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AULA 1- OS ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA GESTÃO AMBIENTAL Ecossistema (Sistema Ecológico) - É uma unidade básica de estudo da ecologia que inclui todos os organismos de uma determinada área, interagindo com o meio físico, de forma a originar um fluxo de matéria e energia. → O ser humano passou a impactar com maior intensidade o meio ambiente a partir do advento da agricultura. Porém o manejo sistemático da agricultura não comprometeu o equilíbrio ambiental do planeta Terra durante os séculos iniciais da história das civilizações. Apenas com o advento da Revolução Industrial é que a ação antrópica (cujos efeitos derivam da atividade humana) conseguiu causar impactos crescentes no meio ambiente. Revolução Industrial como marco histórico - A partir do advento da primeira Revolução Industrial, em fins do século XVIII, descortinou-se um processo de devastação dos bens ambientais sem precedentes na História, pois a ação humana foi potencializada pela escala industrial que a produção de bens assumiu, com um vigoroso uso de matérias-primas e de energia, com a sua consequente extração do meio ambiente. → Ocorrências como o fenômeno do aquecimento global, os recorrentes desastres ecológicos, a extinção de espécies, o crescente despejo de resíduos tóxicos nas águas e na atmosfera, além da ameaça de escassez generalizada de elementos naturais indispensáveis à atividade humana passaram a despertar na sociedade o interesse pela temática ambiental. Carrying Capacity - Capacidade de carga do planeta. Representa a capacidade que o planeta teria, representada pela soma das capacidades isoladas de seus múltiplos ecossistemas, de suportar a ação antrópica sem sofrer degradação irreversível. Punção ou ecological footprint (pegada ecológica) - É o avanço da ação humana sobre os recursos do planeta. É o resultado do tamanho da população mundial multiplicado pelo consumo per capita dos recursos naturais, ou seja, as variáveis relevantes para essa análise são tanto o tamanho da população quanto o seu perfil de consumo. Contudo, o cálculo é de difícil mensuração. Postura de precaução em face do uso dos recursos naturais - Constitui-se em ato de urgência a criação das condições políticas, econômicas, institucionais, sociais, jurídicas e culturais que tenham por propósito, de um lado, o desenvolvimento de inovações tecnológicas poupadoras de recursos naturais (qualquer nova tecnologia que use menos recursos do que as atuais) e, de outro, o estabelecimento de novos padrões de consumo que não impliquem um crescimento contínuo e ilimitado do uso dos recursos naturais. → O primeiro evento de caráter relevante para a questão do meio ambiente no mundo foi a conferência com a temática “O Homem e a Biosfera”, da Unesco, em 1971. Logo em seguida, em 1972, ocorreu a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, na cidade de Estocolmo, com grande repercussão internacional. Carta de Belgrado - Na cidade de Belgrado, em 1975, foi realizado um Seminário Internacional de Educação, com a participação de vários países do mundo, que gerou uma lista de resultados apresentados no documento que ficou conhecido como Carta de Belgrado. Esse documento propunha que as ações de preservação ambiental deveriam passar por uma etapa preliminar que consistiria num programa de educação ambiental. Os objetivos a serem atingidos com este programa eram os seguintes: – Conscientizar os cidadãos de todo o mundo sobre o problema ambiental; – Disponibilizar acesso a conhecimentos específicos sobre o meio ambiente; – Promover atitudes para a preservação do meio ambiente; – Desenvolver habilidades específicas para ações ambientais; – Criar uma capacidade de avaliação das ações e programas implantados; e – Promover a participação de todos na solução dos problemas. A educação ambiental passou a assumir um grande desafio, desdobrado em quatro tópicos: (1) conscientização; (2) sensibilização; (3) responsabilidade social; (4) desenvolvimento sustentável. Solucionar este desafio é essencial para manter o objetivo de permitir que a humanidade continue a viver. Eco-92 - Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), realizada no Rio de Janeiro. Oportunidade em que as nações, pela primeira vez, estabeleceram, em caráter definitivo, critérios para se atingir o desenvolvimento sustentável. A partir da Eco- 92, tornou-se imperativa, para a atual sociedade tecnológica e de consumo, a necessidade de conciliar o progresso com a conservação da biosfera, sob pena de estrangulamento do sistema ecológico. Estrangulamento do sistema ecológico - Consiste na descontinuidade de seu fluxo circular de nascimento, crescimento, morte e renovação dos seres vivos. Desenvolvimento Sustentável - Trata-se do “desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades“. Protocolo de Quioto (1997) - foram consagrados os princípios das “responsabilidades comuns, mas diferenciadas” e do “poluidor pagador”, segundo os quais, embora seja global o problema ambiental, caberia aos países tradicionalmente industrializados e, por esta razão, historicamente responsáveis pelos danos ambientais, o ônus de evitar a sua agudização, sendo que, para esta tarefa, contariam com o auxílio dos países em desenvolvimento. Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) - Trata-se de um índice que se propõe a medir o desempenho geral de um país, ou de uma outra coletividade, a partir de três dimensões: a longevidade de seus habitantes; os conhecimentos e o nível de vida. Crescimento x Desenvolvimento econômico - O crescimento econômico refere-se ao aumento da produção e da renda, enquanto o desenvolvimento econômico corresponde à elevação do nível de vida da população, compreendendo outras dimensões da existência, tais como saúde, educação, segurança alimentar e outros aspectos caracterizadores da dignidade humana. → A renda per capita, que é o indicador mais amplamente utilizado para representar o nível de desenvolvimento de uma dada região ou país, pode não ser o mais apropriado para avaliar as questões mais amplas do bem-estar humano e do desenvolvimento. As deficiências desse indicador decorrem do fato de ele ser um valor médio, não permitindo inferências sobre a forma pela qual essa renda se distribui entre os membros da sociedade. Além disso, para uma análise mais abrangente do desenvolvimento, seria preciso considerar seus vários aspectos, dentre eles se destacando o econômico, o social, o cultural e o político. Os valores que importam para o desenvolvimento e que devem ser entendidos como os verdadeiros fatores de produção econômicos num sentido amplo são: capital físico, capital humano e capital natural. O capital físico é representado por instrumentos e máquinas gerados a partir do engenho humano e que são indispensáveis ao modelo de produção vigente. O capital humano compreende o complexo de habilidades e conhecimentos dos indivíduos, bem como a sua rede de relacionamentos e o grau de articulação sinérgica com outros indivíduos. O capital natural corresponde aos fatores, renováveis e não renováveis, extraídos da natureza para atender ao modelo de produção de riqueza da humanidade, bem como à capacidade de absorção e de regeneração dessa mesma natureza aos efeitos da ação antrópica. → Se bem conduzido, o desenvolvimento econômico pode melhorar a qualidade de vida das pessoas. Na medida em que as políticas econômicas conduziriam à acumulação de bens mais estável e equilibrada estariam sendo lançadas as bases de um desenvolvimentosustentável, que integrasse o desenvolvimento humano, o crescimento da renda e a sustentabilidade ambiental. Não obstante, a sustentabilidade não é possível sem o crescimento econômico, pois ela requer o alívio da pobreza, a potencialização do capital humano e a redução do uso indiscriminado dos recursos naturais com um manejo coerente do meio ambiente. AULA 2 - AS ESCOLAS DE PENSAMENTO NA ECONOMIA DO MEIO AMBIENTE Declarações positivas (descritivas) x Declarações normativas (prescritivas) - Uma distinção fundamental entre as declarações de caráter normativo e as de caráter positivo reside na forma como são julgadas as suas validades. Em princípio, é possível confirmar ou refutar uma afirmação positiva com base no exame das evidências factuais acerca dela. Contudo, o julgamento sobre uma afirmação normativa envolve não apenas os fatos, mas também valores. Uma declaração de norma não pode ser julgada unicamente com base em dados. → o conceito de desenvolvimento sustentável possui caráter normativo, ou seja, ele prescreve como o mundo deveria ser, em oposição ao caráter positivo de uma análise, que apenas procura descrever como o mundo é. O debate acadêmico no âmbito da economia do meio ambiente envolve opiniões que se dividem entre duas correntes principais de interpretação: a economia ambiental e a economia ecológica. O contraste entre o pensamento da Escola Ambiental e o da Escola Ecológica – De acordo com o pensamento da Escola Ambiental, o sistema econômico pode ser expandido pela tecnologia e pela substitutibilidade entre os fatores de produção; já segundo o pensamento da Escola Ecológica, os recursos naturais são impedimentos absolutos à expansão do sistema econômico. Economia Ambiental - Considera que os recursos naturais, tanto como fonte de insumos quanto como capacidade de assimilação de impostos nos ecossistemas, não representam um limite absoluto à expansão da economia. Nessa corrente, existe a suposição