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Literatura Popular Regional - Conteúdo Online

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LITERATURA POPULAR REGIONAL 
AULA 1 – APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA E DISCUSSÃO SOBRE O 
CONCEITO DE “POVO E CULTURA” 
Pensar no que é literatura é também pensar na concepção que o termo ganhou ao longo da 
história. O que é isso? 
O que conhecemos por literatura1 não era o mesmo que se imaginava a algum tempo atrás. 
1 Literatura é uma palavra que tem origem no vocábulo littera, do latim, que quer dizer 
palavra. Se, por um lado, hoje em dia esse termo é associado ao uso estético da linguagem 
escrita e à arte literária, por outro, nem sempre foi assim! 
O termo literatura era utilizado de uma forma mais ampla, mais geral. Utilizávamos para falar 
de qualquer conjunto de escritos, ou seja, literatura se relacionava meramente à palavra 
escrita. Safo, uma poetisa grega, de tão prestigiosa, foi considerada a ―décima musa‖ por 
Platão. 
Anacreonte de Teos, poeta grego, que dedicou seus escritos, na maior parte, ao tema ―amor‖. 
―Quando começamos a estudar qualquer literatura, seja grega, inglesa, alemã, portuguesa ou 
indiana, sempre se encontram, na parte inicial, quase exclusivamente, manifestações poéticas. 
Ao longo dos anos, estas vão cedendo lugar à prosa, e, quando chegamos ao século XX, a 
poesia ocupa pouco espaço diante de outras manifestações literárias.‖ (LUYTEN, 2005) 
Um dos registros mais antigos que se tem acerca do tema deve-se a Aristóteles, pensador 
grego que viveu entre 384 e 322 a.C. Entre outras atividades muito importantes para a 
humanidade, ele nos deixou um conjunto de anotações em que dialogava sobre as formas da 
arte e da literatura de seu tempo. 
Essa obra é chamada de Poética e, nela, o pensador elaborou a teoria de que a poesia era 
técnica aliada à imitação, diferenciando os gêneros trágico e épico do cômico e satírico e, por 
fim, do lírico. É importante lembrarmos que a poesia era o gênero literário por excelência na 
época. 
Arte Literária x Prosa 
Segundo o filósofo, o que difere a arte literária, representada na época pela poesia, dos outros 
textos em prosa é a qualidade universal que a imitação permite. 
Hoje em dia temos outras definições acerca do que é literatura, já que os gêneros literários 
vão mudando de acordo com o tempo, com as novas concepções que vão surgindo e outras 
que desaparecem. 
O advento da internet, por exemplo, acrescentou outros gêneros textuais e literários, e esses 
fatores acabam por diluir a definição clássica de literatura e gerando novas atribuições ao 
longo de seu desenvolvimento e recepção. 
O twitter é um gênero textual que não existia há alguns anos. 
―Com efeito, todos sabemos que a literatura, como fenômeno de civilização, depende, para se 
constituir e caracterizar, do entrelaçamento de vários fatores sociais. Mas daí a determinar se 
eles interferem diretamente nas características essenciais de determinada obra, vai um abismo 
nem sempre transposto com felicidade. Do mesmo modo, sabemos que a constituição 
neuroglandular e as primeiras experiências da infância traçam o rumo do nosso modo de ser.‖ 
(CÂNDIDO, 2006) 
 Concepção Literária: o fato é que a concepção de literatura muda conforme mudam os 
conceitos da sociedade, como, por exemplo, uns duzentos anos atrás. 
Nessa época, na Europa, um certo gênero literário chamado Romance começou a ser bastante 
conhecido através de sua distribuição em diversos jornais. 
 Romance: as histórias eram fragmentadas em capítulos que sempre instigavam os 
leitores a saberem o que viria depois, no próximo capítulo, na próxima semana. 
Muitas pessoas compravam os periódicos apenas para ler os romances! 
 Oscar Wilde: Oscar Wilde, por exemplo, um dos maiores escritores irlandeses de todos 
os tempos, publicou muitas obras bem-sucedidas, mas ele sempre será conhecido por 
seu romance O retrato de Dorian Gray, que foi o único. 
 História de Gray: A intrigante história de Gray, um jovem de beleza extraordinária que 
teve sua vida completamente transformada ao ser retratado em um quadro, foi 
publicada inicialmente como a história principal da Lippincott's Monthly Magazine em 
20 de junho de 1890. 
Isso lembra alguma coisa a você? 
Roque Santeiro, Malhação, Sex and the City, Maria do Bairro, ou seja, novelas, seriados e 
afins são variações do gênero romance folhetinesco. 
Enquanto no século XIX as histórias eram veiculadas somente de forma escrita, atualmente os 
veículos se diversificaram. 
O folhetim (do francês feuilleton, que significa folha de livro) é uma narrativa seriada dentro 
dos gêneros prosa, de ficção e romance. É publicado, como já mencionamos, de forma parcial 
e sequenciada em periódicos (jornais e revistas), tendo surgido na frança, no século XIX. 
Joaquim Manuel de Macedo, importante escritor brasileiro, fundou o periódico Guanabara, 
revista bastante representativa na história da nossa literatura, na qual, inclusive, publicou 
grande parte do seu poema-romance A Nebulosa. 
Antes, as chamadas belas letras eram constituídas por composições em verso que seguiam 
uma estrutura formal de acordo com critérios estabelecidos desde a antiguidade. 
Com o advento e a popularização do romance, a concepção de literatura ganhou outras 
nuances e novos gêneros textuais foram ganhando espaço. 
Exemplo disso, é que, no século XX, houve a atribuição de alguns gêneros considerados 
menores, como cartas, biografias e diários à categoria literária. 
Choderlos de Larclos, contrariando os que achavam a carta um gênero menor, publica, em 
1872, o muito bem-sucedido romance. ―As Relações Perigosas‖ é um romance epistolar, ou 
seja, todo escrito através de cartas. 
A literatura, como manifestação artística, tem por finalidade recriar a realidade a partir da 
visão de determinado autor, com base em seus sentimentos, seus pontos de vista e suas 
técnicas narrativas. 
O que difere a literatura das outras manifestações é a matéria-prima: a palavra que 
transforma a linguagem utilizada e seus meios de expressão. 
Não devemos pensar que literatura é meramente um texto publicado em um livro, uma vez 
que nem todo texto publicado tem de caráter literário. 
O que distingue um texto literário de outro? 
Essa é uma questão que ainda gera bastante discussão em muitos meios, pois não há um 
critério formal para definir a literatura a não ser quando contrastada com as demais 
manifestações artísticas. 
José de Nicola, escritor de livros didáticos utilizados em todo país, enfatiza que não apenas o 
aspecto formal é significativo na composição de uma obra literária, como também o seu 
conteúdo: ―o que torna um texto literário é a função poética da linguagem que ocorre quando 
a intenção do emissor está voltada para a própria mensagem, com as palavras carregadas de 
significado.‖ 
Cultura e Literatura Popular – Povo e Cultura 
Aristocracia: podemos dizer que em todas as sociedades, letradas e iletradas, temos 
elementos considerados mais e menos importantes, poderíamos expressar essa dualidade 
através da oposição ―povo x aristocracia‖, ou ainda ―nobres e plebeus‖, por exemplo. 
Povo: o que ocorre é que essa distinção evidencia ―visões diferentes sobre as mesmas coisas‖ 
(Luyten, 2005) e, longe de serem dois elementos completamente distintos, povo e elite 
acabem por interagir de uma forma ou de outra. 
Dois Mundos Não Tão Separados Assim... 
Um célebre exemplo de uma manifestação cultural que acabou por ser disseminada entre as 
camadas populares é a quadrilha. Essa dança é originária das contradanças das cortes 
europeias do século XVIII, no entanto, após chegar até o Brasil no século XIX, foi se tornando 
cada vez mais uma dança popular e a variação de sua nomenclatura evidencia isso. É comum 
nós a chamarmos de quadrilha ou de caipira. 
Embora nós possamos utilizar o termo cultura popularcomo uma oposição à cultura erudita, 
esse termo abrange todos os setores da vida de um determinado povo e podemos dizer que 
se manifesta com maior força nas sociedades cuja divisão de classes é bem acentuada. 
Cultura Popular 
A cultura popular é também o resultado de uma interação contínua entre pessoas de 
determinadas regiões e recobre um complexo de padrões de comportamento e crenças de um 
povo. 
Nasceu da adaptação do homem ao ambiente onde vive e abrange inúmeras áreas de 
conhecimento: tradições, crenças e determinados hábitos, usos e costumes, o artesanato, o 
folclore, por exemplo. 
A cultura popular surge de costumes e tradições transmitidos de geração para geração. 
AULA 2 – EXPRESSÕES DA CULTURA E ARTE POPULAR NO BRASIL 
Conforme vimos na aula anterior, embora seja comum o uso do termo ―cultura popular‖ em 
oposição à ―cultura erudita‖, será sempre fruto de construções ideológicas. Essa oposição é 
ainda mais significativa nas sociedades cuja divisão de classes é bem acentuada. 
A cultura popular abrange muitas áreas de conhecimento: tradições, crenças e determinados 
hábitos, usos e costumes, tais como o artesanato, o folclore, etc. 
Povos e Cultura 
Falaremos brevemente a respeito de dois termos fundamentais para refletirmos sobre o 
conceito de ―cultura popular‖. Esses vocábulos são ―povo‖ e ―cultura‖. Baseando-nos nas 
acepções mais conhecidas a respeito da palavra povo, podemos afirmar que ela se refere a 
uma parte ou à totalidade de membros de uma sociedade. 
É comum utilizarmos a palavra ―povo‖ em contextos como os seguintes: 
―O povo brasileiro comemorará a Proclamação da República semana que vem‖. Nessa frase, 
podemos perceber que ―povo‖ está sendo utilizado como o conjunto de pessoas que habitam 
um país e/ou compartilham da mesma cultura. 
