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(2) semiotica e semiose

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1
SEMIÓTICA E SEMIOSE 
 
Este texto foi produzido com recortes do artigo “A Semiótica Geral de Peirce e a Idéia de Semiose” de 
Eluiza Bortolotto Ghizzi (UFMS, 2000). O tema aqui desenvolvido está dentro da “Fenomenologia”, 
como foi pensada e apresentada por Charles Sanders Peirce, ou seja, um campo que estuda o modo 
como as coisas aparecem na consciência, independente de sua condição de realidade. Para tanto, 
foram propostas as grandes classes ou categorias peirceanas que são: 
 
1. Primeiridade. 
A primeira categoria traz em si a idéia de primeiro: “A própria palavra primeiro sugere que sob esta 
categoria não há outro”. À idéia de primeiro também está associada à de liberdade. “Livre é aquilo 
que não tem outro atrás de si determinando suas ações...”. A liberdade da primeiridade é 
exemplarmente caracterizada quando adentramos o mundo da Arte. Não é uma experiência 
incomum, diante de uma pintura, uma música, uma peça de teatro, uma obra arquitetônica, uma 
paisagem ... devanearmos. No próprio momento deste devaneio, parece haver um sentimento de total 
liberdade da mente a vagar por um mundo de múltiplas possibilidades. Como se estivéssemos 
vivenciando uma fusão da mente com aquele objeto e com ele formássemos uma unidade. 
Em que consistiu aquele momento não podemos precisar exatamente, apenas representá-lo de 
alguma forma em nossa mente, como pura indeterminação, qualquer que tenha sido o objeto de 
nosso devaneio. É evidente que quando isso ocorre, aquele estado já se foi e um outro momento 
presente tem lugar. Àquele estado de consciência, Peirce denomina primeiridade e a pura 
presentidade é uma das idéias típicas a ele associadas: 
 
Este estado de consciência de experienciar uma mera qualidade, como uma cor ou um som, 
caracteriza-se por ser uma experiência imediata em que não há, para esta mesma consciência, 
fluxo de tempo. [...] Ela é uma consciência que, por ser o que é sem referência a mais nada, está 
absolutamente no presente, na sua ruptura com passado e futuro. 
 
As qualidades - cor, som, cheiro, textura, alegria, fúria... -, quando sentidas pela mente no seu estado 
de primeiridade, não são percebidas como pertencentes a um objeto qualquer. A sensação de que 
esta qualidade existe em uma coisa que não ela mesma, já é própria da idéia de segundidade. 
 
2. Segundidade. 
Estamos no terreno da segunda categoria, quando àquela unidade na mente, segue-se uma 
sensação de dualidade, dada por algo que lhe é externo (segundo) e que se percebe associado 
àquela qualidade (primeira): “[...] a qualidade é apenas uma parte do fenômeno, visto que, para 
existir, a qualidade tem de estar encarnada numa matéria”. O vermelho é vermelho do sangue, da 
rosa; o que antes era pura impressão, é percebido como propriedade de alguma coisa. Esses fatos 
externos, que atingem nossos sentidos, estão ligados, portanto, às nossas sensações, e por esta 
razão consideramo-los como coisas reais. A nossa experiência de vida está repleta de fatos externos 
contra os quais estamos continuamente reagindo. Enquanto a consciência de primeiridade, associada 
à idéia de liberdade, transita sem discriminação pelas meras qualidades dos fenômenos, a 
consciência de segundidade é forçada a experienciar os fatos na sua característica reativa. 
Perceber este mundo que reage é confrontar-se com aquilo que opõe-se ao meramente aparente, 
imaginário, possível, potencial. É assim que esta experiência se dá como uma relação de ação e 
reação, vivida a um só tempo na consciência: 
 
Você tem esse tipo de consciência de uma maneira pura, com alguma aproximação, quando 
coloca seu ombro contra uma porta e tenta força-la a se abrir. Você tem um sentimento de 
resistência e, ao mesmo tempo, um sentido de esforço. Não pode haver resistência sem esforço; 
não pode existir esforço sem resistência. Eles são apenas dois modos de descrever a mesma 
experiência. É uma dupla consciência. 
 
