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INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Éderson dos Santos Ramalho FEAD Belo Horizonte 2011 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA R165i Ramalho, Éderson dos Santos Introdução a Contabilidade. Éderson dos Santos Ramalho. Belo Horizonte: EAD/Fead, 2009. 152 p. ISBN: 85-99419-07-2 I. Contabilidade-Introdução CDU 336 Publicado por FEAD Copyright©2011 FEAD Diretor-Geral José Roberto Franco Tavares Paes Capa Fazendo as contas (1656), Nicolaes Maes. Óleo sobre tela, Museu de Arte de Saint Louis. Coleção de Michael Talibard. Todos os direitos reservados ao Sistema Integrado de Ensino de Minas Gerais – SIEMG Rua Cláudio Manoel, 1.162 – Savassi – Belo Horizonte – MG Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, armazenada ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, seja ele eletrônico, mecânico, fotocópia ou gravação, sem autorização do SIEMG. Atenção: pode acontecer de algum desses sites indicados não estar mais disponível devido ao dinamismo que caracteriza essa fonte de informação. A Faculdade FEAD apresenta novo projeto, fundamentado em aspectos metodológicos da autoaprendizagem, e inaugura os cur- sos de graduação na modalidade a distância. Estudar na modalidade a distância é adquirir, além de conhe- cimento do conteúdo apresentado, competências hoje exigidas no campo profissional e pessoal: autonomia, interação, determi- nação, gerenciamento da própria formação e atualização conti- nuada. A Instituição que se propõe formar empreendedores apresen- ta atitude inovadora e ensina pelo próprio exemplo. O projeto FEAD de Educação a Distância vem sendo desenvolvido desde 2004 e, agora, torna-se realidade. Buscar atingir a meta da qualidade em todos os projetos edu- cacionais é o que move a comunidade FEAD. Projeto de muitas mãos e mentes, trabalho conjunto de professores, coordenadores, funcionários, empresas parceiras e direção, na busca de produzir o que há de consubstancial em aprendizagem na modalidade a distância. Sinta-se, em definitivo, participante e construtor deste novo tempo. Faça parte do seu mundo. Bem-vindo ao século XXI! Professor José Roberto Franco Tavares Paes Direção-Geral Meu nome é Éderson dos Santos Ramalho, moro em Belo Horizonte, sou casado e tenho dois filhos. Graduei-me em Ciências Contábeis na PUC/MG, em 1995, fiz especializa- ção em Contabilidade pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Ge- rais, em 1996. Cursei um mestrado em contabilidade pela fundação Visconde de Cairu/Salvador-Ba. Defendi minha dissertação de mestrado em 2006. Sou professor há 9 anos. Leciono na FEAD, nos Cursos de Gestão de Negócios e Direito. Nesses cursos trabalho com as dis- ciplinas de Administração Financeira e Orçamentária II e Introdu- ção à Contabilidade. Leciono também em cursos de graduação e pós-graduação em outras instituições. Fo to : J oã o M ar co s D ad ic o Sumário AULA 1 • Noções básicas de Contabilidade ..............................................................................9 AULA 2 • Conceito, objetivo e campo de atuação da Contabilidade .............................................. 15 AULA 3 • Usuários das informações contábeis ........................................................................ 19 AULA 4 • Conceitos ........................................................................................................ 23 AULA 5 • Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido ........................................................................ 29 AULA 6 • Situações Líquidas Patrimoniais ............................................................................. 33 AULA 7 • Conceito e finalidade ......................................................................................... 37 AULA 8 • Contas Patrimoniais e Contas de Resultado ................................................................ 41 AULA 9 • Plano de Contas ................................................................................................ 45 AULA 10 • Balanço Patrimonial – Ativo ................................................................................. 49 AULA 11 • Balanço Patrimonial – Passivo e Patrimônio Líquido .................................................... 53 AULA 12 • Algumas demonstrações contábeis ........................................................................ 57 AULA 13 • Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) ................................................................ 61 AULA 14 • Demonstração do Valor Adicionado (DVA) ................................................................ 65 AULA 15 • Capital, Capital Social e Reservas ......................................................................... 69 AULA 16 • Capital de Terceiros de Curto e Longo Prazo ............................................................ 73 AULA 17 • Origem de recursos na entidade ........................................................................... 77 AULA 18 • Aplicação de recursos na entidade ........................................................................ 81 AULA 19 • Demonstração de origens e aplicações de recursos ..................................................... 85 AULA 20 • Fatos e atos contábeis ....................................................................................... 89 AULA 21 • Fatos permutativos, modificativos e mistos .............................................................. 93 AULA 22 • Considerações gerais sobre os grupos do Ativo e do Passivo........................................... 97 AULA 23 • Método das Partidas Dobradas ............................................................................ 101 AULA 24 • Livros Contábeis e Fiscais .................................................................................. 107 AULA 25 • Lançamentos contábeis .................................................................................... 113 AULA 26 • Contabilidade por Balanços Sucessivos .................................................................. 121 AULA 27 • Balancete de Verificação ................................................................................... 125 AULA 28 • Apuração de Resultado ..................................................................................... 129 AULA 29 • Princípios Fundamentais de Contabilidade .............................................................. 133 AULA 30 • Princípios Fundamentais de Contabilidade – Análise da minuta do apêndice da Resolução 750/93 .................................................................................................................. 141 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade I - Noções básicas de Contabilidade Noções básicas de Contabilidade AULA 1 Objetivo • Indicar os principais marcos históricos da Contabilidade. • Descrever a evolução do conceito da Contabilidade, que passou de um sim- ples registro dos fatos a um importante instrumento de gestão. • Mostrar por que a Contabilidade é considerada uma ciência, listando algumas das características que permitem qualificá-la como tal. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 10 Introdução A Contabilidade pode ser considerada uma das ci- ências mais antigas do mundo. Existem diversos registros históricos que demonstram que as civilizações antigas já possuíam um esboço rústico de técnicas contábeis. Acha- dos arqueológicos históricos mostram registros em grutas, ossos e outros materiais usados pelo homem há mais de 20.000 anos, que continham, em forma de pinturas e ins- crições, as noções de qualidade e quantidade das coisas, antes mesmo de o homem primitivo desenvolver a escrita e o cálculo, na forma como os conhecemos. Nos tempos de hoje, o campo de aplicação da Con- tabilidade é bastante amplo. A Contabilidade proporciona a seusdiversos usuários informações úteis que os auxiliam na tomada de decisões. Portanto, caro aluno, entender a evolução da humanidade em seu aspecto econômico auxilia o seu processo de aprendizado desta ciência tão antiga. Evolução histórica da Contabilidade Durante milênios, a evolução da Contabilidade foi lenta e este- ve ligada à necessidade de regis- tro da movimentação comercial. Os primeiros registros apareceram em formas de figuras pintadas nas paredes das grutas, evoluindo para tábuas de argila, usadas na antiga Suméria, e chegando, com o sur- gimento do papiro, à criação dos chamados “livros contábeis” no antigo Egito, nos quais os egípcios registravam os fatos contábeis ocor- ridos em um empreendimento. A Contabilidade, tal como a concebemos hoje, é resultado de uma demorada evolução, partindo dos homens primitivos das caver- nas, passando pelas principais civi- lizações da Antigüidade até chegar ao mundo mercantilista atual. Para alguns autores, a Contabi- lidade surge com o aparecimento da conta, há cerca de 20.000 anos, no período denomina- do Paleolítico Superior. Nesse período, encontramos uma vasta coleção de registros contábeis expressos em forma de pinturas rupestres (registros de natureza qualitativa e quantitativa) expressando a composição da riqueza ou do “patrimônio” de determinada pessoa ou entidade. Assim, de forma primitiva e rudimentar, nasceu o co- nhecimento contábil. Historiadores afirmam que a conta foi a primeira forma de manifestação racional do homem, pois serve para demonstrar e quantificar a propriedade so- bre determinada coisa. Em um primeiro momento, o co- nhecimento desta técnica era detido pelos escribas na Ba- bilônia, que tinham entre suas atribuições registrar (escrita contábil) as atividades mercantis. Eles eram responsáveis, ainda, pela coleta e administração dos tributos que soma- vam quantias expressivas de bens, tais como terrenos, re- banhos e rendas. O surgimento da escrita contábil justificou-se pelo crescimento das economias e pelo acúmulo de riquezas, tornando impossível depender apenas da memória de um escriba para exercer o controle sobre os bens. Posterior- mente, com o surgimento do papiro no Egito, os registros passaram a ser realizados por meio da escrita. Este novo meio se apresentava mais fácil de ser manuseado e arma- zenado, dando origem aos Livros Contábeis. De forma paralela ao desenvolvimento do meio sobre o qual eram expostas as contas, passando do registro em tábuas de argila para o registro em papel, ocorreu o desen- volvimento da chamada técnica contábil, que dispunha de mecanismos próprios para a realização do registro de for- ma a expressar melhor a riqueza patrimonial. Posteriormente, já na Idade Média, o desenvolvimen- to da Contabilidade esteve intimamente ligado ao surgi- mento do capitalismo. Sua finalidade era instituir meios de medir os acréscimos ou decréscimos dos capitais emprega- dos em uma atividade comercial ou industrial. É importante destacar uma obra publicada em 1494, em Veneza, pelo Frei Pacioli, considerado o pai dos auto- res de Contabilidade, que se constitui em um dos primei- ros impressos sobre contabilidade no mundo, a “Summa de Arithmetica, Geometrica, Proportioni et Proportionali- ta”. Esta obra descreve um método empregado por merca- dores de Veneza no controle de suas operações, posterior- mente denominado “método das partidas dobradas” ou “método de Veneza”. Este método basicamente pode ser representado por uma equação matemática simples: para todo débito corresponde um crédito de igual valor e vice- -versa. Este método, que leva a uma constante igualdade Suméria: antigo país da Mesopotâmia situado entre os rios Eufrates e Tigre. Papiro: folha para escrever feita de uma planta chamada papiro. Foi criada pelos egípcios e era o principal meio para escrever utilizado na Antigüidade. Tábuas de argila e papiro com registros contábeis. AULA 1 • Noções básicas de Contabilidade 11 entre débito e crédito (débito = crédito), será estudado mais profundamente nas aulas posteriores. Com a publicação da obra de Pacioli, deu-se origem ao período da literatura contábil. Cabe ressaltar que esta obra não foi a primeira sobre Contabilidade, pois, em 1202, Fibornacci já publicara “Líber Abaci”, um compêndio so- bre cálculo comercial que demarca o limite entre a era da Contabilidade Antiga e a da Contabilidade Moderna. Nos séculos seguintes à publicação do livro de Pacio- li, a Contabilidade expandiu seus horizontes, evoluindo da chamada era pré-científica, quando, em 1586, Ânge- lo Pietro formulou a primeira metodologia conceitual da Teoria Contábil, passando pelo surgimento das escolas de pensamentos científicos representadas pelo Contismo, Personalismo, Controlismo, Aziendalismo até chegar ao Patrimonialismo. O que caracteriza e diferencia as cinco correntes cien- tíficas apresentadas acima é a determinação do objeto de estudos da Contabilidade, como veremos a seguir. Aos poucos, a Contabilidade expandiu sua aplicação para instituições como o Estado e a Igreja, transforman- do-se em um instrumento importante no desenvolvimento do capitalismo. No entanto, os registros contábeis eram considerados peças sigilosas. As técnicas e as informações ficavam restritas ao dono do empreendimento, não sendo divulgadas ao público em geral. Isto limitou, de forma con- siderável, o desenvolvimento da ciência, uma vez que não existia troca de experiências entre os profissionais. Até o século XVIII, quase não houve evolução do pensamento científico da Contabilidade. Inicialmente, com o Contismo, o objeto de estudos da Contabilidade era a conta, ou seja, a preocupação central era o registro dos direitos e das obrigações. Com essa idéia, os pensa- dores criaram a escola contista, que, mesmo não sendo considerada escola por alguns estudiosos, representou a primeira discussão de caráter científico da Contabilidade, dando início ao pensamento contábil. Entre os pensado- res contistas, Edmundo Degranges foi um dos que mais se destacaram, expondo, em 1795, a teoria das cinco contas: mercadorias, dinheiro, efeitos a receber, efeitos a pagar, e lucros e perdas. A Escola Personalista surge com a publicação da obra “La ragioneria scientifica e le sue relazioni com le discipli- ne amministrative e sociali”, de um militar italiano chama- do Giuseppe Cerboni, em 1886. Surgem, então, as bases científicas do pensamento contábil, que expressa uma nova concepção metodológica da Teoria Contábil. A par- tir deste momento, a Contabilidade passa a se preocupar com as variações da riqueza e a considerar o Patrimônio como conjunto de direitos e obrigações. Esta escola domi- na o pensamento contábil durante o século XIX. Em 1909, Fabio Besta publica a obra “La ragioneria”, nascendo o pensamento científico da escola do controlis- mo. Sua filosofia entende como objeto de estudo da Con- tabilidade o controle da riqueza patrimonial. Para Besta, a administração econômica de uma empresa abrangia sua administração e controle, e a Contabilidade era entendida como sendo a ciência do controle econômico. A decadência desta escola ocorre a partir de 1926, na Itália, quando Gino Zappa apre- senta uma nova possibilidade de estudar uma empresa que se cha- maria Aziendalismo. A idéia principal da escola aziendalista consistia em destacar que os registros e as demonstra- ções contábeis representavam apenas um instrumento para registrar os fatos ocorridos no patrimônio, devendo ser complementados com informações adicionais, tais como as qualitativas, o grau de satisfação do cliente, entre outras. Zappa propôs uma nova classificação das contas patrimoniais e de resultado. Caro aluno, observe que o principal objetivo da Con- tabilidade era fornecer informaçõespara o proprietário de uma empresa, a qual geralmente pertencia a um úni- co dono que mantinha as contas em segredo, sem adotar padrões uniformes para sua de- monstração. Normalmente, não havia distinção entre as contas do proprietário e as da empresa, ine- xistindo o conceito de exercício contábil, uma vez que as empre- sas, via de regra, tinham uma vida curta. Desta forma, o resultado de suas operações era apurado apenas ao término das ativi- dades do empreendimento. Com a evolução do pensa- mento contábil, surgem os termos Débito, Crédito, Lança- mentos Diários, Balanços e Demonstrações de Resultado, que serão tratados posteriormente. Seguindo a linha evolutiva, o advento das Grandes Navegações levou ao surgimento de empresas de capital conjunto ou em sociedade, nas quais indivíduos reuniam- -se em grupos para financiar um determinado empreen- dimento (viagem). Cabe observar que cada um recebia direitos de participação na sociedade, proporcionais ao investimento realizado, assim como direitos de auferir as Azienda é um termo de origem italiana que representa um conjunto de bens (elementos ma- teriais ou imateriais) que servem ao empreendedor/ empreendimento, para que desempenhe suas atividades produtivas. Exercício contábil: Perío- do durante o qual se quer analisar a variação da riqueza de uma deter- minada empresa. (anual mensal) INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 12 suas respectivas participações (lu- cros) ao fim da viagem. Diante do cenário evolutivo descrito anteriormente, surge en- tão a Escola Patrimonialista. O precursor desta escola foi Vincenzo Masi. Segundo ele, a idéia principal do patrimonialismo é que o patrimônio é objeto da Contabilidade e seu estudo compreende o equi- líbrio do patrimônio de uma determinada entidade. Este pensamento contábil é observado atualmente para efeito de classificação das contas contábeis. Como, em função de problemas enfrentados durante a empreitada, nem sempre sobrava dinheiro para ser divi- dido entre os investidores, surge o cálculo e a apuração de lucros e perdas ao final de cada ano. Com o passar do tempo, a Contabilidade foi se desen- volvendo e sofrendo adaptações para atender às necessida- des da sociedade. Ao final do Século XIX e início do XX, ela passa por profundas transformações em função da expan- são da Indústria, especialmente na Inglaterra e nos EUA. Com o surgimento das fábricas, aumenta a necessidade de informações gerenciais sobre custos de produção e avalia- ção de estoques, dando início a uma nova fase na história da Contabilidade. Nessa fase, há uma preocupação maior com os aspectos gerenciais da chamada Ciência Contábil. À medida que a empresa comercial se desenvolve, aumenta a importância da Contabilidade, que passa a ser considerada como um instrumento importante para o de- senvolvimento da sociedade. O contador, profissional que detém o conhecimento contábil, elabora relatórios úteis e tempestivos para auxi- liar os proprietários a tomarem decisões. Outros usuários podem também ter interesse no acesso às informações for- necidas pela contabilidade de uma determinada organiza- ção, como os investidores, credores, governos, sindicatos e o fisco. Atualmente, o mercado de trabalho para o contador tornou-se bastante amplo. Os profissionais que possuem uma visão de administração financeira ocupam altos car- gos nas organizações, como diretores financeiros, chefes de departamento de contabilidade e de custos, auditores internos e externos. Estes profissionais têm obtido boa re- muneração e satisfação no trabalho. De forma gradativa, o campo de atuação da ciência contábil tornou-se muito vasto. A Contabilidade pode ser aplicada a qualquer tipo de entidade que exerça ativida- des econômicas para alcançar determinados fins, sejam eles lucrativos ou não, como veremos a seguir. A Ciência Contábil Em 1836, a Academia de Ciências da França enten- deu que a Contabilidade era uma ciência social. Apesar de utilizar métodos quantitativos, não se constitui em uma ciência exata, ou matemática, pois se ocupa de fatos de- correntes da ação humana. Em primeiro lugar, o entendimento da Contabilidade como uma ciência e não uma arte, ou somente um con- junto de técnicas, passa pelo fato de que a mesma atende aos requisitos básicos necessários a uma ciência. São eles: 1) objeto de estudo próprio: a contabilidade se ocupa do estudo do patrimônio de uma determinada orga- nização; 2) estuda os fenômenos com precisão: análise da liqui- dez, do retorno de investimento, etc.; 3) possui metodologia própria: são utilizados os méto- dos fenomenológico e indutivo; 4) permite projeções: orçamentos de vendas, produ- ção, custos, etc.; 5) possui teorias próprias: teoria das Aziendas, teoria do lucro, teoria da liquidez, etc.; 6) possui correntes doutrinárias: contismo, personalis- mo, aziendalismo, controlismo, patrimonialismo. Ficou claro para você que a Contabilidade é uma ci- ência, como o são a Física, Química e a Sociologia? Muitas pessoas ainda acham, erradamente, que a Contabilidade é só um conjunto de técnicas de registro e elaboração de relatórios! Em 1836, Coffy, da Academia de Ciências da França, reconhece o caráter social da Contabilidade, afirmando que os seus métodos possuem uma verdadeira impor- tância social. Para Sá (1999) “o homem em sociedade, o patrimônio do homem a serviço dele, o patrimônio do homem a serviço da sociedade parecem ser fortes conexões que alimentam uma justa classificação dos estudos contábeis no campo do social”. Lucro: ganho auferido durante uma operação comercial ou no exercício de uma atividade econô- mica. Prof. Antonio Lopes de Sá: Mineiro e Importante pesquisador no campo da ciência contábil. Representação gráfica das contas primitivas. AULA 1 • Noções básicas de Contabilidade 13 Resumo Vimos nesta aula, a linha evolutiva da Contabilidade a partir dos registros primitivos realizados em grutas, passan- do pelo registro em tábuas de argila, pelos livros contábeis escritos e papiros, até chegar nas técnicas e teorias atuais. Observamos, também, que a Contabilidade é uma das mais antigas ciências da humanidade. Ela apresenta um desenvolvimento contínuo ao longo da história, passando do simples registro de fatos acontecidos no cotidiano dos empreendimentos a uma poderosa ferramenta de gestão de negócios. O surgimento de teorias e doutrinas contábeis, a partir do período medieval, até a doutrina moderna atual, mos- tra uma sensível mudança no foco de atenção da Conta- bilidade, que antes se preocupava com o simples registro dos fatos ocorridos e seus reflexos nas contas do patrimô- nio e hoje apresenta uma preocupação com a interpreta- ção desses fatos, gerando informações importantes para o uso gerencial, como previsões (orçamentos), levantamen- tos de custos da produção e apuração de resultados das operações de uma determinada empresa. Por fim, entendemos que a Contabilidade é considerada uma ciência social, pois, além de atender aos atributos básicos de uma ciência, possui como objeto de estudo o patrimônio, sendo este o conjunto de bens e direitos que tenta suprir as necessidades humanas. Atividades 1. Como eram realizados os primeiros registros dos fatos ocorridos numa empresa? 2. Discorra sobre a evolução histórica da Contabilidade. 3. Qual foi a primeira obra de Contabilidade a ser publicada? Quem foi o seu autor? 4. Como as grandes navegações influenciaram o desenvolvimento da Contabilidade na Idade Média? 5. Por que a Contabilidade pode ser considerada uma ciência social? INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade I - Noções básicas de Contabilidade Conceito, objetivo e campo de atuação da Contabilidade Objetivos • Conceituar Contabilidade, descreverseus objetivos e seus campos de atuação. • Descrever as principais técnicas utiliza- das pela Contabilidade. • Descrever os ramos da Contabilidade. AULA 2 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 16 Introdução Depois de estudarmos sucintamente a evolução da ciência contábil e a entendermos como uma ciência social, trataremos dos seus objetivos e campo de atuação. Mas, primeiro, veremos o conceito de Contabilidade. O que é Contabilidade? De acordo com o dicionário Houaiss, Contabilidade pode ser definida como: “ciência teórica e prática que estuda os métodos de cálculo e registro da movimentação financeira de uma firma ou empresa”. Para Sá (1999) “contabilidade é a ciência que estuda os fenômenos patrimoniais, preocupando-se com realidades, evidências e comportamentos dos mesmos, em relação à eficácia funcional das células sociais”. Assim, a Contabilidade é a ciência que tem a finalidade de captar (coletar), registrar, organizar, resumir e interpretar os fatos que, de alguma maneira, afetam e determinam as situações patrimoniais, financeiras e econômicas das entidades, sejam elas pessoas físicas ou jurídicas. Contabilidade é um sistema que permite realizar o registro das transações monetárias de uma entidade e relatar os eventuais reflexos dessas transações na situação econômico-financeira da mesma. São exemplos de transações que devem ser registrados: compra de mercadoria a prazo, pagamento de faturas, recebimento de prestações, etc. Este registro é extremamente importante por várias razões. Destacamos três delas a seguir: 1) O dinamismo existente nas empresas que apresentam mudanças constantes nos seus quadros de dirigentes e do pessoal operacional exige registro apurado de todos os fatos ocorridos. 2) Existe a necessidade de reconstrução detalhada de uma transação ocorrida em exercícios anteriores e a comprovação de sua veracidade. 3) As informações registradas são fundamentais para a tomada de decisão. Portanto, a Contabilidade é responsável pela geração das informações contidas no patrimônio das empresas. Todas as empresas administram recursos para desen- volver suas atividades, sejam recursos naturais (minas e a própria terra), recursos financeiros (investimentos de ca- pitais realizados pelos acionistas e/ou financiamentos ob- tidos) ou recursos humanos (empregados que trabalham nessas empresas). A Contabilidade se preocupa em calcular e relatar os valores gerados por estes recursos nas empresas. Eles refle- tem o retorno dos investimentos realizados. Diante do exposto, podemos conceituar a Contabi- lidade como sendo uma ciência que tem como objetivo observar, registrar e relatar os fatos econômico-finan- ceiros ocorridos dentro de um patrimônio pertencente a uma entidade por meio da aplicação do seu conjunto de princípios, normas, técnicas e procedimentos próprios. A Contabilidade é uma ciência social que estuda o comportamento das riquezas integrantes do patrimônio em função das ações humanas. Atividade A empresa onde você trabalha possui um departamen- to de Contabilidade ou contrata um escritório de Conta- bilidade? Procure conversar com um contador e pergunte sobre suas atividades na empresa. O objetivo da Contabilidade Em primeiro lugar, temos que entender qual é objeto da Conta- bilidade. O objeto da Contabilida- de é o patrimônio administrável e em constante alteração dos elementos que o compõe. Antigamente, a Contabilidade tinha por objetivo prin- cipal manter o dono informado sobre o lucro obtido numa determinada empreitada comercial. No capitalismo mo- derno, isto não é mais suficiente. Novos usuários da informação, tanto no âmbito inter- no quanto no externo das empresas, demandam, cada vez mais, informações de qualidade. Uma empresa deve rela- tar suas realizações e resultados para a sociedade. Assim sendo, além de controlar o patrimônio das en- tidades e apurar seus resultados, a Contabilidade deve prestar estas informações aos diversos usuários das infor- mações contábeis, tanto os usuários internos (aqueles que trabalham nas organizações) quanto os externos. Estudare- Exercício Social: repre- senta um ciclo produtivo completo. Coincide, normalmente, com o ano- calendário. Objeto: assunto sobre o qual versa uma pesquisa ou ciência. AULA 2 • Conceito, objetivo e campo de atuação da Contabilidade 17 mos os tipos de usuários na próxima aula com mais abran- gência. Alguns exemplos de usuários: - internos: gerentes, funcionários da área operacio- nal, auditores internos; - externos: auditores externos, fisco, investidores, bancos. Assim, podemos afirmar que é objetivo da Contabili- dade é planejar e colocar em prática um sistema de infor- mação para uma organização, possibilitando o controle de seu patrimônio e fornecendo a seus administradores infor- mações e orientações necessárias à ação administrativa. Seus instrumentos são o registro, a classificação, a demons- tração, a análise e a interpretação dos fatos ocorridos, vi- sando fornecer informações e orientação necessárias à to- mada de decisões sobre sua variação e composição, bem como sobre o resultado econômico decorrente da gestão da riqueza patrimonial. O objetivo principal da Contabilidade é exercer controle sobre os fenômenos ocorridos no patrimônio de uma entidade. Para atingir os seus objetivos, a Contabilidade utiliza uma série de técnicas próprias: • Escrituração; • Demonstrações contábeis; • Análise das demonstrações contábeis; • Auditoria. Vamos descrever resumidamente cada uma delas. Ao longo de seu curso você aprenderá como utilizar cada uma destas técnicas e em qual situação. Escrituração é a técnica pela qual os fatos ocorridos na empresa e com efeitos no seu patrimônio são registra- dos. Demonstrações contábeis servem para apresentar os resultados obtidos pela empresa num determinado perío- do ou a situação do patrimônio em determinada data. São relatórios que agrupam e divulgam os fatos ocorridos na empresa. Cada relatório é feito para atender a uma finali- dade específica. Análise das demonstrações contábeis é a técnica usada para determinar a situação econômico-financeira de uma empresa. Demonstra a sua capacidade de paga- mento, a sua evolução e a estrutura patrimonial, dentre outras medidas de desempenho. Auditoria é a técnica usada para verificar e atestar a qualidade da informação prestada, podendo confirmar, ou não, se os demonstrativos apresentados representam a si- tuação patrimonial de forma fiel. Agora que discutimos os objetivos da Contabilidade e suas principais técnicas, vamos ver seu campo de atu- ação. Campo de atuação da Contabilidade Tendo em vista seu objeto, o patrimônio, assim como seu objetivo, pode-se constatar a importância da Contabi- lidade e a amplitude e extensão do seu campo de atuação. O campo da Contabilidade inclui: • pessoas físicas; • pessoas jurídicas, com finalidades lucrativas ou não; • entidades de direito público. A Contabilidade se divide conforme sua área de atuação, dando origem aos seguintes ramos: • Contabilidade Fiscal - integra o processo de elaboração de informações para o fisco, sendo responsável pelo planejamento tributário da empresa. • Contabilidade Pública - atua no controle e gestão das finanças públicas. Este campo possui um mercado de trabalho crescente em função da Lei de Responsabilidade Fiscal, que impõe normas de controle mais rígidas sobre os governantes públicos. • Contabilidade de Custos - tornou-se muito importante em função da redução da taxa de inflação e da abertura econômica à importação de produtos estrangeiros. Fornece informações estratégicas na formação dos preços da empresa. • Contabilidade Gerencial - determina a melhorutilização dos recursos econômicos da empresa, através de um adequado controle dos insumos usados na produção. A Lei de Responsabilidade Fiscal, de 01/4/5/2000, estabelece normas de fi- nanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, basea- das na Constituição, ten- do como alguns de seus objetivos prevenir riscos e corrigir desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 18 • Auditoria - divide-se em Auditoria Interna (setor interno da empresa) e Auditoria Externa (empresas especialistas em Auditoria); controla e atesta a confiabilidade das informações contábeis e a legalidade dos atos praticados pelos administradores. • Perícia Contábil - atua na elaboração de laudos em processos judiciais ou extrajudiciais. No caso de Perícia Contábil, trata-se de uma área de atuação exclusiva do contador, isto é, por lei, apenas um contador pode assinar uma perícia contábil. • Contabilidade Financeira - é responsável pela elaboração e consolidação das demonstrações contábeis para fins externos. • Análise Econômico-financeira - atua na elaboração de análises técnicas sobre a situação patrimonial de uma organização a partir de seus relatórios contábeis. • Avaliação de Projetos - elabora e analisa projetos de viabilidade de longo prazo, com a estimativa do fluxo de caixa e o cálculo de sua viabilidade econômica para a empresa. Como você pode ver, a Contabilidade tem várias áre- as de atuação, sendo algumas estratégicas e vitais ao fun- cionamento de uma empresa moderna, o que confere ao contador uma grande importância para a perpetuidade de uma empresa. Atividade Verifique, junto a uma organização, quais ferramentas contábeis a mesma utiliza para as tomadas de decisão. Finalidades das informações contábeis Atualmente, as finalidades da Contabilidade podem ser reunidas em dois grupos principais: • Planejamento – são ações necessárias para a ado- ção de modelos de gestão, elaboração de projetos, determinação de controles, etc.; • Controle – corresponde ao conjunto ordenado das ações adotadas pela empresa para proteger seu patrimônio, verificar a exatidão dos registros contábeis e motivar os funcionários a obedecerem à política traçada pela administração. A informação contábil indica a situação patrimonial e torna possível verificar o desempenho da organização, auxiliando-a a atingir metas pré-definidas. Você percebe a importância do contador na vida da empresa? Percebe como ele assume, cada vez mais, um papel importante na gestão das organizações? Resumo Nesta aula vimos o conceito de Contabilidade, definimos e delimitamos os objetivos da Contabilidade e abordamos o seu campo de atuação. Para atingir os seus objetivos, a Contabilidade utiliza técnicas próprias, como: escrituração, demonstrações contábeis, análise de balanços e auditoria. Apresentamos os vários ramos da Contabilidade, que é uma ciência que proporciona várias opções de especialização. Por fim, abordamos as finalidades das informações contábeis, que se dividem em dois grupos principais: planejamento e controle. Atividades 1. Diante da redução da taxa de inflação e da globali- zação dos mercados, por que a Contabilidade de custos tornou-se importante? 2. Considerando a inflação, o registro dos fatos ocorridos na empresa e com efeitos no seu patrimônio refletem a realidade? Como deveria ser feito? 3. Por que a Contabilidade pode ser considerada uma ciência social e não exata? 4. Comente as principais áreas de atuação da Contabili- dade. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade I - Noções básicas de Contabilidade AULA 3 Usuários das informações contábeis Objetivos • Identificar os diversos usuários da infor- mação contábil, suas necessidades e a capacidade da Contabilidade de supri- las. • Situar a Contabilidade e o profissional contador frente aos seus usuários e à so- ciedade em geral. • Compreender o atual estágio e tendên- cias da Contabilidade. • Descrever os diversos usuários da infor- mação contábil. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 20 Introdução Após conceituarmos e descrevermos o campo de atuação da Contabilidade, na aula anterior, é importante compreendermos que para os gestores gerenciarem eficientemente as suas atividades, devem planejar e controlar as suas ações mediante a implementação de projetos apropriados suportados por informações adquiridas das diversas áreas da empresa: operacional, administrativa, contábil, fiscal, comercial, etc. Atualmente, a informação é um fator preponderante para o sucesso de qualquer empresa. Assim, a informação contábil deve ser útil e oportuna para que possa auxiliar o processo de gestão e atender aos diversos usuários que dela necessitam. Nesta aula definiremos o que se entende por informação contábil, bem como seus usuários e, por fim, falaremos um pouco do profissional contábil. Conceitos A informação é extraída dos dados que devem ser coletados e organizados. Jamil (2001) afirma que a informação “pode ser composta a partir de um conjunto de dados relevantes, em virtude de serem apresentados de forma que possamos compará-los, permitindo que análises sejam feitas”. Assim, a Contabilidade coleta e processa dados de uma empresa por diferentes meios, como demonstrações contábeis, documentos, livros, planilhas, listagens, notas explicativas, laudos, pareceres e diagnósticos. A informação contábil fornece aos diversos usuários: • Informações econômicas e financeiras úteis para tomada de decisões; • Controles internos apropriados para garantir que todos os dados coletados oriundos das operações do empreendimento estão sendo evidenciados e processados de forma correta e segura; • Auxílio na elaboração das estratégias a serem seguidas a curto e longo prazo; • Indicadores que serão utilizados para avaliação de desempenho dos funcionários; • Controle dos custos inerentes à atividade da empresa. Usuários da informação contábil Como visto na aula anterior, o campo de atuação da Contabilidade é bastante amplo, abrangendo todos os tipos de entidades. Durante seu curso, você, caro aluno, adquirirá todos as habilidades necessárias para atender às necessidades dos diversos usuários da informação contábil de uma determinada organização. Segundo a Resolução CFC (Conselho Federal de Contabilidade) nº 774/94, apêndice à Resolução CFC nº 750/93 – que descreve os princípios fundamentais de Contabilidade (serão detalhados posteriormente) –, os usuários da informação contábil tanto podem ser internos como externos, com interesses diversificados. Dessa forma, as informações geradas pela empresa devem ser amplas e fidedignas, suficientes para a avaliação de sua situação patrimonial e das mutações sofridas por seu patrimônio, permitindo a realização de inferências sobre o seu futuro. Visando possibilitar uma melhor compreensão do tema, podemos dividir os usuários da informação contábil em dois grandes grupos: Usuários internos Utilizam informações mais complexas e específicas da entidade, relativas ao processo operacional da empresa. Contam com uma série adicional de informações que a Contabilidade não disponibiliza em seus relatórios, tais como relatório da assessoria jurídica contendo o valor dos processos que poderão trazer ônus para a empresa, projeções de mercado, alternativas para obtenção de financiamentos, pesquisa de satisfação do cliente externo e dos funcionários, etc. Exemplos de usuários internos da informação contábil referente a uma organização: • Acionistas, sócios: as informações contábeis oferecem também uma análise de rentabilidade e segurança do investimento realizado (empresa), mediante análise das informações contábeis.Esse grupo de usuários toma decisões quanto ao volume de investimentos, retorno destes e financiamentos; • Diretores, executivos em geral: a Contabilidade auxilia o processo de tomada de decisões. Fornece subsídios para a melhor postura do administrador durante os processos decisivos de uma empresa. Além de fornecer a posição econômico-financeira atual, fornece informações de status (andamento) de projetos, permitindo à gerência a realização de simulações e adequado planejamento orçamentário, por meio da adoção de um método de custeio apropriado. AULA 3 • Usuários das informações contábeis 21 Usuários externos Os usuários externos da informação contábil utilizam, principalmente, as demonstrações contábeis elaboradas e disponibilizadas ao público externo, mediante a publicação nos jornais e revistas de maior circulação. A obrigação da publicação das demonstrações contábeis é pertinente para algumas empresas, tais como a empresas de capital aberto S.A. Este fato não impede que as outras empresas (individual, e Ltda.) divulguem as suas demonstrações contábeis para o público externo. São exemplos de usuários externos: • Fornecedores, instituições financeiras: também utilizam as informações contábeis analisando os aspectos de rentabilidade e segurança da operação. Esperam obter as informações necessárias para a realização de operações de crédito dentro de limites de segurança mais adequados. As informações contábeis possibilitam a diminuição do risco nas operações de crédito, por meio de análises da situação real da empresa. • Governo: utiliza as informações contábeis fornecidas pela Contabilidade para fins tributários (cobrança de impostos). De acordo com a publicação ou da apresentação dos Demonstrativos Financeiros das empresas, o Fisco pode exercer um maior controle e diminuir os índices de sonegação. As informações contábeis podem ser usadas também para elaboração de políticas econômicas por parte do Governo. Como podemos observar, são várias as informações divulgadas pela Contabilidade, e é por intermédio delas que os diversos usuários obtêm informações úteis para planejar, controlar e a fundamentar suas decisões. Principais grupos de usuários da informação contábil e suas inter-relações. Atividade Coloque-se na posição de um dos tipos de usuários apresentados nesta aula. O que você gostaria de saber sobre uma determinada empresa? Tendências da Contabilidade Com o fortalecimento da formação profissional do contador e à medida que este desenvolve seus conhecimentos relativos aos métodos quantitativos e à computação, podemos notar um crescimento significativo de sua importância nas empresas. Ao mesmo tempo, tem ocorrido uma grande evolução do conhecimento contábil, através da abordagem de novos métodos de trabalho e novas técnicas matemáticas, tais como a teoria dos conjuntos e a programação linear, aplicáveis à solução de problemas contábeis. Esta evolução da Contabilidade fez com que aparecessem novas áreas de atuação e formação profissional, além daquelas já citadas. Podemos destacar as seguintes áreas emergentes, onde existe um grande potencial de crescimento profissional: • Contabilidade Atuarial - responsável pela contabilidade de fundos de pensão e empresas de previdência privada. • Contabilidade Ambiental - responsável por fornecer informações sobre o impacto ambiental da empresa no meio ambiente. • Contabilidade Social - dimensiona o impacto social da empresa, com sua agregação de riqueza e seus custos sociais, produtividade, distribuição da riqueza, etc. • Contabilidade de Empresas Transnacionais - em função da globalização dos mercados, por meio de tratados e acordos internacionais que possibilitam a uma empresa estrangeira atuar em diversos países. A Contabilidade é responsável pela consolidação dos resultados obtidos, transformando os diversos dados esparsos e mundiais em informações sobre a situação do grupo empresarial. É um campo de atuação bastante promissor. Resumo Vimos que a informação contábil auxilia os gestores na tomada de decisões. Os profissionais de Contabilidade com formação em nível superior devem ser capazes de atender às necessidades de informação contábil dos Sociedade Anônima (S.A.): sociedades empresariais que são regidas por uma lei específica: 6404/76. Órgãos de classe Outros Investidores Sindicatos Bancos Concorrentes Funcionários Governos Fornecedores EMPRESAS INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 22 diversos tipos de usuários, tanto internos como externos: acionistas, governo, fornecedores, etc. Por fim, comentamos sobre as novas tendências da Contabilidade em face das inovações tecnológicas, introdução de novos métodos de trabalho, etc. Novas áreas estão surgindo com grande potencial de crescimento profissional, tais como Contabilidade Social e Ambiental, Atuarial e Contabilidade de Empresas Transnacionais. Atividades 1. O que você entendeu sobre informação contábil? 2. Cite os principais grupos de usuários da informação contábil. Descreva os motivos do interesse de cada grupo nas informações contábeis; 3. Em sua opinião, qual a importância que a Contabilidade tem para os administradores da empresa? 