―O povo vai hoje para a rua ver os blocos!‖ Nessa frase, notamos que a mesma palavra 
aparece com a concepção de multidão, aglomeração de pessoas. 
Entre as várias concepções da palavra ―povo‖1, nós, neste momento, a utilizaremos como a 
primeira frase, ou seja, entenderemos nesta aula ―povo‖ como um conjunto ou uma certa 
totalidade de pessoas que compartilham: 
 o mesmo território; 
 os mesmos costumes; 
 os mesmos interesses e tradições. 
1 Como podemos perceber, definir um vocábulo tão aparentemente simples e comum como 
―povo‖ pode dar bastante trabalho, já que se trata de uma palavra com uma considerável 
amplitude de significados. 
Cultura é uma palavra ainda mais abrangente que ―povo‖! 
Prepare-se para uma certa viagem com essa palavra! 
Se observarmos o Dicionário Eletrônico Houaiss, as primeiras definições de cultura serão: 
1º Cultura: ―ação, processo ou efeito de cultivar a terra; lavra, cultivo.‖ 
2º Cultura: ―cultivo de célula ou tecido vivos em uma solução contendo nutrientes adequados 
e em condições propícias à sobrevivência criação de alguns animais.‖ 
3° Cultura: ―criação de alguns animais‖. 
4º Cultura: ―cabedal de conhecimentos de uma pessoa ou grupo social‖. 
5º Cultura: ―conjunto de padrões de comportamento, crenças, conhecimentos, costumes etc. 
que distingue um grupo social, forma ou etapa evolutiva das tradições e valores intelectuais, 
morais, espirituais (de um lugar ou período específico); civilização‖. 
6º Cultura: ―complexo de atividades, instituições, padrões sociais ligados à criação e difusão 
das belas artes, ciências humanas e afins‖. 
Bem, como pudemos ver, conceituar cultura não é nada fácil! A fim de focarmos na concepção 
que melhor atende à aula, observe o que Peter Burque1 nos fala: 
―Até o século XVIII, O termo cultura tendia a referir-se à arte, literatura e música (...) hoje, 
contudo, seguindo o exemplo dos antropólogos, os historiadores e outros usam o termo 
cultura muito mais amplamente para referir-se a quase tudo que pode ser apreendido em uma 
dada sociedade, como comer, beber, andar, falar, silenciar e assim por diante.‖ 
1 Néstor Carcía Canclini nasceu em La Plata, Argentina, em 1939. Filósofo e antropólogo, seus 
estudos abordam questões da pós-modernidade como a globalização, as transformações 
culturais e as mesclas entre culturas, especificamente no âmbito latino-americano. É 
professor da Universidad Autónoma Metropolitana no México. Doutor pela Universidade de 
Paris, já foi professor-pesquisador nas Universidades de Stanford, Austin, Barcelona, Buenos 
Aires e até aqui no Brasil, em São Paulo. Vale muito a pena dar uma lida na obra do filósofo, 
entre as publicações dele destacamos: 
CANCLINI, Néstor García. Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. 
Tradução de Ana Regina Lessa e Heloísa Pezza Cintrão. São Paulo: EDUSP, 1997. 
CANCLINI, Néstor Garcia. As culturas populares no capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1995. 
Esse livro, em particular, muito recomendado! 
Bem, nem todo mundo concorda com Burke que, da forma como coloca a questão, não 
consegue dar conta da desigualdade entre as culturas e de como as diferenças se 
transformam em desigualdade. 
Também poderíamos problematizar o seguinte: na medida em que pensam todas as 
atividades humanas como cultura, essa concepção deixa de fora a hierarquização desses 
fazeres e o peso distintivo que possuem dentro de uma determinada formação social. 
Agora que entramos em contato com esses conceitos de povo & cultura, uma pergunta: Quais 
são as suas próprias definições a respeito desses termos? 
A Cultura Popular no Brasil 
Chico Buarque, em Paratodos, música ―Homnima‖ de um álbum muito bem-sucedido de 1993 
dá uma aula sobre a pluralidade do brasileiro. 
O Brasil, em relação a outros países, tardou um pouco a discutir a questão nacional e é só no 
século XIX que se inicia por aqui a busca do caráter e da identidade nacional. 
Bem, depois que se começou a pensar na questão, a discussão tem sido uma constante por 
aqui. 
As reflexões sobre a nossa identidade envolvem temas como raça, clima e formação do povo 
brasileiro. 
Mas quando pensamos no conceito de nacional-popular, temos elementos essenciais para 
compreendermos as formulações ideológicas elaboradas por grupos hegemônicos da 
sociedade brasileira. 
Qual seria o mais legítimo representante de uma nacionalidade brasileira? 
Podemos dizer que nas produções populares encontramos uma expressão do que é 
genuinamente brasileiro. 
O movimento romântico do século XVIII buscou localizar as ―fontes originais‖ de nossa 
nacionalidade. 
Esse momento coincide com consideráveis mudanças às quais o Brasil estava sendo 
submetido. 
O início do século XX foi de intensa atividade intelectual conjugada à industrialização que 
transformaria radicalmente as relações sociais no país. 
O Brasil é um país plural, multirracial, como todos sabemos e pesa na essência do brasileiro 
através do mestiço como ente nacional por excelência. 
Ocorre, a partir de uma obra muito representativa para essa reflexão: ―Casa grande e 
senzala‖, de Gilberto Freyre, na qual aborda o deslocamento do conceito de raça para o de 
cultura. 
Essa inflexão atendia sobremaneira às novas necessidades do momento histórico. 
AULA 3 – REPRESENTATIVIDADE DA CULTURA POPULAR REGIONAL 
No século XVIII, antes do Romantismo predominar na Europa, o velho continente 
testemunhou a decadência da doutrina clássica, a confluência de diversas tendências 
literárias, tais como as correntes arcádicas, as barrocas tardias e o estilo rococó1. 
1 O vocábulo rococó deriva do francês rocaille, cujo significado remete a um tipo de 
ornamento cuja característica é reproduzir artificialmente rochedos e pedras da natureza. Com 
o tempo, devido às críticas dos classicistas e dos românticos, o significado de rococó foi 
adquirindo um sentido de coisa velha, ultrapassada, inadequadaaos contemporâneos. Só 
próximo de começar o século XX ―rococó‖ daria nome a determinadas expressões da arte 
plástica, migrando depois para o domínio da crítica e da história literárias. 
As bases do estilo de época que viria a ser denominado Romantismo surgem com as primeiras 
manifestações de um sentimento novo, que rompe gradualmente com os cânones 
neoclássicos: é o pré-romantismo. Oriunda da segunda metade do século XVIII, a literatura 
pré-romântica surge como uma audaciosa recusa ao imperialismo da razão. 
O Pré-romantismo1 configurava-se uma transformação radical no pensamento e na 
sensibilidade da inteligência europeia. Abriam-se os caminhos para a liberdade de expressão, 
para o repúdio às normas que engessavam as estruturas poéticas, refletindo a crença dos 
representantes classicistas de que a razão era uma faculdade imutável, por isso os demais 
valores, inclusive os estéticos, deveriam compartilhar da mesma perenidade. 
1 Na Alemanha, o pré-romantismo alcança grande notabilidade graças ao movimento Sturm 
und Drang (Tempestade e Ímpeto). É a partir do pré-romantismo que a literatura começa a 
penetrar nos espaços mais fundos da alma humana. Neste sentido, um fato marcante é a 
onda de suicídios ocorrida na Europa envolvendo uma parcela expressiva de jovens leitores, 
atribuída à leitura do romance Os sofrimentos do Jovem Werther, de Johann Wolfgang von 
Goethe. A literatura dessa época é bem aceita também no resto do continente, sobretudo 
Inglaterra, França e Portugal. Muito antes da geração ultrarromântica, o cemitério já era um 
espaço presente na literatura. O pré-romantismo inglês é notável por seus poetas de temas 
obscuros, de paisagens sombrias e sussurros de melancolia. 
Arte Clássica X Romantismo 
Existem muitas teorias a respeito das diferenças entre a arte clássica e o romantismo. 
Segundo o professor Vitor Manuel de Aguiar e Silva, o poeta e crítico alemão August Wihelm 
Schlegel1 é o responsável pela mais influente e sistemática exposição sobre o tema. 
1 Apesar de poeta, August Wilhelm Schlegel (1767-1845) revelou-se como um nome 
importante nos prestigiados círculos literários através de suas afinadíssimas traduções líricas e 
por suas influentes críticas ao classicismo francês. 
Por sua vez, Goethe1 irá dizer que "o clássico é a saúde, o romântico a doença", numa 
oposição clara entre austeridade centrada no homem racional e o entusiasmo fabril do ser 
romântico. 
1 Um dos líderes do movimento Sturm und Drang, Goethe revolucionou a história da literatura 
ao publicar, em 1774, Os Sofrimentos do Jovem Werther, um romance inovador, que tem 
como personagem central um modelo contumaz do futuro herói romântico. Werther é dotado 
de uma carga emotiva e confessional aguda. Goethe foi um dos primeiros escritores a aplicar 
num personagem um estudo tão profundo da interioridade e dos estados de alma humana. 
Frankenstein & Goethe. Há Uma Relação Possível? 
O romance de Mary Shelley (1797-1851) foi escrito em plena vigência do romantismo na 
Europa. A considerar o círculo de amigos e afetos íntimos que possuía – seu marido era Percy 
Shelley, notável poeta do romantismo inglês - não é de se estranhar os diversos princípios 
românticos que guiam a célebre narrativa. 
No capítulo XV do romance Frankenstein, publicado em 1818, a criatura diz a seu criador: ―Em 
Os Sofrimento do Jovem Werther (...) tantas opiniões são esboçadas e tantas luzes se lançam 
sobre assuntos até então totalmente obscuros para mim, que o considero uma fonte perene 
de construções e maravilhoso espanto.‖ 
A criatura é um ser atormentado, que (re)nasce sem ninguém em torno para lhe acolher. 
Precisando compreender o mundo a sua volta, e ao mesmo tempo saber quem ou o que ela é, 
a entidade-experimental criada por Victor Frankenstein encontra no romance de Goethe 
