Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
O adolescente e a liberdade Adolescência palavra derivada do verbo latino "adolescere" significa "crescer" ou "crescer até a maturidade". O adolescente e a liberdade Arminda Aberastury (1910 - 1972) psicanalista - Buenos Aires. - Psicologia da Criança e do Adolescente O adolescente e a liberdade O luto pelo corpo de criança, pela identidade infantil e pela relação com os pais da infância é condição necessária para o desprendimento da condição de criança. Estas mudanças, nas quais perde a sua identidade de criança, implicam a busca de uma nova identidade, que vai se construindo num plano consciente e inconsciente. O adolescente e a liberdade A perda que o adolescente deve aceitar ao fazer o luto pelo corpo é dupla: a de seu corpo de criança, e do papel que terão que assumir, não só na união com o parceiro, mas também na procriação. As flutuações de identidade se experimentam também nas mudanças bruscas pelo uso de diferentes vestimentas. Não só o adolescente padece este longo processo, mas também os pais têm dificuldades para aceitar o crescimento. O adolescente provoca uma verdadeira revolução no seu meio familiar e social e isto cria um problema de gerações nem sempre bem resolvido. O adolescente e a liberdade Os pais também vivem os lutos pelos filhos, precisam fazer o luto pelo corpo do filho pequeno, pela sua identidade de criança e pela sua relação de dependência infantil. Também os pais têm que se desprender do filho criança e evoluir para uma relação com o filho adulto, o que impõe muitas renúncias de sua parte. Vê-se enfrentado com a aceitação do porvir, do envelhecimento e da morte. Neste balanço, nesta prestação de contas, o filho é a testemunha mais implacável do realizado e do frustrado. O adolescente e a liberdade Até hoje, o estudo da adolescência centralizou-se somente no adolescente. Este enfoque será sempre incompleto quando não se levar em conta o outro lado do problema: a ambivalência e a resistência dos pais em aceitar o processo de crescimento. A problemática do adolescente começa com as mudanças corporais, com a definição do seu papel na procriação e segue-se com mudanças psicológicas. Geralmente, é o adulto que tem escrito sobre adolescência e enfatizado o problema do filho e fala muito pouco da dificuldade do pai e do adulto em geral para aceitar o crescimento, estabelecendo uma nova relação com ele, de adulto para adulto. O adolescente e a liberdade O adolescente procura a solução teórica de todos os problemas transcendentes e daqueles com os quais se enfrentará a curto prazo: o amor, a liberdade, o matrimônio, a paternidade, a educação, a filosofia, a religião. Neste momento se produz um aumento da intelectualização para superar a incapacidade de ação (que é correspondente ao período de onipotência do pensamento na criança pequena). A sociedade em que vivemos, com seu quadro de violência e destruição, não oferece garantias suficientes de sobrevivência e cria uma nova dificuldade para o desprendimento. Erikson tem afirmado que a sociedade oferece à criança uma moratória social. Da minha parte, considero que esta moratória social não é mais do que o conteúdo manifesto de uma situação muito mais profunda. O adolescente e a liberdade A dificuldade do adulto para aceitar o amadurecimento intelectual e sexual da criança é a base dessa pseudomoratória social. É destacável, também, que só tenham evidenciado até agora os aspectos ingratos do crescimento, deixando de lado a felicidade e a criatividade plenas que caracterizam também o adolescente. É no momento decisivo da crise adolescente que os pais recorrem geralmente a dois meios de coação: o dinheiro e a liberdade. Os adolescentes de hoje são muito mais sérios, estão mais informados. Valorizam mais o amor e o sexo e, para eles, este permite realmente um ato de amor e não uma mera descarga ou um passatempo ou uma afirmação de potência. O jovem sadio de hoje está ciente de muitas das problemáticas do adulto; dir-se-ia que é mais possível que o adulto aprenda do adolescente e não que o adulto possa dar-lhe sua experiência. O adolescente e a liberdade A síndrome da adolescência normal Mauricio Knobel (1922-2008) - psicanalista argentino A síndrome da adolescência normal A identidade é uma característica de cada momento evolutivo. Knobel toma basicamente o modelo de Erikson para definir a constituição da identidade. A construção da imagem e do esquema corporal, as defesas e fantasias, e, sobretudo, o luto pela perda da infância e definição da genitalidade estão presentes na formulação de Knobel. Movimentos dinâmicos dos processos psicológicos básicos de dissociação, projeção, introjeção e identificação, irão se estabelecendo. 