4. Quais contribuições a Informática pode dar à Contabilidade? INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE AULA 4 Conceitos Objetivos • Conceituar Patrimônio. • Identificar os componentes básicos que formam o patrimônio das empresas. • Identificar e classificar os tipos de bens, direitos e obrigações. Unidade II - Patrimônio INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 24 Introdução Vimos, na Unidade 1, a evolução histórica da Contabilidade bem como seus objetivos e áreas de atuação. Aprendemos que a informação contábil deve ser útil para os diversos usuários. Fomos apresentados aos princípios fundamentais da contabilidade a partir desta unidade, vamos discutir detalhadamente mais alguns conceitos relacionados ao objeto de estudo da Contabilidade: o patrimônio das entidades. Empresa comercial Uma empresa comercial é uma entidade com fins lucrativos. É importante saber identificá-la. Vale lembrar que você compra nas empresas comerciais quase todos os dias: um livro novo, uma roupa, um calçado e outras coisas mais. O que pretende essa empresa, com a atividade comercial que desenvolve? Uma empresa comercial é a que compra e revende mercadorias com a finalidade de obter lucros. O lucro é o que, na verdade, vai garantir a continuidade da empresa, o pagamento dos empregados, o recolhimento de impostos, o crescimento de seus negócios, a liquidação de todas as suas obrigações e a remuneração do capital investido dos proprietários. Saber, portanto, se está havendo algum resultado positivo, ou seja, algum lucro, é de importância vital para a empresa. E quem poderá informá-lo é a Contabilidade, que poderá fornecer essa informação com segurança, pois aí serão apuradas todas as conseqüências de compras, despesas e vendas. Patrimônio O que é Patrimônio? A contabilidade visa, principalmente, registrar a movimentação dos bens, direitos e obrigações das empresas, bem como demonstrar a composição do lucro/ prejuízo apresentado dentro de um período. Para fazer isso, precisamos entender o que é Patrimônio, um dos pontos mais importantes do controle da própria empresa. Vamos começar fazendo um levantamento do patrimônio de uma família, isto é, das coisas de que é proprietária, dos valores que tem a receber de outras pessoas e das dívidas ou prestações a pagar. A família que escolhemos tem grande tradição na Contabilidade. Trata-se da família Pacioli. PATRIMÔNIO DA FAMÍLIA PACIOLI • Um carro 90.000,00 • Uma casa 500.000,00 • Dinheiro em casa 5.000,00 • Dinheirono banco 45.000,00 • Uma geladeira 4.000,00 • Uma TV em cores 12.000,00 • Prestações a pagar da TV 4.000,00 • Prestações a pagar da casa 34.000,00 • Dinheiro emprestado ao tio João 25.000,00 • Notas Promissórias da venda de um carro a receber de José Eduardo 30.000,00 • Cheque a receber de José Eduardo 10.000,00 • Prestações do carro, ainda a pagar 15.000,00 Para termos uma idéia geral dos bens, direitos e obri- gações que relacionamos, vamos montar um quadro, dan- do uma certa ordem a todos esses elementos. O primeiro passo seria dividir o quadro em dois campos: o da esquer- da servirá para relacionarmos os bens e direitos e o da direita para as obrigações a pagar: Bens e Direitos Obrigações Bens Prestações da TV 4.000,00 Um carro 90.000,00 Prestações da casa 34.000,00 Uma casa 500.000,00 Prestações do carro 15.000,00 Dinheiro em casa 5.000,00 Dinheiro no banco 45.000,00 Uma geladeira 4.000,00 Uma TV em cores 12.000,00 Cheque a receber de José Eduardo 10.000,00 Direitos Dinheiro empresta- do ao Tio João 25.000,00 Notas Promissórias de José Eduardo 30.000,00 Total 721.000,00 Total 53.000,00 AULA 4 • Conceitos 25 O que temos no quadro anterior? Temos três componentes distintos: bens, direitos e obrigações, que, no conjunto, formam o que se chama de Patrimônio. A partir desse conhecimento tão simples, poderemos definir patrimônio como sendo o conjunto de Bens, Direitos e Obrigações de uma entidade, avaliado em moeda. Portanto, teremos a seguinte equação: Patrimônio = Bens, Direitos e Obrigações Quer dizer que o patrimônio existe tanto para uma empresa como existe para uma pessoa ou família? Exato, meu caro! Que o diga a família Pacioli, que tem um saudável Patrimônio: são R$ 721.000,00 de bens e direitos, contra apenas R$ 53.000,00 de obrigações. Vamos estudar, mais tarde, cada um dos elementos que compõem o Patrimônio. A diferença entre uma empresa e uma pessoa reside tão somente no fato de que se você não contabilizar o seu patrimônio particular, continuará sobrevivendo e existindo, mesmo com prejuízos, enquanto uma empresa com prejuízos sucessivos ou intercalados, mas constantes e relevantes, não conseguirá permanecer em atividade. Atividade Faça uma relação de todas as coisas ou bens de que sua família é proprietária. Em seguida, relacione todos os valores ou direitos a receber de outras pessoas e, na seqüência, relacione também todas as dívidas e prestações que tenha a pagar. Para cada coisa relacionada, defina o seu valor. Elabore um quadro como o que acabamos de estudar, agrupando os valores de bens e direitos à esquerda e os valores de obrigações a pagar à direita. Bens, Direitos e Obrigações Quando você fez a lista solicitada na atividade anterior, teve dificuldade em fazer a classificação das coisas em bens, direitos e obrigações? Agora examinaremos cada um destes itens em detalhes. Bens Quando lhe pedimos para fazer um levantamento das coisas que pertencem à sua família nos referíamos aos cha- mados Bens econômicos. Bens econômicos são todas as coisas que, além de po- derem satisfazer às necessidades do homem, podem ser avaliadas, ou seja, conhecidas por um valor em dinheiro. Quais são os bens de uma família? Bens: são coisas capazes de satisfazer às necessida- des humanas e suscetíveis de avaliação econômica. Quando você entra em um supermercado, por exem- plo, encontra inúmeros objetos, como balcão, vitrinas, prateleiras, máquinas registradoras e uma infinidade de mercadorias para venda. Todos esses objetos são os bens que o supermercado possui. Sob o ponto de vista contábil, pode-se definir Bem como tudo aquilo que uma empresa possui, seja para uso, troca ou consumo. Para exemplificar esse conceito, consi- deremos que a nossa empresa possua somente os seguin- tes bens: balcão, prateleiras, vitrina, caixa registradora, espelho, calçados para venda (mercadorias), papel para embrulho, material para limpeza da loja e meio quilo de café. Neste caso, temos: Bens de uso: balcão, prateleiras, vitrina, caixa regis- tradora, espelho. Bens de consumo: papel para embrulho, material de limpeza e café. Bens de troca: calçados para venda. Os Bens podem ser classificados de diversos modos. A classificação que nos interessa é aquela que os divide em: • Bens materiais ou bens tangíveis; • Bens imateriais ou bens intangíveis. Bens materiais - como o próprio nome diz, são aque- les que possuem corpo, matéria. Por sua vez, são divididos em: • Bens móveis: podem ser removidos do seu lugar. Exemplos: mesas, veículos, máquinas de escrever, etc. • Bens imóveis: não podem ser deslocados do seu lugar natural: Exemplos: casas, terrenos, edifícios, etc. Os bens imateriais ou intangíveis - são aqueles que, embora considerados bens, não possuem corpo, não têm matéria. São determinados gastos que a empresa faz, os quais, por sua natureza, devem ser considerados parte do INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 26 seu patrimônio. Em alguns casos são difíceis de ser men- surados, como a marca Coca Cola, por exemplo. Os bens imateriais mais comuns são: • Benfeitorias em imóveis de terceiros: suponha- mos que uma, loja de calçados tenha construído um depósito de 80m2 de área nas dependências da empresa, ligado à loja. Como o imóvel onde essa empresa está instalada é alugado, o valor gasto na construção do depósito será contabilizado no Pa- trimônio desta empresa como bem imaterial, com o título de Benfeitorias em Imóveis de Terceiros, já que a benfeitoria foi feita em imóvel que não é de propriedade da empresa. • Fundo de Comércio: suponhamos, que José tenha uma loja. Todos os moradores da região estão acos- tumados a comprar na sua loja, que já existe há vá- rios anos. Reinaldo, seu amigo, também interessado em comér- cio, pretende comprar a loja de José, que faz um levanta- mento de tudo o que possui e chega à conclusão de que, somando os valores dos seus Bens, Direitos e Obrigações, o Patrimônio da sua empresa é de R$ 50.000,00. José cobra de Reinaldo R$ 70.000,00. A diferença, de R$ 20.000,00, cobrada a mais, corresponde ao preço pelo qual avaliou o seu ponto, local de trabalho, clientela, fama, o tempo em que trabalhou ali. Na contabilidade de Rei- naldo, que está comprando, esse valor de R$ 20.000,00 será registrado como bem imaterial ou intangível, com o título de Fundo de Comércio. Patentes Se, por ventura, uma empresa inventa algum produ- to, deve registrar a patente desse invento. A importância gasta com esse registro somada a todas as outras despesas de pesquisas necessárias à obtenção do invento será re- gistrada, na contabilidade, como bem imaterial. Evidente- mente, este valor será o contábil e poderá ser diferente do valor de mercado da invenção. Direitos Todos os valores que você tem a receber de alguém em data certa, ou não, são os chamados Direitos a receber. Não falamos no valor que a família Pacioli tem a rece- ber do tio João e nas notas promissórias a receber do José Eduardo? Esses são direitos a receber. É normal a empresa efetuar vendas a prazo. Quando isso ocorre, ela não recebe no ato o dinheiro correspon- dente à venda; receberá futuramente, porque a venda foi a prazo, não é mesmo? Sendo assim, a empresa fica com direito de receber o valor da venda no prazo determinado. Constituem Direitos para a empresa todos os valores que ela tem a receber de terceiros (cliente, freguês da em- presa, etc.). Esses Direitos geralmente aparecem com os nomes dos elementos seguidos da expressão a receber. Exemplos: Elementos: Duplicatas a receber Promissórias a receber Aluguéis a receber Viu como é fácil? Então,vamos conversar sobre o outro componente da formação do patrimônio, as Obrigações. Obrigações Obrigações são as dívidas contraídas pelas entidades físicas ou jurídicas e que deverão ser pagas no futuro. Elas são chamadas de Obrigações a pagar, tenham ou não data certa para seu pagamento. É comum as empresas efetuarem compras a prazo. Quando isso ocorre, a empresa não paga a compra no ato; deverá pagar futuramente, porque a compra foi a prazo, não é mesmo? Nesse caso, a empresa fica com a obrigação de pagar o valor da compra no prazo determinado. Não tivemos, na relação que você fez, as prestações a pagar da TV, da casa e do carro? Aqui, poderemos também subdividir as obrigações a pagar, de acordo com a origem, em: • Duplicatas a pagar • Prestações a pagar • Aluguéis a pagar • Impostos a pagar Quando os outros tiverem de pagar a você ou à em- presa, diremos direitos a receber. Quando você ou a empresa tiverem de pagar a outros, diremos obrigações a pagar. Resumo Vimos, que o conceito básico de patrimônio é: o con- junto de bens, direitos e obrigações de uma determinada entidade. AULA 4 • Conceitos 27 Detalhando um pouco mais os componentes do patri- mônio, vimos que os Bens são coisas capazes de satisfazer às necessidades humanas e suscetíveis de avaliação eco- nômica. Podem ser classificados em bens materiais e ima- teriais. Basicamente, os bens materiais são coisas tangíveis, tais como veículos, imóveis, edifícios, etc. Já os imateriais são coisas intangíveis, ou seja, são coisas que não possuem corpo: marcas e patentes, por exemplo. Os direitos para uma empresa são todos os valores que ela tem a receber de terceiros: direitos contra tercei- ros obtidos por transações comerciais a prazo, etc. As obrigações são dívidas contraídas pela empresa que serão pagas no futuro: salários a pagar, fornecedores, entre outros. Atividades 1. Para consolidarmos o que aprendemos até agora, clas- sifique os itens que relacionamos a seguir, definindo quais são bens, direitos e obrigações. Casa Prestações a receber Dinheiro em casa Jóias Carnês de prestação a pagar Automóvel Aluguéis a receber Duplicatas a receber Vestuário Luz a pagar Ordenados a pagar Férias a receber Dinheiro em sua conta bancária Impostos a pagar 2. Considerando o conceito apresentado nesta aula sobre bens imateriais, o que você diz sobre o conhecimento que as pessoas têm? Deve ser mensurado e registrado pela contabilidade de uma empresa? Justifique a sua resposta. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Objetivos • Conceituar ativo, passivo e patrimônio líquido. • Fazer a representação gráfica do patri- mônio de uma pessoa ou empresa. AULA 5 Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido Unidade II - Patrimônio INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 30 Introdução Vimos, na aula anterior, que o Patrimônio é um con- junto de bens, direitos e obrigações. Agora, discutiremos como é a representação gráfica dos componentes do pa- trimônio e outros conceitos importantes para podermos identificar o tamanho do patrimônio de uma determinada empresa. Para solidificar conceitos, iremos entender como funcionam os lançamentos contábeis, trazendo, para isso, um exercício resolvido mais adiante. Inicialmente, vamos discutir alguns conceitos básicos que serão necessários depois. Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido Existe a necessidade de ressaltar dois aspectos que a Contabilidade leva em conta para representar adequada- mente os elementos que compõem o Patrimônio: os as- pectos qualitativos e os quantitativos. Aspecto Qualitativo Consiste em classificar os bens, direitos e obrigações. Os bens e direitos podem ser classificados em circulante e não circulante, de acordo com a facilidade para trans- formá-lo em dinheiro, ou seja, de acordo com seu grau de liquidez. Já as obrigações serão classificadas de acordo com o grau exigibilidade (prazo para pagamento).Alguns exemplos comuns são os seguintes: Bens podem ser classificados em: • dinheiro • veículo • máquinas Direitos incluem: • duplicatas a receber • promissórias a receber Obrigações incluem: • duplicatas a pagar • impostos a pagar • financiamentos Com esta classificação, já melhorou a idéia que se pode ter do Patrimônio de uma determinada empresa? Mas ainda não basta. Quanto possuo em dinheiro? Quan- to possuo em veículos? Temos a necessidade de levantar o aspecto quantitativo do patrimônio. Aspecto Quantitativo Este aspecto consiste em dar a esses bens, direitos e obrigações seus respectivos valores, permitindo conhecer o valor do patrimônio da empresa. O quadro a seguir mostra os valores do patrimônio de uma empresa. Patrimônio da empresa Luca S.A. Bens: Dinheiro R$ 5.000,00 Veículos R$ 50.000,00 Máquinas R$ 10.000,00 Direitos: Duplicatas a Receber R$ 3.000,00 Promissórias a Receber R$ 2.000,00 Obrigações: Duplicatas a Pagar R$ 8.000,00 Impostos a Pagar R$ 12.000,00 Financiamentos R$ 50.000,00 Representação gráfica do Patrimônio É comum representar o patrimônio mediante um diagrama em T. Este diagrama torna bastante fácil a visualização do patrimônio. Vejamos como funciona. O T tem dois lados. No lado esquerdo, colocamos os Bens e os Direitos, e no lado direito colocamos as obrigações. Então, a representação gráfica do Patrimônio fica assim: Bens Obrigações Direitos Na representação gráfica apresentada temos, por convenção, de um lado os Bens e os Direitos, que formam o grupo dos elementos positivos, e do outro as obrigações, que formam o grupo dos elementos negativos. Assim, temos: Elementos positivos Elementos negativos Bens Obrigações Estoque de mercadorias Duplicatas a pagar Caixa (dinheiro) Financiamentos Veículos Impostos a pagar Máquinas Direitos Duplicatas a receber Promissórias a receber AULA 5 • Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido 31 Os elementos positivos são denominados, ainda, Componentes Ativos, e o seu conjunto forma o Ativo. Os elementos negativos são denominados Compo- nentes Passivos, e o seu conjunto forma o Passivo. Usando, agora, os nomes Ativo e Passivo, o gráfico fica assim: Ativo Passivo Bens Obrigações Estoque de mercadorias Duplicatas a pagar Caixa (dinheiro) Financiamentos Veículos Impostos a pagar Máquinas Direitos Duplicatas a receber Promissórias a receber Somente após o levantamento de Bens, Direitos e Obrigações é que poderemos definir o valor verdadeiro da riqueza de uma família ou de uma empresa. É bastan- te simples, bastando um pequeno cálculo aritmético: da soma de bens e direitos, você deduzirá o valor das obri- gações. Vamos agora retomar o exemplo da Aula 4 e fazer o gráfico em T do patrimônio da família Pacioli: Patrimônio da Família Pacioli Bens e Direitos Obrigações Bens Prestações da TV 4.000,00 Um carro 90.000,00 Prestações da casa 34.000,00 Uma casa 500.000,00 Prestações do carro 15.000,00 Dinheiro em casa 5.000,00 Dinheiro no banco 45.000,00 Uma geladeira 4.000,00 Uma TV em cores 12.000,00 Cheque a receber de José Eduardo 10.000,00 Direitos Patrimônio Líquido: Dinheiro emprestado ao Tio João 25.000,00 Riqueza ou capital 668.000,00 Notas Promissórias de José Eduardo 30.000,00 Total 721.000,00 Total 53.000,00 A diferença apurada entre a soma de bens e direi- tos (R$ 721.000,00) e a soma de obrigações a pagar (53.000,00) é o patrimônio líquido. Considerando os dados contidos no quadro apresen- tado, o valor de R$ 668.000,00 é, na verdade, a real pro- priedade ou o valor de que a família Pacioli é proprietária legítima. Essa diferença que representa o valor líquido da riqueza ou capitalé que chamamos de Patrimônio Líqui- do, isto é, o valor patrimonial deduzidas as obrigações. Este valor contábil pertence aos acionistas ou sócios. Pode- mos representar então o patrimônio líquido pela seguinte equação: Patrimônio Líquido = Ativo - Passivo Suponhamos que a empresa FIBONACCI foi constitu- ída em 1º/2/2011. E, para funcionar, realizou as seguintes operações: 1 – 1º/2/2011 – Integralização de patrimônio sendo R$ 300 mil em dinheiro, R$ 100 mil com uma edificação e R$ 100 mil no banco, totalizando R$ 500 mil. 2 – 10/2/2011 – Compra de mercadorias para revenda no valor de R$ 50 mil, sendo pago R$ 30 mil à vista em dinheiro e R$ 20 mil a prazo. 3 – 11/2/2011 – Compra de equipamentos a prazo no valor de R$ 20 mil. 4 – 15/2/2011 – Investimentos em pesquisa e desen- volvimento no valor de R$ 10 mil à vista pelo banco. CAIXA (1) 300.000 (2) 30.000 * 270.000 EDIFICAÇÃO (1) 100.000 (2) 30.000 * 100.000 ESTOQUES (MERCADORIA) (1) 50.000 * 50.000 DUPLICATAS A PAGAR (2) 20.000 * 20.000 CAPITAL SOCIAL (Patrimônio da empresa) Em razão da aquisição de bem ou direito que não é mercadoria (1) 500.000 * 500.000 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 32 BANCOS (1) 100.000 (4) 10.000 * 90.000 P & D (4) 10.000 * 10.000 EQUIPAMENTOS (3) 20.000 * 20.000 TÍTULOS A PAGAR (3) 20.000 * 20.000 Atividade Passando a utilizar os nomes técnicos Ativo (coluna da esquerda) e Passivo (coluna da direita), elabore uma nova montagem do gráfico patrimonial de sua família. Resumo A Contabilidade é a única fonte que poderá fornecer, com segurança absoluta, informações sobre a variação positiva ou negativa da empresa, uma vez que será através dela que serão apuradas todas as conseqüências de compras, despesas e vendas. Vimos que o Patrimônio Líquido indica o valor da riqueza ou capital de uma pessoa ou empresa. Patrimônio Líquido é a diferença apurada entre a soma de bens e direitos e a soma de obrigações. O Ativo, na Contabilidade, é composto de bens e direitos a receber. O Passivo é composto de obrigações a pagar e Patrimônio Líquido. A representação do patrimônio de uma determinada empresa, por convenção, determina que à esquerda são elencados os seus bens e direitos e à direita as obrigações. Atividades 1. Escreva, nos espaços em branco, se as contas à esquerda são representativas de ativo (A), passivo (P) ou Patrimônio Líquido (PL). Títulos a pagar Terrenos Caixa (dinheiro no cofre da empresa) Gratificações a pagar Contas a receber Capital social Veículos Edifícios Salários a pagar Marcas e patentes Dinheiro depositado em banco Estoque de produtos para revenda Imposto de renda a pagar Comissões a pagar Máquinas 2. Em determinado momento, o patrimônio da Temps Ltda. é representado por: dinheiro em caixa: R$ 100,00 bens de venda: R$ 700,00 bens de uso: R$ 500,00 dívidas com terceiros: R$ 400,00 bens de renda: R$ 100,00 direitos: R$ 200,00 Seu patrimônio líquido é de: 3. Analise os componentes patrimoniais abaixo, da empresa “Delta”: a. Dinheiro em caixa 50.000,00 b. Bens para revender 90.000,00 c. Impostos a recolher 15.000,00 d. Títulos a pagar 55.000,00 e. Capital social 95.000,00 f. Veículos de uso 40.000,00 g. Dívidas com fornecedores 35.000,00 4. Com base na análise procedida, indique qual o valor da riqueza ou capital do proprietário da referida empresa. a. 95.000,00 b. 135.000,00 c. 135.000,00 d. 240.000,00 e. 240.000,00 5. A empresa FIBONACCI começou a funcionar em 1º/4/2010 e realizou operações contábeis. Faça os seguintes lançamentos dos fatos contábeis em razonetes levantando o saldo de cada razonete. 1º/4/2010 – Integralização do capital social no valor de R$ 200 mil, sendo R$ 50 mil com uma loja e R$ 150 mil no banco 2/4/2010 – Compra de móveis e equipamentos à vista no valor de R$ 20 mil. 3/4/2010 – Com o objetivo de fortalecer, investiu R$ 30 mil em marcas e patentes a ser pago em 60 dias. 6/4/2010 – Reforma das instalações da loja, sendo R$ 20 mil pago em cheque à vista. 8/4/2010 – Comprou R$ 30 mil em mercadorias para revenda a serem pagas em 90 dias. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Situações Líquidas Patrimoniais AULA 6 Objetivos • Conceituar Balanço Patrimonial. • Identificar as situações líquidas do Patri- mônio. • Identificar os principais elementos que compõem o Patrimônio Líquido. Unidade II - Patrimônio INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 34 Introdução Até agora, nos limitamos a esclarecer o que é Ativo e Passivo e onde devem ser colocados os elementos repre- sentativos dos bens, dos direitos e das obrigações, bem como a identificação da riqueza do proprietário: o Patri- mônio Líquido. Agora, vamos falar um pouco mais sobre a riqueza lí- quida de uma determinada entidade. Situações Líquidas Por que estudar as Situações Líquidas agora? O Patrimônio Líquido (Ativo – Passivo) completa a re- presentação gráfica do Patrimônio, equilibrando a balan- ça. Assim, o total do lado esquerdo é igual ao total do lado direito. Entretanto, para que você possa compreender me- lhor o Patrimônio Líquido, vamos rever alguns conceitos e as Situações Líquidas Patrimoniais possíveis. Como já vimos, a soma dos valores corresponden- tes aos elementos que representam os Bens e os Direitos constituem o total do Ativo: Bens: Caixa R$ 30,00 Móveis R$ 50,00 Estoque de mercadorias R$ 20,00 Soma dos Bens R$ 100,00 Direitos: Duplicatas a receber R$ 40,00 Promissórias a receber R$ 10,00 Soma dos Direitos R$ 50,00 Soma total do Ativo R$ 150,00 Procedendo da mesma forma com os elementos que representam as Obrigações, temos: Obrigações: Duplicatas a pagar R$ 35,00 Salários a pagar R$ 15,00 Impostos a pagar R$ 30,00 Soma total das Obrigações R$ 80,00 O total dos Bens mais o total dos Direitos menos o total das Obrigações denomina-se Situação Líquida Patri- monial, logo: Ativo R$ 150,00 (menos) Obrigações R$ 80,00 R$ 70,00 = Situação Líquida Patrimonial Bens + Direitos – Obrigações = Situação Líquida Patrimonial A Situação Líquida Patrimonial sempre é colocada do lado direito, como percebermos no quadro abaixo repre- sentativo do Patrimônio. Ela deve ser somada às Obriga- ções (ou subtraída das Obrigações), de modo a igualar o lado do Passivo com o lado do Ativo, dando-lhe forma de equação patrimonial. Assim: A Situação Líquida Patrimonial é chamada também de Patrimônio Líquido. Patrimônio Ativo Passivo Bens Obrigações Caixa 30,00 Duplicatas a pagar 35,00 Móveis 50,00 Salários a pagar 15,00 Estoque de mercadorias 20,00 Impostos a pagar 30,00 Direitos Situação líquida 70,00 Duplicatas a receber 40,00 Promissórias a receber 10,00 Total R$ 150,00 Total 150 ,00 Conforme vimos, o total do lado esquerdo (150,00) tem que ser igual ao total do lado direito (150,00). Veja: no Ativo temos Bens mais Direitos (= 150,00) e no Passi- vo temos Obrigações + Situação Líquida Patrimonial = 150,00. O que é Balanço Patrimonial? O balanço é a representação da posição financeira e patrimonial da empresa em determinado período, re- presentando conseqüentemente uma posição estática do patrimônio. Segundo o art. 178 da lei nº 6404/76, “no balanço, os elementos que o compõem serão classificados de modo a facilitar o conhecimento e a análise da situação financeira da companhia”. Obs: A partir daqui, passaremos a representar o Pa- trimônio através do mesmo gráfico em forma de T, porém com o título apropriado:Balanço Patrimonial. AULA 6 • Situações Líquidas Patrimoniais 35 Considerando que o valor total dos bens e direitos contidos no lado esquerdo (Ativo) tem que ser igual ao valor total das obrigações mais Situação Líquida do Patrimônio contidos no lado direito (Passivo mais Patrimônio Líquido), poderemos ter algumas situações líquidas do patrimônio que devem ser analisadas. Situações Líquidas Patrimoniais possíveis 1ª) Ativo maior que o Passivo: Exemplo: Bens R$ 200,00 Direitos R$ 100,00 Obrigações R$ 180,00 Representando graficamente essa situação, sem levar em conta, ainda, a Situação Líquida, temos: Ativo Passivo Bens R$ 200,00 Obrigações R$ 180,00 Direitos R$ 100,00 Total R$ 300,00 Total R$ 180,00 Observe que os dois lados não têm o mesmo total. Logo, precisamos igualá-los. Veja: Lado do Ativo (+) R$ 300,00 Lado do Passivo (–) R$ 180,00 Diferença (+) R$ 120,00 Observações importantes: • Antes de cada valor colocamos um sinal; • O Ativo, contendo Bens e Direitos, é positivo; logo, sinal de mais (+); • O Passivo, contendo, neste caso, somente Obriga- ções, é negativo; logo, sinal de menos (–). A diferença de R$ 120,00 é chamada Situação Líquida; será colocada do lado do Passivo e adicionada ao valor das Obrigações. Neste caso, a Situação Líquida pode ser cha- mada de Situação Líquida Positiva, Ativa ou Superavitária. 2ª) Ativo menor que o Passivo: Exemplo: Bens R$ 200,00 Direitos R$ 100,00 Obrigações R$ 340,00 Observe que, como a soma das obrigações é maior que a soma dos bens e direitos, a situação líquida é negativa. Situação Líquida = R$ 300 – R$ 340 = – R$ 40,00 Representando graficamente, temos: Ativo Passivo Bens R$ 200,00 Obrigações R$ 340,00 Direitos R$ 100,00 (-) Situação líquida (40,00) Total R$ 300,00 Total R$ 300,00 Neste caso, a Situação Líquida pode ser chamada de Situação Líquida Negativa, Passiva ou Deficitária. 3ª) Ativo igual ao Passivo: Exemplo: Bens R$ 200,00 Direitos R$ 100,00 Obrigações R$ 300,00 Graficamente, teremos: Balanço Patrimonial Ativo Passivo Bens R$ 200,00 Obrigações R$ 300,00 Direitos R$ 100,00 Total R$ 300,00 Total R$ 300,00 Veja: Lado do Ativo (+) R$ 300,00 Lado do Passivo (–) R$ 300,00 Diferença – 0 – Neste caso, o Ativo é inteiramente absorvido pelas Obrigações, e a Situação Líquida é nula, inexistente. Observe que se pretendêssemos liquidar essa empresa neste momento, tudo o que se apuraria com a venda dos Bens e recebimento dos Direitos cobriria apenas as obrigações, não restando nada para o proprietário. Balanço Patrimonial Ativo Passivo Bens Obrigações Direitos Patrimônio Líquido INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 36 Até aqui, vimos Patrimônio Líquido como sendo simplesmente a diferença entre Ativo e Passivo. Agora, vamos entendê-lo como um conjunto de elementos que representam fontes de recursos. O Patrimônio Líquido é composto pelos seguintes elementos, que serão mais detalhados nas aulas seguintes: • Capital social: é fonte do grupo do Patrimônio Líquido, pois representa a soma dos valores que o proprietário investiu na empresa. É chamado também de capital social. • Reservas de capital: correspondem à reserva de capital cujas origens são atividades não operacionais da empresa: • Reserva de Lucros: são as reservas cuja origem é de atividade operacional da empresa. • Ajustes de avaliação patrimonial: representam os ajustes feitos nos ativos que valorizaram ou desvalorizaram em relação ao respectivo valor de mercado. • Prejuízos Acumulados: o principal objetivo das empresas é o lucro. No final do exercício (período em que a empresa opera – geralmente um ano), a empresa pode obter lucro ou prejuízo proveniente das suas atividades. Os lucros do exercício e os prejuízos acumulados são registrados nessa conta. Resumo Vimos que o Patrimônio Líquido é o quarto grupo de elementos patrimoniais que, juntamente com os Bens, os Direitos e as Obrigações, completará a Demonstração contábil denominada Balanço Patrimonial. O total do grupo Patrimônio Líquido é igual ao valor da Situação Líquida da empresa. Por fim, aprendemos que o Patrimônio Líquido de uma empresa é composto basicamente pelos seguintes elementos: capital social, reservas e lucros. Atividades O objetivo destas práticas é fixar bem as Situações Líquidas possíveis. 1. Represente graficamente e apure a Situação Líquida: (A) 1) Caixa 200,00 2) Móveis e Utensílios 300,00 3) Duplicatas a Pagar 170,00 4) Veículos 30,00 5) Salários a Pagar 20,00 6) Duplicatas a Receber 70,00 (B) 1) Veículos 4.000,00 2) Móveis e Utensílios 2.000,00 3) Máquinas 1.000,00 4) Caixa 1.000,00 5) Promissórias a pagar 2.000,00 6) Impostos a pagar 5.000,00 7) Duplicatas a pagar 7.000,00 8) Títulos a receber 500,00 9) Aluguéis a receber 500,00 Fonte de recursos: capital dos sócios, terceiros, lucro, etc. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE AULA 7 Conceito e finalidade Objetivos • Compreender o que é conta. • Distinguir os diversos tipos de contas. • Perceber a importância das contas. • Entender a finalidade da planificação das contas. Unidade III - Contas INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 38 Introdução Na atualidade, as organizações estão buscando racionalizar seus métodos e processos objetivando a redução de custos e o melhor entendimento de suas atividades. Desta forma, para a concepção de qualquer empreendimento, torna- se necessário o estabelecimento de um planejamento, envolvendo aspectos econômicos, financeiros, contábeis e societários. A Contabilidade deve ser elaborada observando seus Princípios Fundamentais e legislações específicas e ser compreensível a seus diversos usuários. As informações divulgadas nos demonstrativos contábeis devem representar com fidedignidade a situação patrimonial e financeira da organização e ser útil ao público interessado em sua apresentação. Assim, como mecanismo informacional em uma organização, a Contabilidade deve estabelecer normas de conduta e criar métodos eficazes que possibilitem informações amplas e exatas. Mediante os registros contábeis, a Contabilidade evidencia os fatos contábeis (acontecimentos que mudam a composição do patrimônio). Estes registros devem ser feitos de maneira planificada, organizada, facilitando a obtenção de relatórios de interesse dos usuários. Para alcançar este objetivo, os registros são anotados em contas. A elaboração de um plano de contas será tratada posteriormente. Antes de estudarmos especificamente algumas técnicas de elaboração de um plano de contas e compreendermos a sua importância nas organizações, é preciso que tenhamos um conhecimento sobre o conceito de conta, que será o embasamento para o registro contábil das modificações patrimoniais de uma organização. Conceito e Finalidade Como vimos na Unidade 1, a Escola Contista defendia que o objeto de estudos da Contabilidade era a conta, ou seja, a preocupação central era o registro dos direitos e das obrigações. A Escola contista representou a primeira discussão em caráter Científico da Contabilidade. Segundo Lopes de Sá (1998), “conta é a expressão qualitativa e quantitativa, estática e dinâmica, de fatos patrimoniais da mesma natureza, ocorridos ou por ocorrer, em uma empresa ou em uma entidade.” As contas se distinguem umas das outras por possuírem um objeto específico que reúne fatos de características próprias, iguais por sua natureza, que aparecem na composição do patrimônio da organização. O título de uma conta, isto é, a designação de uma determinada conta, evidencia a causa para a qual foi aberta e o grupo devalores a que pertence, como por exemplo, se pertence ao Ativo ou Passivo. A identificação da conta é imprescindível na técnica dos registros. Como títulos de contas podemos citar: Duplicatas a receber e Duplicatas a pagar, que, por si só, dizem quem é seu objeto. Ao criar-se uma conta, deve-se verificar a real necessidade e relevância de sua existência, principalmente quanto a sua vinculação ao fato que a originou, observando a relação custo x benefício de seu potencial informacional. Percebe-se que as contas devem agrupar-se em grandes classes, subclasses, grupos e subgrupos. Vale a pena ressaltar que cada usuário da Contabilidade observará grupos de contas específicos e em níveis de detalhamentos distintos. Na planificação das contas deve-se atentar para os Princípios Fundamentais de Contabilidade (que serão tratados em detalhes posteriormente) e para a legislação específica da empresa que os norteiam. A conta tem uma ligação direta com o seu objeto, que não pode ser confundido com o de outras contas, evitando- se a redundância ou inconsistência na informação contábil. O objetivo, a finalidade e a natureza da empresa devem ser respeitados quando da definição das contas. Um mesmo fato patrimonial pode ser classificado de maneiras diversas em empresas de atividades diferentes. O importante ao definirmos a planificação das contas é elaborá-la observando sua função nas empresas e respeitando suas atividades. Exemplo Tomando como exemplo o patrimônio da família Pacioli, notamos que os elementos patrimoniais contidos no Ativo e no Passivo são especificados por títulos ou contas contábeis patrimoniais com os seus respectivos valores. Custos: gastos relativos à produção de bens ou serviços. AULA 7 • Conceito e finalidade 39 Patrimônio da Família Pacioli Bens e Direitos Obrigações Bens Prestações da TV 4.000,00 Um carro 90.000,00 Prestações da casa 34.000,00 Uma casa 500.000,00 Prestações do carro 15.000,00 Dinheiro em casa 5.000,00 Dinheiro no banco 45.000,00 Uma geladeira 4.000,00 Uma TV em cores 12.000,00 Cheque a receber de José Eduardo 10.000,00 Direitos Patrimônio Líquido: Dinheiro empres- tado ao Tio João 25.000,00 Capital Social 668.000,00 Notas Promissórias de José Eduardo 30.000,00 Total 721.000,00 Total 721.000,00 Resumo Podemos entender que a conta contábil representa os elementos patrimoniais, os quais permitem que sejam evidenciadas as variações ocorridas nos mesmos. As contas representam os registros dos fatos contábeis e são organizadas em grupos e subgrupos respeitando os princípios contábeis, que serão abordados com mais detalhamento na unidade 7 desta disciplina. Atividades 1. O que são registros contábeis? 2. Qual a importância da planificação da Contabilidade? 3. O que são contas contábeis? 4. O que distingue as contas contábeis? 5. Existe um “padrão” de título de contas? Justifique. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE AULA 8 Unidade III - Contas Contas Patrimoniais e Contas de Resultado Objetivos • Compreender o que são contas do Ativo. • Compreender o que são contas do Passi- vo e Patrimônio Líquido. • Compreender o que são contas Transitó- rias. • Compreender o que são contas de Resul- tado. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 42 Contas Patrimoniais A Contabilidade é uma ciência que possui como objeto de estudo o Patrimônio e objetiva verificar e evidenciar suas modificações, conforme abordamos na Unidade 1. As empresas demonstram o Patrimônio e as respectivas variações por meio das Contas, efetivados nos registros contábeis. Desta forma, todas as transações ou fatos contábeis devem ser registrados nos Demonstrativos contábeis. As contas se diferem umas das outras por possuir objeto específico, não se confundindo assim entre si, conforme estudamos na aula anterior, embora guardem algumas similaridades para fins de agrupamento. As contas na Contabilidade são classificadas pelo sistema Patrimonial, visando a dois relatórios básicos: o Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado do Exercício. Estes relatórios serão tratados mais especificamente adiante. As contas patrimoniais são conhecidas por serem as contas que compõem a demonstração do Balanço Patrimonial, através da qual podemos apurar a situação patrimonial-financeira de uma empresa em determinado momento. As contas patrimoniais são conhecidas por serem as contas que compõem a demonstração do Balanço Patrimonial, por meio da qual podemos apurar a situação patrimonial-financeira de uma empresa em determinado momento. Você já sabe que o patrimônio de uma determinada empresa é representado pelo Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido. Agora chamaremos esta mesma representação, por convenção, de Balanço Patrimonial. Desta maneira, vamos discorrer sobre os grandes grupos de contas desta demonstração, que são as contas do Ativo, as contas do Passivo e as contas do Patrimônio Líquido. Em seguida, estudaremos o detalhamento das mesmas. As demonstrações contábeis, inclusive o Balanço Patrimonial, serão objeto de estudo de unidades posteriores. Contas do Ativo As contas do Ativo representam todos os investi- mentos realizados pela empresa. Elas compreendem os bens e os valores a receber ou direitos da empresa evidenciados em moeda. A conta do Ativo deve representar um poder de compra que pode ser realizado ou convertido em caixa ou contas a receber, como as mercadorias ou bens que apresentam um benefício relevante. Por exemplo, imaginemos que sua empresa adquira um automóvel. Este será registrado em uma conta do grupo do Ativo. Contudo, se ela paga determinado valor para registrar a marca de um produto, ela passa a ter o direito sobre esta marca, também representando um Ativo. Agora, imaginemos que a empresa venda o automóvel anteriormente adquirido a prazo. A empresa terá títulos a receber, que são também Ativos. Outros exemplos de Ativos são: • Dinheiro guardado no banco; • duplicatas a receber, proveniente de vendas a prazo; • estoques de produtos para venda; • estoques para consumo posterior; • móveis para uso da empresa; • veículos; • aplicações em outras empresas; • aplicações financeiras; • despesas pagas antecipadamente. Caro aluno, é bom deixar clara a diferença entre duplicatas e títulos. As duplicatas são títulos que comprovam a obrigação de pagar devido a uma relação de compra e venda de mercadorias e/ou serviços dessa maneira, documentam obrigações de pagar ou direitos a receber. Os títulos de crédito são papéis emitidos para representar uma obrigação conforme a legislação. As duplicatas são títulos que comprovam a obrigação de pagar, devido a uma relação de compra e venda de mercadorias e/ou serviços. Dessa maneira, documentam as obrigações de pagar ou direitos a receber. Contas do Passivo As contas do Passivo envolvem todos os financiamentos realizados pela empresa. O Passivo representa as obrigações, as dívidas a pagar aos credores: aqueles que financiam a empresa, ou seja, o capital de terceiros. Assim, se uma empresa adquire um automóvel para pagamento no futuro, o registro da entrada deste bem é representado em uma conta do Ativo. Contudo, a empresa adquire uma dívida com quem lhe vendeu o bem. Esta dívida é representada por uma conta do Passivo. Quando uma empresa compra a prazo mercadorias para revender, a propriedade da mercadoria representa um Ativo. Mas, ao mesmo tempo, a obrigação de pagar as duplicatas representativas da dívida constitui-se um Passivo exigível para a companhia. Marca: denominação de um produto que indica propriedade. Títulos a receber: Título de crédito que constitui um direito de recebimen- to futuro. AULA 8 • Contas Patrimoniaise Contas de Resultado 43 Outras modalidades de dívida ou obrigações que re- presentam um Passivo para as empresas são: • Duplicatas a pagar; • salários a pagar; • aluguéis a pagar; • empréstimos ou financiamentos a pagar; • juros a pagar; • impostos a pagar. Contas do Patrimônio Líquido O Patrimônio Líquido representa o registro do valor que os proprietários de uma empresa ou os acionistas de uma companhia têm aplicado no negócio. A diferenca entre o Ativo e o Passivo (bens e obrigacöes) é o capital pró- prio da empresa. Assim, o capital (patrimônio) social (da sociedade) representa o investimento efetuado pelos seus proprietários. Empregando a equacão patrimonial, estuda- da na Unidade 2, podemos calcular o valor do Patrimônio LIquido da empresa. Vejamos: Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido Total do Ativo R$ 30.000,00 Total do Passivo R$ 23.000,00 Total do Patrimônio Líquido ? R$ 30.000,00 = R$ 23.000,00 + Patrimônio Líquido Patrimônio Líquido = R$ 30.000,00 - R$ 23.000,00 Patrimônio Líquido = R$ 7.000,00 Com a Lei nº 11.638/07, o Patrimônio Líquido passou a ser dividido em capital social, reservas de capital, ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados. Contas Redutoras ou Retificadoras Na Contabilidade, encontramos ainda as denominadas contas redutoras ou retificadoras existentes, tanto no grupamento do Ativo quanto no grupamento do Passivo e Patrimônio Líquido. Desta forma, em ambos os casos, estas contas reduzem ou retificam o saldo total de seus respectivos grupamentos. No tópico sobre plano de contas, desta unidade, estudaremos detalhadamente estas contas. Por hora, vamos citar alguns exemplos: Entendemos que um veículo, com o passar do tempo, perderá valor em virtude de seu uso ou obsolescência - depreciação. Como ajustar esta conta? A legislação especifica as taxas anuais que deverão ser aplicadas no valor registrado a título de reconhecimento da perda do valor do referido bem. No caso do veículo, a legislação determina que a empresa deve reconhecer 20% de depreciação anualmente. Exemplos: Ativo Veículo 20.000,00 Depreciação (4.000,00) Valor líquido 16.000,00 - este será o valor apresen- tado no balanço Patrimonial Patrimônio – Líquido Capital Social 10.000 Capital a integralizar (2.000,00) – representa o valor que ainda não foi incorporado ao caixa da empresa pelos proprietários. Um (ou mais) dos sócios não aplicou, integralizou, totalmente ou em parte, o capital que lhe compete dentro da sociedade. Contas de resultado Em Contabilidade, conhecemos como conta de resultado as contas de Despesas, Custos e Receitas. Como estudamos no tópico anterior, as contas patrimoniais compõem basicamente o Balanço Patrimonial. Agora, estudaremos as contas de resultado que compõem a Demonstração de Resultado do exercício. Despesas e custos Consideramos como despesa de uma empresa todos os gastos por ela desembolsados ou devidos que são necessários ao desenvolvimento de suas operações, ou seja, despesa representa todo valor que a empresa paga para estar em atividade, em plena operação. Mas há uma distinção entre gastos devidos e gastos desembolsados. Vejamos: • Gastos devidos - representam gastos que aconteceram, ou incorreram, mas que a empresa ainda não pagou. Como exemplo podemos citar as despesas de combustível que a empresa faz durante o mês e cujas notas fiscais somente serão apresentadas para pagamento no final do mês, representando um gasto não desembolsado, mas já devido. • Gastos desembolsados - representam o pagamento de despesas, isto é, gastos já pagos. Todavia, não devemos confundir despesa e desembolso. Nem todo desembolso representa o INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 44 pagamento de uma despesa, pois, por exemplo, se uma empresa comprar um veículo à vista, para sua utilização, este fato contábil representará um desembolso, porém não representará uma despesa, e sim um aumento do Ativo. Por outro lado, ao desembolsar o pagamento do combustível este representará uma despesa. Resumindo, podemos estabelecer como diferença básica entre desembolso e despesa o seguinte critério: se o desembolso provocar um aumento do Ativo ou uma redução do Passivo exigível, não será uma despesa. Caso contrário, representará uma despesa. Na nossa última aula desta unidade, estudaremos situações que fogem a esta regra, como, por exemplo, as despesas antecipadas. Apenas para ilustração, citamos abaixo alguns exemplos de despesas e gastos: • salários dos funcionários; • aluguel de imóveis; • gastos com material de escritório; • gastos com material de limpeza; • comissões de vendedores; • despesas de água, luz e telefone. As contas de custos são todas as contas que representam as aplicações para a obtenção do produto ou da mercadoria, com a finalidade de atingir o objetivo social da empresa. Na disciplina Contabilidade de Custos, detalharemos mais este assunto. Receitas Consideramos como receita de uma empresa o dinheiro que ela recebe ou tem direito a receber, proveniente de suas operações. Sua maior fonte é representada pelo ingresso de recurso em função da venda de bens e prestação de serviços, todavia, ocorre também em função de ganhos provenientes de aplicações no mercado financeiro. Normalmente, o ingresso de uma receita representará um aumento no Ativo da empresa; contudo, devemos saber distinguir a diferença entre recebimento e receita. Vamos estabelecer o seguinte critério: se o recebimento provocar diminuição do Ativo ou aumento do Passivo exigível, não será uma receita. Não sendo esse o caso, então, representará uma receita. Voltaremos a tratar com mais detalhes das contas de resultado na Unidade 5 desta disciplina. Resumo Nesta aula estudamos os conceitos dos dois grandes grupamentos de contas: as contas patrimoniais e as contas de resultado. Verificamos que as contas patrimoniais subdividem-se em: Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido, além das contas redutoras ou Retificadoras; e as contas de Resultado em despesas, custos e Receitas. Atividades 1. O que são contas patrimoniais? 2. O que são contas de Resultado? 3. Defina e exemplifique contas do Ativo. 4. Defina e exemplifique contas do Passivo. 5. O que são contas Retificadoras ou Redutoras? 6. Pelo tema abordado nesta aula, qual a importância das contas contábeis? 7. Qual a importância na adoção da função e funcionamento da contas? Questões para reflexão 1. Explique, com suas palavras, por que as duplicatas a pagar e as a receber não são costumeiramente lançadas na mesma conta que os títulos a pagar e os a receber respectivamente? 2. Você enxerga alguma diferença entre os termos “Demonstração” e “Demonstrativos”? Qual? INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade III - Contas AULA 9 Plano de Contas Objetivos • Conceituar plano de contas. • Compreender e diferenciar elenco, fun- ção e funcionamento das contas. • Diferenciar os grupamentos do Ativo, Passivo, Patrimônio Líquido e Resultados em uma planificação contábil. • Compreender o grau de contas nos diver- sos grupamentos patrimoniais e de resul- tado. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 46 Introdução Nas aulas anteriores estudamos sobre o significado de Conta para a Contabilidade, sua importância, conceito e características. Além disso, estudamos os grandes grupos de contas, as contas patrimoniais e as contas de resultados. Agora veremos como estruturar ou planificar um plano de contas. Vale ressaltar que não existe um “padrão” de plano a ser seguido, pois as atividades empresariais são várias e cada qual possui suas peculiaridades, que devem ser observadas ao elaborar o planode contas. Por isso, abordaremos de forma genérica a planificação contábil, objetivando consolidar os nossos conhecimentos. Elementos básicos de um Plano de Contas Vamos iniciar com os elementos básicos de um plano de contas: 1) títulos das Contas; 2) funções das Contas; 3) funcionamento das Contas; 4) princípios que norteiam o Plano. Toda conta é identificada pelo seu título, que deve exprimir de forma clara e sintética seu objeto, ou seja, a natureza dos fenômenos que ela reúne. A delimitação deste objeto é que nos permite diferenciar uma conta da outra. A estrutura que adotamos no Brasil para segregar as contas é regida pela Lei 6.404/76 ou Lei das S/As. e modificações introduzidas pela Lei 11.638/07. Uma empresa pode utilizar-se de planos de contas diferenciados para fins gerenciais, mas deve ter a Contabilidade na forma da legislação. Um Plano de Contas é uma peça muito importante na técnica contábil, pois estabelece, previamente, a conduta a ser adotada na escrituração das empresas, através da exposição das contas em seus títulos, funções, funcionamento, grupamentos, etc. Elenco, função e funcionamento do Plano de Contas Um Plano de Contas não se limita, unicamente, ao seu elenco, isto é, à relação das contas em seus títulos. Ele deve abranger a descrição das funções e funcionamento das mesmas com o objetivo de orientar a escrituração fidedigna dos fatos contábeis da empresa. O elenco é a parte mais visível no Plano de Contas, mas é apenas uma das partes que compõem esta peça contábil tão importante. O elenco deve ser uma peça flexível, deixando sempre margem para que novas contas sejam inseridas e dando ao plano a maleabilidade necessária. Ele é uma peça de constante consulta. A função de uma conta é a sua ação, para que serve, qual o papel que desempenha na escrituração. Pode ser conceituada como a explicação do objeto da conta, a expressão descritiva da natureza dos fatos registráveis na conta. Exemplo: função da conta FORNECEDORES Esta conta destina-se ao registro de todas as transações efetuadas com as firmas ou pessoas que realizam fornecimento para a empresa. Nela registram- se, normalmente, as faturas ou notas de fornecimento e os seus resgates. Tem ainda por função “o registro das antecipações sobre fornecimentos, quando estes forem feitos a prazo curto e quando não se relacionarem com transações que se prolonguem, necessitando de acertos especiais”. (Lopes de Sá, 1998) Pela descrição detalhada da função de uma conta se conhece perfeitamente qual o seu objeto, ou, ainda, para que foi aberta. Ao descrevermos as funções das contas, entretanto, precisamos nos centrar no problema com todas as suas minúcias e evitar que existam contas de funções duvidosas ou em duplicidade. Existem, universalmente, contas clássicas e que já têm sua função bem caracterizada e conhecida, o que facilita muito o trabalho de elaboração, como, por exemplo, as contas de Caixa, Bancos, Clientes, Fornecedores, Estoques, Compras, Vendas, Despesas de administração, Despesas financeiras, Despesas tributárias e outras. Contudo, devemos estar muito atentos ao definirmos a função de cada conta. O funcionamento das contas estabelece a relação da conta com as outras e evidencia como se comportam diante de seu objeto. Objetivamente, demonstra como se Escrituração = registros contábeis. AULA 9 • Plano de Contas 47 debita a conta, como se credita, qual a natureza de seu saldo, quais as outras contas que normalmente com ela estabelecem contato nos fatos contábeis de uma empresa. A descrição do funcionamento das contas é uma peça que normalmente não encontramos nos Planos de Contas, isto porque, na maioria dos casos, existe uma preocupa- ção apenas na utilização do elenco das contas e não no conjunto do plano de contas. Em muitos casos, adota-se também fundir o funciona- mento com a função da conta, fazendo de ambos uma só peça, às vezes, de forma bem simples. Encontramos tam- bém em outros planos apenas o elenco e o funcionamen- to das contas. Devemos estar atentos em estruturar um plano de contas que atenda à necessidade informacional da Contabilidade, seja ela interna ou externa, e que seja criteriosamente elaborado e flexível. Grau das contas no Plano de Contas Grau de contas é a forma de estabelecermos a de- pendência, a ligação entre as contas de um mesmo gru- pamento contábil. Para começar, agrupamos as contas do grupamento do Ativo, do grupamento do Passivo, do grupamento do Patrimônio Líquido e do grupamento de Resultado, ou seja, os grandes grupos de contas da Con- tabilidade. Grandes grupos de contas: • Ativo • Passivo • Patrimônio Líquido • Resultado Dentro de cada um destes grupamentos de contas fazemos uma subdivisão em grupamentos menores, mas sem perder o elo de dependência. É necessário analisar as contas de modo que a dependente tenha sempre classifi- cação inferior à principal. Ao observarmos a estrutura dos grupamentos, saberemos que o somatório das contas de grupamento inferior corresponderá ao total das contas de grupamento superior. As contas podem ser classificadas em analíticas ou sintéticas. As sintéticas são aquelas que representam um grupo de contas e podem ser divididas em subcontas. Já as analíticas são aquelas que podem receber lançamentos. Atualmente, fora raras exceções, a planificação con- tábil é efetuada em sistemas computadorizados que fa- cilitam muito o objetivo informacional da Contabilidade. Contudo, devemos observar alguns critérios mínimos para sua elaboração: • título da conta bem claro e identificador do evento ou fato contábil; • classificação da conta (conta patrimonial, resulta- do); • temporalidade do saldo da conta (diário, mensal, periódico); • seqüência lógica e bem organizada na disposição das contas. Uma empresa deve ter um Plano de Contas que real- mente esclareça os fatos sucedidos em seu patrimônio em certo período de tempo. O número de contas e o número de subdivisões dependem muito das atividades de cada empresa e de sua técnica de negócios. Assim, por exemplo, como primeiro grau relativo à es- trutura, podemos atribuir um número como o identificador dos grupos de contas principais. Desta forma, a numera- ção de cada conta conterá, no início, o número do grupo ao qual pertence. Vamos numerar os grupos principais: 1. Ativo 2. Passivo 3. Custos e despesas 4. Receitas No segundo grau, colocamos os grupos que represen- tam as divisões da estrutura. Por exemplo, na estrutura do Ativo, encontraremos: 1.1 Ativo Circulante 1.2 Ativo Não Circulante No terceiro grau, colocamos os subgrupos que repre- sentam as grandes divisões dos grupos. Como subgrupos do Ativo Não Circulante1 podemos exemplificar: 1.1.1 Realizável a Longo Prazo 1.1.2 Investimentos 1.1.3 Imobilizado 1.1.4 Intangível Não há obrigatoriedade nisto, ou seja, a empresa pode ou não adotar subgrupos. 1 Um quinto grupo denominado diferido compunha o Balanço Patrimo- nial. Com a medida provisória MP449, os itens que o compunham passa- ram a ser baixados para o resultado ou reclassificados como intangível. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 48 No quarto grau, incluímos os títulos das contas que re- presentam as divisões dos subgrupos. Por exemplo, em um grupo do imobilizado, podem estar inseridas as contas de: 1.1.1.1 Caixa 1.1.1.2 Bancos Conta-Movimento 1.1.1.3 Aplicações de Liquidez Imediata E assim por diante. Ressaltamos que o plano de contas obedece à necessidade da empresa, respeitando o que for obrigado pela legislação. Segue abaixo modelo completo de um Plano de Contas. 1 ATIVO 1.1 Ativo Circulante 1.1.1 Disponível 1.1.1.1 Caixa 1.1.1.1.1 Fundo Fixo de Caixa 1.1.1.1.2 CaixaGeral 1.1.1.2 Depósitos Bancários 1.1.1.2.1 Banco do Povo 1.1.1.2.2 Banco Amarelo 1.1.1.3 Numerário em Trânsito 1.1.1.4 Aplicações de liquidez Imediata 1.1.1.4.1 Banco do Povo 1.1.1.4.2 Banco Amarelo 1.1.2 Clientes 1.1.2.1 Duplicatas a Receber 1.1.2.1 Cliente A 1.1.2.2 Cliente B 1.1.2.2 Duplicatas a Receber - Controladas, Controladoras e Coligadas 1.1.2.3 (-) Duplicatas Descontadas 1.1.2.4 (-) Provisão para Perdas 1.1.3 Créditos Diversos 1.1.3.1 Títulos a Receber - Renegociações 1.1.3.2 Títulos a Receber - Outras Transações 1.1.3.3 Cheques em Cobrança 1.1.3.4 Dividendos a Receber 1.1.3.5 Bancos - Contas Vinculadas 1.1.3.6 Impostos a Recuperar 1.1.3.6.1 ICMS a Recuperar 1.1.3.6.2 IPI a Recuperar 1.1.3.6.3 Impostos sobre Mercadorias em Trânsito 1.1.3.6.4 Imposto de Renda Retido na Fonte 1.1.3.6.5 Imposto de Renda Pago a maior 1.1.3.6.6 Saldo Negativo de IRPJ 1.1.3.6.7 IRPJ Estimativa a Compensar 1.1.3.6.9 CSLL Retida na Fonte por Órgãos Públicos Federais 1.1.3.6.10 CSLL paga a maior 1.1.3.6.11 Saldo Negativo de CSLL 1.1.3.6.12 CSLL Estimativa a Compensar 1.1.3.7 Outros Créditos 1.1.3.8 (-) Provisão para Perdas 1.1.4 Aplicações Financeiras 1.1.4.1 Aplicações com Rendimentos Pós-fixados 1.1.4.1 Aplicações com Rendimentos Pós- fixados 1.1.4.1.1 Aplicações 1.1.4.1.2 Rendimentos 1.1.4.2 Aplicações com Rendimentos Pré-fixados 1.1.4.3 Títulos Estatais 1.1.4.4 Debêntures 1.1.4.6 Ações 1.1.4.7 Juros a Receber 1.1.4.8 (-) Provisões para Ajuste ao Valor de Mercado 1.1.5 Estoques 1.1.5.1 Mercadorias (compras) 1.1.5.1.1 Calçados 1.1.5.1.2 Roupas 1.1.5.1.3 Material Esportivo 1.1.5.2 Mercadorias em Trânsito 1.1.5.3 Mercadorias em Consignação em Poder de Terceiros 1.1.5.5 Material de Acondicionamento 1.1.5.6 Almoxarifado 1.1.5.6.1.1 Peças de Reposição de Automóveis 1.1.5.6.1.2 Lâmpadas e Material Elétrico 1.1.5.6.1.3 Material de Expediente 1.1.5.9 (-) Provisão para Ajuste ao Valor de Mercado 1.1.6 Adiantamentos 1.1.6.1 A Empregados 1.1.6.3 A Fornecedores 1.1.6.5 Importações em Andamento 1.1.7 Despesas Antecipadas 1.1.7.1 Prêmios de Seguros 1.1.7.2 Assinaturas e Anuidades 1.1.7.3 Aluguéis e Arrendamentos Antecipados 1.2 Ativo Não-Circulante 1.2.1 Ativo Realizável a Longo Prazo AULA 9 • Plano de Contas 49 1.2.1.1 Créditos Diversos 1.2.1.1.1 Títulos a Receber - Renegociações 1.2.1.1.2 Títulos a Receber - Outras Transações 1.2.1.1.3 Controladas, Coligadas e Controladora 1.2.1.1.4 Sócios, Administradores e Pessoas Ligadas 1.2.1.1.5 Bancos - Contas Vinculadas 1.2.1.1.9 (-) Provisão para Perdas 1.2.1.2 Aplicações Financeiras 1.2.1.2.1 Aplicações com Rendimentos Pós- fixados 1.2.1.2.2 Aplicações com Rendimentos Pós- fixados 1.2.1.2.3 Aplicações 1.2.1.2.4 Rendimentos 1.2.1.2.5 Aplicações com Rendimentos Pré- fixados 1.2.1.2.6 Títulos Estatais 1.2.1.2.7 Debêntures 1.2.1.2.8 Ações 1.2.1.2.9 Juros a Receber 1.2.1.2.10 (-) Provisões para Ajuste ao Valor de Mercado 1.2.1.3 Empréstimos Compulsórios 1.2.1.4 Impostos a Recuperar 1.2.1.4.1 ICMS a Recuperar 1.2.1.4.2 IPI a Recuperar 1.2.1.4.3 Impostos sobre Mercadorias em Trânsito 1.2.1.4 Imposto de Renda Retido na Fonte 1.2.1.4.5 Imposto de Renda Pago a maior 1.2.1.4.6 Saldo Negativo de IRPJ 1.2.1.4.7 IRPJ Estimativa a Compensar 1.2.1.4.9 CSLL Retida na Fonte por Órgãos Públicos Federais 1.2.1.4.10 CSLL paga a maior 1.2.1.4.11 Saldo Negativo de CSLL 1.2.1.4.12 CSLL Estimativa a Compensar 1.2.1.5 Adiantamentos 1.2.1.6 Despesas Antecipadas 1.2.2 Investimentos 1.2.2.1 Em Controladas e Coligadas - Equivalência Patrimonial 1.2.2.2 Em Controladas e Coligadas - Custo Corrigido 1.2.2.3 Outras Participações Societárias 1.2.2.4 Participações por Incentivos Fiscais 1.2.2.5 Imóveis Não Destinados ao Uso 1.2.2.5.1 Destinados a Futura Expansão 1.2.2.5.2 Destinados a Aluguel a Administradores Empregados 1.2.3 Imobilizado 1.2.3.1 Imóveis 1.2.3.1 Imóveis 1.2.3.1.1 Terrenos 1.2.3.1.2 Construções 1.2.3.1.3 Edifícios 1.2.3.1.4 Instalações Elétricas 1.2.3.1.5 Instalações Hidráulicas 1.2.3.1.9 Outras Instalações 1.2.3.2 Móveis e Utensílios 1.2.3.3 Veículos 1.2.3.4 Máquinas, Equipamentos e Ferramentas 1.2.3.6 Recursos Naturais 1.2.3.7 Benfeitorias em Propriedade de Terceiros 1.2.3.8 Imobilizado em Andamento (construção; importação; consórcio...) 1.2.3.9 (-) Depreciações, Amortizações e Exaustões Acumuladas 1.2.3.9 (-) Depreciações, Amortizações e Exaustões Acumuladas 1.2.3.9.1 Depreciações de Imóveis 1.2.3.9.2 Depreciações de Móveis e Utensílios 1.2.3.9.3 Depreciações de Veículos 1.2.3.9.4 Depreciações de Máquinas, Equipamentos e Ferramentas 1.2.3.9.6 Exaustões e Depreciações de Recursos Naturais 1.2.4 Intangível 1.2.4.1 Fundo de Comércio 1.2.4.2 Marcas 1.2.4.3 Patentes 1.2.4.4 Direitos Autorais 1.2.4.5 Licenças 1.2.4.6 Propriedade Intelectual 1.2.4.7 Nome Comercial 1.2.4.8 Imagem 1.2.4.9 Carteira de Clientes 1.2.4.10 Franquia 1.2.4.11 Direitos de Comercialização 1.2.4.12 Direito de Uso de Software 1.2.4.13 Direito de Uso de Telefone 1.2.4.20 (-) Amortizações Acumuladas 2 PASSIVO 2.1 Passivo Circulante INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 50 2.1.1 Empréstimos e Financiamentos 2.1.1.1 Empréstimos Nacionais 2.1.1.1.1 Pós-fixados 2.1.1.1.2 Pré-fixados 2.1.1.1.9 (-) Encargos Pré-fixados a Apropriar 2.1.1.2 Empréstimos Estrangeiros 2.1.1.3 Financiamentos Nacionais 2.1.1.4 Financiamentos Estrangeiros 2.1.1.5 Títulos a pagar 2.1.1.6 Arrendamentos a Pagar 2.1.1.7 Adiantamentos sobre Contratos de Câmbio (ACC) 2.1.1.8 Empréstimos para Controladas, Coligadas e Controladora 2.1.1.9 Juros e Encargos Apropriados a Pagar 2.1.2 Debêntures 2.1.2.1 Conversíveis em Ações 2.1.2.2 Não Conversíveis 2.1.2.3 Juros Apropriados a Pagar 2.1.3 Fornecedores 2.1.3.1 Nacionais - de Mercadorias 2.1.3.2 Estrangeiros - de Mercadorias 2.1.3.3 Nacionais - de Imobilizado 2.1.3.4 Estrangeiros - de Imobilizado 2.1.4 Impostos a Pagar ou Recolher 2.1.4 Impostos a Pagar 2.1.4.1 ICMS a Recolher 2.1.4.2 IPI a Recolher 2.1.4.3 Provisão para Imposto de Renda 2.1.4.4 Provisão para Contribuição Social 2.1.4.5 IRRF a Recolher 2.1.4.6 Provisão para o IOF 2.1.4.7 PIS a pagar 2.1.4.8 COFINS a pagar 2.1.4.9 ISS a Recolher 2.1.4.10 Outros Impostos 2.1.4.5 IRRF a Recolher 2.1.4.5.1 Salários e Honorários 2.1.4.5.2 Remuneração a Autônomos 2.1.4.5.3 Serviços prestados por Pessoas Jurídicas 2.1.4.5.4 Juros s/ Capital Próprio 2.1.4.5.5 Aluguéis 2.1.4.5.9 Outros 2.1.5 Salários e Contribuições Previdenciárias 2.1.5.1 Ordenados e Salários a Pagar 2.1.5.2 Honorários da Administração a Pagar 2.1.5.3 INSS a Recolher 2.1.5.4 FGTS a Recolher 2.1.5.5 Gratificações a Pagar 2.1.5.8 Provisão p/ Férias e Encargos 2.1.5.9 Provisão p/ 13º Salário e Encargos 2.1.6 Obrigações Diversas 2.1.6.1 Adiantamentos de Clientes 2.1.6.2 Contas Correntes 2.1.6.3 Água 2.1.6.4 Luz 2.1.6.5 Telefone 2.1.6.6 Seguros 2.1.6.9 Contas a Pagar 2.1.7 Dividendos/Lucros e Participações 2.1.7.1 Dividendos/Lucros Propostos 2.1.7.2 Participações Propostasa Administradores 2.1.7.3 Participações Propostas a Empregados 2.1.7.6 Dividendos/Lucros a Pagar 2.1.7.7 Participações a Pagar 2.1.8 Outras Provisões 2.1.8.2 Provisão para Riscos Fiscais 2.1.8.3 Provisão para Contingências, etc. 2.2 Passivo Não-Circulante 2.2.1 Passivo Exigível a Longo Prazo 2.2.1.1 Empréstimos e Financiamentos 2.2.1.2 Debêntures 2.2.1.3 Fornecedores 2.2.1.4 Impostos a Pagar ou Recolher 2.2.1.5 Salários e Contribuições Previdenciárias 2.2.1.6 Obrigações Diversas 2.2.1.7 Dividendos e Participações 2.2.1.9 Outras Provisões 3 PATRIMONIO LIQUIDO 3.1 Capital Social 3.1.1 Capital Social Subscrito 3.1.1.1 Ações Ordinárias - Capital Nacional 3.1.1.2 Ações Ordinárias - Capital Estrangeiro 3.1.1.3 Ações Preferenciais - Capital Nacional 3.1.1.4 Ações Preferenciais - Capital Estrangeiro 3.1.2 (-) Capital Social a Integralizar 3.2 Reservas de Capital 3.2.1 Correção Monetária do Capital integralizado 3.2.1.1 Ações Ordinárias - Capital Nacional 3.2.1.2 Ações Ordinárias - Capital Estrangeiro 3.2.1.3 Ações Preferenciais - Capital Nacional 3.2.1.4 Ações Preferenciais - Capital Estrangeiro 3.2.2 Ágio na Emissão de Ações 3.2.9 (-) Ações/Quotas em Tesouraria 3.3 Ajustes de Avaliação Patrimonial 3.3.1 Ajustes de Avaliação Patrimonial de Ativos AULA 9 • Plano de Contas 51 3.3.2 Ajustes de Avaliação Patrimonial de Passivos 3.4 Reservas de Lucros 3.4.1Reserva Legal 3.4.2Reservas Estatutárias 3.4.3 Reserva para Contingências 3.4.3.1 Relativas ao Lucro do Ano “X” 3.4.3.2 Relativas ao Lucro do Ano “Y” 3.4.4 Reserva para Incentivos Fiscais* 3.4.4.1 Doações ou Subvenções 3.4.5 Reservas de Lucros a Realizar 3.4.5.1 Originadas da Equivalência Patrimonial 3.4.5.3 Originadas de Lucros a Longo Prazo 3.4.6 Reservas Especiais 3.4.9 (-) Ações/Quotas em Tesouraria 3.5 (-) Ações/Quotas em Tesouraria 3.5.1 (-) Por Resgate 3.5.2 (-) Por Amortização 3.5.3 (-) Por Reembolso 3.5.4 (-) Por Negociação 3.9 Lucro do Exercício ou Prejuízos Acumulados 3.9.1 LUCRO DO EXERCÍCIO 3.9.2 (-) Prejuízos Acumulados 3.9.2.1 (-) De Exercícios Anteriores 3.9.2.2 (-) Do Exercício em Curso Note que as subcontas podem ser abertas com deta- lhamento que se quiser. Assim, algumas contas de 4º grau podem ser abertas para detalhamento das suas subcontas2. Assim, também ocorre com as de 5º grau. 2 Nem sempre as subcontas apresentam todos os números da sequência, pois, de acordo com as necessidades (falta de utilização da subconta, por exemplo) alguma conta pode ter sido excluída ou substituída por outra. Resumo Nesta aula abordamos os conceitos mais importantes para estruturarmos, planificarmos um Plano de Contas. Verificamos que um Plano de Contas não se restringe, exclusivamente, ao elenco de contas, devendo abarcar, pelo menos, o funcionamento e a função das contas. Por fim, para obtermos um bom plano contábil é imprescindível que ele seja adaptável às necessidades da empresa, seja claro e acessível aos diversos usuários, seja flexível permitindo inserções e exclusões, tenha precisão e exatidão dentro dos princípios e preceitos da Contabilidade, ou seja, que possa refletir a imagem fiel da riqueza da empresa. Atividades 1. O que é um Plano de Contas? 2. O que compreende um elenco de contas? 3. Qual a diferença entre função e funcionamento de contas? 4. Qual a importância na adoção da função e funciona- mento da contas? 5. O que podemos definir como um “ Bom plano de con- tas “ ? 6. Você acredita que todos os planos de contas devam ser iguais? Justifique. 7. O que você entendeu sobre grau das contas no plano de contas? 8. Leia o plano de contas e tente compreender cada um dos termos utilizados. É possível que surjam muitas dú- vidas. Tire-as com seu tutor ou monitor. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade IV - Demonstrações Contábeis AULA 10 Balanço Patrimonial – Ativo Objetivos • Identificar os principais grupos do Balan- ço Patrimonial. • Entender a finalidade do Balanço Patri- monial. • Identificar os subgrupos das contas do Ativo. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 54 Introdução A Contabilidade demonstra as situações econômicas, financeiras, patrimoniais e os resultados de uma determinada empresa a vários usuários, por meio do que se convencionou chamar de demonstrações contábeis. É importante ressaltar que a administração de uma empresa de capital aberto deveria elaborar, segundo a Lei das Sociedades por Ações, Lei. 6.404/76, atualizada pela Lei 10.303/01, ao término do exercício social (normalmente um ano), as seguintes demonstrações contábeis: Balanço Patrimonial (BP), Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA), Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) e as notas explicativas. Com a publicação da Lei nº 11.638 de 2007, houve mudança significativa quanto à apresentação das demonstrações contábeis. A partir dessa Lei, todas as empresas obrigadas a seguir a lei das S.A. (tanto as S.A. quanto as empresas limitadas tributadas pelo lucro real – Decreto-Lei nº 1.598/77 – e, também, as empresas que tenham receita bruta anual de R$ 300 milhões ou ativos totais no valor de R$ 240 milhões. Estas passam agora a ter as mesmas obrigações que as S.A. no que se refere a sua escrituração, elaboração de demonstrações financeiras e obrigatoriedade de auditoria independente. Conforme documento publicado pelo CFC (Conselho Federal de Contabilidade): “9.1 – Obrigatoriedade: as empresas obrigadas a publicar suas demonstrações contábeis são as sociedades anônimas a não ser as fechadas com patrimônio líquido inferior a um milhão de reais de reais e com menos de 20 acionistas e que remetam a eles todos os documentos conforme art. 294 da Lei das S.A. (www.cfc.fipcafi.org/faq/faq.pdf.)” A partir de agora, as demonstrações financeiras obrigatórias para as empresas atingidas pela Lei 6.404/78 são: Balanço Patrimonial; Demonstrações dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA); Demonstrações do Resultado de Exercício (DRE); Demonstrações do Fluxo de Caixa; Demonstração do Valor Adicionado (DVA) se companhia aberta. A Demonstração das Origens a Aplicações de Recursos (DOAR) não é mais obrigatória, pois foi substituída pela DFC. Caso as empresas queiram divulgá-la, não há problema. Balanço Patrimonial É a demonstração contábil que apresenta os saldos das contas patrimoniais de uma forma padronizada, em determinada data. O Balanço Patrimonial representa a situação patrimonial da empresa, os prazos de realização dos bens e direitos, bem como as exigibilidades (obrigações). As contas do Balanço Patrimonial são classificadas em grupos e subgrupos de acordo com a sua natureza (este assunto será tratado com mais detalhamento na Unidade 5). Em suma, o Balanço Patrimonial é uma fotografia da empresa em determinada data. Veja o que diz a Lei das S.A., art. 178, sobre o Balanço Patrimonial: “Seção III” Balanço Patrimonial Grupo de contas Art. 178. No balanço, as contas serão classificadas segun- do os elementos do patrimônio que registrem, e agrupadas de modo a facilitar o conhecimento e a análise da situação finan- ceira da companhia. § 1o No Ativo, as contas serão dispostas em ordem decres- cente de grau de liquidez dos elementos nelas registrados, nos seguintes grupos: a) Ativo circulante; b) Ativo não circulante composto por ativo realizável a lon- go prazo, investimento, imobilizado e intangível. § 2o No passivo, as contas serão classificadas nos seguintes grupos: a) passivo circulante; b) passivo não circulante; e c) patrimônio líquido, dividido em capital social, reservasde capital, ajustes de reavaliação, patrimonial reservas de lucros e ações em tesouraria e prejuízos acumulados. § 3o Os saldos devedores e credores que a companhia não tiver direito de compensar serão classificados separadamente”. Na unidade anterior, estudamos sobre Conta contábil. Agora, vamos aproveitar o conhecimento adquirido para entendermos melhor a apresentação do Balanço Patrimonial. Lei 6.404/76: Lei que normatiza as empresas de capital aberto (S.A.). Natureza da conta contá- bil: se a conta é credora ou devedora. AULA 10 • Balanço Patrimonial – Ativo 55 Podemos representar os elementos agrupados ou contas sintéticas que compõem o Balanço Patrimonial da seguinte forma: Balanço Patrimonial Ativo Passivo + Patrimônio Líquido Ativo Circulante Ativo Não Circulante: Ativo Realizável a L.P. Investimentos Imobilizado Intangível Passivo Circulante Passivo Não Circulante Patrimônio Líquido: Capital Social Reservas de Capital Ajuste de Avaliação Patrimonial Reservas de Lucros Ações em Tesouraria Prejuízos Acumulados De acordo com o quadro acima, notamos que os gru- pos de contas do Ativo foram elencados obedecendo a um critério decrescente de grau de liquidez. Grau de Liquidez - maior ou menor facilidade de um determinado Bem ou Direito de ser transformado em di- nheiro dentro de um determinado período. No mesmo modo, os grupos de contas do Passivo fo- ram elencados seguindo um critério decrescente de exigi- bilidade. Grau de exigibilidade - as contas do Passivo devem obedecer a ordem de vencimento das dívidas tanto a lon- go quanto a curto prazo. Vamos estudar agora o primeiro grupo de contas per- tencente ao Ativo de uma empresa, o Ativo Circulante. Ativo Circulante O Ativo Circulante (AC) é a representação de todos os Bens e Direitos que a empresa espera transformar em dinheiro até o término do exercício social seguinte. O artigo 179 da Lei das S/A define “as disponibilidades, os direitos realizáveis no custo do exercício social e subsequente e as aplicações de recursos em despesas do exercício seguinte” como contas do Ativo Circulante. Acrescente ainda em seu art. 178 que, no Ativo, as contas são elencadas em ordem decrescente de grau de liquidez. Dentro deste grupo, as contas de Disponibilidades são as primeiras a serem apresen- tadas. Este subgrupo da conta Ativo Circulante, segundo um determinado modelo de Plano de Contas (a empresa possuem os próprios planos de contas), representa as se- guintes contas: • Caixa; • Depósitos Bancários; • Numerário em trânsito; • Aplicações de liquidez imediata. A conta Caixa inclui dinheiro e cheques que podem ser descontados imediatamente. Normalmente, o volume de di- nheiro disponível na empresa deve ser o suficiente para a mesma quitar as dívidas imediatas e de pequeno montante. Depósitos Bancários incluem os recursos movimen- tados e mantidos em bancos oriundos principalmente da atividade operacional da empresa. A empresa pode ter Numerário em Trânsito como disponibilidade. Esta conta representa, por exemplo, o di- nheiro em trânsito remetido por uma filial, mas que ainda não chegou à matriz. E, por fim, temos a conta Aplicação de Liquidez Ime- diata que representa as aplicações financeiras (caderneta de poupança, FDI, CDB, etc.) de curtíssimo prazo. Podemos, então, apresentar, até o momento, as con- tas do Ativo Circulante da seguinte forma: Ativo Ativo CIRCULANTE DISPONÍVEL Caixa Depósitos bancários Numerário em trânsito Aplicações de liquidez imediata Além das contas de disponibilidades, há outras do Ati- vo Circulante. Podemos subdividir as principais em: • Estoques; • Contas a Receber; • Despesas Antecipadas. A conta estoque representa os bens em moeda, desti- nados à venda para recebimento a curto prazo. Esta conta será tratada com mais detalhamento na disciplina Conta- bilidade de Custos 1. As Contas a receber representam, basicamente, os valores que a empresa tem a receber de terceiros, origina- dos normalmente das operações de venda a prazo. Con- tudo, Contas a receber podem representar também qual- quer tipo de valor a receber junto a terceiros, tais como empréstimos concedidos aos diretores da empresa a curto prazo. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 56 As Despesas antecipadas são gastos já quitados pela empresa, mas cujo bem esta ainda não recebeu ou reali- zou integralmente um direito. Exemplo: • a empresa assinou um contrato para receber sema- nalmente uma determinada revista. Ela paga a dívi- da integralmente à vista, mas não recebe todas as revistas naquele momento. Ativo Não Circulante Um outro grupo de contas do Ativo é o Ativo Não Realizável. O Ativo Não Circulante se divide em quatro grupos: Ativo Realizável A.L.P., investimentos, imobilizado e intangível, como foi visto anteriormente. Quase todas as contas do Ativo Circulante podem compor também este grupo, obedecendo apenas à questão da temporalidade, ou seja, contas do Ativo Circulante devem ser “realizadas” até o término do exercício seguinte. Investimentos De acordo com a Lei nº 6.404/76, atualizada conforme a Lei nº 11.638/07, o grupo do Ativo chamado Investimentos apresenta as participações de caráter permanente em outras sociedades e os direitos que não estão no Ativo Circulante e não são utilizados na atividade fim da empresa. Imobilizado Segundo as leis das S/A, as contas classificadas nesse subgrupo do Ativo Imobilizado são “os direitos que tenham por objeto bens corpóreos destinados à manutenção das atividades da companhia ou da empresa ou exercidos com essa finalidade, inclusive os decorrentes de operações que transfiram à companhia os benefícios, riscos e controle desses bens”. Pela definição anterior, entendemos que neste grupo são elencados todos os bens que têm a função de apoiar o desempenho normal da empresa, ou seja, os bens tangíveis corpóreos e intangíveis destinados à manutenção da atividade da empresa. Exemplos de bens tangíveis e intangíveis: Bens tangíveis (corpóreos) incluem: • Veículos; • Máquinas; • Equipamentos. Bens intangíveis (incorpóreos) incluem: • Marcas; • Direitos e patentes industriais; Diferido A Lei nº 6.404/07 previa que aqui seriam classificadas “as despesas pré-operacionais e os gastos de reestrutura- ção que contribuirão, efetivamente, para o aumento do resultado de mais de um exercício social e que não confi- gurem tão somente uma redução de custos ou acréscimo na eficiência operacional”. A Lei nº 11.941/09 exclui essa conta do balanço patrimonial. As contas que aqui se clas- sificavam normalmente. Agora, aparecem no imobilizado , nas contas de resultado ou no intangível. Podemos entender, então, que as contas que repre- sentam os recursos aplicados antes do funcionamento da empresa e que formarão receitas futuras são classificadas no Ativo Diferido. Exemplos: • Gastos de organização; • Estudos, projetos; • Gastos preliminares de operação. Intangível A Lei das S/A prevê: “no intangível: os direitos que tenham por objetos bens incorpóreos destinados à manu- tenção da companhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive no fundo de comércio adquirido. Aqui, se classi- ficam inclusive contas como marcas, patentes, concessões, direitos autorais e não autorais. Resumo Abordarmos, nesta aula, as principais demonstrações contábeis elaboradas pela Contabilidade. Começamos falando sobre o Balanço Patrimonial e os grupos principais que compõem o Ativo de uma empresa. É importante ressaltar que não foram discutidas todas as contas possíveis, tendo em vista que cada empresa tem o seu próprio plano de contas. A mensuração, tanto do Ativo quanto do Passivo, será tratada em disciplinas posteriores.Na próxima aula, trataremos dos grupos e subgrupos do Passivo. Atividades 1. As contas abaixo representam: Ativo Circulante (AC), Ativo Circulante Disponível (ACD) Ativo Realizável a Realizadas: Termo comum utilizado para expres- sar a transformação de um bem ou direito em dinheiro. AULA 10 • Balanço Patrimonial – Ativo 57 Longo Prazo (ARLP), Ativo Permanente Investimento (API), Ativo Permanente Imobilizado (API) e Ativo Per- manente Diferido (APD). • Empréstimos a diretores (prazo para pagamento da 1ª parcela - daqui a três anos) • Veículos • Imóveis • Marcas • Caderneta de poupança (resgate a curto prazo) • Patentes • Gastos com reorganização da empresa • Ações de outra empresa • Dinheiro depositado em banco • Estoque • Despesa paga antecipadamente • Contas a receber • Caixa 2. Qual a diferença básica entre despesa paga antecipa- damente e ativo diferido? 3. O que significa grau de liquidez? 4. Por que as contas do AC podem ser também classifica- das no ARLP? Questão de Aprofundamento 1. Imagine que você é sócio de uma empresa (caso prefira, utilize a empresa que você trabalha). Monte um esboço das contas e grupo de contas que estudarmos nessa aula. Em seguida, elabore um plano de contas, colocando as contas que você acredita que devem ser as utilizadas por sua empresa. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade IV - Demonstrações Contábeis AULA 11 Balanço Patrimonial – Passivo e Patrimônio Líquido Objetivos • Identificar os grupos e subgrupos das contas do Passivo e Patrimônio Líquido. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 60 Introdução Caro aluno, na aula passada, você foi apresentado à composição geral do Balanço Patrimonial e, em particular, os grupos e subgrupos de contas que compõem o Ativo. Agora, vamos falar de dois outros grupos também contidos no Balanço Patrimonial: • Passivo – representa as obrigações de uma empresa; • Patrimônio Líquido – representa a situação líquida de uma empresa. Passivo Sobre as obrigações de uma empresa, a Lei 6.404/76 define que: “As obrigações da companhia, inclusive financiamentos para aquisição de direitos do ativo não circulante, serão classificadas no passivo circulante, quando se vencerem no exercício seguinte, e no passivo exigível não circulante, se tiverem vencimento em prazo maior, observado o disposto no parágrafo único do art. 179.” Vamos estudar agora o primeiro grupo de contas pertencente ao Passivo da empresa: Passivo Circulante. Passivo Circulante O Passivo circulante representa as contas que serão pagas até o término de exercício social seguinte ou de acordo com o ciclo operacional da companhia, se este for superior a um ano. Este grupo do Passivo Circulante, segundo um determinado modelo de plano de contas (as empresas possuem seus próprios Planos de Contas), é composto basicamente das seguintes contas: • Fornecedores: são obrigações a pagar com empresas que fornecem produtos para serem vendidos; • Empréstimos bancários: são empréstimos obtidos junto a instituições financeiras e que serão pagos até o término do exercício social seguinte; • Salários a pagar: representa a dívida mensal da empresa em relação aos seus empregados. Corresponde à folha de pagamento (salários, ordenados) que por lei deve ser paga até o quinto dia útil do mês seguinte ao mês trabalhado; • Encargos sociais a recolher: são gastos relativos à folha de pagamento que ainda não foram pagos (INSS e FGTS); • Impostos a recolher: impostos referentes às vendas mas que ainda não foram recolhidos à Fazenda Pública. Exemplos: ICMS a recolher, PIS a recolher, Cofins a recolher, etc. • Provisões para férias: a empresa pode fazer, durante o ano, uma provisão de dinheiro correspondente às férias de seus empregados; • Adiantamentos de clientes: os clientes podem fazer um adiantamento do pagamento referente à compra de um determinado produto, mesmo que este seja entregue pela empresa no futuro. Este adiantamento recebido é contabilizado no Passivo Circulante, por assumir a característica de uma obrigação da empresa com o cliente, até que a mesma entregue o produto previsto em contrato; • Contas a pagar: são obrigações a pagar normalmente de pequeno valor, tais como, água, luz, telefone, etc. Assim, teríamos a seguinte estrutura básica do Passivo Circulante: PASSIVO PASSIVO CIRCULANTE • Fornecedores • Empréstimos Bancários • Salários a Pagar • Encargos Sociais a Recolher • Impostos a Recolher • Provisões para férias • Adiantamento de Clientes • Contas a pagar Passivo Não Circulante Outro grupo de contas pertencente ao Passivo, é o Passivo Não Circulante a Longo Prazo. Neste grupo, são classifi- cadas as obrigacöes que devem ser pagas após o exercIcio social seguinte. Portanto, quase todas as contas contidas no Passivo Circulante do exemplo acima podem ser classificadas no Passivo ExigIvel a Longo Prazo. A diferenca básica é o enquadramento do prazo de vencimento das referidas obrigacöes. Resultado de exercícios futuros O art. 181, da Lei 6.404/76, definia que: “serão classificadas como resultados de exercIcios futuros as receitas de exercIcios futuros, diminuIdas dos custos e despesas a elas correspondentes”. AULA 11 • Balanço Patrimonial – Passivo e Patrimônio Líquido 61 Com a publicação da Lei nº 11.941/09, o artigo 181 da Lei 6.404/78 foi revogado. Assim, o grupo Resultado de Exercícios Futuros deixou de existir. O grupo de contas Resultado de Exercícios Futuros gerou grandes discussões quanto a seu significado, ou seja, quais são as contas que podem ser classificadas neste grupo e em que circunstâncias? Basicamente, neste grupo deveriam ser reconhecidas as receitas já recebidas, mas que deveriam ser reconhecidas em resultados futuros deduzidos dos custos correspondentes. Os saldos dos Exercícios Futuros agora devem ser classificados em grupo do Passivo Não Circulante em conta representativa da receita diferida1. De acordo com a Lei nº 11.941/09, o saldo existente no resultado de exercício futuro o saldo existente no resultado de exercício futuro em 31 de dezembro de 2008 deve ser reclassificado. Resumindo, teríamos a seguinte estrutura básica do Passivo: PASSIVO PASSIVO CIRCULANTE • Fornecedores • Empréstimos Bancários • Salários a Pagar • Encargos Sociais a Recolher • Impostos a Recolher • Provisões para férias • Adiantamento de Clientes • Contas a pagar PASSIVO NÃO CIRCULANTE Patrimônio Líquido No Balanço Patrimonial, o Patrimônio Líquido repre- senta os recursos que pertencem aos proprietários da em- presa. São chamados também de obrigações não exigíveis. Estas obrigações são representadas pela diferença entre Ativos e Passivos. Discutiremos a seguir os grupos e subgrupos que compõem o Patrimônio Líquido de acordo com a Lei nº 6.404/78 atualizada pela Lei nº 11.638/07 e pela Lei nº 11941no art. 178. • Capital Social: são todos os recursos destinados à empresa disponibilizados pelos próprios proprietá- rios. Este grupo se divide em: 1 Receita diferida é aquela recebida antecipadamente de clientes. É classificada no Passivo Circulante como adiantamento de clientes. • Capital social integralizado ou realizado: corresponde ao valor recebido pela empresa, relativo às cotas (Ltda.) ou ações (S.A.); • Capital Social a Integralizar: corresponde ao valor ainda não recebido pela empresa. O valor será realizado (incorporado à empresa) em data posterior. Este capital advém dos proprietários no momento inicial da constituição da empresa. • Reserva de Capital: este grupo pertencente ao Patrimônio Líquido representa os aumentos do mesmo, cujos valores advêm de atividades não operacionaisda empresa. Pode ser entendido também como valores recebidos a título de reforçar o capital da empresa. Exemplo: ágio na emissão de ações no caso de uma empresa S.A. A destinação das reservas de capital pode ser para: • absorver prejuízos; • comprar ações (S.A.); • pagamento de dividendo a ações preferenciais, sendo que a lei das S.A. determina que, quando o lucro for insuficiente para distribuir dividendos para os proprietários de ações preferenciais, as reservas de capital podem ser utilizadas para essa finalidade. • Ajustes de avaliação patrimonial: segundo o art. 181, §3º, da Lei n. 6.404/76, “serão classificadas como ajustes de avaliação patrimonial, enquanto não computadas no resultado do exercício em obediência ao regime de competência, as contrapartidas de aumentos ou diminuições de valor atribuído a elementos do ativo e do passivo, em decorrência da sua avaliação a preço de mercado”. Portanto, prezado aluno, podemos entender que no grupo do Patrimônio LIquido, os ajustes de avaliação patrimonial representam o ajuste feito nos ativos que valorizaram ou desvalorizaram em comparacão ao respectivo valor de mercado, enquanto não computados no resultado de exercícios. Exemplo: O valor contábil de um certo veículo (data de compra) é R$ 10.000,00. Considerando que a depreciação do bem seja 20% a.a., veremos que o valor contábil do veículo acima, passados 5 anos, será de: R$ 0,00. Porém, se um laudo de peritos reavaliar o veículo em R$ 5.000,00, este será o novo valor do mesmo, a ser registrado na conta ajustes de avaliação patrimonial, enquanto não computados no resultado do exercício. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 62 • Reservas de Lucros: compreende o grupo do Patrimônio Líquido que representa parcelas do lucro por determinação do estatuto, da orientação da administração da empresa ou da disposição da lei (S.A.). Esta parcela do lucro não pode ser alterada sem o consentimento da administração da empresa. Segundo o art.199 da Lei 6404/76, a constituição das Reservas de Lucros se limita à: “soma dos saldos de Reserva Legal, Reserva Estatutária e Lucros Acumulados, não podendo ultrapassar o valor do Capital Social.” Vamos entender um pouco sobre os principais subgru- pos da conta Reservas de Lucros: • Reserva Legal: segundo a Lei das S.A., “do lucro líquido do exercício, 5% serão aplicados, antes de qualquer outra destinação, na constituição da reserva legal, que não excederá 20% do capital social (art. 193)”. A utilização desta reserva é somente para compensar os prejuízos e o aumento do Capital Social, que pode ser feito em qualquer período. • Reserva Estatutária: o estatuto da empresa pode estabelecer a criação desta reserva desde que: • indique de maneira precisa e completa sua finalidade; • estabeleça o máximo do valor da reserva; • determine os valores exatos a serem aplicados nos lucros líquidos para a sua constituição. • Reserva para Contingências: a finalidade da constituição desta reserva é um valor do lucro para cobrir perdas previsíveis futuras nos lucros da empresa. A parcela deve ser determinada pelos acionistas (S.A.) em assembléia geral. Antes de continuarmos, é importante saber que podemos ter uma conta denominada provisão para contingências, que é uma conta do Passivo. Não podemos confundir reserva para contingência com provisão para contingência. A provisão para contingência destina-se a cobrir as perdas que já ocorreram mas não foram desembolsadas, tais como indenizações contratuais, fiscais, etc. Já a reserva de contingência é uma estimativa que se destina a cobrir as perdas extraordinárias nos exercícios futuros, não previstas e que ainda não ocorreram. • Ações em Tesouraria: são ações da própria companhia, readquiridas pela empresa e mantidas em seu próprio poder. O preço de aquisição pela empresa não pode ser maior do que o valor de mercado. Como regra, as companhias não podem comprar suas próprias ações salvo em ocasiões específicas. Essa conta é redutora do patrimônio líquido. • Prejuízos Acumulados: este grupo de contas do Patrimônio LIquido representa o saldo atual dos lucros ou prejuIzos lIquidos da empresa. Esta conta é a ligacão entre o Balanco Patrimo- nial e a Demonstracão do Resultado do ExercIcio (DRE). Anteriormente à Lei nº 6.404/78, previa que os Lucros ou Prejuízos Acumulados deveriam ser evidenciados no Patrimônio Líquido do Balanço patrimonial da empresa. Com a mudança legal, somente os prejuízos acumulados deverão ser evidenciados. Os lucros acumulados não podem ser transferidos de um exercício financeiro para outro, pois devem ser distribuídos ou colocados à disposição dos quotistas ou da Assembleia Geral. Resumindo, teríamos a seguinte estrutura básica do Patrimônio Líquido: PATRIMÔNIO LÍQUIDO CAPITAL SOCIAL (-) Capital Social a Integralizar RESERVA DE CAPITAL RESERVA DE REAVALIAÇÃO RESERVA DE LUCROS Reserva Legal Reserva Estatutária Reserva para Contingência Reserva de Lucro a Realizar Reserva de Incentivos Fiscais PREJUÍZOS ACUMULADOS Resumo Nesta aula, apresentamos os principais grupos das contas do Passivo e Patrimônio Líquido da empresa. Vimos que as Reservas de Lucros representam parcelas retiradas do lucro para atender a exigências legais, estatutárias ou disposições da própria administração. As contas do Passivo podem ser divididas em Circulante, Exigível a Longo Prazo e Resultado dos Exercícios Futuros. Não esgotamos todo o assunto, principalmente quanto à classificação e mensuração das contas, que serão tratados na disciplina Contabilidade Geral. AULA 11 • Balanço Patrimonial – Passivo e Patrimônio Líquido 63 Atividades 1. No seu entendimento, qual a diferença entre reserva para contingência e provisão para contingência? 2. Pesquise sobre “Ágio na emissão de ações”. 3. O que é capital a integralizar? Exemplifique. 4. As Reservas Estatutárias podem ser constituídas obede- cendo a quais disposições? Dê um exemplo. 5. As contas abaixo representam: Passivo Circulante (PC), Passivo Realizável a Longo Prazo (PRLP), Resultado de Exercícios Futuros (REF), Patrimônio Líquido (PL). • Salários a pagar • ICMS a recolher • Empréstimo a longo prazo (superior a 3 anos) • Ágio na compra de ações • Reavaliação de veículos • Lucro do exercício • Aluguéis recebidos antecipadamente • Ações de outra empresa • Compra de mercadorias a prazo (inferior a um ano) Questão de aprofundamento 1. Faça uma pesquisa e descreva cada uma das reservas de lucros e suas características detalhadas. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade IV - Demonstrações Contábeis AULA 12 Demonstrações Contábeis Objetivos • Identificar os principais elementos que compõem a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, a Demonstração do Resultado do Exercício e a Demons- tração de Lucros e Prejuízos Acumula- dos. • Entender a finalidade das notas explica- tivas. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 66 Introdução Na aula passada, comentamos que a conta Prejuízos Acumulados, pertencente ao grupo de contas do Patrimônio Líquido, é um elo de ligação entre o Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). Estudaremos nesta aula outros demonstrativos contábeis, tais como: Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL), Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA) e notas explicativas. Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) Prezado Aluno, a DRE mostra, de forma organizada, os elementos que podem alterar o Patrimônio Líquido das empresas. Trata-se de um resumo ordenado das receitas, despesas e custos (vimos estas definições na Aula 8). Este resumo apresentao resultado líquido das operações realizadas pela empresa durante o exercício social para os usuários das demonstrações contábeis, ou seja, se a empresa obteve lucro ou prejuízo dentro de um determinado período. Critérios de apresentação da DRE A Lei 11.638/07 e 11941/09, que atualizaram a Lei 6.404/76, determinam a forma de apresentação da DRE, no seu artigo 187. Art.187 – “A demonstração do resultado do exercício discriminará: I – a receita bruta das vendas e serviços, as deduções das vendas, os abatimentos e os impostos; II – a receita líquida das vendas e serviços, o custo das mercadorias e serviços vendidos e o lucro bruto; III – as despesas com vendas, as despesas financeiras, deduzidas das receitas, as despesas gerais e administrativas, e outras despesas operacionais; IV – o lucro ou prejuízo operacional, as outras receitas e outras despesas não operacionais; V – o resultado do exercício antes do imposto de renda e a provisão para o imposto; VI – as participações de empregados, administradores e partes beneficiárias, mesmo na forma de instrumentos financeiros, e de instituições ou fundos de assistência ou previdência de empregados, que não se caracterizam como despesa; VII – o lucro ou prejuízo líquido do exercício e o seu montante por ação do capital social. (...).” Com o objetivo de apresentar os dados elementares da formação do resultado do exercício (lucro ou prejuízo) para os usuários, os gestores devem elaborar a DRE de acordo com a Lei das Sociedades por Ações (S.A.), Lei 6.404/76. A disciplina Contabilidade Geral mostrará com detalhes como elaborar a DRE. Apresentamos, a seguir, um exemplo simples de Demonstração do Resultado do Exercício. Demonstração do resultado do exercício Receita Bruta com vendas 100.000,00 (-) deduções (10.000,00) = Receita Líquida com vendas 90.000,00 (-) Custos (5.000,00) = Lucro Bruto 85.000,00 (- /+) Receitas/ despesas operacionais (2.000,00) Lucro operacional 83.000,00 Resultado não operacional 2.000,00 Lucro antes do imposto de renda e CSL 81.000,00 Participações (-) IR / CSL 27.000,00 Lucro Líquido do Exercício 54.000,00 Lucro por ação 5,40 As empresas que apuram o imposto de renda sobre o lucro, com base no lucro real, presumido ou arbitrário, devem elaborar a DRE trimestralmente, para que possam determinar os impostos devidos (IR e Contribuição social sobre o Lucro - CSL). As demais demonstrações contábeis (S.A.) podem ser elaboradas no final do ano- calendário (01/01 a 31/12). Portanto, a DRE é uma demonstração contábil dinâmica que representa uma poderosa ferramenta para o processo decisório da empresa. Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) Esta demonstração tem por objetivo mostrar, num determinado momento, a movimentação das contas que compõem o Patrimônio Líquido das empresas, evidenciando os seus acréscimos ou decréscimos durante o exercício social. A DMPL não Lucro real, presumido ou arbitrário: formas de apuração do lucro tributável. CVM: autarquia federal que visa regular o merca- do de capitais do Brasil. AULA 12 • Demonstrações Contábeis 67 é obrigatória pela Lei das S.A., mas a sua elaboração é exigida pela CVM. A DMPL é muito importante para a elaboração de uma outra demonstração contábil, a DOAR (Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos), que veremos mais adiante e que anteriormente era obrigatória mas foi substituída pela DFC (Demonstrações do Fluxo de Caixa). Principais movimentações nas contas do Patrimônio Líquido que podem ser evidenciadas através da DMPL 1) Aumento pelo lucro ou diminuição pelo prejuízo do exercício (note que no balanço patrimonial só evidenciamos o prejuízo e aqui demonstramos o lucro ou o prejuízo); 2) redução pelo pagamento de dividendos aos acionistas (S.A.); 3) acréscimo devido à reavaliação de ativos; 4) acréscimo ou diminuição devido a ajustes anteriores; 5) aumento de capital social com utilização de lucros e reservas; 6) compensação de prejuízos com reservas; 7) constituição das reservas. Apresentaremos, a seguir, um exemplo simples da DMPL. Demonstração das mutações do patrimônio líquido do exercício findo em 31.12.20X1 Em milhares de Reais Descrição Capital Reservas Lucros Total Capital Lucro Saldo exercício anterior 70.000 20.000 4.000 10.000 104.000 Lucro distribuído (5.000) (5.000) Aumento do capital 10.000 10.000 Lucro do exercício 20X 1 1.000 1.000 Saldo Final 80.000 20.000 4.000 6.000 110.000 Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA) Caro aluno, você entende que o lucro líquido do exercício pertence aos proprietários e que os mesmos decidem qual parcela deste lucro será dividida entre eles. Assim, esta demonstração evidencia claramente a constituição, movimentação e distribuição dos valores da conta de lucros ou prejuízos acumulados. A DLPA é relativamente simples. Segundo o art. 186 da Lei das S.A., a DLPA deve discriminar: “I – o saldo no início do período, ajustes de exercícios anteriores e a correção monetária de saldo inicial; II – as reversões de reservas e o lucro líquido do exercício; III – as transferências para reservas, os dividendos, a parcela dos lucros incorporada ao capital e o saldo ao fim do período.” É importante salientar que, de acordo com a Lei 6.404/76, a DLPA “poderá ser incluída na DMPL, se elaborada e divulgada pela empresa (S.A.), para efeito de publicação”. Na prática, as Sociedades por Ações (S.A.) elaboram e publicam somente a DMPL, pois a mesma informa a movimentação dos lucros ou prejuízos acumulados. Vejamos, a seguir, um exemplo simples da DLPA. Demonstração de lucros acumulados Exercício findo em 31.12.X2 em milhares de Reais SALDO EM 31/12/X1 20.000 Ajustes de Exercícios Anteriores (1.000) Parcela de lucro incorporada ao Capital (2.000) Lucro Líquido do Exercício 10.000 Proposta de destinação do Lucro Reserva Legal (2.000) Reserva Estatutária (1.000) Dividendos a distribuir (5.000) SALDO EM 31/12/X2 19.000 Notas explicativas Notas explicativas são detalhamentos, complementações dos dados contidos nas demonstrações contábeis. A Lei das S.A., em seu art. 176, determina que “as demonstrações contábeis serão complementadas por Notas Explicativas e outros quadros analíticos ou INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 68 demonstrações contábeis necessários para esclarecimento da situação patrimonial e dos resultados do exercício.” Entenda, caro aluno, que as demonstrações contábeis nem sempre contêm o detalhamento das contas e das transações, sendo necessários maiores esclarecimentos para facilitar a compreensão dos diversos usuários da informação contábil. De acordo com o art. 176 § 5º da lei das S/A, as notas explicativas devem: I – apresentar informações sobre a base de preparação das demonstrações financeiras e das práticas contábeis específicas selecionadas e aplicadas para negócios e eventos significativos II – divulgar as informações exigidas pelas práticas contábeis adotadas no Brasil que não estejam apresentadas em nenhuma outra parte das demonstrações financeiras; III – fornecer informações adicionais não indicadas nas próprias demonstrações financeiras e consideradas necessárias para uma apresentação adequada; e IV – indicar: a) os principais critérios de avaliação dos elementos patrimoniais, especialmente estoques, dos cálculos de depreciação, amortização e exaustão, de constituição de provisões para encargos ou riscos, e dos ajustes para atender a perdas prováveis na realização de elementos do ativo; b) os investimentos em outras sociedades, quando relevantes (art. 247, parágrafo único); c) o aumento de valor de elementos do ativo resultante de novas avaliações (art. 182, § 3o ); d) os ônusreais constituídos sobre elementos do ativo, as garantias prestadas a terceiros e outras responsabilidades eventuais ou contingentes; e) a taxa de juros, as datas de vencimento e as garantias das obrigações a longo prazo; f) o número, espécies e classes das ações do capital social; g) as opções de compra de ações outorgadas e exercidas no exercício; h) os ajustes de exercícios anteriores (art. 186, § 1o); e i) os eventos subsequentes à data de encerramento do exercício que tenham, ou possam vir a ter, efeito relevante sobre a situação financeira e os resultados futuros da companhia. Resumo Vimos, nesta aula, mais três importantes demonstrações contábeis: DRE, DMPL e DLPA. Todos estes relatórios são complementares entre si. A DRE evidencia as contas que compõem o resultado da empresa, lucro ou prejuízo. O resultado da DRE faz parte do Balanço Patrimonial através da conta Prejuízos Acumulados e do saldo de resultado do exercício apurado. Esta demonstração é bastante útil para o processo decisório. A DMPL e a DLPA informam a movimentação do lucro dentro do Patrimônio Líquido da empresa. E, por fim, as notas explicativas vêm complementar algumas informações contidas nas demais demonstrações contábeis. Deixamos de lado, por enquanto, a questão da elaboração destes demonstrativos, pois trataremos disso mais adiante. Todas estas demonstrações devem estar de acordo com a Lei das S.A. e ser acompanhadas de notas explicativas, visando melhorar a informação contida nas mesmas. Assim, com esta aula, apresentamos as principais demonstrações que a Contabilidade elabora e que são exigidas e regulamentadas pela Lei 6.404/76. Atividades 1. O que você entende sobre a seguinte afirmativa: “O resultado evidenciado na DRE faz parte do Patrimônio Líquido da empresa”? 2. Por que a DLPA pode ser substituída pela DMPL? 3. Elabore uma DRE com os seguintes dados: • vendas brutas: R$ 80.000,00 • deduções de vendas: R$ 5.000,00 • custo dos produtos vendidos: R$ 10.000,00 • despesas financeiras: R$ 1.000,00 • alíquota IR + CSL 24% 4. Elabore uma DMPL com os seguintes dados: • saldo anterior em 31/12/2004: • capital: 40.000 • reserva legal: R$ 20.000,00 • lucro distribuído: R$ 1.000,00 • lucro do exercício: R$ 10.000,00 5. Sobre “Reservas”, considere as seguintes informações e marque a alternativa correta: I. São registradas no Ativo permanente da empresa e dividem-se em reservas de capital, reservas de reavaliação e reservas de lucros. AULA 12 • Demonstrações Contábeis 69 II. As reservas de capital são constituídas com as contribuições dos acionistas e são assim classifi- cadas até que estejam juridicamente incorporadas ao capital da empresa. III. Este grupo, pertencente ao Patrimônio Líquido, representa os aumentos do mesmo, cujos valores advêm de atividades não operacionais da empresa. a) ( ) todas as informações apresentadas estão corretas; b) ( ) as informações constantes dos itens II e III estão corretas; c) ( ) todas as informações apresentadas estão erradas; d) ( ) as informações constantes dos itens I e III estão corretas. 6. Qual é a finalidade das notas explicativas? INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade IV - Demonstrações Contábeis AULA 13 Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) Objetivos • Conceituar fluxo de caixa. • Entender a finalidade da DFC. • Identificar os fatores que afetam o caixa da empresa. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 72 Introdução A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) passou a ser necessária como ferramenta complementar das demais demonstrações contábeis. A DFC evidencia os recebimentos e pagamentos que transitaram na conta Caixa. Por ser muito útil no processo decisório, passou a ser obrigatória com a publicação da Lei 11.638/07. As companhias fechadas (as suas ações não são comercializadas no mercado aberto), com patrimônio líquido inferior a R$2.000.000 na data do balanço, não são obrigadas a elaborar e publicar a DFC. Considerações gerais Caro aluno, a princípio, você pode entender que as DFC somente organizam os dados relativos às movimentações ocorridas principalmente nas disponibilidades da empresa (Caixa, Bancos e Aplicações Financeiras). Contudo, as informações da DFC permitem que os usuários da informação contábil analisem: • A capacidade de a empresa gerar fluxos de “caixa” (dinheiro) no futuro; • a capacidade da empresa de pagar as suas obrigações; • a tendência de falência ou não da empresa. Caixa e Equivalente de Caixa Nesta aula, não estudaremos como elaborar a DFC, pois este assunto será tratado mais adiante. Veremos a seguir alguns atributos aos quais a DFC deve atender, com a finalidade de informar a situação líquida do caixa, em determinado período, bem como evidenciar as movimentações ocorridas nas contas caixa e equivalente de caixa da empresa. Requisitos aos quais a DFC deve atender: • Mostrar ordenadamente o efeito das movimentações de caixa oriundas das atividades operacionais, de investimento e de financiamento; • evidenciar, em notas explicativas, informações sobre as movimentações ocorridas no caixa, tais como: transações de investimento e financiamento que afetam o patrimônio da empresa; • demonstrar a reconciliação do lucro líquido com o caixa líquido da empresa, ou seja, fazer os ajustes no lucro líquido até chegar ao valor do caixa líquido. Métodos de elaboração das DFC De acordo com a Lei 6.404/78 as demonstrações dos fluxos de caixa devem indicar, no mínimo, “as alterações ocorridas, durante o exercício, no saldo de caixa e equivalentes de caixa, segregando-se essas alterações em, no mínimo, 3 (três) fluxos: a) Das operações; b) Dos financiamentos; c) Dos investimentos.” A demonstração do Fluxo de caixa da empresa pode ser feita por dois métodos: direto e indireto. Nosso objetivo, nesta aula, não é ensinar como elaborar o DFC, e sim indicar sua importância para a tomada de decisão. Método direto – evidencia as entradas e saídas de dinheiro relacionadas à atividade operacional da empresa: recebimentos de vendas e pagamentos a fornecedores, trabalhadores, etc. Método indireto –demonstra como, a partir do lucro líquido apurado na DRE, chegamos ao valor líquido apresentado na conta Caixa. A seguir, apresentaremos os grupos que compõem a DFC para qualquer um dos métodos de elaboração (direto e indireto). Atividades Operacionais: são relacionadas a todas as operações com reflexo no caixa da empresa que envolvam a produção e entrega de produto (gastos com funcionários, provisões trabalhistas, compra de estoque, etc.). • Entradas: 1. Recebimentos provenientes das vendas de produtos e serviços, à vista; 2. recebimentos provenientes do pagamento por parte do cliente das compras realizadas por este a prazo; 3. recebimento de dividendos devido à participação em outra empresa; 4. qualquer outro recebimento que não seja proveniente de financiamento ou investimento: recebimento de indenizações por sinistros, recebimentos decorrentes de ações judiciais, etc. • Saídas: 1. pagamento a fornecedores de matéria-prima utilizada na produção; AULA 13 • Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) 73 2. pagamento a fornecedores referente a outros materiais ou serviços utilizados na produção; 3. pagamento dos impostos referentes às vendas dos produtos. Atividades de Investimentos: são relacionadas geralmente com os acréscimos ou decréscimos dos ativos a longo prazo (Ativo permanente), com reflexo no caixa da empresa, sendo utilizados na produção (máquinas, equipamentos, edifícios, etc.). • Entradas: 1. Recebimento do capital emprestado (integralmente); 2. recebimento da venda dos Ativospermanentes; 3. recebimento pela venda das ações de outra empresa. • Saídas: 1. Pagamento pela obtenção de ações de outras empresas; 2. pagamento relativo à compra de imóveis, máquinas e equipamentos relativos à atividade operacional. Atividades de Financiamento: são relacionadas especificamente com os acréscimos ou decréscimos nas contas de empréstimos de credores e investidores, feitos à empresa. Podem representar também recursos advindos dos proprietários, entre outros. • Entradas: 1. Venda de ações da própria empresa(S.A.); 2. empréstimos adquiridos junto ao mercado; 3. recebimento de recursos advindos de doadores. • Saídas: 1. Pagamento de dividendos aos proprietários; 2. pagamento dos empréstimos obtidos. Mas, e quanto às operações referentes a investimentos e financiamentos que não transitam no caixa? Certo, vamos lá. Existem transações que alteram os Ativos e Passivos mas não modificam o caixa e devem constar em notas explicativas. Estas anotações podem ser feitas tanto de forma narrativa como apresentando um gráfico, quadro explicativo, etc. Exemplos: • bem advindo de doações exceto em dinheiro; • troca de Ativos e Passivos que não envolva a conta caixa: recebimento de um veículo a título de pagamento de dívida, renegociação de dívida a curto prazo para longo prazo. Finalidade da Demonstração de Fluxos de Caixa (DFC) Qualquer usuário da informação contábil precisa saber como a empresa está e ser capaz de prever seu futuro em termos econômicos e financeiros. A DRE (Demonstração do Resultado do Exercício) não atende plenamente a estas necessidades. Um dos motivos é que a composição da DRE não inclui contas que não alteram o caixa da empresa, como vendas a prazo, pois, apesar de compor o total das receitas, o recebimento destas vendas se dá em um outro momento. A finalidade da DFC é fornecer aos usuários uma noção do planejamento executado e das decisões tomadas em relação às ações relativas ao caixa da empresa. A DFC ajuda a responder às seguintes questões sobre a empresa: • Qual é a condição de pagamento de dividendos em termos atuais? • Quanto às atividades operacionais geraram em dinheiro? • Qual foi a fonte de recursos investida na aquisição de ativos permanentes? Pela Lei 11.638/09 a DFC, tornou-se obrigatória, como dito anteriormente. Além disso, a DOAR já não possui elaboração e divulgação obrigatórias pela lei. A opção da DFC como demonstração obrigatória foi realizada em vista de seu mais fácil entendimento pelos que não tem conhecimento apurado de contabilidade. Já a DOAR demonstra informações mais ricas, como a posição financeira e as tendências futuras, sendo mais analítica. Assim, enquanto a DOAR volta-se para a movimentação de recursos e aplicações permanentes, ou de longo prazo (impacto de situação financeira calculado pelo CCL), a DFC se concentra no movimento dos fluxos de dinheiro. Exemplo simplificado da DFC Apresentaremos a seguir um modelo simplificado da DFC para que você possa visualizar melhor esta demonstração tão importante para a tomada de decisão. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 74 Vejamos o seguinte exemplo: Em milhares de reais 2005 2004 Caixa 400 380 Saldo inicial 380 380 Acréscimos/ decréscimos líquidos 20 0 Considerando as informações acima, o usuário necessita saber a movimentação do caixa da empresa de forma mais detalhada. Suponha que este fluxo de caixa represente as seguintes atividades: Sendo que: • Atividades operacionais: saldo das vendas; • atividades de investimento: pagamento relativo à compra de máquinas; • atividade de financiamento: pagamento de empréstimo obtido. Agora sim podemos analisar o fluxo de caixa do exemplo em questão, apresentando as seguintes interpretações: • A fonte básica da empresa advém das atividades operacionais da empresa; • a fonte de recursos para pagamento das dividas provém somente da atividade operacional da empresa. Em milhares de reais 2005 2004 Atividades operacionais 600 500 Atividades de investimento (400) (450) Atividades de financiamento (180) (450) Fluxo de caixa líquido 20 0 Resumo Vimos, nesta aula, que a DFC mostra a capacidade da empresa de gerar recursos. Sabemos que a principal fonte de recursos é o lucro. Um investidor ou qualquer outro interessado precisa saber de onde vieram os recursos e para onde eles foram, através da análise dos fluxos de caixa da empresa em determinado período. Conhecidos estes fluxos, através das atividades operacionais, atividades de investimento e atividades de financiamentos, o investidor poderá projetar ações futuras visando à maximização da sua riqueza. Acrescenta-se que a Lei 11.638/07 substitui a obrigatoriedade da DOAR pela da DFC, que é mais facilmente compreendida pelos usuários da informação de uma forma geral. Atividades 1. Como os aumentos e diminuições da composição do fluxo de caixa afetam a saúde financeira de uma empresa? 2. O que significam as mudanças do fluxo de caixa? 3. A DFC explica as variações: a) ( ) no permanente b) ( ) no disponível c) ( ) no patrimônio líquido d) ( ) nos investimentos financeiros 4. Indique qual alternativa não afeta o caixa da empresa: a) ( ) venda à vista b) ( ) compra a prazo c) ( ) pagamento de investidores d) ( ) recebimento de clientes 5. Indique qual alternativa afeta o caixa da empresa: a) ( ) reavaliação do imobilizado b) ( ) venda de ações à vista c) ( ) recebimento de um imóvel em troca de amortização de uma dívida d) ( ) correção monetária do Ativo Permanente INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade IV - Demonstrações Contábeis AULA 14 Demonstração do Valor Adicionado (DVA) Objetivos • Entender a questão da responsabilidade social das empresas. • Conceituar a DVA. • Compreender a destinação do valor adi- cionado. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 76 Introdução Caro aluno, sem termos a pretensão de esgotar o assunto, veremos nesta aula mais uma demonstração contábil: a Demonstração do Valor Adicionado ou DVA. Este relatório contábil trata da questão da geração de riqueza criada pela empresa, bem como a sua respectiva distribuição para os agentes que colaboram para sua geração. De acordo com a Lei das Sociedades por Ações, a DVA deve indicar, no mínimo, “o valor da riqueza gerada pela companhia, a sua distribuição entre os elementos que contribuíram para a geração dessa riqueza, tais como em- pregados, financiadores, acionistas, governo e outros, bem como a parcela da riqueza não distribuída. No Brasil, as companhias abertas não são obrigadas a elaborar, a Demonstração do Valor Adicionado em ra- zão das modificações propostas pela Lei 11638/07 à Lei 6.404/78. Responsabilidade Social das Empresas Nos dias de hoje, a sociedade vem exigindo respostas para os problemas decorrentes do desempenho das em- presas em termos econômicos e sociais. As empresas têm obrigações com a sociedade em termos de meio ambiente, geração de empregos, distribuição de renda entre outros. As empresas não podem ter como objetivo apenas buscar o lucro, sem ter em vista vários fatores, dentre os quais a sua participação no crescimento social e econômi- co de um país. Vários agentes da sociedade se relacionam de alguma forma com as empresas, tais como: • fornecedores; • financiadores de recursos; • clientes; • governo; • funcionários; • meio ambiente. A Contabilidade, num enfoque social, tem por obje- tivo fornecer informações que permitam aos interessados avaliar os efeitos das operações da empresa sobre a socie- dade que a cerca. A sociedade premia as empresas que adotam políticas de preservação da natureza e de bem-es- tar para os seusempregados. Assim, a Contabilidade de- senvolveu um relatório complementar às demais demons- trações, visando informar a riqueza criada pela empresa e o seu destino. Este relatório denomina-se Demonstração do Valor Adicionado (DVA). Prezado aluno, nesta aula não nos preocuparemos em aprofundar muito este assunto, que será visto novamente adiante. Abordaremos apenas os aspectos gerais para que você já possa ir se familiarizando com mais esta demonstração contábil. Para tanto, vamos começar conceituando a DVA. Conceito Quando falamos de valor adicionado, temos que en- tender que a empresa está inserida no contexto da produ- ção nacional, ou seja, ela adquire recursos (matéria-prima, energia, dinheiro, etc.) e os transforma em produtos que serão vendidos, atendendo, portanto, às necessidades da sociedade. É uma idéia da Economia que estamos aprovei- tando na Contabilidade. É importante ressaltar que o conceito de Valor adicionado é utilizado na economia para deter- minar o PIB de um País (Produto Interno Bruto). Na verdade, caro aluno, a Contabilidade determina o valor adicionado de uma em- presa através da diferença entre as vendas (receitas de vendas menos as devoluções e abatimentos) e os materiais adquiridos de terceiros (matérias-primas, serviços, etc.) Um exemplo simples do que estamos falando é o seguinte: su- ponhamos que a empresa Delta Ltda. venda todos os seus produ- tos num determinado período, obtendo uma receita total de R$ 50.000,00. Para que isso ocorresse, ela comprou insumos de outra empresa, no valor de R$ 20.000,00. Ao determinarmos o valor adi- cionado dessa empresa em determinado período, ou seja, quanto a empresa gerou de riqueza, teríamos: Valor adicionado = vendas – materiais consumidos Valor adicionado = 50.000,00 – 20.000,00 Valor adicionado = 30.000,00 Vamos ver mais um exemplo? Considere que a indús- tria Favos Ltda. tenha realizado as seguintes transações em determinado período: Vendas brutas R$ 2.000,00 Insumos adquiridos R$ 1.400,00 Mão-de-obra empregada R$ 200,00 Remuneração dos sócios R$ 400,00 O valor adicionado seria apresentado da seguinte forma: Vendas brutas (total produzido) R$ 2.000,00 (-) Insumos adquiridos (R$ 1.400,00) Valor adicionado R$ 600,00 PIB é o valor monetário de todos os bens e serviços finais produzidos na economia no período de um ano. Insumos são bens e servi- ços utilizados na produção de bens e serviços. AULA 14 • Demonstração do Valor Adicionado (DVA) 77 E quanto à mão-de-obra e à remuneração dos sócios? Considerando o exemplo, responderíamos que, da rique- za gerada, uma parte irá para os sócios e a outra para o pagamento dos empregados. O que significa Renda para a Contabilidade? Athar (2005) entende que “no enfoque contábil, Renda é igual à destinação do valor adicionado”. Voltando ao exemplo anterior, “Favos Ltda.”, teremos: RENDA = DESTINAÇÃO DO VALOR ADICIONADO Salários dos empregados R$ 200,00 Remuneração dos sócios (Capital) R$ 400,00 Destinação da renda R$ 600,00 De forma simples, entendido o conceito de valor adi- cionado, podemos então falar um pouco sobre a Demons- tração do Valor Adicionado (DVA). Segundo De Luca (1998), podemos conceituar a DVA como sendo “um conjunto de informações de natureza econômica. É um relatório contábil que visa demonstrar o valor da riqueza gerada pela empresa e sua distri- buição para os elementos que contribuíram para sua geração.” Os elementos que compõem a empresa e que contri- buíram para a geração de riqueza dentro de um determi- nado período são os seguintes: • Empregados: todos os pagamentos relacionados à mão-de-obra (salários, férias mais os encargos sociais); • financiadores: despesas financeiras e de aluguéis; • proprietários: dividendos pagos aos donos; • governos: impostos. Você se lembra da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), vista na Aula 12? Pois bem, a DRE eviden- cia as receitas, os custos e despesas ocorridas em um de- terminado período. Portanto, a DRE fornece alguns dados para a elaboração da DVA, que seriam: • Vendas; • gastos com a obtenção dos produtos e serviços vendidos; • gastos: despesa com pessoal, imposto de renda. Modelo completo da Demonstração do Valor Adicionado (DVA) Um dos propósitos desta aula é apresentar a DVA em termos gerais. A mensuração detalhada será demonstrada mais adiante. Segue abaixo um modelo simples, segundo os conceitos até aqui apresentados. Demonstração do Valor Adicionado em 31/12/2004 da empresa Favos Ltda. Em milhares de Reais Receita de Vendas 20.000,00 ( - ) Custo da mercadoria vendida (CMV) (4.000,00) ( - ) Despesas administrativas e de vendas (500,00) VALOR ADICIONADO BRUTO 15.500,00 ( - ) Depreciações (100,00) ( = ) VALOR ADICIONADO LÍQUIDO 15.400,00 Receitas não relacionadas diretamente à produção Financeiras 450,00 Outras Receitas 150,00 ( = ) VALOR ADICIONADO TOTAL 16.000,00 DESTINAÇÃO DO VALOR ADICIONADO Empregados 7.500,00 Financiadores 2.500,00 Governos 3.400,00 Acionistas 2.600,00 No exemplo acima, consideramos que todo lucro ge- rado foi destinado aos acionistas. Como você pode ver, caro aluno, a DVA detalha um pouco mais a DRE, principalmente no tocante à distribui- ção da riqueza gerada, sendo muito útil para os diversos usuários da informação contábil, tais como: • Sindicatos dos trabalhadores: para traçar políticas de negociação de benefícios; • financiadores: para analisar a liberação de recursos em dinheiro; • governos: com finalidade tributária; • fornecedores da empresa: para analisar liberação de crédito. Resumo Apresentamos, de forma sucinta, a Demonstração do Valor Adicionado (DVA). Sem esgotarmos o assunto, vimos que a DVA é uma demonstração que visa mostrar quanto a empresa gerou e como distribui sua riqueza. A elaboração da DVA é obrigatória pela Lei das S.A. às empresas de capital aberto e tem o objetivo de com- plementar as informações que podem ser obtidas junto à Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). Enquanto a DRE visa prestar informações quase que somente para INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 78 os proprietários da empresa, através da determinação do lucro líquido, a DVA informa sobre a geração da riqueza e sua distribuição. Atividades 1. Liste alguns usuários e as respectivas necessidades de informações que estão contidas na DVA. 2. Qual a ligação entre DVA e DRE? 3. O que você entende sobre responsabilidade social por parte das empresas? 4. O que a DVA identifica? 5. Podemos entender que o valor adicionado se baseia nos conceitos básicos econômicos do PIB (Produto Interno Bruto)? 6. Quem está obrigado à elaborar e publicar a DVA? INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade IV - Demonstrações Contábeis AULA 15 Capital, Capital Social e Reservas Objetivos • Descrever e conceituar Capital e Capital Social. • Entender o que é Capital Próprio. • Entender a constituição das Reservas. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 80 Introdução A demonstração das origens e aplicações de recursos será estudada nas próximas aulas. Nesta aula, começaremos a falar sobre Capital e Reservas. Nas aulas seguintes, falaremos sobre os demais elementos que compõem as origens e aplicações dos recursos da empresa, tais como capital de terceiros a curto e longo prazo. Conceito Vimos que a Contabilidade preocupa-se, também, com o estudo, controle e avaliação do capital empregado numa determinada empresa. Mas qual o significado do termo “Capital”? O conceito de Capital tem significados diferentes nas várias áreas em que aparece. Por exemplo: o Capital para a economia é visto como a soma das riquezas queserve para gerar novas riquezas. Para a Contabilidade, Capital significa recursos, ou seja, dinheiro, riqueza, haveres, bens, fortuna. São os bens e direitos empregados na movimentação do negócio ou conjunto de elementos que constituem o patrimônio das empresas constituído pelos investimentos e bens disponíveis; é toda riqueza capaz de produzir renda. O Capital pode ser conceituado, então, como os recursos, as riquezas, os bens e haveres empregados numa empresa. Neste caso, as obrigações assumem a posição de Capital, pois financiam a atividade da empresa. Vamos explicar um pouco mais. A obrigação salários a pagar, em termos contábeis, é fonte de recursos em determinado período, pois a empresa utiliza a força de trabalho do empregado (recurso) durante 30 dias. No Brasil, o pagamento dos salários se dá até o 5º dia útil do mês seguinte ao trabalhado. A empresa utiliza este recurso ou capital para movimentar as suas operações. Com esse exemplo, podemos concluir que todas as obrigações são exemplos de recursos e, conseqüentemente, de capital, no enfoque da Contabilidade. Contudo, as contas do Ativo e do Passivo representam o Capital da empresa. Portanto, no enfoque contábil, Capital é o Patrimônio da empresa. Caro aluno, você entendeu bem o conceito de Capital no enfoque contábil? Vamos reforçar o seu entendimento nos próximos tópicos. Capital Social ou Nominal, Capital Realizado e a Realizar O Capital Social ou Nominal é formado na constituição ou no início de uma entidade. É o investimento inicial que os sócios efetuam para possibilitar o início do funcionamento da entidade, constituindo o seu patrimônio. O Capital dos sócios colocados à disposição da entidade é denominado Capital Social Realizado. No entanto, nem sempre uma sociedade é constituída integralizando todo o capital dos sócios. Ás vezes, quando os sócios não têm disponível todo o capital a ser empregado na sociedade, resta uma parte a ser posteriormente integralizada. À medida que se tornar disponível, o restante do capital a integralizar é contabilizado e passa a integrar o Patrimônio da empresa. Em resumo, no momento em que uma empresa é constituída, os sócios atestam, mediante um contrato, o capital nominal que pode ser disponibilizado por eles imediatamente (capital social realizado) ou posteriormente (capital a integralizar). Qual a diferença entre capital social e capital social realizado? Resposta: Capital social é igual a capital social realizado mais capital social a integralizar. Fontes de Patrimônio Líquido (PL) O PL de uma determinada entidade pode ser originado das seguintes fontes: 1) investimentos efetuados pelos sócios proprietários, que originam ações ou quotas de participação na sociedade; 2) lucros que são originados dos resultados obtidos em suas operações e, posteriormente, colocados a disposição dos quotistas ou da Assembleia Geral. Quando os sócios decidem constituir uma empresa, resolvem, através de instrumento jurídico próprio (o Contrato Social), a forma como será efetivada a participação de cada um, ou seja, como será constituído o seu capital social e como serão distribuídas as ações entre os sócios (participação societária). O capital social integralizado constitui a Fonte Interna de recursos, uma vez que, enquanto a empresa estiver operando normalmente, os proprietários não podem AULA 15 • Capital, Capital Social e Reservas 81 retirar seu capital investido na sociedade, podendo, entretanto, vender a sua participação na forma de ações da empresa. Assim, em um processo de continuidade das atividades operacionais da empresa, os recursos aplicados pelos proprietários na entidade, ou seja, o capital social, podem ser usados sem que seja necessário devolvê-los aos respectivos sócios. Desta forma, pode ser considerado como Capital Próprio da empresa, visto que não será devolvido aos sócios antes da eventual extinção da empresa ou do término de suas atividades operacionais. É importante salientar que os lucros apurados no exercício não serão acumulados no patrimônio da empresa, e sim colocados à disposição dos sócios para decidirem o destino do resultado no próximo exercício (se será distribuído ou se será revertido em patrimônio para a sociedade). Capital Próprio Capital Próprio é o conjunto formado pelos valores que pertencem à própria entidade, sendo constituído por seu capital social mais as reservas, abatendo os prejuízos acumulados, até sua dissolução ou encerramento (com exceção dos resultados que serão ainda passíveis de eventual distribuição pelos sócios/acionistas). O capital social é um dos elementos que compõem o capital próprio. Resumindo, o capital próprio é igual ao patrimônio líquido da empresa. Reservas São recursos que pertencem ao grupo Patrimônio Líquido. São valores que surgem basicamente de duas maneiras: • Reservas obrigatórias: valores que são retirados dos resultados para ficarem retidos na empresa com um determinado fim (ou seja, são resultados que não são distribuídos aos sócios/acionistas); • Reservas facultativas: são valores que surgem em função da verificação da necessidade de sua constituição. Alguns exemplos: Reservas obrigatórias Reservas de reavaliação Reserva Legal Segundo o art. 193 da lei 6.404/76, a referida reserva deve ser constituída para proteger os interesses dos credores; 5% do lucro líquido será o valor da constituição desta reserva. Não poderá exceder 20% do capital social. A reserva legal poderá deixar de ser constituída, no exercício em que o saldo dessa reserva, acrescida do montante das reservas de capital, exceder 30% do capital social. Reservas para Contingências Pode ser constituída em assembleia geral para compensar provável diminuição do lucro decorrente de perda, cujo valor possa ser estimado. Essa reserva, constituída sobre os lucros, será revertida no exercício em que deixarem de existir razões que a justifiquem. Reservas de Incentivos Fiscais Parcela de lucro líquido decorrente de doações e subvenções governamentais para investimentos. Reservas Estatutárias É constituída de acordo com o estatuto da empresa, obedecendo aos seguintes quesitos: a) finalidade da reserva; b) limite máximo do valor. É obrigatória conforme o que for estabelecido pelo estatuto da empresa. Reserva de Lucros a Realizar Constituída quando o dividendo obrigatório ultrapassa a parcela realizada do lucro líquido do exercício. E decidida em assembleia mediante proposta dos órgãos da administração. Resumo Vimos que o conceito de capital difere nas diferentes áreas do conhecimento. Para a Contabilidade, o capital representa todos os bens, direitos e obrigações da empresa. Conclui-se, então, que o capital é igual ao patrimônio da entidade. Entendemos agora que o capital próprio é igual ao Patrimônio Líquido da empresa, ou seja, é o conjunto do capital social mais as variações ocorridas no PL da empresa. Estas variações no Patrimônio Líquido são representadas pelas alterações ocorridas com os resultados operacionais (lucro/prejuízo) bem como a sua respectiva destinação, no caso do lucro (reservas e distribuição do lucro). Atividades 1. Conceitue e diferencie: Capital, Capital Social, Capital a Integralizar. 2. Quais são as principais fontes do Patrimônio Líquido? 3. Assinale a opção correta: a) O patrimônio é o conjunto de bens, direitos e obrigações da pessoa jurídica. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 82 b) O Ativo é o conjunto de bens, direitos e obrigações da pessoa jurídica. c) As contas que, ao final de dado período, têm o total dos créditos superior ao total dos débitos, diz-se são de natureza devedora, como as contas Caixa e Duplicatasa Receber. d) Os saldos finais das contas do Passivo não podem ser credores. e) Quando se somam os valores lançados a débito e os lançados a crédito de uma conta, diz-se que a conta é anulada. 4. A empresa Zete Ltda. possui: R$ 830.000,00 em dinheiro; R$ 1.200.000,00 em mercadorias; R$ 1.000.000,00 registrado na Junta Comercial como Capital; dívidas no valor de R$ 970.000,00 e lucros acumulados de R$ 60.000,00. Nessa estrutura patrimonial, o valor do Capital Próprio é de: a) R$ 830.000,00 b) R$ 970.000,00 c) R$ 1.000.000,00 d) R$ 1.060.000,00 e) R$ 2.030.000,00 5. Quais são as reservas obrigatórias? E as facultativas? Explique cada uma consultando, para isso, a Lei 6.404/78 atualizada. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade IV - Demonstrações Contábeis AULA 16 Capital de Terceiros de Curto e Longo Prazo Objetivos • Descrever o capital de terceiros; • Compreender o Exercício Social; • Entender os mecanismos de classificação de curto e longo prazo. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 84 Introdução Na aula passada, vimos que o capital é representado pelos bens e valores empregados na movimentação do empreendimento, ou seja, é o conjunto de elementos que compõem o patrimônio das empresas constituído pelos investimentos e bens disponíveis. Capital é, em um conceito amplo, toda riqueza capaz de produzir renda. Capital Próprio e Capital de Terceiros Veremos agora uma outra classificação do capital em termos contábeis, capital de terceiros. Antes, resgatemos da aula passada o significado de capital próprio. Capital próprio Capital próprio se constitui na Fonte Interna de recursos, uma vez que, enquanto a empresa estiver operando normalmente, os proprietários não podem retirar o seu capital investido na sociedade, podendo, entretanto, vender a sua participação na forma de ações ou cotas da empresa. Capital de terceiros De maneira geral, podemos afirmar que Capital de Terceiros são os recursos originários de fontes externas à entidade e que são utilizados para a aquisição de ativos de propriedade dessa entidade. Correspondem ao Passivo exigível, isto é, um valor que pode ser exigido por quem o emprestou. As dívidas com os bancos, as financeiras, os fornecedores de mercadorias, o Governo representam o capital de terceiros (fontes externas) empregados na entidade. Assim, no capital de terceiros estão incluídos os recursos obtidos através de empréstimos e financiamentos bancários e créditos de fornecedores, bem como impostos a recolher. A comparação entre o Capital Próprio e o Capital de Terceiros empregados revela o grau de endividamento da entidade. Quanto maior for o capital de terceiros (dívidas) em relação ao capital próprio, maior será o endividamento da empresa. Veja o exemplo: BALANÇO PATRIMONIAL Ativo Passivo Caixa 10.000,00 Fornecedores 12.000,00 Capital de terceiros Estoque 20.000,00 Contas a pagar 8.000,00 Imóvel 15.000,00 Patrimônio Líquido 25.000,00 Capital próprio Total 45.000,00 Total 45.000,00 Conceito de Exercício Social Podemos conceituar Exercício Social como o intervalo de tempo compreendido em 12 meses, após o qual as pessoas jurídicas devem apurar os resultados obtidos em suas operações, podendo coincidir, ou não, com o ano- calendário (01 de janeiro a 31 de dezembro), de acordo com os termos dispostos no estatuto ou no contrato social. Para a legislação do imposto de renda, é chamado de período-base (mensal ou anual) de apuração da base de cálculo do imposto devido. Periodicamente, as empresas devem divulgar e/ ou registrar suas demonstrações contábeis. A legislação brasileira determina que este período seja equivalente ao ano comercial, que vai de primeiro de janeiro a trinta e um de dezembro de cada ano. Sendo assim, todas as receitas, custos, despesas, ganhos e perdas que ocorrem de 01 de janeiro até 31 de dezembro do mesmo ano são considerados na apuração do resultado daquele ano (período). Portanto, embora o exercício social possa ser qualquer período de 12 meses, a Receita Federal exige que a elaboração e publicação das demonstrações contábeis com a lei (6.404/76) estejam em acordo com o ano calendário. Por isso, é comum fazer coincidir o exercício social de uma empresa com o ano-calendário. Como o exercício social pode ser diferente do ano- calendário, criam-se dois conceitos: de curto e longo prazo, um de interesse contábil (toma o exercício social como base) e o outro de interesse do fisco (toma o ano- calendário como base). Veremos a seguir o significado de curto e longo prazos. Renda representa o total dos pagamentos efetuados aos fatores de produção que foram utilizados na formação do produto/serviço AULA 16 • Capital de Terceiros de Curto e Longo Prazo 85 Conceito de Curto e Longo Prazos De maneira geral, curto prazo, para a Contabilidade, significa um período de até um ano após o fim do atual exercício social. Ao apresentar um balanço, todas as contas a receber e a pagar no próximo exercício (nos próximos 365 dias), isto é, durante o exercício social seguinte ao atual, devem ser classificadas como curto prazo. Para classificar uma conta patrimonial em longo prazo deve ser observado um período superior ao término do exercício social seguinte ao atual. Por exemplo, um financiamento em um banco, com vencimento após três anos, é considerado uma dívida de longo prazo. Você entendeu a classificação das contas patrimoniais em curto e longo prazos no enfoque contábil? Vejamos: Exemplo de curto e longo prazos utilizando uma linha de tempo: 01/01/2003 31/12/2003 01/01/2004 31/12/2004 Exercício atual Curto prazo Longo prazo Segundo a figura, qualquer conta a receber ou a pa- gar que tenha vencimento superior à data de 31/12/2004 é classificada como de longo prazo. O conceito de curto prazo também está relacionado com o ciclo operacional do empreendimento, representado na figura abaixo. Compra da M.P.* Término da fabricação / Estocagem do produto Recebimento das vendas 1 ano e 10 meses Ciclo operacional * M.P. - Matéria-prima Imagine, por exemplo, uma determinada empresa que fabrique máquinas e que leve, normalmente, mais de um ano para concluir sua fabricação. Dizemos, então, que o ciclo operacional desse empreendimento ultrapassa um ano. Neste caso, o conceito de curto prazo passa a valer pelo ciclo operacional. Isto é muito comum no setor agrícola: as culturas apresentam diferentes períodos de formação até a colheita, podendo ultrapassar um ano. De acordo com o conceito de ciclo operacional, verificamos que se uma empresa fabrica barcos e leva dois anos para construir uma balsa, em suas demonstrações contábeis, todas as contas relativas ao pagamento ou recebimento deste produto irâo considerar este período para classificar as respectivas contas contábeis em curto e longo prazos. Ciclo Operacional compreende o período completo de funcionamento de uma empresa: a venda de mercadorias gera um crédito a receber de clientes; este é revertido em valor que entrará no Caixa; o caixa é, posteriormente, usado para pagar os fornecedores de mercadorias; estas são vendidas aos clientes, iniciando- se, assim, um novo ciclo operacional. Capital de Terceiros de Curto e Longo Prazos Como vimos anteriormente, Capital de Terceiros representa recursos originários de fontes externas à entidade que são utilizados para a aquisição de Ativos de propriedade dessa entidade. O conjunto formado pelas obrigações que uma entidade tem com seus credores é o seu Passivo. Essas exigibilidades possuem uma data de vencimento. O prazo de vencimento das obrigações assumidas é que determina a sua classificaçãoem termos de prazo (curto ou longo). As obrigações assumidas pela empresa originadas de operações junto a clientes com prazo de vencimento inferior a um ciclo operacional ou a um exercício social devem ser classificadas no curto prazo. Caso as obrigações assumidas pela empresa sejam originadas de operações junto a clientes com prazo de vencimento superior a um ciclo operacional ou a um exercício social (dos dois o que tiver maior prazo), devem ser classificadas como de longo prazo. Resumo O exercício social para as empresas compreende 365 dias. Para o Fisco, este período deve coincidir com o ano- calendário vigente. Os conceitos de curto e longo prazos são muito empregados na Contabilidade. As contas que representam créditos junto a terceiros cujo vencimento ultrapasse INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 86 o exercício social seguinte ou ciclo operacional são classificadas como de longo prazo. Caso não ultrapassem esse exercício ou ciclo, serão classificadas como de curto prazo. Vimos, ainda, que as contas exigíveis ou do passivo são denominadas também capital de terceiros. Já as contas que integram o Patrimônio Líquido podem ser também chamadas de capital próprio. Atividades 1. Quais as diferenças entre Capital Próprio e Capital de Terceiros? 