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HETEROTOPIASHETEROTOPIASHETEROTOPIASHETEROTOPIASHETEROTOPIAS FACULDADE 7 DE SETEMBROFACULDADE 7 DE SETEMBROFACULDADE 7 DE SETEMBROFACULDADE 7 DE SETEMBROFACULDADE 7 DE SETEMBRO Rua Maximiano da Fonseca, 1395 Bairro Engº Luciano Cavalcante CEP: 60.811-024 - Fortaleza-CE Home page: www.fa7.edu.br Diretor GeralDiretor GeralDiretor GeralDiretor GeralDiretor Geral Ednilton Gomes de Soárez Diretor AcadêmicoDiretor AcadêmicoDiretor AcadêmicoDiretor AcadêmicoDiretor Acadêmico Ednilo Gomes de Soárez Vice-Diretor AcadêmicoVice-Diretor AcadêmicoVice-Diretor AcadêmicoVice-Diretor AcadêmicoVice-Diretor Acadêmico Adelmir de Menezes Jucá Secretária GeralSecretária GeralSecretária GeralSecretária GeralSecretária Geral Fani Weinschenker de Soárez H E T E R O T O P I A SH E T E R O T O P I A SH E T E R O T O P I A SH E T E R O T O P I A SH E T E R O T O P I A S Revista de divulgação cultural e científica dos cursos de graduação e pós-graduação em Comunicação–FA7 Fortaleza – CE Vol. 03, novembro de 2007 S U M Á R I OS U M Á R I O ENTREVISTASENTREVISTASENTREVISTASENTREVISTASENTREVISTAS 1. Por uma antropolítica – entrevista com Edgar Morin Wilfred Garf e Alex Neumann ARTIGOSARTIGOSARTIGOSARTIGOSARTIGOS 2. Vida: complexidade e élan – um diálogo com Edgar Morin e Henri Bergson Marcio Acselrad 3. Mediação pedagógica e o enfoque da complexi- dade de Morin: utopia ou possibilidade? Elys Vânny Fernanda Rodrigues de Oliveira Maria Regina dos Passos Pereira 4. Gabriel Tarde, um comunicólogo avant la lettre Ericson Saint Clair 5. Arte, filosofia e política Tiago Seixas Themudo 6. A diversidade regional no telejornalismo da Globo Valquíria Passos Kneipp 7. Anatomia da informação visual Juliana Lotif INICIAÇÃO CIENTÍFICAINICIAÇÃO CIENTÍFICAINICIAÇÃO CIENTÍFICAINICIAÇÃO CIENTÍFICAINICIAÇÃO CIENTÍFICA 8. O papel da televisão na contemporaneidade J. Levi de Freitas 9. Sobre "as três ecologias" Romenik Tiago Camila Vieira da Silva MONOGRAFIASMONOGRAFIASMONOGRAFIASMONOGRAFIASMONOGRAFIAS 10. A eficácia do marketing viral como ferramenta publicitária na internet: a análise de um expe- rimento no Youtube Bruno Ávila ......... 09 .................................. 41 .................... 59 ......... 71 ............................................ 93 ............ 113 .................................. 129 ........ 143 ..................................... 151 ........................................... 165 EditorEditorEditorEditorEditor Tiago Seixas Themudo Coordenação EditorialCoordenação EditorialCoordenação EditorialCoordenação EditorialCoordenação Editorial Fátima Porto Conselho EditorialConselho EditorialConselho EditorialConselho EditorialConselho Editorial Ismael Furtado (FA7) Elisângela Teixeira (FA7) Márcio Ascelrad (FA7) Lucas Melo (FA7) Ednilo Soárez (FA7) Conselho ExternoConselho ExternoConselho ExternoConselho ExternoConselho Externo Paulo Oneto (UECE) Paulo Germano Barroso de Albuquerque (LEPS) Sylvio Gadelha (UFC) Alexandre Barbalho (UECE) Dilmar Miranda (UFC) Rogério da Costa (PUC-SP) Maria Cristina Franco Feraz (UERJ) Cristiana Tejo (UFPE) Conselho InternacionalConselho InternacionalConselho InternacionalConselho InternacionalConselho Internacional Amalia Boyer (Universidad Del Norte – Colombia) Emmanuel Valt (Paris) Alex Neuman (Sorbonne – Paris) João Caraça (Portugal) Rev i sãoRev i sãoRev i sãoRev i sãoRev i são Ismael Furtado CapaCapaCapaCapaCapa João Paulo Ribeiro Editoração EletrônicaEditoração EletrônicaEditoração EletrônicaEditoração EletrônicaEditoração Eletrônica Edwaldo Junior Projeto GráficoProjeto GráficoProjeto GráficoProjeto GráficoProjeto Gráfico Tiragem: 500 exemplares © FA7 – Fortaleza, 2006 Heterotopias / Faculdade 7 de Setembro. – v.1, 2005 – Fortaleza: Book editora, 2005. v. 1 Publicação anual ISSN: 1980-6485 1. Periódico científico e cultural. 2. Comunicação. 3. Faculdade 7 de Setembro – FA7. CDD 302.205 E D I T O R I A L Mesmo apresentando o terceiro volume da nossa revista, ainda não paramos de celebrar bons aconteci- mentos; não tivemos de nos habituar à rotina edito- rial. Trazemos nesta edição uma entrevista inédita com o pensador francês Edgar Morin, que no auge de sua maturidade intelectual concedeu uma entrevista a Winfred Garf e ao sociólogo Alex Neumann, professor da Sorbonne e membro de nosso conselho editorial. Foi com extrema simpatia e alegria que todos os envol- vidos nesta entrevista, inclusive o próprio Edgar Morin, responderam ao nosso pedido para publicar este pre- cioso material na Heterotopias. Havia ao mesmo tempo algo de inusitado e espontâneo nesse presente que nos foi dado: o fato de um grande pensador aceitar publicar numa pequena revista acadêmica, ainda sem força edi- torial, e a cumplicidade desse pensamento com-plexo com as questões que historicamente concernem o Brasil, e mais especificamente o Nordeste. Dois artigos procuraram dialogar com o pensa- mento desse nosso ilustre convidado. Destaque para o artigo de Elis Vanny e Maria Regina, professoras do Colégio Sete de Setembro que, de posse do con- ceito de complexidade, tentam refletir sobre trans- formações possíveis no campo da educação. Merece destaque também o artigo do Erick Saint-Claire, pro- fessor da UFF, que traz à tona o pensamento do soció- logo francês Gabriel Tarde, buscando suas resso- nâncias com as modernas teorias da comunicação. Inauguramos também duas novas seções, com o obje- tivo de ampliar ainda mais este espaço para as publi- cações e produções dos alunos: Iniciação Científica e Monografias. Esperamos que todos possam se servir das idéias que aqui organizamos e apresentamos, aumentando nossa capacidade de compreensão, indignação e ação. O Editor 8 Por uma antropolítica – entrevista com Edgar Morin - Wilfred Garf e Alex Neumann 9 Heterotopias – Vol. 03 * * ** * ** * ** * ** * * POR UMA ANTROPOLÍTICAPOR UMA ANTROPOLÍTICAPOR UMA ANTROPOLÍTICAPOR UMA ANTROPOLÍTICAPOR UMA ANTROPOLÍTICA ENTREVISTA COMENTREVISTA COMENTREVISTA COMENTREVISTA COMENTREVISTA COM EDGAR MORINEDGAR MORINEDGAR MORINEDGAR MORINEDGAR MORIN Wilfred Garf Alex Neumann ResumoResumoResumoResumoResumo – Entrevista realizada em 2007, na qual o renomado filósofo francês discorre sobre a perti- nência do conceito de antropolítica na criação de um sistema interpretativo e de ação adequado para o mundo contemporâneo. Palavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chave::::: antropologia, política, filosofia, complexidade AbstractAbstractAbstractAbstractAbstract – IInterview conducted in 2007 by Wilfred Garf and Alex Neumann, in which the renowned French philosopher talks about the relevance of the concept of antropolítica in creating an interpretive system and appropriate action to the world today. KeyKeyKeyKeyKey wordswordswordswordswords::::: anthropology, politics, philosophy, complexity – Você ambiciona propor uma compreensão teórica coerente. Ora, nossa época parece mais voltada para a desconfiança pós-moderna em relação aos grandes sistemas. 10 Por uma antropolítica – entrevista com Edgar Morin - Wilfred Garf e Alex Neumann EM: Um método coerente não é assimilávelEM: Um método coerente não é assimilávelEM: Um método coerente não é assimilávelEM: Um método coerente não é assimilávelEM: Um método coerente não é assimilável a um grande sistema. A coerência é a tentativaa um grande sistema. A coerência é a tentativaa um grande sistema. A coerência é a tentativaa um grande sistema. A coerência é a tentativaa um grande sistema. A coerência é a tentativa do espírito de confrontar a complexidade dodo espírito de confrontar a complexidade dodo espírito de confrontar a complexidade dodo espírito de confrontar a complexidade dodo espírito de confrontar a complexidade do real.Meu problema é, portanto, confrontarreal. Meu problema é, portanto, confrontarreal. Meu problema é, portanto, confrontarreal. Meu problema é, portanto, confrontarreal. Meu problema é, portanto, confrontar as contradições que se apresentam ao espírito,as contradições que se apresentam ao espírito,as contradições que se apresentam ao espírito,as contradições que se apresentam ao espírito,as contradições que se apresentam ao espírito, sem, contudo, buscar uma solução.sem, contudo, buscar uma solução.sem, contudo, buscar uma solução.sem, contudo, buscar uma solução.sem, contudo, buscar uma solução. Minha proposição sobre o método não seMinha proposição sobre o método não seMinha proposição sobre o método não seMinha proposição sobre o método não seMinha proposição sobre o método não se inscreve prioritariamente em reação àquilo queinscreve prioritariamente em reação àquilo queinscreve prioritariamente em reação àquilo queinscreve prioritariamente em reação àquilo queinscreve prioritariamente em reação àquilo que se chama de pós-modernismo – sobre o qual,se chama de pós-modernismo – sobre o qual,se chama de pós-modernismo – sobre o qual,se chama de pós-modernismo – sobre o qual,se chama de pós-modernismo – sobre o qual, aliás, não haveria muito que dizer. Ela se insaliás, não haveria muito que dizer. Ela se insaliás, não haveria muito que dizer. Ela se insaliás, não haveria muito que dizer. Ela se insaliás, não haveria muito que dizer. Ela se ins----- creve antes em reação a um modo de conhecreve antes em reação a um modo de conhecreve antes em reação a um modo de conhecreve antes em reação a um modo de conhecreve antes em reação a um modo de conhe----- cimento despedaçado, fragmentado, transcimento despedaçado, fragmentado, transcimento despedaçado, fragmentado, transcimento despedaçado, fragmentado, transcimento despedaçado, fragmentado, trans----- mitido em tomitido em tomitido em tomitido em tomitido em todddddas as nossas instituições deas as nossas instituições deas as nossas instituições deas as nossas instituições deas as nossas instituições de ensino – por exemplo, na universidade. Isto oensino – por exemplo, na universidade. Isto oensino – por exemplo, na universidade. Isto oensino – por exemplo, na universidade. Isto oensino – por exemplo, na universidade. Isto o impede de contextualizar as informações ou osimpede de contextualizar as informações ou osimpede de contextualizar as informações ou osimpede de contextualizar as informações ou osimpede de contextualizar as informações ou os fatos de que se ocupa. E mais, ele impede quefatos de que se ocupa. E mais, ele impede quefatos de que se ocupa. E mais, ele impede quefatos de que se ocupa. E mais, ele impede quefatos de que se ocupa. E mais, ele impede que essas informações ou dadoessas informações ou dadoessas informações ou dadoessas informações ou dadoessas informações ou dadosssss sejam situado sejam situado sejam situado sejam situado sejam situadosssss num num num num num conjunto mais global, mais amplo. Eu reajo,conjunto mais global, mais amplo. Eu reajo,conjunto mais global, mais amplo. Eu reajo,conjunto mais global, mais amplo. Eu reajo,conjunto mais global, mais amplo. Eu reajo, portanto, sobretudo a essa forma mutiladoraportanto, sobretudo a essa forma mutiladoraportanto, sobretudo a essa forma mutiladoraportanto, sobretudo a essa forma mutiladoraportanto, sobretudo a essa forma mutiladora de apreender a realidade.de apreender a realidade.de apreender a realidade.de apreender a realidade.de apreender a realidade. Aliás, o termo pós-modernismo é bastanteAliás, o termo pós-modernismo é bastanteAliás, o termo pós-modernismo é bastanteAliás, o termo pós-modernismo é bastanteAliás, o termo pós-modernismo é bastante insuficiente para caracterizar nossa época.insuficiente para caracterizar nossa época.insuficiente para caracterizar nossa época.insuficiente para caracterizar nossa época.insuficiente para caracterizar nossa época. Primeiro porque, conceitualmente, ele é vazio.Primeiro porque, conceitualmente, ele é vazio.Primeiro porque, conceitualmente, ele é vazio.Primeiro porque, conceitualmente, ele é vazio.Primeiro porque, conceitualmente, ele é vazio. Em seguida, porque penso que nossa époEm seguida, porque penso que nossa époEm seguida, porque penso que nossa époEm seguida, porque penso que nossa époEm seguida, porque penso que nossa épo-----cacacacaca ainda não revelou (mostrou) sua verdadeiraainda não revelou (mostrou) sua verdadeiraainda não revelou (mostrou) sua verdadeiraainda não revelou (mostrou) sua verdadeiraainda não revelou (mostrou) sua verdadeira feição. É muito cedo para que seja interessantefeição. É muito cedo para que seja interessantefeição. É muito cedo para que seja interessantefeição. É muito cedo para que seja interessantefeição. É muito cedo para que seja interessante qualificá-la. Uma das características do pós-qualificá-la. Uma das características do pós-qualificá-la. Uma das características do pós-qualificá-la. Uma das características do pós-qualificá-la. Uma das características do pós- moderno, tal como desenvolvido por Lyotard, émoderno, tal como desenvolvido por Lyotard, émoderno, tal como desenvolvido por Lyotard, émoderno, tal como desenvolvido por Lyotard, émoderno, tal como desenvolvido por Lyotard, é o fim das grandes narrativas. É verdade queo fim das grandes narrativas. É verdade queo fim das grandes narrativas. É verdade queo fim das grandes narrativas. É verdade queo fim das grandes narrativas. É verdade que narrativas médias, como a marxista, que prenarrativas médias, como a marxista, que prenarrativas médias, como a marxista, que prenarrativas médias, como a marxista, que prenarrativas médias, como a marxista, que pre----- tendia fornecer uma interpretação global datendia fornecer uma interpretação global datendia fornecer uma interpretação global datendia fornecer uma interpretação global datendia fornecer uma interpretação global da história e da humanidade – vendo no comuhistória e da humanidade – vendo no comuhistória e da humanidade – vendo no comuhistória e da humanidade – vendo no comuhistória e da humanidade – vendo no comu----- nismo primitivo o ponto de partida, depois onismo primitivo o ponto de partida, depois onismo primitivo o ponto de partida, depois onismo primitivo o ponto de partida, depois onismo primitivo o ponto de partida, depois o mundo feudal, em seguida o capitalismo, e finalmundo feudal, em seguida o capitalismo, e finalmundo feudal, em seguida o capitalismo, e finalmundo feudal, em seguida o capitalismo, e finalmundo feudal, em seguida o capitalismo, e final----- mente o socialismo – não funcionam mais. Emmente o socialismo – não funcionam mais. Emmente o socialismo – não funcionam mais. Emmente o socialismo – não funcionam mais. Emmente o socialismo – não funcionam mais. Em contrapartida, após 1960, dispomos do maiorcontrapartida, após 1960, dispomos do maiorcontrapartida, após 1960, dispomos do maiorcontrapartida, após 1960, dispomos do maiorcontrapartida, após 1960, dispomos do maior recito que podemos imaginar. Ele se iniciou hárecito que podemos imaginar. Ele se iniciou hárecito que podemos imaginar. Ele se iniciou hárecito que podemos imaginar. Ele se iniciou hárecito que podemos imaginar. Ele se iniciou há 15 milhões de anos com o nascimento do cosmos.15 milhões de anos com o nascimento do cosmos.15 milhões de anos com o nascimento do cosmos.15 milhões de anos com o nascimento do cosmos.15 milhões de anos com o nascimento do cosmos. Depois vem a formação do nosso sol, há 5 miDepois vem a formação do nosso sol, há 5 miDepois vem a formação do nosso sol, há 5 miDepois vem a formação do nosso sol, há 5 miDepois vem a formação do nosso sol, há 5 mi----- lhões de anos, ele mesmo originário da decomlhões de anos, ele mesmo originário da decomlhões de anos, ele mesmo originário da decomlhões de anos, ele mesmo originário da decomlhões de anos, ele mesmo originário da decom----- 11 Heterotopias – Vol. 03 posiçãode um sol anterior. No meio dissoposição de um sol anterior. No meio dissoposição de um sol anterior. No meio dissoposição de um sol anterior. No meio dissoposição de um sol anterior. No meio disso tudo, nosso planeta Terra foi formado e a vidatudo, nosso planeta Terra foi formado e a vidatudo, nosso planeta Terra foi formado e a vidatudo, nosso planeta Terra foi formado e a vidatudo, nosso planeta Terra foi formado e a vida apareceu. Há, enfim, ao longo dessa evoluçãoapareceu. Há, enfim, ao longo dessa evoluçãoapareceu. Há, enfim, ao longo dessa evoluçãoapareceu. Há, enfim, ao longo dessa evoluçãoapareceu. Há, enfim, ao longo dessa evolução biológica, um processo que data de 6 mil anosbiológica, um processo que data de 6 mil anosbiológica, um processo que data de 6 mil anosbiológica, um processo que data de 6 mil anosbiológica, um processo que data de 6 mil anos chamado de hominização, e que vai até a nos-chamado de hominização, e que vai até a nos-chamado de hominização, e que vai até a nos-chamado de hominização, e que vai até a nos-chamado de hominização, e que vai até a nos- sa espécie atual. Nunca se imaginou uma nar-sa espécie atual. Nunca se imaginou uma nar-sa espécie atual. Nunca se imaginou uma nar-sa espécie atual. Nunca se imaginou uma nar-sa espécie atual. Nunca se imaginou uma nar- rativa tão grande, vinda desde a origem dorativa tão grande, vinda desde a origem dorativa tão grande, vinda desde a origem dorativa tão grande, vinda desde a origem dorativa tão grande, vinda desde a origem do universo até os dias de hoje, e que eviden-universo até os dias de hoje, e que eviden-universo até os dias de hoje, e que eviden-universo até os dias de hoje, e que eviden-universo até os dias de hoje, e que eviden- temente vai prosseguir.temente vai prosseguir.temente vai prosseguir.temente vai prosseguir.temente vai prosseguir. – No que concernem as formas de desenvol- vimento do que você chama de pensamento complexo, você evoca a necessidade da passagem da dialética a um conceito biológico. Você afirma não se poder mais falar de síntese no sentido hegeliano, e que há uma cooperação das contradições em movimento. Explique um pouco este esquema. EM: O que chamamos de dialética – noEM: O que chamamos de dialética – noEM: O que chamamos de dialética – noEM: O que chamamos de dialética – noEM: O que chamamos de dialética – no sentido de um pensamento que confronta assentido de um pensamento que confronta assentido de um pensamento que confronta assentido de um pensamento que confronta assentido de um pensamento que confronta as antíteses e as contradições – é um tipo deantíteses e as contradições – é um tipo deantíteses e as contradições – é um tipo deantíteses e as contradições – é um tipo deantíteses e as contradições – é um tipo de pensamento que se desenvolveu de maneirapensamento que se desenvolveu de maneirapensamento que se desenvolveu de maneirapensamento que se desenvolveu de maneirapensamento que se desenvolveu de maneira bem marginal ou minoritária no mundobem marginal ou minoritária no mundobem marginal ou minoritária no mundobem marginal ou minoritária no mundobem marginal ou minoritária no mundo ocidental. Heráclito representa uma primeiraocidental. Heráclito representa uma primeiraocidental. Heráclito representa uma primeiraocidental. Heráclito representa uma primeiraocidental. Heráclito representa uma primeira grande baliza. Ele desenvolve um pensamentogrande baliza. Ele desenvolve um pensamentogrande baliza. Ele desenvolve um pensamentogrande baliza. Ele desenvolve um pensamentogrande baliza. Ele desenvolve um pensamento confrontando a contradição sem procurarconfrontando a contradição sem procurarconfrontando a contradição sem procurarconfrontando a contradição sem procurarconfrontando a contradição sem procurar ultrapassá-la. Quando ele afirma: “Viver deultrapassá-la. Quando ele afirma: “Viver deultrapassá-la. Quando ele afirma: “Viver deultrapassá-la. Quando ele afirma: “Viver deultrapassá-la. Quando ele afirma: “Viver de morte ou morrer de vida”, não significa quemorte ou morrer de vida”, não significa quemorte ou morrer de vida”, não significa quemorte ou morrer de vida”, não significa quemorte ou