1. Busca de si mesmo e da identidade A síndrome da adolescência normal 1. Busca de si mesmo e da identidade A maturidade psíquica precisa de certos graus de condutas patológicas. Adoção de identidades diferentes na crise: Identidades transitórias - modelos de conduta decorrentes de uma aquisição recente. Ex: O jovem que após uma vitória esportiva passa semanas vivendo e se sentindo como um atleta, ou os momentos de modelos intelectuais após um sucesso obtido. b) Identidades ocasionais - construção de um novo modelo de ser diante de situações novas. Ex: O modelo que usa para conquistar a namorada; a postura que assume no primeiro baile. c) Identidades circunstanciais - personalidades distintas, em função do grupo circunstancial ao qual está ligado. Ex: pode ser agressivo na escola, rebelde em casa, submisso no grupo de colegas. A síndrome da adolescência normal 1. Busca de si mesmo e da identidade Estas condutas aparentemente tão discrepantes, são aceitas como normais dentro da moratória social (não se requerem papéis específicos e se permite experimentar com o que a sociedade tem para oferecer com a finalidade de permitir a posterior definição da personalidade) que é dada ao adolescente. Experimentar vários modelos de identidade neste momento. O adolescente precocemente definido seria o patológico. Estaria dentro de identificações e defesas rígidas que não permitiriam a busca da verdadeira identidade. A síndrome da adolescência normal 2. Tendência grupal Grupo - escudo de defesa Pode proporcionar segurança e estima pessoal pela uniformidade grupal. Processo de superidentificação em massa: - Todos se identificam com cada um. Inclina-se às regras do grupo, em relação a modas, vestimenta, costumes, etc. - Representam a oposição às figuras parentais. Transferência do poder familiar. Transfere-se ao grupo grande parte da dependência que anteriormente se mantinha com a estrutura familiar - etapa intermediária para a independência. A síndrome da adolescência normal 2. Tendência grupal O líder - fica como um modelo paralelo de submissão e questionamento dos pais; Experiências dos valores do bem e do mal; Exercício da crueldade e violência - à medida que a culpa fica atribuída ao grupo em si e não ao indivíduo O fenômeno grupal facilita a conduta psicopática normal - desafeto, crueldade, indiferença, falta de responsabilidade, que são típicas da psicopatia. Psicopatologia está na manutenção destas atitudes. Normal está na brevidade das mesmas. Evolutivamente eles ajudam o adolescente a defrontar-se com suas fantasias destrutivas, para em seguida poder dominá-las. A síndrome da adolescência normal 3. Necessidade de intelectualizar e fantasiar Decorrem da luta contra a perda do corpo infantil, das regras que organizavam este período e das tutelas parentais. Perde o modelo de proteção e onipotência infantil, perde a bissexualidade da identidade infantil. Permite a teorização acerca de grandes reformas que poderiam acontecer no mundo exterior. Não é o mundo que ele quer reconstruir ou salvar, mas é a si que deseja construir e estabilizar. Knobel mostra que este é um dos motivos básicos que leva o adolescente às manifestações artísticas e culturais. É um tipo de fuga para o interior, uma espécie de reajuste emocional, que leva à preocupação por princípios éticos, filosóficos, sociais e políticos, que muitas vezes implicam formular-se um plano de vida bem diferente do que se tinha. São os momentos de criatividade, de ilusões e de grandes projetos. A síndrome da adolescência normal 4. As crises religiosas O adolescente oscilar entre posição religiosa ou mística e ateísta absoluto. Há dois processos básicos no suporte desta relação: As transições do corpo e correspondentes fantasias que o jogam na busca externa ou fantasiada de algo definitivo e duradouro. O enfrentamento da separação definitiva dos pais e também a possível morte dos mesmos. O indivíduo descobre a morte, face às fantasias de morte dos pais. Toda segurança que era dada pela imagem dos pais durante a infância fica perdida. Isto explica como o adolescente pode chegar a ter tanta necessidade de fazer identificações projetivas com figuras muito idealizadas. As crises de religiosidade correspondem