 2
Este é o território próprio daquilo que efetivamente configura-se como alteridade, outro, que reage à 
nossa vontade. Outro, no fenômeno, é aquilo que, embora pensável, independe de ter sido pensado. 
Esta é a concepção peirceana de real: ele é justamente o que independe do que dele pensamos. 
 
Parece ser evidente que, desde nossa mais precoce experiência de estar no mundo, 
percebemos que o transcurso deste mesmo mundo não se sujeita à nossa vontade e, muitas 
vezes, contraria a idéia que dele fazemos. 
 
Neste território, está também “toda a experiência pretérita sobre a qual não se tem qualquer poder 
modificador”. Considere-se que cada evento de nossa vida passada na sua individualidade, reage 
também, contra a consciência, opondo-se à sua liberdade e determinando o rumo do seu 
pensamento, tal qual os objetos do mundo o fazem. 
É oportuno observar, já introduzindo a terceira categoria fenomenológica, que o conjunto de fatos 
individuais da nossa experiência passada, como colocado acima, difere de uma interpretação da 
nossa experiência passada. No primeiro caso, aquela experiência assume o modo de ser da segunda 
categoria (segundidade) e no segundo, o modo de ser da terceira categoria (terceiridade). Sob a 
segunda categoria, os fatos (passados) têm permanência e independência de nossa vontade. 
Independem do modo como os representamos: “Se você se queixar ao Passado que ele está errado 
e não é razoável, ele se rirá. Ele não confere a menor importância à Razão. Sua força é bruta”. 
Quando, entretanto, estes fatos particulares são interpretados em uma idéia geral do vivido, 
estamos sob o terreno da terceira categoria (terceiridade). 
 
3. Terceiridade. 
A terceira categoria traz a idéia de um terceiro mediador entre o primeiro e o segundo. A partir 
daquela relação (ação/reação), a mente tende a fazer uma mediação: “a experiência de mediar entre 
duas coisas traduz-se numa experiência de síntese, numa consciência sintetizadora”. Esta 
consciência sintetizadora interpõe, entre o primeiro e o segundo, uma idéia geral que os representa. 
“A terceira categoria é tal qual é por ser um Terceiro ou Meio entre um Segundo e seu Primeiro. [...] 
Terceiridade, como eu uso o termo, é apenas um sinônimo para Representação...”. A representação 
interpõe, entre aquela liberdade de consciência e os fatos, algo inteligível. Isso é da natureza do 
pensamento, que parece exercer sua natural tendência à mediação: 
 
Experienciar a síntese, [...] traz consigo o sentido de aprendizagem, de detecção de um novo 
conceito na consciência fazendo a mediação ser da natureza da cognição. Esta experiência 
como terceiro modo do fenômeno, traz, ao contrário das experiências imediatas de primeiro e 
segundo, um sentido de fluxo do tempo caracterizado na urdidura do processo de cognição. 
 
Como podemos ver, este momento em que nossa consciência representa uma experiência passada 
se dá em um processo na mente, que se caracteriza como um processo de cognição, como Ibri 
constata também aqui: “Todo fluxo de tempo envolve aprendizagem; e toda aprendizagem envolve 
fluxo de tempo”. Este sentido de fluxo de tempo que coloca idéia de aprendizagem como um 
processo no tempo corresponde também à idéia geral de evolução. 
O vínculo entre mediação (terceiro modo de ser fenomênico), aprendizado e evolução, como 
processos no tempo, fica mais evidente quando consideramos a continuidade do pensamento. A 
consciência de qualidade - sem qualquer relação ou análise - é primeira, a consciência do outro - que 
é real e que reage - é segunda, e a consciência sintetizadora - que aprende - é terceira. Tais estados 
da consciência participam de um processo que envolve fluxo de tempo. Não há dúvida que o curso da 
vida está repleto de experiências desta natureza e é evidente que tudo isto está de algum modo 
interligado. Para Peirce, isto só é possível porque há uma continuidade do pensamento. 
Vimos nesta passagempela Fenomenologia que qualquer fenômeno, interno ou externo, para ser 
compreendido, deve produzir uma representação mental ou idéia geral. Isto é da natureza do 
pensamento, que verificamos estar sob a terceira categoria. Cabe, aqui, salientar que os estados de 
consciência caracterizados na Fenomenologia não devem ser entendidos como isolados: enquanto 
pensamos, estamos simultânea e continuamente, sentindo e reagindo contra o mundo a nossa volta. 
 3
Prosseguindo, busquemos compreender melhor o que se pode entender por uma idéia geral e sua 
geração, bem como sua relação com aquilo que ela representa. Este propósito, entretanto, nos leva a 
passar da Fenomenologia à Semiótica. 
 
