou de considerações abstratas e idealistas sobre qual é o melhor regime, mas sim de uma situação concreta. 
Quando a nação se encontra ameaçada pela deterioração, necessita-se de um governo forte (de um príncipe, de um fundador do Estado) para conter as forças desagregadoras e centrífugas – ao contrário, quando a sociedade já atingiu um determinado nível de estabilidade, quando o poder político já cumpriu sua missão “regeneradora” e “educadora”, ela está preparada para República, regime político este em que o povo é virtuoso e as instituições são estáveis refletindo (e atuando sobre) a dinâmica das relações sociais.
De acordo com Maquiavel, a Itália do início do século XVI estava a exigir unificação e regeneração, necessitando, portanto, de um homem virtuoso com capacidade para fundar o Estado, necessitando assim de um príncipe.
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Aspectos gerais do pensamento político de Maquiavel (III) 
Um dos dogmas de seu tempo que Maquiavel teria que enfrentar foi a crença na predestinação – tal enfrentamento seria absolutamente necessário, uma vez que, a atividade política, tal como o pensador florentino imaginara, exigia um homem livre de freio “extraterrenos”, um homem que fosse sujeito da história.
Maquiavel recorreu mais uma vez aos clássicos para pensar sobre a condição fundamental da prática política marcada pela presença do homem sujeito da história – a virtù exercendo seu domínio sobre a fortuna.
Para os antigos a fortuna era uma força benigna que possuía todos os bens desejados pelo homem: a honra, a riqueza, a glória, o poder – por ser uma divindade feminina, cabia ser seduzida pelo homem de virilidade e de coragem incontestáveis, o homem portador da virtù.
Com o cristianismo, a imagem da fortuna como uma boa deusa, foi substituída pela imagem de um poder cego, fechado a qualquer influência, distribuindo seus bens indiscriminadamente – a roda da fortuna que giraria indefinidamente sem que seja possível descobrir seu movimento.
Maquiavel, entende que a fortuna é uma deusa boa, uma mulher pronta a entregar-se aos homens bravos, corajosos, portadores da virtù, perseguidores do poder, da honra, da glória, muito diferente da virtude cristã que prega a libertação das tentações terrenas.
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ATENÇÃO!!! ATENÇÃO!!! ATENÇÃO!!!
Para Maquiavel, o poder que nasce da natureza humana não se manifesta somente através da força bruta, mas também através da sabedoria no uso da força, da utilização virtuosa da força.
O governante não é o mais forte, mas o que demonstra possuir a virtù – especialmente, nos principados novos (mas também nos principados hereditários), o governante virtuoso deve criar instituições que facilitem o domínio, ou seja, boas leis geradoras de boas instituições e boas armas...
Assim, o governante virtuoso é aquele que atua para manter seu domínio – virtudes e vícios se “confundem” o que significa dizer que a virtù exige os vícios e o reenquadramento da força.
O príncipe deve aparentar possuir as qualidades valorizadas pelos governados, mas deve agir sempre no sentido de manter seu poder.
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O CONTRATUALISMO
ASPECTOS DOUTRINÁRIOS E AS CONCEPÇÕES DE ALGUNS DOS PRINCIPAIS PENSADORES CONTRATUALISTAS. 
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UMA PRIMEIRA ABORDAGEM...
Em termos gerais, o CONTRATUALISMO compreende todas as teorias políticas que entendem que a ORIGEM DA SOCIEDADE e o FUNDAMENTO DO PODER se configuram por meio de um CONTRATO, isto é, por meio de um ACORDO TÁCITO ou EXPRESSO firmado entre a maioria dos indivíduos.
 Este acordo firmado entre os indivíduos, tácita ou expressamente, que se encontraria na origem da sociedade ou que se configuraria como o fundamento do poder, assinalaria o fim do ESTADO DE NATUREZA e o início do ESTADO SOCIAL e POLÍTICO. 
 A idéia do contrato social se constitui como uma “ficção metodológica” empregada por teorias políticas ditas “contratualistas” cujo objetivo é justificar a obediência ao poder. 
