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MpMagEst Direito Civil José Simão Data: 20/05/2013 Aula 10 MpMagEst – 2013 Anotador(a): Carlos Eduardo de Oliveira Rocha Complexo Educacional Damásio de Jesus RESUMO SUMÁRIO 1. Princípios dos contratos 1. PRINCÍPIOS DOS CONTRATOS 1.1. Funções da boa-fé objetiva: a) Interpretativa (art. 113 do CC): A boa-fé é um canône hermenêutico, ou seja, é uma regra de interpretação. Em caso de dúvida do texto legal ou contratual, aplica-se a interpretação, que prestigia a boa-fé. Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.” Pelo artigo 798 do Código Civil, se o segurado se suicida no prazo de até 02 anos após a contratação do seguro, o Código Civil determina o não pagamento do benefício, contudo, a jurisprudência restringe à hipótese de suicídio não premeditado, ou seja, aquele que se suicida para que os beneficiários obtenham a vantagem do seguro. É a boa-fé do segurado utilizada para interpretação da norma. “Súmula 105 do STF – Salvo se tiver havido premeditação, o suicídio do segurado no período de contratual de carência não exime o segurador do pagamento do seguro.” “Súmula 61 do STJ – o seguro de vida cobre o suicídio não premeditado.” Agravo Regimental no agravo 1.335.140/MG b) Ativa: É a boa-fé que gera deveres para os contratantes. Todo o contrato gera deveres primários aos contratantes, ou seja, deveres que decorrem do próprio tipo contratual ex.: na compra e venda, o dever primário do comprador é pagar o preço e do vendedor entregar a coisa. Ao lado destes deveres, nascem os deveres laterais ou anexos que independem da previsão legal ou contratual para nascerem, pois decorrem diretamente da boa-fé. Enunciado 168 do CJF. Alguns chamam os deveres de acessórios, o que é um equívoco, pois se fossem acessórios se extinguiriam junto com o principal, mas tais deveres persistem mesmo findo o contrato ex.: dever de sigilo dos médicos e advogados que persiste após a prestação do serviço. O termo secundário também está equivocado, pois o descumprimento do dever lateral gera o mesmo 2 de 3 efeito do descumprimento do dever primário, ou inerente ao tipo contratual: pagamento de indenização ao prejudicado – enunciado 24 do CJF. Os deveres laterais não são enumerados por lei e decorrem de trabalhos doutrinários, que são adotados pela jurisprudência. Alguns exemplos: (i) Dever de segurança: cabe ao contratante garantir a integridade dos bens e direitos do outro contratante em todas as circunstancias que possam oferecer perigo ex.: aviso “cuidado chão escorregadio”; consumidor que passeava em shopping quando este explodiu; informação de produtos sobre riscos à saúde – contraindicação de medicamentos. (ii) Dever de informação: significa que o contratante deve comunicar a outra parte fatos relevantes envolvendo o objeto do contrato. O dever persiste ainda que a informação a ser prestada seja ruim a quem a preste ex.: dever do advogado de informar sobre os riscos e custos da demanda, bem como, seu andamento; dever do médico de informar os riscos do tratamento; dever do vendedor de informar as condições da coisa vendida. Obs.: o dever de informação segue a razoabilidade, ou seja, as informações que são mais relevantes para o homem médio. (iii) Dever de cooperação: consiste na ajuda recíproca objetivando a consecução do contrato ex.: empreiteiro que auxilia dono da obra a obter autorização da prefeitura para início da obra. (iv) Dever de lealdade: as partes não podem agir de maneira a causar prejuízos imotivados a outra parte. Do dever de lealdade decorre o dever de mitigar os prejuízos “duty to mitigante the loss”. Deve-se evitar que o dano seja agravado ex.: banco que demora a propor a ação de cobrança gerando aumento no valor dos juros. c) Reativa (ou limitadora de direitos subjetivos): Serve para defesa, ou seja, para repelir uma pretensão injusta do outro contratante; exemplos: (i) Tu quoque: a locução tem origem na frase dita por Júlio Cesar: “até tu”. Se o contratante não fez a sua parte ou agiu de maneira torpe não pode obrigar o outro a realizar sua prestação ex.: exceção do contrato não cumprido; direito de retenção do locatário enquanto não é indenizado por benfeitorias necessárias. (ii) Venire contra factum proprium (voltar-se contra a própria conduta): é a proibição de um comportamento contraditório. Há duas condutas no tempo, a primeira é o factum proprium e a segunda é o venire contra. A segunda contradiz a primeira, o que fere a confiança das partes – enunciado 362 do CJF. Exemplo: caso dos plantadores de tomate em que a empresa CICA doava sementes e comprava a safra dos plantadores. Certo ano distribuiu as sementes, mas não comprou a safra. A empresa foi obrigada a indenizar os plantadores pela conduta contraditória. Consumidor quita a dívida para aquisição da casa própria e recebe baixa da hipoteca por parte do banco. Depois o mesmo banco envia cobrança de saldo devedor, o TJSP anulou a cobrança em razão de comportamento contraditório. 3 de 3 (iii) Supressio (verwirkung): é o abandono de uma posição jurídica por certo lapso de tempo que impede o seu exercício posterior Surrectio (erwirkung): é a aquisição de um direito em decorrência em decorrência da supressio. Ex.: contrato de locação que prevê o pagamento no dia 10, mas este ocorre repetidamente no dia 15 sem oposição do credor. Quanto ao dia 10, ocorre supressio, e quanto ao dia 15 ocorre surrectio. Distinção entre supressio e prescrição: A supressio decorre da boa-fé e não tem prazo previsto em lei, já a prescrição decorre da segurança jurídica e tem prazo previsto em lei. A prescrição extingue pretensão, ou seja, a possibilidade de se exigir uma prestação de dar, fazer ou não fazer (direito das obrigações), já a supressio se refere a qualquer ramo do direito civil não apenas as obrigações. (iv) Adimplemento substancial (substantial performance): é o adimplemento quase total da obrigação, ou seja, falta pouco para que a obrigação fosse inteiramente cumprida. O efeito do adimplemento é normalmente duplo, podendo o credor optar pela resolução do contrato ou por seu cumprimento mais perdas e danos (art. 475). O adimplemento substancial retira do credor a possibilidade de resolução, só podendo exigir o cumprimento ex.: o credor na alienação fiduciária em garantia, perde o direito de apreender o veículo, só podendo cobrar o saldo devedor (REsp 469577) “Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.”
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