morrer de vida”, não significa que seja possível ultrapassar esta oposição. É umaseja possível ultrapassar esta oposição. É umaseja possível ultrapassar esta oposição. É umaseja possível ultrapassar esta oposição. É umaseja possível ultrapassar esta oposição. É uma maneira de dizer que a vida, a de um indi-maneira de dizer que a vida, a de um indi-maneira de dizer que a vida, a de um indi-maneira de dizer que a vida, a de um indi-maneira de dizer que a vida, a de um indi- víduo, por exemplo, só pode prosseguir atravésvíduo, por exemplo, só pode prosseguir atravésvíduo, por exemplo, só pode prosseguir atravésvíduo, por exemplo, só pode prosseguir atravésvíduo, por exemplo, só pode prosseguir através da morte de suas moléculas e células, e suada morte de suas moléculas e células, e suada morte de suas moléculas e células, e suada morte de suas moléculas e células, e suada morte de suas moléculas e células, e sua substituição por moléculas e células novas. Asubstituição por moléculas e células novas. Asubstituição por moléculas e células novas. Asubstituição por moléculas e células novas. Asubstituição por moléculas e células novas. A vida tira proveito do fato de estar subor-vida tira proveito do fato de estar subor-vida tira proveito do fato de estar subor-vida tira proveito do fato de estar subor-vida tira proveito do fato de estar subor- dinada à morte. Da mesma forma, as socie-dinada à morte. Da mesma forma, as socie-dinada à morte. Da mesma forma, as socie-dinada à morte. Da mesma forma, as socie-dinada à morte. Da mesma forma, as socie- dades vivem da morte dos indivíduos. Estadades vivem da morte dos indivíduos. Estadades vivem da morte dos indivíduos. Estadades vivem da morte dos indivíduos. Estadades vivem da morte dos indivíduos. Esta 12 Por uma antropolítica – entrevista com Edgar Morin - Wilfred Garf e Alex Neumann contradição não suprime o caráter nefastocontradição não suprime o caráter nefastocontradição não suprime o caráter nefastocontradição não suprime o caráter nefastocontradição não suprime o caráter nefasto da morte, que é irremediável: acaba-seda morte, que é irremediável: acaba-seda morte, que é irremediável: acaba-seda morte, que é irremediável: acaba-seda morte, que é irremediável: acaba-se sempre por morrer. Ela implica apenas que asempre por morrer. Ela implica apenas que asempre por morrer. Ela implica apenas que asempre por morrer. Ela implica apenas que asempre por morrer. Ela implica apenas que a vida é capaz de utilizar a morte para lutarvida é capaz de utilizar a morte para lutarvida é capaz de utilizar a morte para lutarvida é capaz de utilizar a morte para lutarvida é capaz de utilizar a morte para lutar contra a morte. É a definição de vida dadacontra a morte. É a definição de vida dadacontra a morte. É a definição de vida dadacontra a morte. É a definição de vida dadacontra a morte. É a definição de vida dada por Bichat no séc. XIX: “A vida é o conjuntopor Bichat no séc. XIX: “A vida é o conjuntopor Bichat no séc. XIX: “A vida é o conjuntopor Bichat no séc. XIX: “A vida é o conjuntopor Bichat no séc. XIX: “A vida é o conjunto de funções que resistem à morte”. É precisode funções que resistem à morte”. É precisode funções que resistem à morte”. É precisode funções que resistem à morte”. É precisode funções que resistem à morte”. É preciso acrescentar: utilizando a própria morte.acrescentar: utilizando a própria morte.acrescentar: utilizando a própria morte.acrescentar: utilizando a própria morte.acrescentar: utilizando a própria morte. – A dialética, portanto, é um pensamento que não apenas confronta as contradições, mas vê aquilo que as une de maneira inseparável. É a afirmação da unidade dos contrários sem que deixem de ser contrários na unidade. Nada a ver com a idéia de uma unidadeque suprime os contrários. EM: Hegel traz a idéia de que o choque dosEM: Hegel traz a idéia de que o choque dosEM: Hegel traz a idéia de que o choque dosEM: Hegel traz a idéia de que o choque dosEM: Hegel traz a idéia de que o choque dos antagonismos, das contradições, produz umaantagonismos, das contradições, produz umaantagonismos, das contradições, produz umaantagonismos, das contradições, produz umaantagonismos, das contradições, produz uma passagem (passagem (passagem (passagem (passagem (AufhebungAufhebungAufhebungAufhebungAufhebung) assimilável a uma nova) assimilável a uma nova) assimilável a uma nova) assimilável a uma nova) assimilável a uma nova síntese. Naturalmente, para Hegel, esta novasíntese. Naturalmente, para Hegel, esta novasíntese. Naturalmente, para Hegel, esta novasíntese. Naturalmente, para Hegel, esta novasíntese. Naturalmente, para Hegel, esta nova síntese não é um ponto final, mas o ponto desíntese não é um ponto final, mas o ponto desíntese não é um ponto final, mas o ponto desíntese não é um ponto final, mas o ponto desíntese não é um ponto final, mas o ponto de partida de um novo jogo ininterrupto. Esta épartida de um novo jogo ininterrupto. Esta épartida de um novo jogo ininterrupto. Esta épartida de um novo jogo ininterrupto. Esta épartida de um novo jogo ininterrupto. Esta é uma razão pela qual prefiro falar de “diauma razão pela qual prefiro falar de “diauma razão pela qual prefiro falar de “diauma razão pela qual prefiro falar de “diauma razão pela qual prefiro falar de “dia----- lógico” a dialético. Quando se utiliza a palavralógico” a dialético. Quando se utiliza a palavralógico” a dialético. Quando se utiliza a palavralógico” a dialético. Quando se utiliza a palavralógico” a dialético. Quando se utiliza a palavra dialética, pensa-se freqüentemente em Hegeldialética, pensa-se freqüentemente em Hegeldialética, pensa-se freqüentemente em Hegeldialética, pensa-se freqüentemente em Hegeldialética, pensa-se freqüentemente em Hegel e e e e e nananananaquilo que Marx afirma dele: a idéia dequilo que Marx afirma dele: a idéia dequilo que Marx afirma dele: a idéia dequilo que Marx afirma dele: a idéia dequilo que Marx afirma dele: a idéia de uma superação das contradições. Não querouma superação das contradições. Não querouma superação das contradições. Não querouma superação das contradições. Não querouma superação das contradições. Não quero afirmar que as contradições sejam todas insuafirmar que as contradições sejam todas insuafirmar que as contradições sejam todas insuafirmar que as contradições sejam todas insuafirmar que as contradições sejam todas insu----- peráveis. Afirmo haver contradições criadoras,peráveis. Afirmo haver contradições criadoras,peráveis. Afirmo haver contradições criadoras,peráveis. Afirmo haver contradições criadoras,peráveis. Afirmo haver contradições criadoras, quer dizer, a partir das quais nasce algo dequer dizer, a partir das quais nasce algo dequer dizer, a partir das quais nasce algo dequer dizer, a partir das quais nasce algo dequer dizer, a partir das quais nasce algo de novo. Refiro-me aqui um pouco a Castoriadis,novo. Refiro-me aqui um pouco a Castoriadis,novo. Refiro-me aqui um pouco a Castoriadis,novo. Refiro-me aqui um pouco a Castoriadis,novo. Refiro-me aqui um pouco a Castoriadis, que insiste sobre o caráter criador que podeque insiste sobre o caráter criador que podeque insiste sobre o caráter criador que podeque insiste sobre o caráter criador que podeque insiste sobre o caráter criador que pode haver tanto na evolução viva, biológica, quanhaver tanto na evolução viva, biológica, quanhaver tanto na evolução viva, biológica, quanhaver tanto na evolução viva, biológica, quanhaver tanto na evolução viva, biológica, quan----- to na história humana. Penso que as criaçõesto na história humana. Penso que as criaçõesto na história humana. Penso que as criaçõesto na história humana. Penso que as criaçõesto na história humana. Penso que as criações nascem de respostas a desafios, de situaçõesnascem de respostas a desafios, de situaçõesnascem de respostas a desafios, de situaçõesnascem de respostas a desafios, de situaçõesnascem de respostas a desafios, de situações impossíveis confrontadas através da criaçãoimpossíveis confrontadas através da criaçãoimpossíveis confrontadas através da criaçãoimpossíveis confrontadas através da criaçãoimpossíveis confrontadas através da criação de algo novo, que não é a síntese dos termosde algo novo, que não é a síntese dos termosde algo novo, que não é a síntese dos termosde algo novo, que não é a síntese dos termosde algo novo, que não é a síntese dos termos em conflito.em conflito.em conflito.em conflito.em conflito. 