 Tais teorias contratualistas têm sua origem nas teorias “pactualistas” da Idade Média que justificam o poder como resultado de um pacto entre o povo e o governante/príncipe.
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AINDA UMA ABORDAGEM INICIAL...
Em um sentido mais restrito, o CONTRATUALISMO pode ser entendido como uma ESCOLA que se destacou no contexto do pensamento político ocidental entre o início do século XVII e o final do século XVIII e que teve como seus maiores expoentes: Althusius (1557-1638), Hobbes (1588-1679), Spinoza (1632-1677), Pufendorf (1632-1694), Locke (1632-1704), Rousseau (1712-1778), Kant (1724-1804).
 Ao tratarmos o CONTRATUALISMO como um ESCOLA, isto não significa dizer que o entenderemos a partir de uma ORIENTAÇÃO POLÍTICA, mas sim a partir de uma mesma estrutura conceitual (de uma mesma SINTAXE) capaz de racionalizar a FORÇA e alicerçar o PODER no CONSENSO. 
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DA PASSAGEM DO ESTADO DE NATUREZA PARA O ESTADO SOCIAL E POLÍTICO.
Três seriam os possíveis níveis de explicação para a passagem do ESTADO DE NATUREZA para o ESTADO SOCIAL e POLÍTICO:
 Tal passagem seria um fato histórico, tratando-se de uma explicação problematizada pela questão antropológica da ORIGEM DO HOMEM CIVILIZADO.
De acordo com um outro nível explicativo, a ORIGEM DO ESTADO DE NATUREZA e a passagem para o ESTADO SOCIAL e POLÍTICO são tratadas como HIPÓTESES LÓGICAS cujo objetivo é destacar a IDÉIA RACIONAL e JURÍDICA DO ESTADO (colocando o fundamento da obrigação política no CONSENSO EXPRESSO ou TÁCITO a ser concedido pelos indivíduos a uma autoridade que os represente e os encarne).
O CONTRATO firmado pelos indivíduos se constituiria em um instrumento de ação política capaz de IMPOR LIMITES AOS DETENTORES DO PODER – tal explicação prescinde completamente do problema antropológico da origem do homem civilizado e do problema filosófico e jurídico do ESTADO RACIONAL. 
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Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica 
AULA 6
Thomas Hobbes (1588-1679)
Defensor do absolutismo, mas numa vertente racional;
Obras importantes: Do cidadão (1642); Leviatã – ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil (1651);
Para Hobbes, a vida é o bem maior. A justiça e a injustiça resultam de convenções. O homem é por natureza egoísta: homo hominis lupus ( violência generalizada) e bellum omnium contra omnes ( a guerra de todos contra todos).
Assim, sugere um pacto social em que o Soberano coloca-se acima do bem e do mal, acima de todas as instituições, com poder absoluto.
Há a servidão no Estado: “todos os homens devem renunciar aos direitos do estado natural”.
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Hobbes menciona que :
“Devemos portanto concluir que a origem de todas as grandes e duradouras sociedades não provém da boa vontade recíproca que os homens tivessem uns com os outros, mas do medo recíproco que uns tinham dos outros.”
Para Hobbes, a igualdade humana se revela na condição de medo. A paz é resultante do contrato que nasce do medo de um estado de guerra de todos contra todos. Por isso, o indivíduo transfere todo o seu poder a um homem, o soberano. Interessante que Hobbes inova quando fundamenta o poder absoluto no contrato social através do consenso e não no poder divino - pacto de submissão.
No estado de natureza de Hobbes, “todo homem tem direito a todas as coisas, incluindo os corpos dos outros” (Leviatã, Parte I, Cap. XIV, p.82)
Toda a humanidade tem “ uma inclinação geral” que ele caracteriza como “um perpétuo e irrequieto desejo de poder e mais poder, que somente cessa com a morte” (Leviatã, Parte I, Cap. XI, p.64)
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DO INDIVÍDUO HOBBESIANO
Segundo Hobbes, o homem é o INDIVÍDUO – todavia, tal indivíduo não é o INDIVÍDUO BURGUÊS, tratando-se de um indivíduo que não almeja tanto os bens materiais, mas a HONRA.