respostas fundamentais para amenizar suas inquietações existenciais. 
Apesar das diferenças que podemos identificar entre os autores românticos, seja no 
temperamento ou no estilo, é comum a todos eles a valorização do ideal e a superação dos 
limites que norteiam a realidade sensível. 
O desenvolvimento do Romantismo ao longo do século XIX confirmará em parte a oposição de 
Goethe, pois o movimento compreende percursos alternativos que posicionarão o homem 
romântico ao largo dos estados mais febris. 
A partir da liberdade que dispõem para transcender o mundo concreto, algumas das 
sensibilidades românticas encontram o recurso perfeito no idealismo para difundir suas 
ideologias nacionalistas. Na Europa, os irmãos Grimm, filólogos alemães, registraram 
narrativas populares que hoje são célebres em todo o mundo, ao menos no Ocidente e parte 
do Oriente. 
Rapunzel, Branca de Neve, João e Maria são algumas das histórias que Jacob e Wilhelm 
escreveram a partir da oralidade, perpetuando-as graças aos recursos da escrita. 
Naturalmente o entusiasmo que os irmãos Grimm cultivavam pelas questões linguísticas tinha 
uma outra face: o sentimento nacionalista. Neste aspecto a sensibilidade romântica era 
também racionalidade. 
Mas como seria representado esse modo de ser que definiria o brasileiro como um povo de 
traços distintos de todos os outros? 
No Brasil, é José de Alencar1 um dos autores que mais intensamente se preocupa em construir 
uma literatura que representasse nossos hábitos e costumes sendo genuinamente brasileira. 
1 José de Alencar (1821-1877) é um dos mais representativos escritores brasileiros, retratou 
diversos aspectos e cores do país. Do nordeste ao sul, do homem urbano ao sujeito do 
campo. Alencar também foi advogado e político. 
Segundo Afrânio Coutinho1, a nacionalização do pensamento "é um processo intenso e 
persistente de busca da identidade nacional, de integração e globalização da realidade 
brasileira". 
1 Renomado crítico literário brasileiro, Afrânio Coutinho (1911-2000) criou em 1965 a 
Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Seus estudos são 
reconhecidos internacionalmente. 
Utilizando-se dos idealismos pertinentes à liberdade e imaginação românticas, Alencar tomou 
como símbolos da identidade nacional a natureza exuberante das matas, a pureza idealizada 
do índio, isto é, o bom selvagem em seu estado primitivo, não corrompido pela civilização. 
AULA 4 – CULTURA POPULAR E CULTURA ERUDITA 
As Diversidades Regionais “Complexidade Cultural” 
Bem, conforme vimos nessas aulas, cultura é um termo complexo, que desde o século XIX 
tem sido estudado sistematicamente. 
Porém, nenhum estudo ―produziu uma definição clara e aceita por todos do que seja cultura. 
Por cultura se entende muita coisa‖. (SANTOS, 1987) 
Em contrapartida, o segundo termo, erudito, não é menos complexo e os problemas para se 
traçar os limites sobre o que estudaremos configuram-se significativos. 
Ainda que as definições de cultura mais ―genéricas‖ sejam aceitas, como sendo ―tudo o que 
caracteriza uma população humana‖ (SANTOS, 1987), por critérios didáticos, e em virtude do 
foco temático da nossa disciplina, restringiremos o conceito de ‗cultura‘, às manifestações 
artísticas e, ainda mais especificamente, à criação literária. 
Cultura Popular: Definições, Conceitos e Exemplos Gerais 
Analisando a cultura popular na Europa do século XVI a partir da literatura do escritor François 
Rabelais, Mikhail Bakhtin faz uma análise rigorosa sobre um dos aspectos que considerou 
marcante da cultura popular, o riso1. O cômico na obra de Rabelais ofereceu a Bakhtin a 
chave para o antagonismo – reverência e irreverência. 
1 A trama da obra O nome da Rosa, de Humberto Eco, gira em torno de uma série de 
assassinatos misteriosos e uma obra atribuída a Aristóteles, cuja temática, o riso, era 
consideradaextremamente perigosa pelos eclesiásticos. 
A descontração era uma espécie de marca dos excluídos (da cultura popular, extraoficial) 
enquanto para a Igreja (cultura erudita, oficial) a atitude compenetrada do homem austero 
protegia sua alma contra as influências do mal, sendo a postura que mais o aproximaria do 
bem e da verdade divina. 
Por outro lado, numa justificativa menos espiritual, o riso representava para os representantes 
do clero um perigoso gesto de rebeldia, indisciplina e subversão aos princípios da ordem 
eclesiástica, ou seja, aos princípios do poder político no mundo feudal. 
Na obra O Riso – Ensaio sobre a significação da Comicidade, de Henri Bergson: 
―Lógico, a seu modo, até nos seus maiores desvios, metódico em sua insensatez, fantasiando, 
bem o sei, mas evocando em sonho visões logo aceitas e compreendidas por uma sociedade 
inteira, acaso a fantasia cômica não nos informará sobre os processos de trabalho da 
imaginação humana, e mais particularmente da imaginação social, coletiva, popular? Fruto da 
vida real, aparentada à arte, acaso não dirá nada sobre a arte e a vida? (...) 
Que significa o riso? Que haverá no fundo do risível? Que haverá de comum entre uma careta 
de bufão, um trocadilho, um quadro de teatro burlesco e uma cena de fina comédia? Que 
destilação nos dará a essência, sempre a mesma, da qual tantos produtos variados retiram ou 
o odor indiscreto ou o delicado perfume? Os maiores pensadores, desde Aristóteles, 
aplicaram-se a esse pequeno problema, que sempre se furta ao empenho, se esquiva, escapa, 
e de novo se apresenta como impertinente desafio lançado à especulação filosófica. (...)‖ 
Veja as diferentes interpretações de risos: 
 ―Rindo, rindo, se fala o que quer...‖ (Ditado popular) 
―Ridendo castigat mores‖. Ditado latino da época clássica, cuja tradução é ―Rindo, castiga-se 
os costumes‖. 
O riso era marca dos excluídos. A austeridade, expressão da nobreza e da religiosidade 
oficiais. (O Corcunda de Notre-Dame, longa de animação produzido pelos estúdios Disney 
(1996) 
O romance Nossa Senhora de Paris, escrito por Victor Hugo na primeira metade do século XIX, 
é mais conhecido no Brasil com o título O Corcunda de Notre-Dame. Esta é uma obra bastante 
representativa do romantismo francês. Discurso da era romântica na literatura, seu texto é 
impregnado de idealismos típicos da época, tais como os ―amores irrealizáveis‖ que 
consumiam o corpo e a alma dos heróis, não importando se uma cigana com espírito europeu 
se apaixona como uma ―mocinha‖ burguesa ou se um corcunda grotesco é o rival improvável 
do cavaleiro Febo, cuja bela compleição remete ao Sol do Deus Apolo. 
A despeito das idealizações, O Corcunda de Notre-Dame é um dos mais brilhantes retratos 
literários da tensão entre a cultura popular e a erudita. A cultura popular é representada pelos 
ciganos, marginalizados e perseguidos pela Igreja, uma vez que resistem às imposições 
políticas e culturais dos poderosos não aceitando converterem-se ao cristianismo, aos dogmas 
da religião oficial. Clopin e Esmeralda são os principais ciganos da narrativa. 
No capítulo em que Victor Hugo retrata uma das mais populares festividades da Europa 
medieval, a ―Festa dos Tolos‖, acompanhamos uma série de manifestações da cultura popular 
do feudalismo que identificamos diretamente com as tradições do nosso carnaval. Algumas 
das expressões populares que Bakhtin observa na obra de Rabelais estão presentes no 
romance de Victor Hugo. Práticas pagãs, como os jogos de adivinhação em praça pública, são 
realizadas pela cigana Esmeralda, com o auxílio de sua cabra Djali. 
A partir do surgimento das sociedades estratificadas, isto é, divididas em classes, a 
irreverência, traço típico da comicidade e da crítica marginal, constitui-se, sobretudo no 
feudalismo europeu. Em uma qualidade distintiva entre as esferas sociais que governavam – o 
clero e a nobreza - e as classes governadas – o povo e a burguesia. 
Daí alguns autores, como Cuche, entenderem a cultura popular como uma série de 
manifestações culturais que tem como característica essencial uma postura de resistência às 
imposições políticas e culturais, superando a crença da cultura popular ser passiva e 
conformista. 
―A dominação cultural nunca é total. Há sempre uma margem para a resistência e afirmação.‖ 
(CUCHE, 2002) 
Cultura Popular - Na Literatura Brasileira 
Uma das definições de cultura popular que mais orientam os debates acerca do tema é a que 
se baseia na origem da produção, ou seja, na classe social em que uma obra de arte é 
idealizada e finalizada. 
As produções artísticas populares seriam aquelas ―alheias‖ aos meios formais de 
aprendizagem, como escolas e universidades, instituições dotadas de rigoroso conhecimento 
técnico, histórico e teórico sobre a arte da escultura, da pintura, da música, etc. 
Por conta da origem humilde, a cultura popular precisou de muito tempo e de grandes 
transformações sociais para que se iniciasse um processo de valorização da arte sem diploma. 
Em outras palavras, assim como a variação linguística ―vale‖ o que vale seu falante, i.e., a 
língua padrão é representada pelo registro linguístico da aristocracia, a arte ―canônica‖ é 
quase sempre a manifestação cultural das camadas mais privilegiadas da sociedade. 
É fato que o samba não surgiu em academias de música ou nas universidades. Assim como na 
cultura anglo-americana o blues e em seguida o rock não foram gêneros musicais criados e 
florescidos nos meios de erudição. É comum aquela assertiva de que samba não se aprende 
na escola. 
O curioso é que dizem o mesmo sobre escrever, sugerindo que nunca haveria existido ou que 
seria inútil a existência de cursos para escritores de narrativas. 
A considerarmos o volume de publicações recentes com o objetivo de ensinar ao leitor 