a momentos de busca de segurança. A síndrome da adolescência normal 5. A deslocalização temporal O tempo vivencial, em oposição ao cronológico, se torna dominante. Decorre do luto pelas perdas sofridas. O adolescente imobiliza o tempo, reduzindo ao presente o passado e o futuro, tentando preservar as conquistas passadas e apaziguar as angústias vinculadas ao futuro. O pensamento temporal assume características típicas do processo primário, uma vez que está mais centralizado no desejo do que na realidade. Quando o adolescente pode reconhecer um passado e formular projetos de futuro, com capacidade de espera e elaboração no presente, supera grande parte da problemática da adolescência. A síndrome da adolescência normal 6. A evolução sexual desde o auto-erotismo até a heterossexualidade Há um tipo de jogo entre a atividade masturbatória e o começo do exercício genital, que tem um caráter basicamente exploratório. Depende da fantasia positiva ou negativa dos pais incorporados. A ausência ou déficit da figura do pai vai ser a que determinará a fixação na mãe e, conseqüentemente, vai ser também a origem da homossexualidade, tanto do homem como da mulher. A sexualidade é exploratória, não integra os prazeres da mutualidade e as responsabilidades concomitantes. Os eventuais episódios homossexuais ocorridos na adolescência, quando não ligados a estruturas patológicas anteriores, não apresentarão conseqüências sérias. A síndrome da adolescência normal 7. Atitude social reivindicatória O ambiente social é visto como rígido e restritivo as suas ações. A microssociedade do adolescente é ainda seu grupo familiar. Ambivalência dual: A vivência dos conflitos de escolha ressoa nas relações pais-filhos, onde cada qual tenderá a se aferrar em suas próprias posições, tentando impô-las ao outro. Estes combates são deslocados para a relação com a sociedade. Dificuldade de percepção das próprias contradições. Se sofre a perda da proteção do que definimos sob o rótulo "pais da infância", cobra protetivamente que a sociedade lhe propicie as mesmas proteções e cuidados que recebera em casa quando criança. As frustrações, os combates e as tentativas de conquistas são naturais. A síndrome da adolescência normal 8 - Contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta A conduta do adolescente está dominada pela ação. Sua personalidade é permeável e sua inestabilidade necessária. Lida permanentemente com o imprevisível, tanto no seu mundo interno como no externo. Aparece contraditório, embora seja esta, ou as condutas mais variáveis, as mais adequadas a este complexo momento evolutivo. Estas contradições, com a variada utilização de defesas, facilitam a elaboração dos lutos típicos deste período da vida e caracterizam a identidade adolescente. Só o adolescente mentalmente doente poderá mostrar rigidez na conduta. A síndrome da adolescência normal 9 - Separação progressiva dos pais Para atingir a maturidade é necessário ter individualidade e independência reais. Pais que não resolveram seus próprios conflitos negarão o crescimento dos filhos, passando a ser vivenciados com acentuadas características persecutórias. A separação progressiva dos pais será intermediada pela ligação a ídolos idealizados, em geral artistas, atletas e outros heróis valorizados pela cultura específica. A presença internalizada de boas imagens parentais, com papéis bem definidos, e uma cena primária amorosa e criativa, permitirá uma boa separação dos pais, um desprendimento útil, e facilitará ao adolescente a passagem à maturidade, para o exercício da genitalidade num plano adulto. A síndrome da adolescência normal 10- Constantes flutuações do humor e do estado de ânimo De maneira geral o adolescente é sujeito a "microcrises maníaco-depressivas". Uma conquista, por mínima que seja entusiasma e alegra. Uma frustração aborrece e deixa triste. Isto acontece milhares de vezes ao dia. O adolescente, dentro da labilidade emocional desta etapa, alternará momentos de recolhimento quase que autistas com fantasias mágicas de alegria e realização. A síndrome da adolescência normal ABERASTURY, Arminda e KNOBEL, Mauricio. Adolescência normal: um enfoque psicanalítico. Tradução Suzana Maria Garagoray Ballve. Porto Alegre: Artmed, 1981. RAPPAPORT, Clara Regina; FIORI, Wagner da Rocha; DAVIS, Cláudia. Psicologia do desenvolvimento: A idade escolar e a adolescência. V. 4. São Paulo: EPU, 1981. * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
Compartilhar