de substitutibilidade perfeita entre capital, trabalho e recursos naturais, ou seja, os eventuais limites impostos pela escassez de recursos naturais poderiam ser indefinidamente superados pelo progresso técnico, que os substitui por capital (ou trabalho). Dessa forma, os recursos naturais restringiram apenas relativamente uma função de produção, sendo essa restrição superável a qualquer tempo pelo progresso científico e tecnológico, que seria a variável-chave, de tal forma a não haver limites para o crescimento econômico a longo prazo. Conceito de sustentabilidade fraca e regra de Hartwick - Na doutrina econômica, a concepção de restrição relativa imposta pelos recursos naturais ficou conhecida como conceito de sustentabilidade fraca. Uma economia seria “não sustentável” apenas se os investimentos totais fossem menores do que a depreciação combinada dos ativos produzidos e dos não produzidos, sendo que estes últimos seriam restritos aos recursos naturais. A ideia subjacente é a de que o investimento sempre compensaria as gerações futuras pelas perdas de ativos provocada pelo consumo e pela produção corrente (essa concepção ficou conhecida como regra de Hartwick). Relação entre crescimento econômico e degradação ambiental - num primeiro momento de elevação da renda per capita, a degradação ambiental aumenta até um certo ponto e depois começa a diminuir. Esse fenômeno pode ser explicado pelo fato de que, nos estágios iniciais do desenvolvimento econômico, a crescente degradação do meio ambiente é admitida como sendo um efeito colateral ruim, mas necessário, pois a qualidade de vida dos agentes econômicos é muito precária. Porém, quando os atores econômicos atingem um certo nível de bem-estar, eles se tornam mais sensíveis aos efeitos deletérios da degradação do meio ambiente e, por isso, ficam mais dispostos a pagar pela melhoria da qualidade ambiental. Esse incremento da disposição a pagar induziria à busca por mais inovações tecnológicas, institucionais e organizacionais, com vistas à superação da falha de mercado decorrente do caráter público dos serviços ambientais. → Um bem público não pode ser precificado, logo, constitui-se numa falha de mercado. As soluções ideais para a superação desse problema seriam aquelas que viabilizassem as condições para o livre funcionamento dos mecanismos de mercado. Essas soluções operariam diretamente, por via da eliminação do caráter público dos bens e serviços ambientais, ao serem atribuídos direitos de propriedade sobre eles, bem como poderiam operar indiretamente, por meio da valoração econômica da degradação do meio ambiente e na imposição desses valores sob a forma de taxas cobradas pelo Estado. Nível de poluição ótima - para viabilizar a valoração dos bens ambientais, seria preciso estabelecer um modelo estilizado que representasse os custos marginais de degradação ambiental confrontados, num trade-off, com os custos marginais de controle da poluição. O agente econômico racional seria conduzido para operar sua atividade produtiva num nível considerado de poluição ótima. Esse nível seria obtido no momento em que os custos marginais dos impactos ambientais, ou externalidades, provocados por suas atividades produtivas, as quais ele seria obrigado a “internalizar”, mediante o pagamento de taxas ao Estado, se igualassem aos custos que o agente teria para controlar a poluição. → A análise da economia neoclássica para as questões relativas ao meio ambiente conclui que a única forma de resolver os problemas de escassez e de degradação ambiental deveria ser por intermédio da criação de condições para que os instrumentos de mercado pudessem atuar nas relações entre a economia e a natureza. Dessa forma, o Estado, em vez de regulamentar, teria que criar essas condições de atuação do mercado. Economia Ecológica - Esta segunda corrente de pensamento considera o sistema econômico como um subsistema de um todo maior que o contém, que seria o próprio sistema físico do planeta Terra. Isso se constitui numa restrição absoluta à expansão do sistema econômico. De acordo com essa visão, o capital físico (construído pelo homem) e o capital natural são essencialmente complementares. Sendo assim, o progresso científico e tecnológico não poderia superar indefinidamente os limites ambientais globais. Conceito de sustentabilidade forte – relaciona o consumo com a manutenção dos recursos naturais, defendendo que o capital natural deve ser mantido e ampliado — e não substituído. A sustentabilidade, a longo prazo, do sistema econômico não é possível sem que se estabilize o consumo per capita, de acordo com a capacidade de carga do planeta. → A Economia Ecológica tem como questão fundamental solucionar o problema relativo ao funcionamento do sistema econômico, em face dos limites de esgotamento do capital natural. Nesse sentido, a economia ecológica se opõe fortemente ao pressuposto neoclássico de substituição ilimitada de recursos ambientais por inovações que permitem poupá-los. Crítica ao conceito de nível ótimo de poluição – Segundo os pensadores da Economia Ecológica, este seria um equilíbrio meramente econômico e não ecológico, pois não seria possível admitir, sob a ótica ecológica, a existência de um equilíbrio quando a capacidade de assimilação do meio ambiente fosse ultrapassada, uma vez que a poluição permanece nesse dito “nível ótimo de poluição”. → Na visão da Economia Ecológica não basta que apenas sejam criadas taxas de permissão para poluir, como na visão da Economia Ambiental, pois dessa forma não se estariam levando em consideração os princípios ecológicos fundamentais para que seja possível garantir a sustentabilidade.Princípio da Precaução - Conceito invocado em situações em que se considera legítima a adoção, por antecipação, de medidas relativas a uma fonte potencial de danos, sem esperar que se disponha de certezas científicas quanto à relação de causalidade entre a atividade objeto deste princípio e o dano causado. Isso significa que, na dúvida acerca se a atividade vai ou não causar dano irreversível ou considerável ao meio ambiente, não se pratica a mesma. O acolhimento do Princípio da Precaução requer um rompimento com os modelos anteriores de prevenção de riscos, que se baseavam na possibilidade de aplicar a racionalidade em qualquer contexto e na capacidade ilimitada de a ciência solucionar as questões que porventura fossem apresentadas. O Princípio da Precaução está situado na articulação de duas lógicas opostas - De um lado, é preciso reafirmar a necessidade do aperfeiçoamento científico que permita avaliar os riscos nesse contexto de incertezas, para aumentar a confiabilidade das decisões de políticas públicas; de outro, há o reconhecimento de que muitas vezes a ciência se manifesta incapaz de fornecer elementos de convicção para fundamentar a tomada de decisão pública racional. → Para lidar com os impasses relativos aos níveis de emissão de rejeitos na natureza, a atitude de precaução consistiria na busca da maior redução possível das emissões, ao mesmo tempo que seriam aceleradas as pesquisas científicas destinadas a avaliar com mais precisão os riscos envolvidos e se procuraria encontrar fontes alternativas de energia mais limpas. AULA 3 - A AVALIAÇÃO ECONÔMICA DO MEIO AMBIENTE Classificação dos recursos naturais - A capacidade de recomposição de um dado recurso, durante o horizonte de tempo da vida humana, tem sido o principal critério para a classificação dos recursos naturais. Dessa forma, conforme os recursos sejam capazes de se recompor na natureza durante o período de vida do homem, eles poderão ser classificados da seguinte forma: renováveis ou reprodutíveis; e não renováveis, que também são denominados esgotáveis, exauríveis ou não reprodutíveis. Sobre o desaparecimento dos recursos renováveis - Um aspecto fundamental, que explica em grande parte o seu desaparecimento, é a incompatibilidade entre a dinâmica biológica, que é quem vai determinar a evolução, e a dinâmica econômica, que, por sua vez, determina a taxa de extração dos recursos. A dinâmica ecológica demonstra que o estoque de recursos naturais renováveis não é constante. Esse estoque cresce à medida que são apresentadas as condições para o seu crescimento. Essa expansão está condicionada a um limite máximo, que é definido pela capacidade de suporte (originado do termo carring capacity) do seu ecossistema. Por outro lado, a dinâmica econômica tende a pressionar no sentido do declínio de um recurso, na medida em que a sua taxa de extração exceder, de maneira persistente, a taxa de reposição do recurso. Considerações gerais sobre a velocidade de exaustão dos recursos não renováveis: 1ª - A taxa de extração do recurso exaurível será tanto maior quanto menor for o valor do royalty (recurso em estoque); 2ª - A taxa de utilização do recurso é diretamente proporcional à taxa de juros que desconta os fluxos de benefícios futuros (custo de oportunidade), de tal forma que uma elevação das taxas de juros promove um aumento da taxa de extração, reduzindo o prazo de esgotamento do recurso, já que a velocidade com que ele será extraído será maior. → Dependendo do grau de utilização de um determinado recurso, é possível considerar a possibilidade de esgotamento de recursos renováveis e de não esgotamento de recursos exauríveis. Integração do meio ambiente ao processo de tomada de decisão - Grande parte das decisões empresariais possuem reflexos sobre o meio ambiente, de forma que é preciso integrá-lo ao processo de tomada de