13 Heterotopias – Vol. 03 A segunda razão pela qual me distingo deA segunda razão pela qual me distingo deA segunda razão pela qual me distingo deA segunda razão pela qual me distingo deA segunda razão pela qual me distingo de Hegel é que, em sua lógica dialética, tudoHegel é que, em sua lógica dialética, tudoHegel é que, em sua lógica dialética, tudoHegel é que, em sua lógica dialética, tudoHegel é que, em sua lógica dialética, tudo parte do ser que, estando vazio de qualquerparte do ser que, estando vazio de qualquerparte do ser que, estando vazio de qualquerparte do ser que, estando vazio de qualquerparte do ser que, estando vazio de qualquer determinação, equivale ao nada. Desta tensão,determinação, equivale ao nada. Desta tensão,determinação, equivale ao nada. Desta tensão,determinação, equivale ao nada. Desta tensão,determinação, equivale ao nada. Desta tensão, entre um e outro, nasce o devir. Ora, consi-entre um e outro, nasce o devir. Ora, consi-entre um e outro, nasce o devir. Ora, consi-entre um e outro, nasce o devir. Ora, consi-entre um e outro, nasce o devir. Ora, consi- dero que na realidade não há apenas o doisdero que na realidade não há apenas o doisdero que na realidade não há apenas o doisdero que na realidade não há apenas o doisdero que na realidade não há apenas o dois que nasce do um, há também o um que nasceque nasce do um, há também o um que nasceque nasce do um, há também o um que nasceque nasce do um, há também o um que nasceque nasce do um, há também o um que nasce do dois. Não apenas no sentido da síntese quedo dois. Não apenas no sentido da síntese quedo dois. Não apenas no sentido da síntese quedo dois. Não apenas no sentido da síntese quedo dois. Não apenas no sentido da síntese que reúne pessoas, mas no sentido do encontroreúne pessoas, mas no sentido do encontroreúne pessoas, mas no sentido do encontroreúne pessoas, mas no sentido do encontroreúne pessoas, mas no sentido do encontro entre dois estrangeiros. O que quero dizer éentre dois estrangeiros. O que quero dizer éentre dois estrangeiros. O que quero dizer éentre dois estrangeiros. O que quero dizer éentre dois estrangeiros. O que quero dizer é que o papel do encontro e do acaso, que eraque o papel do encontro e do acaso, que eraque o papel do encontro e do acaso, que eraque o papel do encontro e do acaso, que eraque o papel do encontro e do acaso, que era um conceito ignorado na época de Hegel, éum conceito ignorado na época de Hegel, éum conceito ignorado na época de Hegel, éum conceito ignorado na época de Hegel, éum conceito ignorado na época de Hegel, é extremamente importante. E é também por isso,extremamente importante. E é também por isso,extremamente importante. E é também por isso,extremamente importante. E é também por isso,extremamente importante. E é também por isso, finalmente, que prefiro o termo dialógico.finalmente, que prefiro o termo dialógico.finalmente, que prefiro o termo dialógico.finalmente, que prefiro o termo dialógico.finalmente, que prefiro o termo dialógico. – O termo “dialógico” sugere que o equilíbrio é uma noção provisória, precária. A prioridade incidiria sobre o desequilíbrio, sobre a luta entre elementos contrários. EM: Em relação a tudo aquilo que é vivo,EM: Em relação a tudo aquilo que é vivo,EM:Em relação a tudo aquilo que é vivo,EM: Em relação a tudo aquilo que é vivo,EM: Em relação a tudo aquilo que é vivo, é melhor falar, em minha opinião, de regu-é melhor falar, em minha opinião, de regu-é melhor falar, em minha opinião, de regu-é melhor falar, em minha opinião, de regu-é melhor falar, em minha opinião, de regu- lação do que de equilíbrio. A regulação ocorrelação do que de equilíbrio. A regulação ocorrelação do que de equilíbrio. A regulação ocorrelação do que de equilíbrio. A regulação ocorrelação do que de equilíbrio. A regulação ocorre quando um sistema se auto-conserva, con-quando um sistema se auto-conserva, con-quando um sistema se auto-conserva, con-quando um sistema se auto-conserva, con-quando um sistema se auto-conserva, con- serva sua consistência, sua regularidade atra-serva sua consistência, sua regularidade atra-serva sua consistência, sua regularidade atra-serva sua consistência, sua regularidade atra-serva sua consistência, sua regularidade atra- vés da eliminação da “deviance”. O que cha-vés da eliminação da “deviance”. O que cha-vés da eliminação da “deviance”. O que cha-vés da eliminação da “deviance”. O que cha-vés da eliminação da “deviance”. O que cha- mamos de omeostase no corpo humano é todamamos de omeostase no corpo humano é todamamos de omeostase no corpo humano é todamamos de omeostase no corpo humano é todamamos de omeostase no corpo humano é toda uma série de processos que nos mantém nauma série de processos que nos mantém nauma série de processos que nos mantém nauma série de processos que nos mantém nauma série de processos que nos mantém na mesma temperatura, com as mesmas taxas demesma temperatura, com as mesmas taxas demesma temperatura, com as mesmas taxas demesma temperatura, com as mesmas taxas demesma temperatura, com as mesmas taxas de diferentes elementos químicos em nossodiferentes elementos químicos em nossodiferentes elementos químicos em nossodiferentes elementos químicos em nossodiferentes elementos químicos em nosso sangue etc. Os grandes fenômenos chamadossangue etc. Os grandes fenômenos chamadossangue etc. Os grandes fenômenos chamadossangue etc. Os grandes fenômenos chamadossangue etc. Os grandes fenômenos chamados de equilíbrios são, na verdade, fenômenos dede equilíbrios são, na verdade, fenômenos dede equilíbrios são, na verdade, fenômenos dede equilíbrios são, na verdade, fenômenos dede equilíbrios são, na verdade, fenômenos de regulação: “eliminação do desvio que, se cres-regulação: “eliminação do desvio que, se cres-regulação: “eliminação do desvio que, se cres-regulação: “eliminação do desvio que, se cres-regulação: “eliminação do desvio que, se cres- cente, pode destruir o sistema” – o cente, pode destruir o sistema” – o cente, pode destruir o sistema” – o cente, pode destruir o sistema” – o cente, pode destruir o sistema” – o feed-backfeed-backfeed-backfeed-backfeed-back positivo, digamos.positivo, digamos.positivo, digamos.positivo, digamos.positivo, digamos. 14 Por uma antropolítica – entrevista com Edgar Morin - Wilfred Garf e Alex Neumann À luz disso tudo, pode-se reconsiderar certoÀ luz disso tudo, pode-se reconsiderar certoÀ luz disso tudo, pode-se reconsiderar certoÀ luz disso tudo, pode-se reconsiderar certoÀ luz disso tudo, pode-se reconsiderar certo número de problemas recorrentes, como o danúmero de problemas recorrentes, como o danúmero de problemas recorrentes, como o danúmero de problemas recorrentes, como o danúmero de problemas recorrentes, como o da origem do capitalismo. A sociedade feudal eraorigem do capitalismo. A sociedade feudal eraorigem do capitalismo. A sociedade feudal eraorigem do capitalismo. A sociedade feudal eraorigem do capitalismo. A sociedade feudal era muito bem regulada. Estava fundada sobre amuito bem regulada. Estava fundada sobre amuito bem regulada. Estava fundada sobre amuito bem regulada. Estava fundada sobre amuito bem regulada. Estava fundada sobre a exploração da terra e dos camponeses. Suaexploração da terra e dos camponeses. Suaexploração da terra e dos camponeses. Suaexploração da terra e dos camponeses. Suaexploração da terra e dos camponeses. Sua destruição foi causada por fatores socidestruição foi causada por fatores socidestruição foi causada por fatores socidestruição foi causada por fatores socidestruição foi causada por fatores socioooooeconôeconôeconôeconôeconô----- micos. Mas remete, sobretudo, ao fato da classemicos. Mas remete, sobretudo, ao fato da classemicos. Mas remete, sobretudo, ao fato da classemicos. Mas remete, sobretudo, ao fato da classemicos. Mas remete, sobretudo, ao fato da classe burguesa, a classe dos mercadores, ter funcioburguesa, a classe dos mercadores, ter funcioburguesa, a classe dos mercadores, ter funcioburguesa, a classe dos mercadores, ter funcioburguesa, a classe dos mercadores, ter funcio----- nado como um vírus corruptor. A passagem paranado como um vírus corruptor. A passagem paranado como um vírus corruptor. A passagem paranado como um vírus corruptor. A passagem paranado como um vírus corruptor. A passagem para o mundo burguês não se explica através dao mundo burguês não se explica através dao mundo burguês não se explica através dao mundo burguês não se explica através dao mundo burguês não se explica através da substituição do moinho de vento pelo moinhosubstituição do moinho de vento pelo moinhosubstituição do moinho de vento pelo moinhosubstituição do moinho de vento pelo moinhosubstituição do moinho de vento pelo moinho a vapor. É uma passagem devida à incapacidadea vapor. É uma passagem devida à incapacidadea vapor. É uma passagem devida à incapacidadea vapor. É uma passagem devida à incapacidadea vapor. É uma passagem devida à incapacidade da sda sda sda sda sooooociedade feudal realizar sua omeostase, suaciedade feudal realizar sua omeostase, suaciedade feudal realizar sua omeostase, suaciedade feudal realizar sua omeostase, suaciedade feudal realizar sua omeostase, sua própria regularidade.própria regularidade.própria regularidade.própria regularidade.própria regularidade. Desvios incessantes aparecem na históriaDesvios incessantes aparecem na históriaDesvios incessantes aparecem na históriaDesvios incessantes aparecem na históriaDesvios incessantes aparecem na história humana. E caso não sejam exterminados imehumana. E caso não sejam exterminados imehumana. E caso não sejam exterminados imehumana. E caso não sejam exterminados imehumana. E caso não sejam exterminados ime----- diatamente – pensem, por exemplo, no cristiadiatamente – pensem, por exemplo, no cristiadiatamente – pensem, por exemplo, no cristiadiatamente – pensem, por exemplo, no cristiadiatamente – pensem, por exemplo, no cristia----- nismo, que é um desvio do judaísmo, pensemnismo, que é um desvio do judaísmo, pensemnismo, que é um desvio do judaísmo, pensemnismo, que é um desvio do judaísmo, pensemnismo, que é um desvio do judaísmo, pensem no Islã, que é um desvio em relação às religiõesno Islã, que é um desvio em relação às religiõesno Islã, que é um desvio em relação às religiõesno Islã, que é um desvio em relação às religiõesno Islã, que é um desvio em relação às religiões presentes na Meca da época, pensem no sociapresentes na Meca da época, pensem no sociapresentes na Meca da época, pensem no sociapresentes na Meca da época, pensem no sociapresentes na Meca da época, pensem no socia----- lismo e no pensamento de Marx – se não foremlismo e no pensamento de Marx – se não foremlismo e no pensamento de Marx – se não foremlismo e no pensamento de Marx – se não foremlismo e no pensamento de Marx – se não forem eliminados, dizia eu, eles se desenvolverão,eliminados, dizia eu, eles se desenvolverão,eliminados, dizia eu, eles se desenvolverão,eliminados, dizia eu, eles se desenvolverão,eliminados, dizia eu, eles se desenvolverão, tornando-se pouco a pouco tendências, e detornando-se pouco a pouco tendências, e detornando-se pouco a pouco tendências, e detornando-se pouco a pouco tendências, e detornando-se poucoa pouco tendências, e de----- pois forças sociais que acabam transformandopois forças sociais que acabam transformandopois forças sociais que acabam transformandopois