técnicas para se escrever narrativas, esta crença ingênua de que para ser um grande escritor 
dependemos mais de um ―dom‖ intuitivo do que de conhecimentos técnicos e teóricos passa a 
ser bastante questionável. 
Qualquer concepção de cultura popular, assim como de cultura erudita, dificilmente será 
elaborada sem a influência dos valores contemporâneos, do tempo em que os conceitos são 
formulados. 
O que era popular há décadas, com o tempo poderá cair no gosto das classes dominantes. 
Porém, quando falamos de classes, não devemos nos esquecer dos indivíduos que as 
compõem. Nem todos pensam da mesma forma, ou compartilham das mesmas ideias pelo 
fato de pertencerem a uma mesma classe! 
Sócrates, mestre de Platão, não deixou qualquer registro escrito, pois acreditava que o hábito 
de ler e de escrever enfraqueceria a memória humana e faria dos filósofos sábios imaginários, 
dependentes de um saber exterior a eles. Alguns pesquisadores, inclusive, acreditam que ele 
não soubesse ler ou escrever! 
Entretanto, o fato de Sócrates não ter registrado seus pensamentos em livros e atas, como os 
filósofos posteriores, não exclui seu pensamento dos currículos universitários. Estudamo-lo 
graças aos registros de Platão e Xenofonte, e a força das ideias que deixou é responsável por 
grande parte das ―correntes‖ filosóficas que se sucederam a ele! 
Patativa do Assaré 
Quanto à literatura brasileira, um dos mais importantes representantes da poesia popular, 
Patativa do Assaré (1909-2002), foi um lavrador que não sabia escrever e nem fazia questão 
de aprender, mas que se notabilizou por sua arte. Seus versos eram registrados num 
gravador. 
Carreira das letras: Assaré jamais abandonou o campo migrando para a cidade no intuito de 
seguir uma carreira nas letras. Então por que lemos e escrevemos? Porque a verdade do 
filósofo grego e do poeta popular era relativa, nãopertencia a todos. 
Grande Escritor: Sócrates era fiel ao que acreditava, assim como o lavrador brasileiro, que não 
tinha a necessidade de aprender a escrita, nem a vaidade de ser um grande poeta. Contudo, 
não era no que Platão acreditava, e este provou que os mestres podem se enganar. Daí a 
importância de desenvolvermos o pensamento autônomo. Dentro deste padrão, Sócrates 
estava certo! 
O problema de avaliarmos a cultura popular como naturalmente antagônica à erudita começa 
quando consideramos o fato de que existem tanto diferenças quanto semelhanças entre elas. 
Os concertos das orquestras filarmônicas são considerados por muitos uma manifestação da 
cultura erudita. 
Pina Bausch - Subversão do ballet? Pina Bausch: um gênio que subverteu as formas clássicas 
o ballet. 
Ópera La Traviata, outro exemplo de erudição musical! 
De modo geral, o que afasta uma modalidade de cultura da outra são as ideologias, discursos 
que se espalham a serviço de uma elite, que para se manter no poder não mede esforços no 
intuito de confundir, torcendo e retorcendo conceitos numa apropriação ligeira das fontes 
culturais. 
―Pina Bausch (1940—2009) foi uma coreógrafa, dançarina, pedagoga de dança e diretora de 
balé alemã. Várias de suas coreografias eram baseadas nas experiências de vida dos bailarinos 
e, inclusive, elaboradas em conjunto com os membros da equipe. 
As diversas cidades do mundo eram também sua inspiração e entre os temas recorrentes 
estavam as interações entre masculino e feminino. A companhia tem um grande (e 
lindo!) repertório de peças originais e viaja regularmente por vários países.‖ (Do blog 
http://thatylouise.blogspot.com/2011/04/amazing-pina-baush.html) 
A partir destas fontes, a cultura popular original será reinventada e transformada num produto 
na maioria das vezes barato, de qualidade tão ínfima quanto os custos, a fim de gerar o 
máximo de lucro aos investidores e representantes das elites. 
AULA 5 – A COMUNICAÇÃO POPULAR: A MÍDIA E OS MEIOS DE 
DIVULGAÇÃO PARA A ARTE POPULAR 
As Mídias e os Espaços de Divulgação 
Está entre as principais características humanas o fato de nos comunicarmos e transmitirmos 
o que sabemos ao nosso grupo social, na nossa família e, com as tecnologias mais recentes, 
com pessoas que nem chegaremos a conhecer. 
Contar uma fábula para entreter uma criança ou transmitir conhecimento, on-line, para 
centenas ou milhares de pessoas é continuar a tradição pré-histórica1 de não deixar 
determinadas informações perecerem. 
1 A pintura rupestre é uma manifestação artística pré-histórica. Muitos pesquisadores 
acreditam que essa manifestação primitiva de arte era também uma forma de transmitir 
informações entre as tribos. 
De certa forma, tudo que escrevemos ou pensamos não é exatamente original. 
Somos o resultado de várias gerações de pensamentos, descobertas e realizações. 
A poesia e a narrativa podem ser consideradas como as primeiras formas de expressão 
artística1 de todos os povos conhecidos. 
1 ―Entre as expressões de cunho popular, as que mais interesse oferecem são as modalidades 
comunicativas. E, entre estas, a poesia ocupa um lugar de destaque pela sua dinamicidade e 
força de expressão.‖ (LUYTEN, 1992) 
As anedotas, lendas e contos que passam de geração em geração estão entre as expressões 
populares de cultura. 
E como são transmitidas de uma pessoa a outra, de um grupo a outro? 
Arte e Literatura – Quem Conhece? 
Na Antiguidade Clássica, na Grécia, havia alguns festivais voltados para as artes dramáticas. 
Nas Leneias e nas Dionisíacas eram apresentadas peças teatrais para um grande número de 
pessoas, muitas vindas de partes bastante distantes de Atenas - cidade que sediava a maior 
parte dos festivais gregos. 
As apresentações eram os principais meios de conhecimento das histórias retratadas nas 
peças, mas, na medida em que faziam sucesso, as peças atravessavam as fronteiras dos 
teatros e ganhavam vida nas narrativas animadas da audiência e na representação pictórica 
em tecidos, afrescos e até objetos domésticos. 
Quando um filme, novela ou seriado faz sucesso, logo vemos pessoas desfilarem com objetos 
que fazem referência a eles de algum modo. Esse fato pode até ser analisado como uma 
espécie de ―medidor de sucesso‖ das obras. 
Na Antiguidade também não era diferente, como vimos. 
Os festivais, em si, eram/são grandes meios de divulgação das obras e, na medida em que 
fazem sucesso, o que as pessoas falam sobre elas e as obras inspiradas nelas também se 
tornam meios eficazes de divulgação. 
Pintura – Arte Naïf 
O termo arte naïf aparece como sinônimo de arte ingênua, original e/ou instintiva, produzida 
por autodidatas que não têm formação acadêmica no campo das artes. A expressão se 
confunde muitas vezes com os termos arte popular, arte primitiva e art brüt, por conta de 
uma expressividade autêntica, da sua subjetividade e da imaginação de criadores alheios à 
tradição e ao sistema artístico convencional que privilegia o uso científico da perspectiva, 
formas convencionais de composição e de utilização das cores. 
 O Violeiro, de Ernane Cortat 
A expressão arte naïf caracteriza-se também pela ausência das técnicas usuais de 
representação e pela visão ingênua do mundo, destacamos a utilização de cores brilhantes e 
alegres, a simplificação dos elementos decorativos, a descrição minuciosa, a visão idealizada 
da natureza e a presença de elementos do universo onírico. A história da pintura naïf liga-se 
ao Salon des Independents, de 1886, em Paris, com exibição de trabalhos do "Le Douanier" 
Henri Rousseau (1844 - 1910), um dos mais notáveis pintores naïfs. "Le Douanier" 
(funcionário da alfândega) era o apelido de um funcionário burocrata que se dedicava à 
pintura como hobby. 
Seu trabalho obtém reconhecimento imediato dos artistas de vanguarda do período - como 
Redon, Gauguin e Picasso, que interpretaram sua obra como um símbolo do retorno às 
origens e das manifestações da vida livre e pura. Em 1928, o colecionador Wilhelm Uhde 
organiza a primeira exposição de arte naïf em Paris, reunindo obras de Rousseau, Luis Vivin, 
Séraphine de Senlis, André Bauchant e Camille Bombois. Mais tarde, o Museu de Arte Moderna 
de Paris dedica uma de suas salas exclusivamente à produção naïf. Sem dúvida, o apoio de 
artistas consagrados e a exposição no Museu de Arte Moderna parisiense foram 
extraordinários meios de divulgação para essa arte. 
 O Circo, Djanira, 1955 
A arte naïf possui um circuito próprio e conta com museus e galerias especializados no mundo 
inteiro. No Brasil, especificamente, uma série de artistas aparece diretamente ligada à pintura 
naïf: Cardosinho, Luís Soares, Heitor dos Prazeres, José Antônio da Silva (1909 - 1996) e 
muitos outros. Entre eles, ganham maior notoriedade: Chico da Silva e Djanira. Djanira foi 
aluna do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e completou sua formação com Emeric 
Marcier e Milton Dacosta, que foram amigos e hóspedes na Pensão Mauá, em Santa Teresa, 
no Rio de Janeiro. Nos anos 1950, ela é artista consagrada e uma das lideranças do Salão 
Preto e Branco. 
 Samba nos Arcos da Lapa, de Heitor dos Prazeres (1964) 
A arte popular do Nordeste brasileiro, tais como as xilogravuras que acompanham a literatura 
de cordel e as esculturas de Mestre Vitalino, figura em algumas fontes como exemplos da arte 
naïf nacional. 
 Escultura – Mestre Vitalino 
Vitalino Pereira dos Santos, o Mestre Vitalino, nasceu em 1909 nas cercanias da cidade de 
Caruaru (PE). É um dos artesãos mais conhecidos e reconhecidos do Brasil. Em virtude de sua 
origem humilde e, sobretudo interiorana, não havia possibilidade de se ganhar brinquedos. 
―O mundo é para todos e todos precisam viver‖(Mestre Vitalino) 
Então, o pequeno Vitalino começou a produzer pequenos animais em barro para suas 