decisão. Uma grande dificuldade para realizar essa integração reside no fato de que o meio ambiente não possui preços de mercado nem tampouco custos diretos ou indiretos de fabricação, como a maior parte dos produtos empregados pelo homem. Os preços e custos são elementos fundamentais para orientar a tomada de decisão dos gestores. Por essa razão, os instrumentos de avaliação econômica do meio ambiente estão se tornando importantes ferramentas de apoio à tomada de decisão dos gestores empresariais da atualidade. Proteção ao meio ambiente e a questão de equidade intertemporal - No caso dos recursos exauríveis, as decisões intertemporais se referem à época mais adequada para a sua exploração: é melhor consumir o recurso hoje ou deixá-lo para as gerações futuras? Além disso, em razão do esgotamento de um recurso finito, a dimensão intertemporal também implica a consideração de um certo “custo de uso”, que representa um valor que a geração presente deve pagar para compensar as gerações futuras pelo esgotamento desses recursos. Logo, na avaliação econômica do meio ambiente, o consumo das gerações futuras também deve ser levado em consideração, de tal forma a incorporar um componente de distribuição de riqueza intergeracional. Avaliação sob óticas de mercado e social para valoração monetária dos recursos ambientais - A mensuração dos custos e benefícios sociais, em virtude de sua contribuição para o bem-estar dos indivíduos, é o suporte da teoria econômica do bem-estar, e dela derivam as técnicas de valoração monetária dos recursos ambientais. Os métodos de valoração do capital natural incorporam essa forma de análise de custo-benefício, de maneira que os valores sociais dos bens e serviços devem considerar as variações de bem-estar e não apenas os valores de mercado. Isso significa que existe uma avaliação sob a ótica privada, ou de mercado, e uma avaliação sob a ótica social. Dificuldades da gestão ambiental - atuais problemas: baixas provisões orçamentárias em face dos altos custos de gerenciamento; políticas econômicas indutoras de perdas ambientais; questões de equidade (como, por exemplo, a tentativa de resolver supostas injustiças sociais tolerando a proliferação de favelas) que dificultam o cumprimento da lei. → Estas três categorias de problemas caracterizam uma situação na qual se faz necessária uma introdução de critérios econômicos na gestão ambiental. Os critérios econômicos devem, então, orientar a determinação de prioridades, ações e procedimentos para a gestão ambiental. A doutrina voltada para o gerenciamento dos recursos ambientais relaciona três abordagens que sintetizam as principais proposições analíticas: (i) Análise Custo-Benefício (ACB) - Técnica econômica mais empregada para a determinação de prioridades na avaliação de políticas. Os benefícios são bens e serviços ecológicos, cuja conservação acarretará na recuperação ou manutenção destes para a sociedade, impactando positivamente o bem-estar das pessoas. Por outro lado, os custos representam o bem-estar que se deixou de ter em função do desvio dos recursos da economia para políticas ambientais em detrimento de outras atividades econômicas. Com os procedimentos da ACB é possível, então, identificar as estratégias cujas prioridades aproveitam, da melhor maneira possível, os recursos. Isto é, estratégias cujos benefícios excedem os custos. A ordenação das alternativas de escolha em políticas é realizada com base no valor presente dos custos e benefícios descontados por uma taxa ao longo do tempo. As restrições desse método ficam por conta do adequado estabelecimento das taxas de desconto e das variabilidades (riscos) e incertezas associadas ao processo. (ii) Análise Custo-Utilidade (ACU) - Trata-se de um indicadorde benefícios que busca integrar critérios econômicos com critérios ecológicos. A ACU gera indicadores que são calculados para valores econômicos e também critérios ecológicos tais como: insubstitutibilidade (fato do benefício ser ou não substituível); vulnerabilidade (grau em que o objeto a ser protegido pode ser afetado com o impacto ambiental); grau de ameaça (nível em que o objeto a ser protegido encontra-se ameaçado com a atual ação humana); representatividade (importância relativa do objeto a ser protegido para o equilíbrio da Terra) e criticabilidade (urgência com que uma medida deve ser adotada, em virtude de sua rápida evolução). Cada indicador tem um peso absoluto e os benefícios das opções (de política, programas ou projetos) são avaliados com ponderações para cada indicador. Os resultados finais são, então, calculados para cada opção que representará alguma média ponderada para todos estes critérios. O principal problema metodológico presente na ACU diz respeito à determinação de escalas coerentes e aceitáveis para a definição e caracterização da importância relativa de cada um dos critérios. Existem ainda as dificuldades para quantificação do resultado absoluto dos benefícios correspondentes a cada um dos critérios, gerados por cada uma das opções. (iii) Análise Custo-Eficiência (ACE) - Empregada quando a estimação de benefícios ou utilidades for de difícil realização ou também quando ela se mostrar custosa além da capacidade institucional, restando apenas a possibilidade de ordenar as prioridades com base em critérios estritamente ecológicos. A ACE considera as várias opções disponíveis para se alcançar uma prioridade política pré-definida e compara os custos relativos destas em atingir seus objetivos. Desta maneira, é possível identificar a opção que assegura a obtenção do resultado desejado aos menores custos. A ACE não ordena as opções para que sejam definidas as prioridades, mas, sim, funciona como um instrumento para a definição de ações, uma vez que as prioridades foram previamente definidas. Isso significa que uma dada prioridade pode ser obtida por intermédio de distintas ações. Principal objetivo da avaliação econômica ambiental - Estimar os custos sociais decorrentes do uso de recursos sociais escassos, bem como incorporar os ganhos sociais decorrentes do uso desses recursos. Valor econômico total de um recurso do meio ambiente - Compreende a soma dos valores de uso e do valor de não uso (também chamado valor de existência). Por sua vez, os valores de uso compreendem a soma dos valores de uso direto, dos valores de uso indireto e dos valores de opção. O valor de uso direto de um recurso ambiental é aquele decorrente de sua utilização ou do consumo direto do recurso. Os valores de uso indireto são aqueles derivados das funções ecológicas do recurso. O valor de opção é a disposição a pagar do agente econômico pela opção de usar o recurso no futuro. O valor de existência ou valor de não uso de um recurso ambiental refere-se à satisfação pessoal em se saber que o objeto em questão está no seu local de origem, sem que o agente econômico venha a auferir qualquer vantagem direta ou indireta dessa existência do recurso natural. Para a avaliação dos recursos ambientais, existem dois conjuntos de técnicas - os métodos indiretos e os métodos diretos. Métodos indiretos - inferem o valor de um dado recurso natural com base na observação do comportamento dos agentes econômicos em mercados que têm relação com o ativo ambiental. Como esses métodos dependem do consumo do recurso ambiental, eles apenas podem estimar os valores de uso. Esses métodos são: (i) Custo de viagem – este método estima que o valor do uso recreativo de um recurso natural pode ser obtido a partir da análise dos gastos incorridos pelos visitantes desse lugar. (ii) Preços hedônicos – procura estimar um preço implícito por atributos ambientais associados a alguns bens comercializados em mercados, por meio da observação do preço praticado nesses bens. (iii) Custos de reposição – o valor de um recurso ambiental seria o custo de restauração das condições ideais desse recurso. (iv) Gastos defensivos ou custos evitados – estima os gastos que seriam incorridos em termos de bens substitutos, para não alterar a quantidade consumida de um dado recurso ambiental. (v) Produtividade marginal – pode ser empregado quando o recurso ambiental é um insumo da produção de algum bem ou serviço comercializado no mercado. (vi) Transferência de benefícios – supõe que as pessoas se comportam de forma similar com relação a um determinado recurso ambiental, que é revelado, por meio dos valores expressos pelos indivíduos com relação à sua disposição a pagar para evitar um dano advindo da degradação ambiental. (vii) Capital humano ou produção sacrificada – supõe que uma vida humana perdida equivale ao custo de oportunidade para a sociedade equivalente ao valor presente da capacidade daquele indivíduo de gerar renda. Métodos diretos - são aqueles que inferem as preferências individuais dos agentes econômicos, com relação aos recursos ambientais, a partir de perguntas feitas diretamente aos mesmos. Os métodos diretos são: (i) Valoração contingente – consiste no emprego de pesquisas amostrais para identificar, em termos monetários, as preferências dos agentes econômicos com relação aos bens que não são comercializados no mercado. São criados mercados hipotéticos para o recurso ambiental, com base na disposição a pagar ou a aceitar dos indivíduos, com relação a uma perda de qualidade ou de quantidade do recurso ambiental. Trata-se do único método que permite a estimação de valores de existência. (ii) Ranqueamento contingente – procura apresentar aos entrevistados múltiplas alternativas hipotéticas e