2. Exercício Social pode ser entendido também como ciclo operacional? Justifique. 3. Conceitue Curto e Longo Prazo sob a abordagem contábil. 4. Dê exemplos de transações de curto e de longo prazo. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE AULA 17 Unidade IV - Demonstrações Contábeis Origem de recursos na entidade Objetivos • Entender sobre capital circulante líqui- do. • Conceituar origem de recursos. • Identificar as principais fontes (origens) de recursos numa entidade. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 88 Introdução Nesta aula, abordaremos primeiro o Capital Circulante Líquido e depois as origens de recursos na entidade. Estes conceitos serão fundamentais para o estudo nas próximas aulas, sobre a demonstração das origens e aplicações de recursos. Capital Circulante Líquido Vamos começar revendo os conceitos de Ativo Circulante e Passivo Circulante, estudados nas Aula 10 e 11, respectivamente. Resumidamente, Ativo Circulante é a representação de todos os Bens e Direitos que a empresa espera transformar em dinheiro até o término do exercício social seguinte, ou seja, disponível (caixa, bancos), estoque, etc. O Passivo Circulante representa as contas que serão pagas até o término do exercício social seguinte ou de acordo com o ciclo operacional da companhia se este for superior a um ano. Vamos agora ao Capital Circulante Líquido (CCL): CCL representa a folga financeira que a empresa possui para quitar as suas dívidas de curto prazo. A representação do CCL consiste no resultado da diferença entre Ativo Circulante (AC) e Passivo Circulante (PC), conforme a seguinte equação: CCL = ATIVO CIRCULANTE – PASSIVO CIRCULANTE Exemplo: Suponhamos que a empresa Pacioli apresente o seguinte Balanço Patrimonial Simplificado (em milhares de reais): Ativo Circulante 18.000,00 Realizável a Longo Prazo 4.000,00 Ativo Permanente 6.000,00 Total 28.000,00 Passivo Circulante 10.000,00 Exigível a longo prazo 8.000,00 Patrimônio Líquido 10.000,00 Total 28.000,00 Considerando os dados apresentados, temos que o CCL será calculado da seguinte forma: = R$ 18.000,00 (AC) – R$ 10.000,00 (PC) = R$ 8.000,00 Portanto, CCL = R$ 8.000,00. A interpretação desta informação é a seguinte: se todas as dívidas com os credores da empresa vencessem no mesmo momento, a empresa teria condições de quitar toda a dívida de curto prazo e ainda sobrariam R$ 8.000,00. Esta sobra ou folga financeira é o que denominamos Capital Circulante Líquido, CCL. Transações que afetam o CCL: • compra de bens permanentes à vista: altera somente a conta caixa do AC; • venda com recebimento a longo prazo: altera a conta estoque do AC. Transações que não afetam o CCL: • Compra de Ativo Permanente com recursos dos sócios: altera as contas do Ativo Permanente e Patrimônio Líquido; • venda de Ativo Permanente a longo prazo: altera as contas do ELP e Ativo Permanente. Podemos concluir, então, que as transações que transferem do Ativo Circulante para o Passivo Circulante e vice-versa não afetam o CCL. Exemplos: • compra de estoque: aumenta o Ativo Circulante (estoque) e aumenta o Passivo Circulante (fornecedores); • pagamento da dívida com estoque: diminui o Ativo Circulante (caixa) e diminui o Passivo Circulante (fornecedores); • empréstimo bancário: aumenta o Ativo Circulante (caixa) e aumenta o Passivo Circulante (empréstimo a pagar). As contas do Ativo que não são classificadas como Circulante são também denominadas Ativos Não Circulantes (RLP e Ativo Permanente). As contas do Passivo que não são classificadas como Circulante são também chamadas de Passivo Não Circulante (ELP, Resultado de Exercícios Futuros e Patrimônio Líquido). Origens de Recursos Todos os recursos que ingressam numa determinada empresa normalmente passam pelo Passivo (empréstimos, fornecedores, etc.) e/ou Patrimônio Líquido (lucro, aporte de recursos na empresa por parte dos sócios, etc.). Assim sendo, por meio do Passivo e do Patrimônio Líquido, identificam-se as origens de recursos. Caro aluno, você entendeu que as origens dos recursos são representadas pelos aumentos no Capital Circulante AULA 17 • Origem de recursos na entidade 89 Líquido (CCL)? Para sua melhor compreensão, podemos listar as principais fontes ou origens de recursos: O capital próprio (Patrimônio Líquido) e de terceiros (Passivo) representam as fontes ou origens de recursos da empresa. a) originadas pelas próprias operações da empresa: Oriundas dos resultados (lucros) apurados no período. Quando a empresa obtém lucro em suas operações em um determinado período, origina recursos que poderão ser aplicados na entidade. Aumenta o PL e aumenta o Ativo (caixa banco ou estoque...). b) originadas pelos acionistas: • Aumentos de Capital (integralizações no exercício). Oriundas dos aumentos de capital efetivado por meio de novas integralizações de capital por parte dos sócios acionistas. c) originadas por terceiros: • Empréstimos a Longo Prazo: Oriundas de operações de empréstimos contraídos junto a instituições financeiras com prazo de vencimento acima de um ciclo operacional (normalmente acima de um ano). • Vendas à vista de Bens do Ativo Permanente: Oriundas das vendas de itens do Ativo Permanente, tais como imóveis, veículos ou máquinas que não seriam mais usadas em suas atividades operacionais. • Conversões de itens do Ativo Realizável a Longo Prazo em Realizável a Curto Prazo: com o passar do tempo, as datas de vencimento das dívidas de longo prazo, vão se sucedendo, até se transformarem em curto prazo. A Contabilidade deve registrar esta conversão diminuindo a obrigação a longo prazo e aumentando a mesma conta a curto prazo (Passivo Circulante). Caro aluno, você entendeu bem o conceito de CCL e origem de recursos? Vamos dar mais um exemplo. Considere os dados do Balanço Patrimonial da empresa “Pacioli”, vistos anteriormente, nos quais observamos que a empresa obteve um empréstimo a longo prazo no valor de R$ 5.000,00: Situação anterior ao lançamento do empréstimo: Posição final considerando o lançamento do empréstimo: Ativo Circulante 18.000,00 Passivo Circulante 10.000,00 Realizável a Longo Prazo 4.000,00 Exigível a Longo Prazo 8.000,00 Ativo Permanente 6.000,00 Patrimônio Líquido 10.000,00 Total 28.000,00 Total 28.000,00 Posição final considerando o lançamento do empréstimo: Ativo Circulante23.000,00 Passivo Circulante 10.000,00 Realizável a Longo Prazo 4.000,00 Exigível a Longo Prazo 13.000,00 Ativo Permanente 6.000,00 Patrimônio Líquido 10.000,00 Total 33.000,00 Total 33.000,00 Como podemos ver, houve um aumento na conta do Ativo Circulante (caixa ou banco) de R$ 5.000,00 e um aumento nas obrigações a longo prazo (empréstimos a pagar) de igual valor. Temos, então: CCL = AC – PC CCL posição anterior = 18.000,00 – 10.000,00 = 8.000,00 CCL atual = 23.000,00 – 10.000,00 = 13.000,00 Houve um aumento no CCL, portanto a transação do empréstimo representa uma origem de recursos da empresa. A principal origem de recurso para empresa é o lucro obtido como resultado de suas operações. Esse lucro, cabe ressaltar, não pertence a ela, mas aos seus proprietários (sócios ou acionistas), já que são os sócios que correm o risco do negócio. Caso a empresa apure prejuízo em suas atividades num determinado período, quem vai perder dinheiro são os seus sócios proprietários e não a empresa. Como sabemos, o lucro é a remuneração do capital investido na empresa pelos sócios proprietários. Numa empresa, ocorre que todo lucro é “repassado” aos proprietários, via Patrimônio Líquido. No entanto, INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 90 apenas o lucro retido (não distribuído aos proprietários) é acumulado no Patrimônio Líquido, aumentando, portanto, o investimento dos proprietários. Exemplo: a empresa apresentou um lucro Líquido de R$ 10.000,00. As disposições vigentes na empresa deter- minam a distribuição de lucros para os proprietários (atas de reuniões, força de lei, etc.), da seguinte forma: • 50% do lucro apurado pela DRE deverão ser distri- buídos para os acionistas; • os outros 50% deverão permanecer na conta de lu- cros acumulados (ou lucros retidos) para posterior destinação. Assim, somente R$ 5.000,00 serão distribuídos aos só- cios proporcionalmente às suas participações na empresa. De forma resumida, apresentamos as origens ou fontes de recursos que uma determinada entidade pode aplicar em suas atividades operacionais. Na próxima aula, abordaremos as Aplicações de Recursos ocorridas dentro da entidade. Resumo Vimos que o capital circulante líquido representa a folga financeira de uma empresa. A determinação do valor do CCL é alcançada mediante o resultado da diferença entre as contas do Ativo Circulante e passivo circulante. Todas as transações que envolvem contas do AC e PC não circulante ou vice-versa, afetam o CCL. As origens de recursos podem advir das atividades da empresa (lucro), dos acionistas (aporte de recursos) e de terceiros (empréstimos, etc.). Atividades 1. Conceitue origens de recursos. 2. Identifique as principais fontes de recursos numa enti- dade. 3. Comente sobre eventuais benefícios obtidos por uma entidade em conversões de itens do Ativo Realizável a Longo Prazo em Realizável a Curto Prazo. 4. No seu entendimento, qual a finalidade da determina- ção do CCL da empresa? 5. Qual é a principal fonte de recursos para uma entida- de? 6. Marque a opção correta: no Balanço Patrimonial, o lado esquerdo demonstra as contas do Ativo e eviden- cia onde a empresa aplicou os recursos que obteve e tem à sua disposição. O lado direito representa as con- tas do Passivo e evidencia: a) as origens dos recursos que a empresa obteve e tem à sua disposição. b) os bens e os direitos da empresa. c) os bens, direitos e obrigações da empresa. d) a aplicação dos recursos. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade IV - Demonstrações Contábeis AULA 18 Aplicação de recursos na entidade Objetivos • Descrever e conceituar Aplicações de Recursos. • Diferenciar a Aplicação de Recursos de Curto e Longo Prazo. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 92 Introdução Como vimos na aula anterior, os recursos (financeiros ou materiais) são originados dos proprietários, fornecedo- res, governo, bancos, financeiras, etc. Por meio do estudo do Passivo e do Patrimônio Líquido, podemos identificar as origens dos recursos. Veremos nesta aula que o Ativo, por sua vez, demons- tra todas as aplicações de recursos: aplicação em contas diversas, tais como no caixa, em estoque, em máquinas, em imóveis, etc. Conceito de Aplicação de Recursos Vimos, na aula passada, que o Capital Circulante Lí- quido é o resultado da diferença entre o Ativo Circulante e o Passivo Circulante. Quando utilizamos ou aplicamos os recursos advindos do Capital de terceiros ou Capital próprio na empresa, estamos fazendo uma aplicação de recursos, se esta aplicação alterar o CCL. Esclarecendo um pouco mais, a aplicação de recursos demonstra a utilização dos recursos numa determinada entidade. Os recursos que são gerados pelas atividades operacio- nais de determinada entidade, após a distribuição dos lu- cros aos sócios, devem ser aplicados na própria empresa. Algumas formas de aplicação de recursos Existem diversas formas de aplicar os recursos de uma empresa, dentre elas podemos citar: • Distribuição de dividendos aos proprietários. Distri- buição do lucro; • Recursos aplicados no aumento do Ativo Perma- nente, ou seja, aquisição de itens do Ativo Perma- nente para uso em suas atividades operacionais, tais como: máquinas, veículos, imóveis, etc. • Recursos aplicados na redução de obrigações ou exigibilidades a longo prazo para efetivar a mudan- ça no perfil da dívida de determinada entidade. É importante ressaltar que, quando as operações de uma empresa consomem Capital Circulante Líquido (folga finan- ceira), esta operação representa uma aplicação. Isto ocorre, por exemplo, quando a empresa apresenta prejuízo. Aplicações de recursos a curto e longo prazo na entidade Já definimos anteriormente Capital Circulante Líqui- do, conforme a equação abaixo: CCL = ATIVO CIRCULANTE – PASSIVO CIRCULANTE De acordo com o conceito já visto do CCL e relembrando também o conceito de aplicação de recursos, podemos deduzir que: a) Sempre que houver uma operação envolvendo unicamente contas do Circulante (Passivo ou Ativo) não haverá alteração no CCL. Considere um Balan- ço Patrimonial simplificado de uma empresa, com a seguinte movimentação: compra de mais estoque à vista, no valor de R$ 15.000,00. Situação atual: Ativo Passivo Caixa 20.000,00 Contas a pagar 10.000,00 Estoque 10.000,00 Financiamento 12.000,00 A.Permanente 8.000,00 Patrimônio Líquido 16.000,00 Total 38.000,00 Total 38.000,00 CCL = (20.000,00 +10.000,00) – (10.000,00+12.000,00) = 8.000,00 Considerando a aquisição do Ativo, teremos a seguinte posição patrimonial: Ativo Passivo Caixa 5.000,00 Contas a pagar 10.000,00 Estoque 25.000,00 Financiamento 12.000,00 A.Permanente 8.000,00 Patrimônio Líquido 16.000,00 Total 38.000,00 Total 38.000,00 CCL = (5.000,00+25.000,00) – (10.000,000+12.000,00) = 8.000,00 Note que a empresa fez uma aplicação de seus re- cursos na aquisição de outro Ativo Circulante, mas não alterou o CCL. AULA 18 • Aplicação de recursos na entidade 93 b) Sempre que houver uma operação envolvendo contas do Circulante e Não Circulante haverá alte- ração no CCL de uma determinada entidade. De acordo com os dados do exemplo anterior, conside- re que a referida empresa teve a seguinte movimen- tação: compra à vista de um imóvel no valor de R$ 15.000,00. Situação atual: Ativo Passivo Caixa 20.000,00 Contas a pagar 10.000,00 Estoque 10.000,00 Financiamento 12.000,00 A.Permanente 8.000,00 Patrimônio Líquido 16.000,00 Total 38.000,00 Total 38.000,00 CCL = (20.000,00 +10.000,00) – (10.000,00+12.000,00) = 8.000,00 Considerando a aquisição do Ativo teremos a seguinte posição patrimonial: Ativo PassivoCaixa 5.000,00 Contas a pagar 10.000,00 Estoque 10.000,00 Financiamento 12.000,00 A.Permanente 23.000,00 Patrimônio Líquido 16.000,00 Total 38.000,00 Total 38.000,00 CCL = (5.000,00+10.000,00) – (10.000,000+12.000,00) = - 7.000,00 Note que a empresa fez uma aplicação de seus recursos na aquisição de outro Ativo Circulante e alterou o seu CCL. As movimentações que ocorrerem na empresa poderão ser classificadas como aplicações ou origens de recursos, considerando se as mesmas vão alterar ou não o CCL. As aplicações de recursos em itens de Ativo de Curto Prazo ou Ativo Circulante não representam alterações na estrutura do Capital Circulante Líquido de uma entidade caso a forma de financiamento desses itens seja também de curto prazo. Outros exemplos de aplicações de recursos Considere o balanço patrimonial abaixo para os exemplos a seguir: Ativo Passivo Caixa 18.000,00 Contas a pagar 10.000,00 Estoque 10.000,00 Financiamento 8.000,00 A.Permanente 8.000,00 RLP Financimento (LP) 2.000,00 Patrimônio Líquido 16.000,00 Total 36.000,00 Total 36.000,00 CCL = (18.000,00 + 10.000,00) - (10.000,00+8.000,00) = 10.000,00 a) Pagamento de obrigações a longo prazo no valor de R$ 1.000,00. Ativo Passivo Caixa 17.000,00 Contas a pagar 10.000,00 Estoque 10.000,00 Financiamento 8.000,00 A.Permanente 8.000,00 RLP Financimento (LP) 1.000,00 Patrimônio Líquido 16.000,00 Total 35.000,00 Total 35.000,00 Antes CCL = 10.000,00 Agora CCL = (17.000,00 + 10.000,00) - (10.000,00+8.000,00) = 9.000,00 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 94 b) Concessão de empréstimos, a longo prazo, para Co- ligadas e Controladas R$ 5.000,00: Ativo Passivo Caixa 13.000,00 Contas a pagar 10.000,00 Estoque 10.000,00 Financiamento 8.000,00 ELP RLP Emp. Col. Cont. 5.000,00 Financimento (LP) 2.000,00 8.000,00 Patrimônio Líquido 16.000,00 Total 36.000,00 Total 36.000,00 ELP - Ativo realizável a longo prazo Antes CCL = 10.000,00 Agora CCL = (13.000,00 + 10.000,00) - (10.000,00+8.000,00) = 5.000,00 Resumo Vimos nesta aula que as movimentações operacionais que representam aplicação de Recursos em curto e longo prazos podem ou não provocar alterações no CCL. Se um evento contábil alterar contas do Circulante (Passivo e Ativo), o CCL não será alterado. Para que o CCL seja alterado, as movimentações das contas do Patrimônio devem contemplar contas do Circulante e não Circulante. Agora que já vimos os conceitos de Capital, curto e longo prazo, origens e aplicações de recursos, temos condições de apresentar, na próxima aula, a última demonstração contábil que a Lei das S.A. (6.404/76) exige: a Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos. Atividades 1. Conceitue aplicações de recursos. 2. Identifique as principais aplicações de recursos numa entidade. 3. Apresente algumas movimentações contábeis que al- term o Capital Circulante Líquido (CCL). 4. Qual a diferença de se aplicar recursos no curto ou no longo prazo numa entidade? 5. O prejuízo pode ser considerado como uma forma de aplicação de recursos? Justifique. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE AULA 19 Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos Objetivos • Conceituar e caracterizar a Demonstra- ção das Origens e Aplicações de Recursos da empresa. • Compreender sua utilidade. Unidade IV - Demonstrações Contábeis INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 96 Introdução Caro aluno, depois de termos visto alguns conceitos, tais como capital próprio e de terceiros, movimentações que representam origens e aplicações de recursos, alterando, conseqüentemente, o Capital Circulante Líquido da empresa, veremos nesta aula, sem esgotarmos todo o assunto, mais uma demonstração relevante para a contabilidade. Segundo a lei das S.A., a Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos ou DOAR não é mais obrigatória. Poucos países obrigam as empresas a elaborar a DOAR. O Brasil não mais determina, por lei, que as empresas S.A. elaborem a DOAR, pois foi substituída, pelo Fluxo de Caixa, por entender que este seja mais compreensível por parte dos usuários. Acreditamos que tanto a DOAR como a Demonstração do Fluxo de Caixa são demonstrações contábeis complementares e não excludentes. Conceito Segundo a Resolução 686/90 do CFC (Conselho Federal de Contabilidade): “A demonstração das origens e aplicações de recursos é a demonstração contábil destinada a evidenciar, em um determinado período, as modificações que originaram as variações no capital circulante líquido da Entidade.” A DOAR deixou de ser de elaboração e publicação obrigatórias para as Sociedades Anônimas. Mas ainda serve para evidenciar as variações ocorridas no capital circulante líquido durante um exercício, permitindo o entendimento da situação de curto prazo da companhia. Assim, torna viável a avaliação da capacidade de pagamento das obrigações circulantes (de curto prazo) da empresa. A DOAR também pode detalhar os financiamentos e investimentos de recursos não circulantes da companhia. Requisitos legais de apresentação Os requisitos legais de apresentação estavam contidos no art. 11, da Lei 6.404/76, transcrito a seguir: 1) as origens dos recursos, agrupadas em: a) lucro do exercício, acrescido de depreciação, amortização ou exaustão e ajustado pela variação nos resultados de exercícios futuros; b) realização do capital social e contribuições para reservas de capital; c) recursos de terceiros, originários do aumento do passivo exigível a longo prazo, da redução do ativo realizável a longo prazo e da alienação de investimentos e direitos do ativo imobilizado. 2) as aplicações de recursos, agrupadas em: a) dividendos distribuídos; b) aquisição de direitos do ativo imobilizado; c) aumento do ativo realizável a longo prazo, dos investimentos e do ativo diferido; d) redução do passivo exigível a longo prazo. A Demonstração do Resultado das Origens e Aplicações de Recursos, de forma resumida, pode ser assim demonstrada: ORIGENS (destacando por grupo) • Das operações normais da empresa • Dos acionistas (ou sócios) da empresa • De terceiros ( – ) Aplicações ( = ) Aumento ou Diminuição do CCL. Vimos, nas aulas anteriores, alguns exemplos de operações que representam as origens e aplicações de recursos que alteram ou não o CCL. Segundo o modelo da DOAR anteriormente apresentado, os eventos que representam as origens de recursos e que alteram o CCL são organizados em três grupos: • Das próprias operações: resultado positivo das operações da empresa em determinado período (lucro). Este lucro deverá ser ajustado, ou seja, o lucro líquido deve eliminar os valores registrados como despesas ou receitas que não afetam o CCL. Exemplo: as despesas com depreciação, exaustão e amortização não afetam o CCL. Este valor, apresentado na Demonstração do Resultado do Exercício, deve ser ajustado no Lucro Líquido; • Dos acionistas: aumentos de recursos na empresa por parte dos proprietários. Tais recursos aumentam o ativo circulante da empresa e evidentemente o CCL. Exemplo: um sócio resolve aplicar recursos próprios na empresa; • De terceiros: pelos aumentos oriundos de empréstimos junto a terceiros. Exemplo: venda de bens do ativo permanente. AULA 19 • Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos 97 Caro aluno, você entendeu que a DOAR é a demonstração da variação do CCL da empresa? Passos básicos para a elaboração da DOAR Não é objetivo desta aula ensinar detalhadamente como se elabora uma DOAR. Isto será visto em outras disciplinas mais adiante. O que faremos aqui é conceituar e demonstrar a utilidade como mais uma demonstração contábil. Assim,não podemos deixar de mencionar alguns passos que devem preceder a elaboração de uma DOAR: • Elaborar as demais demonstrações contábeis exigidas pela lei das S.A.; • Determinar o capital circulante líquido e sua variação, que será demonstrada pela DOAR; • Identificar os ajustes a serem realizados no resultado do exercício (lucro ou prejuízo). Resumidamente, algumas operações que devem constar na DOAR são: Origens de Recursos Aplicações de Recursos Das operações: • lucro do exercício • (–/+) ajustes Das operações: • prejuízo do exercício • (–/+) ajustes Dos acionistas: • aumento de capital em valor Remuneração dos proprietários • pagamento de dividendos De terceiros: • novos financiamentos • venda de ativos do perma- nente Aumento de ativos a longo prazo e ativo permanente Exemplo simples de uma DOAR De uma forma simples, vamos apresentar uma DOAR (recomendo novamente a nossa velha conhecida: a empresa Pacioli). Determinação da variação do CCL da empresa Pacioli referente a dois períodos: Período 2003 (1) 2004 (2) (2-1) Ativo circulante 500,00 900,00 400,00 Passivo circulante 260,00 460,00 200,00 CCL (2-1) 240,00 440,00 200,00 A variação no CCL foi positiva, ou seja, a empresa obteve um aumento de R$ 200,00 no seu CCL. A DOAR vai demonstrar esta variação mais detalhadamente através do modelo simples apresentado anteriormente. Origem dos Recursos Das operações Lucro Líquido 1.800,00 Ajustes (+) Depreciação 400,00 Total de recursos obtidos das operações 2.200,00 Dos acionistas Aumento de capital (aporte de capital feita pelo proprietário) 2.000,00 De terceiros Venda de Permanente 4.000,00 Recursos obtidos de terceiros (empréstimos) 10.000,00 (1) Total das origens 18.200,00 Aplicações dos Recursos No Ativo Permanente Aquisição de imobilizado 6.000,00 Pagamento de dividendos 12.000,00 (2) Total das aplicações 18.000,00 Aumento do CCL (I-2) 200,00 O exemplo simplificado acima não está considerando como foram obtidos os valores dos componentes dos grupos integrantes da DOAR. Contudo, podemos observar que o resultado da CCL pode ser demonstrado pela DOAR, tornando esta demonstração muito útil para a tomada de decisão. Por exemplo, ao analisarmos as aplicações, veremos que a empresa destinou R$ 6.000,00 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 98 para a renovação do seu permanente. Isto nos permite inferir que a empresa está preocupada com a renovação e manutenção do seu ativo permanente. É claro que devemos observar o comportamento da empresa em períodos passados para termos uma opinião mais segura. Resumo Caro aluno, vimos, nesta aula, que a demonstração das origens e aplicações de recursos evidencia as altera- ções no CCL da empresa. A DOAR é muito útil por mostrar, de forma clara, como a empresa obteve os recursos e como ela os aplicou. Seguindo a tendência, tema de muita discussão no meio acadêmico no Brasil, a DOAR foi substituída pela DFC (Demonstração dos Fluxos de Caixa). Atividades 1. Qual é a finalidade principal da DOAR? 2. A diferença entre o ativo circulante e o passivo circu- lante define: ( ) o capital de giro próprio total ( ) o patrimônio líquido ( ) o capital circulante líquido ( ) as origens de recursos a curto prazo 3. A compra de um imóvel para uso da empresa consti- tui: ( ) origem de recursos ( ) aplicação de recursos ( ) aumento do capital circulante líquido ( ) redução do capital próprio 4. Quando o total das origens supera o montante das aplicações de recursos isto significa que: ( ) houve uma redução do CCL ( ) a empresa manteve seu nível de endividamento ( ) houve um aumento do CCL ( ) a empresa está financiando seu crescimento com recursos próprios 5. A obtenção de financiamentos a longo prazo para as operações da empresa representa: ( ) origem de recursos ( ) aplicação de recursos ( ) redução do CCL ( ) aumento do passivo circulante 6. As contribuições de sócios ou proprietários para aumento de capital representam: ( ) redução do passivo circulante ( ) aplicações de recursos ( ) origens de recursos ( ) redução do CCL 7. Uma empresa possuía, no início do exercício, ativo circulante de R$ 12.000,00 e passivo circulante de R$ 16.000,00. No final do exercício, verificou-se que o montante das origens de recursos foi de R$ 22.000,00 e o total das aplicações de recursos, de $ 16.000. Protnto a posição do capital circulante líquido, na data do encerramento do exercício, será: ( ) positiva de R$ 18.000,00 ( ) positiva de R$ 2.000,00 ( ) negativa de R$ 10.000,00 ( ) negativa de R$ 2.000,00 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE AULA 20 Unidade V - Variações Patrimoniais Fatos e atos contábeis Objetivos • Descrever e conceituar os fatos e os atos contábeis, diferenciando-os e compreendendo sua aplicação no cenário administrativo e contábil das entidades. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 100 Introdução Nas unidades anteriores, vimos diversas modificações na situação patrimonial da empresa através de aumentos ou diminuições nas contas patrimoniais. Notamos que existem várias transações que podem ou não alterar a situação do patrimônio líquido da em- presa. A tais transações podemos chamar de fatos ou atos. Iniciaremos esta aula conceituando fatos e atos. Atos administrativos O que viriam a ser “fatos”? O que seria um “ato”? Para responder às perguntas, vamos recorrer ao Di- cionário Soares Amora da Língua Portuguesa que, em sua 7ª edição, diz que ato “é aquilo que se fez, ação, obra, feita...”. Ato representa uma ação, algo que se fez, um feito. Assim sendo, podemos afirmar que um ato representa uma ação. Os atos administrativos são ações relacionadas com as atividades das entidades, com ou sem fins lucrativos. Contudo, fatos são eventos que ocorrem na entidade e que provocam uma variação no patrimônio das empresas. São os atos de gerência da entidade, ou seja, são os atos praticados pelos administradores, como, por exem- plo, atos adotando providências ou promovendo ativi- dades com finalidades operacionais, fazendo os recursos circularem, para obtenção de um resultado. Podemos dividir e exemplificar as operações das en- tidades em função de suas características próprias, tais como: a) Funções técnicas: relacionadas ao controle da linha de produção; b) Funções financeiras: relativas ao gerenciamento de capitais, aos investimentos, às aplicações financei- ras, etc. c) Funções comerciais: relacionadas com compras, vendas, trocas de mercadorias; d) Funções administrativas: relativas ao planejamento, à previsão, organização, coordenação e controle ge- rencial; e) Funções de segurança patrimonial: envolvendo a guarda e a proteção de bens e pessoas; e f) Funções contábeis: exercidas por meio do registro das operações das entidades. Como exemplos podemos citar: • a contratação de um empregado; • a assinatura de contratos diversos junto a fornece- dores e clientes; • a contratação de seguros; • as fianças concedidas em favor de terceiros; • os avais de títulos, quando a entidade, por meio de seu titular ou de seus sócios, assina uma nota pro- missória como avalista de uma outra entidade que pretenda obter empréstimo junto a uma instituição financeira; • o envio de títulos para cobrança bancária; • o recebimento ou a entrega de bens a terceiros como garantia de dívidas; • as hipotecas de bens imóveis ou o penhor de bens móveis. Os exemplos acima são de atos administrativos que não provocam alterações no patrimônio de uma entidade. Como os atos administrativos não provocam modi- ficações no patrimônio das entidades,não precisam ser contabilizados. Fatos contábeis Os fatos contábeis ou eventos contábeis representam uma variação no patrimônio das entidades. São os fatos que ocorrem numa determinada entidade e provocam modificações em seu patrimônio líquido (ca- pital próprio), devendo, portanto, ser objeto de contabili- zação através do uso de contas patrimoniais ou de contas de resultado. Caro aluno, você entendeu o conceito de fatos contá- beis? Vamos falar um pouco mais sobre este assunto. Várias transações ocorrem durante um determinado período nas empresas. Repare que, ao longo de um mês, existem eventos que permutam valores do mesmo ativo (compra à vista de imóvel) ou eventos que modificam para mais ou para menos o valor do patrimônio líquido (au- mento de capital). A tais eventos, chamamos de eventos ou fatos contábeis. Exemplos de fatos contábeis: • Abertura de conta bancária com valores do caixa da empresa; • empréstimo bancário obtido; • aumento de capital devido ao aporte feito pelos só- cios em dinheiro; • pagamento de uma dívida; • compra de um bem à vista ou a prazo, etc. Resumo Como vimos, os elementos que constituem o patri- mônio de uma entidade sofrem variações freqüentes em AULA 20 • Fatos e atos contábeis 101 função, sobretudo, da atividade operacional cotidiana da entidade. Os atos administrativos ocorrem rotineiramente nas entidades, mas não provocam alterações em seu patrimô- nio. Eles representam ações que estão relacionadas com operações das empresas, com ou sem fins lucrativos. Por outro lado, os fatos contábeis são os eventos, em sua maioria de natureza econômica, que provocam altera- ções no patrimônio das entidades e que, por isso, devem ser registrados pela Contabilidade. Na próxima aula, vamos falar sobre as classificações dos fatos contábeis. Atividades 1. Conceitue e diferencie atos administrativos de fatos contábeis. 2. Os elementos que ocorrem no dia-a-dia das empresas e que não pro vocam modificações no patrimônio são denominados: a) atos administrativos b) fatos administrativos c) fatos permutativos d) fatos modificativos 3. Os sócios Pedro e José, da empre sa Xtal Ltda., assumi- ram um aval, por meio de um título, para a empresa Ztec Ltda., que, por sua vez, contraiu um empréstimo bancário. Essa operação representa para a empresa Ztec Ltda. um: a) fato administrativo b) ato administrativo que não precisa ser contabilizado c) ato administrativo que deverá ser contabilizado nas contas de compensação d) ato administrativo que deverá ser contabilizado utili- zando-se as contas de resultado 4. Os eventos que ocorrem de forma cotidiana nas em- presas e que provocam modificações patrimoniais são chamados: a) atos gerenciais b) fatos contábeis c) atos administrativos d) fatos administrativos que não devem ser contabiliza- dos 5. A aquisição de mercadorias para a formação de esto- ques representa: a) fato contábil b) fato administrativo c) ato administrativo d) nenhuma das respostas anteriores INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade V - Variações Patrimoniais AULA 21 Fatos Permutativos, Modificativos e Mistos Objetivos • Exemplificar fatos permutativos, modifi- cativos e mistos; • Descrever e conceituar os fatos permu- tativos, modificativos e mistos, diferen- ciando-os e compreendendo sua aplica- ção no cenário administrativo e contábil das entidades. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 104 Introdução Como vimos na aula passada, não devemos confundir atos e fatos administrativos e contábeis. Vimos que um ato representa uma ação, algo que se fez, um feito. Os atos administrativos são ações relacionadas com as atividades das entidades que não envolvem diretamente valores patrimoniais. Assim sendo, não influenciam no patrimônio, não provocam movimentações contábeis. Por outro lado, os fatos contábeis são fenômenos que influenciam na movimentação contábil, podendo ou não alterar o “estado” do patrimônio. Nesta aula iremos apresentar a classificação ou natureza dos fatos contábeis. Classificação ou natureza dos fatos contábeis Os fatos contábeis classificam-se em: a) fatos permutativos b) fatos modificativos c) fatos mistos Detalharemos todos a seguir: a) Fatos permutativos (também conhecidos como qualitativos ou compensativos) São aqueles que representam as trocas (permutas) entre diversos elementos do Ativo, do Passivo ou entre ambos simultaneamente, sem provocar variações no Patrimônio Líquido. Eles apenas promovem a permutação de elementos patrimoniais, isto é, envolvem somente contas de Ativo e Passivo. Exemplos: • A compra de um veículo à vista – Essa operação apenas troca um ativo (dinheiro) por outro ativo (veículo). O patrimônio líquido da entidade não sofre alterações em função da operação. • A aquisição de mercadorias a prazo – Provoca um aumento na conta do Ativo “Mercadorias” e, simultaneamente, na conta do Passivo Exigível “Fornecedores”. No entanto, o Patrimônio Líquido da entidade não se altera em função da ocorrência dessa transação. • A aplicação de recursos em aplicações financeiras – Ocorre uma simples transferência da conta do Ativo “Caixa” para a conta do Ativo “Aplicações Financeiras”. De maneira geral, são operações de natureza qualitativa, ou seja, provocam alterações na composição do Ativo ou do Passivo, mas não representam, nunca, aumentos ou diminuições nos totais do Ativo ou do Passivo. Ocorre somente a “migração” ou a transferência de recursos alocados nas contas patrimoniais. De forma resumida, podemos dizer que as seguintes situações ou fatos contábeis permutativos são possíveis: • Fatos permutativos entre elementos do Ativo – São os fatos que envolvem somente contas do Ativo. Os fatos mais comuns são os que representam as compras ou vendas à vista, as transferências de recursos entre as contas do Ativo Disponível para outras contas do Circulante ou do Realizável a Longo Prazo etc. Exemplo: • Recebimento de R$ 3.000,00, em dinheiro, referente a duplicata emitida para cliente. • Fatos permutativos entre elementos do Passivo – São os fatos que envolvem somente as contas do Passivo. Normalmente, representam as transferências de recursos entre as contas do Passivo Exigível a Longo Prazo e as contas do Passivo Circulante ou as retenções efetuadas sobre as folhas de pagamentos. Exemplo: • Transferência de uma dívida de curto prazo para uma dívida com vencimento de longo prazo. • Fatos permutativos entre elementos do Ativo e do Passivo acarretando aumento no Patrimônio – São os fatos que envolvem as contas do Ativo e do Passivo simultaneamente. Como exemplo mais comum podemos citar as operações de compras a prazo. Exemplo: • Provocando aumento no Patrimônio: por meio de compra de móveis e utensílios a prazo. • Provocando diminuição no Patrimônio: por meio de pagamento da dívida contraída pela compra a prazo de móveis e utensílios, em dinheiro. Concluindo: Os fatos permutativos são aqueles que não provocam alterações no valor do Patrimônio Líquido (PL) ou Situação Líquida (SL), mas podem modificar a composição das contas patrimoniais. AULA 21 • Fatos Permutativos, Modificativos e Mistos 105 b) Fatos Modificativos São os fatos que provocam alterações para mais ou para menos no Patrimônio, através da ocorrência de Receitas e Despesas. Ou seja, são aqueles que provocam alterações no valor do Patrimônio Líquido (PL) ou Situação Líquida (SL), podendo ser aumentativos (quando promovem acréscimos no valor do patrimônio líquido) ou diminutivos (quando promovem reduções no valor do patrimônio líquido). Os fatos de natureza modificativa subdividem-seem: • Modificativos diminutivos do Patrimônio e/ou PL – Quando provocam reduções no valor do patrimônio líquido. Exemplo: O pagamento de uma despesa, em dinheiro, no valor de R$ 1.000,00. • Modificativos aumentativos do Patrimônio e/ ou PL – São os fatos que envolvem uma conta patrimonial e uma ou mais contas de receita. Exemplo: Recebimento de R$ 800,00 referentes a receitas de aluguel de imóvel. c) Fatos Mistos ou Compostos São os fatos que combinam fatos permutativos com fatos modificativos, podendo desta forma, ser aumentativos (quando combinam fatos permutativos com fatos modificativos aumentativos) ou diminutivos (quando combinam fatos permutativos com fatos modificativos diminutivos). Fatos mistos aumentativos – Os exemplos mais comuns são os fatos que representam o recebimento de duplicatas com cobrança de juros, as vendas de bens patrimoniais com obtenção de lucro, o pagamento ou a renegociação de obrigações com obtenção de desconto comercial, etc. Observe o exemplo seguinte: Transações – venda de estoque à vista: R$ 100.000,00 Valor do estoque vendido (valor de produção ou compra): R$ 40.000,00 Lucro obtido: R$ 60.000,00 Balanço Patrimonial da empresa Pacioli em 31/12/2003 Situação atual Ativo Passivo Caixa 20.000,00 Fornecedores 40.000,00 Contas a Receber 10.000,00 Financiamento 50.000,00 Estoque 80.000,00 Capital Social 30.000,00 Ativo Permanente 10.000,00 Total 120.000,00 Total 120.000,00 Balanço Patrimonial da empresa Pacioli em 31/12/2004 Situação após as transações Ativo Passivo Caixa 20.000,00 Fornecedores 40.000,00 Contas a Receber 10.000,00 Financiamento 50.000,00 Estoque 80.000,00 Capital Social 30.000,00 Ativo Permanente 10.000,00 Lucro 60.000,00 Total 120.000,00 Total 120.000,00 Veja que o ativo teve um acréscimo de R$ 100.000,00 (caixa) ou troca de ativos (estoque) mas que houve aumen- to no patrimônio da empresa mediante obtenção de lucro R$ 60.000,00 na operação. Fatos mistos diminutivos – São fatos que envolvem duas ou mais contas patrimoniais e uma ou mais contas de despesas. Os exemplos mais comuns são os fatos que represen- tam os recebimentos de direitos com concessão de des- contos, as vendas de bens com obtenção de prejuízo e o pagamento ou renovação de dívidas e de obrigações com pagamento de juros, dentre outros. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 106 O exemplo apresentado no tópico sobre fatos mistos aumentativos se aplica também aos fatos mistos diminutivos, bastando que a operação de venda apresente prejuízo. Resumo Os fatos contábeis são eventos que provocam alterações na composição do patrimônio das entidades. Podem ser classificados em três grupos: a. fatos permutativos b. fatos modificativos c. fatos mistos Os fatos contábeis permutativos são aqueles que apenas promovem a permuta de elementos componentes do ativo, e/ou do passivo, sem, entretanto, interferir na situação líquida do patrimônio da entidade. Os fatos contábeis modificativos provocam efeitos sobre a situação líquida (patrimônio líquido) de uma entidade, podendo ser aumentativos ou diminutivos, conforme aumentem ou diminuam a situação líquida dessa entidade. Os fatos contábeis mistos ou compostos são aqueles que combinam, ao mesmo tempo, um fato permutativo e um fato modificativo relacionados com a mesma operação ou transação. Também podem ser aumentativos ou diminutivos, conforme aumentem ou diminuam a situação líquida de uma determinada entidade. Atividades 1. Conceitue e diferencie: fatos contábeis permutativos, modificativos e mistos. 2. Os fatos contábeis classificam-se, quanto às contas que movimentam, em: a) normais e extraordinários b) modificativos, permutativos e mistos c) aumentativos e diminutivos d) lucros e prejuízos 3. Representa um fato contábil misto diminutivo: a) atualização do valor de um débito em decorrência de variação cambial b) renovação de uma dívida com acréscimo de juros e correção monetária c) venda de um bem de uso pelo seu valor líquido contábil d) pagamento de uma obrigação com obtenção de desconto 4. Indique a operação que constitui alteração patrimonial modificativa aumentativa: a) pagamento de nota promissória b) pagamento de fornecimento de água e luz c) compra à vista de mercadorias d) recebimento de juros e descontos 5. O recebimento de uma receita de prestação de serviços dá origem a um fato contábil: a) modificativo diminutivo b) misto diminutivo c) modificativo aumentativo d) misto aumentativo 6. A venda de uma máquina por R$ 10.000,00, adquirida por R$ 15.000,00, constitui um fato contábil: a) modificativo aumentativo b) misto diminutivo c) misto aumentativo d) modificativo diminutivo INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade VI - Escrituração Contábil AULA 22 Considerações gerais sobre os grupos do Ativo e do Passivo Objetivos • Diferenciar as contas classificadas como Circulante das de Longo Prazo; • Ordenar as contas patrimoniais e de resultado nas demonstrações contábeis. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 108 Introdução Esta unidade abordará todos os elementos necessários para a escrituração contábil dos fatos contábeis. Vimos que existem dois grandes grupos de contas: patrimoniais (Balanço Patrimonial) e de resultado (Demonstração do Resultado do Exercício). Verificamos que o grupo das contas patrimoniais é composto pelas contas do Ativo, contas do Passivo e contas do Patrimônio Líquido. O grupo das contas de resultado é composto por contas de receitas e contas de despesas. Nesta aula aprofundaremos os conceitos dos grupamentos das contas patrimoniais com a finalidade de prepararmos você para as próximas aulas desta unidade, nas quais trataremos de escrituração contábil, ou registro contábil, e dos eventos que ocorrem em uma empresa. As contas patrimoniais Relembrando, as contas patrimoniais são compostas por contas do Ativo, do Passivo e do PL. O Ativo compreende os bens e os direitos da empresa expressos em moeda. Representa os investimentos, as aplicações, a destinação dos recursos da empresa para a consecução de suas operações. O Passivo compreende basicamente as obrigações a pagar, ou seja, os valores que a empresa deve a terceiros por suas transações. O Patrimônio Líquido é representado pela diferença entre o valor do Ativo e do Passivo da empresa, em um determinado momento. São os recursos investidos ou disponibilizados pelos sócios ou quotistas da empresa. Tanto o Passivo quanto o Patrimônio Líquido são contas que, normalmente, representam as origens dos recursos ou investimentos efetuados pela empresa. A seguir podemos visualizar um modelo de estrutura básica de um balanço patrimonial para melhor compreensão de seus grupamentos, segundo a Lei 6.404/76, ou Lei das S/A. Para uma melhor compreensão, faz-se necessária a abordagem de alguns conceitos quanto à ordenação e à classificação das contas no balanço patrimonial. Balanço Patrimonial ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE - disponível - clientes - créditos diversos - aplicações financeiras - estoques - adiantamentos - despesas antecipadas - empréstimos e financiamentos - debêntures - fornecedores - impostos a pagar ou recolher - salários e contribuições previdenciárias - obrigações diversas - dividendos/lucros e participações - outras provisões ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE - realizável a LP - investimentos - imobilizado - intangível - passivo exigível a LP PATRIMÔNIO LÍQUIDO - capital social - reservas de capital - ajustes de Avaliação Patrimonial - reservas de lucros - (-) ações em tesouraria - lucro do Exercícioou Prejuízos Acumulados Conceito de Circulante e Longo Prazo De forma geral, são classificáveis no longo prazo, tanto do grupo do Ativo quanto do Passivo, as mesmas contas classificáveis nos itens circulantes. A diferença fundamen- tal refere-se à realização, para os itens do Ativo, ou à exigi- bilidade, para os itens do Passivo, certa ou provável, após o término do exercício social seguinte, ou seja, um ano após o levantamento do próprio balanço. Por conseguinte, classificaremos no circulante os valo- res que serão realizados e/ou exigíveis dentro do próximo ano a partir da data do balanço. Assim, para os itens do grupamento do Ativo estarão classificados no circulante os bens que serão vendidos dentro do próximo exercício e os valores que têm vencimento e serão recebidos também dentro dos próximos 365 dias. Para os itens do grupamen- to do Passivo, classificaremos como circulante as dívidas da empresa que têm vencimento e serão pagas dentro do próximo ano após a data do balanço. AULA 22 • Considerações gerais sobre os grupos do Ativo e do Passivo 109 Para um melhor entendimento, vejamos o exemplo abaixo: A empresa encerrou o seu balanço patrimonial em 31/12/2004. Então, observando os conceitos acima abordados, a empresa deverá classificar como Ativo Circulante em 31/12/2004 todas as operações cujo recebimento acontecerá no período de 01/01/2005 a 31/12/2005 e no Ativo Realizável a Longo Prazo aquelas cujo recebimento se dará a partir de 01/01/2006. No Passivo, o tratamento é idêntico, ou seja, a empresa deverá classificar no Passivo Circulante as dívidas que vencem no período de 01/01/2005 a 31/12/2005, e no Exigível a Longo Prazo aquelas que forem exigíveis a partir de 01/01/2006. Esquematizando, num gráfico, teremos: Circulante Longo prazo data do balanço 365 dias depois mais de 365 dias (31/12/2004) (31/12/2005) (a partir de 01/01/2006) Ordem de classificação dos itens do Ativo e do Passivo Os itens do Ativo devem estar dispostos em ordem decrescente de grau de liquidez ou realização no balanço. Devemos entender como liquidez e realização a possibilidade de transformar um Ativo mais rapidamente em dinheiro ou moeda corrente. Desta forma, os Ativos que têm maior grau de liquidez devem ser apresentados em primeiro lugar. Esse é o motivo por que as contas do grupo das Disponibilidades, Caixa e Bancos aparecem em primeiro lugar dentro do Ativo Circulante. Assim, o Ativo Circulante é apresentado antes do Não Circulante. Logo a seguir às Disponibilidades vêm os valores a receber, estoque e assim sucessivamente. Quanto aos elementos do Passivo, normalmente observa-se a segmentação em subgrupos, como Empréstimos e Financiamentos, Fornecedores, e Obrigações Fiscais, Obrigações Societárias, etc. Devemos observar, contudo, o critério de classificação em função da exigibilidade desta obrigação para definirmos como de curto (circulante) ou longo prazo. Conceito de Ativo Permanente Como vimos, o Ativo Circulante e o Não Circulante são formados por elementos patrimoniais da mesma natureza, distinguindo-se, a princípio, pelo vencimento ou data de realização. Assim, os itens do Ativo Circulante têm um grau de liquidez maior que os itens do Ativo Não Circulante. Contudo, em ambos os grupamentos, seus elementos serão, a priori, realizados. Já o Ativo Imobilizado é formado por bens e direitos que foram adquiridos pela empresa em caráter de permanência, ou seja, adquiridos sem a intenção de revenda ou transformação em dinheiro. Exemplos: veículos, móveis e equipamentos, etc. O termo Ativo Imobilizado está relacionado exatamente à inexistência de intenção da empresa em converter em dinheiro esses bens ou direitos. Isto não significa que a empresa nunca possa dispor dos itens classificados nestes grupamentos, mas, mesmo que o faça, esta comercialização não terá sido a razão da aquisição dos bens. Como exemplo, vejamos a seguinte situação: uma empresa revendedora de veículos adquire um automóvel com a intenção de utilizá-lo na sua área operacional. Sabemos que a empresa adquiriu um bem e, desta forma, deverá classificá-lo como um Ativo. Deveremos classificá-lo como Ativo circulante ou não circulante? Em qual subconta? Para respondermos a estas perguntas e classificarmos corretamente este fato contábil reportaremos ao que abordamos no parágrafo anterior, ou seja, devemos nos perguntar: Qual foi a intenção da empresa ao adquirir este automóvel? Foi de comercialização ou imobilização? Como o automóvel foi adquirido para ser utilizado pela área operacional da empresa, verificamos que não existe a intenção de comercialização, ou seja, o bem não foi adquirido para revenda. Desta forma, devemos classificá- lo como elemento do Ativo Imobilizado da empresa. Contudo, quando a empresa vender esse automóvel, ele passará a fazer parte dos elementos do Ativo circulante ou de outros grupos do Ativo não circulante, dependendo do prazo de transformação desse bem em dinheiro. Como já estudamos, os elementos classificados no grupamento do Ativo não circulante subdividem-se em Realizável a Longo Prazo, Investimentos, Imobilizado e Intangível. Conceito de resultado de exercícios futuros Este grupamento de contas, que era encontrado do lado direito do Balanço Patrimonial, possuía natureza de saldo credor. A Lei 6.404/76 regulamentava, em seu art. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 110 181, que “serão classificadas como resultados de exercícios futuros as receitas de exercícios futuros, diminuídas dos custos e despesas a elas correspondentes”. Na prática, os tipos de receitas e custos de exercícios futuros já eram raros, sendo mais facilmente encontrados nas empresas de construção e de incorporação imobiliária, em função da legislação do imposto de renda, que determina, em alguns casos, a forma de contabilização de determinadas transações. Este é um assunto um pouco mais complexo e será abordado em uma disciplina posterior no seu curso. A partir da Lei 11.638/07 e da Lei 11.941/09 desaparece o grupo “resultado de exercício futuro”, devendo os saldos dessa conta serem transferidos para o grupo “passivo não circulante”. As receitas e despesas correspondentes a essa conta deverão ser lançadas na conta Adiantamento a Clientes, que representa uma obrigação a Longo Prazo da empresa. Resumo Nesta aula, aprofundamos o seu conhecimento sobre como estruturar ou classificar os fatos contábeis referentes às contas patrimoniais. Revisamos que as contas patrimoniais são compostas pelos grupamentos do: Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido. Verificamos que a ordenação das contas patrimoniais do Balanço Patrimonial segue alguns critérios. Abordamos novamente a separação entre circulante e não circulante. Vimos que os elementos do Ativo são ordenados por ordem de liquidez e os do Passivo por ordem de exigibilidade. Revimos os grupamentos de contas do Ativo não circulante e do Resultado de Exercícios, ressaltando que a última não é mais utilizada. Atividades 1. O que são contas patrimoniais? 2. Por que existe o grupamento das contas Circulante tanto no Ativo quanto no Passivo? 3. O que se entende por direitos realizáveis? E obrigações exigíveis? 4. Qual a diferença entre as contas circulantes e as não circulante? 5. O que define a classificação de um fato contábil como item do Ativo Imobilizado? Justifique. 6. Por que a planificação contábil é importante para a classificação dos fatos contábeis? INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade VI - Escrituração Contábil AULA 23 Método das Partidas Dobradas Objetivos • Descrever os métodos de escrituração contábil. • Identificar a equação patrimonial básica da contabilidade. • Conceituar causas e efeitos, no método daspartidas dobradas. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 112 Introdução A Contabilidade está preocupada em evidenciar para seus usuários os fatos administrativos das empresas. Para tal, utilizam-se registros contábeis ou escrituração contábil. As modificações no patrimônio são relatadas nos diversos demonstrativos contábeis, já estudados: balanço patrimonial, demonstração de resultados e outros demonstrativos. Nesta unidade veremos como as empresas demonstram suas relações com o meio externo e interno por meio dos registros contábeis. Veremos os principais livros contábeis exigidos por lei: o livro diário e o livro- razão. Método de escrituração Em Contabilidade, método é a forma que a empresa utiliza para fazer o registro dos fatos contábeis ou escrituração contábil. Este deverá ser único para todas as empresas, independentemente de sua atividade ou de seu porte, ou seja, a metodologia para se registrarem as movimentações das contas contábeis deve ser adotada por todas as empresas, para efeito de padronização. Mas qual é esse método? Num passado muito remoto, para registrar os fatos contábeis que afetavam o patrimônio das empresas, a Contabilidade utilizava-se do método das partidas simples. A sua existência, segundo estudiosos, foi antes do conhecimento ou da criação da figura do patrimônio líquido, ou do conceito de despesa e receita como elementos patrimoniais. Nesse método, quando se fazia a venda de uma mercadoria, lançava-se o registro apenas na conta Caixa (partida única e simples), não se fazendo a contrapartida em Receita. A partir da criação da figura do Patrimônio Líquido na Contabilidade, o método utilizado modificou-se para o método das partidas dobradas. Atualmente este método é o utilizado universalmente pelas empresas, pois permite a atualização permanente dos saldos das contas contábeis. Com base nessa metodologia de registros dos fatos contábeis é que podemos elaborar as demonstrações contábeis. Método das Partidas Dobradas Este método é denominado de partidas dobradas porque o mesmo valor do fato contábil é lançado em duas contas, no mínimo, através dos débitos e créditos. A finalidade de se lançar em dois lugares é manter o equilíbrio patrimonial em situação de igualdade, ou seja, o total das contas do Ativo deve ser, obrigatoriamente, igual ao total das contas do Passivo e do Patrimônio Líquido. Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido, ou Patrimônio Líquido = Ativo – Passivo Tal procedimento de escriturar baseia-se no princípio de que a todo crédito sempre corresponde um débito de igual valor e a todo débito sempre corresponde um crédito de igual valor. Desta forma, observamos a repetição de um mesmo valor, ou seja, o valor do débito igual ao valor do crédito e vice-versa, e por esta razão o método recebeu a denominação de partidas dobradas. Contudo, isso não representa a duplicação de um valor, mas a manutenção da equação patrimonial básica da contabilidade, a balança dos débitos e créditos que devem se igualar. Podemos concluir que o método das partidas dobradas resume-se nas seguintes frases: A todo débito corresponde, pelo menos, um crédito de igual valor, ou a todo crédito corresponde, pelo menos, um débito de igual valor. Podemos representar o conceito de débito e crédito utilizando também a representação gráfica da conta em forma de razonete. Título da conta Lado do débito Lado do crédito A representação acima é utilizada para todas as contas patrimoniais e de resultado (Demonstração do Resultado do Exercício). Exemplificando com dois fatos administrativos: 1) Vamos considerar que uma empresa inicie suas atividades com a integralização do capital social, em dinheiro, no valor de R$ 100.000,00. O registro deste fato apresenta uma origem e uma aplicação de recursos, um débito e um crédito, respectivamente. As contas envolvidas serão: débito na conta caixa do grupamento do Ativo e Crédito na conta capital social, do grupamento do Patrimônio AULA 23 • Método das Partidas Dobradas 113 Líquido, ambos no valor de R$ 100.000,00, ou seja, a condição básica da contabilidade está satisfeita: o total das contas do Ativo se iguala ao total das contas do Passivo e do Patrimônio Líquido: Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido, ou Caixa = Capital Social 100.000,00 = 100.000,00 2) No segundo fato administrativo, essa mesma empresa aumenta o seu capital, agora com Terreno = R$ 30.000,00 e Edificações = R$ 40.000,00. O Terreno e as Edificações representam um bem e, desta forma, devem ser registrados no Ativo da empresa, a débito e no total de R$ 70.000,00. A contrapartida deverá ser um crédito de $ 70.000,00, que, neste caso, corresponderá ao registro na conta Capital Social desse valor. A equação patrimonial inicial estava assim: Bens + Direitos = Obrigações 100.000,00 = 100.000,00 Com o novo fato, temos mais R$ 70.000,00 no lado esquerdo e mais $ 70.000,00 no lado direito da “balança”. 100.000,00 + 30.000,00 + 40.000,00 = 170.000,00 Caixa + Terreno + Edificação = Capital Social Podemos observar, nos exemplos acima, que o método das partidas dobradas preserva igualdade – uma equação matemática, efetivamente, não representa um registro em dobro, mas um registro em, pelo menos, uma conta a débito e outra a crédito. Verificamos que esse método tem a preocupação de mostrar o fenômeno patrimonial, ou variação patrimonial, em sua origem e em seu destino, por convenção representado por contas que possuem classificação de natureza credora (contas do Passivo e do Patrimônio Líquido) e devedora (contas do Ativo), respectivamente. Outro conceito envolvido no método das partidas dobradas é a relação causa e efeito dos fatos administrativos de uma empresa. Vejamos: Valor do Débito = Valor do Crédito Valor do Crédito = Valor do Débito Logo: Valor do Efeito = Valor da Causa Valor da Causa = Valor do Efeito Pelo exemplo, a relação causa e efeito exposta acima ficaria assim: No primeiro fato contábil a causa é a constituição da empresa pelos sócios (e que se registra com a denominação de crédito) e o efeito, o dinheiro em caixa que passamos a possuir (e que se registra com a denominação de débito). No segundo fato contábil a situação é similar, ou seja, a causa é evidenciada pelo registro do aumento do capital pelos sócios e o efeito, o terreno e a edificação advindos desse acréscimo de capital. Por esta abordagem podemos observar que, no método das partidas dobradas, realmente não se trata de dois eventos distintos, mas de um só fato, evidenciado em sua dupla forma de observar, ou seja: a CAUSA e o EFEITO, ou a ORIGEM e a APLICAÇÃO/DESTINO e, complementando, o CRÉDITO e o DÉBITO. Concluímos, assim, que é em razão disto também que no balanço aparecem, duplamente, em valores iguais, ativo e passivo. O Ativo, representado pelos bens e direitos da empresa, evidencia as aplicações ou EFEITOS do uso do capital, e por isso suas contas são de débito ou de natureza devedora. O Passivo, representado pelas obrigações, evidencia as ORIGENS do capital conseguido de terceiros que foram investidos no Ativo. Suas contas possuem natureza credora. O Patrimônio Líquido representa uma origem específica, que é a de capital próprio, compreendendo o valor investido pelos proprietários ou acionistas da empresa, assim como por frutos desse recurso, a saber: lucros do exercício, reservas, etc. O Passivo de Obrigações, somado com o Patrimônio Líquido, representa o total das causas ou origens de capitais e, por isso, as suas contas são de crédito. Na prática, encontramos a denominação genérica de Passivo para denominar todas as origens, ou seja, o somatório do Passivo de Obrigações mais oPatrimônio Líquido. Desta forma, podemos concluir que o débito representa os investimentos, nos quais a empresa aplica o recurso obtido, e o crédito representa a origem do financiamento, próprio e de terceiros, do capital, o efeito e a causa, respectivamente. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 114 Vamos ver se você entendeu o conceito de débito e crédito para as contas patrimoniais e de resultado: Grupo de contas Débito Crédito Ativo Aumenta Diminui Passivo Diminui Aumenta Patrimônio Líquido Diminui Aumenta Receitas Diminui Aumenta Despesas Aumenta Diminui • Quando temos um acréscimo nas contas do Ativo, na conta de Resultado (Despesas), temos um débito e vice-versa. • Quando temos um aumento nas contas do Passivo, do Patrimônio Líquido ou na conta de Resultado (Receitas), temos um crédito e vice-versa. Fórmulas de registros do método das Partidas Dobradas A evidenciação dos fatos administrativos de uma empresa, utilizando-se o método das partidas dobradas, pode ser apresentada de quatro formas diferentes, ou fórmulas de registros contábeis, que representam variações da relação débito/crédito oriundas da complexidade das transações comerciais. Tais critérios podem ser feitos tanto em escritas manuais como mecanizadas ou informatizadas. • A primeira fórmula, a mais tradicional, representa que cada fato tem uma conta devedora e uma conta credora. Exemplo: compra de um imóvel à vista no valor de: R$10.000,00 Débito na conta Caixa: R$10.000,00 Crédito na conta Imóvel: R$ 10.000,00 Caixa Imóvel 10.000,00 10.000,00 • Na segunda fórmula os fatos possuem, para eviden- ciá-los, uma conta devedora e mais de uma conta credora. Exemplo: compra de estoque no valor de R$15.000,00, sendo 50% à vista e o restante a prazo Débito na conta Estoque: R$15.000,00 Crédito na conta Caixa: R$ 7.500,00 Crédito na conta Fornecedores (Passivo): R$7.500,00. • Na terceira fórmula, os fatos possuem, para eviden- ciá-los, uma conta credora e mais de uma conta de- vedora. Exemplo: compra de veículo no valor de $ 10.000,00 e imóvel no valor de R$ 15.000,00 a prazo. Débito na conta Veículo: R$10.000,00 Crédito em Contas a Pagar: R$ 7.500,00 • Na quarta fórmula, os fatos possuem diversas contas credoras e diversas contas devedoras. Exemplo: venda à vista de mercadoria no valor de – R$ 50.000,00, cujo valor de compra (custo) foi de R$ 20.000,00. Não consideramos os impostos a título de simplificação. Débito na conta Caixa: R$ 50.000,00 Débito na conta CMV: R$ 20.000,00 Crédito na conta Receita: R$ 50.000,00 Crédito na conta Estoque: R$ 20.000,00 (baixa da mercadoria) Outra forma de registrarmos os eventos contábeis é antepormos antes dos lançamentos a crédito a letra “a”. Caixa 7.500,00 Estoque 15.000,00 Caixa 7.500,00 Veículo 10.000,00 Imóvel 15.000,00 Contas a pagar 25.000,00 Estoque (mercadoria) 20.000,00 Custo de Mercadoria Vendida (CVM) 25.000,00 Caixa 50.000,00 Receita de venda 50.000,00 AULA 23 • Método das Partidas Dobradas 115 Exemplo: Evento contábil: compra de um veículo por R$ 15.000,00 Lançamento 1: Veículos 15.000,00 a Caixa 15.000,00 Outro exemplo: Evento contábil: compra de um imóvel no valor de R$ 40.000,00 sendo R$ 30.000,00 à vista e o restante a prazo Lançamento 2: Imóvel 40.000,00 a Caixa 30.000,00 a Contas a Pagar 10.000,00 Não existe obrigatoriedade quanto à opção de lança- mento contábil em suas diversas fórmulas. Na prática, o que observamos é que, ao utilizar um sistema informatiza- do, muitas vezes ficamos limitados a essa variância de op- ções de registros. Contudo, se o sistema informatizado que a empresa utilizar permitir, basta que tenhamos o cuidado de parametrizar corretamente os registros a efetuar. Resumo Nesta nossa primeira aula da Unidade 06, pudemos observar que todo o conteúdo anteriormente estudado é de suma importância para que a contabilidade possa atingir um de seus objetivos: o de informar as modificações ocorridas no patrimônio da empresa. Estudamos o método das partidas dobradas, que é a forma como a contabilidade registra os fatos administrativos da empresa. Revisamos o conceito de origem e aplicação de recursos, bem como dos elementos patrimoniais. Utilizamos os conceitos de contas e razonetes para que os registros das transações sejam evidenciados. Atividades 1. Qual o significado do método de partida simples? 2. Qual o significado do método das partidas dobradas? 3. Qual é a lógica do método das partidas dobradas? 4. Quais contas representam destinação de recursos? 5. Quais contas representam origem de recursos? 6. Contabilmente, o que significa os termos causa e efeito das variações patrimoniais? 7. Elabore um pequeno texto justificando a utilização do método das partidas dobradas como ferramenta informacional da Contabilidade. 8. Elabore exemplos considerando as quatro formas de registro das partidas dobradas. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade VI - Escrituração Contábil AULA 24 Livros Contábeis e Fiscais Objetivos • Descrever a importância do registro con- tábil nos livros fiscais e contábeis. • Contextualizar os sistemas de escritura- ção contábil. • Conceituar, detalhadamente, o livro diá- rio e o livro-razão. • Identificar alguns livros auxiliares e fis- cais. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 118 Introdução A escrituração contábil é a forma que as empresas têm de relatar os seus fatos administrativos, demonstrando a evolução de seu patrimônio. Podemos dizer que uma empresa que não possui contabilidade é uma empresa sem memória, sem as mínimas condições de planejar ou acompanhar seu crescimento. Como já vimos, é por meio da escrituração contábil que as empresas elaboram os seus demonstrativos contábeis. Outro fator importante diz respeito ao aspecto legal da escrituração contábil, ou seja, diversas são as situações que a empresa poderá enfrentar ao longo de sua existência, e a escrituração contábil será um fator determinante para a solução destes casos. Como exemplos dessas situações, podemos citar os processos de concordata e de falência, as perícias judiciais, as dissidências societárias e a fiscalização dos órgãos oficiais. Na prática, a denominação da escrita que abrange todos os acontecimentos ocorridos no patrimônio da empresa é conhecida como escrita comercial, geral ou oficial. A escrituração contábil utiliza-se do método das partidas dobradas para sua execução, e tais registros são demonstrados nos livros contábeis. Assim, torna-se possível também a elaboração dos demonstrativos contábeis. De acordo com a legislação vigente, são livros contábeis obrigatórios o livro diário e o livro-razão. Existem também os livros auxiliares ou livros fiscais, que controlam itens relatados no livro diário, sendo alguns destes obrigatórios. Exemplificando, temos: livro-caixa, de inventário, de entrada de mercadorias, de saída de mercadorias e o livro de registro de prestação de serviços, que estudaremos detalhadamente nesta aula. Formalidades dos livros A forma de controle encontrada pela Contabilidade prevê o registro de todos os fatos administrativos nas respectivas contas representativas do patrimônio. Para fazer a escrituração contábil dos fatos administrativos da empresa (usando o método das partidas dobradas) podemos utilizar os sistemas manuscrito, mecanizado e informatizado. A decisão de usar um sistema ou outro dependerá do porte, do ramo de atividade da legislação pertinente à empresa, ou seja, levará em consideração a estrutura da empresa, a quantidade de lançamentos e elementos patrimoniais a serem controlados. Para decidir qual sistema utilizar, os gestores da empresadevem conjugar as questões de rapidez e custo da informação contábil. Na prática, atualmente, o sistema mais utilizado é o informatizado ou computacional, uma vez que encontramos no mercado diversos pacotes de software a preços acessíveis a qualquer tipo de empresa. Conforme já foi mencionado, o processo de escrituração contábil por partidas dobradas exige a elaboração de, no mínimo, dois livros contábeis principais básicos: o livro diário e o livro-razão. Os fatos administrativos escriturados no livro diário também devem estar escriturados no livro- razão, assim como, quando necessário ou obrigatório, em outros livros, como os auxiliares e fiscais. Com o advento da informática, muitos processos e rotinas da Contabilidade foram sistematizados, e na escrituração dos registros dos fatos administrativos isso se torna evidente. Atualmente, os registros são efetuados de forma integrada, ou seja, de uma só vez, otimizando assim o processo de gestão da empresa. A maioria dos softwares de gestão oferecida pelo mercado possibilita que, ao se digitar um acontecimento, este seja distribuído e sistematizado, escrito em todos os livros obrigatórios e nos auxiliares, com as peculiaridades pertinentes, realizando tudo de uma só vez. Assim, ao registrar uma compra, já se fazem os registros nos livro diário, no livro-razão, no livro de entradas de mercadorias, no controle financeiro, na conta do fornecedor, etc. Livro Diário O diário é o principal livro contábil requerido por todas as empresas. Como tal, apresenta exigências formais peculiares, como os termos de abertura e encerramento, rubrica em todas as páginas, encadernação e registro na junta comercial ou no cartório em que estiverem arquivados os atos constitutivos da empresa. O livro diário pode ser escriturado de forma manuscrita, mecanizada ou informatizada. Outra formalidade quanto aos registros dos fatos administrativos no diário é que este deve ser escriturado obedecendo ao Código Comercial e às Normas Brasileiras de Contabilidade, devendo: • ser escriturado em idioma e moeda corrente nacionais; • não conter rasuras ou emendas; AULA 24 • Livros Contábeis e Fiscais 119 • obedecer à ordem cronológica dos fatos, podendo ser escriturados de forma resumida ou sintética, diária ou mensal, os registros evidenciados em livros auxiliares ou fiscais; • basear-se em documentos que dêem suporte e que comprovem as operações registradas; Além, disso: • o livro diário manuscrito deve, antes do início da utilização, ter lavrado Termo de Abertura e Termo de Encerramento, que serão assinados por um profissional habilitado e pelo dirigente da empresa, devendo ser registrado na junta comercial ou no cartório em que estiverem arquivados os atos constitutivos; • o livro diário escriturado por processo mecanizado ou informatizado, após sua utilização, deve conter, na primeira e na última folhas, os respectivos Termos de Abertura e de Encerramento, devidamente assinados por um profissional habilitado e pelo dirigente da empresa, devendo ser encadernado e registrado na junta comercial ou no cartório em que estiverem arquivados os atos constitutivos. Mas o que deve ser registrado em um livro diário? Resumidamente, o livro diário deve registrar: • data da transação ou data em que ela está sendo registrada no livro diário; • nome das contas que estão sendo debitadas e creditadas; • valor dos débitos e créditos em cada conta; • histórico da transação, descrito de forma resumida. Observe o exemplo a seguir: 1. Em 01/12/2004, os Srs. Marcos Elísios e Jorge Duarte formaram uma sociedade, a Elidu Ltda., com capital inicial de R$ 40.000,00, cada qual participando com R$ 20.000,00; o valor total foi depositado em conta corrente do Banco Max. 2. Em 06/12/2004, a empresa comprou mercadorias a prazo, no valor de R$ 15.000,00 junto ao fornecedor Pague Menos Ltda., conforme Nota Fiscal nº. 1546. Empresa Elidu Ltda. – CNPJ 00.999.999/0001-99 LIVRO DIÁRIO Nº. 0001 Página: 002 Data Histórico Débito Crédito 01/12/2004 Bancos – conta movi- mento Capital Social Valor integralização de 40.000 cotas do capital social pelos Srs. Marcos Elísios e Jorge Duarte, sendo 20.000 de cada um, conforme recibo nº. 17854 do Banco Max, documento nº. 001. 40.000,00 40.000,00 06/12/2004 Mercadorias Fornecedores Aquisição de mercado- rias junto à Pague Menos Ltda., Nota Fiscal nº. 1546, com vencimento em 06/01/2005, docu- mento nº. 002. 15.000,00 15.000,00 Observação: O modelo acima apresentado não é obrigatório, ou seja, encontramos outros modelos de apresentação do livro diário. Contudo, em sua essência, o livro deve conter, no mínimo, as informações aqui, mostradas. Livro-razão A escrituração do livro-razão também pode ser feita por processo manuscrito, mecânico ou informatizado, e não deve conter rasuras, entrelinhas ou qualquer indício que ponha em dúvida os registros. O livro-razão possui os termos de abertura e encerramento e seu objetivo maior é sistematizar as contas patrimoniais e de resultado que compõem o patrimônio da empresa. Após a escrituração, deve ser encadernado, sendo dispensados a autenticação e o registro na junta comercial ou no cartório. No livro-razão devem ser registradas: no débito, a referência da conta credora correspondente, e no crédito, a referência à conta devedora igualmente correspondente. Também se evidenciam os saldos de cada conta, ou seja, ajustam-se os mesmos a cada lançamento feito. Adicionalmente, tais registros, na prática, complementam- se com datas e outras indicações que facilitam a localização de elementos comprobatórios. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 120 Buscando os mesmos dados do exemplo do tópico anterior, vejamos como as transações são registradas no livro-razão: Elidu Ltda. Folha: 01 Conta Bancos – conta movimento Data Histórico Débito Crédito Saldo D / C 01/12/2004 Valor integralização de 40.000 cotas do capital social pelos Srs. Marcos Elísios e Jorge Duarte, sendo 20.000 de cada um, conforme recibo nº. 17854 do Banco Max, documento nº. 001. 40.000,00 40.000,00 D Elidu Ltda. Conta Capital Social Data Histórico Débito Crédito Saldo 01/12/2004 Valor integralização de 40.000 cotas do capital social pelos Srs. Marcos Elísios e Jorge Duarte, sendo 20.000 de cada um, conforme recibo nº. 17854 do Banco Max, documento nº. 001. 40.000,00 40.000,00 Elidu Ltda. Conta Mercadorias Data Histórico Débito Crédito Saldo 06/12/2004 Aquisição de mercadorias junto à Pague Menos Ltda., Nota Fiscal nº. 1546, com vencimento em 06/01/2005, documento nº. 002. 15.000,00 15.000,00 AULA 24 • Livros Contábeis e Fiscais 121 Elidu Ltda. Folha: 01 Conta Forncedores Data Histórico Débito Crédito Saldo D / C 06/12/2004 Aquisição de mercadorias junto à Pague Menos Ltda., Nota Fiscal nº. 1546, com vencimento em 06/01/2005, documento nº. 002. 15.000,00 15.000,00 C Como podemos verificar pelos modelos de diário e razão acima, o livro diário segue uma ordem cronológica, dia a dia ou mês a mês, e o livro-razão segue uma ordem sistemática, ou seja, conta a conta, embora seguindo tam- bém, em cada registro a ordem cronológica. Livros Fiscais Os livros fiscais, a princípio, são elaborados para aten- der a formalidades inerentes à fiscalização dos órgãos das esferas do governo federal, estadual e municipal. Para se- rem considerados como auxiliares da escrituração contá- bil, devem ser registrados no órgão público competente. Podemos citar como exemplos de livros auxiliares ou fis- cais: • Livro Caixa – Tem a finalidade de registrar as entra- das e saídas de numerário(entendido como dinhei- ro em espécie e movimentação bancária). Os re- gistros devem ser efetuados em ordem cronológica, por isso; pode este livro ser utilizado como auxiliar do livro diário, devendo, nesse caso, atender a to- das as formalidades exigidas. • Livro de Inventário – Tem como objetivo registrar os bens de consumo, as mercadorias, as matérias- -primas e outros materiais que se achem estocados nas datas em que forem levantados os balanços da empresa. • Livro de Entrada de Mercadorias – Destina-se ao registro, em ordem cronológica, das mercadorias adquiridas e recebidas pelas empresas. Devemos também registrar as entradas de bens de qualquer espécie, inclusive os que se destinam a uso ou consumo. • Livro de Saída de Mercadorias – Registram-se, em ordem cronológica, as vendas de mercadorias ou de produtos, bem como toda e qualquer saída, inclusive de bens móveis da empresa. Observe que aqui não está incluída a prestação de serviços, pois esta possui um livro próprio. • Livro de Registro de Prestação de Serviços – Para as empresas prestadoras de serviços este livro é obrigatório perante o fisco municipal, podendo ser utilizado como auxiliar do diário, pois nele registram- se todas as operações de serviços, individualizando as respectivas notas fiscais em ordem cronológica. Retificações de lançamentos Quando ocorre algum erro nos lançamentos contá- beis, tais como borrões, rasuras, espaços em branco, etc., os mesmos devem ser retificados. Exemplo de retificação: • Estorno – lançamento indevido: em vez de ser lan- çada a entrada de R$ 10.000,00 na conta Caixa, advindos de receita de vendas, foi digitado o valor de R$ 1.000,00. a) Lançamento incorreto: D – Caixa 1.000,00 C – Receita de vendas 1.000,00 b) Lançamento de estorno: D – Receita de vendas 1.000,00 C – Caixa 1.000,00 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 122 c) Lançamento correto: D – Caixa 10.000,00 C – Receita de vendas 10.000,00 Resumo Nesta aula, estudamos os livros contábeis obrigatórios pela nossa legislação, bem como os livros auxiliares e fiscais. Verificamos que as mesmas informações contidas na escrituração do livro diário devem estar contidas no livro-razão. Estudamos que para a contabilidade de uma empresa ser considerada regular é de suma importância o registro dos fatos administrativos, bem como o registro do livro diário no órgão competente. Podem ocorrer erros na escrituração contábil. Neste caso, os mesmos devem ser retificados por meio de lançamentos ao inverso. Desta forma, mais uma vez, observamos que a Contabilidade segue uma série de normas e requisitos, e é fundamental estarmos atentos às modificações que ocorrem no patrimônio da empresa. Atividades 1. Quais os sistemas utilizados para se fazer a contabilidade de uma empresa? 2. Quais os métodos utilizados para se fazer a escrituração contábil? 3. O que significa escrita comercial? 4. Qual a importância da planificação contábil para o registro dos fatos administrativos? 5. Quais os elementos essenciais do livro diário? 6. Quais as diferenças e similaridades entre o livro diário e o livro-razão? INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade VI - Escrituração Contábil AULA 25 Lançamentos contábeis Objetivos • Consolidar o estudo sobre o registro dos fatos administrativos na Contabilidade. • Descrever as etapas do registro contá- bil. • Identificar a importância do plano de contas na escrituração contábil. • Citar os elementos essenciais para o re- gistro dos fatos administrativos na Con- tabilidade. • Identificar diferenças entre regime de caixa e regime de competência. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 124 Introdução Na aula passada estudamos os livros contábeis obrigatórios, o livro diário e o livro-razão, em seus aspectos conceituais e formais, além dos livros fiscais ou auxiliares, como o livro-caixa, o inventário, etc. Verificamos que, com o advento da informática, os processos, a escrituração e os relatórios contábeis ganharam agilidade e exatidão na informação contábil, propiciando um maior controle e planejamento da empresa. Mas é sempre bom lembrar o quanto é importante adotar uma planificação, pois ela será um dos pilares para a consecução da escrita contábil. Nesta aula estudaremos alguns lançamentos ou registros contábeis mais comuns, com o objetivo de consolidarmos o aprendizado das unidades anteriores desta disciplina, bem como nos preparar para a elaboração de nossa primeira peça contábil, o balancete, que será o fechamento desta unidade. Etapas para um registro contábil Escrituração contábil é um sistema técnico que registra os fenômenos patrimoniais da empresa, por isso abrange todo um conjunto de procedimentos, dentre os quais, vistos como básicos, acham-se os seguintes: • identificação; • classificação; • registro; • demonstração e • estrutura de fluxos dos fatos administrativos acontecidos na empresa, ou seja, as modificações ocorridas no seu patrimônio. Identificação dos fatos patrimoniais Para que possamos fazer a escrituração de um fato administrativo ocorrido na empresa é necessário, primeiramente, que identifiquemos o fato de forma completa, ou seja, o reconhecimento do que aconteceu para que a situação patrimonial da empresa tenha se modificado. Contudo, para efetuarmos a escrituração contábil, é necessário que os registros tenham embasamento legal sustentado por documentos hábeis, como, por exemplo, notas fiscais, e que atendam a requisitos exigidos pelo fisco. Outro aspecto que deve ser levado em conta é a relação da operação com as especificidades da atividade da empresa, que pode requerer registros adicionais ou complementares. A guarda dos comprovantes dos registros contábeis é de fundamental importância para resguardar a empresa quando de eventuais fiscalizações. Alguns destes documentos devem ser guardados por até 35 anos, como, por exemplo, os documentos relativos à previdência social. A identificação de um fato contábil que possa ser registrado na contabilidade começa, pois, com a observação de sua essência, ou seja, verificando se este acarretará modificação do patrimônio, bem como suas finalidades e justificativas. Os fatos administrativos, respaldados pelos docu- mentos comprobatórios, são classificados nas contas pertinentes e contabilizados, utilizando-se carimbo, etiqueta para leitura óptica, registro manual ou outros meios que evidenciem o seu efetivo registro na contabilidade da empresa. Classificação contábil e Plano de Contas Na Unidade 3 estudamos as contas, seus grupamentos, objetivos, funções e forma de estrutura. A classificação contábil é a atribuição da conta, em concordância com a natureza do fato ocorrido, ou seja, a identificação do fato com o objeto específico da conta existente no plano de contas. Identificado, comprovado por meio de documentação hábil e reconhecido como legítimo o acontecimento que afetará o patrimônio da empresa, podemos efetuar a escrita contábil. Para tal, o primeiro passo é buscarmos as contas pertinentes que melhor evidenciem o fato e classificar o evento contábil. Conforme estudamos, plano de contas é um conjunto de elementos que guia a escrituração contábil, representando também o ponto de partida para uma escrita contábil feita com qualidade técnica. Registro dos fatos patrimoniais: Livro Diário e Livro-razão Relembrando, uma vez identificado e classificado um fato patrimonial, passa-se ao registro do mesmo. Obrigatoriamente, as empresas devem elaborar os livros contábeis diário e razão. Verificamos, na aula anterior, que os fatos escriturados no livro diário devem estar no livro-razão, assim como, quando necessário ou obrigatório, emoutros livros. AULA 25 • Lançamentos contábeis 125 Enquanto o diário segue uma ordem cronológica de registro, ou seja, os registros são ordenados por data (dia a dia ou mês a mês), o razão segue uma ordem sistemática (conta a conta), embora seguindo, também, em cada registro, a ordem cronológica. Método e elementos de registro das operações contábeis As operações que afetam o patrimônio das empresas devem ser registradas em forma mercantil, adotando-se o método das partidas dobradas. Este método pode ser resumido nas seguintes frases: A todo débito corresponde, pelo menos, um crédito de igual valor ou a todo crédito corresponde, pelo menos, um débito de igual valor. Os fatos administrativos que afetam o patrimônio são registrados por meio de partidas ou lançamentos, que é a forma como se apresentam contabilmente. A partida ou lançamento deve conter, no mínimo, os seguintes elementos: a) Data do registro – Preferencialmente, a data do registro deve coincidir com a data da operação. Entretanto, caso o registro ocorra em data posterior, é recomendável fazer constar do histórico a data da operação. b) Elemento devedor – Refere-se à conta e respectiva subconta a ser debitada. Caso a empresa possua elenco de contas codificado, a nomenclatura poderá se substituída por código. c) Elemento credor – Corresponde à conta e respectiva subconta a ser creditada, cuja nomenclatura pode ser substituída por código, caso o elenco seja codificado. d) Histórico – Diz respeito à descrição resumida do fato ocorrido. O bom histórico é aquele que responde às seguintes indagações: A quem foi pago? O que foi pago? Como foi pago? e) Valor – Refere-se ao valor da operação que afetou o patrimônio, qualitativa ou quantitativamente. Exemplos de classificação de fatos simples em suas contas A título de ilustração e partindo de coisas muito simples, o quadro a seguir ilustra o registro de alguns fatos comuns de uma casa comercial de tamanho médio: Fatos Patrimoniais Conta Devedora Conta Credora Operações com a conta “ CAIXA” Integralização de Capital em espécie CAIXA CAPITAL A REALIZAR Suprimento de Caixa CAIXA BANCOS CONTA MOVIMENTO Recebimento de Venda à Vista CAIXA RECEITA DE VENDAS Recebimento de Duplicatas oriundas de vendas a prazo CAIXA DUPLICATAS A RECEBER Pagamento de mercadorias compradas à vista MERCADORIAS CAIXA Pagamento de duplicata oriunda de compra a prazo DUPLICATAS A PAGAR CAIXA Pagamento de juros de mora, multa DESPESAS FINANCEIRAS - Juros, multa CAIXA Pagamento de adiantamento de salários, despesas, etc. ADIANTAMENTO A EMPREGADOS CAIXA Pagamento à vista da compra de bens para uso permanente IMOBILIZADO - Móveis e Utensílios CAIXA Pagamento de encargos sociais do mês anterior OBRIGAÇÕES SOCIAS - INSS a Recolher CAIXA Pagamento de despesas à vista DESPESAS ADMINISTRATIVAS - Subconta CAIXA INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 126 Operações bancárias Crédito referente a empréstimo BANCOS CONTA MOVIMENTO EMPRÉSTIMOS Crédito referente a cobrança de duplicatas BANCOS CONTA MOVIMENTO DUPLICATAS A RECEBER Débito referente a juros DESPESAS FINANCEIRAS - Juros BANCOS CONTA MOVIMENTO Débito referente a taxas bancárias DESPESAS FINANCEIRAS Despesas bancárias BANCOS CONTA MOVIMENTO Crédito referente a juros sobre duplicatas BANCOS CONTA MOVIMENTO RECEITAS FINANCEIRAS Juros Débito referente a aplicação financeira APLICAÇÕES FINANCEIRAS BANCOS CONTA MOVIMENTO Crédito referente a aplicação financeira BANCOS CONTA MOVIMENTO APLICAÇÕES FINANCEIRAS Crédito referente a rendimento de aplicações BANCOS CONTA MOVIMENTO RECEITAS FINANCEIRAS Rendimentos Operações com “Mercadorias” Compra de mercadorias a prazo, para revenda MERCADORIAS FORNECEDORES Venda de mercadorias a prazo DUPLICATAS A RECEBER RECEITA DE VENDAS Operações de provisionamento Provisionamento para incobráveis PERDAS DIVERSAS PROVISÃO PARA DEVEDORES DUVIDOSOS Provisionamento de encargos sociais DESPESAS ADMINISTRATIVAS Contribuição para o INSS OBRIGAÇÕES SOCIAIS INSS a recolher Provisionamento de salários, férias, etc DESPESAS ADMINISTRATIVAS Salários OBRIGAÇÕES TRABALHISTAS Salários a pagar Provisionamento do desgaste dos bens DESPESAS ADMINISTRATIVAS Depreciação DEPRECIAÇÃO ACUMULADA Operações com a conta “Capital” Subscrição de capital CAPITAL A REALIZAR CAPITAL SOCIAL Incorporação de Reservas ao Capital RESERVAS DE LUCROS CAPITAL SOCIAL Vale a pena ressaltar que os exemplos acima citados não esgotam as formas de registros contábeis. As contas apresentadas normalmente oferecem subcontas que receberão os lançamentos contábeis. Não foram apresentados valores ou históricos, uma vez que o objetivo foi identificar o fato contábil e detectar as contas contábeis que estão envolvidas. Você entendeu o que foi dito aqui sobre a identificação do fato contábil? A seguir, relatamos outros fatos administrativos apresentamos sua classificação: Dados da Empresa Max S/A, prestadora de serviços, em dezembro de 2004: AULA 25 • Lançamentos contábeis 127 Data Fatos Patrimoniais Valores R$ : 1) 01/12 Constituição da empresa pelos sócios, conforme depósito bancário; 60.000,00 2) 09/12 Compra de um veículo à vista, conforme cheque 001; 18.000,00 3) 13/12 Compra de móveis de escritório à vista, conforme cheque 002; 13.500,00 4) 16/12 Retirada para constituição do fundo fixo de caixa, conforme cheque 003; 500,00 5) 17/12 Prestação de serviços de consultoria, com recebimento de 30% em dinheiro e o restante em 45 dias; 3.000,00 6) 20/12 Compra de material de escritório para consumo imediato, com pagamento em 30 dias; 800,00 7) 20/12 Pagamento de aluguel da sala por meio de débito automático; 770,00 8) 23/12 Pagamento dos salários do mês aos funcionários, conforme cheque 004; 3.200,00 9) 29/12 Aplicação financeira através de Certificado de Depósito Bancário, com vencimento em 28/04/02; 21.000,00 A empresa Max S/A deverá evidenciar esses fatos administrativos nos livros contábeis obrigatórios, ou seja, no livro diário e no livro-razão, obedecendo a todos os requisitos legais para sua elaboração. Contudo, para fins didáticos, utilizaremos o razão simplificado ou conta T. Este mecanismo ou técnica é uma simplificação do livro-razão, na qual utilizamos o nome da conta contábil Contas de Ativo Caixa (4) 500,00 (5) 900,00 1.400,00 Bancos (1) 60.000,00 3.030,00 18.000,00 (2) 13.500,00 (3) 500,00 (4) 770,00 (7) 3.200,00 (8) 21.000,00 (9) (5) 2.100,00 - pertinente ao fato administrativo, uma coluna para os lançamentos a débito e uma coluna para os lançamentos a crédito. Ao final de um determinado período, apura-se o saldo da conta pela diferença entre os lançamentos a débito e a crédito. Vejamos: (9) 21.000,00 21.000,00 Móveis (3) 13.500,00 13.500,00 Veículos (2) 18.000,00 18.000,00 Contas a receber Aplicação Financeira INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 128 Regime de caixa e de competência O significado de regime para a contabilidade restrin- ge-se ao registro, efetuado por esta, das receitas e despe- sas ocorridas, de acordo com uma das formas a seguir: • No momento do pagamento (regime de caixa); • Pelo fato gerador do ato administrativo (regime de competência). Regime de competência: estabelece que as receitas e despesas devem ser registradas no momento em que ocorreram, independentemente de terem sido recebidas ou pagas. Regime de caixa: estabelece que as despesas e re- ceitas devem ser registradas somente no momento em que efetivamente houver o pagamento ou recebimento dos recursos. É obrigatório pelo fisco que as empresas registrem os fatoscontábeis pelo regime de competência. Este regime é um dos princípios contábeis que veremos na próxima unidade. Já o regime de caixa pode ser considerado como um instrumento de gestão financeira das empresas, um regis- tro de entradas e saídas de recursos. É mais utilizado por entidades filantrópicas e condomínios, que não almejam lucro. Neste regime, o que importa é a entrada e a saída de recursos, não o resultado. Exemplo: No dia 05/04/2005 foi feita uma venda de mercadoria por R$ 10.000,00, sendo 50% à vista e o res- tante em 60 dias após a realização da respectiva venda. No mesmo dia, a empresa pagou uma despesa com via- gem no valor de R$ 2.000,00. No final do mês 04/2005, teríamos: Duplicatas a pagar 800,00 (6) 800,00 Contas de Passivo e Patrimônio Líquido Capital a realizar (1b) 60.000,00 60.000,00 (1) - Despesas Administrativas - Aluguéis (7) 770,00 770,00 Receita de Prestação de Serviços 3.000,00 (5) 3.000,00 Contas de Resultado Despesas Administrativas - Salários (8) 3.200,00 3.200,00 (6) 800,00 800,00 Despesas Administrativas - Material de Escritório AULA 25 • Lançamentos contábeis 129 Contas Competência Caixa Receita 10.000,00 5.000,00 (-) Despesa 2.000,00 2.000,00 Resultado (lucro/prejuízo) 8.000,00 3.000,00 Resumo Em nossa aula retomamos a abordagem do método das partidas dobradas e o conceito de conta como maneira de se fazer a escrituração contábil das empresas. Vimos que os fatos administrativos que modificam o patrimônio da empresa podem ser registrados no livro diário e no livro-razão simplificado ou conta T. É importante ressaltar que a escrituração contábil deve atender ao regime de competência para fins fiscais, sendo fundamental para a elaboração das demonstrações contábeis, pois está de acordo com os princípios contábeis que veremos na próxima unidade desta disciplina. Atividades 1. Qual o conceito de escrituração contábil? 