4. Semiótica. 
Lucia Santaella, no seu livro “O que é Semiótica”, escreve: “O nome Semiótica vem da raiz grega 
semeion, que quer dizer signo. Semiótica é a ciência dos signos”; e ainda “A Semiótica é a ciência 
geral de todas as linguagens”. Este paralelo entre signo e linguagem, entretanto, só poderá ser 
compreendido adequadamente se entendermos o termo linguagem do modo mais amplo possível e, 
principalmente, se não o restringirmos àquelas expressões por meio de palavras, verbalizadas ou 
escritas com base na língua de um povo. 
A Semiótica aplica-se, então, ao estudo da linguagem nas mais diversas áreas e aos seus processos 
significativos. Peirce não desenvolveu nenhuma semiótica aplicada, a exemplo de uma semiótica da 
arte ou mesmo da cultura. Pelo contrário, a ciência que desenvolveu é uma ciência abstrata, que se 
preocupou com os signos e os processos sígnicos de um modo geral e não com um ou outro em 
particular. E é exatamente esta sua generalidade que a torna apta a embasar investigações em 
campos tão diversos, como os mencionados por Nöth: 
 
Frente ao desenvolvimento de uma área de investigações que se estende da semiótica da 
arquitetura, da biosemiótica ou da cartosemiótica até a zoosemiótica, uma resposta possível e 
pluralista frente à questão [o que é semiótica?] é: a semiótica é a ciência dos signos e dos 
processos significativos (semiose) na natureza e na cultura. 
 
A escritura de Nöth reforça a idéia de que, em linhas gerais, a Semiótica não está apenas 
preocupada com a identificação dos tipos possíveis de signos, mas, também, com seus processos 
significativos ou com as semioses possíveis. É na idéia de semiose que Peirce localiza aquilo que 
chamou de ação do signo e que dá base para o entendimento de como, de um modo geral, as 
linguagens crescem. 
 
5. Signo. 
Frisamos este aspecto, ainda que vagamente, a fim de justificarmos porque, dentre tantas definições 
de signo formuladas por Peirce, elegemos para iniciar sua discussão exatamente aquela que 
Santaella considerou “a mais ricamente evidenciadora da trama lógica da semiose”: 
 
“Um signo intenta representar, em parte (pelo menos), um objeto que é, portanto, num certo 
sentido, a causa ou determinante do signo, mesmo que o signo represente o objeto falsamente. 
Mas dizer que ele representa seu objeto, implica que ele afete uma mente, de tal modo que, de 
certa maneira, determina naquela mente algo que é imediatamente devido ao objeto. Essa 
determinação da qual a causa imediata ou determinante é o signo e da qual a causa mediata é o 
objeto pode ser chamada de interpretante.” 
 
Entenda-se por signo algo que tem existência sempre na relação com uma mente receptora e não um 
objeto qualquer exterior a essa mente. O signo participa de um processo mental; é o modo pelo qual 
uma mente estabelece contato com as coisas do mundo. E um signo só pode ser signo se puder 
representar, estar no lugar de alguma coisa (seu objeto) para uma mente qualquer, ainda que 
falsamente. 
Guardemos da definição de Peirce, por enquanto, o seguinte: 1 - a idéia de que o signo só é signo se 
houver um objeto; 2 - que ele não é o objeto, mas um modo de manifestação deste; 3 - que ele só 
representa o objeto parcialmente (pois representar o objeto totalmente os faria iguais: signo = objeto); 
4 - para representar, o signo precisa de um intérprete (que não é necessariamente um indivíduo) e 5 - 
o signo deve causar, na mente desse intérprete, um processo que o relacione (signo - primeiro) com 
seu objeto (segundo), ou seja, ambos devem causar um interpretante (terceiro). 
 4
A fim de contribuirmos para a clareza destas idéias, é preciso conhecer qual é a concepção peirceana 
de objeto e de interpretante, e em que condições participam desta representação mental. Peirce 
referiu-se ao objeto do signo da seguinte maneira: 
 