brincadeiras. Porém, seu trabalho foi útil também economicamente, pois logo venderia suas 
esculturas numa feira de Caruaru. 
Apesar de vender muito barato as figuras esculpidas, não parou de produzi-las, e dos 
pequenos animais Vitalino passou a explorar temas dos mais diversos, sempre abordando os 
mais variados aspectos e costumes de sua região: cenas do dia a dia, do homem do campo, 
da realidade do agreste nordestino. 
Música 
Falar de ―música popular‖ no Brasil é algo de certo modo muito discutível. O conceito 
―popular‖ é naturalmente amplo, mas quando se trata de relacioná-lo à música, essa 
amplitude se torna ainda maior. São enquadrados na ―música popular brasileira‖ os mais 
diferentes artistas, dos mais distintos estilos, cujos respectivos públicos são ainda mais 
dessemelhantes. 
Os artistas brasileiros que influenciaram a música regional brasileira com o seu trabalho 
foram: Marisa Monte, Bete Carvalho, Nação Zumbi e Elba Ramalho. 
As cantigas de ninar são exemplos de canções populares que passam de geração a geração. 
No contexto dessa aula, nosso enfoque é a música cuja origem será, de fato, de artistas do 
povo, sem uma trajetória formal nos meios musicais. 
Pode-se afirmar que a música popular brasileira começa com os índios e com a música feita 
pelos jesuítas que vieram para cá. Os ritmos tocados pelos nossos antecessores, como o 
cateretê ou o cantochão, são ainda hoje tocados em festas populares e também são 
mesclados com outros estilos musicais. 
Nossa música se tornou mais representativa no final do século XVII, com o lundu, uma dança 
de origem africana de meneios e sapateados, e a modinha, canção de origem portuguesa de 
cunho amoroso e sentimental. O lundu, a modinha junto da influência africana e a europeia 
alternaram-se e combinaram-se das mais inusitadas formas criando estilos e gêneros musicais 
diversos. 
Durante o período colonial e o Primeiro Império, além dos já citados lundu e modinha, 
também as valsas, polcas e tangos de diversas origens estrangeiras encontraram no Brasil 
uma nova forma de expressão. 
No século 19 surgem os conjuntos de chorões, que adaptam formas musicais européias à 
música tipicamente brasileira e à nossa maneira de se tocar essas construções. 
Surge, então, o choro, e firmam-se novas danças, com o maxixe. 
Dois elementos decisivos para a canção popular no Brasil foram o carnaval carioca e o 
gramofone. 
Pixinguinha, João da Baiana e Donga foram grandes nomes nesse período. 
O samba urbano, no entanto, só se firmaria na década de 30, época em que surge a primeira 
escola de samba, a Deixa Falar, fundada em 1929. 
D. Ivone Lara, um dos mais importantes nomes do samba, desfilando na ala das baianas da 
Portela. Ela foi a primeira mulher a ingressar na ala dos compositores de uma escola de 
samba. 
AULA 6 – CONTEXTUALIDADE DOS FENÔMENOS LITERÁRIOS REGIONAIS 
E TIPOS DE REGIONALISMO 
Regionalismo é o tipo de produção literária que privilegia sua narrativa em determinada parte 
de um país. Os primeiros autores do gênero não mencionavam uma localidade, mas seus 
textos estavam cheios das referências à cultura regional brasileira. Esse tema é recorrente em 
nossa literatura desde o século XIX. Autores como José de Alencar, Bernardo Guimarães, 
Alfredo d'Escragnole Taunay e Franklin Távora deram o ―pontapé‖ inicial e até hoje 
encontramos alguns traços de regionalismo na literatura brasileira, embora as obras mais 
representativas se concentrem nos textos da metade do século passado, com José Lins do 
Rego, Graciliano Ramos, Érico Veríssimo e Guimarães Rosa. 
Embora todos os autores regionalistas, de certa forma, tenham se inspirado nas narrativas, 
lendas e anedotas populares para compor sua obra, levando em conta o teor da disciplina, 
procuraremos nos aprofundar na literatura de cunho popular nessas regiões. 
Região Norte 
 A literatura amazônica 
 Lendas indígenas 
 Referência da cultura acadêmica: Milton Hatoum 
Você já ouviu algum especialista comentar na TV a respeito de algum fato ocorrido na região 
norte? Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins? 
Já acompanhou matérias jornalísticas ou assistiu a algum documentário sobre a região? 
Ainda que a resposta seja negativa, é bem provável que você ao ouvir os nomes ‖Amazônia‖, 
―Tocantins‖, sempre acione na mente a imagem da floresta. Isto é, de modo geral, vinculamos 
a região norte à ideia de meio ambiente, desmatamento, conservação ambiental, populações 
e lendas indígenas. A região significaria para nós tão somente o mais importante polo de 
resistência da natureza, a última morada do homem ‗primitivo‘, a derradeira referência ‗viva‘ 
do que teria sido o paradisíaco jardim do Éden. 
De fato, as populações indígenas fazem parte da paisagem amazônica, e junto com elas as 
lendas e os mitos sobreviventes, incorporados ao folclore amazônico, como a história do 
Uirapuru, do Boitatá etc. 
Quem não ouviu falar em Saci-Pererê, na lenda do Boto-cor-de-rosa, na Mula sem cabeça? 
Todos personagens cuja origem se encontra nas narrativas contadas oralmente pelos povos 
da região norte, seja pelos índios, seja pelas populações ribeirinhas. Durante longo tempo a 
literatura amazonense retratou com destaque essa realidade interiorana. Autores como 
Monteiro Lobato e Ziraldo se utilizaram das histórias e personagens da cultura amazônica, 
respectivamente no Sítio do Picapau Amarelo e na Turma do Pererê. 
Contudo, a região amazônica não compreende somente a grande floresta ou o folclore, 
representado em grande escala pelos contos indígenas. O ciclo da borracha, por exemplo, é o 
pano de fundo para diversos romancistas amazonenses da primeira metade do século XX. As 
questões do homem, da sua dignidade e as injustiças sociais acerca da exploração extrativista 
na Amazônia são retratadas com relevância no romance Terra de Ninguém, do escritor 
Francisco Galvão e publicado em 1934. 
Décadas depois, escritores como Arthur Engrácio (1928-1997) dividiriam o interesse pelas 
tradições populares e regionais com narrativas cujo tom de denúncia social marcava suas 
obras. 
Em 1954, foi fundado pelo poeta Jorge Tufic, entre outros artistas, o Clube da Madrugada, 
importante grupo de escritores de vanguarda artística que tinham como objetivo modernizar a 
arte e a literatura no Amazonas, em conexão com as novas ideias surgidas no país a partir do 
movimento modernista. A partir do final da década de 60 do último século, Manaus sofre 
grandes transformações culturais, econômicas e sociais, sobretudo a partir da instalação da 
Zona Franca. Este cotidiano ‗das cidades‘ começa a se refletir na literatura da região. 
Cultura Popular e Literatura Acadêmica 
―Específico da natureza humana, isto é, o desenvolvimento autônomo da razão na 
compreensão dos homens, da natureza e da sociedade para criar uma ordem superior 
(civilizada) contra a ignorância e a superstição.‖ (CHAUÍ, 1986, p.13) 
Podemos refletir sobre a realidade urbana, tradicionalmente elitista e acadêmica. A cidade é o 
―celeiro‖ dos intelectuais, portanto o deslocamento das atenções do interior selvático, mítico 
para a zona urbana racional, intelectualizada, originou uma nova e proeminente face da 
cultura literária da região norte. 
No nosso imaginário, a Amazônia ainda é totalmente verde, porém, a cultura erudita está 
consolidada na região, o que nos exige reconhecer que as lendas e o folclore característicos 
da cultura popular já dividem espaço com a poesia e com a prosa da literatura acadêmica. 
Atualmente a nova geração de escritores amazonenses tem como seu representante mais 
célebre o escritor MiltonHatoum, vencedor de diversos prêmios. 
Região Sudeste 
As origens do movimento denominado Trovismo encontram-se na literatura oral, isto é, nas 
raízes mais sólidas da cultura literária popular. 
Muito antes que fossem desenvolvidos os sistemas de escrita o homem já contava histórias, 
prática comum em todo tipo de sociedade. Com o advento da imprensa e a democratização da 
leitura a oralidade perdeu prestígio, sobretudo nos centros urbanos. 
Até a primeira metade do século XX, período em que não havia rádio ou televisão, as pessoas 
costumavam se divertir em reuniões com seus familiares. Um dos entretenimentos era a 
narração de histórias, não raro baseadas em repertórios folclóricos. 
As histórias podiam ser narradas em forma de versos ou de prosa, contadas ou cantadas 
geralmente pelos mais velhos. Dona Benta, personagem de Monteiro Lobato, é um exemplo 
da avó (anciã) que guarda na memória um vasto repertório de narrativas fantásticas. 
Na fronteira entre os narradores da literatura oral e a literatura letrada estão os 
pesquisadores, que buscam registrar as manifestações populares orais. No caso das trovas, 
podem ser cantadas por um indivíduo do povo, que para expressar seus sentimentos utiliza-se 
da poesia. 
No livro Origem Capixaba da Trova, o escritor e acadêmico capixaba Clério José Borges relata 
historicamente alguns fatos importantes para a fixação e estudo das trovas. 
―O primeiro coletor das chamadas Trovas Populares em terras capixabas (...) foi o primeiro 
Governador Republicano, Afonso Cláudio de Freitas Rosa, que publicou no Rio de Janeiro, em 
1921, o livro Trovas e Cantares Capixabas, no qual reuniu 21 Trovas‖. 
Segundo Clério Borges, a Revista Vida Capixaba passa a ser o principal divulgador dos poetas 
do trovismo, divulgando seus trabalhos ao lado de matérias políticas e sociais da época. 
Notem a intervenção na cultura popular de representantes da cultura erudita. 
Em 1949, o professor Guilherme Santos Neve publica o livro ―Cancioneiro Capixaba de Trovas 
Populares‖, onde reúne mil Trovas: 
―Quem me dera estar agora 
onde está meu pensamento: 
Na cidade de Vitória, 
na ladeira do Convento.‖ 
 