2. O que é um plano de contas e qual a sua importância? 3. Qual é a equação básica da Contabilidade? Qual a sua relação com o método das partidas dobradas? 4. Quais os elementos que devem estar presentes para a elaboração de um bom plano de contas? 5. Qual a importância da separação dos grupos de contas para a classificação contábil? 6. Quais elementos são fundamentais para a evidenciação do lançamento contábil? 7. Imagine três fatos administrativos e efetue seu registro no livro diário e no livro-razão. 8. A empresa Pacioli Ltda. apresentou os seguintes fatos administrativos para o mês de janeiro/2005: • constituição da empresa pelos sócios: R$ 100.000,00 (depósito bancário); • compra de estoque à vista: R$ 20.000,00; • pagamento da despesa com vendas: R$ 5.000,00; • recebimento de serviços prestados: R$ 2.000,00; • compra de veículo a prazo (60 dias): R$ 15.000,00; • compra de um imóvel a prazo: R$ 40.000,00; Pede-se que sejam registrados os fatos administrativos acima, na formatação do razão simplificado (T), em contas do Ativo, do Passivo, do Patrimônio Líquido e Contas de Resultado. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade VI - Escrituração Contábil AULA 26 Contabilidade por Balanços Sucessivos Objetivos • Descrever e conceituar Contabilidade por balanços sucessivos, compreendendo sua aplicação no cenário administrativo e contábil das entidades. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 132 Introdução Dando seqüência aos nossos estudos, vamos abordar um tema de significativa relevância para a compreensão da chamada Teoria Contábil. Registramos os fatos administrativos que modificam ou não o patrimônio da empresa ao longo do tempo. Podemos até levantar as demonstrações contábeis para cada evento ocorrido, pois entendemos que o balanço patrimonial representa a posição estática do patrimônio. Vamos discutir nesta aula uma nova metodologia, a de balanços sucessivos, para entendermos melhor a elaboração das demonstrações contábeis. Balanços Sucessivos Trata-se de uma metodologia criada pela Escola Contábil Americana, com fins didáticos, usada para efetuar os registros contábeis, ou seja, um método para efetuar os lançamentos contábeis num determinado período. Balanço sucessivo é um método que consiste em atualizar o balanço da entidade a cada fato contábil novo, registrando-o logo após sua ocorrência. O referido método serve como importante “ferramenta” para execução da técnica contábil e tem como base fundamental uma visão conjunta das demonstrações contábeis originadas por essas peças financeiras. Devemos lembrar que a contabilidade evoluiu historicamente, partindo da contagem física dos bens (inventário) que expressavam a riqueza da entidade em distintos momentos. Até a análise da variação dessa riqueza. Somente após algum tempo foram elaboradas formas de registrar apropriadamente os fatos contábeis ocorridos nas entidades. Devemos lembrar também que a elaboração do balanço patrimonial representa o inventário de todos os bens, direitos e obrigações de uma entidade numa data determinada. Ao realizarmos o inventário, ou a apuração do balanço do patrimônio, de uma empresa no início do exercício social de 2004 e, posteriormente, levantarmos um Balanço ao final do exercício de 2004, poderíamos observar a variação da riqueza desta entidade no exercício de 2004. Como já vimos, a demonstração dos resultados do exercício (DRE) serve para demonstrar, de forma sintética, como se processou a referida variação na riqueza das entidades. Houve lucro ou prejuízo? Assim sendo, a contabilidade por balanços sucessivos constitui uma forma de demonstrar como os fatos ocorridos numa entidade determinaram a variação ocorrida na riqueza dessa entidade em um período específico. Exemplo Tomemos como exemplo a empresa Comercial Legal Ltda., na qual o Contador, Sr. Silva, realiza o registro contábil do primeiro fato ocorrido na empresa: a sua constituição. O fato ocorrido é a constituição da empresa, efetivada pela realização de depósito bancário, no valor de R$ 10.000,00, feito pelos seus dois sócios no Banco Bom S.A. em 15/01/2004. Como já vimos, o investimento inicial realizado pelos sócios é denominado capital social e representa uma origem de recursos para a empresa obtidos junto aos sócios. Sabemos que uma origem de recurso deve ser lançada como Passivo (exigível) ou Patrimônio Líquido (não exigível) e, por outro lado, que toda aplicação de recursos, em geral, deve ser registrada como Ativo (representando bens e direitos da empresa). Desta forma, temos que lançar o depósito inicial realizado pelos sócios como um Passivo Não Exigível (conta de Patrimônio Líquido: Capital Social), por se tratar de uma origem de recursos e obrigação da empresa para com seus sócios, embora não seja exigível, já que a empresa não tem a responsabilidade de pagar-lhes pela realização desse investimento. A contrapartida do depósito em conta bancária que classificamos como Capital Social pode ser efetuada por meio de um lançamento em uma conta de Ativo denominada Bancos – Conta Movimento (representa a movimentação bancária da empresa), por se tratar de uma aplicação de recursos e um direito que a empresa adquire junto à instituição bancária. No balanço patrimonial, teríamos: Balanço patrimonial em 15/01/2004 Comercial Legal Ltda. ATIVO (BENS + DIREITOS) PASSIVO + PL Circulante Bancos 10.000,00 Patrimônio Líquido Capital Social 10.000,00 Total 10.000,00 Total 10.000,00 AULA 26 • Contabilidade por Balanços Sucessivos 133 Nesse ponto, temos um aumento no PL (que inicialmente era zero) e um aumento no Ativo (quetambém era zero, inicialmente). Em 20/01/2004, a empresa adquiriu um galpão para se estabelecer, pagando à vista (em cheque do Banco Bom S.A.) o valor de R$ 5.000,00. Após o evento e seguindo a metodologia de balanços sucessivos, teríamos agora a seguinte situação: Balanço patrimonial em 20/01/2004 Comercial Legal Ltda. ATIVO (BENS + DIREITOS) PASSIVO + PL Circulante Bancos 5.000,00 não circulante Imobilizado Imóveis 5.000,00 Patrimônio Líquido Capital Social 10.000,00 Total 10.000,00 Total 10.000,00 Veja que, como o imóvel foi adquirido à vista e o dinheiro “saiu” de Bancos, o seu saldo, obviamente, passou a R$ 5.000,00. Trata-se de um fato permutativo, pois transfere recursos de uma conta do Ativo, Bancos, para uma outra conta do Ativo, Imóveis, não representando uma variação na riqueza da empresa, visto que o passivo não sofreu alterações em função da ocorrência desse fato. O próximo evento ocorrido na empresa foi a compra, em 21/01/2004, de móveis e utensílios que serão usados nas operações da empresa, realizada a prazo, para pagamento em 60 dias, sem a cobrança de juros, por meio de emissão de uma nota promissória (NP) no valor de R$ 2.000,00. Agora teríamos: Note que agora tivemos uma nova origem de recursos, representada pela obtenção de uma “obrigação” junto a terceiros, usada em uma aplicação efetivada pela aquisição de móveis e utensílios (bens do ativo). Aplicação Prática Balanço patrimonial em 21/01/2004 Comercial Legal Ltda. ATIVO (BENS + DIREITOS) PASSIVO + PL Circulante Bancos 5.000,00 não circulante Imobilizado Imóveis 5.000,00 Móveis e utensílios 2.000,00 Circulante Títulos a Pagar 2.000,00 Patrimônio Líquido Capital Social 10.000,00 Total 12.000,00 Total 12.000,00 Vimos que a contabilidade por balanços sucessivos é bastante simples, pois a cada evento ocorrido na empresa temos a sua demonstração em um novo balanço atualizado, permitindo a imediata verificação de correção do registro contábil efetuado. Essa metodologia permite também observar se o “equilíbrio” patrimonial está preservado pela manutenção da igualdade entre o total do ativo e o total do passivo (mais PL). No entanto, na prática, a realização de balanços sucessivos torna-se impraticável em casos de empresas que realizem um volume elevado de operações a cada período, pois sabemos que existem empresas que efetuam milhares de operações em único dia (por exemplo: supermercados e comércio atacadista). Essa realidade inviabiliza a manutenção da metodologia de se apurar um balanço a cada evento ou operação realizada numa empresa. Assim sendo, embora a contabilidade por balanços sucessivos seja uma forma válida para se conhecer a dinâmica contábil provocada pelos eventos ocorridos numa empresa, não é utilizada na prática, por ser demasiadamente exaustiva e representar custos significativos para a sua efetivação no cotidiano dessa empresa. A constatação das dificuldades oriundas da realização de balanços sucessivos levou ao surgimento de outras técnicas mais eficientes para o tratamento de eventos ocorridos numa empresa, tais como: controle individualizado por contas (em que se registram os aumentos e as diminuições ocorridas numa determinada conta); razonetes (representação gráfica das movimentações INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 134 ocorridas numa conta); mecanismos de débito e crédito; métodos das partidas dobradas, etc. Essas técnicas serão abordadas com maior profundidade em aulas futuras. Resumo Vimos, nesta aula, um método mais didático para entendermos os registros das variações do patrimônio da entidade: os balanços sucessivos. Na prática, a utilização desse método não é muito pertinente devido à necessi- dade que as empresas têm de ter o controle dos eventos ocorridos em determinado período. Temos, a partir de agora, mais subsídios para entender melhor as próximas disciplinas do seu curso. Atividades 1. Qual a origem do método contabilidade por balanços sucessivos? 2. Cite vantagens da utilização desse método. 3. Cite desvantagens da utilização desse método. 4. Elabore um balanço sucessivo para cada data, considerando os eventos contábeis a seguir: Data Fato contábil 01/01/2005 Constituição da empresa Alga Ltda.: R$ 100.000,00 02/01/2005 Compra de veículo à vista: R$ 15.000,00 15/01/2005 Compra de imóvel a prazo: R$ 20.000,00 20/01/2005 Obtenção de empréstimo, banco BJ: R$ 5.000,00 25/01/2005 Compra de estoque a prazo: R$ 6.000,00 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade VI - Escrituração Contábil AULA 27 Balancete de Verificação Objetivo • Elaborar um Balancete de Verificação. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 136 Introdução Vimos que o método das partidas dobradas determina que para cada débito haja um crédito de igual valor. Assim, a qualquer instante, o somatório dos débitos das contas do Ativo e das Despesas e Custos deverá ser igual ao somatório dos saldos credores das contas do Passivo, Patrimônio Líquido e Receitas. Nesta aula verificaremos a igualdade “total dos débitos igual ao total dos créditos” por meio de um relatório chamado balancete de verificação. Balancete de Verificação Quando afirmamos anteriormente que o total dos débitos das contas contábeis tem de ser igual ao total dos créditos, queríamos também dizer que o total das origens de recursos tem seu destino de igual valor (aplicação de recursos). Em outras palavras, após a escrituração contábil, vista na Uniadde anterior, é necessário que seja feita uma checagem dos lançamentos contábeis. É feita uma listagem das contas do razão com os respectivos valores, independentemente do grupo a que pertençam: Passivo, Ativo ou Contas de Resultado. Os sistemas informatizados ou computacionais das empresas captam os dados contidos no livro-razão, obtendo os saldos de todas as contas, e organizam estes saldos num relatório chamado balancete. Se o método das partidas dobradas foi aplicado corretamente, o saldo total dos débitos será igual ao total dos créditos. O Balancete de Verificação não consegue sozinho assegurar que a escrituração baseada no método das partidas dobradas seja sempre aplicada corretamente. É necessário que sejam estabelecidos controles internos na empresa que serão capazes de apontar o erro ou até mesmo impedi-lo. Finalidade Considerando a lógica da escrituração contábil que para todo débito tem de ter um crédito de igual valor, se não tivermos mecanismos de controle no lançamento dos fatos administrativos, podemos elaborar demonstrações que não representam a realidade. O saldo do Passivo mais Patrimônio Líquido pode até ser igual ao total do Ativo, mas, se formos verificar se todas as contas representam verdadeiramente o fato administrativo ocorrido, por meio da checagem da documentação que fundamenta os registros contábeis, podemos nos deparar com distorções. Portanto, Balancete de Verificação destina-se a ajudar na elaboração dos demonstrativos contábeis, evidenciando a situação econômica e financeira da empresa, de maneira a colaborar, por meio dos relatórios emitidos, para o processo decisório gerencial por parte da administração. A seguir citaremos alguns erros que podem ocorrer mas que não afetam a relação: “total do Ativo é igual ao total do somatório do Passivo mais Patrimônio Líquido da empresa”. A titulo de simplificação, vamos considerar a empresa Ágata Ltda., que tem saldos em algumas contas, para que possamos demonstrar os lançamentos contábeis acima. Situação atual da empresa Ágata Ltda. Balanço Patrimonialda empresa Ágata Ltda. ATIVO PASSIVO CIRCULANTE Caixa 5.000,00 Banco 10.000,00 Contas a receber 40.000,00 Estoque 15.000,00 NÃO CIRCULANTE Imobilizado 60.000,00 TOTAL 130.000,00 CIRCULANTE Fornecedores 40.000,00 Contas a pagar 20.000,00 PATRIMÔNIO LÍQUIDO Capital social 70.000,00 TOTAL 130.000,00 Lançamento ocorrido: • Ativo contabilizado erroneamente: o valor do veículo adquirido a prazo por RR$ 10.000,00 foi lançado er- roneamente na conta do Estoque, conforme a seguir. Situação após os fatos contábeis acima da empresa Ágata Ltda. Balanço Patrimonial da empresa Ágata Ltda. ATIVO PASSIVO CIRCULANTE Caixa 5.000,00 Banco 10.000,00 Contas a receber 40.000,00 Estoque 25.000,00 (1) NÃO CIRCULANTE Imobilizado 60.000,00 TOTAL 140.000,00 CIRCULANTE Fornecedores 40.000,00 Contas a pagar (1) 30.000,00 PATRIMÔNIO LÍQUIDO Capital social 70.000,00 TOTAL 140.000,00 AULA 27 • Balancete de Verificação 137 O valor total do patrimônio aumentou em R$ 10.000,00. As contas Estoque e Veículos não representam a realidade. Os saldos corretos seriam: • Estoque = R$15.000,00 • Veículos = R$ 70.000,00 Outro lançamento contábil: • Pagamento via cheque bancário relativo à compra de mais estoque no valor R$ 2.000,00, sendo contabilizada erroneamente a saída de recursos na conta Caixa. Situação após o fato contábil acima da em- presa Ágata Ltda. Balanço Patrimonial da empresa Ágata Ltda. ATIVO PASSIVO CIRCULANTE Caixa (2) 3.000,00 Banco 10.000,00 Contas a receber 40.000,00 Estoque (2) 17.000,00 NÃO CIRCULANTE Imobilizado 60.000,00 TOTAL 130.000,00 CIRCULANTE Fornecedores 40.000,00 Contas a pagar 20.000,00 PATRIMÔNIO LÍQUIDO Capital social 70.000,00 TOTAL 130.000,00 Se um auditor contábil fosse fazer uma contagem física na conta Caixa, encontraria R$ 2.000,00 a mais. E, por fim, mais um exemplo: • Recebimento de vendas feitas (Contas a Receber) a prazo no valor de R$ 2.000,00, sendo registrada a entrada deste recurso na conta Estoque. Situação após os fatos contábeis acima da empresa Ágata Ltda. Balanço Patrimonial da empresa Ágata Ltda. ATIVO PASSIVO CIRCULANTE Caixa 5.000,00 Banco 10.000,00 Contas a receber (3) 38.000,00 Estoque (3) 17.000,00 NÃO CIRCULANTE Imobilizado 60.000,00 TOTAL 130.000,00 CIRCULANTE Fornecedores 40.000,00 Contas a pagar 20.000,00 PATRIMÔNIO LÍQUIDO Capital social 70.000,00 TOTAL 130.000,00 Note que novamente o saldo total do patrimônio da empresa não se alterou considerando o fato contábil ocorrido, mas Contas a Receber e Estoque apresentam valores errados. Formas de apresentação do balancete de verificação Antes de elaborarmos as demonstrações contábeis, organizamos as contas contábeis que afetam o patrimônio da empresa e conferimos os saldos credores com os saldos devedores, independentemente dos grupos a que pertençam. Existem duas formas de se fazer isso: • Forma analítica: reúne os saldos anteriores mais os movimentos do mês a ser contabilizado. Exemplo (em milhares de reais): Contas Saldos Anteriores Movimento/mês Saldo atual Débito Crédito Débito Crédito Débito Crédito Caixa 2.000 1.000 2.000 1.000 Banco 5.000 10.000 2.000 13.000 Contas a receber 15.000 10.000 5.000 20.000 Aplicação financeira 20.000 6.000 - 0 - 26.000 Receita/vendas 11.000 19.000 30.000 Capital social 80.000 - 0 - - 0 - 80.000 Estoque 15.000 10.000 5.000 20.000 Veículos 40.000 - 0 - - 0 - 40.000 Imóveis 16.000 4.000 - 0 - 20.000 Custo do produto vendido 3.000 4.000 7.000 Empréstimos obtidos - 0 - 10.000 10.000 Contas a pagar 25.000 - 0 - 2.000 27.000 TOTAL 116.000 116.000 45.000 45.000 147.000 147.000 • Forma sintética: reúne somente os saldos finais das contas credoras e devedoras. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 138 Exemplo (em milhares de reais): CONTAS SALDOS DEVEDORES SALDOS CREDORES Caixa 1.000 Banco 13.000 Contas a receber 20.000 Aplicação financeira 26.000 Receita/vendas 30.000 Capital social 80.000 Estoque 20.000 Veículos 40.000 Imóveis 20.000 Custo do produto vendido 7.000 Empréstimos obtidos 10.000 Contas a pagar 27.000 TOTAL 147.000 147.000 Resumo Caro aluno, vimos nesta aula mais uma ferramenta auxiliar importante para a elaboração correta das demonstrações contábeis de uma empresa: o Balancete de Verificação. Esta demonstração visa minimizar ou eliminar erros que poderão refletir nos relatórios contábeis, comprometendo o processo de análise destes por parte dos diversos usuários da informação contábil. Em outras palavras, podemos entender também que o Balancete de Verificação pode auxiliar na identificação da natureza do saldo de todas as contas patrimoniais ou de resultado (DRE). Atividades 1. Cite alguns exemplos de erros que podem ser detecta- dos ao fazermos o Balancete de Verificação. 2. Por que no Balancete de Verificação observamos que os saldos totais devedores são iguais aos saldos totais credores, considerando-se todas as contas patrimoniais e de resultado? 3. Levante o Balancete de Verificação para o mês de agos- to/2005 da empresa Pacioli, partindo dos saldos iniciais e das movimentações das contas a seguir: Balanço Patrimonial da empresa Pacioli em 31/07/2004 ATIVO PASSIVO CIRCULANTE Caixa 1.000,00 Banco 20.000,00 Contas a receber 14.000,00 Estoque 19.000,00 NÃO CIRCULANTE Imobilizado Veículo 16.000,00 TOTAL 70.000,00 CIRCULANTE Fornecedores 10.200,00 Emprétimos 14.000,00 Contas a pagar 5.000,00 Salários a pagar 2.000,00 Encargos sociais 800,00 PATRIMÔNIO LÍQUIDO Capital social 38.000,00 TOTAL 70.000,00 Fatos contábeis ocorridos no mês de agosto/2004 Data Fato contábil 03/08 Compra de estoque à vista: cheque de R$ 8.000,00 06/08 Aplicação financeira: R$ 6.000,00 10/08 Compra de veículo por R$ 40.000,00, sendo 40% à vista e o restante 60 dias depois 18/08 Obtenção de empréstimo junto ao banco TZE no valor de R$ 30.000,00 28/08 Pagamento a fornecedores: cheque de R$ 5.200,00 31/08 Pagamento dos funcionários: cheque de R$ 2.000,00 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade VI - Escrituração Contábil AULA 28 Apuração de Resultado Objetivos • Apurar o resultado do exercício da em- presa. • Entender a distribuição do lucro do exer- cício. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 140 Introdução Vimos que o exercício social tem uma duração de 365 dias e que em cada período as empresas devem apurar o resultado (lucro/prejuízo). O levantamento do resultado considera as contas de receitas, despesas e custos. Nesta aula vamos aprender como apurar o resultado da empresa por meio dos saldos das contas de resultado, utilizando uma conta sintetizadora chamada Apuração do Resultado do Exercício (ARE). É importante ressaltar que a Demonstração do Resul- tado do Exercício (DRE) nada mais é do que uma forma de apresentação detalhada da ARE. Apuraçãodo Resultado do Exercício Caro aluno, ao efetuarmos a escrituração contábil utili- zando o livro-razão ou os razonetes (T), podemos determinar o resultado do exercício confrontando os saldos das contas de Receita, Despesa e de Custos em uma conta ARE. Etapas a serem seguidas para se apurar o resultado: • Escriturar os fatos contábeis em razonetes; • identificar e separar as contas de Resultado; • transferir todas as contas de Receitas, Despesas e Custos para a conta ARE; • apurar o Imposto de Renda e retirá-lo da conta ARE para o Passivo (Imposto de Renda a pagar); • transferir o saldo da conta ARE para a conta do Pa- trimônio Líquido, Lucros Acumulados. Exemplo Utilizando o método de escrituração contábil razone- te, apresentaremos a seguir um exemplo para facilitar o seu entendimento. Não podemos esquecer que as recei- tas têm saldos credores e as despesas, saldos devedores. A empresa Pacioli Ltda., no final de um determinado pe- ríodo, obteve os saldos (em reais) das seguintes contas de Resultado e Patrimonial: (Si) – saldo inicial (Lair) – lucro antes do Imposto de Renda (Le) – lucro do exercício Vamos acompanhar as etapas do processo de apuração do resultado da empresa Pacioli Ltda., registradas em razonetes, acima apresentadas. 1) Encerramento da conta Despesa com Vendas. O saldo das contas de Despesa, como já vimos anteriormente, apresentam sempre saldo devedor. Para “zerarmos” esta conta, devemos fazer um lançamento de crédito na mesma e debitar a conta do ARE no valor total do respectivo saldo. 2) As contas de receitas apresentam sempre saldos credores. Para também zerarmos esta conta, devemos fazer um lançamento de débito na mesma e creditar a conta do ARE no valor total do respectivo saldo. 3) O encerramento das contas Despesa com Juros (3) e Custo da Mercadoria Vendida (4) deverá obedecer ao mesmo procedimento adotado com a conta Despesa com Vendas mencionada no item 1. Despesa com vendas (Si) 50.000,00 50.000,00 Receita com vendas (2) 180.000,00 180.000,00 (Si) Despesa com juros (Si) 10.000,00 (3) 10.000,00 CMV (Si) 40.000,00 40.000,00 (4) ARE (1) 50.000,00 (3) 10.000,00 (4) 40.000,00 (Si) 10.000,00 100.000,00 (2) 180.000,00 180.000,00 80.000,00 (Lair) AULA 28 • Apuração de Resultado 141 Até este momento, se quiséssemos apresentar um relatório da composição do resultado da empresa em determinado período, poderíamos fazê-lo através da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), vista na Unidade 4. Para efeito de exemplificação, apresentaremos uma DRE simplificada, contemplando os eventos contábeis acima. Desta forma, teríamos: Demonstração do resultado do exercício da empre- sa Pacioli findo em 31/07/2004 Receita de vendas 180.000,00 CMV (40.000,00) Lucro Bruto 140.000,00 (-) Despesas com vendas (50.000,00) (-) Despesas com juros (10.000,00) Lucro operacional 80.000,00 Lucro antes do Imposto de Renda (LAIR) 80.000,00 Como podemos verificar acima, a DRE está incompleta, pois sabemos que a mesma demonstra o lucro ou prejuízo na forma líquida. Vamos continuar então a escrituração das contas de resultado. Chegamos ao ARE até o lucro antes do Imposto de Renda, que também pode ser demonstrado pela DRE. Agora temos de calcular o Imposto de Renda (IR) e deduzi- lo do ARE, segundo a legislação do fisco. Considerando uma alíquota de 29% do IR a título de exemplo, teremos: LAIR 80.000,00 Alíquota (29%) 23.200,00 Levando em conta que o Imposto de Renda calculado ainda será pago, o mesmo deverá ser debitado do ARE e creditado na conta Imposto de Renda a Pagar, que é uma conta do Passivo Exigível, ou seja: Você entendeu por que a contrapartida credora do débito do Imposto de Renda é uma conta do passivo? Assim, a conta Imposto de Renda a Pagar é uma espécie de provisão, ou seja, uma expectativa de pagamento para o ano seguinte do imposto devido ao governo federal por parte da empresa. Este lançamento obedece ao regime de competência; o fato gerador deve ser contabilizado no momento em que ocorreu, independentemente de ter sido pago ou não. É importante ressaltar que o cálculo do Imposto de Renda não é tão simples como demonstramos acima. Depende do enquadramento fiscal ao qual a empresa esteja inserida para o cálculo do IR: SIMPLES, LUCRO REAL, ARBITRÁRIO ou PRESUMIDO. Estas formas de se calcular o imposto a recolher aos cofres públicos serão vistas mais adiante, na disciplina Contabilidade fiscal e tributária. Continuando a nossa DRE, teremos: Demonstração do resultado do exercício da empresa Pacioli findo em 31/12/2004 Receita de vendas 180.000,00 CMV (40.000,00) Lucro Bruto 140.000,00 (-) Despesas com vendas (50.000,00) (-) Despesas com juros (10.000,00) Lucro operacional 80.000,00 Lucro antes do Imposto de Renda (LAIR) 80.000,00 (-) IR/CSL (23.200,00) Lucro Líquido do Exercício 56.800,00 Sabemos que o lucro é a forma de remunerar o capital investido na empresa. Seja um acionista, quotista ou até mesmo uma pessoa autônoma, todos investem os seus recursos próprios almejando retorno sobre os mesmos, no caso, o lucro. Existindo lucro no exercício, este deve ser colocado à disposição dos quotistas ou da assembleia geral, pois não podem ser acumulados para o próximo exercício. As formas de distribuição do lucro podem ser através de distribuição de dividendos, pró-labore, honorários, etc. Depois de apurarmos o lucro do exercício da empresa Pacioli Ltda. em determinado período, temos de transportar o valor líquido do ARE para as reservas legais e estatutárias, outras reservas de acordo com o estatuto IR a pagar 23.200,00 ARE (IR) 23.200,00 80.000,00 (Lair) 56.800,00 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 142 da empresa e também para os proprietários. Utilizando novamente o razonete, teremos: Vamos considerar que a empresa Pacioli Ltda., após a escrituração contábil das contas patrimoniais e de resulta- do, tenha apresentado a seguinte situação patrimonial em 31/12/2004: Balanço Patrimonial da empresa Pacioli Ltda. findo EM 31/12/2004 ATIVO Circulante Caixa 10.000,00 Banco 40.000,00 Contas a receber 15.000,00 Estoque 25.000,00 Não Circulante Depósitos judiciais 1.600,00 Imobilizado 12.000,00 Total 103.600,00 PASSIVO Circulante Fornecedores 10.000,00 Contas a pagar 13.600,00 Dividendos a pagar 28.400,00 Imposto de Renda a pagar 23.200,00 PATRIMÔNIO LÍQUIDO Capital social 28.400,00 Total 103.600,00 É importante ressaltar que no exemplo acima, para fins didáticos, não demonstramos, por meio de razonetes, os saldos e as movimentações das contas patrimoniais. Resumo Vimos, nesta aula, como as contas de Resultado, Receitas, Custos e Despesas são confrontadas, objetivando obter lucro ou prejuízo em determinado período da empresa. Aprendemos também que somente depois que apurarmos o Resultado Líquido e transferirmos o seu saldo líquido para os proprietários, de acordo com a legislação fiscal vigente, e para as reservas. Atividades 1. Qual é a utilidade da conta ARE? 2. Considerando os eventos contábeis da empresa Pacioli para o mês de agosto/2004 apresentados a seguir, ela- bore: razonetes das contas patrimoniais e de resultado, ARE, DRE e Balanço Patrimonial, respectivamente. DATAS EVENTOS 01/08 Constituição da empresa por dois sócios (50% das cotas para cada um) no valor de R$ 100.000,00. Abertura de conta bancária. 10/08 Compra de estoqueà vista: R$ 18.000,00 (18.000 unid. a R$ 1,00 cada) 12/08 Compra de veículo: R$ 15.000,00 (20% à vista e o restante em 60 dias) 17/08 Compra de imóvel: R$ 80.000,00 (10% à vista e o restante em 36 vezes) 19/08 Aporte de capital social: R$ 60.000,00 20/08 Venda à vista de 9.000 unidades a R$ 2,00 cada 26/08 Pagamento de despesas com vendas: R$ 5.000,00 31/08 Obtenção de empréstimo bancário: R$ 20.000,00 (pgto. em 10 vezes) Dados adicionais: • alíquota do Imposto de Renda: 24% • o lucro do exercício será distribuído de acordo com a legislação (provisões da 6.404/78) – reservas obrigatórias. O restante deverá ser provisionado para distribuição aos proprietários. ARE (Lair) 56.800,00 56.800,00 -0--0- IR a pagar -0- (Si) 56.800,00 28.400,00 (saldo final)28.400,00 Dividendos a pagar (passivo) 28.400,00 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade VII - Princípios e Convenções Contábeis e Normas Brasileiras de Contabilidade AULA 29 Princípios fundamentais de Contabilidade Objetivos • Qualificar a contabilidade como ciência. • Delimitar o objeto de estudo da contabi- lidade. • Especificar os Princípios Fundamentais de Contabilidade (PFC). INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 144 Introdução Nas aulas anteriores desta disciplina observamos que a contabilidade nas empresas funciona como um sistema de informação, tendo como um de seus principais objetivos o fornecimento de informações úteis a seus diversos usuários, de forma a apoiá-los na tomada de decisões, sejam elas de natureza econômica ou financeira. Vimos também que é através da contabilidade que conseguimos observar a evolução da riqueza de uma empresa ao longo do tempo. As atividades empresariais são várias e cada empresa possui sua peculiaridade. Contudo, de nada valeriam tais registros se eles não fossem feitos de forma compreensível a seus usuários. Por isto a necessidade de uniformização da linguagem da contabilidade para todas as empresas. Assim, como em qualquer ramo de conhecimento, a exemplo da Administração, da Economia ou do Direito, a Contabilidade tem em sua base um conjunto de princípios cuja aplicação busca o alcance de seus objetivos. Nessa aula iremos tratar dos princípios fundamentais da contabilidade. Preste bastante atenção neles e nas aulas seguintes, tente identificá-los quanto à sua aplicação. No Brasil, esse conjunto de princípios é denominado Princípios Fundamentais de Contabilidade (PFC) e está regulamentado atualmente pela Resolução nº. 750, de 29/12/1993, do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Os PFC vêm dar sustentabilidade à ciência contábil como ramo do conhecimento científico. No entanto, para uma melhor compreensão, uniformização e aplicabilidade desses PFC, o CFC editou as Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC). As Normas Brasileiras de Contabilidade, em observância aos PFC, estabelecem regras de conduta profissional e procedimentos técnicos a serem praticados quando da realização dos trabalhos de contabilidade. Elas subdividem-se em Normas Profissionais e Normas Técnicas e estão regulamentadas pela Resolução 1156/09 que revogou a Resolução 751/93 do CFC. A Lei 6.404/76 – Lei das Sociedades Anônimas – exige a obediência aos PFC, enfatizando os princípios da uniformidade e da competência, conforme enunciado no art. 177. Vejamos: “Art. 177. A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes, com obediência aos preceitos da legislação comercial e desta lei aos princípios de contabilidade geralmente aceitos, devendo observar métodos ou critérios contábeis uniformes no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o regime de competência.” Um dos grandes questionamentos a respeito do tema ora abordado consiste em saber até que ponto as demonstrações financeiras, elaboradas com base nesses princípios, atendem às necessidades de informação dos mais diversos usuários, pois a contabilidade, sendo uma ciência social, deve estar preocupada com seus objetivos. Os princípios fundamentais de Contabilidade As normas relativas aos princípios fundamentais de contabilidade foram instituídas pela Resolução do Conselho Federal de Contabilidade nº. 530/81 e posteriormente revogados pela Resolução 750 de 29/12/1993. Em 1994 foi aprovada pelo CFC a Resolução 774 referente ao Apêndice à Resolução sobre os princípios fundamentais de contabilidade, a fim de dar maior transparência quanto à sua interpretação. Em 2001 foi aprovada a Resolução 900 que regulava o Princípio da Atualização Monetária. Em 2010 a Resolução 1282 revogou as Resoluções 774/94 e 900/01 e, ainda, alterou a Resolução 750/93. Logo no seu primeiro artigo, a Resolução 750/93 determina a obrigatoriedade da observância dos PFC como condição essencial para o exercício da profissão contábil bem como a validade das Normas Brasileiras de Contabilidade – NBC. Vejamos: § 1º A observância dos Princípios Fundamentais de Contabilidade é obrigatória no exercício da profissão e constitui condição de legitimidade das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC). Outro ponto muito importante refere-se à predominância da essência das modificações patrimoniais sobre seus aspectos formais, ou seja, devemos registrar todas as modificações que afetam o patrimônio da empresa, mesmo que ainda não exista, na prática, a padronização de seus aspectos formais. No mundo globalizado dos negócios, poderemos nos deparar com situações concretas a esse respeito, pois as relações comerciais possuem uma grande diversidade de operações possíveis, conforme citado no parágrafo 2º do art. 1º da Resolução 750/93. § 2o Na aplicação dos Princípios Fundamentais de Contabilidade há situações concretas em que a essência das transações deve prevalecer sobre seus aspectos formais. AULA 29 • Princípios fundamentais de Contabilidade 145 A Resolução 750/93 é de suma importância porque faz a abordagem da contabilidade como ciência e justifica sua qualificação como uma ciência social, bem como delimita seu objeto de estudo, conforme enunciado no art. 2 Art. 2o Os Princípios Fundamentais de Contabilidade representam a essência das doutrinas e teorias relativas à Ciência da Contabilidade, consoante o entendimento predominante nos universos científico e profissional de nosso País. Concernem, pois, à Contabilidade no seu sentido mais amplo de ciência social, cujo objeto é o Patrimônio das Entidades. Desta forma, como mencionamos na introdução desta unidade, os princípios visam ao tratamento contábil uniforme dos atos e fatos administrativos das demonstrações deles decorrentes, evidenciando todas as modificações ocorridas. Os princípios elencados no normativo em seu art. 3º são os que se seguem: I) Princípio da Entidade; II) Princípio da Continuidade; III) Princípio da Oportunidade; IV) Princípio do Registro pelo Valor Original; V) Princípio da Competência e VI) Princípio da Prudência. É interessante salientar que o Princípio da Atualização Monetária deixou de existir com a vigência da Resolução 1282/10. E também que não existe hierarquia entre os Princípios Fundamentais de Contabilidade, ou seja, por si só os PFC trazem o conceito de interdependência, não sendo possível separamos ou qualificarmos um princípio em detrimento de outro, embora nem todos estejam presentes nas modificações contábeis. Nos tópicos seguintes discorreremos sobre cada um deles. O Princípio da Entidade Em relação a este princípio, o art. 4º da Resolução 750/93 destaca o seguinte: Art. 4o O Princípio da ENTIDADE reconhece o Patrimônio como objeto da Contabilidade e afirma a autonomia patrimonial, a necessidade da diferenciação de um Patrimônio particular no universo dos patrimônios existentes, independentemente de pertencera uma pessoa, um conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade, com ou sem fins lucrativos. Por conseqüência, nesta acepção, o patrimônio não se confunde com aqueles dos seus sócios ou proprietários, no caso de sociedade ou instituição. Parágrafo único. O PATRIMÔNIO pertence à ENTIDADE, mas a recíproca não é verdadeira. A soma ou agregação contábil de patrimônios autônomos não resulta em nova ENTIDADE, mas numa unidade de natureza econômico-contábil. Verificamos que o pronunciamento caracteriza entidade como um conjunto de pessoas, recursos e organizações capazes de exercer atividade econômica, como meio ou como fim. Contudo, ressalta que os interesses e registros contábeis da entidade não podem se confundir com os dos sócios ou quotistas que a compõem. Para a Contabilidade, o termo ENTIDADE deve ser entendido pelas suas dimensões jurídica, econômica, organizacional e social. Assim, para um melhor entendimento dessas dimensões, a Estrutura Conceitual Básica discorre a respeito. Vejamos: a) Jurídica: verificamos que a entidade é perfeitamente distinta dos sócios que a compõem. b) Econômica: como um reflexo de suas transações, a evolução quantitativa e qualitativa do patrimônio da entidade é acompanhada pela contabilidade. c) Organizacional: requer uma estrutura mínima de operação, ou seja, a entidade pode ser vista como uma pessoa ou grupo de pessoas ou exercendo controle sobre receitas e despesas, sobre investimentos e distribuições. d) Social: é uma visão muito contemporânea, na qual a entidade é avaliada também pelo que contribui no campo social, em termos de benefícios sociais tanto para seus empregados como para a sociedade como um todo. O Princípio da Continuidade Para uma correta classificação e evidenciação dos fatos administrativos que afetam as modificações patrimoniais da entidade, é fundamental que saibamos em qual situação essa entidade se encontra com o objetivo da aplicação plena dos Princípios Fundamentais de Contabilidade, ou seja, a entidade pode estar em atividade, sob intervenção, paralisada ou falida. Em alguns casos, como é o das entidades que se encontram em processo falimentar, os Princípios Fundamentais de Contabilidade não poderão ser atendidos completamente. Apesar disso, esse princípio pressupõe a continuidade das operações da empresa, pois esta pode se recuperar e sair da situação de insolvência. Art. 5o O princípio da continuidade pressupõe que a entidade continuará em operação no futuro e, portanto, a mensuração e a apresentação dos componentes do patrimônio levam em conta esta circunstância. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 146 O Princípio da Oportunidade Este princípio aborda a obrigatoriedade de evidenciação ou registro das modificações patrimoniais de uma entidade no momento em que tais fatos ocorrerem, independentemente de aumentarem ou diminuírem o patrimônio da entidade. Um aspecto importante neste princípio diz respeito à obrigatoriedade do registro do fato contábil antes mesmo de sua real ocorrência, ou seja, se tivermos a certeza da provável ocorrência de um fato contábil em uma entidade, devemos registrá-lo, desde que tenhamos condições de mensurá-lo. Vejamos: Art. 6o O Princípio da OPORTUNIDADE refere-se, ao processo de mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais para produzir informações íntegras e tempestivas. Parágrafo Único. A falta de integridade e tempestividade na produção e na divulgação da informação contábil pode ocasionar a perda de sua relevância, por isso é necessário ponderar a relação entre a oportunidade e a confiabilidade da informação. O Princípio do Registro pelo Valor Original Este princípio, em seu art. 7º, relata que as modificações patrimoniais devem ser evidenciadas utilizando-se, obrigatoriamente, a moeda corrente vigente no país e registrada contabilmente em suas respectivas contas. Esse princípio estabelece que os valores originais das transações devem ser os utilizados para registro e enumera algumas bases de mensuração relacionadas à reavaliação dos itens registrados. A utilização da moeda corrente no país como forma de registro e evidenciação das modificações patrimoniais objetiva a padronização da divulgação das informações das entidades a seus diversos usuários. Art. 7º O Princípio do Registro pelo Valor Original determina que os componentes do patrimônio devem ser inicialmente registrados pelos valores originais das transações, expressos em moeda nacional. § 1º As seguintes bases de mensuração devem ser utilizadas em graus distintos e combinadas, ao longo do tempo, de diferentes formas: I – Custo histórico. Os ativos são registrados pelos valores pagos ou a serem pagos em caixa ou equivalentes de caixa ou pelo valor justo dos recursos que são entregues para adquiri-los na data da aquisição. Os passivos são registrados pelos valores dos recursos que foram recebidos em troca da obrigação ou, em algumas circunstâncias, pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais serão necessários para liquidar o passivo no curso normal das operações; e II – Variação do custo histórico. Uma vez integrado ao patrimônio, os componentes patrimoniais, ativos e passivos, podem sofrer variações decorrentes dos seguintes fatores: a) Custo corrente. Os ativos são reconhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais teriam de ser pagos se esses ativos ou ativos equivalentes fossem adquiridos na data ou no período das demonstrações contábeis. Os passivos são reconhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, não descontados, que seriam necessários para liquidar a obrigação na data ou no período das demonstrações contábeis; b) Valor realizável. Os ativos são mantidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais poderiam ser obtidos pela venda em uma forma ordenada. Os passivos são mantidos pelos valores em caixa e equivalentes de caixa, não descontados, que se espera seriam pagos para liquidar as correspondentes obrigações no curso normal das operações da Entidade; c) Valor presente. Os ativos são mantidos pelo valor presente, descontado do fluxo futuro de entrada líquida de caixa que se espera seja gerado pelo item no curso normal das operações da Entidade. Os passivos são mantidos pelo valor presente, descontado do fluxo futuro de saída líquida de caixa que se espera seja necessário para liquidar o passivo no curso normal das operações da Entidade; d) Valor justo. É o valor pelo qual um ativo pode ser trocado, ou um passivo liquidado, entre partes conhecedoras, dispostas a isso, em uma transação sem favorecimentos; e e) Atualização monetária. Os efeitos da alteração do poder aquisitivo da moeda nacional devem ser reconhecidos nos registros contábeis mediante o ajustamento da expressão formal dos valores dos componentes patrimoniais. § 2º São resultantes da adoção da atualização monetária: I – a moeda, embora aceita universalmente como medida de valor, não representa unidade constante em termos do poder aquisitivo; II – para que a avaliação do patrimônio possa manter os valores das transações originais, é necessário atualizar sua expressão formal em moeda nacional, a fim de que permaneçam substantivamente corretos os valores dos componentes patrimoniais e, por consequência, o do Patrimônio Líquido; e III – a atualização monetária não representa nova avaliação, mas tão somente o ajustamento dos valores originais para determinada data, mediante a aplicação de indexadores ou outros elementos aptos a traduzir a variação do poder aquisitivo da moeda nacional em um dado período. O Princípio da Atualização Monetária O art. 8º da Resolução 750/93 do CFC, antes da Resolução 1282/10, preceituava que os valores patrimoniais deuma entidade deveriam ser atualizados monetariamente com o objetivo da manutenção do valor original do bem em função da perda do poder aquisitivo da moeda do país. Com a supracitada Resolução 2010, o Princípio da Atualização Monetária foi incorporado ao Princípio do Registro pelo Valor Original. AULA 29 • Princípios fundamentais de Contabilidade 147 O Princípio da Competência Para que a entidade possa apurar efetivamente qual é o resultado de suas operações, faz-se necessária a confrontação entre as receitas geradas e as despesas e custos incorridos em um mesmo período. Neste enfoque, para a contabilidade, esse reconhecimento deve ser imediato, ou seja, no ato em que ocorrer, seguindo o princípio da oportunidade, conforme já estudamos. É importante ressaltarmos que, para a aplicação do princípio da competência, este reconhecimento independe do recebimento da receita ou do pagamento da despesa e do custo. Isto se justifica em função da cronologia dos atos administrativos evidenciados nos registros contábeis e apontados nos demonstrativos contábeis. Verificamos a riqueza da entidade no momento ou data- base do levantamento do demonstrativo contábil, então devemos incluir todos os fatos que contribuíram para as modificações patrimoniais no período em análise. Não podemos confundir o regime de caixa (entrada e saída de recursos financeiros na entidade) com o regime de competência (reconhecimento das receitas quando geradas e das despesas quando incorridas), abordado no art. 9º da Resolução 750/93: Art. 9º O Princípio da Competência determina que os efeitos das transações e outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se referem, independente do recebimento e do pagamento. O Princípio da Competência pressupõe a simultaneidade da confrontação de receitas e despesas correlatas. O Princípio da Prudência Este princípio visa evidenciar o patrimônio líquido da entidade de forma mais conservadora, ou seja, devemos adotar um menor valor para os itens do Ativo e da Receita e um maior valor para os itens do Passivo e da Despesa, e, conseqüentemente, na quantificação das mutações patrimoniais que alteram o patrimônio líquido. Contudo, cabe ressaltarmos que estas quantificações referem- se a fatos posteriores, uma vez que, não conhecendo o seu valor efetivo, faz-se necessária a sua verificação por estimativas. Por isto, levando-se em conta o grau de incerteza de sua exatidão, a contabilidade demonstra um menor patrimônio líquido da entidade para seus usuários. Art. 10o O Princípio da PRUDÊNCIA determina a adoção do menor valor para os componentes do ATIVO e do maior para os do PASSIVO, sempre que se apresentem alternativas igualmente válidas para a quantificação das mutações patrimoniais que alterem o patrimônio líquido. Parágrafo Único. O Princípio da Prudência pressupõe o emprego de certo grau de precaução no exercício dos julgamentos necessários às estimativas em certas condições de incerteza, no sentido de que ativos e receitas não sejam superestimados e que passivos e despesas não sejam subestimados, atribuindo maior confiabilidade ao processo de mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais. Penalidades quanto à Inobservância dos Princípios Fundamentais de Contabilidade Na elaboração dos demonstrativos contábeis, é imprescindível a observância aos Princípios Fundamentais de Contabilidade. Contudo, quando o profissional contábil assim não proceder, estará sujeito às penalidades que variam desde a aplicação de multa até a suspensão do exercício da profissão, conforme enunciado no art. 11 da Resolução 750/93 do CFC, e, dependendo do caso, a processo criminal, conforme abordado no novo Código Civil brasileiro. Art. 11 A inobservância dos Princípios de Contabilidade constitui infração nas alíneas “c”, “d” e “e” do art. 27 do Decreto- Lei n.