características, com relação a um dado recurso ambiental, de tal forma que os mesmos as ordenem segundo suas preferências. Os valores relativos podem ser inferidos a partir desse ranking, sobretudo se alguma das características descritas possuir preço de mercado. AULA 4 - OS ELEMENTOS DA CONTABILIDADE DO MEIO AMBIENTE Auditoria Ambiental - trata da avaliação dos procedimentos relativos ao meio ambiente, bem como dos riscos que as ações da empresa sobre o ambiente natural podem acarretar sobre o seu patrimônio. Contabilidade Financeira Ambiental - tem por finalidade disponibilizar, para o público externo, informações acerca dos ativos e passivos ambientais da empresa. Contabilidade Gerencial Ambiental - trata da mensuração dos eventos econômicos ligados ao capital natural e da produção de informações para os gestores do meio ambiente. → A Contabilidade Ambiental surgiu a partir da necessidade de informações econômico- financeiras que permitissem lidar com os problemas de gestão do meio ambiente, haja vista que a contabilidade tradicional não era capaz de suprir esta demanda informacional. Contas ambientais - possuem uma classificação própria, sendo designadas da seguinte forma: ativos, passivos e patrimônio líquido meio ambiente; e as contas de resultado, ou seja, receitas, custos, despesas, ganhos e perdas meio ambiente. Em regra, emprega-se o termo “meio ambiente” após o nome tradicional da conta. Também é válido o emprego do termo “ambiental”, de maneira que é possível designar ativo meio ambiente ou ativo ambiental. Ativo ambiental - para efeito de elaboração de um relatório de contabilidade ambiental, um ativo ambiental representa todos os benefícios econômicos de natureza ambiental, futuros e prováveis, que são controlados ou obtidos por uma entidade ou organização,como consequência de prevenção, recuperação, monitoramento e reciclagem. Reciclagem - compreende as ações que têm por objetivo possibilitar a reutilização de materiais e produtos, de tal maneira a estender o seu ciclo de vida e reduzir os problemas ocasionados pelos depósitos de dejetos ou de emissão de substâncias poluentes. Recuperação - envolve as ações que pretendem sanar danos decorrentes da poluição, reconstituindo a situação original. Quando a reconstituição não for possível, a ação de recuperação busca ao menos melhorar um pouco a situação atual. Prevenção ou proteção - compreende as ações específicas que têm o objetivo de evitar ou proteger o meio ambiente de agressões causadas pela ação antrópica ou por catástrofes naturais. Monitoramento - diz respeito às ações de controle e acompanhamento dos níveis de poluição, bem como dos programas de prevenção, e, ocasionalmente, também dos programas de recuperação do meio ambiente. → O critério que permite distinguir um ativo ambiental de um ativo de natureza não ambiental passa pelo objetivo principal que a entidade tinha ao adquirir o mesmo. Tal critério, eivado de subjetividade, de certa forma é incompatível com a contabilidade tradicional, que se baseia na objetividade. Para amenizar esta contradição, alguns autores afirmam que os ativos ambientais devem ser assim considerados quando a sua utilidade se restringir à operacionalização do meio ambiente. Dessa forma, atendendo à concepção objetiva da contabilidade tradicional aplicada ao Sistema de Informação Contábil Ambiental (SICA), são considerados como elementos “meio ambiente” todos aqueles que estiverem vinculados às atividades ora descritas. Elementos contábeis do ativo ambiental: a) Estoques – consistem nos insumos adicionáveis ao processo produtivo com o objetivo de eliminar, reduzir ou controlar os níveis de emissão de resíduos, incluindo-se os materiais destinados à recuperação do meio ambiente que porventura for afetado pela ação da empresa. b) Permanentes – classificam-se em imobilizado e diferido. Incluem-se no imobilizado meio ambiente as máquinas, os equipamentos, as instalações, bem como a tecnologia adquirida ou desenvolvida para ser empregada nas atividades de recuperação, prevenção, reciclagem e monitoramento, de tal forma a diminuir o impacto ambiental causado pela ação da empresa. Por sua vez, o diferido ambiental compreende, por exemplo, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias a longo prazo, com vistas à busca de soluções para problemas decorrentes de impactos ambientais. Passivo meio ambiente - compreende as obrigações que exigirão a entrega de ativos ou a prestação de serviços num momento futuro, em virtude de transações passadas ou presentes e que envolveram a entidade e o meio ambiente. O entendimento é no sentido de que o passivo está no futuro, originado por um fato gerador passado ou presente decorrente de uma dívida ou de um ato que cause impacto, e esteja relacionado ao meio ambiente, que vai demandar, num prazo fixado, a entrega de ativos ou a prestação de serviços. → Quando for possível registrar um passivo ambiental por mais de um valor, utiliza-se o princípio contábil da prudência, registrando aquele que possuir o maior valor. (Rob Gray) A contabilidade do meio ambiente pode contribuir em cinco áreas: (i) mudança nos sistemas de contabilidade existentes; (ii) eliminação de aspectos conflitantes nos sistemas de contabilidade; (iii) planejamento das implicações financeiras de projeções sobre as despesas de capital; (iv) introdução do desempenho ambiental nos relatórios externos; (v) desenvolvimento de uma nova contabilidade e sistema de informações. → A designação Contabilidade Financeira Ambiental não deve sugerir a existência de uma nova contabilidade, mas sim a evidenciação para os clientes externos da organização, tais como os debtholders e stockholders, dos fatos contábeis que envolvam as alterações das contas relativas ao meio ambiente, com base nos postulados e princípios contábeis tradicionais. Debtholders, stockholders, shareholders e stakeholdes - Debtholders e stockholders são, respectivamente, os portadores de títulos de dívida das empresas e os portadores de ações da empresa. Constituem, portanto, aqueles que compõem, com seus haveres, as fontes de recursos que financiam os ativos da empresa. No seu conjunto, podem também ser designados por shareholders (ambos debtholders e stockholders). Atualmente, em virtude de um maior nível de responsabilidade social corporativa, existe uma tendência na conciliação dos interesses de todas as partes interessadas ou impactadas pelas ações da empresa, e por essa razão emprega- se o conceito de stakeholder, que compreende os shareholders mais os clientes, fornecedores, governo e demais partes interessadas, como, por exemplo, a comunidade do entorno de uma fábrica. Fato gerador - Um elemento importante para a contabilização de eventos econômicos que alterem o patrimônio da entidade, e que esteja direta ou indiretamente ligado ao meio ambiente, é denominado fato gerador e deve ser reconhecido contabilmente, ainda que o seja apenas em notas explicativas. Em regra, um fato gerador relativo ao meio ambiente está associado a um fato na empresa. Plano de Contas - Peça fundamental de um planejamento contábil. Um efetivo Plano de Contas deve permitir a emissão de relatórios financeiros e gerenciais que atendam às necessidades de informações dos gestores de demais partes interessadas nas operações da empresa. Um Plano de Contas deve ser objetivo e claro, contendo as contas que receberão os registros das transações econômicas realizadas ou dos fatos geradores. Ademais, um Plano de Contas deve ter uma estrutura flexível, de tal forma a permitir atualizações que garantam a fidelidade dos registros em face das transações realizadas. Custos diretos e indiretos - Custos diretos são aqueles cujos fatos geradores afetam o ambiente natural e cujos impactos podem ser associados diretamente a uma ação poluidora ou recuperadora ocorrida numa área sob a responsabilidade da entidade, tais como os custos de produção e estocagem. Já os custos indiretos são os fatos geradores que afetam o meio ambiente de forma indireta e cujos impactos poluidores se manifestam fora da área física sob a responsabilidade da entidade, tal como ocorre com as baterias de telefones celulares. Lucro ambientalmente correto - A ideia de lucro ambientalmente correto está relacionada à capacidade evidenciada pela empresa de gerar resultados econômicos positivos sem desrespeitar o meio ambiente, ou seja, sem provocar poluição. → Para a contabilização do meio ambiente deve ser empregada a regra “evidenciar quando não se puder estimar e reconhecer quando for possível estimar”, o que significa dizer que, se o cálculo não permitir estimativas razoáveis, deve ser evidenciado em Notas Explicativas. Caso seja possível estimar com um razoável grau de acuidade, deve ser feita a provisão. Tal regra é válida tanto para os ativos quanto para os passivos ambientais. Passos fundamentais para mensurar os fatos contábeis ambientais: - Avaliação dos gastos e benefícios ambientais; - Sanar os impactos negativos através da utilização dos Sistemas de Gestão Ambiental; - Avaliação, classificação e mensuração dos eventos ambientais em um Plano de Contas Ideal. Aspectos de contabilidade gerencial ambiental - sistema Gecon (Gestão Econômica) - No sistema Gecon, considera-se o gestor como o responsável pelos aspectos operacionais, econômicos e financeiros de suas decisões. Do ponto de vista operacional,os objetos do gerenciamento, ou aspectos físicos do processo de gestão, são a quantidade, a qualidade e os prazos. Sob a ótica econômica, o