forças sociais que acabam transformandopois forças sociais que acabam transformando a sociedade (a religião, a ideologia etc.). Éa sociedade (a religião, a ideologia etc.). Éa sociedade (a religião, a ideologia etc.). Éa sociedade (a religião, a ideologia etc.). Éa sociedade (a religião, a ideologia etc.). É preciso romper com a idéia de uma históriapreciso romper com a idéia de uma históriapreciso romper com a idéia de uma históriapreciso romper com a idéia de uma históriapreciso romper com a idéia de uma história frontal que avança majestosamente, como umfrontal que avança majestosamente, como umfrontal que avança majestosamente, como umfrontal que avança majestosamente, como umfrontal que avança majestosamente, como um icebergicebergicebergicebergiceberg, pois ela avança como um caranguejo, pois ela avança como um caranguejo, pois ela avança como um caranguejo, pois ela avança como um caranguejo, pois ela avança como um caranguejo - ela avança lateralmente. Ocorre o mesmo com- ela avança lateralmente. Ocorre o mesmo com- ela avança lateralmente. Ocorre o mesmo com- ela avança lateralmente. Ocorre o mesmo com- ela avança lateralmente. Ocorre o mesmo com a evolução biológica: um novo indivíduoa evolução biológica: um novo indivíduoa evolução biológica: um novo indivíduoa evolução biológica: um novo indivíduoa evolução biológica: um novo indivíduo desviante aparece e, se ele se consolida, estarádesviante aparece e, se ele se consolida, estarádesviante aparece e, se ele se consolida, estarádesviante aparece e, se ele se consolida, estarádesviante aparece e, se ele se consolida, estará na origem da constituição de uma novana origem da constituição de uma novana origem da constituição de uma novana origem da constituição de uma novana origem da constituição de uma nova espécie a se desenvolver.espécie a se desenvolver.espécie a se desenvolver.espécie a se desenvolver.espécie a se desenvolver. 15 Heterotopias – Vol. 03 – Você propõe uma ciência transdisciplinar, que pensaria simultaneamente a antropologia, a socio- logia e a política para apreender a complexidade do real. Como esta proposição se formula teoricamente? E, na política, como ela poderia organizar campos e ritmos de trabalho que são diferentes? EM: É preciso perceber uma coisa: não seEM: É preciso perceber uma coisa: não seEM: É preciso perceber uma coisa: não seEM: É preciso perceber uma coisa: não seEM: É preciso perceber uma coisa: não se pode inventar uma trapode inventar uma trapode inventar uma trapode inventar uma trapode inventar uma transnsnsnsnsdisciplinaridadedisciplinaridadedisciplinaridadedisciplinaridadedisciplinaridade partindo das disciplinas. Necessita-se de umpartindo das disciplinas. Necessita-se de umpartindo das disciplinas. Necessita-se de umpartindo das disciplinas. Necessita-se de umpartindo das disciplinas. Necessita-se de um pensamento anterior às disciplinas, de umpensamento anterior às disciplinas, de umpensamento anterior às disciplinas, de umpensamento anterior às disciplinas, de umpensamento anterior às disciplinas, de um pensamento que seja complexo, transdisciplinarpensamento que seja complexo, transdisciplinarpensamento que seja complexo, transdisciplinarpensamento que seja complexo, transdisciplinarpensamento que seja complexo, transdisciplinar por natureza. Já surgirampor natureza. Já surgirampor natureza. Já surgirampor natureza. Já surgirampor natureza. Já surgiram na na na na na HHHHHistória pensaistória pensaistória pensaistória pensaistória pensa----- mentos que, por sua força, se mostraram transmentos que, por sua força, se mostraram transmentos que, por sua força, se mostraram transmentos que, por sua força, se mostraram transmentos que, por sua força, se mostraram trans----- disciplinares. Marx, por exemplo, é um pendisciplinares. Marx, por exemplo, é um pendisciplinares. Marx, por exemplo, é um pendisciplinares. Marx, por exemplo, é um pendisciplinares. Marx, por exemplo, é um pen----- sador capaz de abordar os problemas filosósador capaz de abordar os problemas filosósador capaz de abordar os problemas filosósador capaz de abordar os problemas filosósador capaz de abordar os problemas filosó----- ficos fundamentais, de tratar questões de evoluficos fundamentais, de tratar questões de evoluficos fundamentais, de tratar questões de evoluficos fundamentais, de tratar questões de evoluficos fundamentais, de tratar questões de evolu----- ção, de sociologia, de economia e política. Penção, de sociologia, de economia e política. Penção, de sociologia, de economia e política. Penção, de sociologia, de economia e política. Penção, de sociologia, de economia e política. Pen----- so também em Freud. Para ele, o eu psíquico seso também em Freud. Para ele, o eu psíquico seso também em Freud. Para ele, o eu psíquico seso também em Freud. Para ele, o eu psíquico seso também em Freud. Para ele, o eu psíquico se forma a partir de uma relação entre o isso – ouforma a partir de uma relação entre o isso – ouforma a partir de uma relação entre o isso – ouforma a partir de uma relação entre o isso – ouforma a partir de uma relação entre o isso – ou seja, nossa natureza biológica, o que remete àseja, nossa natureza biológica, o que remete àseja, nossa natureza biológica, o que remete àseja, nossa natureza biológica, o que remete àseja, nossa natureza biológica, o que remete à biologia – e o supereu, que não invoca apenasbiologia – e o supereu, que não invoca apenasbiologia – e o supereu, que não invoca apenasbiologia – e o supereu, que não invoca apenasbiologia – e o supereu, que não invoca apenas a autoridade do pai ou do chefe, mas tambéma autoridade do pai ou do chefe, mas tambéma autoridade do pai ou do chefe, mas tambéma autoridade do pai ou do chefe, mas tambéma autoridade do pai ou do chefe, mas também a da sociedade. O pensamento de Freud toca,a da sociedade. O pensamento de Freud toca,a da sociedade. O pensamento de Freud toca,a da sociedade. O pensamento de Freud toca,a da sociedade. O pensamento de Freud toca, portanto, o indivíduo, a sociedade, a espécieportanto, o indivíduo, a sociedade, a espécieportanto, o indivíduo, a sociedade, a espécieportanto, o indivíduo, a sociedade, a espécieportanto, o indivíduo, a sociedade, a espécie humana. É por isso que ele realiza incursõeshumana. É por isso que ele realiza incursõeshumana. É por isso que ele realiza incursõeshumana. É por isso que ele realiza incursõeshumana. É por isso que ele realiza incursões sobre o problema das origens da humanidade.sobre o problema das origens da humanidade.sobre o problema das origens da humanidade.sobre o problema das origens da humanidade.sobre o problema das origens da humanidade. Como surge o problema da antropologia?Como surge o problema da antropologia?Como surge o problema da antropologia?Como surge o problema da antropologia?Como surge o problema da antropologia? Primeiro, tomo essa palavra “antropologia”Primeiro, tomo essa palavra “antropologia”Primeiro, tomo essa palavra “antropologia”Primeiro, tomo essa palavra “antropologia”Primeiro, tomo essa palavra “antropologia” no sentido que ela tinha no século XIX, nano sentido que ela tinha no século XIX, nano sentido que ela tinha no século XIX, nano sentido que ela tinha no século XIX, nano sentido que ela tinha no século XIX, na Alemanha: conhecimento do homem daAlemanha: conhecimento do homem daAlemanha: conhecimento do homem daAlemanha: conhecimento do homem daAlemanha: conhecimento do homem da natureza reflexiva, filosófica. Mas pensonatureza reflexiva, filosófica. Mas pensonatureza reflexiva, filosófica. Mas pensonatureza reflexiva, filosófica. Mas pensonatureza reflexiva, filosófica. Mas penso também que esse conhecimento deve estartambém que esse conhecimento deve estartambém que esse conhecimento deve estartambém que esse conhecimento deveestartambém que esse conhecimento deve estar fundado sobre os saberes trazidos pelas ciên-fundado sobre os saberes trazidos pelas ciên-fundado sobre os saberes trazidos pelas ciên-fundado sobre os saberes trazidos pelas ciên-fundado sobre os saberes trazidos pelas ciên- cias como a etnografia, a história, a psico-cias como a etnografia, a história, a psico-cias como a etnografia, a história, a psico-cias como a etnografia, a história, a psico-cias como a etnografia, a história, a psico- logia... Ela pode igualmente se alimentar delogia... Ela pode igualmente se alimentar delogia... Ela pode igualmente se alimentar delogia... Ela pode igualmente se alimentar delogia... Ela pode igualmente se alimentar de coisas que não são geralmente reconhecidascoisas que não são geralmente reconhecidascoisas que não são geralmente reconhecidascoisas que não são geralmente reconhecidascoisas que não são geralmente reconhecidas 16 Por uma antropolítica – entrevista com Edgar Morin - Wilfred Garf e Alex Neumann como ciência: penso na literatura e na poecomo ciência: penso na literatura e na poecomo ciência: penso na literatura e na poecomo ciência: penso na literatura e na poecomo ciência: penso na literatura e na poe----- sia. No conhecimento do ser humano, a litesia. No conhecimento do ser humano, a litesia. No conhecimento do ser humano, a litesia. No conhecimento do ser humano, a litesia. No conhecimento do ser humano, a lite----- ratura, o romance em particular – ocupa umratura, o romance em particular – ocupa umratura, o romance em particular – ocupa umratura, o romance em particular – ocupa umratura, o romance em particular – ocupa um lugar fundamental.lugar fundamental.lugar fundamental.lugar fundamental.lugar fundamental. Meu ponto de partida é o fato de estarmosMeu ponto de partida é o fato de estarmosMeu ponto de partida é o fato de estarmosMeu ponto de partida é o fato de estarmosMeu ponto de partida é o fato de estarmos enraizados no mundo físico e biológicoenraizados no mundo físico e biológicoenraizados no mundo físico e biológicoenraizados no mundo físico e biológicoenraizados no mundo físico e biológico