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Oralidade PROF. ME JÚLIO VICARI u Oralidade é a transmissão oral dos conhecimentos armazenados na memória humana. Antes do surgimento da escrita, todos os conhecimentos eram transmitidos oralmente. Por muitos séculos o sistema oral, a oralidade, foi o principal meio de comunicação dos homens. u A memória auditiva e visual eram os únicos recursos de que dispunham, as culturas orais para o armazenamento e a transmissão do conhecimento às futuras gerações. u A inteligência estava intimamente relacionada a memória. Os anciões eram os mais sábios, pelo conhecimento acumulado. u Em muitas culturas, a identidade do grupo estava sob guarda de contadores de histórias, cantores e outros tipos de arautos, que na prática eram autenticamente os portadores da memória da comunidade. u Este é o caso do papel desempenhado na África Ocidental pelos griot, sendo o relato mais famoso o dos feitos do rei Sundiata Keita, soberano do Império Mali. u Esse é um exemplo de que a oralidade apresentou papel principal na comunicação humana durante anos e estudiosos contemporâneos concordam com sua influência na estrutura do pensamento de sociedades letradas ainda hoje. Tipos de Oralidade u A oralidade, estudada por inúmeros especialistas, é dividida em dois tipos: primária e secundária. u Essas duas concepções de oralidade podem ser encontradas em obras como "As Tecnologias da Inteligência: O Futuro do pensamento na Era da Informática" do filósofo francês Pierre Lévy e "Oralidade e Cultura Escrita - A Tecnologização da Palavra" de Walter J. Ong, que são abordadas de maneiras diferentes de acordo com cada especialista, tiveram/tem seu destaque em momentos históricos diferentes. u Oralidade Primária u Os elementos técnicos condicionam as formas de pensamento ou as temporalidades de uma sociedade. Isso quer dizer que uma sociedade que não possui influências da escrita ou impressão organiza-se de uma forma diferente de uma outra que possua essas influências. u A oralidade primária é o tipo de oralidade que não é influenciada de nenhuma forma pela escrita ou a impressão pois não possui contato com as mesmas. Nessas sociedades de oralidade primária, a palavra tem como função básica a gestão da memória social. Nesse caso o edifício cultural [2] estaria fundado sobre as lembranças dos indivíduos. u Uma característica importante da comunicação oral é que ela não deixa resíduo táteis. Isso quer dizer que uma sociedade puramente oral não possui registros e se baseia totalmente na memória. u A memória humana não corresponde a um equipamento de armazenamento e recuperação fiel das informações, havendo, muitas vezes, dificuldade para diferenciar as mensagens originais que recebemos das relações que associamos a elas. u Apesar da grande diversidade técnica das últimas décadas, há uma persistência dessa oralidade primária nas sociedades modernas porque as "representações e maneiras de ser ainda são transmitidas independentemente dos circuitos de escrita e dos meios de comunicação eletrônicos". u Ou seja, a maior parte dos conhecimentos adquiridos experimentalmente ainda são repassados oralmente. u Oralidade Secundária u oralidade secundária pertencente às culturas eletrônicas que dependem diretamente da cultura escrita e da impressão. O fato de ainda falarmos hoje é diretamente ligado à oralidade secundária. u Apesar de muitas culturas altamente desenvolvidas a nível tecnológico ainda apresentarem muito da estrutura mental oriunda da oralidade primária, a existência de sociedades que ainda não tiveram contato com a escrita é rara atualmente. u É difícil imaginar uma tradição puramente oral, ou a oralidade primária de forma significativa, pois, a tradição oral não possui resíduos ou depósitos e não pode ser tocada. A História e a Oralidade u A tradição Oral, na Grécia antiga era de extrema importância no ensino da arte da retórica, a arte de falar bem em público. u Os sofistas, da Grécia do século V, diziam que a retórica era a fonte de uma base racional para eficazes desempenhos. u O princípio fundamental de tal arte(a retórica), era basicamente demonstrar a capacidade do orador de refutar ou demonstrar um argumento. u O altar, durante a idade média na Europa ocidental, mais do que o púlpito tomava o lugar de importância no centro das igrejas. Os sermões e as pregações nas rua s e praças eram exemplos da importância do discurso oral para a Igreja. u Contudo, não só a Igreja, mas, os governantes perceberam o poder da comunicação oral. Um exemplo foi o discurso da rainha Elizabeth I sobre a necessidade de "sintonizar os púlpitos". Partindo da premissa de Elizabeth I, Carlos I, declarou que em períodos nos quais há ausência de guerras as pessoas são mais governadas pelo púlpito do que por espadas. u No século XV o desenvolvimento do comércio mudou consideravelmente a comunicação oral. O aumento do intercâmbio de mercadorias e o nascimento das bolsas comerciais criavam o ambiente perfeito para a prática oral. u As inovações do período permitiram a efervescência dos bares, cafés, tabernas e clubes. Locais aonde a prática oral, através dos discursos e debates era essencial. Tais locais de debate foram o ambiente propício para a partir do séc XVII desenvolver o que denominamos "esfera pública". u As universidades sempre foram um ambiente propício para o uso da oralidade, através de debates formais, declarações e disputas os estudantes eram ensinados. A arte da retórica, da fala, era de grande valor nestes ambientes, os alunos eram estimulados ao aprendizado através da oralidade. u A maioria dos estilos literários derivava da retórica acadêmica já no século XIX. Um resíduo desta arte da retórica, hoje em dia, está nos discursos de defesa de dissertações dos graduandos e doutorados.
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