Ora, por um objeto, sem especificar se é o objeto de um signo, ou da atenção, ou da visão 
etc. [...] eu quero dizer qualquer coisa que chega à mente em qualquer sentido; de modo que 
qualquer coisa que é mencionada ou sobre a qual se pensa é um objeto. 
e ainda,[...] deve-se considerar que o uso comum da palavra “objeto” como significando uma 
coisa é também incorreto. O nome objectum entrou em uso no século XIII como um termo da 
psicologia. Ele significa primariamente aquela criação da mente na sua relação com algo mais 
ou menos real, criação esta que se torna aquilo para o qual a cognição se dirige; e 
secundariamente um objeto é aquilo sobre o qual um esforço é desempenhado; também 
aquilo que está acoplado a algo numa relação, e mais especialmente, está representado 
como estando assim acoplado; também aquilo a que qualquer signo corresponde. 
 
 
6. A classificação dos signos. 
Peirce considerou dez classes de signos e as apresentou em séries de três, denominando-as de 
tricomias. A segunda tricotomia é a que divide os signos em: 1- ícones, 2- índices e 3- símbolos, 
conforme o signo se refere ao seu objeto dinâmico (referente): 
 
O Ícone não tem conexão dinâmica alguma com o objeto que representa; simplesmente 
acontece que suas qualidades se assemelham às do objeto e excitam sensações análogas 
na mente para a qual é uma semelhança. Mas, na verdade, não mantém conexão com elas. 
O índice está fisicamente conectado com seu objeto; formam ambos um par orgânico, porém 
a mente interpretante nada tem a ver com essa conexão, exceto o fato de registrá-la depois 
de ter sido estabelecida. O símbolo está conectado a seu objeto por força da idéia da mente-
que-usa-o-símbolo, sem a qual essa conexão não existiria. 
 
Os números 1, 2 e 3 devem sempre ser associados às três categorias fenomenológicas, primeiridade, 
segundidade e terceiridade. Uma regra acerca dos signos que podemos retirar da Fenomenologia 
está na noção de que aquilo que é primeiro pode prescindir do que é segundo e do que é terceiro. 
Aquilo que é segundo, por outro lado, pode prescindir do que é terceiro, mas não do que é primeiro, 
sem deixar de ser segundo. Aquilo que é terceiro, por sua vez, não pode prescindir nem do primeiro, 
nem do segundo, sem deixar de ser terceiro. Esta regra nos leva também ao seguinte: a apreensão 
dos signos de segundidade (2), pressupõe a dos signos de primeiridade (1); e a apreensão de um 
signo de terceiridade (3), pressupõe tanto a do signo de segundidade (2), quanto a do de primeiridade 
(1). 
A segunda das tricotomias é considerada por Peirce como “a divisão mais importante dos signos”, 
classificando-os em Ícones, Índices e Símbolos. “Baseada na categoria fundamental da segundidade, 
a segunda tricotomia descreve os signos sob o ponto de vista das relações entre representâmen e 
objeto (ou referente). [...] Os três elementos que a compõe são determinados conforme as três 
categorias fundamentais.” 
 
Ícone 
O ícone, como Peirce o descreveu, “é um Signo cuja virtude significante se deve apenas à sua 
qualidade” Sendo assim, ele mesmo é uma qualidade. 
Esta qualidade (que é um signo), entretanto, só pode estar no lugar de outra (seu objeto) por uma 
relação de semelhança. Se alguém, por exemplo, faz um círculo em um papel e não temos qualquer 
indicativoquanto ao que está se referindo, este círculo pode nos remeter à idéia de um sol, uma lua, 
uma bola ou à própria figura geométrica do círculo. Circular é o modo como qualquer um desses 
objetos nos aparece, sob determinadas perspectivas. E uma figura circular pode referir-se a qualquer 
 5
um deles ou a muitos outros; nada há, naquele círculo, que o obrigue a referir-se apenas ao sol ou à 
lua ou a qualquer outra coisa. 
Peirce escreve que qualquer coisa, “seja uma qualidade, um existente individual ou uma lei, é Ícone 
de qualquer coisa, na medida em que for semelhante a essa coisa e utilizado como um seu signo”. 
 