e, e, e, e, e, ao ao ao ao ao mesmo tempo, estarmos desenraizados. Insismesmo tempo, estarmos desenraizados. Insismesmo tempo, estarmos desenraizados. Insismesmo tempo, estarmos desenraizados. Insismesmo tempo, estarmos desenraizados. Insis----- tirei aqui sobre a dimensão do enraizamento.tirei aqui sobre a dimensão do enraizamento.tirei aqui sobre a dimensão do enraizamento.tirei aqui sobre a dimensão do enraizamento.tirei aqui sobre a dimensão do enraizamento. Nós sabemos hoje em dia que em nossoNós sabemos hoje em dia que em nossoNós sabemos hoje em dia que em nossoNós sabemos hoje em dia que em nossoNós sabemos hoje em dia que em nosso organismo se encontram as partículas que seorganismo se encontram as partículas que seorganismo se encontram as partículas que seorganismo se encontram as partículas que seorganismo se encontram as partículas que se formaram, sem dúvida, na origem do universo.formaram, sem dúvida, na origem do universo.formaram, sem dúvida, na origem do universo.formaram, sem dúvida, na origem do universo.formaram, sem dúvida, na origem do universo. Há também em nosso organismo átomos deHá também em nosso organismo átomos deHá também em nosso organismo átomos deHá também em nosso organismo átomos deHá também em nosso organismo átomos de carbono que se formaram num sol anterior aocarbono que se formaram num sol anterior aocarbono que se formaram num sol anterior aocarbono que se formaram num sol anterior aocarbono que se formaram num sol anterior ao nosso, há moléculas e macronosso, há moléculas e macronosso, há moléculas e macronosso, há moléculas e macronosso, há moléculas e macro-----moléculas que semoléculas que semoléculas que semoléculas que semoléculas que se formaram no planeta Terra, há célulasformaram no planeta Terra, há célulasformaram no planeta Terra, há célulasformaram no planeta Terra, há célulasformaram no planeta Terra, há células originárias que se multiplicaram e diferenoriginárias que se multiplicaram e diferenoriginárias que se multiplicaram e diferenoriginárias que se multiplicaram e diferenoriginárias que se multiplicaram e diferen----- ciaram. Sabemos que somos animais, verteciaram. Sabemos que somos animais, verteciaram. Sabemos que somos animais, verteciaram. Sabemos que somos animais, verteciaram. Sabemos que somos animais, verte----- brados, mamíferos, antropóides. Sabemos hojebrados, mamíferos, antropóides. Sabemos hojebrados, mamíferos, antropóides. Sabemos hojebrados, mamíferos, antropóides. Sabemos hojebrados, mamíferos, antropóides. Sabemos hoje que houve esta evolução que chamamos deque houve esta evolução que chamamos deque houve esta evolução que chamamos deque houve esta evolução que chamamos deque houve esta evolução que chamamos de “humanização”, e que, através do desenvolvi“humanização”, e que, através do desenvolvi“humanização”, e que, através do desenvolvi“humanização”, e que, através do desenvolvi“humanização”, e que, através do desenvolvi----- mento do cérebro, da postura bípede, conduzmento do cérebro, da postura bípede, conduzmento do cérebro, da postura bípede, conduzmento do cérebro, da postura bípede, conduzmento do cérebro, da postura bípede, conduz à emergência da linguagem humana, da culturaà emergência da linguagem humana, da culturaà emergência da linguagem humana, da culturaà emergência da linguagem humana, da culturaà emergência da linguagem humana, da cultura e do e do e do e do e do homo sapienshomo sapienshomo sapienshomo sapienshomo sapiens, que é a última etapa do, que é a última etapa do, que é a última etapa do, que é a última etapa do, que é a última etapa do “eu” no nível biológico. Portanto, podemos ver“eu” no nível biológico. Portanto, podemos ver“eu” no nível biológico. Portanto, podemos ver“eu” no nível biológico. Portanto, podemos ver“eu” no nível biológico. Portanto, podemos ver hoje em dia como estamos imersos no universohoje em dia como estamos imersos no universohoje em dia como estamos imersos no universohoje em dia como estamos imersos no universohoje em dia como estamos imersos no universo natural e como saímos dele.natural e como saímos dele.natural e como saímos dele.natural e como saímos dele.natural e como saímos dele. Aliás, basta que olhemos para nós mesmosAliás, basta que olhemos para nós mesmosAliás, basta que olhemos para nós mesmosAliás, basta que olhemos para nós mesmosAliás, basta que olhemos para nós mesmos para verificar que nosso espírito (para verificar que nosso espírito (para verificar que nosso espírito (para verificar que nosso espírito (para verificar que nosso espírito (mindmindmindmindmind) é) é) é) é) é inseparável do nosso cérebro, que é um órgãoinseparável do nosso cérebro, que é um órgãoinseparável do nosso cérebro, que é um órgãoinseparável do nosso cérebro, que é um órgãoinseparável do nosso cérebro, que é um órgão biológico. Existe uma ligação muito estreitabiológico. Existe uma ligação muito estreitabiológico. Existe uma ligação muito estreitabiológico. Existe uma ligação muito estreitabiológico. Existe uma ligação muito estreita entre o nosso psiquismo e as células do nossoentre o nosso psiquismo e as células do nossoentre o nosso psiquismo e as células do nossoentre o nosso psiquismo e as células do nossoentre o nosso psiquismo e as células do nosso corpo. Tanto o nosso espírito sofre os malescorpo. Tanto o nosso espírito sofre os malescorpo. Tanto o nosso espírito sofre os malescorpo. Tanto o nosso espírito sofre os malescorpo. Tanto o nosso espírito sofre os males das doenças, das enfermidades do nosso corpo,das doenças, das enfermidades do nosso corpo,das doenças, das enfermidades do nosso corpo,das doenças, das enfermidades do nosso corpo,das doenças, das enfermidades do nosso corpo, quanto o nosso corpo é modificado pelo nossoquanto o nosso corpo é modificado pelo nossoquanto o nosso corpo é modificado pelo nossoquantoo nosso corpo é modificado pelo nossoquanto o nosso corpo é modificado pelo nosso espírito. Sabemos tamespírito. Sabemos tamespírito. Sabemos tamespírito. Sabemos tamespírito. Sabemos também que os atos maisbém que os atos maisbém que os atos maisbém que os atos maisbém que os atos mais biológicos são os mais cultubiológicos são os mais cultubiológicos são os mais cultubiológicos são os mais cultubiológicos são os mais culturais. Nascer, que érais. Nascer, que érais. Nascer, que érais. Nascer, que érais. Nascer, que é a coisa mais cultural: é a coisa mais cultural: é a coisa mais cultural: é a coisa mais cultural: é a coisa mais cultural: é preciso fazer declaraçãopreciso fazer declaraçãopreciso fazer declaraçãopreciso fazer declaraçãopreciso fazer declaração 17 Heterotopias – Vol. 03 para enviar à prefeitura. Batizados etc. Comerpara enviar à prefeitura. Batizados etc. Comerpara enviar à prefeitura. Batizados etc. Comerpara enviar à prefeitura. Batizados etc. Comerpara enviar à prefeitura. Batizados etc. Comer que é algo biológico, é um ato ritual acompaque é algo biológico, é um ato ritual acompaque é algo biológico, é um ato ritual acompaque é algo biológico, é um ato ritual acompaque é algo biológico, é um ato ritual acompa----- nhado de nhado de nhado de nhado de nhado de tttttabus e de prescrições alimentares.abus e de prescrições alimentares.abus e de prescrições alimentares.abus e de prescrições alimentares.abus e de prescrições alimentares. Morrer, nada mais biológico e também nadaMorrer, nada mais biológico e também nadaMorrer, nada mais biológico e também nadaMorrer, nada mais biológico e também nadaMorrer, nada mais biológico e também nada mais cultural. E até mesmo cagar – mais cultural. E até mesmo cagar – mais cultural. E até mesmo cagar – mais cultural. E até mesmo cagar – mais cultural. E até mesmo cagar – ou defecar,ou defecar,ou defecar,ou defecar,ou defecar, como se diz em termos polidos – é algocomo se diz em termos polidos – é algocomo se diz em termos polidos – é algocomo se diz em termos polidos – é algocomo se diz em termos polidos – é algo que que que que que exige papel e um lugar especial. Isso significaexige papel e um lugar especial. Isso significaexige papel e um lugar especial. Isso significaexige papel e um lugar especial. Isso significaexige papel e um lugar especial. Isso significa que nossa ligação comque nossa ligação comque nossa ligação comque nossa ligação comque nossa ligação com o o o o o universo biológico e universo biológico e universo biológico e universo biológico e universo biológico e físico não é apenas uma ligação cronológica,físico não é apenas uma ligação cronológica,físico não é apenas uma ligação cronológica,físico não é apenas uma ligação cronológica,físico não é apenas uma ligação cronológica, nem apenas uma ligação permanente (quernem apenas uma ligação permanente (quernem apenas uma ligação permanente (quernem apenas uma ligação permanente (quernem apenas uma ligação permanente (quer dizer, somos sempre animais mesmo sendodizer, somos sempre animais mesmo sendodizer, somos sempre animais mesmo sendodizer, somos sempre animais mesmo sendodizer, somos sempre animais mesmo sendo humanos), é também uma ligação em que oshumanos), é também uma ligação em que oshumanos), é também uma ligação em que oshumanos), é também uma ligação em que oshumanos), é também uma ligação em que os dois termos se implicam reciprocamente.dois termos se implicam reciprocamente.dois termos se implicam reciprocamente.dois termos se implicam reciprocamente.dois termos se implicam reciprocamente. Falta operar essa ligação, efetuar essa solda,Falta operar essa ligação, efetuar essa solda,Falta operar essa ligação, efetuar essa solda,Falta operar essa ligação, efetuar essa solda,Falta operar essa ligação, efetuar essa solda, num plano epistemológico. Para isso, pode-senum plano epistemológico. Para isso, pode-senum plano epistemológico. Para isso, pode-senum plano epistemológico. Para isso, pode-senum plano epistemológico. Para isso, pode-se partir do conceito de auto-organização. É umpartir do conceito de