Dentre as causas da violência, de acordo com Hobbes, pode-se destacar a busca da GLÓRIA, quando os homens se batem “...por ninharias, como uma palavra, um sorriso, uma diferença de opinião, e qualquer outro sinal de desprezo, quer seja diretamente dirigido a suas pessoas, quer indiretamente a seus parentes, seus amigos, sua nação, sua profissão ou seu nome”.
 Assim, a honra é o valor atribuído a alguém em função das aparências externas – o homem hobbesiano não é o HOMO OECONOMICUS, o que significa dizer que para este “homem hobbesiano” é mais importante ter os sinais de honra, inclusive a riqueza (mais como meio, do que como fim)>
Este homem hobbesiano imagina ter poder, imagina ser respeitado ou ofendido pelos semelhantes, imagina o que o outro vai fazer – desta imaginação decorrem perigos já que o homem se põe a fantasiar o que é irreal.
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ASSIM...
 O estado de natureza é portanto uma condição de guerra pois cada um se imagina (com razão ou sem razão) poderoso, perseguido, traído.
 Para que se ponha fim a este conflito, necessário se faz que se implante uma “lei de natureza”, “estabelecida pela razão e pela qual se proíba a um homem de fazer tudo o que possa destruir sua vida ou privá-lo dos meios necessários para preservá-la, ou omitir aquilo que pense poder contribuir melhor para preservá-la”.
 Além do fundamento jurídico necessário ao fim do conflito, deve o Estado, segundo Hobbes ser dotado da espada, armado para forçar os homens ao respeito – tal Estado tem que ser pleno, absoluto, com capacidade para resolver todas as pendências e para arbitrar qualquer questão, constituindo-se na condição essencial para a existência da sociedade. 
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ESTADO DE NATUREZA EM HOBBES :
“ESTADO DE GUERRA” DE TODOS CONTRA TODOS
“...não haverá como negar que o estado natural dos homens, antes de ingressarem na vida social, não passava de guerra, e esta não ser uma guerra qualquer, mas uma guerra de todos contra todos” (HOBBES, 2002, p.33).
Para Renato Janine Ribeiro, Hobbes apresenta um absolutismo com um individualismo radical. Nesse sentido, temos que observar que o filósofo é um pensador de transição, ao mesmo tempo que é absolutista, busca fundamento diverso do fundamento teológico. É absolutista inovador.
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LOCKE: DAS ORIGENS DO LIBERALISMO 
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O ESTADO DE NATUREZA EM LOCKE
Podemos dizer que, juntamente com Hobbes e Rousseau, Locke é um dos principais representantes do JUSNATURALISMO ou TEORIA DOS DIREITOS NATURAIS.
Em linhas gerais, o modelo jusnaturalista de Locke é semelhante ao de Hobbes, na medida em que, ambos, partem de um ESTADO DE NATUREZA que, por meio da mediação de um CONTRATO SOCIAL, chegam ao ESTADO CIVIL.
 Em oposição à doutrina aristotélica, de acordo com a qual a sociedade PRECEDE ao INDIVÍDUO, Locke afirma que a existência do INDIVÍDUO é anterior à SOCIEDADE e ao ESTADO.
 Tendo como base uma concepção individualista, os homens viviam originariamente num estágio PRÉ-SOCIAL e PRÉ-POLÍTICO no qual gozavam da mais perfeita LIBERDADE e IGUALDADE – esta é a ambiência do ESTADO DE NATUREZA lockeano.
 De acordo com Locke, o ESTADO DE NATUREZA era uma situação real e historicamente determinada, pela qual a maior parte da espécie havia passado, ainda que em épocas diferentes – alguns povos ainda se encontrariam neste ESTADO DE NATUREZA, como por exemplo as tribos norte-americanas.