Índice 
Um índice é algo que sempre leva a outra coisa com o qual mantém uma relação de fato (dinâmica), 
independente de alguém vir a interpretá-lo assim ou não, e nisso difere do ícone que, por outro lado, 
não tem qualquer relação com seu objeto, exceto aquela que aparece no ato da interpretação. Como 
todo signo, o índice só funciona como tal quando interpretado; entretanto será sempre um índice 
daquela coisa com a qual está conectado, quer isso aconteça ou não. 
O cata-vento sempre estará indicando a direção do vento quer alguém o interprete assim ou não. Há, 
no índice, necessariamente dois envolvidos (signo-objeto), estando o terceiro (interpretante) em uma 
condição potencial no signo. Um ícone pode ser um signo em relação a um objeto qualquer, quer este 
objeto exista ou não. Um índice, entretanto, implica na existência de fato de seu objeto: 
 
Um ícone é um signo que possuiria o caráter que o torna significante, mesmo que seu objeto não 
existisse [...]. Um índice é um signo que de repente perderia seu caráter que o torna um signo se 
seu objeto fosse removido, mas que não perderia esse caráter se não houvesse interpretante. 
 
Embora qualidades sempre participem dos índices, não são elas que estão no seu fundamento. 
Santaella analisa um caso em que isso pode ficar claro: 
 
O índice possui dois elementos: um deles serve como substituto para o objeto, o outro constitui 
um ícone que representa o próprio signo como qualidade do objeto. Assim, uma pegada, por 
exemplo, na sua aparência qualitativa, é uma imagem de um pé. Não é esse ícone, mesmo que, 
nesse caso, ele seja substancial, que faz esse signo agir como índice, mas o fato de haver uma 
conexão dinâmica, factual, existencial entre o pé e o traço (imagem) por ele deixado. Todo índice 
tem um ícone embutido. Esse ícone, no entanto, não precisa necessariamente ser uma imagem 
do objeto. Ele pode ter características que são próprias dele, como é o caso da fumaça, em nada 
similar à imagem do fogo. Isso basta para comprovar que o ícone, embutido no índice, não 
precisa ser uma imagem que esteja numa relação necessariamente similar à imagem do objeto 
do índice. 
 
Símbolo 
O terceiro signo da segunda trilogia é o símbolo. Como um terceiro, o símbolo é um signo que, em 
relação a seu objeto dinâmico, é um signo de terceiridade, um signo de razão ou de mediação. Nas 
palavras de Nöth, no símbolo a “relação entre representâmen e objeto é arbitrária e depende de 
convenções sociais. São, portanto, categorias da terceiridade - como o hábito, a regra, a lei e a 
memória - que se situam na relação entre representâmen e objeto.” 
Acerca do que se quer fazer entender quando se diz que a relação entre representâmen e objeto, no 
símbolo, se dá por uma arbitrariedade ou uma convenção social, deve-se entender que não é uma 
relação como a que é própria ao índice, cujo signo tem uma relação existencial com o objeto ou 
refere-se ao objeto, quer o interpretante o represente assim ou não. O termo “fogo” é um símbolo do 
fogo por uma convenção, sem que haja aquela ligação entre representâmen e objeto que se requer 
para o índice. Embora possa haver regras intralingüísticas que estejam na razão que leva uma 
palavra a estruturar-se como tal em cada língua, a relação entre estas regras intralingüísticas e a 
regra que está no sentido, associado à palavra continuará sendo arbitrária. As palavras são 
amplamente utilizadas por Peirce como exemplo de símbolo: 
Qualquer palavra comum como “dar”, “pássaro”, “casamento”, é exemplo de símbolo. O 
símbolo é aplicável a tudo o que possa concretizar a idéia ligada à palavra; em si mesmo, não 
identifica essas coisas. Não nos mostra um pássaro, nem realiza diante de nossos olhos uma 
 6
doação ou casamento, mas supõe que somos capazes de imaginar essas coisas, e a elas 
associar as palavras. 
 