gerenciamento é voltado para os custos dos recursos consumidos e para as receitas geradas pelos produtos e serviços. Por sua vez, o aspecto financeiro é representado pelos impactos causados nos fluxos de pagamentos e recebimentos, bem como pelos prazos em que esses eventos ocorrem. Assim, o resultado de cada decisão tomada deve ser mensurado com base nesses aspectos. Degradação produzida - Trata-se do principal evento econômico ambiental a ser considerado. A sua mensuração é baseada nos efeitos econômicos previstos, resultante da degradação ocorrida e que deve ser reconhecida no momento da ocorrência. Os efeitos econômicos são mensurados considerando-se o custo de oportunidade, ao menor preço de mercado à vista para cada um dos efeitos previstos. Receita de serviços da Gestão Ambiental - Essa receita compreende os serviços prestados pelas atividades de prevenção, manutenção e recuperação. Esses serviços são mensurados tomando- se por base os benefícios que trazem para a entidade, em termos de economia de custos gerada sobre multas que deixarão de ocorrer, tratamento de doenças que serão evitadas, adicionais sobre salários que não serão mais necessários, impostos sobre o meio ambiente cujo fato gerador não mais se manifestará etc. Receita de venda de produto reciclado - Refere-se ao preço de mercado para o produto reciclado pronto, que poderá ser transferido para a produção ou ser vendido a terceiros. Reversão da previsão para contingências ambientais - Este evento representa o reconhecimento de uma mudança de expectativas sobre os efeitos previstos da degradação, cuja contingência já tenha sido registrada. As mudanças de expectativas podem ser de múltiplas origens e significam tanto um aumento quanto uma diminuição no valor inicialmente estipulado. AULA 5 - A POLÍTICA DE MEIO AMBIENTE E A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL Política Ambiental - conjunto de metas e instrumentos que visam reduzir os impactos deletérios da ação humana sobre o meio ambiente. Uma Política Ambiental, portanto, é capaz de interferir nas atividades dos agentes econômicos, sobretudo porque a forma pela qual ela é estabelecida vai influenciar outras políticas públicas, tais como a Política Industrial e a Política de Comércio Exterior. Fases da intervenção estatal nas questões relativas ao meio ambiente nos países desenvolvidos: 1- A primeira fase estendeu-se do fim do século XIX até o período anterior à Segunda Guerra Mundial. Essa fase se caracterizou pela disputa em tribunais, onde os agentes lesados pela ação poluidora sobre os recursos naturais entram em juízo contra os agentes poluidores ou devastadores do meio ambiente. 2- Nos anos 1950, iniciou-se a segunda fase. Essa fase ficou conhecida como a de políticas de comando e controle, caracterizada pela imposição, pela autoridade ambiental estatal, de determinados padrões de emissão incidentes sobre a produção final (ou sobre o nível de utilização de um insumo básico) do agente poluidor; e pela determinação da melhor tecnologia disponível para permitir a redução da poluição e o cumprimento do padrão de emissão dos efluentes poluidores. 3- Os países desenvolvidos atualmente encontram-se numa terceira fase de política ambiental, definida como uma política mista de comando e controle. Os padrões de emissão deixam de ser o objetivo final da intervenção do Estado e passam a ser um instrumento, dentre outros possíveis, de políticas que empregam diversas alternativas e possibilidades para a consecução de metas acordadas socialmente. Instrumentos de comando e controle - Dentre os instrumentos de comando e controle, os mais conhecidos são aqueles que impõem padrões ou níveis de concentração máximos aceitáveis de poluentes. Esses padrões podem ser de três tipos: Padrões de qualidade ambiental - dizem respeito aos níveis máximos de poluição admitidos no meio ambiente e são, em geral, segmentados em ar, água e solo. Esses níveis são estabelecidos como médias aritméticas ou geométricas de concentração diária ou anual, de tal forma a permitir a incorporação de variações climáticas que afetam a dispersão e a concentração dos poluentes. Padrões de emissão - referem-se aos lançamentos de poluentes individualizados por fonte, seja ela fixa ou estacionária, como são as fábricas e os estabelecimentos comerciais em geral, ou móvel, tal como veículos em geral. Dessa forma, os padrões de emissão estabelecem uma quantidade máxima aceitável de cada tipo de poluente por fonte emissora. Padrões ou estágios tecnológicos - Quando o padrão é estabelecido com base em tecnologia, o Estado restringe as opções e direciona a escolha de equipamentos, instalações e práticas operacionais e administrativas, acabando por uniformizar os agentes produtivos que atuam num dado segmento. O termo “tecnologia” abrange máquinas, instalações, ferramentas, materiais e outros elementos físicos de um estabelecimento ou uma unidade fabril, e ainda abrange as práticas administrativas e operacionais, tais como a especificação e a seleção de materiais, a avaliação de fornecedores, os métodos de inspeção, o roteiro de produção, o planejamento da manutenção e o treinamento. → Existem ainda outros instrumentos de comando e controle, que são as proibições ou banimentos da produção, comercialização e uso de produtos e o estabelecimento de cotas de produção, comercialização ou utilização de materiais ou recursos. BATNEEC (Melhor Tecnologia Disponível que Não Acarreta Custo Excessivo) - O conceito Batneec é bastante empregado nos EUA e em alguns países da Europa para a fixação de limites de emissão de poluentes. Esse conceito procura evitar que se estabeleça como padrão uma tecnologia disponível que apresente um resultado adicional muito pequeno em relação às outras tecnologias, contudo com um custo proporcionalmente mais elevado. Além disso, esse conceito se preocupa em evitar que o custo adicional da implementação da melhor tecnologia não inviabilize os empreendimentos sob a ótica econômica. Instrumentos econômicos para proteção do meio ambiente - São estímulos ao comportamento dos agentes. Podem se efetivar sob a forma de incentivos fiscais, financiamentos subsidiados e outros benefícios transferidos aos particulares. Princípio do Poluidor-Pagador - Trata-se do princípio do “poluidor que paga”. O pagamento pode assumir diferentes formas: a de investimentos necessários para adequar-se às normas mais severas, a de obrigação de recuperação, reciclagem ou eliminação de produtos depois de seu uso, ou de uma taxa imposta às empresas ou consumidores que utilizem produtos antiecológicos, como é o caso de alguns tipos de embalagens. Com base nesse princípio, o agente social causador da poluição deve arcar com o custo da manutenção do meio ambiente dentro de parâmetros aceitáveis de qualidade. → A adoção de instrumentos econômicos permite até que um agente possa emitir além do limite estabelecido como padrão, desde que outros agentes decidam reduzir seus níveis de emissão por meio de compensações financeiras. Essas compensações financeiras podem ser diretas, por meio da venda de certificados de emissão (o agente paga pelo direito de poluir), ou indiretas, por meio da redução do imposto a pagar. Evolução histórica da Política Ambiental no Brasil - O ano de 1934 foi uma data de referência para a Política Pública Ambiental do Brasil, em virtude da promulgação de uma ampla legislação relativa à gestão de recursos naturais. Não obstante, asquestões ambientais nesse período ainda eram percebidas e tratadas de forma isolada e localizada, com uma repartição do meio ambiente em categorias tais como solo, ar e água, e a manutenção da divisão até então praticada para os recursos naturais (água, florestas, recursos minerais etc.). Apenas no início dos anos 1980 é que essas questões foram consideradas generalizadas e interdependentes, de forma a merecerem uma abordagem mais integrada. O advento da Lei 6.938 de 1981 estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente, o que representou uma importante mudança no tratamento das questões ambientais, uma vez que procurava integrar as ações governamentais dentro de uma abordagem sistêmica. Outro grande impulso no tocante ao aperfeiçoamento da Política Ambiental no Brasil ocorreu com a promulgação da Constituição Federal de 1988, quando ficou estabelecido que a defesa do meio ambiente seria um dos princípios a serem observados para as atividades econômicas em geral, e foi incorporado no seu bojo o conceito de desenvolvimento sustentável no Capítulo VI, dedicado ao meio ambiente. Outra grande inovação foi a promulgação da Lei dos Crimes Ambientais (Lei 9.605, de 1998), que passou a estabelecer sanções administrativas e penais derivadas de atividades e condutas que causam danos ao meio ambiente. → Hoje há a percepção de que o Brasil possui uma legislação ambiental muito boa, completa e até avançada. Contudo, o que falta para que seja atingida sua total eficácia é a plena aplicação e fiscalização por parte dos órgãos governamentais encarregados de executá-la. AULA 6 - OS CRITÉRIOS PARA A GESTÃO DO IMPACTO AMBIENTAL Impacto ambiental - alterações no meio ambiente físico, biótico e social em razão de atividades humanas em andamento ou em fase de proposta. O impacto pode ser real ou potencial. O impacto será real quando a atividade já estiver em execução. No caso de uma atividade que ainda será implementada e está na fase de proposta, o impacto será potencial. Nesse último caso, o impacto se tornará real caso a