―Minha mãe não quer que coma 
muquequinha de siri. 
O meu pai não quer que eu case 
com rapaz de Itaquari‖. 
 
Guilherme Santos Neves 
Um dos Membros da Academia Espírito-santense de Letras, foi um dos mais importantes 
pesquisadores do Folclore capixaba. 
Região Sul 
Rio Grande do Sul 
A literatura regional popular no Rio Grande do Sul tem semelhanças e uma evidente 
identificação com a de outras regiões do país. A poesia gauchesca, assim como a nordestina, 
está originalmente vinculada à música, à dança, à glosa e outros jogos de trovar. 
Existem pelo menos dois tipos de poesia popular no Rio Grande do sul: as ―décimas‖ e as 
―quadrinhas‖. A primeira resulta em longas narrativas de aventura, a segunda em quadrinhas 
cantadas, chamadas de versos decorados, opondo-se aos versos de improviso, esta ―a 
principal forma de trova campeira no Rio Grande.‖, segundo o historiador e folclorista Barbosa 
Lessa. 
Exemplo de quadrinha: 
Bote uma linha no começo. 
Mais outra, pra dar a rima. 
E depois duas, que nada 
Têm a ver com as de cima 
LESSA, Barbosa. História do chimarrão. Rio Grande do Sul: Sulinas, ANO) 
Região Centro-Oeste 
Mascarados 
 