A idéia peirceana de símbolo, entretanto, não se restringe à palavra. Uma infinidade de coisas, 
dependendo do modo como são apreendidas pela mente, pode evidenciar seu aspecto simbólico, 
mais ou menos complexo. Décio Pignatari, no seu “Informação, Linguagem, Comunicação”, cita o 
exemplo da cruz, símbolo do cristianismo, e o de uma impressão digital, um “signo de tipo indicial-
icônico, mas que participa também do símbolo quando utilizada, por exemplo, como marca de uma 
empresa gráfica”. No caso da impressão digital, dizemos que participa do símbolo quando tem um 
interpretante simbólico, gerado pelo modo como foi utilizada. Na sua condição indicial, o que é mais 
evidente é sua relação física com a pele da qual foi originada; na sua condição simbólica, entretanto, 
seu poder representativo advém da convenção de que é portadora. 
 
A apreensão de um signo de terceiridade pressupõe a apreensão tanto de um signo de 
segundidade quanto a de um de primeiridade. Então, assim como um índice genuíno (segundo) 
tem uma parte índice e uma parte ícone (primeiro), o símbolo genuíno (terceiro) deve ter uma 
parte símbolo, uma parte índice (segundo) e uma parte ícone (primeiro). 
 
Classificação dos Signos. 
Charles S. Peirce destacou três tipos de tríades na divisão dos signos: 
 
1) signo em si mesmo, 2) signo - objeto dinâmico, 3) signo – interpretante. 
 
Na primeira divisão, ou tricomia, os signos em si mesmo são: 
 
1. Qualissigno, “uma qualidade que é um Signo”. 
2. Sinssigno, cuja “sílaba sin é considerada em seu significado de ‘uma única vez’, como em 
singular [...] [e que é] uma coisa ou evento existente e real que é um signo”. 
3. Legissigno, que é “uma lei que é um Signo”. 
 
Na segunda divisão, ou tricotomia, os signos objetos dinâmicos são: 
 
1. Ícone. 
2. Índice. 
3. Símbolo. 
 
Na terceira divisão, ou tricotomia, os signos interpretantes são: 
 
1. Rema, para seu Interpretante, é um Signo de Possibilidade qualitativa. 
2. Dicente, para seu Interpretante, é um Signo de existência real. 
3. Argumento, para seu Interpretante, é Signo de lei. 
 
 
 
CATEGORIAS REPRESENTAMEN OBJETO INTERPRETANTE 
PRIMEIRIDADE QUALI-SIGNO ÍCONE REMA 
SECUNDIDADE SIN-SIGNO ÍNDICE DICENTE 
TERCEIRIDADE LEGI-SIGNO SÍMBOLO ARGUMENTO 
 
 Os números 1, 2 e 3 sempre são associados às três categorias fenomenológicas, sendo que o primeiro 
pode prescindir do segundo e do terceiro. O segundo pode prescindir do terceiro, mas deve conter o 
primeiro ou não será segundo. O terceiro precisa conter o primeiro e o segundo. Assim, a apreensão 
dos signos de segundidade (2) necessita de signos de primeiridade (1), e a apreensão dos signo de 
terceiridade (3) necessita de signos de segundidade e de primeiridade (1). 
 7
 
As três tricotomias, combinadas de acordo com as possibilidades lógicas, dão origem às 
dezenas de classes de signos (66) estudadas por Peirce, entre essas o autor desenvolveu e destacou 
dez (10) classes de signos: 
 
1. QUALI-SIGNO ICÔNICO REMÁTICO. 
2. SIN-SIGNO ICÔNICO REMÁTICO. 
3. SIN-SIGNO INDICATIVO REMÁTICO. 
4. SIN-SIGNO INDICATIVO DICENTE. 
5. LEGI-SIGNO ICÓNICO REMÁTICO. 
6. EGI-SIGNO INDICATIVO REMÁTICO. 
7. LEGI-SIGNO INDICATIVO DICENTE. 
8. SÍMBOLO REMÁTICO OU REMA SIMBÓLICO. 
9. SÍMBOLO DICENTE OU PROPOSIÇÃO ORDINÁRIA. 
10. ARGUMENTO.

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