atividade seja implementada no futuro. Os impactos podem gerar efeitos positivos - A ideia de que os impactos dizem respeito apenas aos efeitos negativos decorre do fato de que a degradação ambiental é algo muito nítido para as pessoas, e ela resulta das ações humanas. Porém, também existem impactos positivos, que são aqueles que conferem sustentabilidade econômica, social e ambiental ao empreendimento ou atividade. Estudos de Impacto Ambiental (EIA) - é um procedimento de caráter analítico técnico-científico, elaborado por equipe multidisciplinar, que diz respeito à caracterização e descrição dos impactos ambientais previsíveis em virtude de obras ou de atividades a serem implantadas em determinadas áreas, com sugestões específicas relacionadas a alternativas que sejam consideradas mais apropriadas para reduzir os efeitos deletérios sobre o meio ambiente. O EIA deve ser sintetizado sob a forma de um relatório, denominado Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), que deverá servir como instrumento de divulgação. O objetivo do EIA é permitir antecipadamente que se tenha ciência dos efeitos deletérios ao meio ambiente físico, biótico e social ocasionados pela implantação de empreendimentos e atividades. O EIA se presta como subsídio de planejamento ecológico para instruir a autoridade competente na tomada de decisão relativa à outorga da licença ambiental com base nas informações nele contidas. Tipos de licenças ambientais: (i) Licença prévia: é necessária para a fase preliminar de planejamento da atividade, contendo requisitos básicos a serem atendidos nas fases de localização, instalação e operação, levando- se em conta as restrições governamentais quanto ao uso do solo. (ii) Licença de instalação: autoriza o início da implantação, de acordo com as especificações constantes do projeto executivo aprovado. (iii) Licença de operação: autoriza, após as devidas verificações, o início da atividade licenciada e o funcionamento de seus equipamentos de controle da poluição, de acordo com o estabelecido na licença prévia e de instalação. Alguns problemas decorrentes da utilização do EIA como instrumento de planejamento ambiental: (i) o EIA pode ser reduzido a avaliações muito localizadas e pontuais, de forma que, em situações em que não existirem cenários de planejamento, podem ocorrer conflitos com os objetivos regionais já estabelecidos; (ii) a tradição de conhecimentos compartimentados em setores e a inexperiência de trabalhos multidisciplinares integrados, por parte dos profissionais em geral, comprometem a eficácia das equipes multidisciplinares que devem elaborar o EIA; (iii) a ausência de séries históricas de dados sistematizados no país compromete a análise ambiental qualitativa e quantitativa; (iv) a resistência de algumas agências governamentais, sobretudo nos setores de energia e transporte, tanto na esfera federal quanto na estadual, que ainda não incorporaram o fato de que a racionalização do uso dos recursos naturais e o esforço de conservação da natureza são fundamentais para o desenvolvimento econômico do país; (v) a visão parcial e fundamentalista de parcela do movimento ambiental, que admite apenas a preservação absoluta da natureza e que, ao participar dos procedimentos de avaliação ambiental, é sempre contra qualquer forma de intervenção, mesmo aquelas que são baseadas em escolhas corretas de alternativas e que o objetivo do projeto redunde em novos benefícios sociais. Quanto ao conteúdo, o EIA deverá conter os seguintes itens, com vistas à obtenção do licenciamento ambiental junto ao órgão competente: 1º. Um amplo diagnóstico ambiental acerca da área de influência do projeto; 2º. A análise dos impactos ambientais do projeto e suas alternativas; 3º. A definição das medidas que vão mitigar os impactos negativos; 4º. A elaboração de um programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos positivos e negativos. → O uso do EIA se constitui num importante instrumento de política ambiental. Contudo, nem todos os projetos e empreendimentos requerem esse instrumento para terem a sua licença concedida. Distinção entre o EIA e o RIMA - O EIA envolve um estudo mais amplo, compreendendo identificação e classificação dos impactos, predição de efeitos, pesquisas de campo, análises laboratoriais, valoração monetária de recursos ambientais, avaliação de alternativas e outros trabalhos correlatos. Por sua vez, o RIMA deve expressar de forma conclusiva este conjunto de trabalhos, de tal forma a evidenciar uma avaliação valorativa que identifique se o projeto é ou não nocivo ao meio ambiente e em que grau. Tópicos que o RIMA deve contemplar, sob pena de não ser aceito pelo órgão ambiental competente: 1º. os objetivos e as justificativas do projeto, bem como a sua aderência com as políticas setoriais e planos governamentais; 2º. a descrição do projeto e suas alternativas de localização; 3º. a síntese dos resultados dos estudos de diagnóstico ambiental da área de influência do projeto; 4º. a descrição dos prováveis impactos ambientais decorrentes da implantação e operação da atividade; 5º. a caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, comparando as diferentes situações de adoção do projeto e suas alternativas, assim como a hipótese de sua não-realização; 6º. a descrição dos efeitos esperados das medidas mitigadoras previstas em relação aos impactos negativos; 7º. o programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos; 8º. as recomendações quanto à alternativa mais favorável. Plano de Recuperaçãode Áreas Degradadas (PRAD) - utilizado para empreendimentos voltados para a exploração de recursos minerais, e que deve indicar as ações que deverão ser implementadas quando a exploração mineral chegar ao fim. O objetivo dessa recuperação será o retorno do sítio degradado a alguma forma de utilização, visando à estabilidade do meio ambiente. Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança (EIV) - A Lei municipal é quem deve definir quais serão os empreendimentos e as atividades sujeitos à realização de EIV para a obtenção de licença ou autorização de construção, ampliação ou funcionamento. O EIV deve contemplar os efeitos positivos e negativos dos empreendimentos ou atividades na qualidade de vida da população residente nas proximidades, tomando por base a análise das seguintes questões: o adensamento populacional; os equipamentos urbanos e comunitários; o uso e a ocupação do solo; a valorização imobiliária; a geração de tráfego e a demanda por transportes públicos; a ventilação e a iluminação; e a paisagem urbana e o patrimônio natural e cultural. O EIV também tem na publicidade um requisito essencial e não substitui o EIA, caso este último seja exigido pela legislação ambiental. Métodos de avaliação de impacto ambiental: •Método de lista: Os métodos mais simples empregam listas de verificação ou de controle (check list) para avaliar e interpretar os impactos que poderão ocorrer caso o projeto seja efetivamente implantado. Para a elaboração da lista, são identificadas as características ou os indicadores de qualidade ambiental que podem sofrer impacto, em virtude das ações previstas no projeto. A principal vantagem do método de lista é a simplicidade. Nos casos de empreendimentos ou atividades de caráter repetitivo, podem ser elaboradas listas num padrão comum, o que tende a facilitar mais ainda a sua aplicação. Uma grande desvantagem do emprego de listas reside no fato de que elas fornecem apenas uma visão segmentada dos impactos, uma vez que os itens de verificação na lista são avaliados de forma isolada, não permitindo a compreensão das interações entre os impactos provocados. •Método Battelle-Columbus: Método mais sofisticado no qual a lista se estrutura numa árvore hierárquica com quatro fatores ambientais, que seriam os critérios principais, e 78 parâmetros distribuídos pelos critérios, com um sistema de ponderação, que atribuiria pesos aos parâmetros e aos critérios. O impacto ambiental é dado pela diferença entre uma medição (com o projeto) e outra (sem o projeto). Esse método possui as mesmas vantagens dos métodos de check list, acrescidas da possibilidade de quantificação dos impactos listados, em que pese o fato do subjetivismo associado ao sistema de quantificação empregado. Esse subjetivismo ocorre porque os avaliadores atribuem valores conforme suas impressões pessoais sobre os aspectos de cada fator principal. Não obstante, esse método é limitado no que concerne às interações entre os impactos, da mesma maneira que os métodos de listas. •Matriz de Leopold: É utilizada para a análise da interação entre os impactos. A matriz de Leopold é composta por 100 colunas representando as ações humanas que podem causar impactos ambientais e 88 linhas representando os componentes ambientais que podem ser afetadas por ações humanas, formando 8.800 células, cada uma delas representando uma correspondência entre um fator ou característica ambiental e uma ação impactante. Atualmente, é um dos instrumentos mais usados em EIA, pois apresenta a facilidade operacional das listas de verificação, com o benefício adicional de permitir uma avaliação geral dos impactos associados às ações previstas no projeto ou empreendimento. Por sua vez, também possui desvantagens, tais como o subjetivismo na mensuração da magnitude e da importância dos impactos identificados e a dificuldade para tratar os impactos indiretos e a interação entre os impactos. Deficiências do EIA com relação aos métodos de avaliação - O