º 9295, de 27 de maio de 1946, e, quando aplicável, ao Código de Ética Profissional do Contabilista.) Resumo A Contabilidade como um ramo de conhecimento (ciência) tem em sua base um conjunto de princípios que, na sua aplicação, delimita o alcance de seus objetivos. No Brasil, estes princípios estão regulamentados pela Resolução 750/93, aprovada pelo Conselho Federal de Contabilidade, e são denominados Princípios Fundamentais de Contabilidade. Essa Resolução aborda a Contabilidade como ciência social e delimita o objeto de estudo desta, dando-lhe sustentabilidade como ramo do conhecimento científico. Visando a uma melhor compreensão, aplicabilidade e uniformidade dos atos e fatos administrativos evidenciados nas demonstrações contábeis das entidades, em observância aos Princípios Fundamentais de Contabilidade, o Conselho Federal de Contabilidade editou as Normas Brasileiras de Contabilidade. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 148 Como verificamos ao longo desta aula, não existe hierarquia entre os Princípios Fundamentais de Contabilidade, mas uma constante ligação entre eles. Conforme abordado, eles subdividem-se em: princípio da ENTIDADE, da CONTINUIDADE, da OPORTUNIDADE, do REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL, da COMPETÊNCIA e da PRUDÊNCIA. Atividades 1. Para você, o que os princípios fundamentais de Contabilidade representam? 2. Qual é o objetivo principal da Contabilidade? 3. Explique com suas palavras o princípio de competência. 4. Dê um exemplo em que possamos verificar a interligação de pelo menos dois princípios contábeis simultaneamente. 5. Explique com suas palavras o conceito da qualificação da Contabilidade como ciência social. AULA 29 • Princípios fundamentais de Contabilidade 149 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE Unidade VII - Princípios e Convenções Contábeis e Normas Brasileiras de Contabilidade AULA 30 Princípios fundamentais de Contabilidade - Análise da minuta do apêndice da Resolução 750/93 Objetivos • Identificar a necessidade da edição da Resolução 774/94 do Conselho Federal de Contabilidade. • Detalhar a Contabilidade como ramo do conhecimento, bem como especificar seu objeto de estudo. • Discorrer sobre as abordagens da Resolu- ção 774/94 frente aos Princípios Funda- mentais de Contabilidade. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 152 Introdução Na nossa primeira aula desta unidade apresentamos os Princípios Fundamentais de Contabilidade aceitos no Brasil, regulamentados em 29/12/1993, pela Resolução 750, editada pelo Conselho Federal de Contabilidade. Contudo, visando dar maior transparência quanto à sua interpretação e assimilação por parte dos profissionais da Contabilidade e dos demais usuários da informação contábil, fez-se necessária a edição da Resolução 774, em 16/12/1994, buscando detalhar e especificar os Princípios Fundamentais de Contabilidade. Ressaltamos, assim, na aula anterior, que os Princípios Fundamentais de Contabilidade vêm dar sustentabilidade à ciência contábil como ramo do conhecimento científico. Por isto, um entendimento amplo de sua abrangência e aplicabilidade torna-se imprescindível para atingir os objetivos intrínsecos à ciência contábil. Delimitações da Contabilidade como ramo do conhecimento Como estudamos ao longo das unidades anteriores, especificamente nas Unidades 1 e 2 e na primeira aula desta unidade, a Contabilidade possui um objeto próprio de estudo, o Patrimônio das Entidades, e busca evidenciar, por meio dos registros contábeis as modificações ou mutações ocorridas. Vale a pena lembrar que, ao abordarmos o termo patrimônio, estamos abrangendo todos os bens, direitos e obrigações da entidade, empresa ou instituição em análise. O patrimônio analisado pela Contabilidade também é objeto de estudo de outras ciências sociais, como a Economia, a Administração e o Direito, porém a Contabilidade o estuda nos seus aspectos quantitativose qualitativos. Nesta especificação, a Resolução 774/94 cita o seguinte: Por aspecto qualitativo do patrimônio entende-se a natureza dos elementos que o compõem, como dinheiro, valores a receber ou a pagar expressos em moeda, máquinas, estoques de materiais ou de mercadorias, etc. A delimitação qualitativa desce, em verdade, até o grau de particularização que permita a perfeita compreensão do componente patrimonial. Assim, quando falamos em “máquinas”, ainda estamos a empregar um substantivo coletivo, cuja expressão poderá ser de muita utilidade em determinadas análises. Mas a Contabilidade, quando aplicada a um patrimônio particular, não se limitará às “máquinas” como categoria, mas, dependendo das necessidades de controle, poderá descer a cada máquina em particular e, mais ainda, aos seus pormenores, de forma que sua caracterização evite a confusão com quaisquer outras máquinas, mesmo de tipo idêntico. O atributo quantitativo refere-se à expressão dos componentes patrimoniais em valores, o que demanda que a Contabilidade assuma posição sobre o que seja “Valor”, porquanto os conceitos sobre a matéria são extremamente variados. Desta forma, verificamos que os aspectos qualitativos dizem respeito à especificação dos itens que compõem o patrimônio, abordando-os da forma mais completa possível. Já os aspectos quantitativos referem-se exatamente à mensuração monetária dos itens especificados, qualitativamente, no patrimônio da entidade, empresa ou instituição. Vale a pena lembrar que, ao estudarmos o patrimônio das empresas, nos reportamos, obrigatoriamente, ao conceito de Patrimônio Líquido, conforme verificado na Unidade 2, cuja equação básica é a seguinte: (Bens + Direitos) – (Obrigações) = Patrimônio Líquido Quando o resultado da equação é negativo, convencionou-se denominá-lo de Passivo a Descoberto, ou seja, o valor das obrigações que a entidade, empresa ou instituição possui superior aos seus direitos e bens. Ou, ainda, a empresa não conseguirá honrar seus compromissos em função de seus ativos. É importante salientarmos que o Patrimônio Líquido não representa uma dívida da empresa para com seus sócios e sim um investimento que estes fazem para a existência de uma nova entidade, que deverá ter autonomia em relação aos demais patrimônios existentes. Em relação aos Princípios Fundamentais de Contabilidade e sua qualificação como científicos, o normativo cita o seguinte: Os Princípios Fundamentais de Contabilidade representam o núcleo central da própria Contabilidade, na condição de ciência social a ela inerente. Os princípios constituem sempre as vigas-mestras de uma ciência, revestindo-se dos atributos de universalidade e veracidade, conservando validade em qualquer circunstância. No caso da Contabilidade, presente seu objeto, seus Princípios Fundamentais de Contabilidade valem para todos os patrimônios, independentemente das Entidades a que pertencem, as finalidades para as quais são usados, a forma jurídica da qual estão revestidos, sua localização, expressividade e quaisquer outros qualificativos, desde que gozem da condição de autonomia em relação aos demais patrimônios existentes. AULA 30 • Princípios fundamentais de Contabilidade - Análise da minuta do apêndice da Resolução 750/93 153 Nos princípios científicos jamais pode haver hierarquização formal, dado que eles são os elementos predominantes na constituição de um corpo orgânico, proposições que se colocam no início de uma dedução, e são deduzidos de outras dentro do sistema. Nas ciências sociais, os princípios se colocam como axiomas, premissas universais e verdadeiras, assim admitidos sem necessidade de demonstração, ultrapassando, pois a condição de simples conceitos. O normativo enfatiza que não é admitido confundir os Princípios Fundamentais de Contabilidade com as técnicas empregadas pela Contabilidade para a evidenciação das modificações patrimoniais: Os princípios, na condição de verdades primeiras de uma ciência, jamais serão diretivas de natureza operacional, característica essencial das normas – expressões de direito positivo, que a partir dos princípios, estabelecem ordenamentos sobre o “como fazer”, isto é, técnicas, procedimentos, métodos, critérios etc., tanto nos aspectos substantivos, quanto nos formais. Dessa maneira, alcança-se um todo organicamente integrado, em que, com base nas verdades gerais, se chega ao detalhe aplicado, mantidas a harmonia e coerência do conjunto. Os princípios simplesmente são e, portanto, preexistem às normas, fundamentando e justificando a ação, enquanto aquelas a dirigem na prática. E complementa quanto à condição inequívoca dos Princípios como norteadores da ciência da Contabilidade: Os princípios refletem o estágio em que se encontra a Ciência da Contabilidade, isto é, a essência dos conhecimentos, doutrinas e teorias que contam com o respaldo da maioria dos estudiosos da Contabilidade. Conforme observamos no estudo das unidades anteriores, a Contabilidade possui como uma de suas premissas o seu caráter informacional, ou seja, a função de demonstrar a seus diversos usuários, por meio dos registros contábeis, as modificações ocorridas no patrimônio da entidade, empresa ou instituição, nos diversos relatórios, demonstrativos e planilhas contábeis, com o objetivo da tomada de decisão. Este aspecto refere-se ao conteúdo dos Princípios Fundamentais de Contabilidade. Vejamos: Em termos de conteúdo, os princípios dizem respeito à caracterização da Entidade e do patrimônio, à avaliação dos componentes deste e ao reconhecimento das mutações e dos seus efeitos diante do Patrimônio Líquido. Como os princípios alcançam o patrimônio na sua globalidade, sua observância nos procedimentos aplicados resultará automaticamente em informações de utilidade para decisões sobre situações concretas. Esta é a razão pela qual os objetivos pragmáticos da Contabilidade são caracterizados pela palavra “informação”. Quanto aos objetivos da Contabilidade, o normativo ressalta os seguintes: O objeto científico da Contabilidade manifesta-se na correta apresentação do Patrimônio e na apreensão e análise das causas das suas mutações.... ...um dos objetivos da Contabilidade é o acompanhamento da evolução econômica e financeira de uma Entidade. No caso, o adjetivo “econômico” é empregado para designar o processo de formação de resultado, isto é, as mutações quantitativo- qualitativas do patrimônio, as que alteram o valor do Patrimônio Líquido, para mais ou para menos, corretamente conhecidas como “receitas” e “despesas”. Já os aspectos qualificados como “financeiros” concernem, em última instância, aos fluxos de caixa. A resolução ressalta também que a Contabilidade deve evidenciar todos os fatos que modificam a situação patrimonial da entidade, ou seja, a essência deve prevalecer sobre a forma: Cumpre também ressaltar que, na realização do objetivo central da Contabilidade, defrontamo-nos, muitas vezes, com situações nas quais os aspectos jurídico-formais das transações ainda não estão completa ou suficientemente dilucidados. Nesses casos, deve-se considerar o efeito mais provável das mutações sobre o patrimônio, quantitativa e qualitativamente, concedendo-se prevalência à substância das transações. Nos aspectos referentes às informações geradas pela Contabilidade, o normativo enfatiza que estas devem ser consistentes entre os períodos, não somente para uma entidade em particular, mas para entidades que pertençam a um mesmo segmento, com o objetivo de possibilitar a comparabilidade entre elas e a correta análise de sua situação econômico-financeira. Sendo assim, a Contabilidade pode valer-se da utilização de projeções e prospecções para verificar tendências de uma entidade ou ramo específico, a fim de subsidiaros interessados na tomada de decisão. De forma geral, no âmbito dos profissionais e usuários da Contabilidade, os objetivos desta, quando aplicada a uma Entidade particularizada, são identificados com a geração de informações a serem utilizadas por determinados usuários em decisões que buscam a realização de interesses e objetivos próprios. A precisão das informações demandadas pelos usuários e o próprio desenvolvimento de aplicações práticas da Contabilidade, dependerão, sempre, da observância dos seus Princípios, cuja aplicação à solução de situações concretas deverá considerar o contexto econômico, tecnológico, institucional e social em que os procedimentos serão aplicados. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 154 Isso significa, com grande freqüência, o uso de projeções sobre os contextos em causa, o que muitos denominam de visão prospectiva nas aplicações contábeis. As informações quantitativas que a Contabilidade produz, quando aplicadas a uma Entidade, devem possibilitar ao usuário avaliar a situação e as tendências desta, com o menor grau de dificuldade possível. Devem, pois, permitir ao usuário, como partícipe do mundo econômico: • observar e avaliar o comportamento; • comparar seus resultados com os de outros períodos ou Entidades; • avaliar seus resultados à luz dos objetivos estabelecidos; • projetar seu futuro nos marcos políticos, sociais e econômicos em que se insere. E tudo isso para que o usuário possa planejar suas próprias operações. Os requisitos referidos levam à conclusão de que deve haver consistência nos procedimentos que a Entidade utiliza em diferentes períodos e, tanto quanto possível, também entre Entidades distintas que pertençam a um mesmo mercado, de forma que o usuário possa extrair tendências quanto à vida de uma Entidade e à sua posição em face das demais Entidades, ou mesmo do mercado como um todo. Tal desiderato é extremamente incentivado pelo sistema formal de normas, cuja coerência estrutural é garantida pela observância dos Princípios Fundamentais de Contabilidade e seus ordenamentos aplicados. Outro aspecto importante na Contabilidade refere- se aos usuários das informações evidenciadas nos relatórios contábeis, tema abordado na Unidade 1 desta disciplina. Considerando-se a diversidade de objetivos dos mais variados usuários das informações contábeis, a Contabilidade deve atentar em fornecer informações compreensivas e corretas, sempre observando o que preconizam os Princípios Fundamentais de Contabilidade. Em relação a este item, o normativo cita o seguinte: Os usuários tanto podem ser internos como externos e, mais ainda, com interesses diversificados, razão pela qual as informações geradas pela Entidade devem ser amplas e fidedignas e, pelo menos, suficientes para a avaliação da sua situação patrimonial e das mutações sofridas pelo seu patrimônio, permitindo a realização de inferências sobre o seu futuro. Os usuários internos incluem os administradores de todos os níveis, que usualmente se valem de informações mais aprofundadas e específicas acerca da Entidade, notadamente aquelas relativas ao seu ciclo operacional. Já os usuários externos concentram suas atenções, de forma geral, em aspectos mais genéricos, expressos nas demonstrações contábeis. Comentários aos Princípios Fundamentais de Contabilidade A Resolução 774/94 foi editada com o intuito de esclarecer e pormenorizar os Princípios Fundamentais de Contabilidade elencados na Resolução 750/93, os quais estudamos na aula anterior. Agora vamos tecer comentários sobre cada um deles. O Princípio da Entidade O principal aspecto enfatizado na Resolução 774/94 refere-se à afirmativa de que o objeto de estudo da Contabilidade é o patrimônio. Desta forma, é imprescindível que este contenha o atributo de autonomia em relação a todos os outros patrimônios que a compuseram, permitindo assim que possa adquirir direitos, bens e contrair obrigações. O conceito de entidade abrange desde uma pessoa física como qualquer tipo de sociedade, instituição ou mesmo conjuntos de pessoas. O normativo cita o seguinte: A autonomia tem por corolário o fato de que o patrimônio de uma Entidade jamais pode confundir- se com aqueles dos seus sócios ou proprietários. Por conseqüência, a Entidade poderá ser desde uma pessoa física, ou qualquer tipo de sociedade, instituição ou mesmo conjuntos de pessoas, tais como: • famílias; • empresas; • governos, nas diferentes esferas do poder; • sociedades beneficentes, religiosas, culturais, esportivas, de lazer, técnicas; • sociedades cooperativas; • fundos de investimento e outras modalidades afins. Muito comum no mundo dos negócios é nos depararmos com entidades ou empresas que possuem várias filiais ou mesmo separadas em vários departamentos com autonomia de gestão. Estas situações podem levar- nos à conclusão de que estas filiais e departamentos, representariam cada qual, uma nova empresa. No entanto, este raciocínio é equivocado porque, na realidade, o patrimônio da entidade é único, acontecendo somente sua segregação em unidades ou funções operacionais AULA 30 • Princípios fundamentais de Contabilidade - Análise da minuta do apêndice da Resolução 750/93 155 motivada por questões mercadológicas, de logística ou controle. Neste aspecto o normativo relata: A autonomia patrimonial apresenta sentido unívoco. Por conseqüência, o patrimônio pode ser decomposto em partes segundo os mais variados critérios, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. Mas nenhuma classificação, mesmo que dirigida sob óptica setorial, resultará em novas Entidades. Carece, pois, de sentido, a idéia de que as divisões ou departamentos de uma entidade possam constituir novas Entidades, ou “microentidades”, precisamente porque sempre lhes faltará o atributo da autonomia. Outro fato que normalmente encontramos na Contabilidade é a elaboração de demonstrativos contábeis consolidados, ou seja, várias entidades com seus patrimônios independentes uma das outras, porém sob controle comum, evidenciam o somatório de seus patrimônios, seja por uma exigência legal ou outro fator, nos demonstrativos contábeis consolidados. Contudo, nestas situações, a agregação destes patrimônios não resultará em uma nova entidade, uma vez que não existirá autonomia neste “Novo Patrimônio” evidenciado. Nestes casos encontramos os denominados conglomerados econômico-financeiros e nos demonstrativos contábeis constará o termo “consolidado”. O normativo reporta o seguinte: O Patrimônio da Entidade apresenta corolário de notável importância, notadamente pelas suas repercussões de natureza prática: as somas e agregações de patrimônios de diferentes Entidades não resultam em nova Entidade. Tal fato assume especial relevo por abranger as demonstrações contábeis consolidadas de Entidades pertencentes a um mesmo grupo econômico, isto é, de um conjunto de Entidades sob controle único. A razão básica é a de que as Entidades cujas demonstrações contábeis são consolidadas mantêm sua autonomia patrimonial, pois seus Patrimônios permanecem de sua propriedade. Como não há transferência de propriedade, não pode haver formação de novo patrimônio, condição primeira da existência jurídica de uma Entidade. O Princípio da Continuidade Este princípio propõe que se deve levar em consideração, quanto à classificação e evidenciação das modificações patrimoniais de uma entidade, o aspecto de sua continuidade no tempo, pois, dependendo da situação em que a entidade se encontra, a classificação e a mensuração dos valores que compõem o patrimônio se modificarão. A Resolução 774/94 menciona a questão da suspensão das atividades e até mesmo a queda no nível de ocupação da entidade, citando algumas situaçõesque podemos encontrar. Vejamos: O Princípio da CONTINUIDADE afirma que o patrimônio da Entidade, na sua composição qualitativa e quantitativa, depende das condições em que provavelmente se desenvolverão as operações da Entidade. A suspensão das suas atividades poderá provocar efeitos na utilidade de determinados ativos, com a perda, até mesmo integral, de seu valor. A queda no nível de ocupação pode também provocar efeitos semelhantes. A modificação no estado de coisas citado pode ocorrer por diversas causas, entre as quais ressaltam as seguintes: a) modificações na conjuntura econômica que provoquem alterações na amplitude do mercado em que atua a Entidade. Exemplo neste sentido é a queda de poder aquisitivo da população, que provoca redução no consumo de bens, o que, à sua vez, resulta na redução do grau de ocupação de muitas Entidades; b) mudanças de política governamental, como, por exemplo, na área cambial, influenciando diretamente o volume das exportações de determinados ramos econômicos, com efeito direto nos níveis de produção de determinadas Entidades; c) problemas internos das próprias Entidades, consubstanciados em envelhecimento tecnológico dos seus processos ou produtos, superação mercadológica destes, exigência de proteção ambiental, falta de capital, falta de liquidez, incapacidade administrativa, dissensões entre os controladores da Entidade e outras causas quaisquer que levem a Entidade a perder suas condições de competitividade, sendo gradativamente alijada do mercado; d) causas naturais ou fortuitas que afetem a manutenção da Entidade no mercado, tais como inundações, incêndios, ausência de materiais primários por quebras de safras. É considerada como situação-limite na aplicação do Princípio da Continuidade aquela em que há a completa cessação das atividades da Entidade, momento no qual, tanto os itens do ativo, como os estoques, ativos imobilizados, ativos diferidos, quanto do passivo podem ter seus valores substancialmente modificados, pois não ocorrerá mais a possibilidade da continuidade das operações da entidade, não gerando assim novos recursos para mantê-la em funcionamento. Contudo, o normativo ressalta também aquelas situações em que, se o nível de produção da entidade vier a alterar-se significativamente, este impacto deverá ser evidenciado, pois estará refletindo diretamente no resultado da entidade, bem como na evidenciação de seus valores patrimoniais. Conforme estudamos na aula anterior, não existe hierarquização entre os Princípios Fundamentais de Contabilidade e sim uma inter-relação entre eles. Vejamos INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 156 o que relata o normativo em relação ao Princípio da Continuidade: Princípio da Continuidade, à semelhança do da Prudência, está intimamente ligado com o da Competência, formando- se uma espécie de trilogia. A razão é simples: a continuidade, como já vimos, diz respeito diretamente ao valor econômico dos bens, ou seja, ao fato de um ativo manter-se nesta condição ou transformar-se, total ou parcialmente, em despesa. Mas a continuidade também alcança a representação quantitativa e qualitativa do patrimônio de outras maneiras, especialmente quando há previsão de encerramento das atividades da Entidade, com o vencimento antecipado ou o surgimento de exigibilidades. Nesta última circunstância, sua ligação será com o Princípio da Oportunidade. O Princípio da Oportunidade Conforme estudamos na aula anterior, este princípio relata que a Contabilidade deve registrar todos os fatos que contribuíram ou contribuirão para a modificação da situação patrimonial de uma entidade no momento de sua ocorrência efetiva ou provável, e deve fazê-lo de forma completa e correta. Desta forma, a Contabilidade demonstrará aos seus diversos usuários, oportuna e corretamente, a situação patrimonial para aquele período da entidade, em análise. A Resolução 774/94 especifica: O Princípio da OPORTUNIDADE exige a apreensão, o registro e o relato de todas as variações sofridas pelo patrimônio de uma Entidade, no momento em que elas ocorrerem. (...) O Princípio da Oportunidade é a base indispensável à fidedignidade das informações sobre o patrimônio da Entidade, relativas a um determinado período e com o emprego de quaisquer procedimentos técnicos. Quanto aos eventos ou fatos que podem modificar a situação patrimonial de uma entidade o normativo elenca: O Princípio da Oportunidade deve ser observado, como já foi dito, sempre que haja variação patrimonial, cujas origens principais são, de forma geral, as seguintes: a) transações realizadas com outras Entidades, formalizadas mediante acordo de vontades, independentemente da forma ou da documentação de suporte, como compra ou venda de bens e serviços; b) eventos de origem externa, de ocorrência alheia à vontade da administração, mas com efeitos sobre o Patrimônio, como modificações nas taxas de câmbio, quebras de clientes, efeitos de catástrofes naturais, etc.; c) movimentos internos que modificam predominantemente a estrutura qualitativa do Patrimônio, como a transformação de materiais em produtos semifabricados ou destes em produtos prontos, mas também a estrutura quantitativo-qualitativa, como no sucateamento de bens inservíveis. Na literatura contábil, poderemos encontrar a denominação deste princípio como Princípio da Universalidade, uma vez que ele abarca dois aspectos distintos, mas complementares: a integridade e a tempestividade do registro contábil. O normativo os define como: Quanto à integridade A integridade diz respeito à necessidade de as variações serem reconhecidas na sua totalidade, isto é, sem qualquer falta ou excesso. Concerne, pois, à completeza da apreensão, que não admite a exclusão de quaisquer variações monetariamente quantificáveis. Como as variações incluem elementos quantitativos e qualitativos, bem como os aspectos físicos pertinentes, e ainda que a avaliação seja regida por princípios próprios, a integridade diz respeito fundamentalmente às variações em si. Tal fato não elimina a necessidade do reconhecimento destas, mesmo nos casos em que não há certeza definitiva da sua ocorrência, mas somente alto grau de possibilidade. Quanto à tempestividade A tempestividade obriga que as variações sejam registradas no momento em que ocorrerem, mesmo na hipótese de alguma incerteza, na forma relatada no item anterior. Sem o registro no momento da ocorrência, ficarão incompletos os registros sobre o patrimônio até aquele momento, e, em decorrência, insuficientes quaisquer demonstrações ou relatos, e falseadas as conclusões, os diagnósticos e prognósticos. O Princípio do Registro pelo Valor Original Como estudamos na aula anterior, este princípio diz respeito ao registro dos itens que compõem o patrimônio de uma entidade e que devem ser mensurados, monetariamente, pelo valor resultante com a contraparte da transação. Complementa ainda que estes valores devem ser efetuados em moeda corrente do país. O princípio aborda também que o item, uma vez registrado no patrimônio da entidade, a priori, não poderá ter seu valor alterado e, quando assim ocorrer, deverá fazê- lo à luz do princípio contábil da competência, conforme elucidado na Resolução 774/94: Pressupõe-se que o valor de troca, aquele decorrente da transação, configure o valor econômico dos ativos no momento da sua ocorrência. Naturalmente, se, com o passar do tempo, houver a modificação do valor em causa, seja por que razão, os ajustes serão realizados, mas ao abrigo do Princípio da Competência. Os ajustes somente serão para menos, em razão da essência do próprio Princípio. Quando a entidade recebe em doação um bem, o mesmo deverá ser registrado no momento de seu AULA 30 • Princípios fundamentais de Contabilidade - Análiseda minuta do apêndice da Resolução 750/93 157 recebimento e mensurado a valores compatíveis com as transações com o mundo exterior. A diferença existente nestes casos consiste na não-existência da contraprestação com a outra parte envolvida, representando somente um aumento do Patrimônio da Entidade que recebeu a doação. A obrigatoriedade de registro, em expressão da moeda nacional, dos itens integrantes do patrimônio de uma entidade, justifica-se pela necessidade de padronização das evidenciações das modificações patrimoniais ocorridas, quantitativamente, na entidade, possibilitando assim a comparabilidade entre elas e o acompanhamento ao longo de vários períodos. Quando a entidade for integrar ao seu patrimônio itens que estiverem em valores de moedas estrangeiras, deverá, ao registrá-los no seu patrimônio, convertê-los em moeda corrente pela cotação da data do efetivo registro. As modificações internas ocorridas na entidade, sejam elas qualitativas ou quantitativas, encontram-se presentes no princípio do Registro pelo Valor Original, no qual a decomposição e a agregação de valores representam apenas a redistribuição de valores originalmente registrados. Vejamos o que aborda a Resolução 774/94: O Princípio em análise, como não poderia ser diferente, em termos lógicos, mantém-se plenamente nas variações patrimoniais que ocorrem no interior da Entidade, quando acontece a agregação ou a decomposição de valores. Os agregados de valores – cuja expressão mais usual são os estoques de produtos semifabricados e prontos, os serviços em andamento ou terminados, as culturas em formação etc. – representam, quantitativamente, o somatório de inúmeras variações patrimoniais qualitativas, formando conjuntos de valores constituídos com base em valores atinentes a insumos de materiais, depreciações, mão-de-obra, encargos sociais, energia, serviços de terceiros, tributos e outros, classes de insumos que, em verdade, representam a consumpção de ativos, como estoques, equipamentos ou, diretamente, recursos pecuniários. Os agregados são, pois, ativos resultantes da transformação de outros ativos, e, em alguns casos, deixam logo tal condição, como aqueles referentes a funções como as de administração geral, comercialização no País, exportação e outras... Os fatos mencionados comprovam a importância do princípio em exame na Contabilidade aplicada à área de custos, por constituir-se na diretiva principal de avaliação das variações que ocorrem no ciclo operacional interno das Entidades, em que não existe propriamente a criação de valores, mas a simples redistribuição de valores originais. O Princípio da Atualização Monetária Este princípio preza pela manutenção dos valores originais dos itens que compõem o patrimônio da entidade, em função da perda do valor aquisitivo da moeda. Este foi um procedimento compulsório no Brasil até 31/12/95 e fundamentava-se na recomposição dos valores dos itens não circulantes – por exemplo, o imobilizado –, que pertenciam ao patrimônio da entidade, visando compensar as perdas oriundas das altas taxas de inflação. Hoje tal atualização somente é admitida se a taxa inflacionária no país for próxima ou superior a 100% no trimestre, conforme preceitua a Resolução 990/91 do Conselho Federal de Contabilidade. À época, utilizava-se um índice oficial para converter os valores dos itens atualizáveis, fundamentalmente integrantes do Ativo Permanente e do Patrimônio Líquido da entidade, e, mensalmente, estes eram corrigidos reconhecendo, contabilmente, o ganho ou a perda advindo-se desta atualização monetária. Vejamos o que menciona o normativo: O Princípio da ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA existe em função do fato de que a moeda – embora universalmente aceita como medida de valor – não representa unidade constante de poder aquisitivo. Por conseqüência, sua expressão formal deve ser ajustada, a fim de que permaneçam substantivamente corretos – isto é, segundo as transações originais – os valores dos componentes patrimoniais e, via de decorrência, o Patrimônio Líquido. Ainda também era coerente a sua aplicabilidade em função do princípio do Registro pelo Valor Original. Notemos: Como se observa, o Princípio em causa constitui seguimento lógico daquele do REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL, pois preceitua o ajuste formal dos valores fixados segundo este, buscando a manutenção da substância original, sem que isso implique qualquer modalidade de reavaliação. Cabe ressaltar que é usual pelas entidades a utilização da atualização monetária em seus demonstrativos, para fins gerenciais, porém, adotando-se índices que melhor reflitam as oscilações de suas atividades operacionais. O Princípio da Competência O princípio em pauta visa evidenciar, contabilmente, as modificações quantitativas ou modificativas que alteram o valor do Patrimônio Líquido de uma entidade. Deste princípio emerge o conceito de resultado do período, oriundo da confrontação entre o valor final dos aumentos do Patrimônio Líquido – normalmente denominados Receitas – e das suas diminuições – normalmente denominadas Despesas. A entidade INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE 158 apresentará um resultado positivo se as receitas forem maiores do que as despesas; ou negativo, quando ocorrer o contrário. Cabe ressaltar que este princípio não está relacionado ao efetivo pagamento ou recebimento, desembolso ou ingresso de recursos, mas sim ao reconhecimento das receitas geradas e despesas incorridas no período em análise, conforme estudamos na aula anterior. Abaixo citamos algumas abordagens que representam estas situações, à luz da Resolução 774/94: Alguns comentários sobre as despesas: As despesas, na maioria das vezes, representam consumação de ativos, que tanto podem ter sido pagos em períodos passados, no próprio período, ou ainda virem a ser pagos no futuro. De outra parte, não é necessário que o desaparecimento do ativo seja integral, pois muitas vezes a consumpção é somente parcial, como no caso das depreciações ou nas perdas de parte do valor de um componente patrimonial do ativo, por aplicação do Princípio da PRUDÊNCIA à prática de que nenhum pode permanecer avaliado por valor superior ao de sua recuperação por alienação ou utilização nas operações em caráter corrente. Mas a despesa também pode decorrer do surgimento de uma exigibilidade sem a concomitante geração de um bem ou de um direito, como acontece, por exemplo, nos juros moratórios e nas multas de qualquer natureza. (...) A aplicação correta da competência exige mesmo que se provisionem, com base em fundamentação estatística, certas despesas por ocorrer, mas indiscutivelmente ligadas à venda em análise, como as despesas futuras com garantias assumidas em relação a produtos. Tratamento particular devemos dar às despesas para as quais, num primeiro momento, não teremos as receitas para confrontarmos e assim apurarmos o resultado, como acontece quando a entidade se encontra em fase pré-operacional, ou no caso de despesas como desenvolvimento de novos produtos e projetos, expansão de parque industrial e outras situações. Nestes casos devemos ativar tais despesas e, posteriormente, reconhecermos o seu valor em função da existência e confrontação das referidas receitas que as originaram. Observemos o comentário do normativo: Nos casos de Entidades em períodos pré-operacionais, no seu todo ou em algum setor, os custos incorridos são ativados, para se transformarem posteriormente em despesas, quando da geração das receitas, mediante depreciação ou amortização. Tal circunstância está igualmente presente em projetos de pesquisa e desenvolvimento de produtos – muito freqüentes nas indústrias químicas e farmacêuticas, bem como naquelas que empregam alta tecnologia –, em que a amortização dos custosativados é usualmente feita segundo a vida mercadológica estimada dos produtos ligados às citadas pesquisas e projetos. Detalhes sobre as receitas e seu reconhecimento: A receita é considerada realizada no momento em que há a venda de bens e direitos da Entidade – entendida a palavra “bem” em sentido amplo, incluindo toda sorte de mercadorias, produtos, serviços, inclusive equipamentos e imóveis –, com a transferência da sua propriedade para terceiros, efetuando estes o pagamento em dinheiro ou assumindo compromisso firme de fazê- lo num prazo qualquer. Normalmente, a transação é formalizada mediante a emissão de nota fiscal ou documento equivalente, em que consta a quantificação e a formalização do valor de venda, pressupostamente o valor de mercado da coisa ou do serviço. Embora esta seja a forma mais usual de geração de receita, também há uma segunda possibilidade, materializada na extinção parcial ou total de uma exigibilidade, como no caso do perdão de multa fiscal, da anistia total ou parcial de uma dívida, da eliminação de passivo pelo desaparecimento do credor, pelo ganho de causa em ação em que se discutia uma dívida ou o seu montante, já devidamente provisionado, ou outras circunstâncias semelhantes. Finalmente, há ainda uma terceira possibilidade: a de geração de novos ativos sem a interveniência de terceiros, como ocorre correntemente no setor pecuário, quando do nascimento de novos animais. A última possibilidade está representada na geração de receitas por doações recebidas, já comentadas anteriormente. O Princípio da Prudência Este princípio determina que o patrimônio da entidade deva estar representado ao menor valor para os itens que compõem o Ativo e com um maior valor para os itens que compõem o Passivo, desde que seja possível aplicar técnicas verificáveis para tais evidências, resultando assim na apresentação de um menor Patrimônio Líquido. Vejamos o elucidado no normativo: A prudência deve ser observada quando, existindo um ativo ou um passivo já escriturado por determinados valores, segundo os Princípios do REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL e da ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA, surge dúvida sobre a ainda correção deles. Havendo formas alternativas de se calcularem os novos valores, deve-se optar sempre pelo que for menor do que o inicial, no caso de ativos, e maior, no caso de componentes patrimoniais integrantes do passivo. Naturalmente, são necessárias que as alternativas mencionadas configurem, pelo menos à primeira vista, hipóteses igualmente razoáveis. Cita como exemplo da aplicabilidade deste princípio a Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa (PCLD): AULA 30 • Princípios fundamentais de Contabilidade - Análise da minuta do apêndice da Resolução 750/93 159 A provisão para créditos de liquidação duvidosa constitui exemplo da aplicação do Princípio da PRUDÊNCIA, pois sua constituição determina o ajuste, para menos, de valor decorrente de transações com o mundo exterior, das duplicatas ou de contas a receber. A escolha não está no reconhecimento ou não da provisão, indispensável sempre que houver risco de não- recebimento de alguma parcela mas sim, no cálculo do seu montante. Em específico quanto às exigibilidades, caso não exista dúvida quanto ao valor a ser reconhecido no patrimônio, não estaremos falando do princípio da prudência, pois, nestas situações, devemos registrá-lo, de imediato, aplicando assim o princípio da oportunidade. Desta forma, só encontraremos aplicabilidade ao princípio da prudência quanto nos depararmos com situações em que não tenhamos a certeza do real valor a ser mensurado na Contabilidade da entidade. O normativo 774/94 relata alguns fatos importantes quanto ao Princípio da Prudência: • os custos ativados devem ser considerados como despesa no período em que ficar caracterizada a impossibilidade de eles contribuírem para a realização dos objetivos operacionais da Entidade; • todos os custos relacionados à venda, inclusive aqueles de publicidade, mesmo que institucional, devem ser classificados como despesas; • os encargos financeiros decorrentes do financiamento de ativos de longa maturação devem ser ativados no período pré-operacional, com amortização a partir do momento em que o ativo entrar em operação. O normativo destaca a importância da correta aplicação do princípio da prudência, em que a entidade não poderá cometer excessos ou mesmo manipular os valores a serem mensurados em seus demonstrativos. Vejamos: A aplicação do Princípio da PRUDÊNCIA não deve levar a excessos, a situações classificáveis como manipulações do resultado, com a conseqüente criação de reservas ocultas. Pelo contrário, deve constituir garantia de inexistência de valores artificiais, de interesse de determinadas pessoas, especialmente administradores e controladores, aspecto muito importante nas Entidades integrantes do mercado de capitais. O comentário inserido no parágrafo anterior ressalta a grande importância das normas concernentes à aplicação da PRUDÊNCIA, com vista a impedir-se a prevalência de juízos puramente pessoais ou por outros interesses. Resumo Como verificamos, para o enquadramento da Contabilidade como ramo do conhecimento e ciência, fez-se necessário explicitar os seus princípios e delimitar o seu objeto de estudo, que é o patrimônio das entidades, empresas, instituições ou outra denominação que melhor o qualifique. Em nossa primeira aula abordamos os Princípios Fundamentais de Contabilidade, instituídos pela Resolução 750/93, do Conselho Federal de Contabilidade. Contudo, diante da ampla aplicabilidade e diversidade de entidades encontradas, bem como das diversas situações possíveis de modificações qualitativas e quantitativas de seu patrimônio, tornou-se imprescindível que houvesse uma abordagem mais detalhada dos tópicos constantes na Resolução 750/93. Isto aconteceu por meio da edição da Resolução 774/94 que trouxe uma melhor explicação e explicitação aos Princípios Fundamentais de Contabilidade elencados no normativo anterior, bem como numa melhor definição da ciência da Contabilidade. Atividades 1. Para a Contabilidade, o que representam os aspectos qualitativos e quantitativos? Cite dois exemplos. 2. O que significa o termo Passivo a Descoberto? Utilizando-se da equação básica da Contabilidade, represente esta situação. 3. Reportando-nos à visão dos usuários da Contabilidade, como devem ser as informações geradas por essa ciência? 4. O princípio da entidade fala sobre a agregação e decomposição do patrimônio. Explique com suas palavras estes termos. 5. Diferencie o princípio da oportunidade do princípio da competência. Cite um exemplo. 6. Conforme abordamos, o reconhecimento da atualização monetária nos demonstrativos contábeis está suspenso desde 31/12/1995 até quando a inflação atingir 100% de variação no trimestre. Você concorda com esta situação? Justifique sua resposta. 7. Explique com suas palavras o conceito da confrontação das receitas com as despesas. REFERÊNCIAS 1. ANDERSEN, A. Normas e práticas contábeis no Brasil. São Paulo: Atlas, 2000. 2. BLATT, A. Análise de balanços: estrutura e avaliação das demonstrações financeiras e contábeis. São Paulo: Makron, 2001. 3. IUDÍCIBUS, S. Manual de contabilidade das Sociedades por Ações. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2000. 4. __________. Teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2000. 5. MARION, J.C. Contabilidade básica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2004. 6. ___________. Contabilidade empresarial. São Paulo: Atlas, 2005. 7. MATARAZZO, D.M.; PESTANA A. O. Análise financeira de balanços. São Paulo: Atlas, 1995. 8. SÁ, A. L. Teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 1999. Anotações Anotações