 Diferentemente do ESTADO DE NATUREZA hobbesiano que se baseava na insegurança e na violência, o ESTADO DE NATUREZA lockeano se constituía em um estado de relativa paz, concórdia e harmonia
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OBSERVAÇÃO IMPORTANTE ACERCA DO ESTADO DE NATUREZA EM LOCKE
No ESTADO DE NATUREZA lockeano, que se apresentava como um estado pacífico, os homens já eram dotados de RAZÃO e desfrutavam da PROPRIEDADE que, numa primeira acepção utilizada por LOCKE, designava simultaneamente a VIDA, a LIBERDADE, e os BENS como DIREITOS NATURAIS DO SER HUMANO.
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A TEORIA DA PROPRIEDADE EM LOCKE:
Em uma segunda acepção utilizada por Locke, a noção de propriedade se apresentava de maneira mais restrita, significando especificamente a posse de BENS MÓVEIS OU IMÓVEIS – tal teoria da propriedade diferia da de Hobbes para quem a propriedade inexistia no estado de natureza, sendo instituída pelo Estado após a formação da sociedade civil, podendo este mesmo Estado suprimir a propriedade dos súditos.
Para Locke, a propriedade já existia no estado de natureza, sendo uma instituição anterior à sociedade e se constitui como um direito natural do indivíduo que não pode ser violado pelo Estado – o homem era naturalmente livre e proprietário de sua pessoa e de seu trabalho, sendo, portanto, o trabalho, segundo Locke, o fundamento originário da PROPRIEDADE.
O uso da moeda levou à concentração da riqueza e à distribuição desigual dos bens entre os homens – a concepção lockeana de que o trabalho é que “provoca a diferença de valor em tudo quanto existe”, pode ser considerada, de certa forma, como a precursora da TEORIA DO VALOR-TRABALHO, desenvolvida por Smith e Ricardo, economistas do LIBERALISMO CLÁSSICO.
O limite da propriedade era, inicialmente, fixado pela capacidade de trabalho do ser humano – com o surgimento do dinheiro e do comércio surgiu uma nova forma de aquisição da propriedade através da COMPRA.
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O CONTRATO SOCIAL EM LOCKE:
Apesar de pacífico, o estado de natureza em Locke apresenta alguns inconvenientes, como por exemplo, a violação da propriedade (em uma primeira acepção, vida liberdade e bens) que, na falta da lei positivada, do juiz imparcial e de força coercitiva podia levar ao conflito entre os indivíduos singulares.
Visando a superação destes inconvenientes, os homens se unem e estabelecem LIVREMENTE entre si o CONTRATO SOCIAL que faz a passagem do ESTADO DE NATUREZA para a SOCIEDADE POLÍTICA OU CIVIL – esta sociedade política ou civil é formada por corpo político único, dotado de LEGISLAÇÃO, de JUDICATURA e da FORÇA CONCENTRADA DA COMUNIDADE.
Em Locke, o contrato social é um PACTO DE CONSENTIMENTO, a partir do qual os homens concordam, livremente, em formar a sociedade civil para preservar e consolidar ainda mais os direitos que possuíam originariamente no estado de natureza – no ESTADO CIVIL, os DIREITOS INALIENÁVEIS do ser humano á VIDA, à LIBERDADE e aos BENS estão melhor protegidos sob o amparo da lei, do árbitro e da força política de um CORPO POLÍTICO UNITÁRIO.
O contrato social em Locke difere fundamentalmente do contrato hobbesiano – em Hobbes, os homens firmam entre si um PACTO DE SUBMISSÃO, através do qual transferem a um único homem ou a uma assembléia a força coercitiva da comunidade, trocando voluntariamente a LIBERDADE pela SEGURANÇA do Estado-Leviatã.
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O DIREITO DE RESISTÊNCIA EM LOCKE:
No que se refere às relações entre governo e sociedade, Locke afirma que, quando o Executivo e o Legislativo violam a lei estabelecida e atentam contra a PROPRIEDADE, o governo deixa de cumprir o fim a que havia sido destinado, tornando-se ilegal e degenerando em TIRANIA – o que define a tirania é o EXERCÍCIO DO PODER PARA ALÉM DO DIREITO, VISANDO O INTERESSE PRÓPRIO E NÃO O BEM PÚBLICO OU COMUM.