auto-organização. É umpartir do conceito de auto-organização. É umpartir do conceito de auto-organização. É umpartir do conceito de auto-organização. É um conceito fundamental que falta tanto na socioconceito fundamental que falta tanto na socioconceito fundamental que falta tanto na socioconceito fundamental que falta tanto na socioconceito fundamental que falta tanto na socio----- logia como na biologia. Evidentemente, algunslogia como na biologia. Evidentemente, algunslogia como na biologia. Evidentemente, algunslogia como na biologia. Evidentemente, algunslogia como na biologia. Evidentemente, alguns biólogos marginais defendem essas idéias debiólogos marginais defendem essas idéias debiólogos marginais defendem essas idéias debiólogos marginais defendem essas idéias debiólogos marginais defendem essas idéias de auto-organização. Acontece o mesmo na socioauto-organização. Acontece o mesmo na socioauto-organização. Acontece o mesmo na socioauto-organização. Acontece o mesmo na socioauto-organização. Acontece o mesmo na socio----- logia (vejam os trabalhos de Niklas Luhmann,logia (vejam os trabalhos de Niklas Luhmann,logia (vejam os trabalhos de Niklas Luhmann,logia (vejam os trabalhos de Niklas Luhmann,logia (vejam os trabalhos de Niklas Luhmann, na Alemanha). Mas tudo isso continua marna Alemanha). Mas tudo isso continua marna Alemanha). Mas tudo isso continua marna Alemanha). Mas tudo isso continua marna Alemanha). Mas tudo isso continua mar----- ginal. A tendência dominante permanece ligadaginal. A tendência dominante permanece ligadaginal. A tendência dominante permanece ligadaginal. A tendência dominante permanece ligadaginal. A tendência dominante permanece ligada ao espírito da divisão e disjunção. Até hoje, osao espírito da divisão e disjunção. Até hoje, osao espírito da divisão e disjunção. Até hoje, osao espírito da divisão e disjunção. Até hoje, osao espírito da divisão e disjunção. Até hoje, os biólogos querem explicar tudo através dasbiólogos querem explicar tudo através dasbiólogos querem explicar tudo através dasbiólogos querem explicar tudo através dasbiólogos querem explicar tudo através das moléculas, dos genes e dos programas. Eles nãomoléculas, dos genes e dos programas. Eles nãomoléculas, dos genes e dos programas. Eles nãomoléculas, dos genes e dos programas. Eles nãomoléculas, dos genes e dos programas. Eles não querem conceber a organização de conjunto. Equerem conceber a organização de conjunto. Equerem conceber a organização de conjunto. Equerem conceber a organização de conjunto. Equerem conceber a organização de conjunto. E a sociologia tem uma concepção rígida e mecâa sociologia tem uma concepção rígida e mecâa sociologia tem uma concepção rígida e mecâa sociologia tem uma concepção rígida e mecâa sociologia tem uma concepção rígida e mecâ----- nica do sistema social. A idéia de auto-organinica do sistema social. A idéia de auto-organinica do sistema social. A idéia de auto-organinica do sistema social. A idéia de auto-organinica do sistema social. A idéia de auto-organi----- zação, tanto para os indivíduos quanto parazação, tanto para os indivíduos quanto parazação, tanto para os indivíduos quanto parazação, tanto para os indivíduos quanto parazação, tanto para os indivíduos quanto para as sociedades, permite fazer a junção entre oas sociedades, permite fazer a junção entre oas sociedades, permite fazer a junção entre oas sociedades, permite fazer a junção entre oas sociedades, permite fazer a junção entre o universo biológico e o desenvolvimento huuniverso biológico e o desenvolvimento huuniverso biológico e o desenvolvimento huuniverso biológico e o desenvolvimento huuniverso biológico e o desenvolvimento hu----- mano (com seus fenômenos criativos incontesmano (com seus fenômenos criativos incontesmano (com seus fenômenos criativos incontesmano (com seus fenômenos criativos incontesmano(com seus fenômenos criativos incontes----- táveis), sem cair num reducionismo.táveis), sem cair num reducionismo.táveis), sem cair num reducionismo.táveis), sem cair num reducionismo.táveis), sem cair num reducionismo. 18 Por uma antropolítica – entrevista com Edgar Morin - Wilfred Garf e Alex Neumann Com tal esquema, podemos tentar chegarCom tal esquema, podemos tentar chegarCom tal esquema, podemos tentar chegarCom tal esquema, podemos tentar chegarCom tal esquema, podemos tentar chegar a uma definição do humano. O humano é,a uma definição do humano. O humano é,a uma definição do humano. O humano é,a uma definição do humano. O humano é,a uma definição do humano. O humano é, por um lado, representado por indivíduos, épor um lado, representado por indivíduos, épor um lado, representado por indivíduos, épor um lado, representado por indivíduos, épor um lado, representado por indivíduos, é claro. Mas por outro lado, esses indivíduosclaro. Mas por outro lado, esses indivíduosclaro. Mas por outro lado, esses indivíduosclaro. Mas por outro lado, esses indivíduosclaro. Mas por outro lado, esses indivíduos fazem parte de uma espécie e de uma socie-fazem parte de uma espécie e de uma socie-fazem parte de uma espécie e de uma socie-fazem parte de uma espécie e de uma socie-fazem parte de uma espécie e de uma socie- dade. É também a sociedade que está nosdade. É também a sociedade que está nosdade. É também a sociedade que está nosdade. É também a sociedade que está nosdade. É também a sociedade que está nos indivíduos – uma vez que, nos indivíduos,indivíduos – uma vez que, nos indivíduos,indivíduos – uma vez que, nos indivíduos,indivíduos – uma vez que, nos indivíduos,indivíduos – uma vez que, nos indivíduos, desde o nascimento, há linguagem, cultura,desde o nascimento, há linguagem, cultura,desde o nascimento, há linguagem, cultura,desde o nascimento, há linguagem, cultura,desde o nascimento, há linguagem, cultura, ritos e tabus, proibições... Do mesmo modo,ritos e tabus, proibições... Do mesmo modo,ritos e tabus, proibições... Do mesmo modo,ritos e tabus, proibições... Do mesmo modo,ritos e tabus, proibições... Do mesmo modo, não significa apenas que estamos na espécie,não significa apenas que estamos na espécie,não significa apenas que estamos na espécie,não significa apenas que estamos na espécie,não significa apenas que estamos na espécie, mas é também a espécie que está em nós: pos-mas é também a espécie que está em nós: pos-mas é também a espécie que está em nós: pos-mas é também a espécie que está em nós: pos-mas é também a espécie que está em nós: pos- suímos órgãos genitais que garantem a pro-suímos órgãos genitais que garantem a pro-suímos órgãos genitais que garantem a pro-suímos órgãos genitais que garantem a pro-suímos órgãos genitais que garantem a pro- dução dessa espécie. Dispondo desse macro-dução dessa espécie. Dispondo desse macro-dução dessa espécie. Dispondo desse macro-dução dessa espécie. Dispondo desse macro-dução dessa espécie. Dispondo desse macro- conceito do humano, só ouso afirmar, compre-conceito do humano, só ouso afirmar, compre-conceito do humano, só ouso afirmar, compre-conceito do humano, só ouso afirmar, compre-conceito do humano, só ouso afirmar, compre- endemos agora que o humano não se reduzendemos agora que o humano não se reduzendemos agora que o humano não se reduzendemos agora que o humano não se reduzendemos agora que o humano não se reduz nem ao indivíduo, nem à sociedade, nem ànem ao indivíduo, nem à sociedade, nem ànem ao indivíduo, nem à sociedade, nem ànem ao indivíduo, nem à sociedade, nem ànem ao indivíduo, nem à sociedade, nem à espécie biológica.espécie biológica.espécie biológica.espécie biológica.espécie biológica. – Quais são alguns dos resultados da antropologia? EM EM EM EM EM ––––– Tomem, por exemplo, o problema da Tomem, por exemplo, o problema da Tomem, por exemplo, o problema da Tomem, por exemplo, o problema da Tomem, por exemplo, o problema da unitas multiplexunitas multiplexunitas multiplexunitas multiplexunitas multiplex, da unidade do múltiplo. É, da unidade do múltiplo. É, da unidade do múltiplo. É, da unidade do múltiplo. É, da unidade do múltiplo. É um ponto, tipicamente, do pensamento comum ponto, tipicamente, do pensamento comum ponto, tipicamente, do pensamento comum ponto, tipicamente, do pensamento comum ponto, tipicamente, do pensamento com----- plexo porque, no “pensamento normal”, quanplexo porque, no “pensamento normal”, quanplexo porque, no “pensamento normal”, quanplexo porque, no “pensamento normal”, quanplexo porque, no “pensamento normal”, quan----- do se vê a verdade, não se vê a diversidade. Édo se vê a verdade, não se vê a diversidade. Édo se vê a verdade, não se vê a diversidade. Édo se vê a verdade, não se vê a diversidade. Édo se vê a verdade, não se vê a diversidade. É a famosa polêmica entre Voltaire e Herder.a famosa polêmica entre Voltaire e Herder.a famosa polêmica entre Voltaire e Herder.a famosa polêmica entre Voltaire e Herder.a famosa polêmica entre Voltaire e Herder. Voltaire dizia que todos os homens são pareVoltaire dizia que todos os homens são pareVoltaire dizia que todos os homens são pareVoltaire dizia que todos os homens são pareVoltaire dizia que todos os homens são pare----- cidos. Mesmo os chineses têm ambições, amorescidos. Mesmo os chineses têm ambições, amorescidos. Mesmo os chineses têm ambições, amorescidos. Mesmo os chineses têm ambições, amorescidos. Mesmo os chineses têm ambições, amores e ciúmes. Somos todos parecidos. E Herder, aoe ciúmes. Somos todos parecidos. E Herder, aoe ciúmes. Somos todos parecidos. E Herder, aoe ciúmes. Somos todos parecidos. E Herder, aoe ciúmes. Somos todos parecidos. E Herder, ao contrário, dizia que as culturas são irredutíveiscontrário, dizia que as culturas são irredutíveiscontrário, dizia que as culturas são irredutíveiscontrário, dizia que as culturas são irredutíveiscontrário, dizia que as culturas são irredutíveis umas às outras e que os seres humanos sãoumas às outras e que os seres humanos sãoumas às outras e