EIA apresenta múltiplas deficiências, algumas em razão dos métodos de avaliação. Uma delas é a dificuldade de avaliar os impactos considerando as diversas interações que podem ocorrer entre eles, bem como os efeitos retardados e cumulativos. Um outro problema é a dificuldade de delimitar corretamente a área de influência dos impactos. Um outro problema relativo ao EIA é o seu uso fragmentado, projeto a projeto, cada um deles sendo elaborado sem que se considere os demais e seu efeito em conjunto. → Na tentativa de atenuar este último problema, hoje estão sendo desenvolvidas metodologias de avaliação que vão além dos projetos individuais, tais como a Avaliação Estratégica Ambiental (AEA), que tem por foco as políticas, os planos e os programas alinhados com as propostas de desenvolvimento sustentável, todos eles sendo considerados desde a formulação e processos de decisão. AULA 7 - OS ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA AGENDA 21 A Agenda 21 - consiste numa série de encontros realizados pelas Nações Unidas sobre o meio ambiente e suas relações com o desenvolvimento dos países. O seu documento final reuniu os debates mais completos e profundos sobre essa temática. O encontro foi denominado Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Essa conferência foi celebrada no Rio de Janeiro em 1992 (Eco 92). A Agenda 21 consubstancia as estratégias, os planos, as políticas e os processos a serem implementados no âmbito dos governos nacionais, bem como as formas de cooperação internacional que deverão complementar esses esforços nos respectivos países. Seções da agenda 21: 1ª- A primeira seção trata das questões relativas às dimensões sociais e econômicas, enfatizando: as medidas de cooperação internacional para acelerar o desenvolvimento sustentável; o combate à pobreza; as mudanças do padrão de consumo; a dinâmica demográfica e a sustentabilidade; a promoção das condições de saúde humana; a viabilidade do desenvolvimento sustentável dos assentamentos humanos e a integração entre meio ambiente e desenvolvimento na tomada de decisões. 2ª- A segunda seção diz respeito às questões relativas à conservação e ao gerenciamento dos recursos para o desenvolvimento. Subdivide-se nos seguintes tópicos: proteção da atmosfera; abordagem integrada do planejamento e do gerenciamento dos recursos terrestres; combate ao desflorestamento; manejo de ecossistemas frágeis para evitar a desertificação e a seca; gerenciamento de ecossistemas frágeis, promovendo a sustentabilidade nas montanhas; promoção do desenvolvimento agrícola e rural sustentável; conservação da diversidade biológica; manejo ambientalmente saudável da biotecnologia; proteção dos oceanos e mares; proteção da qualidade e do abastecimento dos recursos hídricos; manejo ecologicamente saudável das substâncias químicas tóxicas e dos resíduos perigosos; e o manejo ambientalmente saudável dos resíduos sólidos e dos resíduos radioativos. 3ª- A terceira seção trata do fortalecimento e do papel dos grupos principais. As seguintes vertentes de ação são contempladas: ação mundial pela mulher; a infância e a juventude no desenvolvimento sustentável; o reconhecimento e fortalecimento das populações indígenas e de suas comunidades; o reconhecimento e fortalecimento do papel das organizações não governamentais como parceiros para um desenvolvimento sustentável; iniciativas das autoridades locais em apoio à Agenda 21; fortalecimento do papel dos trabalhadores; fortalecimento do papel do comércio e da indústria; a comunidade científica e tecnológica e o fortalecimento do papel dos agricultores. 4ª- A quarta seção trata dos meios para a implementação dosmúltiplos tópicos contemplados no seu bojo. Para tanto, aborda os seguintes quesitos: recursos e mecanismos de financiamento; transferência de tecnologia ambientalmente saudável, com cooperação e fortalecimento institucional; promoção do ensino, da conscientização e do treinamento; mecanismos nacionais e cooperação internacional para o fortalecimento institucional nos países em desenvolvimento; arranjos institucionais internacionais; instrumentos e mecanismos jurídicos internacionais e informações para a tomada de decisões. A economia internacional será capaz de oferecer um clima internacional propício para a realização das metas relativas ao meio ambiente e ao desenvolvimento, uma vez que realize as seguintes ações: (i) promoção do desenvolvimento sustentável por intermédio da liberalização do comércio; (ii) estabelecimento de apoio recíproco entre o comércio e o meio ambiente; (iii) oferta de recursos financeiros suficientes aos países em desenvolvimento e iniciativas concretas em face do problema da dívida internacional; (iv) estímulo de políticas macroeconômicas favoráveis ao meio ambiente e ao desenvolvimento. → A comunidade internacional deve promover um sistema de comércio internacional que considere as necessidades dos países em desenvolvimento, com vistas ao fortalecimento de atividades de cooperação e coordenação internacional e regional. As ações orientadas nesse sentido são: - Interromper e fazer retroceder o protecionismo, a fim de permitir maior liberalização e expansão do comércio mundial, em benefício de todos os países; - Providenciar um sistema de comércio internacional equitativo, seguro, não discriminatório e previsível; - Facilitar a integração de todos os países à economia mundial e ao sistema de comércio internacional; - Cuidar para que as políticas comerciais e ambientais sejam de apoio mútuo, para concretizar o desenvolvimento sustentável; - Fortalecer o sistema de políticas comerciais internacionais, procurando atingir resultados equilibrados, abrangentes e positivos nas rodadas comerciais multilaterais. Sobre o combate à pobreza - é requisito fundamental para a solução desse problema o desenvolvimento de programas específicos para cada país, com atividades internacionais de apoio às ações nacionais. Para que uma estratégia venha a ter êxito com relação aos problemas da pobreza, do desenvolvimento e do meio ambiente, é preciso que sejam considerados múltiplos aspectos simultaneamente, tais como os recursos, a produção, as pessoas, as questões demográficas, o aperfeiçoamento dos cuidados com a saúde e a educação, os direitos da mulher, o papel dos jovens, dos indígenas e das comunidades locais. Sobre a mudança nos padrões de consumo - os padrões de consumo devem ser modificados porque, atualmente, verifica-se uma demanda excessiva e há estilos de vida insustentáveis nos segmentos mais ricos, que exercem grande pressão sobre o meio ambiente, ao mesmo tempo que os segmentos mais pobres não têm condições de ser atendidos em suas necessidades de alimentação, saúde, moradia e educação. A mudança nos padrões de consumo vai exigir uma estratégia abrangente, que deverá estar centrada na demanda dos recursos, contemplando desde o atendimento das necessidades básicas dos pobres até a redução dos desperdícios e do uso de recursos não renováveis nos processos de produção. Sobre a dinâmica demográfica e a sustentabilidade - Verifica-se que o crescimento da população mundial e da produção, associado a padrões não sustentáveis de consumo, impõe uma pressão cada vez mais intensa sobre as condições do planeta para sustentar a vida. Alinhada com essa questão, a Agenda 21 sugeriu que fossem perseguidos os seguintes objetivos: a) A incorporação de tendências e fatores demográficos à análise mundial das questões envolvendo o meio ambiente e desenvolvimento. b) O desenvolvimento de uma melhor compreensão dos vínculos entre dinâmica demográfica, tecnologia, comportamento cultural, recursos naturais e sistemas de sustento da vida. c) A avaliação da vulnerabilidade humana em áreas ecologicamente sensíveis e centros populacionais, para determinar as prioridades em todos os níveis, levando-se em conta as prioridades definidas pela comunidade. AULA 8 - A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS → Dentre as novas posturas a serem adotadas com relação ao uso da água, uma delas tem efeito imediato sobre o seu gerenciamento: tratá-la como um bem dotado de valor econômico. Alguns países do mundo, dentre eles o Brasil, na tentativa de conferir valor econômico à água bruta (sem qualquer beneficiamento), têm adotado a cobrança pelo seu uso. Atualmente, esse é um dos instrumentos econômicos de gestão ambiental mais disseminados mundialmente. Princípio do Poluidor-Pagador - é uma norma de Direito Ambiental que consiste em obrigar o poluidor a arcar com os custos da reparação do dano por ele causado ao meio ambiente. No Brasil, o meio ambiente equilibrado é um direito constitucional, fato que gerou uma série de princípios norteadores de conduta na sociedade. Dentre esses princípios, destaca-se o da prevenção do dano ambiental. Trata-se de uma medida que deve ser priorizada em detrimento da reparação, pois os custos de uma ação reparadora, via de regra, serão maiores e menos eficazes do que a ação preventiva. A prevenção deve vir associada a outros princípios, que a complementam. O Princípio do Poluidor-Pagador é uma destas ferramentas complementares de preservação ambiental, que procura fazer com que os custos da poluição sejam arcados pelo próprio poluidor. Com base neste princípio, o agressor do meio ambiente passa a se responsabilizar pela eliminação ou redução da poluição causada. Princípio do Usuário-Pagador - se diferencia do Princípio do Poluidor-Pagador na medida em que será exigido do usuário de recursos naturais o pagamento