Saiu o Semeador a semear 
Semeou o dia todo 
e a noite o apanhou ainda 
com as mãos cheias de sementes. 
Ele semeava tranquilo 
sem pensar na colheita 
porque muito tinha colhido 
do que outros semearam. 
Jovem, seja você esse semeador 
Semeia com otimismo 
Semeia com idealismo 
as sementes vivas 
da Paz e da Justiça. 
 
Concentraremos a literatura popular da região centro-oeste em um nome: Cora Coralina. 
Os poucos anos de escolaridade formal não impediram que o Brasil conhecesse a poesia 
delicada, de palavras precisas da artista mais reverenciada da lírica do centro-oeste. Ana Lins 
dos Guimarães Peixoto Bretas, a Cora Coralina, escrevia desde os treze anos, fundou um 
jornal literário em Goiás aos dezessete anos com as amigas Leodegária de Jesus, Rosa 
Godinho e Alice Santana, mas só alcançou o sucesso nacional na década de 80, quando Carlos 
Drummond de Andrade a parabeniza publicamente, em uma carta com muitos elogios ao livro 
Vintém de Cobre - Meias Confissões de Aninha: 
―Minha querida amiga Cora Coralina: Seu "Vintém de Cobre" é, para mim, moeda de ouro, e 
de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e 
comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que 
sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos 
pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia ( ...)." 
(Vintém de cobre - Meias confissões de Aninha. São Paulo: Global Editora, 2001, p. 174.) 
AULA 7 – INDÚSTRIA CULTURAL: REGIONALISMO E GLOBALIZAÇÃO 
“Ser ou Não Ser...” 
O tema da identidade é muito conhecido no universo dos quadrinhos, no tocante aos super-
heróis. É provável que você conheça a célebre expressão ―identidade secreta‖, típica de alguns 
heróis mais populares como Batman, Mulher Maravilha, e, entre os nem tão conhecidos, como 
Spawn. 
Estes heróis são, em geral, justiceiros, que capturam bandidos, muitas vezes, sem a 
autorização legal do Estado. 
Além disso, precisam manter em segurança seus entes queridos e a si mesmos, 
principalmente quando não estão agindo com a proteção dos uniformes. Por estes e outros 
motivos escondem suas respectivas identidades, ocultando-se com máscaras ou outros 
artifícios. 
Embora a frase ―Ser ou não ser, eis a questão‖ tenha se notabilizado, Shakespeare não foi o 
precursor das questões sobre identidade. Os gregos (eles, novamente), mais especificamente 
os filósofos das questões humanas, como Sócrates, Platão e Aristóteles se preocuparam muito 
com isso. ―O que o ser humano é?‖, ―O que nós somos?‖ Estas eram reflexões freqüentes 
entre os pensadores. 
Édipo Rei é uma viagem trágica ao autoconhecimento. 
Porém, na frase do bardo inglês há uma questão lógica, ainda fruto de debates teóricos. Não 
se pode ser e não se ao mesmo tempo. 
Quando afirmamos: ―somos brasileiros‖, dizemos implicitamente que não somos americanos, 
gregos ou finlandeses. O vocábulo ―brasileiro‖ traz uma série de significações agregadas a ele 
ao longo da história. A identidade implica sua diferença em relação a outras coisas. O mesmo 
acontece com comunidades. 
Quando Patativa do Assaré afirma ser lavrador e não poeta, ele nega a cidade e os costumes 
de uma intelectualidade dominante, ambas díspares, sem equivalências com a sua identidade 
rural. Eu sou do campo, portanto: “não sou da cidade”. 
Antônio Gonçalves da Silva, Patativa do Assaré, que se autointitulava lavrador, é um poeta 
com um tópico da ementa da disciplina Literatura Popular Universal, especialmente dedicado a 
ele, na Universidade de Sorbone. 
Enfim, nestes casos identificamos ―identidade‖ com essa antiga questão da Filosofia: 
Quem sou? 
Saber quem somos nos remete à máxima do Oráculo de Delfos: ―Conhece-te a ti mesmo!‖ 
Contudo, o conceito é bem mais complexo e envolve uma série de debates entre os mais 
variados pensadores ao longo da história da Filosofia. 
Identidade Nacional 
Se, em face do resto da cultura, ―uma língua é o seu resultado ou súmula; o meio para ela 
operar; a condição para ela subsistir‖ (Mattoso Câmara, 1969a.22), cada língua natural é um 
microcosmo do macrocosmo que é o total da cultura dessa sociedade. (LOPES, 1993, p. 21) 
Falar em identidade nacional é, sem dúvida, complexo, até porque o conceito denação é 
bastante recente. 
A fim de observarmos o conceito ―identidade nacional‖, devemos atentar para a sua relevância 
nos domínios socioeconômicos, políticos e, claro, culturais e considerarmos a ―nação‖ como 
parte de uma determinada cultura, conforme observam alguns autores como Hobesbawn 
(2002). 
Desde muito tempo somos acostumados a ouvir expressões como ―O Brasil é o país do futuro‖ 
que, de tão massificadas, integram até letras de música do rock nacional, como em Duas 
tribos, do Legião Urbana: 
―Eu tenho autorama 
Eu tenho Hanna-Barbera 
Eu tenho pêra, uva e maçã 
Eu tenho Guanabara 
E modelos revell 
O Brasil é o país do futuro 
O Brasil é o país do futuro 
O Brasil é o país do futuro 
O Brasil é o país 
Em toda e qualquer situação‖ 
Também sabemos que nosso país, colonizado pelos portugueses, teve sua população indígena 
quase completamente dizimada pelos europeus que aqui se estabeleceram. Falar em 
colonização, desde os tempos da Antiguidade, implica falar sobre domínio da cultura mais 
forte, que se estabelece pela força de suas armas. Portanto, a integração entre os italiotas, os 
portugueses e os diversos imigrantes que aqui aportaram não foi nem um pouco simples ou 
pacífica. 
Hoje em dia, assim como os romanos dominaram os godos, visigodos e lusitanos, as grandes 
economias moldam o mundo segundo seus próprios valores e, com isso, povos, idiomas e 
costumes são ―engolidos‖ pelo ―rolo compressor‖ homogeneizante das civilizações do bloco 
das macroeconomias. 
Esse processo longo, complexo e sangrento de formação, que resultou em uma maioria da 
população bastante prejudicada economicamente, desde os tempos do Brasil colônia, 
contribuiu significativamente para que se propagasse uma espécie de propaganda de um país 
que será, poderá e realizará. Todos os verbos no futuro. Propagandas militares evidenciam 
isso há muito tempo! 
E qual é, de fato, nossa identidade? Quem somos? ―Que país é esse?‖ 
Podemos fazer essa pergunta a diversos brasileiros, oriundos das mais distintas 
miscigenações, e as respostas podem ser muito diferentes. 
Por exemplo, um índio da comunidade Mbyá Guarani, localizada em Santa Catarina, 
certamente dará uma resposta bastante distinta de um descendente de norte-americanos – 
você leu corretamente, isso mesmo, no nosso país há uma significativa parcela de netos de 
americanos que chegaram aqui após a Guerra Civil Americana, no século retrasado. 
Cada um de nós possui uma vivência de ser brasileiro. Os índios Mbyá Guarani lutam pela 
manutenção de sua identidade individual, de sua cultura, assim como os brasileiros 
descendentes de americanos também. Em Piracicaba, em Americana e em outras cidades do 
interior paulista, todos os anos há comemorações relacionadas às tradições estadunidenses. 
As comemorações, as histórias contadas de geração em geração compõem o mosaico 
pluralíssimo da tela da nossa cultura. Segundo Maria Luiz Rovisco: 
―Grande parte dos estudos sobre nacionalismo, cultura nacional e identidade nacional 
inscreve-se numa perspectiva que procura entender de que modo as ‗narrativas da nação‘ 
contribuem para a promoção da homogeneidade cultural no seio da Estado-nação, 
reconhecendo-lhes um papel fundamental na construção da identidade nacional‖. 
Indústria Cultural 
Elaborado pelos sociólogos alemães Theodor Adorno (1903 - 1969) e Max Horkheimer (1895 - 
1973), o termo INDÚSTRIA CULTURAL foi mencionado originalmente no ensaio intitulado A 
Dialética do Esclarecimento, escrito em 1942, mas publicado somente cinco anos depois. 
Historicamente, não há novidade no fenômeno pesquisado por Adorno e Horkheimer, 
considerando-o sob o aspecto da relação de apropriação da cultura popular pela classe 
dominante. Quando pensamos na era barroca nas artes, imediatamente selecionamos 
imagens sacras. Se nos referimos ao barroco brasileiro, imaginamos Vila Rica, Ouro Preto, 
Aleijadinho, como se a arte barroca fosse esta, essencialmente eclesiástica ou caracterizada 
unicamente pela complexa e rica ornamentação das igrejas típicas do período. 
A pop art se apropriou de elementos da cultura de massa, tais como as celebridades e 
embalagens de produtos conhecidos, e os transformou em objetos artísticos, resignificando-
os. 
Estudos sobre a relação entre o Barroco e o Classicismo apontam para dados importantes, 
entre eles, o fato de que a arte barroca não poderia ser religiosa, e, consequentemente, 
vinculada essencialmente às elites feudais, uma vez que era uma arte ―acentuadamente 
realista e popular‖, com afirma o português Vitor Manuel de Aguiar e Silva, renomado 
professor de Teoria da Literatura. 
Portanto, se considerarmos a cultura barroca como a que vemos nas igrejas, é certo que o 
clero incorporou determinadas características, antes populares da estética barroca, para 
elaborar uma arte de impacto, de transfiguração, sempre servindo aos propósitos ideológicos 
e dogmáticos da religião. 
Retomando os séculos XX e XXI, semelhante fenômeno ocorre com a cultura popular no 
contexto do capitalismo contemporâneo. Notamos que, em relação ao Samba e, por 
conseguinte, ao carnaval, existem questões polêmicas vinculadas diretamente à indústria do 
entretenimento. 
Uma delas é a gradual exclusão das passistas que pertencem às comunidades representadas 
nos desfiles, privilegiando o ingresso das denominadas ―celebridades‖, mulheres prestigiadas 
pelas mídias, sobretudo revistas e televisão. 
Não nos cabe julgar o ingresso de celebridades nos desfiles de carnaval, pois seria uma 
discriminação às avessas, mas identificar a interferência e as transformações estrategicamente 
provocadas pelos donos do capital (a elite) nos setores da sociedade que antes eram legítimas 
manifestações da cultura popular. 
Adorno, em sua crítica ao conceito de ―cultura de massa‖, considera a expressão inadequada, 
ilusória, no sentido de nos fazer pensar na cultura de massa como própria do povo, 
espontaneamente por ele produzida. Todos os programas da televisão (aberta) se utilizam do 
mesmo discurso, declarando que ―tal arte é a do povo‖, ou ―que o povo gosta porque é a que 
o povo entende‖. Assim, ficam evidentes os interesses comerciais que estão em jogo. 
Segundo Adorno, esta cultura não é da massa, mas é fabricada para ela, ou seja, para o 
maior número de consumidores possível. 
Para a indústria cultural, não existe povo, mas consumidores em potencial. E as mídias 
―populares‖ são o veículo por excelência dessa ideologia do lucro imediato. Harry Potter e os 
livros de Agatha Christie são exemplos de obras muito bem-sucedidas na literatura. 
As Fine Art Barbies são um exemplo da dessacralização da arte, conceito fundamentado por 
W. Benjamin. 
Indústria Cultural e Literatura Regional Popular 
Entre as diversas manifestações da literatura popular regional, a literatura de cordel é a única 
relativamente conhecida e divulgada. Atualmente, o cordel é a referência em literatura 
popular, porém todo o restante carece seriamente de documentação, pesquisa e divulgação. 
Uma das funções da literatura, como de todas as artes, é de estimular indagações. Mas, como 
abordou Walter Benjamim, tal função torna-se impraticável num contexto em que os 
representantes do capital se apoderam dos meios de cultura e das mídias, e nesta veiculam 
seus produtos e negócios. 
O interesse da indústria cultural é prático e imediato: gerar necessidades de consumo, ou tudo 
que favoreça as práticas lucrativas. Fica só uma pergunta: é possível estabelecer limites para 
a dominação e a influência exercidas pela indústria cultural sobre as liberdades de escolha? 
AULA 8 – A LITERATURA POPULAR NO BRASIL 
A literatura como conhecemos atualmente nem sempre existiu. Os poetas da antiguidadee da 
era medieval cantavam ou escreviam seus versos sem qualquer noção de que estavam 
produzindo ou que séculos depois seria classificado como tal. 
Nas aulas anteriores, vimos que cultura popular é o resultado de uma interação entre pessoas 
de determinadas regiões, recobre um complexo de padrões de comportamento e crenças de 
um povo e nasceu da adaptação do homem ao ambiente onde vive e abrange inúmeras aréas 
de conhecimento: tradições, crenças e determinados hábitos, usos e costumes, o artesanato, 
o folclore, por exemplo. A cultura popular surge de costumes e tradições transmitidos de 
geração para geração. 
As origens da literatura popular nos levam à Europa, na Idade Média, quando o sistema de 
comunicação, assim como as manifestações culturais eram dominadas pela Igreja. Nessa 
época o idioma oficial era o latim, no entanto, esse idioma só era acessível a pouquíssimos 
letrados. 
O povo dominava o dialeto das províncias romanas locais, ou seja, o falar da sua própria 
localidade. O latim ficava restrito aos poucos letrados e, claro, o povo possuía suas 
manifestações artísticas, suas lendas e sua história, independentes do idioma que lhes era 
imposto. 
Saltério (instrumento medieval de cordas pinçadas) de Henrique V. 
A beata Hildegard von Bingen (1098-1179) escreveu a antífona Nunc gaudeant materna na 
coletânea Symphoniae harmoniae celestium revelationum, manifestação artística d classe 
culturalmente dominante na Idade Média. 
Surgem, então, as primeiras manifestações da literatura popular como uma espécie de 
oposição à cultura eclesiástica. O que se produzia em termos literários era essencialmente 
religioso e escrito em latim, mas as manifestações populares eram cantadas/contadas e 
escritas – quando escritas - nos idiomas das localidades que, na época, eram protoidiomas - 
versões arcaicas de idiomas como o francês, italiano e português. 
Exemplo de uma dessas cantigas: 
―Pois naci nunca vi amor 
E ouço del sempre falar. 
Pero sei que me quer matar 
Mais rogarei a mia senhor 
Que me mostr' aquel matador 
Ou que m'ampare del melhor.‖ 
Love Song é uma cantiga de amor do século XIII composta por Nuno Fernandes Torneol e 
cantada pelo grupo Legião Urbana. É a música de abertura do álbum Legião Urbana V. 
A produção popular, nessa época, tinha como principal modalidade a poesia, a trova. Os 
menestréis, trovadores e jograis eram poetas que cantavam as tradições, as dores e os 
amores de seus povos e que muitas vezes também viajavam de uma localidade à outra, o que 
enriquecia seu repertório. 
As cantigas e as trovas eram muito apreciadas nas camadas mais ou menos abastadas e o 
tema mais recorrente eram as histórias de amores impossíveis, que muitas vezes eram 
disfarçados sob o véu da religiosidade, como a cantiga composta pelo rei Afonso X de Castela, 
conhecido como Afonso, o Sábio: 
Cantigas de Santa Maria 
(Rosa das rosas e fror das frores) 
Esta dezea é de loor de Santa Maria, com' é fremosa e bõa e há gram poder. 
 