A violação deliberada e sistemática da propriedade (vida, liberdade e bens) e o uso contínuo da força sem amparo legal colocam o GOVERNO em ESTADO DE GUERRA contra a SOCIEDADE e os GOVERNANTES em rebelião contra os GOVERNADOS – nestas condições o povo é investido do legítimo DIREITO DE RESISTÊNCIA à OPRESSÃO e à TIRANIA.
A DOUTRINA DA LEGITIMIDADE DA RESISTÊNCIA AO EXERCÍCIO ILEGAL DO PODER, reconhece ao povo, quando este não tem mais a quem recorrer para sua proteção, o direito de recorrer à força para a deposição do governo rebelde – tal doutrina remontava ao período das Guerras de Religião na Europa e ao ser resgatada e revalorizada por Locke no Segundo Tratado sobre o governo civil, transformou-se no “motor” das revoluções liberais que eclodiriam posteriormente na Europa e na América.
O Estado de guerra assim imposto ao povo pelo governo, configura a DISSOLUÇÃO DO ESTADO CIVIL e o retorno ao ESTADO DE NATUREZA – a inexistência de um juiz comum faz com que o impasse só pode ser decidido pela força.
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ROUSSEAU E O CONTRATO SOCIAL
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ROUSSEAU E A QUESTÃO DA LIBERDADE (I):
A princípio, Rousseau faz uma dura constatação, n’O CONTRATO SOCIAL, a respeito da condição humana: “O homem nasce livre, e por toda parte encontra-se aprisionado. O que se crê senhor dos demais, não deixa de ser mais escravo do que eles” – para Rousseau, a LIBERDADE não é uma convenção e nem uma prerrogativa legal, mas é uma CONDIÇÃO INTRÍNSECA À NATUREZA HUMANA, sendo a ESCRAVIDÃO é a plena renúncia desta natureza humana, sustentada por convenções e interesses mesquinhos.
No DISCURSO SOBRE A ORIGEM DA DESIGUALDADE, Rousseau descreve a trajetória da condição de liberdade existente no ESTADO DE NATUREZA até o surgimento da PROPRIEDADE, com todos os inconvenientes que daí surgiram.
Na passagem do estado de natureza para a “condição de servidão”, encontra-se um pacto proposto pelos poderosos – tal pacto, segundo Rousseau, deve ter dado origem à sociedade e às leis “que deram novos entraves ao fraco e novas forças ao rico, destruíram irremediavelmente a liberdade natural, fixaram para sempre a lei da propriedade e da desigualdade, fizeram uma usurpação sagaz um direito irrevogável e, para proveito de alguns ambiciosos, sujeitaram todo o gênero humano ao trabalho, à servidão e à miséria.” (Discurso sobre a desigualdade)
Ao declarar que ignora o processo de transformação do homem, da liberdade à servidão, Rousseau se refere aos fatos reais, afirmando que tal transformação pode ser construída hipoteticamente e demonstrada por argumentos racionais.
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ROUSSEAU E A QUESTÃO DA LIBERDADE (II):
O CONTRATO SOCIAL inicia-se a partir do reconhecimento de que o homem encontra-se em toda parte “a ferros” – a partir daí, Rousseau pretende estabelecer as condições de possibilidade de um pacto legítimo, através do qual, os homens, depois de terem perdido sua liberdade natural, possam ganhar, em troca, a LIBERDADE CIVIL.