de um valor em virtude da utilização dos bens naturais, ainda que não seja gerada qualquer poluição. Não confundir o Princípio do Poluidor-Pagador com "permissão para poluir - O Princípio do Poluidor-Pagador trata especificamente da proteção ao meio ambiente. A imposição de recuperar e/ou indenizar é uma consequência de um ato que causa dano ao meio ambiente, e não uma autorização para poluir. Diretrizes para as políticas de gestão de recursos hídricos confirmadas na Eco 92: (i) o desenvolvimento deve ser sustentável, de forma que o gerenciamento eficiente dos recursos hídricos implique uma abordagem que torne compatíveis o desenvolvimento socioeconômico e a proteção dos ecossistemas naturais; (ii) o desenvolvimento e o gerenciamento devem apoiar-se, em todos os níveis, na participação dos usuários, dos tomadores de decisões e dos planejadores; (iii) a água tem valor econômico para todos os seus usos. → Para tornar efetiva a implementação dessas diretrizes, os governos devem estabelecer os arranjos institucionais em nível local, nacional e internacional que permitam um gerenciamento mais eficiente dos escassos recursos e encorajar investimentos voltados para esse campo. Justificativas para a cobrança pelo uso da água - o uso intensivo dos recursos hídricos sem qualquer contrapartida de seu usuário gera deseconomias ou externalidades para outros agentes, que por sua vez não serão internalizadas na função de custos desse usuário. Assim, enquanto o usuário se beneficia do recurso, ele provoca redução de utilidade para outros agentes e não os compensa por esse ônus. Os encargos do uso e degradação, que são denominados externalidades, vão recair sobre a sociedade. Para promover a internalização desses custos sociais é que se instituiu a cobrançapelo uso da água. Assim, a cobrança deve incidir sobre os metros cúbicos de água reservados para atender à demanda de um usuário para captação, consumo, diluição de efluentes e mesmo para outros usos que, aparentemente, são inofensivos, tais como a geração de energia elétrica ou navegação. → Sob a ótica doutrinária da Gestão de Recursos Hídricos, é recomendável que a cobrança pelo uso da água, juntamente com os instrumentos econômicos usados na gestão ambiental em geral, atenda a critérios relativos à sua aplicabilidade, eficiência e efetividade. Com relação aos efeitos sobre o comportamento dos usuários, os principais critérios de avaliação de um instrumento econômico são: (i) Eficiência econômica – com base na Teoria Econômica, verificamos que uma alocação eficiente de um recurso se verifica no momento em que o preço refletir o custo marginal de provisão desse recurso. Dessa forma, no caso dos diferentes usos da água, a cobrança deve ter a capacidade de incorporar os custos sociais (externalidades) decorrentes do seu uso. (ii) Impacto ambiental – é uma função da capacidade evidenciada pelo instrumento de induzir comportamentos desejados nos poluidores e consumidores, de tal forma a melhorar a qualidade ambiental. (iii) Aceitabilidade – trata-se da forma como o instrumento é aceito e recebido pelos que são impactados por ele. No caso da água, os impactados são as pessoas e as empresas que a usam. Em regra, a implementação deve ser feita de forma progressiva para permitir um planejamento a longo prazo e evitar grandes aumentos dos custos de produção e assim atrapalhar a competitividade das indústrias que adotarem os instrumentos. → A cobrança não deve apenas induzir mudanças de comportamento dos usuários. Ela deve também ser capaz de promover sustentabilidade ao sistema de gestão. Para tanto, a cobrança deve atender a alguns critérios relativos à sua aplicabilidade e efetividade: 1º - Eficiência financeira: diz respeito aos custos de transação decorrentes dos encargos gerados para as autoridades responsáveis por sua aplicação e para os usuários, de forma que ela vai depender de quanto representam os custos administrativos e operacionais do sistema de gestão em relação à receita total gerada pela cobrança. 2º - Efetividade financeira: é uma medida que a capacidade do instrumento de cobrança tem de gerar receitas para financiamento das atividades necessárias ao alcance dos objetivos para os quais o sistema de gestão foi concebido, ou seja, depende da capacidade de gerar recursos para financiar o sistema de gestão e suas atividades de monitoramento, fiscalização, licenciamento e até atividades de recuperação e preservação ambiental. 3º - Praticabilidade: diz respeito ao grau com que o instrumento está direcionado para atingir os seus objetivos. Nesse sentido, clareza e simplicidade são considerados fatores cruciais que afetam a eficiência administrativa da política. Breve histórico da Política Nacional de Recursos Hídricos e de seu processo de constituição – Inicialmente, a opção brasileira, do ponto de vista jurídico-institucional, foi posta em 1934, com a promulgação do Código de Águas, e previa que as águas se destinavam principalmente à geração de energia elétrica. Por essa razão, o responsável pela administração das águas era o setor elétrico. Com o crescimento econômico e o consequente aumento da demanda por água, esse modelo não deu certo. A partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, foi sinalizada para a sociedade a criação do Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Contudo, apenas 9 anos depois, com o advento da Lei 9.433/97, o sistema foi instituído formalmente. Os avanços institucionais decorrentes da Lei 9.433 começaram a surgir. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) tomou posse no final de 1998. No ano 2000, foi promulgada a lei de criação da Agência Nacional de Águas (ANA), que começou a funcionar em janeiro de 2001. Os órgãos diretamente ligados ao Governo seriam responsáveis pelas políticas de estado, definindo-as e realizando o seu planejamento. As agências, por sua vez, são órgãos vinculados aos ministérios, embora não sendo a eles subordinados, a quem compete a implementação dessas políticas. Nessa estrutura organizacional, temos a Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH), um órgão da administração direta do Governo Federal responsável pela política e pelo planejamento. A SRH também é responsável pela Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (SNRH), que constitui o órgão máximo que define a política e coordena a elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos, o qual deve ser aprovado pelo conselho. Por sua vez, compete à ANA a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos. Praticamente todas as ações estão relacionadas a essa instituição, que coordena o Sistema Nacional de Recursos Hídricos. Todos esses instrumentos de gestão são interligados por intermédio do Sistema Nacional de Informações de Recursos Hídricos, que é a base de informações do sistema de gerenciamento, que deverão estar disponíveis em escala nacional. AULA 9 - AS EMPRESAS E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Trade-off das empresas com relação à gestão ambiental - De um lado, para atenderem às normas ambientais, elas são obrigadas a incorrer em custos elevados, tanto para a realização de estudos e relatórios ambientais (EIA-RIMA), quanto para compensar eventuais agentes prejudicados com suas ações ou multas e penalidades decorrentes de crimes ambientais. Por outro, esses eventos provocam escândalos corporativos, que abalam a confiança de investidores e acionistas, bem como alteram as atitudes dos consumidores, que podem passar a recusar os produtos da empresa. As preocupações ambientais dos empresários são influenciadas por três grandes conjuntos de forças que interagem de forma recíproca: o governo, a sociedade e o mercado. Caso não existissem pressões da sociedade e medidas governamentais, provavelmente não seriam observadas medidas efetivas e um maior envolvimento por parte das empresas em matéria ambiental. A evolução da legislação positiva, para abarcar as questões ambientais, em geral resulta da percepção de problemas ambientais por parte de alguns segmentos da sociedade, que pressionam os agentes do Estado para buscarem uma solução. Além disso, as organizações da sociedade civil que atuam nas questões relativas ao meio ambiente constituem uma forte influência, que se manifesta sob a forma de denúncias, da formação de opiniões perante o grande público, de pressões políticas junto às instâncias legislativas e executivas e de cooperação com as empresas. Há ainda a questão relativa à influência dos investidores, que buscam sempre maximizar ganhos e reduzir riscos nos investimentos. Com o avanço da agenda ambiental, os investidores tornaram-se mais seletivos no que diz respeito às empresas nas quais investem seus recursos, uma vez que os passivos ambientais gerados pelo descumprimento da legislação ambiental podem comprometer a rentabilidade futura das empresas. Por essa razão, os investidores ficaram mais rigorosos na escolha das empresas para efeito de realização de investimentos, priorizando a alocação de recursos em empresas consideradas eficientes em termos de gestão ambiental. Dow Jones Sustainability Index World (Índice Dow Jones de sustentabilidade) - é um indicador de performance financeira com a finalidade de orientar os investidores com relação às questões que se referem ao compromisso das empresas com a sustentabilidade. Foi lançado em 1999 como o primeiro indicador da performance financeira das empresas líderes em sustentabilidade
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