Rosa das rosas e fror das frores, 
dona das donas, senhor das senhores. 
 
Rosa de beldad' e de parecer 
e fror d' alegria e de prazer, 
dona em mui piadosa seer, 
senhor em tolher coitas e doores. 
 
Rosa das rosas e fror das frores, 
dona das donas, senhor das senhores. 
Atal senhor dev' home muit' amar, 
que de todo mal o pode guardar; 
e pode-lh' os pecados perdõar, 
que faz no mundo per maos sabores. 
 
Rosa das rosas e fror das frores, 
dona das donas, senhor das senhores. 
 
Devemo-la muit' amar e servir, 
ca punha de nos guardar de falir; 
des i, dos erros nos faz repentir, 
que nós fazemos come pecadores. 
 
Rosa das rosas e fror das frores, 
dona das donas, senhor das senhores. 
 
Esta dona que tenho por senhor 
e de que quero seer trobador, 
se eu per rem poss' haver seu amor, 
dou ao demo os outros amores. 
Rosa das rosas e fror das frores, 
dona das donas, senhor das senhores. 
 
As origens da literatura popular podem até estar na Idade Média, mas foi só no final do século 
XVIII que se começou a separar a literatura feita pelo povo e a literatura de elite. A criação da 
imprensa foi fundamental para que se registrassem as produções. 
Na Europa a imprensa já era uma realidade relativamente acessível a quase todas as classes 
sociais, mas no Brasil não aconteceu dessa forma. Somente no século XX a impressão se 
tornou realidade e, com isso, as primeiras manifestações literárias do povo começaram a 
surgir. 
A xilogravura popular é, de certo modo, uma permanência do traço medieval da cultura 
portuguesa transplantada para o Brasil e que se desenvolveu na literatura de cordel. 
Literatura de Cordel 
No Brasil, a vertente mais representativa da literatura popular é o cordel. Nas próximas aulas, 
exploraremos mais esse tipo de lírica, bem como a narrativa popular, modalidades tão 
relevantes da vertente popular da literatura do Brasil. 
Mas, por hora, introduziremos três nomes importantes da literatura cordelística, para que 
tomemos conhecimento dessa manifestação cultural e apreciemos um pouco da sua grande 
produção. 
Mestres do Cordel 
 Ariano Suassuna 
Representante mais célebre da prosa e do teatro populares do Brasil, tem formação 
acadêmica, membro da Academia Brasileira de Letras e um ávido leitor de escritores eruditos, 
uma das maiores preocupações de Ariano Suassuna é valorizar a cultura popular brasileira. E 
esse objetivo se reflete em toda a sua obra. Suassuna é o tipo de mediador ideal entre as 
duas culturas, a popular e a erudita. Já teve inúmeras de suas obras adaptadas para cinema e 
televisão, dentre elas a minissérie de grande sucesso O auto da Compadecida. 
 Leandro Gomes de Barros 
Considerado o precursor da literatura de cordel no Brasil e um dos mais importantes 
cordelistas, escreveu centenas de obras. Vendeu seus versos para os mais diferentes tipos 
populares: sertanejos, vaqueiros, cangaceiros, etc. Diversos episódios do Auto da 
Compadecida, de Ariano Suassuna, foram inspirados na obra de Leandro Gomes de Barros. 
 Antônio Viera 
Seguindo uma tradição da legítima arte popular, o cordelista baiano Antônio Viera além de 
poeta é músico. Em sua obra ―O Cordel Remoçado‖ integra música e literatura popular, numa 
narrativa em que o foco é a sua cultura, isto é, os costumes e as tradições nordestinas. 
Assim como Ariano Suassuna, Antônio Vieira é um assíduo frequentador de palestras em 
universidades, além de ministrar cursos. É reconhecido internacionalmente, sobretudo em 
Portugal. No Brasil, foi diplomado como membro da Academia de Cultura da Bahia. 
De Antonio Vieira: 
―... Os nomes dos poetas populares 
Deveriam estar na boca do povo 
No contexto de uma sala de aula 
Não estarem esses nomes me dá pena 
A escola devia ensinar 
Pro aluno não me achar um bobo 
Sem saber que os nomes que eu louvo 
São vates de muitas qualidades. 
O aluno devia bater palma 
Saber de cada um o nome todo 
Se sentir satisfeito e orgulhoso 
E falar deles para os de menor idade 
Os nomes dos poetas populares.‖ 
Algumas curiosidades sobre Antônio Vieira: 
 ―Gravou o Cd ―O Cordel remoçado‖, gravou um especial para a TVE-Bahia com 
entrevista e performance do show ―O Cordel Remoçado‖.‖ 
 ―Maria Bethania, em seu CD ―Pirata‖, declama uma poesia do cordelista de Santo 
Amaro da Purificação, Antônio Vieira que, mais do que muitas palavras, coloca o 
assunto em seu devido lugar, o lugar dos poetas populares...‖ 
AULA 9 – LÍRICA POPULAR: A LITERATURA DE CORDEL 
O cordel, também conhecido no nosso país como folheto, é um gênero literário popular escrito 
comumente sob a forma de rima,cuja origem, como já vimos, parte de relatos da cultura oral. 
Embora possamos afirmar que sua origem remonta à Antiguidade dos fenícios, gregos e 
romanos, a forma como é conhecida hoje, com os folhetos, remonta ao século XVI, quando o 
Renascimento popularizou a impressão de relatos orais. 
Na Península Ibérica, recebeu os nomes de pliegos sueltos, na Espanha, e folhas soltas ou 
volantes, em Portugal. O nome Literatura de Cordel1 tem origem na forma como 
tradicionalmente os folhetos eram expostos para venda, pendurados em cordas, cordéis ou 
barbantes em Portugal, mas, no Brasil, o folheto pode ou não estar exposto em barbantes. 
1 Um pouco da história do cordel no Brasil 
―Na época dos povos conquistadores greco-romanos, fenícios, cartagineses, saxões etc., a 
literatura de cordel já existia, tendo chegado à Península Ibérica (Portugal e Espanha) por 
volta do século XVI. Na Península, a literatura de cordel recebeu os nomes de ‗plegios sueltos‘ 
(Espanha) e ‗folhas soltas‘ou ‗volantes‘ (Portugal). 
Florescentes, principalmente, na área que se estende da Bahia ao Maranhão, esta maravilhosa 
manifestação da inteligência brasileira merecerá, no futuro, um estudo mais profundo e 
criterioso de suas peculiaridades.‖ 
A maior parte das obras é ilustrada com xilogravuras e, em relação à estrutura dos poemas, 
as estrofes mais comuns são as de dez, oito ou seis versos, que são recitados de forma 
melódica, por vezes acompanhados de instrumentos como a viola caipira. 
A literatura de cordel é predominantemente escrita nos folhetos, nos cordéis. Os folhetos 
sempre foram utilizados na literatura de cordel como uma opção barata e prática de 
distribuição do material poético. Entre os séculos XV e XVI os cordéis também apresentavam 
outros gêneros literários, como o teatro. As peças de Gil Vicente chegaram a ser produzidas 
com este material. Na segunda metade do século XIX, temos as primeiras impressões de 
cordéis no Brasil, com características genuinamente brasileiras. 
Cuíca1 de Santo Amaro (1907-1964), o ―Trovador da Bahia‖, poderia ser conhecido como 
Trombeta de Santo Amaro, pois seus versos retratavam com aguçado sarcasmo a realidade 
social e política de Salvador e do mundo entre 1940 e 1960. Atuou em ―A Grande Feira‖, filme 
dirigido por Roberto Pires. O filme ―O Pagador de Promessas‖, foi inspirado em Cuíca de Santo 
Amaro. 
1 Palavras de Jorge Amado sobre Cuíca: ―Não pense o visitante que ele seja apenas um tipo 
de rua, figura popular e risível. É bem mais que isso. É a voz do povo trabalhando que, não 
encontrando ressonância nos poetas modernos, e tendo sede de poesia, cria seu bardo pobre 
e semianalfabeto. Os poetas estão nos bares inventando sonetos de rimas milionárias ou 
quebrando a cabeça em ritmos novos para poemas exotéricos. Só Cuíca de Santo Amaro canta 
para o povo pobre. Quando o forasteiro passar por ele, talvez a figura e a voz do trovador 
mereçam apenas um sorriso dos seus lábios civilizados. Mas, que importa? O povo não sorri 
do poeta. Ri e sofre com ele, combate e tem esperança!‖. 
A nossa produção é predominantemente nordestina, mas outros estados também possuem 
produção de cordéis e o gênero tem multiplicado sua produção ao longo dos anos, sobretudo 
após a criação da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, em 1988. Os próprios autores1 
costumam comercializar a produção de sua obra, que geralmente é vendida em feiras 
culturais, casas de cultura, livrarias e nas apresentações dos cordelistas. 
1 José Luis Borges (n.1935), ou J. Borges, é um renomado xilogravador e cordelista 
pernambucano, seu trabalho é reconhecido internacionalmente. 
―José Francisco Borges, J.Borges, como é conhecido mundialmente, é um dos mestres da 
literatura de cordel, um dos artistas folclóricos mais celebrados da América Latina e o 
xilogravurista brasileiro mais reconhecido do mundo.‖ 
O cordel tem um importante papel na cultura brasileira. É incontável o número de pessoas que 
aprenderam a ler através dos lúdicos folhetinhos, cujo papel social ultrapassa a importante 
função de aproximar os ouvintes em torno de uma boa história, mas chega até a reflexão 
sociopolítica de acontecimentos contemporâneos e históricos através de seus versos. Muitos 
brasileiros não teriam outra oportunidade de discutir temas políticos e filosóficos se não 
através dos folhetins poéticos do cordel. 
A xilogravura é a técnica mais tradicional de ilustração dos cordéis. 
O Tema da Literatura de Cordel e Alguns Cordelistas 
Os temas abordados pela poesia de cordel incluem fatos do cotidiano, episódios históricos, 
temas religiosos, entre muitos outros. 
A temática das tradições, lendas e cultura nordestina são amplamente abordadas e a seca é 
um tema recorrente. 
Uma de suas principais características é a manifestação da opinião do autor a respeito de algo 
dentro da sua sociedade. 
As xilogravuras ilustram o cordel e representam um registro considerável do imaginário 
artístico popular. 
Com tema bastante recorrente, os cangaceiros encarnavam um ideal de justiça numa época 
em que os coronéis eram os senhores absolutos representando a figura principal do opressor 
do povo. 
Com o fim do cangaço, surgiram heróis da ficção como Rufino, o Rei do Barulho, José de 
Souza Leão e Antônio Cobra-Choca, sempre em papéis de vingadores das injustiças de que 
eram vítimas os mais humildes, os homens do povo. 
Lampião, Padre Cícero, Getúlio Vargas e Frei Damião foram, e continuam fazendo parte da 
cultura do homem simples, portanto são biografados pelos poetas populares, intérpretes do 
inconsciente coletivo até os dias de hoje e suas façanhas são alguns dos assuntos de cordéis 
que tiveram maior tiragem desde sempre. 
Nos dias atuais, o ex-presidente Lula, um nordestino de origem humilde que chegou à 
presidência do país, é um tema de bastante sucesso. Não há limite para a criação de temas 
dos folhetos. Praticamente todo e qualquer assunto pode virar poesia. 
O Romance do pavão misterioso, de José Camelo de Melo Resende, é considerada a obra mais 
vendida do Cordel de todos os tempos, com milhões de exemplares vendidos em quase 
oitenta anos de edições e reimpressões ininterruptas. 
Leandro Gomes de Barros (1865-1918) foi um dos mais produtivos e publicados poetas 
populares, pioneiro do cordel no Brasil. Ainda é um dos cordelistas mais lidos, cantados e 
reverenciados. 
Os primeiros cordelistas da história são Manoel Riachão ou Mergulhão e Leandro Gomes de 
Barros. Este, nascido no dia 19 de novembro de 1865, teria escrito a Peleja de Manoel 
Riachão com o Diabo, nos fins do século XIX. 
Sua afirmação, na última estrofe da obra, é um documento muito importante da literatura 
popular do Brasil, pois evidencia a não contemporaneidade do Riachão com o rei dos autores 
da literatura de cordel. São muitos os autores que contribuem para esse tipo de literatura: 
Viana, Rouxinol do Rinaré, Manoel Monteiro, Moreira de Acopiara, Marco Haurélio, Arievaldo 
Viana, João Gomes de Sá, Varneci Nascimento, Evaristo Geraldo, Janduhy Dantas, José 
Honório e Antônio Barreto e muitos outros. 
―Um cabra de Lampião 
Chamado Pilão Deitado 
 
Que morreu numa trincheira 
Num certo tempo passado 
Agora pelo sertão 
Anda correndo visão 
Fazendo mal-assombrado. 
(A Chegada de Lampião no Inferno, de José Pacheco da Rocha) 
AULA 10 – A LITERATURA POPULAR E OS CENTROS ACADÊMICOS NO 
BRASIL 
A literatura de cordel, por Carlos Drummond de Andrade: 
―A poesia de cordel é uma das manifestações mais puras do espírito inventivo, do senso de 
humor e da capacidade crítica do povo brasileiro, em suas camadas modestas do interior. O 
poeta cordelista exprime com felicidade aquilo que seus companheiros de vida e de classe 
econômica

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