No processo de legitimação do PACTO SOCIAL, o fundamental é a condição de IGUALDADE DAS PARTES CONTRATANTES – assim, as cláusulas do contrato, “quando bem compreendidas, reduzem-se a uma só: a alienação total de cada associado, com todos os seus direitos à comunidade toda, porque, em primeiro lugar, cada um dando-se completamente, a condição é igual para todos e, sendo a condição igual para todos, ninguém se interessa por tornar onerosa para os demais (Contrato Social)
Neste pacto, ninguém sairia prejudicado porque o corpo soberano que surge após o contrato é o único a determinar a forma de distribuição da propriedade como uma de suas atribuições possíveis, já que a alienação da propriedade de cada parte contratante foi total e sem reservas – estariam assim dadas as condições para LIBERDADE CIVIL, pois o POVO SOBERANO, sendo ao mesmo tempo parte ativa e passiva (agente do processo de elaboração das leis e aquele que obedece a essas mesmas leis), tem todas as condições para se tornar um SER AUTÔNOMO, agindo por si mesmo
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OBSERVAÇÃO IMPORTANTE ACERCA DA TEMÁTICA DA LIBERDADE NO PENSAMENTO DE ROUSSEAU
Obedecer à lei que se prescreve a si mesmo, é a conjugação perfeita entre liberdade e obediência, é um ATO DE LIBERDADE – Um povo só será livre quando tiver todas as condições de elaborar suas leis em um clima de igualdade, de tal modo que a obediência a essas mesmas leis signifique, na verdade, uma submissão à deliberação de si mesmo e de cada cidadão, como parte do poder soberano, o que significa dizer, uma submissão à VONTADE GERAL e não à vontade de um indivíduo em particular ou de um grupo de indivíduos. 
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A VONTADE E A REPRESENTAÇÃO NO PENSAMENTO DE ROUSSEAU:
A submissão de cada indivíduo à vontade geral é a condição primeira de LEGITIMIDADE da vida pública ou seja, é aquela condição que marca a fundação da VIDA PÚBLICA através de um PACTO LEGÍTIMO, no qual a ALIENAÇÃO de cada um, com todos os seus direitos é total e a condição de todos é a de IGUALDADE.
A legitimação da fundação do corpo político, deve estender-se também para a “máquina política” em funcionamento – para que o corpo político funcione, não basta o ato fundador da associação, sendo necessário que essa VONTADE se realize, daí que os fins da constituição da comunidade precisam ser realizados.
Assim, qualquer forma de governo que se venha a adotar (a monarquia, a aristocracia ou a democracia) terá que se submeter ao PODER SOBERANO DO POVO – mesmo em um regime monárquico, povo pode manter-se como soberano desde que o monarca se caracterize como funcionário do povo.
Impõe-se, assim, antes de mais nada, definir o GOVERNO, o CORPO ADMINISTRATIVO DO ESTADO, como FUNCIONÁRIO DO SOBERANO, como órgão limitado pelo poder do povo (do SOBERANO), como seu funcionário e não como um corpo autônomo ou então como o próprio poder máximo, confundindo-se, neste caso, com o SOBERANO.
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OUTRAS OBSERVAÇÕES IMPORTANTES A RESPEITO DAS QUESTÕES RELACIONADAS À VONTADE E À REPRESENTAÇÃO NO PENSAMENTO DE ROUSSEAU
 No Contrato Social, Rousseau depois de reafirmar o caráter do governo como um corpo submisso à autoridade soberana do povo e depois de reconhecer sua necessidade, passou a enumerar os riscos de sua instituição e a tendência à degeneração.
 Assim, o governo tenderia sempre a ocupar o lugar do soberano e, ao invés de submeter-se ao povo, tenderia, na verdade, a subjugá-lo – segundo Rousseau, “assim como a vontade particular age sem cessar contra a vontade geral, o governo despende um esforço contínuo contra o soberano”.
 Rousseau não admite a REPRESENTAÇÃO no nível da SOBERANIA (ou seja, uma vontade não se representa) – o exercício da vontade geral através dos representantes significaria uma sobreposição de vontades, já que ninguém pode querer pelo outro e quando isto ocorre, a vontade de quem a delegou não mais existe ou não mais está sendo levada em consideração.
 No nível do governo, Rousseau admite representação – todavia, em relação aos representantes, nunca se deve descuidar, pois sua tendência é a de agirem em nome de si mesmos e não em nome daqueles que representam, devendo, para tanto, serem trocados com uma certa frequência.

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