que os seres humanos sãoumas às outras e que os seres humanos sãoumas às outras e que os seres humanos são diferentes justamente em função da sua cultura.diferentes justamente em função da sua cultura.diferentes justamente em função da sua cultura.diferentes justamente em função da sua cultura.diferentes justamente em função da sua cultura. A discussão continua ainda nos dias de hoje.A discussão continua ainda nos dias de hoje.A discussão continua ainda nos dias de hoje.A discussão continua ainda nos dias de hoje.A discussão continua ainda nos dias de hoje. Aqueles que vêAqueles que vêAqueles que vêAqueles que vêAqueles que vêeeeeem a um a um a um a um a unidade humana só vêemnidade humana só vêemnidade humana só vêemnidade humana só vêemnidade humana só vêem uma unidade abstrata, e aqueles que vêem asuma unidade abstrata, e aqueles que vêem asuma unidade abstrata, e aqueles que vêem asuma unidade abstrata, e aqueles que vêem asuma unidade abstrata, e aqueles que vêem as culturas concretas são incapazes de ser aculturas concretas são incapazes de ser aculturas concretas são incapazes de ser aculturas concretas são incapazes de ser aculturas concretas são incapazes de ser a unidade humana. É evidente que há uma uniunidade humana. É evidente que há uma uniunidade humana. É evidente que há uma uniunidade humana. É evidente que há uma uniunidade humana. É evidente que há uma uni----- 19 Heterotopias – Vol. 03 dade, uma identidade humana, uma identidade, uma identidade humana, uma identidade, uma identidade humana, uma identidade, uma identidade humana, uma identidade, uma identidade humana, uma identi----- dade genética, anatômica, fisiológica, cerebraldade genética, anatômica, fisiológica, cerebraldade genética, anatômica, fisiológica, cerebraldade genética, anatômica, fisiológica, cerebraldade genética, anatômica, fisiológica, cerebral e que as diferenciações são muito tênues. Esseeque as diferenciações são muito tênues. Essee que as diferenciações são muito tênues. Essee que as diferenciações são muito tênues. Essee que as diferenciações são muito tênues. Esse é um ponto fundamental. Todos os homens, nãoé um ponto fundamental. Todos os homens, nãoé um ponto fundamental. Todos os homens, nãoé um ponto fundamental. Todos os homens, nãoé um ponto fundamental. Todos os homens, não importa a raça, têm as mesmas disposições ceimporta a raça, têm as mesmas disposições ceimporta a raça, têm as mesmas disposições ceimporta a raça, têm as mesmas disposições ceimporta a raça, têm as mesmas disposições ce----- rebrais. As variações são observadas muitorebrais. As variações são observadas muitorebrais. As variações são observadas muitorebrais. As variações são observadas muitorebrais. As variações são observadas muito mais entre indivíduos do que entre etnias. E,mais entre indivíduos do que entre etnias. E,mais entre indivíduos do que entre etnias. E,mais entre indivíduos do que entre etnias. E,mais entre indivíduos do que entre etnias. E, sobretudo, há uma unidade afetiva. Até umasobretudo, há uma unidade afetiva. Até umasobretudo, há uma unidade afetiva. Até umasobretudo, há uma unidade afetiva. Até umasobretudo, há uma unidade afetiva. Até uma garota surdagarota surdagarota surdagarota surdagarota surda,,,,, muda e cega de nascença é capaz muda e cega de nascença é capaz muda e cega de nascença é capaz muda e cega de nascença é capaz muda e cega de nascença é capaz de sorrir, rir e chorar. Isso quer dizer que sorrir,de sorrir, rir e chorar. Isso quer dizer que sorrir,de sorrir, rir e chorar. Isso quer dizer que sorrir,de sorrir, rir e chorar. Isso quer dizer que sorrir,de sorrir, rir e chorar. Isso quer dizer que sorrir, rir e chorar não são fenômenos produzidos pelarir e chorar não são fenômenos produzidos pelarir e chorar não são fenômenos produzidos pelarir e chorar não são fenômenos produzidos pelarir e chorar não são fenômenos produzidos pela cultura. A verdade é que, em função das cultucultura. A verdade é que, em função das cultucultura. A verdade é que, em função das cultucultura. A verdade é que, em função das cultucultura. A verdade é que, em função das cultu----- ras, há modalidades completamente diferentes.ras, há modalidades completamente diferentes.ras, há modalidades completamente diferentes.ras, há modalidades completamente diferentes.ras, há modalidades completamente diferentes. Em certas culturas, é desonroso para um homemEm certas culturas, é desonroso para um homemEm certas culturas, é desonroso para um homemEm certas culturas, é desonroso para um homemEm certas culturas, é desonroso para um homem chorar. Em outras, ao contrário, na época rochorar. Em outras, ao contrário, na época rochorar. Em outras, ao contrário, na época rochorar. Em outras, ao contrário, na época rochorar. Em outras, ao contrário, na época ro----- mântica, por exemplo, é normal derramar tormântica, por exemplo, é normal derramar tormântica, por exemplo, é normal derramar tormântica, por exemplo, é normal derramar tormântica, por exemplo, é normal derramar tor----- rentes de lágrimas à primeira emoção. Sorrimosrentes de lágrimas à primeira emoção. Sorrimosrentes de lágrimas à primeira emoção. Sorrimosrentes de lágrimas à primeira emoção. Sorrimosrentes de lágrimas à primeira emoção. Sorrimos em circunstem circunstem circunstem circunstem circunstâââââncias comncias comncias comncias comncias completamente diferentes.pletamente diferentes.pletamente diferentes.pletamente diferentes.pletamente diferentes. Na tradição chinesa, os chineses sorriam na horaNa tradição chinesa, os chineses sorriam na horaNa tradição chinesa, os chineses sorriam na horaNa tradição chinesa, os chineses sorriam na horaNa tradição chinesa, os chineses sorriam na hora dos funerais. Ou dos funerais. Ou dos funerais. Ou dos funerais. Ou dos funerais. Ou seja, há fenômenos de uniseja, há fenômenos de uniseja, há fenômenos de uniseja, há fenômenos de uniseja, há fenômenos de uni----- dade, mas extremamente diversificados. E pensodade, mas extremamente diversificados. E pensodade, mas extremamente diversificados. E pensodade, mas extremamente diversificados. E pensodade, mas extremamente diversificados. E penso que a riqueza humana está nessa capacidadeque a riqueza humana está nessa capacidadeque a riqueza humana está nessa capacidadeque a riqueza humana está nessa capacidadeque a riqueza humana está nessa capacidade que tem a unidade humana de criar formasque tem a unidade humana de criar formasque tem a unidade humana de criar formasque tem a unidade humana de criar formasque tem a unidade humana de criar formas culturais extremamente diversas e ricas. Issoculturais extremamente diversas e ricas. Issoculturais extremamente diversas e ricas. Issoculturais extremamente diversas e ricas. Issoculturais extremamente diversas e ricas. Isso possui imediatamente uma implicação ética epossui imediatamente uma implicação ética epossui imediatamente uma implicação ética epossui imediatamente uma implicação ética epossui imediatamente uma implicação ética e política, sobretudo hoje em dia: é preciso salvarpolítica, sobretudo hoje em dia: é preciso salvarpolítica, sobretudo hoje em dia: é preciso salvarpolítica, sobretudo hoje em dia: é preciso salvarpolítica, sobretudo hoje em dia: é preciso salvar a unidade humana, mas é preciso salvar tama unidade humana, mas é preciso salvar tama unidade humana, mas é preciso salvar tama unidade humana, mas é preciso salvar tama unidade humana, mas é preciso salvar tam----- bém as diversidades culturais.bém as diversidades culturais.bém as diversidades culturais.bém as diversidades culturais.bém as diversidades culturais. Chegamos a essa idéia fundamental daChegamos a essa idéia fundamental daChegamos a essa idéia fundamental daChegamos a essa idéia fundamental daChegamos a essa idéia fundamental da unidade dialógica: unidade da diversidade,unidade dialógica: unidade da diversidade,unidade dialógica: unidade da diversidade,unidade dialógica: unidade da diversidade,unidade dialógica: unidade da diversidade, diversidade na unidade.diversidade na unidade.diversidade na unidade.diversidade na unidade.diversidade na unidade. Tomemos a questão da diferença entre osTomemos a questão da diferença entre osTomemos a questão da diferença entre osTomemos a questão da diferença entre osTomemos a questão da diferença entre os sexos. Há as mulheres e os homens. No en-sexos. Há as mulheres e os homens. No en-sexos. Há as mulheres e os homens. No en-sexos. Há as mulheres e os homens. No en-sexos. Há as mulheres e os homens. No en- tanto, cada sexo tem, de maneira recessiva, quertanto, cada sexo tem, de maneira recessiva, quertanto, cada sexo tem, de maneira recessiva, quertanto, cada sexo tem, de maneira recessiva, quertanto, cada sexo tem, de maneira recessiva, quer dizer recalcada, as características dodizer recalcada, as características dodizer recalcada, as características dodizer recalcada, as características dodizer recalcada, as características do outro sexo.outro sexo.outro sexo.outro sexo.outro sexo. Nós, homens, temos seios, mesmo se eles nãoNós, homens, temos seios, mesmo se eles nãoNós, homens, temos seios, mesmo se eles nãoNós, homens, temos seios, mesmo se eles nãoNós, homens, temos seios, mesmo se eles não 20 Por uma antropolítica – entrevista com Edgar Morin - Wilfred Garf e Alex Neumann nos servem para grande coisa. As mulheresnos servem para grande coisa. As mulheresnos servem para grande coisa. As mulheresnos servem para grande coisa. As mulheresnos servem para grande coisa. As mulheres têm um clitóris que é um órgão masculinotêm um clitóris que é um órgão masculinotêm um clitóris que é um órgão masculinotêm um clitóris que é um órgão masculinotêm um clitóris que é um órgão masculino atrofiado. Há uma diferença anatômica, umaatrofiado. Há uma diferença anatômica, umaatrofiado. Há uma diferença anatômica, umaatrofiado. Há uma diferença anatômica,
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